Quem não te valoriza é que sai perdendo

Quem não te valoriza é que sai perdendo

Imagem:  fizkes/shutterstock

Não é fácil, mas teremos que saber que, se o outro vive sem nós, também poderemos muito bem respirar sem ele, longe dele, bem longe. Quem não nos valoriza mal sabe o que está perdendo.

Já notou que, não raro, ficamos prestando atenção justamente em quem costuma não nos dar muita atenção, remoendo o que não somou, não retornou, não aconteceu, deletando quase que instantaneamente tudo de bom que nos acontece e esquecendo aqueles a quem somos importantes? Que coisa doida essa mania de guardarmos aqui dentro o que deveria estar lá fora, ao passo que deixamos lá longe de nossos pensamentos tudo e todos que nos chamam para junto de si.

É quase que impossível termos um dia em que somente aconteçam coisas ruins, em que somente sejamos desprezados, esquecidos e deixados de lado. É claro que, em meio a um dia marcadamente difícil, alguém foi gente conosco, alguém disse algo bom, algo positivo ocorreu ali do nosso lado. Porém, ao fim do dia, o que nos sobra de mais pesado, ocupando quase que a totalidade da gente, parece ser sempre o que não aconteceu, as palavras agressivas que ouvimos, as pessoas desagradáveis que nos encheram a paciência.

Cansados após um dia extenuante, acabamos por deixar que a parte negativa das horas preencha toda a nossa essência, enquanto lembramos e relembramos tudo o que nos desgostou, todos que nos desapontaram, como se um dia ruim determinasse que nossa vida fosse ruim. Por mais que sejamos alertados para a necessidade de resgatarmos nossos melhores momentos e nossas mais belas lembranças, o que foi ruim e nos magoou muitas vezes ganha o espaço mais importante dentro de nós.

É preciso que nos forcemos e nos esforcemos, no sentido de não deixar que essas porradas que a gente leva nos derrubem demoradamente, pois é a forma como enxergamos as coisas que irá nos tornar mais aptos a dar o devido valor ao que merece nossa atenção e a saber com quem deveremos gastar nossas energias. Não é fácil, mas teremos que saber que, se o outro vive sem nós, também poderemos muito bem respirar sem ele, longe dele, bem longe. Quem não nos valoriza mal sabe o que está perdendo.

É assim mesmo, teremos que seguir, prosseguir, continuar acreditando que há algo melhor por vir, amanhã ou depois, porque merecemos, porque fazemos por onde, porque somos gente do bem, porque é o que nós queremos. A vida não é fácil, nunca foi nem nunca será. Ninguém é feliz o tempo todo e merdas acontecem. Ainda assim, como é bom viver, melhor ainda quando não desistimos de sorrir, junto de quem gosta da gente e sem machucar ninguém nesse percurso. Vivamos!

Não coloque palavras na minha boca!

Não coloque palavras na minha boca!

Coisa irritante é ter que lidar com gente que adora distorcer o que a gente fala. A convivência vai ficando muito complicada quando o outro pega o que dizemos e passa no seu próprio moedor mental de repertório, tempera com suas próprias emoções, e usa a nossa fala em seu próprio benefício.

Nessas circunstâncias o que pode ser feito é ouvir a si próprio atentamente, antes de aceitar de forma condescendente o que vem do outro, por meio de suas opiniões e crenças prontas.

Além disso, é bom enfiar na cabeça uma coisa: se outro estiver a fim de dar um nó cego naquilo que você falou não há Nossa Senhora Desatadora de Nós que dê jeito.

Feita a reflexão, você estará quase pronto para o próximo estágio, que é aceitar serenamente que uma coisa é o que você fala, outra coisa é o que o outro entende, e outra coisa, ainda mais perturbadora é o que o outro escolhe entender.

A interpretação alheia acerca de nossas exposições é uma verdadeira caixinha de surpresa, dentro da qual tanto pode vir uma joia valiosa, quanto um cascalho desgastado por toda aquela água que tinha para rolar debaixo da ponte, e que já rolou.

E o que tem de gente que faz questão de não entender o que dizemos é de arrepiar o umbigo, bem naquele lugarzinho que a gente se esconde quando também faz questão de deturpar falas alheias em nosso próprio benefício. Afinal de contas, pisar na bola não é privilégio de ninguém, certo? E todo mundo tem seus dias de ver o mundo lá de cima ou lá de baixo.

É, colega, como diria a minha avó “Tudo o que sobe, um dia há de descer!” – sem exceção -, tirando os níveis de canalhice no mundo. Sim, porque esses sobem verticalmente na velocidade da luz.

Mas… Supondo que você tenha feito um voto em benefício da honestidade, lealdade e justiça. E que venha honrando esse voto. Baseado nessa honra recém-conquistada, você escolheu praticar aquelas maravilhas todas sobre as quais sempre discursou com tanta desenvoltura e considera-se apto para dizer ao seu semelhante próximo o que lhe vai na alma.

Então você escolhe bem as palavras, dá uma boa polida nelas e revela seu coração e sua mente para aquela pessoa difícil, com a qual é um desafio gigante manter uma conversa. Tudo devidamente organizado em pensamento, você abre as comportas. É sua tentativa de “limpar ruídos na comunicação”.

A criatura fica ali imóvel, uma caricatura malfeita da Monalisa. Não dá nenhuma pista para te ajudar a entender se o seu discurso de peito aberto foi ou não foi compreendido. Nada. Silêncio total. É nessa hora que você decide encurtar o papo que, a essas alturas já virou um constrangedor monólogo.

Fim de “conversa”, cada um toma seu rumo e vai cuidar da sua vida. Você até procura esquecer que foi solenemente ignorado. Supera.

Até que, um belo dia, você é surpreendido por uma espécie de filme ruim, desses que só passa na Sessão da Tarde. E vê, estarrecido, saírem da boca do seu outrora interlocutor, aquelas palavras que com tanto esforço você compartilhou, só que deformadas.

O que era “não” virou “talvez”, o que era “talvez” virou “sim”, o que era “sim” virou “sei lá”, e o que era “sei lá” virou lá qualquer outra coisa sobre a qual você não faz a menor ideia de origem ou significado.

Numa hora dessas, a primeira melhor coisa que se pode fazer é manter silêncio. O silêncio é a resposta mais justa que podemos oferecer àqueles que fizeram de nossas palavras tecidas em sentimentos, trapinhos distorcidos, sem nenhum constrangimento.

A segunda melhor coisa? A ausência. Dê seu melhor sorriso, limpe dos pés a poeira do ressentimento e saia de cena. Deixe o desonesto manipulador falando sozinho. Ele merece!

Imagem de capa meramente ilustrativa: cena do filme “Antes da meia noite”

A gente só muda quando a gente se encontra

A gente só muda quando a gente se encontra

Imagem: Mathisa/shutterstock

Recentemente, eu fui indagado por um amigo de que eu tinha mudado bastante, na verdade, de que eu fui a pessoa que mais mudei desde o ensino médio.

Prontamente o respondi dizendo que mais do que mudado, eu havia me encontrado. Aliás, há outra saída estando em um universo em constante transformação?

Em “Memórias Póstumas de Brás Cubas”, lá paras tantas, Machado argumenta que nós estamos em constante mudança, o que ele chama de edição. Estamos sempre nos transformando em uma nova edição, como se fôssemos um livro que a cada ano passa por uma revisão.

E conforme as edições vão se alterando, nós adquirimos novos gostos, novos hábitos, novas experiências, assim como, deixamos de lado coisas que na edição atual já não possuem tanta importância ou significado.

Eu acredito que não há como não mudar com o passar do tempo. Somos expostos a situações e vivências que pouco a pouco modificam o que somos. Mas, antes que alguém pense de forma errônea, não me refiro a mudanças que alteram substancialmente a nossa essência, e sim, a metamorfoses que nos tornam ainda mais próximos do que somos intimamente.

O que ocorre é que não raras vezes silenciamos o que sentimos, deixando de modo abafado o que há de mais intrínseco e subterrâneo ao nosso ser. Para que isso venha à tona, precisamos passar por situações dolorosas, na maioria das vezes, para que sejamos obrigados a olharmo-nos no espelho totalmente despidos e, assim, percebamos que a realidade que se apresenta não está de acordo com a parte que não pode ser refletida.

Entretanto, nem sempre é uma situação específica (ou situações) que nos obriga a repensar a nossa vida. Às vezes, como disse, é a própria passagem do tempo, com a sua força inexorável, que nos leva a esse “choque de realidade”, uma vez que só o tempo traz a experiência necessária para que compreendamos alguns pontos-chave da nossa existência.

E não é que ela resolve tudo, até porque não há como. Mas, a experiência nos mostra que na vida nada é tão simples, que toda escolha tem uma consequência, e, sobretudo, que fugir daquilo que somos (por qualquer motivo que seja), só nos fará infeliz.

Para mudar, se tornar uma edição revisada, não são necessários grandes acontecimentos no mundo externo, porque a verdadeira mudança acontece internamente, quando sentimos que a pessoa que somos hoje reflete muito melhor o nosso interior do que em edições anteriores.

É claro que cada fase possui a sua importância, contudo, se as nossas experiências servem muito mais para nos aproximar de outros universos do que nosso, é preciso repensar o que o tempo, na sua complexidade e magnitude, tem nos ensinado, já que como diz o poeta – “A gente só muda quando a gente se encontra” – e ser forasteiro de si mesmo é uma das maiores tristezas da vida.

A vida está com mais pressa do que nunca

A vida está com mais pressa do que nunca

Imagem: Jacob Lund/shutterstock

Passa como um trator por cima das horas, indecisões, dos suspiros e divagações.

Se você se sente confortável alimentando dúvidas e ponderações como quem vai todos os dias à praça para oferecer milho aos pombos, é bom lembrar que a vida passará tão tediosamente quanto essa rotina escolhida.

Se, por outro lado, você está confiante em pegar a vida no laço, fazer dela o que planeja e sonha, é possível que ela corresponda na mesma intensidade ou até mais, portanto, é importante ter onde se segurar quando os trancos vierem.

A vida responde às nossas provocações, mas vem com pressa, com urgência, e não costuma tolerar intenções desgovernadas, blefes, ameaças ou trotes. Bem tratada e respeitada, sorri e retribui sorrisos. Enganada, não há quem a alcance e a faça mudar de rumo.

Pense bem na aposta que está fazendo com a vida. Ela como parceira, corre para você; Como rival, te atropela.

A pressa é estratégica. Ela passa voando, nada a faz parar. Quem souber aproveitar, desfrutar, multiplicar, sequer vai sentir a velocidade. Quem preferir arrastar, frear, deixar no ponto morto, provavelmente irá carregar o peso do tempo nos ombros.

Em algum lugar da vida de cada um de nós há uma amizade, um afeto, uma figura do passado, de algum lugar distante precisando muito de um pouco da vida que podemos oferecer. E se, ao invés de tentarmos inutilmente brecar o tempo, nós o usarmos para esses resgates, reaproximações, companhias e recordações? A vida sabe o quanto isso é importante e nos brinda com momentos inesquecíveis.

E, por fim, se ela pudesse nos dar dicas de como aproveitá-la melhor, certamente diria para largarmos para trás o tempo gasto com futilidades e inutilidades, e nos agarrarmos nos mágicos momentos de convivência e troca com quem amamos e admiramos.

Aí sim, a vida vem e oferece uma garupa na sua moto, para a aventura de passar pelo tempo com muita vida!

Amor não precisa de discurso para existir. Precisa de atitudes.

Amor não precisa de discurso para existir. Precisa de atitudes.

Imagem: Antonio Guillem/shutterstock

Primeiramente, deixe-me lhe perguntar: você já viu Gandhi, Mandela, Madre Teresa de Calcutá ou Martin Luther King falando do bem que fizeram à humanidade? Não, né?! E sabe por quê? Porque eram pessoas do bem e sabiam que para melhorar o mundo não precisavam de plateia, nem de um discurso avassalador, mas de ações. E assim fizeram.

Agora, vamos ao ponto que quero chegar: quantas vezes você recebeu palavras no lugar de ações como forma de suprir um erro cometido? Quantas vezes você ouviu quer um “nunca mais farei isso” depois de ter sido magoada de forma surreal? As palavras têm esse encanto mesmo. Não foi à toa que terras foram colonizadas e nações enganadas por políticos. A comunicação seduz e tornou-se uma arma para quem a sabe usar.

A questão aqui é: há uma grande diferença entre atitudes e palavras e as pessoas precisam, urgentemente, aprender isso. Notem, quem muito promete e muito “jura de pé junto” é porque precisa afirmar uma verdade que foge da normalidade. Usam os argumentos para convencer as verdades que suas atitudes não provam. E isso envolve todos os relacionamentos sociais: profissionais, familiares e amorosos.

Do que adianta ouvir “ eu te amo” se não foi apresentada como namorada? Do que importa um “eu sou fiel”, mas não assume o relacionamento e só sai com você no final da festa? Às vezes, um “estou na portaria te esperando” tem mais a dizer do que todas as vezes que ele disse que estava com saudades.

Eu sei que fomos ensinados a acreditar que o verdadeiro amor é estar junto todos os dias, fazer pequenos sacrifícios, não querer mais ninguém…. e blá blá blá… mas amor é muito mais complexo que isso.

Amor é quando você recebe um convite para jantar, do cara mais lindo do universo, mas por opção, permanece fiel ao seu parceiro. Porque você o respeita e o ama.

Amor é quando ele não quer continuar a relação e você deixa ir. Porque entende que amar implica em deixar livre e que, do nosso lado, só deve ficar quem quer.

Amar é aprender a valorizar o “bom dia”, “estou indo aí” e o “você está melhor” mais do que o “eu te amo”. Entendendo que há uma grande diferença entre o amor verbalizado e o comprovado.

Entenda que um anel de brilhantes não é prova de amor. Um “eu te amo” escrito pelo esquadrão da fumaça não mede sentimento e um convite para jantar não significa que ele te leva a sério.

Essas coisas não são nada perto das gargalhadas diárias, do respeito mútuo e da cumplicidade que apenas um verdadeiro amor pode oferecer. Então, desencanta aí e acorda para vida! É muito show para pouca plateia nessa relação.

É fato que cada um ama do seu jeito, mas sempre deve haver coerência entre palavras e atitudes. Às vezes, há muito mais verdade no silêncio que nas declarações de amor em praça pública. Mas, cabe a você, decidir qual é o seu padrão de beleza.

Da coragem de permanecer

Da coragem de permanecer

Imagem: nd3000/shutterstock

“Contato é todo tipo de relação viva que se dê na fronteira, na interação entre o organismo e o ambiente, é um processo contínuo de reciprocidade em que homem e mundo se transformam. O contato acontece no diferente, é o reconhecimento do outro, o lidar com o outro, o que eu sou, o diferente, o novo, o estranho. O contato acontece na fronteira eu-outro, conhecido-desconhecido, velho-novo, todo contato é dinâmico e criativo.”
Perls, Hefferline e Goodman, no livro “Gestalt-terapia”, 1997.

Para a Gestalt-terapia, o contato é a maneira mais autêntica e criativa de transformação do homem. Os anos de estudo e vivência me ensinaram que contato tem muito mais a ver com permanência do que com brevidade. Também aprendi que permanecer, em tempos de relacionamentos líquidos, é uma arte que nem todos dominam.

Em tempos de quantidade e muitas escolhas, onde tudo se faz tão efêmero, permanecer pode ser a mais autêntica prova de celebração do encontro, de honrar o que é diferente, novo, e tudo aquilo que nos incomoda ou fascina no outro.

Aprender a permanecer tem sido, para mim, um grande aprendizado e um ato de coragem. É dar ao outro o benefício da dúvida, mesmo sabendo que as dúvidas me desestabilizam, tornam-me vulnerável, apesar de me engrandecerem. Duvidar nos transforma, enquanto as certezas nos engessam. Paralisados, tentamos manter o controle e garantias de que não sofreremos grandes danos – esse controle, por si só, já é sofrimento. Então, quando você tiver apenas certezas, vá embora.

Permanecer é aprender sobre ser paciente e observar. Ficar, enquanto as dúvidas assolam os corações medrosos. Sim, ficar dá medo. Mudanças dão medo. E, se na dinâmica do encontro, temos poucas certezas, a única garantia que temos é a de que entrar em contato com o outro significa mudança.

Mas permanecer é também uma escolha que nos convida ao crescimento e nos aufere autonomia. É confiar que temos a capacidade de distinguir o que é saudável do que nos faz mal; que teremos a coragem de partir, se ou quando necessário; que teremos a capacidade de superar as possíveis dores e de sobreviver às consequências de nossas escolhas. É saber que ficar não é uma escolha permanente. E, enfim, entender que as cercas que criamos para nos proteger não mantêm os outros para fora, mas nos aprisionam dentro de nossa mesmice e pequenez.

É importante lembrar que permanecer não é uma desculpa para viver de pequenas doses ou de metades, pois o ato de permanecer deve ser usado com prudência e amorosidade. Os gestaltistas alertam: o contato só se dá na fronteira. Ou seja, ele não é unilateral. É fundamental que exista reciprocidade, ainda que o desequilíbrio na troca seja saudável. Portanto, permanecer é suportar, mas não é suportar tudo desmedidamente.

E, se essa matemática tão ilógica, que nos faz escolher ficar ou partir, ainda é um mistério, uma coisa é certa: permanecer é uma escolha pessoal e solitária. Devemos escolher sozinhos, da nossa maneira, com o que podemos, sem garantias nem certezas. Devemos escolher ficar ou partir pelo nosso próprio bem e não pelo bem do outro. E entender que o outro também tem essa liberdade de escolha solitária. Portanto, é inútil tentar dosar igualmente ou tornar lógica essa fórmula.

E, mesmo que haja tantos riscos e incertezas, se queremos mudar e evoluir, eventualmente precisamos desenvolver coragem e paciência para ficar. Ficar é aprender a enxergar, no outro, uma escola, entendendo que os riscos não podem ser calculados e, mesmo assim, valem a pena serem vividos. E se (ou quando) eu sofrer, é bom me lembrar do que me fez ficar, que vem do melhor de mim, daquilo que me torna mais autêntica e, portanto, melhor para o outro e para o mundo.

Na liquidez que escorre entre os dedos e os medos daqueles que escolhem partir, a grandeza dos relacionamentos transborda nos corações de quem tem gana e coragem, dos que fazem questão, que celebram os encontros e desencontros, que se colocam disponíveis, entram em contato e, apesar de tudo, por causa de tudo, permanecem.

Não tenho tempo para quem finge se importar

Não tenho tempo para quem finge se importar

Imagem de capa: Jacob Lund, Shutterstock

Não é de hoje que observo essa sua falta de empatia. O falso discurso de dizer que se importa comigo e com os outros. É muito cômodo vir falar de amor e pregar o cada um por si. Sinceramente, não tenho tempo para quem finge se importar. Porque quem se importa, cuida. Não atravessa o respeito e nem escolhe agir de mentira.

Senta aqui, você precisa entender de uma vez por todas. Você pode dizer o que for, mas não tenho culpa dos seus medos. Também não tenho responsabilidade pelas lágrimas já vividas no passado. Todos, em algum momento, passamos por experiências que nos fizeram um pouco menos do que somos hoje. Mas agora é um novo dia e, ao contrário da sua entrega dos pontos, prefiro pensar e querer ser mais. Mais de amor, mais de carinho. Dessa forma, querendo ou não, permito que a minha vida esteja aberta para quem quiser chegar. Fico de prontidão para entender e cuidar de quem é importante, de quem me quer bem. Você deveria tentar, é de graça.

Eu sei que o medo está presente. Sei que, no fundo, você age na ofensiva porque não sabe defender-se. Pensa que é você contra o mundo quando, na verdade, é você contra si. Esquece isso. É sempre tempo de reaprender. E essa conversa é mais uma oportunidade para que perceba, o abraço não acabou. Se quiser, todos os instantes podem ficar para trás. Quem sabe possa finalmente ter o tão esperado final feliz. Depende de você. Minhas mãos estão lavadas e o meu coração está descansado.

Ainda assim, não vou forçar. É direito primeiro respeitar os caminhos escolhidos por cada um, mesmo que eles não incluam uma estrada em comum. Apenas não esqueça, não tenho tempo para quem finge se importar. Nunca tive. Porque quem se importa, vive para somar. Não poupa, não importando o tombo, cada afeto que o coração pode oferecer.

Nem sempre quem volta encontra o que deixou

Nem sempre quem volta encontra o que deixou

Nossa vida é feita de escolhas, nem sempre doces, nem sempre amargas. Muitas vezes, nossa escolha implicará termos que deixar para trás algo que já é certo, que faz parte de nossa jornada, para que possamos caminhar em outras e novas direções. Essa tomada de decisão nunca será fácil e, quando envolver o desapego, o abrir mão de, aí tudo se tornará pior, pois o que decidirmos poderá mudar as coisas, sem que possa haver volta.

Ninguém está livre de, repentinamente, ver-se diante de alguma proposta tentadora de emprego, de estudo, de ser convidado para iniciar novos projetos em algum lugar bem distante, em outra cidade, em outro país. Da mesma forma, ninguém está livre de se sentir entediado e insatisfeito com a vida que leva, ambicionando uma vida outra, totalmente oposta ao que tinha até então. Seja por conta de propostas ou de sonhos pessoais, certo é que a vontade de mudar pode surgir a qualquer instante.

Nesses momentos, muitos de nós estaremos diante de um grande dilema, uma vez que nas oportunidades talvez não possa caber ninguém mais além de nós, ou seja, teremos que optar por aceitar ou não uma nova jornada, mas deixando para trás um parceiro, um lar, amigos, toda uma vida anterior. É como se fôssemos começar do zero, embora nossas vidas já estivessem preenchidas, inclusive nossos corações. Assim, aceitar o novo significará uma ida solitária, somente com nós mesmos, nada nem ninguém mais.

A questão é que não temos o dever de esperar pelo outro, enquanto ele fica lá longe realizando seus sonhos, sem nós, por tempo indeterminado, que então passivamente assistimos, como meros espectadores, do outro lado da telinha, às conquistas que poderíamos – e deveríamos – estar desfrutando junto, a menos que assim o desejemos. A distância física demorada acaba por provocar o afastamento emocional, o arrefecimento da carga afetiva, porque simplesmente a gente se acostuma tanto com a presença quanto com a ausência. Isso é sobrevivência.

Como se vê, quanto mais vivermos, mais escolhas teremos pela frente, mais renúncias, ganhos e perdas acumularemos, pois é assim que a vida age, chacoalhando, incitando, promovendo o novo, mas quase nunca de uma forma tranquila. Optar sempre será doloroso, simplesmente porque, ao escolher algo, alguma coisa será preterida. É preciso que tenhamos clareza quanto à importância real de tudo e de todos que fazem parte de nosso caminhar, para que não deixemos para trás justamente aquilo que nos alimenta a alma.

Como dizem, a fila anda, e anda tanto para quem vai lá na frente, quanto para quem está no final dela. Podemos ir, sim, mas, quando voltarmos, possivelmente nada mais será como antes.

Imagem: Olleg/shutterstock

Agora, com você, tudo faz sentido

Agora, com você, tudo faz sentido

Imagem de capa: Eka Miller, Shutterstock

Tenho uma confissão a fazer e a melhor forma de começá-la é sendo honesto. Agora, com você, tudo faz sentido. Não precisei quebrar a cabeça para descobrir isso. Foram necessários apenas uns poucos goles de você para que, no mais tardar dos nossos momentos, descobrisse que deveríamos ficar juntos.

Tem gente que fica fazendo contas de quantos amores teve, de quantos noites dividiu a dois. Outros competem por carinhos demonstrados e por sacrifícios feitos para ficar com alguém. Ainda existem aqueles que, na mais cara de pau, pesam prós e contras em busca do amor ideal. E nessa matemática inexplicável esperam, dia após dia, encontrarem um tipo de amor que não é real. Relacionamentos embutidos de quem dá mais sempre acabam antes mesmo de começarem. Mas é o tempo líquido em que vivemos, onde analisamos atitudes e ignoramos pensamentos. Cadê o tempo de conhecer? Cadê a coragem de perde-se em encontros para ouvir a outra metade?

Felizmente, sorrimos na mesma fala. Aprendemos que a vontade importa mais do que qualquer outra intensidade compartilhada. É quando você segura a minha mão e os nossos dedos encontram o entrelace natural. É, ainda, quando caminhamos olhando para um presente em comum, para um futuro conversado por dois. Tenho certeza que é assim que a cumplicidade acontece. Não duvido dos nossos planos, não desacredito dos nossos carinhos.

Houve uma época, não muito distante, que talvez eu concordasse com esses amores que vêm e vão. Daqueles sem laços e compromissos. Daqueles feitos para durarem sob efeito de beijos aleatórios. A grande diferença dos opostos e de nós é bem simples. Os opostos se cansam e nós no permitimos. Agora, com você, tudo faz sentido. Acredite, estamos apenas no começo do nosso amor.

15 livros para mudar sua vida

15 livros para mudar sua vida

Imagem:  Pressmaster/shutterstock

Aposto que você já ouviu alguém dizer a frase “esse livro mudou minha vida”. O livro certo no momento certo não tem preço. Com o investimento de algumas horas e alguns reais você tem a oportunidade de adquirir conhecimentos que os autores levaram anos para descobrir.

Também imagino que você já tenha ouvido que aqui no Brasil “o ano só começa após o Carnaval”. Embora essa mentalidade venha mudando, ainda há muita gente que leva isso consigo. Não sou a pessoa mais carnavalesca do mundo — meu negócio é rock, bebê —, mas não julgo e tampouco me incomodo com os foliões. Cada um faz o que bem entender da sua vida, não é mesmo?

A única coisa que me deixa ligeiramente incomodado nessa época do ano é justamente a galerinha do contra. Pois eu tenho uma novidade pra vocês: reclamar do Carnaval no Facebook não fará com que ele acabe mais cedo ou com que as pessoas deixem de se divertir.

Então, agora que esclareci isso, que tal você que não vai para a Avenida aproveitar esses dias de forma produtiva? Fiz uma lista com 15 livros que algum dia me fizeram encher a boca para falar: “Esse livro mudou a minha vida!”. Quem sabe te ajude em algum objetivo específico. São publicações altamente recomendadas para empreendedores e profissionais criativos. Alguns são novos, outros clássicos atemporais. Alguns desafiarão sua veia empreendedora, outros seu status quo pessoal. Tem autoajuda, biografia e até romance.

Agora é com você! Boa leitura!

1 – Trabalhe 4 Horas por Semana, Tim Ferriss

Não se engane pelo título. A obra é um misto de filosofia de vida e manual do empreendedor do futuro. A premissa básica do autor é eliminar, simplificar e automatizar tudo. Não há limites. O objetivo é trabalhar de forma mais eficiente possível para liberar tempo para coisas mais relevantes. Para coisas que te empolguem. Apesar de os relatos apresentados por Tim serem de experiências vividas nos Estados Unidos, a grande maioria das dicas pode ser aplicada em qualquer realidade.

 2 – Na Natureza Selvagem, Jon Krakauer

Talvez você já tenha assistido o filme com a atuação impecável de Emile Hirsch, a trilha sonora sensacional de Eddie Vedder e a direção de nada mais nada menos que Sean Penn. Esta obra é sobre a viagem e evolução de uma alma humana. É um daqueles livros que você tem que ler no momento certo da sua vida para conseguir absorvê-lo. Tive a sorte de lê-lo no início de minha vida adulta, de modo que a história real de Christopher McCandless, o jovem recém-formado em Direito que largou tudo para viver em meio a natureza selvagem do Alaska, me ensinou, de certa forma, a ser mais desapegado das coisas materiais e a viver com menos.

 3 – Como Fazer Amigos e Influenciar Pessoas, Dale Carnegie

Lançado em 1937, o clássico de Dale Carnegie é tão útil hoje como era quando foi publicado. Isso acontece porque Carnegie tinha uma compreensão da natureza humana que nunca será ultrapassada. O sucesso financeiro, segundo o autor, é 15% de conhecimento profissional e 85% “da capacidade de expressar ideias, assumir a liderança e despertar o entusiasmo entre as pessoas“. Ele enfatiza técnicas fundamentais para lidar com as pessoas sem fazê-las se sentir manipuladas. Um livro para se ter na cabeceira.

 4 – O Poder do Hábito, Charles Duhigg

best-seller de Charles Duhigg é mais do que apenas um livro sobre por que fazemos o que fazemos. Esta obra foi responsável por me tirar da inércia e me ajudou muito em meu trabalho como produtor de conteúdo. É um manual contra a procrastinação. Você já se perguntou por que cada vez mais as pessoas bem sucedidas tem falado sobre seus hábitos? Duhigg nos ensina as origens biológicas dos hábitos e como usar a psicologia e a biologia evolutiva para desfazer os maus e substituí-los com novas rotinas que irão alimentar o seu sucesso.

 5 – Roube como um Artista: 10 Dicas sobre Criatividade, Austin Kleon

Este livro revolucionou como eu vejo o processo criativo. De acordo com a teoria de Austin Kleon, nada é realmente original. Porém, novamente, não se engane com o título. O roubo das ideias, neste caso, não significa plágio. Este pequeno livro (levei pouco mais de 1hr para lê-lo) é um manual sobre como beber em diferentes referências para lapidar suas ideias e ser mais criativo. É mais uma obra para se ter na cabeceira. Altamente recomendado para produtores de conteúdo e profissionais de marketing em geral.

 6 – Como Encontrar o Trabalho da Sua Vida, Roman Krznaric

Não é um manual para encontrar um novo emprego — mais uma vez: não se engane pelo título. Roman Krznaric certamente lhe inspirará a descobrir diferentes lados do seu próprio eu. Recomendo fortemente este livro àqueles que se sentem perdidos e estão procurando uma vida melhor e não sabem por onde começar. A obra é um incentivo para tentar novamente e seguir em frente. Muito inspirador!

 7 – Steve Jobs, Walter Isaacson

Steve Jobs dispensa apresentações. Com base em mais de quarenta entrevistas com o fundador da Apple, realizadas ao longo de dois anos — bem como entrevistas com mais de 100 membros da família, amigos, adversários, concorrentes e colegas —, Walter Isaacson escreveu uma história fascinante da intensa vida de Jobs. Sua biografia nos mostra a personalidade de um empreendedor criativo cuja paixão pela perfeição revolucionou várias indústrias.

 8 – On The Road, Jack Kerouac

Jack Kerouac não é uma leitura fácil. Seus parágrafos enormes e sem vírgulas podem cansar os desavisados. Agora, se você não se importa com isso e adora a ideia de pegar a estrada e sair por aí, vai tirar alguns ensinamentos do espírito livre de Kerouac e a geração beatnikPS: Ao contrário de “Na Natureza Selvagem”, o filme inspirado no livro é uma bosta, então não assistam! Haha!  

9 – A Mágica da Arrumação, Marie Kondo

Mais um livro sobre desapego, sendo que este vem diretamente da cultural oriental. Esse livro muda vidas! Sério! É definidamente um manual da arrumação. O livro fez tanto sucesso mundialmente que Marie Kondo se tornou uma “guru da organização”. Suas dicas são libertadoras e, claro, é totalmente indicado pra você que é bagunceiro…

10 – Elon Musk, Ashlee Vance

O sul-africano Elon Musk é considerado um dos maiores empreendedores contemporâneos. O cara está por trás de nomes como PayPal, SpaceX, Tesla e SolarCity. Musk quer salvar nosso planeta com seus carros elétricos e enviar humanos para o espaço. Podemos dizer que ele é a versão real do Homem de Ferro interpretado por Robert Downey Jr.

11 – O Homem que Venceu Auschwitz, Denis Avey

Este não é apenas um livro sobre a Segunda Guerra Mundial. O Homem que Venceu Auschwitz é uma verdadeira aula de empatia, algo que está faltando para a humanidade atualmente. A obra conta a história real de um soldado britânico, prisioneiro de guerra, que se infiltrou no campo de concentração de Buna-Monowitz, conhecido como Auschwitz III, ao ouvir falar da brutalidade no tratamento dos prisioneiros. Lá, fica amigo de um judeu. Emocionante, no mínimo.

12 – Criatividade S/A, Ed Catmull

Talvez você nunca tenha ouvido falar em Ed Catmull, mas certamente conhece a Pixar, estúdio de animação responsável por Toy Story cujo um dos confundadores é um tal de Steve Jobs. Pois bem, Ed também é um dos cofundadores. Eu recomendo este livro a qualquer pessoa que esteja iniciando ou gerenciando uma empresa; A qualquer pessoa que esteja trabalhando em qualquer atividade criativa; Para os fãs da Pixar ou da Disney; E para quem gosta de um livro bem escrito.

13 – Zen e a Arte da Manutenção de Motocicicletas, Robert M. Pirsig

Todo empreendedor deve ler esse livro. E sabe o que é mais interessante nisso? Não é um livro de negócios. Este livro fala da essência de se fazer o bem exclusivamente pelo propósito de fazer bem. Suas reflexões e percepções sobre como pessoas e tecnologia se relacionam continuam atuais mesmo depois de décadas — foi originalmente lançado em 1974. A narrativa é incrível e é uma excelente opção para quem quer se inspirar com uma leitura que não seja técnica.

14 – Em Águas Profundas: Criatividade e Meditação, David Lynch

O cineasta David Lynch descreve seus métodos pessoais para trabalhar ideias e os imensos benefícios criativos que experimentou com a prática da meditação. Foi minha primeira experiência de leitura sobre o assunto e senti uma paz absoluta apenas em lê-lo — altamente recomendado para quem quer desacelerar.

15 – TED Talks: O Guia Oficial do TED para Falar em Público, Chris Anderson

O nome é autoexplicativo, né? Ninguém no mundo entende melhor a arte da ciência de falar em público do que Chris Anderson, a cabeça por trás do TED Talks. Se você tem dificuldades para se comunicar em público — mesmo que seu objetivo não seja palestrar —, vale muito a pena ler este livro.

Os benefícios do conhecimento diversificado

Este ano, tente ler livros que vão além de negócios. Não tenha medo de ler um romance que possa inspirar você a viajar, como “On The Road“, por exemplo. Ou de aprender um pouco sobre empatia e relações humanas com “O Homem que Venceu Auschwitz” por julgar que se trata apenas de mais um livro sobre a Segunda Guerra Mundial.

Seu mundo se expandirá quando você ler sobre diferentes pessoas, lugares e princípios. Lembre-se que a inspiração pode vir de maneiras e de fontes inesperadas. Talvez você aprenda isso em “Roube como um Artista“.

Um desses livros pode a mudar sua vida. Eles mudaram a minha.

Publicado originalmente em matheusdesouza.com e reproduzido em sua coluna da CONTI outra com autorização.

Escolhas e experiências

Escolhas e experiências

Imagem de capa: Poprotskiy Alexey/shutterstock

Quando um jovem pretende se casar, ouvem-se comentários frequentes de amigos ou parentes para que espere um pouco mais e aproveite a vida. Que seria melhor usufruir o momento com experiências, evitando assim, um arrependimento ulterior. Imagina-se que a quantidade de experiências irá determinar a qualidade de uma existência.

Mesmo com tais recomendações, observa-se um grande número de pessoas que tiveram “experiências” e permanecem em um estado de descontentamento beirando o patológico.

Não seria arbitrário afirmar que viver em constantes buscas ou investidas pode representar uma profunda ausência de sentido na vida. Seria viver com opções, mas não ter energia para mensurar suas diferenças e pesar suas escolhas.

Uma vida de longa caminhada e poucas pairagens, que nos direciona ao mesmo ponto de partida, como uma compulsão à repetição. Tornamo-nos andarilhos, de porta em porta, sem saber o que buscamos do outro lado. E neste labirinto emocional, falsamente acreditamos estar adquirindo experiências que nos levarão a um lugar melhor.

Quando brota a certeza do que queremos, as buscas se tornam inócuas. A partir de uma análise pessoal podemos chegar a conclusões do que realmente desejamos e queremos; não é incomum que em determinados momentos desejamos, mas não queremos. Entretanto, quando reunimos esses dois vetores – o desejar e o querer – instala-se a experiência da busca ou a noção de certeza. Assim escolhemos um grande amor ou tomamos as decisões que acreditamos serem importantes.

Para conhecer o amargo da vida, basta um leve trago. Não precisamos do segundo gole ou embriagarmo-nos para ter certeza ou experiência. O relato amargo do passado pode se tornar o ar puro do futuro, quando a partir do gosto amargo aprendo a medida certa do adocicado. A experiência é sutil, e não uma roda da vida incessante que nos impõe um caminho expiatório sem retorno.

Alguns sofrimentos em nossas vidas têm as nossas impressões digitais a partir da dificuldade em priorizar nossos caminhos. O silêncio faz-se fundamental para ouvir o ruído que sinaliza o que queremos e desejamos. A habilidade para perceber esses sinais não está associada a um treinamento ou experiência, e sim a cultivar sensibilidades para identificar as tendências internas.

Experiência de vida nem sempre é uma condição essencial para nossas escolhas. Para usufruir de um grande amor, não é necessário conhecer todas as amantes. O cultivo da certeza dos nossos desejos pode ser uma opção para errarmos menos em nossos caminhos.

O presente

O presente

Imagem: Olga Danylenko/shutterstock

Minha irmã Lucíola pertence à legião do/s caçadores de caçambas. Também é do clube dos observadores de conteúdos destinados à reciclagem. Segundo ela : As pessoas costumam jogar fora coisas interessantíssimas. Na minha opinião às vezes minha irmã erra feio ao se apaixonar por mesas bambas, cadeiras com pés de ferrugem, abajures improváveis. Já a apelidei Madre Tereza de Calcutá dos Objetos, pois ela acredita que as coisas sofrem com a rejeição e merecem um novo acolhimento. Imagina se livrar de uma imagem de São Jorge só porque ele perdeu a espada, ela se indignou certa vez.

Outro dia, de supetão, Lucíola perguntou por uma palavra que eu tivesse dúvida do significado. Puxei pela memória e lá veio: ambrosia. Ela foi para o quarto e voltou segurando 4 robustos volumes do Dicionário LELLO Universal Luso-Brasileiro, organizado pelo português João Grave (1872-1934) e pelo brasileiro Coelho Neto (1864-1934). Editado e impresso na cidade do Porto, Portugal. Procure aí, ela disse. E orgulhosa acrescentou: Eu achei na lixeira aqui do prédio.

Daí foi orgia para os olhos. O LELLO em questão traz ilustrações, a maioria gravuras, em cada página. Trata-se de um dicionário enciclopédico inspirado no precursor e colega francês Larousse Universal. É o tipo de trabalho que merece o nome de obra, tamanho o esforço de seus criadores, tamanho o prazer de seus leitores. Consultei a palavra ambrosia: Substância deliciosa com que se alimentavam os deuses do Olímpio. Manjar delicado. Tornava imortais aqueles que a absorviam.

Resolvida a palavra, eu e minha irmã passamos à rodada de conjecturas. Por que alguém jogaria na lixeira do prédio a joia rara? Fizemos um brainstorm:1) Porque é uma pessoa burra 2) Porque quer desapegar 3) Porque não tem espaço 4) Porque casou com alguém alérgico a papel velho 5) Porque o dicionário era da mãe que morreu 6) Porque é um gênio que sabe todas as palavras de cor 7) Porque consulta dicionários online mais práticos e imediatos.

Como a vida sempre surpreende é provável que o motivo do descarte não corresponda a nenhuma das alternativas acima. De qualquer forma, para a Lucíola o descartador funcionou como papai noel antecipado ofertando sem custo o belo dicionário. Mas o melhor veio quando eu já estava indo embora. Minha irmã num gesto magnânimo disse: Pode levar. É seu!

Deixamos o abraço para depois, o beijo para depois, sem saber que o depois pode não chegar para nós.

Deixamos o abraço para depois, o beijo para depois, sem saber que o depois pode não chegar para nós.

Imagem: Stock-Asso/shutterstock

Deixamos aquele abraço para depois, o beijo de saudade pra amanhã, deixamos pra dizer o quanto estamos sentindo falta daquele alguém para outra hora, deixamos o almoço em família pra outro dia e decidimos não ligar para aquele alguém hoje – melhor deixar para amanhã.

Deixamos a saudade pra amanhã, o eu te amo, o pedido de desculpas, o perdão, a oração e a gratidão para depois. Esperando que o depois sempre virá. Afinal, estamos ocupados demais, preocupados com outras coisas e o hoje não nos oferta tempo. Deixamos para depois.

O problema é: quem nos garante que ele chegará? Quem pode afirmar que amanhã você terá como ligar e dizer: estou com saudade de você? Quem pode garantir que o “eu te amo” não ficará guardado, que o abraço, o beijo, o pedido de desculpas, o perdão não ficarão para trás?

Quantos “eu te amo” enterrados pelo medo, quantos pedidos de desculpas enterrados pelo orgulho, quantas falas de saudade enterradas pela falta de tempo? Quanto perdão deixado para amanhã, sem sequer se imaginar que o amanhã não chegaria? O tempo de amar é hoje, é agora. O tempo de perdoar é hoje, é agora

Deixamos tudo para amanhã, na certeza de que o outro estará lá e de que nós estaremos aqui, sem saber que o amanhã pode não chegar para nós. O mais triste disso tudo é que nós nos sabotamos, deixando para sermos melhores amanhã, para reconhecermos que erramos quando falamos em um tom mais alto com alguém que amamos.

Eu me saboto quando sinto saudade e não digo, quanto amo e não demonstro, quando quero falar com Deus, mas deixo para depois. Quando acho bonito, mas não elogio; quando admiro, mas não falo; quando falho com alguém que amo e, por orgulho, não reconheço, ou quando deixo para depois perdoar as feridas dos outros em mim.

Quando deixo uma amizade acabar por bobeira ou fico alimentando mágoa por muito tempo, à espera de que, depois, um dia, ela se cure. Deixo, com isso, perderem-se os amigos, os amores, as oportunidades, e a possibilidade de ser melhor.

Deixo partir a saudade, como se ela não existisse; o “eu te amo”, como se o amor nunca morasse em mim, e faço do orgulho uma casa na qual eu me refugio. Não deixe para amanhã o amor que você pode oferecer hoje. Não deixe aquele “estou com saudade” engasgado, não deixe para perdoar depois.

Se soubéssemos o quanto o hoje é importante em nossas vidas, não viveríamos tanto em função do passado, pensando que o amanhã é quem pode curar nossas dores, pensando que o amanhã pode solucionar nossos problemas e que o hoje é apenas um dia de calar nossos sentimentos e dar voz ao nosso orgulho.

Nós nos enganamos ao pensar dessa forma, pois o hoje é tempo de restaurar e de viver, é a possibilidade que temos de fazer novo, de mudar o rumo e de mostrar o quanto as pessoas que fazem parte de nossa vida são importantes. O hoje é tempo de perdoar aquele amigo e de dizer o quanto sentiu sua falta; o hoje é tempo de esquecer o que nos faz mal e fitar nossos olhos naquilo que nos faz bem.

É tempo de reconhecer quem nos apoia e quem está sempre torcendo por nós; é tempo de ecoar os “eu te amo” e de dizer o quanto a comida da sua avó é boa ou como aquele bolo de cenoura da sua mãe ficou maravilhoso. É tempo de agradecer e de se achegar a Deus.

Hoje é o dia de amar, portanto, não espere o dia dos namorados, o dia das mães, o dia dos pais, ou o Natal para dar aquele abraço apertado que sufoca, para comprar algo que agrade e dizer o quanto você ama esse alguém.

É por esses e outros motivos ser que eu não sou muito fã de datas e deve ser por isso que gosto mesmo é de surpreender de forma despretensiosa, como quem se lembrou do namorado porque foi ao supermercado e comprou o seu chocolate favorito, como quem estava com saudade e deixou um bilhete pra ler assim que chegar do trabalho. Como quem, antes de sair de casa, deixa um recado apoiado ao ímã de geladeira, dizendo o quanto ama a sua mãe e lhe desejando um bom dia de trabalho.

É tão simples, mas a gente complica e deixa tudo para amanhã. Deixa para amar e perdoar como quem deixa uma conta para pagar depois. Não deixe para o final de semana, não espere os aniversários, não deixe para as datas comemorativas. Tem muito a se fazer hoje, tem muito o que amar hoje, tem muito o que perdoar hoje. Temos muito que nos achegar a Deus hoje, temos muito tempo para orar hoje. O tempo disso tudo é hoje e não amanhã, afinal, o amanhã pode não chegar.

A beleza das coisas está dentro da gente

A beleza das coisas está dentro da gente

Algumas pessoas apreciam ver o Ipê florido. Outras, simplesmente amaldiçoam as suas flores caídas pelo chão. A beleza das coisas está dentro da gente.

Não dá para explicar direito o porquê de termos nossas atenções voltadas para certas pessoas, determinados momentos, como se nossos olhos fossem mecanicamente atraídos para aquilo que nos encanta. Não há, porém, nada de mecânico naquilo que enxergamos como belo, posto que se carrega de sentidos, de essência, de olhares de nossa alma.

A capacidade de se encantar, de olhar a tudo e a todos com olhos do bem, com o filtro da leveza e da compaixão, é um dos maiores presentes que podemos nos dar. E depende somente de nós encontrar o que é positivo, o que é belo, o que perfuma, mesmo em meio a dias traiçoeiros, ainda que a vida estiver teimando em dizer não. Enxergar o óbvio, sim, é mecânico e acaba por robotizar os nossos sentidos.

São tantos afazeres repetitivos e isentos de emoção pontuando nossa jornada; são tantas pessoas insípidas e ásperas atravancando os nossos passos, que, não raro, sentimo-nos propensos a embarcar nessa toada célere e fria do cotidiano entediante. Ainda mais com as contas se acumulando, as decepções se amontoando, os amores se evaporando, tudo parece tomar os contornos crus e inertes do desencanto.

Nesse contexto, quem muito sorri é tido por bobo, quem ama demais é tido como trouxa, quem é verdadeiro é tido como louco. Ser comedido é a ordem do dia, enquanto que o muito, o demais, soa a espetáculo, a insensatez, a desequilíbrio. A frieza e ponderação extremadas, o desapego total e o descomprometimento com o outro acabam por ultrapassar os limites da convivência minimamente harmônica, abrindo as portas ao egoísmo e ao pessimismo frente a quem ousa ter esperança.

Que não percamos nossa capacidade de nos encantar, de sentir prazer com o que estiver ali à frente, com o que temos junto a nós, com a vida enfim. O nosso olhar, a maneira como encaramos a vida é que determinará o tanto de felicidade que encherá os nossos corações. Em tudo o que acontece há lições, oportunidades e crescimento. Todas as pessoas possuem algo especial, mesmo que sejam exemplos de como não devemos ser.

Porque algumas pessoas apreciam ver o Ipê florido. Outras, simplesmente amaldiçoam as suas flores caídas pelo chão. A beleza das coisas está dentro da gente.

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