Pessoas fúteis são chatas, mas as indecisas são muito piores

Pessoas fúteis são chatas, mas as indecisas são muito piores

Imagem: Volodymyr Tverdokhlib/shutterstock

“Você que sabe” não é resposta, pedir “um tempo” não é um direito e dizer um “e aí sumida?”, não te dá livre acesso para voltar. Essas são algumas das atitudes dos indecisos que, além de precisarem da aprovação dos outros para tomarem decisões, brincam com o sentimento alheio como quem joga Xbox.

Vizinho barulhento irrita, gente fútil mais ainda, mas gente indecisa, supera tudo que houver no universo! Não me refiro a não saber em que restaurante comer, que roupa escolher para sair ou que faculdade cursar. Refiro-me a usar do amor e da paciência do outro para se beneficiar da vida de solteiro.

“Gosto de você”, mas não sei se quero me relacionar. “Você é perfeito”, mas não estou pronta para assumir nada. “Vamos dar um tempo e deixar a saudade decidir por nós”. Por favor, parem! Vamos deixar claro uma coisa: a decisão da sua vida não está nas mãos de ninguém. Se o outro é indeciso, você não precisa ser.

Pessoas indecisas são imaturas, inseguras e chatas! Elas não querem assumir um compromisso, mas também não querem que o outro seja livre. A verdade é que elas querem o melhor das duas partes: a liberdade de estar solteiro, com o comodismo em ter alguém quando quiserem.

Confesso que pessoas assim me assustam. Gosto de objetividade, mensagens diretas, decisões certeiras. Não sei lidar com a indecisão do outro.

Pessoas com vontades próprias, mesmo que sejam contrárias as minhas, me fascinam. Por outro lado, pessoas que estão sempre em cima do muro, me dão pavor, porque se não conseguem decidir o que querem para suas próprias vidas, imagina o que não farão com as dos outros.

Desde muito cedo aprendemos a tomar decisões que envolviam renúncias (o que, talvez, explique porque tanta gente tem medo dela). Decidimos a faculdade, o emprego, a cidade que vamos morar, se vamos casar, se teremos filhos…e assim por diante. Mas, quando as decisões envolvem os sentimentos alheios a história é diferente. Se é difícil tomar uma decisão, imagina escutar um “eu gosto de você, mas…”

Não dá para manter um relacionamento com quem some toda vez que alguém pergunta quando vocês irão casar. Não dá para ser porto seguro de quem não sabe se ama ou se está carente. Não dá para manter perto quem não se comprometeu a voltar amanhã. Sua vida é sagrada demais para que um indeciso dite as regras.

Deixe ir. A decisão em partir ou não pode ser do outro, mas aceitar a volta e as desculpas esfarrapadas é uma decisão sua.

O tédio salva!

O tédio salva!

Imagem de capa: pathdoc/shutterstock

O esplêndido roteirista de cinema Jean-Claude Carrière – que teve seus textos filmados por Luís Buñuel, Hector Babenco, Milos Forman, Volker Schondorff, Nagisa Oshima, Jean-Luc Godard, entre outros – disse em uma entrevista:

“O que salva a humanidade é o tédio”. E continuou mais ou menos assim: “As pessoas assistem a programas ruins por anos, aí um dia sentem tédio e mudam de canal, ou vão fazer outra coisa”.

Li isso faz muito tempo. Nunca esqueci. As palavras do Carrière me esperançaram. Tenho certeza que o tédio salvará, numa data futura, os fãs do BBB, do Fantástico, do Painel da Globo News. Aliás, o tédio já me salvou de algumas obsessões e até de paixões prolongadas.

Tédio, palavra latina, tem ligação direta com desprazer e cansaço. Vale perguntar: o desprazer leva ao cansaço, ou o cansaço leva ao desprazer? Parecido com o clássico slogan da Tostines: Vende mais porque é fresquinho, ou é fresquinho porque vende mais?

Certa vez surpreendi meu sobrinho Jerônimo, quando ele tinha cinco anos, com uma expressão de inequívoco tédio. Perguntei no que ele estava pensando. O garotinho respondeu com um suspiro longo. Daí me recordei que eu também sentia tédio quando criança.

Sensação de morte em vida. Nada a fazer. Meu saudoso cachorro Chico também dava umas suspiradas de puro tédio. Eu desassossegava, pois não conseguia conversar com ele. Sempre fui péssima com línguas estrangeiras.

Nada mais difícil do que tentar entabular comunicação com alguém atacado de tédio. Nenhuma sílaba flui, nem pensamento se completa. Tenho a impressão que o poderoso tédio corta sinapses.

Fugir dele é possível? Só desfazendo o foco. Pode ser simples como trocar a posição da bunda na cadeira. Complicado como mudar de companheira ou companheiro. Ou ainda mudar de patrão, padaria, salão de beleza, partido político.

Eu acreditava que o tédio era sentimento nefasto até ler a entrevista do mestre roteirista Jean-Claude Carrière. Depois dela, entendi o papel altamente revolucionário de se entediar.

Bem como, o poder de uma de suas manifestações: o bocejo. Agora se bocejo ao ler um livro, passo para outro. Se bocejo ao ouvir uma ideia, desconfio.

Ops! É bom parar com essas linhas. Vai que você comece a se entediar. Seria desastroso para mim. Talvez para evitar o tédio do leitor, escrevinhadores devam produzir textos mais curtos e bem variados.

“Não me lembro de ter lido em Cinderela que o príncipe a humilhava.”

“Não me lembro de ter lido em Cinderela que o príncipe a humilhava.”

Quem não sonhou e reforçou sua crença no amor ao ver o filme Pretty Woman? Uma garota de programa que é arrebatada pelo amor de um homem rico, que a leva para viver o conto de fadas para sempre.

Na vida real, as coisas começaram como num lindo conto, mas seu desenrolar foi bem diferente. De repente, em tempo recorde, a vida de moça pobre interiorana, que tenta a vida fazendo programas na cidade grande, é bombardeada com tudo o que sempre sonhou. É um sonho feito de viagens internacionais, casamento perfeito, luxo e família. Ela mal pode acreditar que teve tamanha sorte. Finalmente a vida lhe sorriu.

Ela sabe que ele era assíduo frequentador de prostíbulos, mas agora que ela chegou, vai ser diferente, ele não precisa mais disso. Ela sabe que ele largou a mulher com um bebê pequeno para estar com ela, mas ele lhe diz que com ela é amor de verdade e, portanto, com ela não vai acontecer.

Ela ouve relatos da boca do próprio marido de que ele teria agredido e tentado matar a ex mulher, mas acredita que com ela isso não vai acontecer, afinal, ele a “ama de verdade” e a outra, ele diz “nunca ter amado de verdade”. A ex tinha muitos defeitos, mas ela é perfeita.

Ela sabe que seu passado pode pesar, mas ele diz que isso não importa, que o amor deles é maior e conserta tudo. Basta que “ela seja só dele”.

Daí chega o bebê e, junto com ele, vem a fase de desvalorização. E vem com força. As agressões verbais, as humilhações, o passado esfregado na cara sem piedade, usado reiteradas vezes para justificar seu tratamento degradante, as ameaças de tirar-lhe a filha e mandá-la de volta ao “puteiro de onde a tirou”. “Quem vai acreditar numa puta?”

Ele despreza sua família, os chama de pobres e vagabundos. Ela não conta nada, não quer que saibam como ele é de verdade, finge felicidade constante, ninguém imagina o que passa.

Ela não raciocina mais, se desespera, quer seu príncipe de volta, não sabe “o que fez de errado” e porque ele “mudou”. O que eça não sabe é que ele não mudou, está apenas repetindo o ciclo pelo qual ela mesma passou, pois é nele que encontra seu gozo.

Ela fareja seus comportamentos, sabe que ele voltou (ou talvez nunca tenha deixado) à rotina dos prostíbulos. Mais tarde, no computador dele, peritos identificariam acessos a sites de prostituição.

Ela, então intui, incrédula, que o ciclo está se repetindo com um novo alvo. Ela sabe de como aquele homem gosta de exercer poder sobre mulheres em busca do sonho. Ele sabe que buscá-las num prostíbulo é um modo fácil de tê-las nas mãos. Dar de presente o sonho e depois controlar e desvalorizar alguém com um passado comprometedor não é tarefa difícil.

Ela sente se aproximar o momento em que será descartada, posta no lixo como a ex com um filho pequeno. Sim, será substituída. A dor dilacerante a consome, a culpa por ter sido a outra lhe faz repetir, “talvez eu mereça isso”.

Aquele constante “talvez eu devesse me esforçar mais” reforça a ideia de que poderia ter feito melhor para não afastar o homem que um dia tirou seus pés do chão. “Nunca vou conseguir brigar pela guarda de minha filha com alguém na posição dele” reforça o medo de se mover para fora da relação.

Ela o confronta, quer a verdade. Recebe insultos, ameaças e a mentira. “Você está louca, está imaginando coisas.”

Consumida pelo desejo de ter seu sonho do começo de volta, pede a um detetive que traga provas do que ela já tem certeza, de modo a deixá-lo sem saída. “Quem sabe com tudo às claras, as coisas se acertam?”

Ela o confronta de novo, mas agora tem provas. Tudo igual. O dinheiro, os presentes, as promessas o pedido de exclusividade. Como foi com ela… bem ela, que pensou que seria a única e para sempre…

Ela o expõe, mas não sabe que expô-lo com a verdade irrefutável provoca a fúria narcísica em homens abusadores: “Como ousa me expor usando meu próprio dinheiro!”

Ele “se sente traído” e a agride. Mas a reação vem. E agora?
Sabemos o desfecho e também sabemos qual é a opinião pública a respeito dessa mulher que, olhando de fora, é uma assassina cruel, mas olhando de dentro, já não temos tanta certeza assim.

Sabemos que, para a família que perdeu um ente querido, talvez haja somente a obrigação de lidar com a dor da perda e não aquela de buscar a fundo o que de fato ocorria e ocorreu. Quando perdemos alguém que amamos, não nos questionamos se é alguém bom ou mau, desejamos justiça. É compreensível, me compadeço de cada familiar que, seja como for, amou aquela pessoa.

Mas sabemos também que, talvez, o número de feridas no corpo daquela mulher não seja visível para a opinião pública a ponto de fazer-nos entender o que a levou a se defender e, em seguida, cometer um ato tão extremo.

Contudo, vale o questionamento:
Quantos de nós, com um passado reprovável e diante da constatação de ter matado alguém “poderoso”, ainda que em legítima defesa e numa reação hiper vigilante à agressão, não se desesperariam com medo de ninguém acreditar? Afinal era a versão de “uma ex puta” sobre a vida de um grande empresário. Quem não pensaria, tomado pelo desespero, em esconder o corpo? Não sei, mas posso intuir que muitos, naquela situação, teriam tido os mesmos medos e as mesmas reações.

Talvez, as cicatrizes no corpo dessa mulher não sejam visíveis ao público comum, e por comum, entenda-se pessoas que jamais foram submetidas a violência psicológica diária. Pessoas que não sabem o que é ter a sensação de impotência e pequenez diante de gente poderosa, manipuladora e perversa que com sua língua afiada, nos faz encolher até atingirmos dois centímetros de altura.

Mestres ilusionistas que parecem irretocáveis a todos, mas que na intimidade, são déspotas cruéis, sem compaixão, empatia ou escrúpulos. Talvez, essas cicatrizes não sejam visíveis aos olhos de quem nunca sentiu a dor das feridas INCURÁVEIS que a violência emocional e psicológica abre em suas vítimas.

Talvez, se no momento em que apertou o gatilho, ela estivesse toda machucada, com ossos quebrados, cicatrizes velhas e novas, com sangue escorrendo no rosto, a veríamos de outra forma. O que nós talvez não saibamos é que ela estava, de fato, toda machucada, assim como tantos leitores dessa página estão nesse momento, desejando acabar com a própria vida, tamanha a dor que sentem diariamente, e que ninguém vê, ninguém acredita, ninguém entende.

Talvez o reconhecimento da legítima defesa nesse caso fosse um marco no combate à violência psicológica que assola a humanidade desde sempre e aniquila a vida, em especial, de mulheres amedrontadas e reféns de um ideal romântico do qual não querem abrir mão, tolerando abuso de todo tipo por toda a vida.

Um marco, não só pela representatividade do caso, mas pela mensagem que, não importa quem você seja, além do tapa que você dá com facilidade, sua violência psicológica é crime; é uma dura agressão à integridade do outro e contra ela, é lícito se defender.

Essa violência velada, insidiosa, que quase sempre culmina em tragédias em desfavor das vítimas e não dos agressores e para a qual até hoje não encontramos um modo de freia-la, vez que não conseguimos enxergá-la ou explicá-la facilmente.

“Falam que o conto de fadas acabou. Pergunto: Qual conto de fadas? Não me lembro de ter lido em ‘Cinderela’ que o príncipe a humilhava. Não me lembro de ter lido que o príncipe tirou a princesa do lixo e que ela deveria, por conta disso, ser submissa às suas vontades pervertidas e humilhantes porque se tornara sua esposa” (Elize Matsunaga)

Hesitei por muito tempo em escrever a respeito. Tempo demais, não vou mais me calar. Sim, muitos discordarão dessa minha opinião, mas eu tenho direito a ela, compartilho com meus leitores e peço respeito daqueles que pensam de forma diversa.

Sim, eu sei que haverá quem leia duas frases do texto, distorça tudo e diga: Você está justificando a violência? A essas respondo: Não, estou discorrendo sobre a necessidade de começarmos a enxergar a violência verbal, emocional e psicológica como algo grave que deve ser levado à sério e desestimulado a todo custo, pois é o prenúncio da violência física que faz os números do feminicídio atingirem índices alarmantes em todo o mundo.

Aproveito a oportunidade para convidar aqueles que discordam, a ler um pequeno trecho do que era a vida com aquele homem e o que essas coisas têm em comum com as relações tóxicas, para, só depois, tirarem suas próprias conclusões.

Sou Lucy Rocha, advogada, coach e vítima de violência psicológica, emocional e física.

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TRECHO DE REPORTAGEM A RESPEITO DO SEGUNDO DIA DE JULGAMENTO DE ELIZE MATSUNAGA.

“Após resistir a detalhar os xingamentos, Dias (o delegado chamado a testemunhar) elencou as ofensas a pedido da advogada de defesa Roselle Soglio. O delegado disse que o empresário chamava a mulher de “prostituta de quinta categoria”, “vagabunda”, “p***”, que “ela só servia para abrir as pernas” e que “o que ele queria dela era um filho”. O casal teve uma menina um ano antes do crime. Outras ofensas eram dirigidas a Elize pelo marido, disse o delegado, mas sobre o pai dela – hoje falecido. “Ele chamava o pai dela de vagabundo e dizia que não queria a filha deles criada por esse tipo de gente”. (DEGRADAÇÃO DA IDENTIDADE, AUTOESTIMA E DIGNIDADE)

O delegado afirmou que o clima entre o casal “estava péssimo” antes do crime, uma vez que Elize desconfiava de relações extraconjugais do marido e teria confirmado ao menos uma delas por meio de um detetive, contratado dias antes do crime. O detetive Willian Coelho de Oliveira depôs ontem pela acusação e relatou ter presenciado o marido da ré com uma mulher, em um bar e em um restaurante, como se fossem namorados.(PROMISCUIDADE CONTUMAZ)

Hoje, no depoimento, Dias afirmou que a amante era garota de programa de um mesmo site de relacionamentos por meio do qual Matsunaga conhecera Elize. Segundo o policial, em depoimento após o crime, ela afirmou que o empresário a presenteara com um veículo Pajero blindado e a pagava com R$ 27 mil mensais -o acordo era que ele tivesse “exclusividade” e que ela retirasse suas fotos do site de relacionamentos.(REPETIÇÃO DO CICLO FEITO COM ELIZE)

Elize chorou em vários momentos e teve de ser amparada.(DOLOROSO CONSTATAR E RECONSTATAR A VIOLÊNCIA SOFRIDA)

Indagado pelo advogado de defesa Luciano Santoro se Elize sofreria insultos do marido – como ela já havia dito à polícia-, o delegado admitiu que sim, mas não quis declinar os termos porque, segundo ele havia “mulheres no plenário”. Além da plateia, composta por advogados e estudantes de direito, havia mulheres também nas equipes de acusação e defesa, entre os profissionais de imprensa e entre os jurados, nos quais quatro são mulheres, e três, homens. Ele só detalhou quando Soglio, lembrando-o que ele estava sob juramento. (XINGAMENTOS TÃO PESADOS QUE CONSTRANGEM)

Abordado pelo promotor, José Carlos Cosenzo, sobre a fonte dessas informações, o delegado informou que elas partiram não apenas da ré confessa, como de duas funcionárias da residência do casal que também prestaram depoimento.(TESTEMUNHAS QUE VIVIAM NA INTIMIDADE DO CASAL)

Sobre o casal, o policial disse que, durante as investigações, descobriu que Elize e Matsunaga seriam bons atiradores, já que ambos eram praticantes de caça esportiva – chegaram a ir à África com esse propósito antes da crise conjugal. Dentro da casa, após o crime, os policiais localizaram um bunker com toda sorte de armas. “Havia desde revólveres antigos, de colecionador, até fuzis de última geração. Ele [a vítima] cuidava dessas armas como cuidava de um filho”, definiu. O empresário foi morto com um tiro de um revólver Magnum 357, mas o MP alega que ele foi esquartejado ainda vivo – o que a defesa refuta. (COLECIONISMO, OBSESSÃO POR ARMAS, CUIDADOS COM COISAS MAIOR DO QUE COM PESSOAS)

A testemunha relatou ainda ter ouvido no inquérito policial depoimento de um reverendo que era uma espécie de conselheiro do casal. De acordo com ele, esse religioso teria alertado Matsunaga sobre a necessidade de tratamento psiquiátrico de Elize, porque ela estaria “psiquicamente descompensada”. (GASLIGHTING, RECRUTAMENTO DE POSSIBILITADORES E FLYING MONKEYS COM A ALEGAÇÃO DE QUE A PESSOA É DESEQUILIBRADA)
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….enfim, pontos demais em comum com qualquer relação abusiva e que, para o nosso próprio bem, tais pontos não devem ser ignorados. Presto minhas condolências à família, mas espero que a justiça seja feita.

Imagem de capa meramente ilustrativa: cena do filme “Uma linda mulher“.

Quer avançar? Recue

Quer avançar? Recue

Imagem de capa:  Jacob Lund/shutterstock

A vida enrosca nos fatos comuns, nos comportamentos aprendidos, nos hábitos, nos costumes, no caminho de todo dia, nas escolhas que fizemos no passado e continuamos mantendo no presente, na rotina que escolhemos e que nos mantém na chamada zona de conforto.

Todo mundo segue a trilha batida, a trilha do menor esforço. Mas se você quiser avançar, eu tenho uma fórmula simples e honesta para lhe propor: “quer avançar, recue.”

Para encontrar o seu rumo, saia do fluxo, recue dois passos, e troque o papel de ativista pelo papel de observador. Não precisa ser por muito tempo, apenas o suficiente para despertar o adormecido senso crítico e avaliar o padrão das ações repetitivas, dentro dos diversos processos que te mantém vinculados aos fenômenos sociais.

Boa parte desses processos funcionam de forma automática, estamos há tanto tempo treinando os mesmos comportamentos que nos falta distanciamento para avaliarmos se o personagem ao qual emprestamos vida tem coerência e representa as nossas convicções mais profundas.

Se você não tem certeza, recue dois passos e observe o fluxo. Apenas observe, não interfira nele. Fique quieto no seu canto. Ganhe a visão de fora. Imagine-se numa arena, assistindo tudo da arquibancada. Veja a maneira como as pessoas continuam interagindo, da mesma forma como você interagia.

Não julgue nada, apenas acompanhe. Assista de forma silenciosa o espetáculo da vida proporcionado pela família, pelos colegas de trabalho, pelos amigos, pelos fatos sociais. Acompanhe o mundo com os olhos de forma direta, seja através dos acontecimentos que te cercam, seja através da mídia, e das redes sociais.

Esta é uma época excelente para se fazer uma análise do comportamento humano. As redes sociais possibilitam colher dados com uma veracidade impressionante. O universo pessoal nunca esteve tão exposto como está agora.

As pessoas comuns ganharam força e coragem para se revelar, para expor o que pensam, o que são, e o que fazem. Não significa necessariamente algo mau, é apenas um fenômeno social que dá vazão aos instintos, e oferece expressão aos pensamentos e interpretações, de maneira democrática.

Só se torna mau à medida em que nos engajamos no comportamento de manada sem exercitar a capacidade de avaliação. Nesse caso operamos em meia fase: metade somos nós, metade somos os outros ao nosso redor. Aplaudimos a babaquice, curtimos a mediocridade, perpetuamos o exibicionismo, e por osmose, nos tornamos babacas, medíocres, e exibicionistas. É só uma questão de tempo.

E é por isso que, se você quiser avançar e se tornar apenas você, deve recuar. Recue por um ano, um mês, uma semana, um dia que seja. Recue para analisar se aquilo que você está fazendo, dizendo, concordando, incentivando, aplaudindo, participando, anunciando, compartilhando, está de acordo com a sua íntima interpretação dos fatos.

Muitas vezes nossos pais nos dizem algo que não concordamos, mas lá na frente seremos obrigados a reconhecer que eles estavam certos. Por que os pais quase sempre têm razão? Porque eles se distanciaram do momento em que estamos vivendo, e na posição de expectadores são capazes de formular melhor juízo de valor.

A vida já os levou, inexoravelmente, ao avanço que a sabedoria dos anos proporciona aos que envelhecem. Mas não é preciso envelhecer para avançar. É possível avançar no auge da juventude apenas recuando dois passos e exercitando a postura do observador que sai do fluxo para descobrir se os seus valores intrínsecos estão de acordo com a sua posição na sociedade.

Quase todos conhecemos pessoas bem sucedidas que abandonaram uma carreira brilhante para realizar algo novo. Em que momento essas pessoas ganharam força para efetuar essa transformação? Com certeza foi no momento em que recuaram. Nesse mundo globalizado, ninguém avança sem recuar, sem proceder a uma análise pessoal de fatos.

Esse processo só ocorre com distanciamento, recolhimento, introspecção, e senso crítico, coisas que não acontecem quando estamos desfilando com a massa pelas avenidas da vida.

Algumas pessoas esperam adoecer para recuar. Outras esperam um acontecimento ruim para se afastar. Mas não é preciso esperar que o Universo tenha que tomar medidas tão drásticas para nos colocar no centro.

Basta dar dois passos e recuar, de tempos em tempos. Pode ser que você não sinta nada. Pode ser que, ao se tornar o observador, você se sinta perfeitamente de acordo com o bloco que desfila na rua. Nesse caso, volte para o fluxo.

Mas se sentir um mal estar, uma discordância, um senso de ridículo anunciando que a sua identificação com o grupo está seriamente ameaçada, não tenha piedade e não tente preservar o antigo “modus vivendi.”

A própria Bíblia diz que nenhum homem é responsável pelo tempo da ignorância, mas também diz que ele será penalizado após o tempo do entendimento.

Ouça o seu mestre interior. Se ele repudiar, sinta o repúdio com toda intensidade, e faça dele a mola propulsora para a tão desejada mudança.

Os néscios mudam levando porrada. Os sábios mudam recuando dois passos, observando o mundo, analisando, interpretando, ouvindo a voz do coração.

Solitários interconectados

Solitários interconectados

Imagem: Jacob Lund/shutterstock

Vivemos na era da informação. Vivemos na era da comunicação. Na era das redes, dos fios, dos cabos, da interconectividade. Estamos todos ligados, plugados, conectados.

Todos juntos, como se o mundo tivesse se transformado em uma bola de gude. Vivemos na era da globalização. Criamos uma nova linguagem e, assim, estabelecemos uma nova maneira de nos comunicar, de nos relacionar.

Modificamos a própria estrutura social, já que como diz Clay Shirky, escritor estadunidense: “Quando mudamos a maneira como nos comunicamos, mudamos a sociedade”. Mas, o que de fato conseguimos melhorar com tudo isso? A nova comunicação realmente nos aproximou ou apenas nos transformou em solitários interconectados, como define Bauman?

Não tenho dúvida de que a linguagem é fundamental para o desenvolvimento humano, tanto individual, quanto coletivo. É por meio dela que conseguimos estabelecer um elo comunicativo e, por conseguinte, nos aproximar uns dos outros. Entretanto, é recorrente na história o uso da linguagem para oprimir, afastar, iniciar conflitos, dominar (como é recorrente nas histórias de Orwell), cercear direitos (neste caso, sendo pela falta de linguagem oferecida aos detentores desses direitos, como acontece em Vidas Secas de Graciliano Ramos). Ou seja, a linguagem ao longo dos tempos tem sido utilizada muito mais como uma barreira do que como uma ponte, função primordial e insuperável dela.

Apesar disso, com as transformações que ocorreram nos últimos anos nessa área, via de regra, essa relação conturbada com a linguagem deveria ser modificada. Entretanto, o que temos percebido tanto no mundo on-line quando nos desdobramentos do mundo off-line é o aumento da incapacidade comunicativa dos seres humanos.

Não é preciso falar dos benefícios, ao menos em potencial, oferecidos pela rede mundial de computadores. Isso é elementar. Todavia, facilitar a comunicação, tornando-a possível em tempo real por pessoas de extremos diferentes do globo, não significa necessariamente uma maior conectividade entre as pessoas.

Uma real conectividade, a qual não precisa necessariamente acontecer no mundo off-line, não é estabelecida a partir de uma troca de palavras sem sentido mais profundo e íntimo em uma rede social. Ela necessita de tempo e de uma troca de palavras que contenham sentidos amplos e profundos sobre quem as profere. Mas, sejamos sinceros, não é bem isso que acontece de maneira ampla na rede. Isso pode ser explicado, segundo Bauman ao citar o sociólogo Manuel Castells, porque:
“Na nossa sociedade, os protocolos de comunicação não são baseados em compartilhamento de cultura, mas na cultura do compartilhamento. ”

Em outras palavras, ao construirmos a cultura do ciberespaço, a estruturamos em um modelo que se baseia em uma série de interações sem fio de pessoas distantes, que – embora em uma “comunicação” – continuam incomunicáveis, haja vista o não compartilhamento da sua cultura, do seu eu pessoal, da sua carga sígnica intima e verdadeira.

Isso se reverbera em um estado de aparências frágil, inclusive, de comunicação e aproximação entre as pessoas. As cidades, cada vez mais superlotadas, explodem em construções cada vez maiores, que tapam a natureza, assim como existe um número cada vez maior de cabos, que cobrem o céu e ligam máquinas, mas não necessariamente, homens. No meio disso, se encontram as pessoas em seus pequenos espaços. Plugadas, ligadas, conectadas, e ao mesmo tempo tristes, angustiadas e sozinhas.

Assim sendo, a ideia de Shirky está correta. Mudamos a comunicação, mudamos a sociedade. Mas, ao contrário do que se esperava, tornamo-nos ainda mais estranhos do que antes. Isso ocorra, porque acreditamos que a complexidade das relações humanas pode ser simplificada por cliques em um mouse. Mas esquecemos, que ainda que isso seja possível, é necessário ser mais do que silenciosos, imóveis e frios.

Embora a era digital possua, como disse, no mínimo um potencial a ser explorado pela comunicação; o que ocorre é que ela tem servido muito mais para nos manter afastados, cada um em seu lugar (físico e emocional) ao mesmo tempo em que se desfruta da sensação falsa de que há uma conexão estabelecida, a qual nos tornou mais próximos.

E, assim, cria-se a ideia de que podemos receber muito dando quase nada, porque tudo está a um clique, o que vale para o mundo on-line e off-line, que hoje para alguns, são dois lados de uma mesma moeda. E tomando como base essa ideia, há de se considerar, então, que talvez em uma nova transformação o que deve ocorrer para que haja modificações verdadeiras na nossa condição de “solitários interconectados”, seja mudar as variáveis de lugar, mudando primeiro a sociedade, para que em seguida realmente haja uma mudança na comunicação.

Saborear um bom café é uma declaração de amor a nós mesmos

Saborear um bom café é uma declaração de amor a nós mesmos

Imagem:  astarot/shutterstock

De todos os chamados que a cozinha me faz, a hora do café quentinho, exalando cheiro de pausa e cuidado, é a que mais me atrai. Herança da minha infância, do tempo em que acompanhava minha tia nos afazeres de casa e no cuidado com quatro homens que dependiam tanto dela. A hora do lanche, com pão molhado no café fumegante, era o tempo que ela conseguia olhar para si mesma e respirar. Era ali, naqueles instantes diante da mesa posta com bolo de farinha e ovos, pão francês e café cheiroso que ela desconstruía a mãe enérgica, a esposa generosa e a dona de casa prestativa. Era ali que eu, atenta em minha meninice, aprendia a cuidar mais de mim.

Eu gostava do sabor e do ritual, mas o que me dava mais alegria era ver aquela mulher se despindo da pressa rotineira e curtindo a própria companhia. Em sua simplicidade, ela me ensinava a buscar momentos de calmaria e consolo no meio do caos diário.

O ato de sentar-se à mesa para saborear um bom café é uma declaração de amor que fazemos a nós mesmos. É uma forma de nos acariciarmos e aprovarmos a nossa própria companhia, sem precisar de mais ninguém.

Preste atenção à sua volta. Estão todos tão ocupados, tão distantes de si mesmos, correndo tanto, exercendo papéis demais, cumprindo prazos e exigências demais… e pouco respeitando a si mesmos. É hora de colocar a toalha na mesa e servir um bom café. Hora de partir o pão com a mão e mergulhar nos vapores da xícara acolhedora. Hora de respirar fundo e mastigar devagar. Hora de perceber a urgência de desconstruir-se para enfim ser mais feliz.

A vida necessita de pausas. De momentos em que o bule cheio de café fresquinho nos convida a sentar e enfim desacelerar. De ocasiões em que é necessário colocar uma toalha bordada na mesa e convidar a nós mesmos para o chá. De porcelana bonita nos chamando para jantar. De sobremesa simples adoçando nosso paladar.

É preciso aprender a se gostar. Aprender a descosturar as bainhas que nos atam ao que é supérfluo e costurar novos remendos, que nos autorizam uma existência de respeito e amor-próprio.

Já não cabem mais desculpas. A água na fervura anuncia que é hora de coar o café. As nuvens escuras apressam a retirada das roupas no varal. E o cansaço pelo descuido consigo mesmo diz que é hora de desacelerar e se desconstruir.

É momento de acenar em despedida àquilo que nos ensinaram que era primordial mas nem sempre nos agrada. Ao excesso de zelo, à vontade de controlar tudo, à ansiedade de dar conta de todas as funções. Ninguém nos contou que não é possível agradar a todos, e nessa busca incansável pela perfeição, nos perdemos de nós mesmos.

É chegada a hora de retornar. De tornar possível o amparo às incompletudes, insignificâncias e imperfeições. De aceitar os próprios limites e afrouxar a competência. De sentar-se à mesa e servir-se com carinho um bom café. De pausar a tarde, os pensamentos, cobranças e exigências. De enfim perceber que a vida pode ser contada de uma forma mais simples, mais silenciosa e bem mais amorosa…

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Precisar de pouco para ser feliz, não significa que você tenha que se contentar com um amor tão pequeno assim

Precisar de pouco para ser feliz, não significa que você tenha que se contentar com um amor tão pequeno assim

Imagem: Tiko Aramyan/shutterstock

O medo da solidão é o grande motivo para que pessoas incríveis aceitem viver em relacionamentos destrutivos. E isso é, no mínimo, preocupante.

Nelson Rodrigues dizia que “pouco amor não é amor” é não é mesmo. Na ânsia em encontrar um grande amor, nos deixamos seduzir pela ficção, pelo amor romântico e pela futilidade. A ponto de nos perdemos dos próprios sonhos.

É tão bonito se encantar pelas flores recebidas, pelo amor idealizado, pela pessoa perfeita. Mas a verdade é uma só: amor romântico e apressado é quase sempre inventado. Na vida real as coisas acontecem bem diferente.

A convivência mostra as personalidades e revela o caráter. Quando as ofensas tornam-se diárias, a indiferença normal e a frieza rotina é hora de cair fora.

Aprenda uma coisa: As pessoas irão te tratar como você permitir. Não dá para reclamar que ele é frio, se você aceita isso. Que ele a traiu novamente, se você aceitou a primeira vez. Que ele não te escuta se você nunca exigiu um diálogo na relação. Entenda: você não pode reclamar do que você permite, então, nunca quebre os seus limites. Eles são seus muros de defesa.

Coloque os pés no chão e pense “isso é, realmente, para mim?” Não está nas mãos do outro decidir se quer ou não ficar com você. Está nas suas se ele merece ou não entrar na sua vida.

Caso você ache que amor é algo intenso que primeiro te faz sofrer e depois te faça feliz, você precisa rever seus conceitos sobre a vida. “Os analfabetos do século 21 não serão aqueles que não sabem ler e escrever, mas aqueles que não sabem aprender, desaprender e reaprender.” Nessa afirmação, Alvin Toffler, deixa claro muitas coisas, inclusive que precisamos reaprender a amar.

Reaprender a amar significa amadurecer diante do sentimento e ver que ele traz mais aprendizagem que dor. Significa ser livre por opção e não porque você assinou um termo de posse da vida do outro. Significa que você não aceita ofensas como algo natural, porque sabe do próprio valor e respeita a própria história.

Há um livro intitulado de “Nós: Compreendendo a Psicologia do Amor Romântico” de Robert Johson que trata bem desse tema. Essa irracionalidade em acreditar em um amor de contos de fadas e buscar isso como objetivo de vida. Para Johnson, o paradoxo do amor romântico é que “ele, enquanto permanece romântico, nunca produz relacionamentos humanos”, porque idealizamos no outro a criação do par perfeito e distorcemos, de fato, quem ela é.

Quer um conselho? Pare com essa história chata de amor de sessão da tarde, de final feliz e de príncipe em cavalo branco. Isso não existe!

Amor de verdade tem mal humor, camisa amassa, cabelo sem escova, maquiagem borrada, problemas. Porque amor de verdade envolve gente de verdade. Amor de verdade só não tem uma coisa: aceitar como natural o que não nos faz bem.

Não tente consertar o que já quebrou de vez

Não tente consertar o que já quebrou de vez

Não é de hoje que perdemos tempos preciosos junto a pessoas vazias e a situações dispensáveis, uma vez que costumamos tentar forçar, muitas vezes, algo que já espanou, que já foi, já era. E, assim, exaurimos nossas energias, canalizando nossas forças em direção ao que nem nos pertence mais, iludidos pelo apego que nos prende a muito do que já terminou e deveria estar enterrado.

Por essa razão é que vamos mantendo por perto certas amizades que não nos trazem nem acrescentam nada de bom, aqueles amigos que mal se lembram de nós, que não nos cumprimentam mais em nosso aniversário, que nem devem manter nosso contato em sua agenda. Focamos o passado bom que tivemos com essas pessoas, esquecendo-nos de manter esse passado exatamente em seu lugar: lá atrás.

Por isso é que chegamos a nos humilhar repetidas vezes, tentando nos explicar a quem se magoou ou entendeu mal nossas palavras e/ou atitudes, implorando que as pessoas parem de ficar bravas conosco. E, mesmo quando temos a certeza de que foi o outro que entendeu tudo errado, não conseguimos lidar com a ideia de ter alguém magoado conosco e tomamos para nós um problema que nem é nosso, mas sim de quem interpretou como bem quis, muitas vezes com más intenções.

É assim que ninguém consegue entender o porquê de nos demorarmos junto a um parceiro que só nos traz sofrimento e lágrimas, e isso quando se lembra de olhar para o nosso lado. É assim que engolimos por meses, anos, por uma vida toda, palavras ásperas, mãos pesadas, comportamento canalha, desprezo, gelo, eco vazio, forçando um relacionamento fadado ao fracasso, selado, manchado, doloroso.

É preciso olhar-se mais, demorar-se mais em si mesmo, escutar as próprias palavras, as atitudes tomadas, fortalecendo, assim, a certeza de que tudo o que ofertamos não deve receber de volta mínimos, nem contrários, tampouco esmolas. O que somos é íntegro, é completo, é nosso bem mais precioso, e nada de fora poderá violar nossa essência, diminuindo-a, achatando-a, agredindo-a, fazendo-nos acreditar que merecemos menos.

Quem se ama o suficiente jamais se deixará machucar por conta de situações que não mais voltarão ou por pessoas que não deverão retornar nunca mais. Se quebrou de vez, então não tem mais conserto. Desse jeitinho.

Imagem: vectorfusionart/shutterstock

Um brinde a todas as vezes que formos capazes de dizer SIM!

Um brinde a todas as vezes que formos capazes de dizer SIM!

Para cada “não” que às vezes a gente é obrigado a dizer, ou ouvir… abrem-se à nossa frente inúmeros possíveis “sins”, prontos para serem ouvidos, ditos, sentidos e vividos.

O final das coisas, dos capítulos ou das histórias, muitas vezes é rigorosamente necessário para que a gente tenha a oportunidade de ter novos começos.

E quantas vezes, depois que a gente acha que o mundo vai terminar em lágrimas é que não acabamos aprendendo a sorrir de um jeito novo, por uma nova causa ou como consequência da libertação de esforços que foram vãos, em lugares onde já não podíamos mais permanecer, onde já não éramos bem-vindos.

Dizer “sim” significa alargar o peito e ampliar o olhar para além daquilo a que já estávamos acostumados. Dizer “sim” é mostrar ao mundo que estamos vivos, afinal de contas, e que é na vida que estamos interessados.

Um “sim” não pode ser dito com reserva ou timidez. Ele tem que jorrar de dentro da gente com a energia necessária para reconhecer caminhos inéditos e transmutar em possibilidades aqueles sonhos ousados, para os quais a nossa antiga versão julgava não estar pronta.

É nessa hora que cabe um suspiro no lugar da respiração contida, um salto no lugar do passo incerto, um mergulho no lugar de permanências amedrontadas na beirinha de algum lugar, com medo de se molhar.

A terra do “sim” é ampla e cheia de espaços antes nunca visitados. É preciso estar disposto a caminhar descalço, sentir o chão e abrir mão do lugar confortável da falta de ambição afetiva.

É aqui, na afirmação de um gesto de desapego das dores agasalhadas, que tem início a nossa jornada de transformação.

A distância pode ser imensa, entre esse ponto de partida e o lugar onde almejamos aterrissar. Não tem importância… Porque depois de darmos o primeiro passo para longe das negações, não há nada que nos possa fazer querer olhar para trás.

Um brinde a todos as vezes que formos capazes de dizer SIM! Um brinde à nossa coragem de desembrulhar os sonhos, um a um, para que eles possam caber inteiros na nossa vontade de ir mais longe, mais alto e mais fundo nessa maravilhosa experiência que é estar de corpo e alma onde quer que estejamos, desde que seja este o lugar onde escolhemos estar.

Imagem de capa meramente ilustrativa- foto reprodução do filme “La La Land”.

Quem se importa de verdade compreende suas razões e respeita seus lutos

Quem se importa de verdade compreende suas razões e respeita seus lutos

Quando perdemos algum ente querido, somos consolados por um número grande de pessoas. Vestimos nossa dor de preto e isso parece anunciar aos demais que lidamos com uma larga perda. Já, os nossos lutos cotidianos, enfrentamo-los silenciosos e, muitas vezes, nem mesmo temos a chance de exteriorizar o quanto estamos sentidos e marcados por dentro.

Esses lutos que acontecem no dia-a-dia comumente se dão sem alardes e quase ninguém aparece com um pote de sopa ou com uma palavra amiga na ponta da língua para nos consolar por causa deles. Apenas os que nos amam de verdade, aqueles que se importam, são capazes disso. Isso porque quem verdadeiramente se importa percebe nossas dores sem que precisemos dizê-las.

Outro dia em um consultório médico, conversando sobre planejamento familiar, explicitei a minha vontade de ter um segundo filho aos quarenta anos. O médico arregalou os olhos e me disse que uma gestação nessa idade era possível sim, contudo exigiria muita atenção, pois meus óvulos não seriam mais tão jovens.

Percebi que o tempo tinha corrido desenfreado frente aos meus olhos. Naquele dia vivi calada o luto pelos filhos biológicos que eu não teria. Um por um, todos esmaeceram frente aos meus olhos e eu senti naquele momento, e por mais alguns dias, a dor de não os ter como um dia sonhei.

Doeu muito, mas não me vesti de preto. Não andei pelas ruas com os olhos inchados. Não tive pesadelos. Tive apenas uma dor no peito. Uma dor silenciosa que foi notada por bem poucos.

Lutos cotidianos não são frescura, não são mimimis, não são supérfluos. Eles doem e sangram emocionalmente como feridas de verdade e precisam de nossa atenção e compreensão para poderem parar de sangrar e cicatrizar.

Eu diria que a dor emocional pode ser comparada à dor física, mas ela não apresenta marcas explícitas, o que muitas vezes faz com que essa dor fique por um longo tempo em nós. Cientistas da Universidade Purdue de Indiana, nos Estados Unidos, afirmam que a dor emocional dói até mais que lesões físicas. E eu concordo com eles.

Certa vez Fabricio Carpinejar disse em um texto seu que a morte de um anseio/expectativa/plano é como um livro de poemas que escrevemos com carinho e dedicação, mas que acabamos perdendo em algum canto.

A morte de um relacionamento, de um sonho, de uma carreira, de uma amizade, de uma expectativa, também é assim, frustrante e inquietante. A morte do que poderia ter sido e não foi é uma morte dolorosa, sem rituais físicos, o que parece tornar a dor em nós ainda maior.

Na vida, aqueles indiferentes a nossa dor, dispensados de qualquer obrigação social pela morte do que não se pode efetivamente ver, recordarão nosso livro de poemas (vide anseios) perdidos e dirão que fomos nós os culpados pela sua perda. Dirão, com um tapa em nossas costas, que nossos poemas (vide sonhos) pouco valiam.

Em contraponto, os que nos amam de verdade, sentarão ao nosso lado, com um punhado de papel branco nas mãos, e dirão, carinhosos, que somos capazes de reescrever nosso sentir tão bem quanto antes e nos lembrarão, com ternura, dos bonitos versos que nunca devemos nos negar a reescrever.

Com o passar dos anos, aprendemos a viver nossas dores e a escutar nossos lutos, mas principalmente, aprendemos que em momentos de fragilidade e dificuldade apenas os que se importam pra valer são capazes de compreender nossas razões e de respeitar nossos silenciosos lutos diários.

Devemos ficar ao lado desses e guardá-los para sempre no melhor de nós.

Atribuição da imagem: pixabay.com – CC0 Public Domain

Acompanhe a autora no Facebook pela sua comunidade Vanelli Doratioto – Alcova Moderna.

Ninguém é tão precioso assim para ser carregado nos ombros

Ninguém é tão precioso assim para ser carregado nos ombros

Se algo em sua rotina te desconforta, te aperta o peito, te exige tantas adaptações que fazem você nem se reconhecer mais direito, talvez seja hora de desafrouxar a alma e mudar o roteiro.

Se há mais choros do que sorrisos, já é um grande motivo para repensar tudo. Se há mais discussões do que abraços, desate os laços. Se está mais complicado do que simples, não se preocupe em entender, deixe para trás, se há muita luta, desfaça tudo e sinta o alívio de seguir em frente.

Se você teve que engolir muitos sapos, conter os gritos, guardar as mágoas, esquecer das risadas, vomite tudo, despeje tudo, abandone, deixe as bagagens, desapegue-se dos velhos cartões postais de sua história e queira começar um novo livro.

Se pesa demais e sempre, dispa-se. Se a vida sempre está melhor nos momentos de solidão. Se fica mais leve quando você só tem que lidar consigo mesmo, se a dor que você anda sentindo não está fazendo ninguém evoluir, não traz conversas profundas, auto-observações, vontade de mudar pelo amor, daí pode ser que você está apenas repetindo um círculo vicioso, pode ser que sua vida tenha entrado num looping do eterno retorno que já não renova muito as energias, é um movimento estagnado. Aí, talvez você vá precisar de um tanto de coragem, sensatez e ousadia para colocar o corpo e a alma fora de um destino reprisado.

Ninguém é tão precioso assim para ser levado a tiracolo. Ninguém é tão importante assim que mereça um atraso no seu caminho existencial. Ninguém é tão dependente assim que não pode encontrar o próprio sustento emocional, ninguém é tão limitado assim que não pode achar as ferramentas para a própria evolução e maturidade.

Não cabe mais ninguém nos seus ombros cansados, caberia sim alguém ao seu lado, de mãos dadas. Não cabem vozes duras ofuscando seus pensamentos livres, não cabem âncoras na sua vontade de navegar, não cabem verdades irrefutáveis e inflexíveis nos seus olhos cheios de amor à vida.

Não dá para carregar alguém no lombo e ainda ser guiado para um lado que você desconfia, por valores que você desacredita. Você é o senhor do seu destino, você já sabe como renovar suas energias, você se equilibra sozinho. E não dá mais para ficar tentando balancear pessoas que se acostumaram a viver acoplados e dependentes.

Perto de você, cabem pessoas que vêm para compartilhar, para dar e receber, para ensinar e ouvir, para entender, aceitar e respeitar. Não é sendo convencido, não é se desconstruindo inteiro para poder ficar ou entrar numa história que você encontrar amor e paz.

Bem no fundo (ou talvez já no raso), você bem que já sabe por onde quer voar.

Imagem de capa meramente ilustrativa: cena do filme Brilho Eterno de uma Mente sem Lembranças

Marido lê diário para lembrar esposa com alzheimer sobre história de seu amor

Marido lê diário para lembrar esposa com alzheimer sobre história de seu amor

Jack Potter é um inglês que mesmo aos 90 anos lutou diariamente para que o amor entre ele e sua esposa não fosse esquecido.

Phyllis e Jack foram casados por mais de 70 anos e tudo estaria muito bem, não fosse por um detalhe. Phyllis tem demência e é acometida por uma severa falta de memória. Para evitar que as memórias dos dois fossem apagadas, Jack a visitava todo o dia na casa de repouso onde ela vivia e lia para ela trechos do diário que ele guardava desde que se conheceram.

Parece cena de filme, mas não é. Ou melhor, também é. É que a história do casal inglês lembra em muita coisa o livro “Diário de Uma Paixão”, de Nicholas Sparks, que mais tarde virou filme.

“Eu me lembro como se fosse ontem da primeira vez que a encontrei – ela veio até mim e me tirou pra dançar”, disse Jack, em entrevista ao tablóide britânico Daily Mail. “Ela era uma excelente parceira de dança e era mais velha que eu – eu a achei maravilhosa e continuo achando.”

A reportagem original é de 2013 e até o momento a reportagem não descobriu nada sobre a atual situação do casal. Seja como for, o carinho e dedicação de Jack fica como exemplo para cada um de nós.

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A inteligência é afrodisíaca

A inteligência é afrodisíaca

O termo “afrodisíaco” remonta à deusa grega Afrodite, divindade atrelada ao amor como um todo, sendo atribuído a quaisquer substâncias tidas como estimulantes sexuais. Não existe comprovação científica de que haja relação entre o consumo delas e o aumento do apetite sexual, porém, o termo já se incorporou ao vocabulário popular, uma vez que é usado para caracterizar alimentos, produtos e características pessoais que incitam a libido das pessoas.

Não dá para explicar direito o que nos atrai, o que realmente nas pessoas nos chama a atenção, mexendo conosco, com nossas emoções. Após termos uma certa convivência com alguém, muitas vezes acabamos sentindo algo a mais, sendo atraídos para além de mera amizade. Outras vezes, já na primeira vez que conversamos com uma pessoa, nós nos sentimos atraídos, sem conseguirmos explicar o motivo de fato.

Embora também possamos ser atraídos apenas visualmente, só de ver alguém que nos chame a atenção, mesmo de longe, ainda que nem tenhamos ouvido a sua voz, os sentimentos mais intensos, que nos embaralharão os sentidos, ocorrerão quando estivermos diante de alguém com quem possuímos certa convivência. Mesmo que apenas nos esbarremos com a pessoa pelos corredores da empresa e conversemos futilidades, a atração não se explica racionalmente.

Sem que precisemos recorrer a dados de pesquisa ou a argumentos científicos, certo é que a inteligência é um poderoso afrodisíaco, ou seja, pessoas inteligentes, intelectuais, escritores, acabam por se tornar atraentes para muitas pessoas. Alguém que transmita sabedoria e cultura, ainda que não possua atributos físicos, irá atrair muitos olhares, irá derreter corações por onde passar, simplesmente porque conteúdo não acaba, conhecimento ninguém nos tira – conhecimento atiça a libido.

Assim, a inteligência se nos apresenta como uma força inerente, que não envelhece, como se fosse algo que vem junto com a pessoa e ali ficará para sempre. É algo líquido e certo, pois transmite segurança, proteção e, portanto, atrai. Pessoas inteligentes conseguem buscar soluções, resolver problemas, rir de si mesmas, o que faz toda a diferença em qualquer tipo de relacionamento. Pessoas inteligentes assim permanecem com a passagem do tempo, que não lhes rouba o que possuem de mais precioso.

Enfim, a inteligência é algo com o que sabemos que poderemos contar, sem data de validade, algo permanente e imutável, algo que somente se amplia. E apenas quem é inteligente o bastante se coloca no lugar do outro, entendendo o que o compromisso afetivo requer, o que fere o semelhante, o que alimenta o amor verdadeiramente compartilhado, para além dos lençóis e das aparências vãs.

Imagem: Nejron Photo/shutterstock

Ensine para a sua solidão qual é o lugar dela

Ensine para a sua solidão qual é o lugar dela

Imagem: Orla/shutterstock

A solidão não se comporta bem nos encontros. Fale por ela antes que seja tarde. Ela tem necessidade de justificar sua condição, por vezes tímida, acuada, mas, em outras, até mesmo agressiva e mal educada.

Podemos ser solitários, mas jamais seremos somente isso. Solidão é uma condição complementar, não primária. Se ela tomar a voz em todas as decisões, acabará por nos soterrar e nos fazer dignos de piedade.

Todo mundo tem uma parcela de solidão na vida. Passatempos solitários, opiniões solitárias, sonhos, principalmente sonhos, adoravelmente solitários. Solidão não é virtude nem defeito. Só que é perigosa porque quer crescer e tomar um lugar e uma voz que nos afasta de tudo e todos.

É bacana conviver amistosamente com a solidão, Por vezes é melhor companhia e ainda nos conforta e aquieta. Mas jamais pode ela nos afastar do que precisamos ou queremos.

Quando a solidão encontra a carência, ela devora. Se for com a indiferença, ela repele. Com o amor – e por mais que ela tenha vontade de se entregar – ela vacila. Sabe que pode vir a ser o seu fim. É hora de entrar em cena e tomar o controle das decisões. O amor chega, pede para ficar, mas dificilmente entra em luta com a solidão.

Amor é janela aberta, solidão é portão trancado. Se não se passa sequer do portão, jamais se saberá a vista que a janela oferece.

Mas, por gratidão ou educação, é sempre bom lembrar as contribuições da solidão em cada vida. Momentos únicos para tentar decifrar os códigos de convivência, instantes de lembranças mágicas, ideias nascidas do silêncio. Má a solidão não é. Um pouco devoradora, talvez.

Se estiver bem educada e ensinada a ter seu próprio lugar, as chances de que cresça além da conta diminuem muito, e, com sorte e um pouco de amor, é possível que ela ignore as ameaças à sua sobrevivência e se transforme em outra coisa, uma pequena e saudável escapada, por exemplo.

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