Comer é um ato político. Revelamos muito sobre a relação que temos com o mundo, por meio das escolhas que fazemos acerca daquilo que colocamos voluntariamente na boca, ou descartamos, sem muita ou nenhuma reflexão. Comer é uma atitude que se toma para resolver questões relacionadas à fome e à necessidade de nutrir o corpo, também em outros âmbitos, que não apenas o orgânico.
Em nosso caso, particularmente, estamos inseridos em um país que produz uma quantidade de alimentos mais do que suficiente para alimentar toda a sua população. No entanto, o Brasil exibe sua incompetência socioeconômica e cultural, revelada por meio de um vergonhoso dado numérico: há mais de 7 milhões de brasileiros que passam fome.
E é claro que a origem de toda essa miséria é uma economia baseada apenas no lucro e no consumo, que repousa nos braços de uma classe política lamentavelmente corrompida, movida pelo desejo visceral de poder e benefícios econômicos pessoais.
Também é claro que a solução para a fome em nosso país, assim como em todo o resto do mundo, depende da implementação de políticas públicas voltadas para o benefício de todos e não apenas de alguns. Depende da conscientização a respeito da má utilização dos alimentos, desde o manejo nas áreas de produção agropecuária até o lixo riquíssimo que produzimos em nossas próprias casas.
O Brasil desperdiça em torno de 41 mil toneladas de alimentos ao ano. Sim, é um número absurdo! E alarmante, posto que grande parte desses alimentos, caso recebessem um destino diferente, poderia salvar a vida de crianças, jovens, adultos e idosos que vivem em situação de extrema vulnerabilidade social.
Jogar comida boa fora chega a ser um ato criminoso. No entanto, precisamos parar de torcer o nariz apenas e assumir que essa é uma prática muito comum em nossas casas.
E, como todo hábito danoso e negativo, esse só será resolvido a partir de uma tomada de consciência seguida da firme intenção de buscar uma maneira mais ética e humana de agir a respeito.
Iniciativas de pessoas, que resolveram descruzar os braços e agir, podem servir como inspiração. É o caso de Luciana Chinaglia Quintão, fundadora da ONG Banco de alimentos. Essa Organização foi criada com o objetivo de acabar com o desperdício e, por conseguinte, com a fome. Para isso, realiza a chamada colheita urbana, por meio da qual alimentos em perfeito estado que seriam descartados como excedentes, em diversos estabelecimentos comerciais (restaurantes, padarias, sacolões, etc), são coletados e redistribuídos para diversas instituições. Também oferece palestras e oficinas que buscam conscientizar cidadãos e empresas sobre consumo sustentável.
Outro exemplo de atuação social muito bacana é a Gastromotiva, fundada pelo Chef David Hertz, uma instituição que trabalha a Gastronomia como forma de transformação social, e conta com uma rede de chefes de cozinha, empresários e até universidades engajadas com a proposta. Cria e oferece cursos de capacitação para jovens de baixa renda e pessoas em situação de vulnerabilidade social; programas de apoio para microempreendedores e formação de multiplicadores.
Sabe, em meio a esse mar de lama no qual nos vemos, rodeados por acontecimentos tenebrosos que nos roubam o sono e tiram da gente aquela paixão pelo nosso país, é uma injeção de ânimo saber que há gente que rema contra a maré e faz diferente, fazendo diferença na vida de tanta gente. Isso dá uma vontade danada de ir atrás de algum novo propósito, não é mesmo?
Afinal, você tem fome de quê? Estou certa de que não é apenas de coisas que enchem a barriga, sejam elas saudáveis ou gulodices. Porque é esse outro alimento que não se mastiga, mas se saboreia com a alma que é capaz de resgatar a nossa tão maltratada humanidade e nos abrir os olhos para as necessidades de outro alguém, além das nossas próprias.
Foi dia desses. Alguém me vociferou babando, os dentes arreganhados, a pelagem eriçada, o sangue explodindo nos olhos: “quem não quiser se prender a alguém, que fique solteiro”. Era uma dessas pessoas muito certas de que já viram de tudo e que o resto do mundo deve aceitar as suas regras e ponto final. Incapaz de ouvir, recusou-se a poderar o quanto as expressões “prender” e “amar” são antagônicas e inconciliáveis.
Nosso diálogo foi impossível. Virou conversa de surdos que desconhecem as línguas de sinais e nasceram em países diferentes. Fazer o quê? Eu disse que ninguém devia se acorrentar ao ser amado e jogar a chave fora para preservar a relação amorosa. A pessoa concluiu que eu pertenço à categoria dos desprovidos de vergonha na cara, um defensor descarado do “amor livre”.
Pobre alma. Ignora que amor livre é mera redundância, que todo amor é sinônimo de liberdade e que os que tentam prender o outro em sua companhia padecem de um caso de dependência e perversão que nada tem a ver com o sentimento amoroso.
Deixei pra lá. Fosse meu interlocutor uma alma mais fácil, considerava que quem precisa prender alguém a seu lado tem um prisioneiro. Não um amor. Quem ama fica com alguém porque quer, jamais porque foi obrigado a tal.
Meu antagonista que fique com suas certezas. E que Deus proteja os desavisados que ele tentar encarcerar pela vida.
Eu sigo daqui, às voltas com a minha impressão de que amando a gente aprende a cuidar bem do outro como bem cuidamos de nós mesmos. Não a prendê-lo em lugar seguro, ao alcance de nossas vistas e nossas garras. Longe do mundo que a todos cabe e onde todos somos livres para tudo. Até para escolher com quem queremos caminhar por aí.
É difícil não concordar com o escritor português, José Saramago, um dos maiores do seu tempo. O mundo anda capenga, cheio de ódio e dizeres inversos. Queremos o melhor, mas para quem?
Dia desses, revivi a experiência de “Ensaio sobre a Cegueira”, livro no qual Saramago fora agraciado com o Nobel de Literatura. Não pude deixar de ter, novamente, uma espécie de tristeza, de preocupação. Isso porque ainda parecemos caminhar a passos lentos para novas percepções e sentimentos. Sem entrar em assuntos políticos e históricos, mas por que não mudamos? Por que persistimos nessa cegueira social e emocional? A pluralidade do ser humano deveria ser motivo de orgulho e esperança, e não de repulsa e desunião.
O mundo está péssimo para o amor. Falamos muito sobre ele, mas pouco o entendemos. O amor é manipulado quando deveria ser liberto. Perdemos um tempo precioso analisando se é amor de verdade quando alguém vai embora. Classificamos o amor do jeito que melhor nos agrada e isso não configura algo real.
O mundo está péssimo para a empatia. Reclamamos muito dela, mas só a praticamos em momentos cômodos. A empatia é dosada quando deveria ser espontânea. Debatemos durante dias se é gentileza ou interesse por algo ou alguém. Separamos gestos como quem conta trocados para pagar um transporte.
O mundo está péssimo para o sincero. Pedimos muita sinceridade, mas ela é constantemente ignorada. Se não for o que nos cabe, o que nos chama a atenção, mentimos e maltratamos. É completamente diferente de dizer a verdade, porque tornar-se uma pessoa sincera demanda respeito, compaixão. Estamos economizando proximidades, vejam.
Então, como lutar contra esse pessimismo do mundo? Sendo completo. Ou, pelo menos, almejando uma certa plenitude. O problema é não é um processo imediato. Requer a desconstrução de valores reproduzidos ao longo da vida. É necessária a aceitação de quem você é e daquilo que pode vir a ser. Temos tantas ferramentas disponíveis para uma nova onda de atitudes. São músicas, filmes, livros e outras experiências que podem desencadear o melhor de nós.
Queria figurar na galeria dos pessimistas, mas não consigo. Abro mão de sabotar qualquer possibilidade de desamor e compreensão por um mundo mais otimista, sincero, empático e amoroso. E isso é só para começo de conversa.
Faz algum tempo que notícias com chamadas que destacam a descoberta da cura do vitiligo por médicos cubanos tomam de assalto a nossa atenção na internet. Nessas matérias, a eficácia do produto é largamente divulgada, mas nenhuma informação aprofundada ou fontes de confiança são apresentadas.
Pensando nisso, o CONTI outra resolveu ir atrás e investigar para saber um pouco mais sobre o controverso tratamento cubano e sua real eficácia.
ATO I: A DOENÇA
A estética tem grande peso na hora da decisão por tratamentos. Próteses, ajustes, retoques, esticadas. A autoestima ganhou terreno junto com o avanço clínico em relação ao corpo e nas intervenções que nele são feitas constantemente.
Clinicamente, o vitiligo não apresenta nenhum mal à saúde. O problema, ao que parece, está na forma como outras pessoas enxergam a doença, caracterizada por manchas claras em algumas partes do corpo
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FORMAÇÃO
O mecanismo de formação da doença tem diversas teorias, mas nenhuma delas está inteiramente provada até hoje. As mais consistentes, conforme as últimas pesquisas, são as teorias autoimune e genética.
A pessoa com vitiligo sofre um ataque autoimune contra os melanócitos (células que produzem a melanina) e o afetado fica então com manchas em algumas áreas da pele – existem casos extremos, em que quase todo corpo é afetado.
Uma proporção pequena de pacientes ainda pode apresentar problemas com a audição e inflamações nos olhos. Aproximadamente 15% dos pacientes têm ou terão alguma doença da tireóide associada.
De acordo com dados da Organização Mundial de Saúde (OMS) e da Associação Nacional de Vitiligo, cerca de 2% da população mundial tem ou terá a doença.
“A maioria dos pacientes com vitiligo não tem parentes de primeiro ou segundo grau afetados. Somente em 20 a 25% dos pacientes se encontra uma história familiar positiva para vitiligo. Estes casos são de herança genética dominante”, explicou o doutor Roberto Azambuja, ex-presidente da Seção do Distrito Federal da Sociedade Brasileira de Dermatologia e um dos autores do livro Vitiligo: manual explicativo para pacientes e familiares (2013).
“Os demais casos possuem genes predispostos ao desenvolvimento do vitiligo, entretanto inativos. Fatores externos ou internos exclusivos para cada pessoa podem ativar algum desses genes, dando início ao quadro do vitiligo. Entre os fatores desencadeantes são conhecidos, luz solar, queimaduras térmicas, traumatismos da pele, dermatoses inflamatórias e estresse emocional.”
DIAGNÓSTICO
Para um diagnóstico correto é preciso análise clínica, pois é importante observar o aspecto das lesões que possuem formas diversas e bordas bem definidas. Alguns locais muito característicos dessas lesões incluem pálpebras, axilas, comissuras labiais e dobras supra-ungueais (entre a pele e a cutícula).
Como complemento ao exame clínico, utiliza-se uma lâmpada de radiação ultravioleta de 351 nanômetros, conhecida como luz de Wood, que evidencia a ausência de melanócitos.
Raramente é preciso uma biópsia para o diagnóstico.
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FATORES DE RISCO
Para Roberto Azambuja, o fator de risco relevante é a ocorrência de parentes em primeiro ou segundo grau.
O médico aponta para fatores emocionais que podem agravar o vitiligo, como “um período de intenso estresse, por evento de impacto emocional muito forte ou por certos tipos de comportamento, como pessoa cronicamente ansiosa, por depressão, por pensamento preferencialmente negativo”.
Ele deixa claro que não há conclusão sobre a exata influência de nenhum desses elementos e que mais estudos são ainda necessários para melhor o entendimento da doença.
PRECONCEITO
Caio Castro é médico dermatologista da Santa Casa de Curitiba, professor do curso de Medicina da PUCPR e o segundo autor de Vitiligo: manual explicativo para pacientes e familiares, junto com Roberto. Tornou-se referência no assunto quando,durante o curso de Doutorado em Ciências da Saúde da PUCPR, desenvolveu uma pesquisa inédita que revelou um importante gene de predisposição ao vitiligo.
A tese conquistou prêmios importantes, como o Prêmio La Roche-Posay 2011 de “Melhor artigo científico da América Latina” e levou o 1º lugar na categoria Teses e Dissertações da Sociedade Brasileira de Dermatologia. A pesquisa foi também publicada no Journal of Investigative Dermatology, a mais importante publicação do mundo na especialidade.
Uma dos temas com os quais Caio precisa lidar em sua rotina profissional é o preconceito em relação a quem tem vitiligo.
“Não é uma doença contagiosa e meus pacientes relatam o absurdo de não quererem apertar a mão ou ter contato físico com eles”, revelou. “Leigamente falando os pacientes estão sem ‘tinta’ (melanina) na pele, somente isso, sem nenhum risco para as outras pessoas, mas causa um desgaste emocional muito grande e compreensível nos afetados”, disse.
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TRATAMENTOS
Embora existam diversas pesquisas relacionadas ao tratamento do vitiligo, não existe medicamento específico nem cura para o mesmo.
Os tratamentos disponíveis atualmente visam o bloqueio da comunicação celular autoimune e o estímulo à produção de melanina e sua distribuição pelas células da epiderme.
Os medicamentos utilizados visam corrigir o que foi gerado por uma reação partida de genes e levadas às células pigmentares por transmissão celular, não para uma cura.
“O vitiligo é uma doença órfã e não existe nenhum medicamento aprovado pela FDA (Food and Drug Administration) para ajudar na repigmentação”, esclareceu Castro. “O tratamento indicado e aprovado é com as diversas modalidades de fototerapia.”
OFF LABEL
Os remédios usados no tratamento são normalmente desenvolvidos e empregados para outras doenças. A esse tipo de uso que não consta na bula dá-se o nome off label.
“O corticóide oral e tópico é utilizado off label para tratamento do vitiligo que está em progressão. Outra medicação tópica off label utilizada é dos inibidores de calcineurina , no qual existem diversos estudos pequenos mostrando sua efetividade”, exemplificou Caio Castro.
Foi o tipo de tratamento usado em uma paciente americana de 53 anos por cientistas da Universidade de Yale, nos Estados Unidos, em 2015. Os resultados repercutiram bem no meio científico.
O medicamento em questão foi o tofacitinibe, empregado contra artrite reumatóide, mas nada foi garantido e mais pesquisas continuam a ser feitas.
ATO II: O TRATAMENTO CUBANO
O produto que até hoje causa rebuliço na internet atende pelo nome de Melagenina Plus e é derivado da placenta humana. É fabricado e vendido pelo Centro de Histoterapia Placentária (CHP), em Havana, Cuba. A instituição tem quase 30 anos de história e pertence ao Grupo Empresarial BioCubaFarma.
“Recebemos pacientes de mais de 80 países em nosso Centro. Recebemos gente dos5 continentes,mas com certeza México, Venezuela, EEUU e Colômbia ocupam os primeiros lugares entre os visitantesem buscapelos produtos derivados da placenta”, respondeu orgulhoso por email o doutor Ernesto Miyares, atual diretor do CHP.
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AFINAL, O QUE É A MELAGENINA PLUS?
“O extrato hidroalcoólico de placenta humana, Melagenina Plus, foi desenvolvido pelo ginecologista e farmacologista cubano Carlos MiyaresCao a partir de 1972 e passou a ser aplicado no tratamento do vitiligo em 1978. No Brasil foi vendido, em algumas farmácias, importado pelo escritório da Cubanacan, de 1990 até 2009. De lá para cá, não é mais vendido por razão não divulgada”, detalhou o médico Roberto Azambuja.
PROIBIÇÃO NO BRASIL
Em decreto publicado no Diário do União, em 2009, a ANVISA (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) proibiu a comercialização da Melagenina Plus em território brasileiro.
Procurada pela reportagem, a ANVISA informou que “o referido produto teve sua renovação de registro indeferida em 2009, devido ao não atendimento de requisitos regulatórios” e que “o produto não se encontra em situação regular e não pode ser comercializado no país”. No entanto, não especificou quais foram os critérios que levaram à proibição da comercialização por aqui.
O caso da proibição da venda de Melagenina Plus no Brasil parece ser um mistério até mesmo para Ernesto Miyares.
“A Melagenina e outros produtos eram comercializados em São Paulo, em uma clínica cubana que atendia pacientes e tinha autorização para vender os produtos cubanos. Recebemos a inspeção da ANVISA em nossa sede cubana. Não existia proibição de nenhum tipo”, contou.
QUAL A REAL EFICÀCIA DA MELAGENINA PLUS?
Ernesto defende a eficácia de 86%, em ensaios clínicos realizados por ele e sua equipe. Na opinião de Azambuja, que fez treinamento em Havana,no CHP em 1989 e trabalhou com Melagenina Plus durante 20 anos, enquanto esteve disponível no Brasil, o número apresentado por Miyares é um pouco exagerado.
“É um excelente tratamento, com efetivo potencial de repigmentação (restauração da cor natural da pele), sem efeito colateral. Não há garantia de que vai curar o vitiligo nem a percentagem de ação positiva se aproxima do que é a divulgada pelos cubanos”, comentou. “Entretanto, se funcionar bem, é o tratamento que dá o melhor resultado estético de todos os disponíveis, fazendo com que a pele readquira seu aspecto natural, sem resquício de manchas. É seguro para uso em crianças e em grávidas.”
RESULTADOS VARIÁVEIS
Roberto frisa que o tratamento com Melagenina Plus não é reconhecido fora de Cuba e que em nenhum país houve uma pesquisa séria e extensa sobre seus resultados.
“Os dermatologistas o condenavam dizendo que não tinha comprovação científica, o que é inverdade. O produto foi desenvolvido segundo os protocolos científicos”, defendeu.
“Por outro lado, todos os dermatologistas prescrevem cegamente as substâncias tacrolimo e pimecrolimo como se fossem a cura do vitiligo, embora o único emprego que elas têm, conforme o FDA, é no tratamento de dermatite atópica. Seu uso é baseado em poucos estudos com poucos pacientes e por pouco tempo, os quais indicariam que têm ação equivalente à dos corticoides, a qual atingiria 48% de repigmentação, sendo que efetivamente ela não é observada”, ponderou, antes de finalizar:
“Diante desses dois fatos, ouso dizer que a Melagenina Plus foi vítima de preconceito e, no caso do tacrolimo e do pimecrolimo, há fé cega. Em ambos os casos são atitudes não científicas […] É preciso entender que o extrato de placenta humana é mais um tratamento para vitiligo, não é a cura nem é superior aos outros, porque o que determina o efeito do tratamento é a reação do organismo de quem está sendo tratado. Afirmo, com minha experiência, que é um tratamento válido, sem nenhum risco e que dá a melhor repigmentação de quantos tratamentos existem.”
COMÉRCIO VIA IMPORTAÇÃO
Não existe nenhuma proibição para a aquisição de Melagenina Plus via importação e algumas agências de viagens ainda oferecem o pacote de tratamento na Clínica de Histoterapia Placentária.
O medicamento carro-chefe do CHP tem comercialização livres em países como Índia, México, Rússia, Ucrânia, Nicarágua, Salvador, Colômbia e Peru.
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ATO III: A EXPERIÊNCIA DE QUEM FEZ O TRATAMENTO
Clarisse desenvolveu o quadro quando tinha 14 anos, em uma fase que ela descreve como cheia de inseguranças e complexos, fruto de uma profunda depressão que teve na mesma época.
“Foi duro, principalmente porque eu era uma adolescente frágil e despreparada, como todo adolescente…Inicialmente não percebi que havia aparecido; foi uma amiga médica da minha mãe que observou que poderia ser vitiligo. Depois disso parece que a mancha tomou uma dimensão desproporcional, e só enxergava isso. Começou nas orelhas, topo da cabeça, queixo e pescoço frontal”, descreveu.
“Foi um drama. Inicialmente disfarçava com maquiagem, mas depois de anos usando, minha pele criou uma rejeição alérgica, e com o tempo acabei aceitando.”
Mas, antes da aceitação, Clarisse tentou outros tratamentos como radiações combinadas com remédios de uso interno.
“Como o tratamento convencional de radiação fez efeito logo nos primeiros momentos, restando apenas a mancha do pescoço que trago até hoje, fiquei durante anos batendo na tecla da radiação, mas de forma estacionária. Chegou um ponto que dado o custo-benefício, tais como: deslocamento, custo do tratamento, e principalmente: risco – pois essas radiações provocam queimaduras, e os medicamentos, aliados à exposição das lâmpadas, poderia acarretar um câncer, tanto é que à época tinha que assinar um termo de consentimento –, resolvi parar o tratamento, e, aceitar, por total falta de opção”, relembrou.
IDA A CUBA
Clarisse foiuma das pessoas que viu no tratamento cubano uma chance de se livrar dos sinais indesejáveis do vitiligo.Faz 17 anos que ela foi para Havana, em busca da possível cura.
Através de uma agente de turismo, comprou um pacote para o tratamento, que incluía vôo, traslados, hospedagem e o próprio tratamento. Mesmo não sabendo precisar o valor, conta que, na época em que viajou, todo o pacote saía mais barato que uma viagem ao Nordeste, por exemplo.
“No dia da consulta, fomos num traslado cheio de estrangeiros latinos para se tratar (muitos argentinos), e muitos relataram melhoras e ótimos resultados (os que voltavam).Fiquei bem impressionada, era uma clínica muito boa e organizada, fui atendida no horário que me haviam agendado, por um médico que me pareceu muito competente e experiente, e que de todos os que estive, foi aquele que fez o exame mais minucioso. Minha acompanhante (sua avó) entrou comigo na consulta . Ao final eles receitam o Melagenina Plus, vendido na clínica, e deixam você levar a quantidade que você quiser. Lembro que levei uns 10, que os dois últimos acabei até dando, pois fui parando de usar, já que não teve resultado comigo (usou por aproximadamente 3 anos)”.
Mesmo que o remédio não tenha surtido efeito, Clarisse diz que a viagem valeu a pena e que a recomenda.
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POR FIM, ACEITAÇÃO
Clarisse tentou aromaterapia por algum tempo, mas igualmente sem efeitos visíveis.
Sobre os motivos que a levaram a procurar por diversas formas de tratamento, a jornalista é firme:
“Não tenho dúvida de que foi o preconceito que me fez buscar uma cura para me livrar da mancha, e me fez, inclusive, não gostar de mim e não me aceitar por um bom tempo.”
Depois de muitas tentativasde se livrar da mancha que possui no pescoço, aprendeu a olhar para si mesma de forma diferente.
“Confesso que sinceramente não me incomoda mais, e após muitas terapias, conquistei esse salto quântico de não me importar com o olhar e a opinião dos outros. Isso te traz uma grande liberdade”, avaliou.“Essa é uma conquista que a maturidade me trouxe, que me faz sentir em não querer trocar de jeito nenhum meus quarenta anos pelos vinte e poucos. Hoje em dia assumi a mancha como inerente à minha pessoa. É algo que me torna diferente.”
Além de não mais se sentir incomodada, Clarisse demonstra certo orgulho ao contar que sua filha diz poeticamente que a mãe tem uma nuvem no pescoço.
“Apesar de haver superado a depressão, parece que a mancha sobreviveu só para me lembrar de não esquecer de ser feliz.”
ATO IV: CONCLUSÃO
Como pudemos observar, não existe um consenso entre os profissionais sobre o uso do tratamento cubano e o mesmo não pode ser encarado como fórmula milagrosa para a cura do vitiligo. Enquanto isso, o órgão regulador (ANVISA) parece não ver problemas em nos deixar no escuro em relação aos motivos da proibição do mesmo.
É desse jeito que várias teorias conspiratórias vão se criando. Desde uma que envolve um grande complô da indústria farmacêutica, até outra sobre suposta propaganda da esquerda para enaltecer Cuba –que não leva em consideração o fato de que, à época da proibição, Luís Inácio Lula da Silva era Presidente da República e Dilma Rousseff atuava como Ministra de Estado e Chefe da Casa Civil.
É o mínimo, sabe? Porque apesar de todas as partidas, é importante não pensar que foi tudo em vão. Assim como cada relacionamento que tive deixou algo de bom em mim, espero ter deixado também.
A primeira coisa que fazemos, após o fim de uma relação, é culpabilizar algum lado. Parece que torna a dor do adeus mais verdadeira. E assim, podemos enfim, seguir nossas vidas, muitas vezes, como se nada tivesse acontecido. Descartamos momentos unicamente para nos sentirmos melhores. E isso não chega a ser um julgamento de valor, claro que não. Amores possuem o seu próprio ritmo, a sua específica música tema.
Mas, quando você para e faz um levantamento de cada amor que teve, o que ficou? E o mais importante, o que você deixou? Relacionamentos são trocas que nos definem. Em todos os instantes vividos com alguém, sentimentos foram doados, mas também ensinados. Perceber a essência dessas experiências não é prêmio de consolação. Aceitar que, um dia, vocês deram certo e viveram sinceras emoções, é muito mais do que outras pessoas puderam ter orgulho de abraçar.
Ninguém é perfeito e tampouco completo ao ponto de ignorar quem já esteve por perto. Quando assumimos um relacionamento, estamos abrindo a porta para acompanhar e enxergar lados bons e não tão bons daquela pessoa. É uma escolha ficar, é uma escolha partir. Independente disso, depois que alguém entra, algo sempre fica. E algo sempre vai.
Pode ser que nada disso tenha o devido reconhecimento, assim, logo de cara. Para algumas pessoas, o tempo é simplesmente esquecido e elas nem se dão conta de que algo mudou. Também não é motivo para um tribunal amoroso. Certas vivências, levam tempo mesmo. Perspectiva é uma escolha, amadurecimento é uma escolha.
No fundo, apenas agradeço. Os relacionamentos que tive não foram colocados em uma tabela do melhor para o pior. Todos eles tiveram os seus ímpares nos meus pares. Fui feliz. Aprendi e guardei os recibos dos sorrisos de todos, sem distinção.
Espero ter deixado algo de bom em relacionamentos passados. Aqui, incontáveis coisas boas ainda repousam. Gratidão por tudo.
Quanto mais espaços vazios houver, mais coisas inúteis a gente vai juntar! Isso vale tanto para casas, quanto para quartos, mentes e corações.
Basta parar um instante e trazer à lembrança exemplos de casas que têm “aquele quartinho que não é de ninguém”. Espere alguns dias, e poderá observar que o lugar começará rapidamente a ganhar ares de acumulação.
Vem um e larga lá aquele casaco de neve, que ninguém vai usar tão cedo, porque aqui não neva. E, para falar a verdade, viajar para lugares nevados anda meio fora das possibilidades orçamentárias. Vem outro e deposita num cantinho, um violão ou um teclado que comprou por impulso, acreditando que arranjaria tempo para aprender a tocar um instrumento. Vem mais um outro e abandona em outro lugarzinho aquela coleção de revistas, ou figurinhas, ou canecas, ou sabe-se lá que outro tipo de cacarecos que, em algum momento da vida fazia todo sentido. Mas agora não faz mais.
Mais algumas semanas e o lugar terá se transformado num depósito de coisas aleatórias e esquecidas. Mais alguns meses e a imagem será a de um caos, digno daqueles programas de TV a cabo, que mostram o triste destino de pessoas que não conseguem se desapegar de nenhum objeto que comprou, ganhou ou adquiriu sei lá de que jeito.
Pois com a vida em si, não é nada diferente. Mentes vazias são lugares absolutamente tentadores para ideias inúteis. Elas vão chegando de mansinho, ficam ali bem quietinhas num cantinho; com o tempo, penduram uma rede nas paredes da memória e vão se acomodando.
E, de repente, aproveitando-se de nossa distração, fazem morada dentro da gente, com direito a capacho na porta e tranca pelo lado de dentro. Instalam-se.
Tomam conta. Vão ocupando nossa cabecinha oca com pensamentos paralisantes e parasitas, que se alimentam vigorosamente de nossa criatividade, perseverança, esperança e amor próprio.
E, depois dessa apropriação indébita meu amigo, haja força de vontade e coragem para mover uma eficiente e definitiva ação de despejo.
E se mentes vazias são um perigo… Corações vazios são muito mais! Corações vazios são uma espécie de Resort com sistema “all Inclusive” para sentimentos corrosivos como a mágoa, a inveja, o ciúme e a ambição sem medida. Para cada uma dessas pragas emocionais são estendidos tapetes vermelhos, oferecidos drinks exóticos de boas-vindas e preparadas camas irresistíveis onde cada uma delas deita, rola e fica.
A vida é um eterno quarto de bagunças. Sempre haverá algo que a gente guarda, quando já deveria ter jogado fora. E é por isso que, vez em quando, não custa nada fazer uma visitinha àqueles cômodos mal iluminados e sombrios. Abrir janelas e cortinas. Deixar que o cheiro de coisa guardada seja levado com o vento. E permitir que novos ares sejam bem-vindos. Porque tudo aquilo que deixarmos ficar, nos definirá diante de nós mesmos e dos outros. E uma vida pendurada de sentimentos gastos e cobertos de poeira velha é uma vida pequena demais.
Imagem de capa meramente ilustrativa: “Os delírios de consumo de Becky Bloom”
Esse texto é uma catarse pessoal, um questionamento de quem vive a tal meia idade e ainda se contorce em dúvidas de principiante.
Essa exigência da dobradinha experiência e sapiência é um fardo pesado de ser arrastado. Na verdade, mesmo com uma lista recheada de vivências, creio que intuímos muito mais do que recorremos aos arquivos passados. A vida é dinâmica demais para usarmos sempre as mesmas fórmulas. E, o que eu era antes, já não sou mais hoje.
A vida sempre foi ensaio e erro. O que funcionou para um, pode ter sido um desastre para outro. O conselho dado valeu sempre mais pela boa vontade e acolhida, do que pela eficácia no resultado.
Meia idade é um bom tempo, mas não é passaporte carimbado para certezas e convicções imutáveis. Tenho dúvidas todos os dias. Mudo de ideia muitas vezes. Meu prato preferido muda o tempo todo.
Quando a gente cria filhos, aprende a dar respostas. Mas dúvida também é resposta, e nunca me obriguei a responder com certeza, o que ainda me era dúvida. E, surpresa! Muitas respostas chegam quando se compartilha uma dúvida!
Nasci na época do telefone com fio e disco, da TV de válvula, do toca discos com agulha.
Se tivesse a certeza de toda a evolução que presenciaria, talvez não tivesse tanta curiosidade e tanta sede de viver para ver o futuro. E, naquela época, só tinha a certeza de que os desenhos futuristas que assistia na TV de válvula, eram somente o fruto da imaginação de alguém. E hoje somos todos Jetsons.
Portanto, fica agora a conclusão de que, aos 50 anos – a dita meia idade – não sou obrigada a ter certeza de nada, embora guarde algumas com muito carinho. Estou na vida para fazer perguntas e interpretar as respostas que chegam, ainda que temporárias.
Certeza mesmo, só de que tenho muitas dúvidas sobre o final, e se ele existe mesmo.
Com o tempo, você se torna aquela pessoa que está sempre perguntando se tem algum lugar pra sentar. Com o passar dos anos, o melhor da festa passa a ser o after. Quando você vai comer em alguma lanchonete, ou chega em casa, toma um banho e se deita. Você passa a preferir café com biscoitos de padaria a Ruflles com refrigerante. Aquele chá já parece não ser tão ruim assim. Você deixa de se envolver em brigas infantis e para de usar o tempo que passa com uma pessoa como medidor de tamanho de amizade. Você começa a pagar contas, a resolver problemas em bancos, a preencher formulários vários, a fazer o pedido nos restaurantes da vida e a não se dar ao luxo de sair de casa sem carteira e documentos.
Paramos de fazer isso ou aquilo, deixamos de lado costumes, verdades e vários “para sempre” e “nunca” e, de repente, vemo-nos com uma lista de novos afazeres, uma nova rotina. Uma “rotina adulta”.
Vem a vida adulta e nos vemos “independentes”.
Ora, não temos mais dúvidas sobre o sabor do sorvete, mas a indecisão continua nos engolindo, por dentro, quando o assunto é nos demitir ou não daquele emprego que nos cansa.
Deixamos de fazer birra para ficar com os dois brinquedos (o nosso e o do colega), mas também não conseguimos abrir mão de um sonho para correr atrás de outro.
Não choramos mais escandalosamente por causa do “não” de nossos pais, porém, deixamos escaparem algumas lágrimas no travesseiro, por conta de uma rejeição por parte de alguém que amamos.
Não nos permitimos mais correr para os braços de nossa mãe quando o tiro sai pela culatra, todavia, estamos sempre à procura de alguém para nos consolar.
Deixamos de temer os monstros que vivem debaixo de nossas camas, entretanto, passamos a morrer de medo dos que vivem dentro de nós.
“Vou dizer uma coisa importante para você. Os adultos também não se parecem com adultos por dentro. Por fora, são grandes, desatenciosos e sempre sabem o que estão fazendo. Por dentro, eles se parecem com o que sempre foram. […] A verdade é que não existem adultos. Nenhum, no mundo inteirinho.”, diz uma personagem de “O oceano no fim do caminho”, livro de Neil Gaiman.
O fato é que, até certo ponto estamos, todos perdidos, desorientados, exatamente como crianças.
Muda a rotina, mudam os costumes, mudam as pessoas ao nosso redor, mas nossos medos, dúvidas, inseguranças, continuam lá. A diferença é que eles vão se repaginando ao longo dos anos.
Recorro, enfim, a David Gilmor e a Roger Waters, em um trecho de “Wish You Were Here”, para me explicar: No final das contas, somos todos almas perdidas nadando em aquários, ano após ano, correndo sobre o mesmo velho chão. E o que sempre encontramos? Nossos mesmos velhos medos.
O que nos resta é aceitar o desafio de continuar a enfrentar esses mesmos velhos medos. Talvez sejam eles que deem sentido à nossa caminhada aqui na Terra, não é?
Honramos a nossa condição de mulher dia após dia, todos os dias.
Quando vencemos preconceitos e assumimos a nossa verdade, sem considerar a opinião alheia.
Quando fizemos as pazes com a nossa gordura, a nossa magreza, a nossa altura ou o tipo do nosso cabelo. Quando realizamos os procedimentos estéticos que entendemos importantes para o nosso bem estar, ou quando preferimos nos manter “ao natural”, por assim nos sentirmos melhor.
Quando nos impomos, de igual para igual, com qualquer homem, em qualquer situação, não permitindo discriminações ou abusos. Quando admitimos nossas fraquezas e nossas carências.
Quando procuramos ajuda para algo que não damos mais conta sozinhas. Quando saímos de cara lavada e de chinelo de dedos, e ficarmos bem à vontade dessa forma, ou quando dedicamos tempo a nos arrumar e nos enfeitar, enaltecendo a nossa beleza.
Quando nos damos um tempo, apenas para nada fazer. Quando aceitamos os ciclos do nosso corpo, e nos harmonizamos com as revoluções hormonais que eles ocasionam.
Quando resgatamos a nossa dignidade, dando um basta a situações que não nos fazem bem. Quando alimentamos a nossa autoestima, dando-nos o devido valor independentemente dos outros o darem também.
Quando sentimos nosso instinto materno e damos vazão à maravilha da natureza que é gerar um ser, ou quando reconhecemos e defendemos nosso direito de não querer ter filhos, sem se importar com o julgamento alheio.
Quando nos dedicamos a nos autoconhecer e a identificar os anseios mais sinceros da nossa alma. Quando investimos no nosso aprimoramento, nos colocando como prioridade na nossa lista de tarefas.
Quando mandamos nossa mente tagarela “calar a boca” e paramos para ouvir nosso coração. Quando conversamos com a nossa criança interior, nos permitindo voltar a ser inocentes e brincar diante da vida.
Quando nos autorizamos extravasar, dançar, cantar, pular ou gritar, dando vazão às nossas emoções. Quando nos permitimos errar, cair e levantar, reconhecendo que somos humanas e, por isso, falíveis.
Quando perdoamos o nosso passado, libertando os outros e a nós mesmas por tudo de negativo que possa ter ocorrido. Quando nos reconhecemos como primeiras e principais responsáveis pela nossa felicidade, arregaçando as mangas e indo efetivamente atrás do que almejamos.
Quando nos permitimos ser delicadas e fortes, tolerantes e incisivas, solidárias e egoístas, cautelosas e corajosas, interessadas e indiferentes, conforme as circunstâncias das vida nos exigem.
Quando vemos as outras mulheres como companheiras e não como rivais, enaltecendo de modo coletivo o sagrado feminino. Quando buscamos, a cada dia, lembrar do sagrado que nos habita, despertando nossa consciência divina e que reconhecendo que fazemos parte de algo muito maior, independente de gênero
Brindemos, então, mulheres, a todo momento, o nosso corpo, as nossas emoções, a nossa vida e a nossa conexão!
A vida não é um comercial da margarina. O correr dela envolve aprendizagem nos piores momentos, alegrias depois de muito esforço e cura depois de muitas feridas.
E, para piorar, bate no estilo que Rocky Balboa definiu: “ninguém vai bater mais forte do que a vida.
não importa como você vai bater e sim o quanto aguenta apanhar e continuar lutando; o quanto pode suportar e seguir em frente. É assim que se ganha”.
Há muitas teorias sobre felicidade e sobre como alcançá-la, inclusive a de que você tem que correr atrás para merecê-la. Quanta bobagem! Primeiro porque felicidade não é um objetivo a ser alcançado, segundo porque você não é um maratonista da São Silvestre. Que fique claro: felicidade é um estado de espírito e não um objetivo de vida.
É bom estarmos felizes mas, nesse estágio, não há nenhum tipo de aprendizagem. Para que possamos evoluir como seres humanos, muitas vezes, a felicidade vem embalada em um papel de sofrimento. Entenda que não há felicidade sem dor e não há dor sem aprendizagem. Ninguém aprende sobre economia, se nunca precisou economizar. Ninguém aprende sobre morte, se nunca enfrentou um luto. Ninguém adquire inteligência emocional, se nunca foi rejeitado.
Estar no processo de aprendizagem, mesmo que diante de um sofrimento, é enriquecedor. Aprendemos a repartir, a ser solidários, a sermos compreensíveis. O que, aliás, não aconteceria se a vida fosse só risos. A verdade a gente precisa mesmo de uns tapas na cara para enxergar a realidade tal qual ela é e para aprender a valorizar o que, realmente, importa.
Note que as pessoas mais incríveis do mundo são dotadas de sabedoria, de inteligência e discrição e adquiriram essas qualidades depois de muitas lágrimas. As músicas mais belas foram criadas em um momento de melancolia e os poemas mais profundos em um momento de saudade. Então, meu caro, sinta-se privilegiado em sofrer.
Vinícius só soube falar de solidão, depois de passar por nove grandes amores e definia a alegria como, quase, inatingível (tão romântico, quanto exagerado). “É curioso, a alegria não é um sentimento nem uma atmosfera de vida nada criadora. Eu só sei criar na dor e na tristeza, mesmo que as coisas que resultem sejam alegres. Não me considero uma pessoa negativa, quer dizer, eu não deprimo o ser humano. É por isso que acho que estou vivendo num movimento de equilíbrio infecundo do qual estou tentando me libertar. O paradigma máximo para mim seria: a calma no seio da paixão. Mas realmente não sei se é um ideal humanamente atingível.”
Beethoven redigiu a Nona Sinfonia em momentos de profunda tristeza e Fernando Pessoa escreveu a maioria de seus textos quando se sentia entediado (isso explica, talvez, tantos heterônimos). Agora seja sincero, o que leva você a pensar que a vida seria diferente com você?
Pode parecer estranho, mas tão importante quanto o amor, é o sofrer. Se sem o amor a vida é triste, sem o sofrimento não há evolução intelectual e emocional. Proust afirmava que “Só nos curamos de um sofrimento depois de o haver suportado até ao fim”. Sofrimento é passageiro, mas o ensinamento adquirido com ele, eterno. É preciso ver além do muro e acreditar que dias melhoras virão.
Ninguém sofre para sempre, nem chora o tempo todo. Sempre haverá outros amores, outros motivos, outras alegrias. Encarar um sofrimento como um desafio é ser merecedor da felicidade que virá depois dele.
Aprenda a superar os desafios impostos pela vida. Chore, grite, sofra, mas supere. Porque sofrer é teu direito, mas superar é sua obrigação.
Não podemos é priorizar tão somente nossa capacidade de compra como um referencial exclusivo do quanto somos felizes e realizados. Não podemos é focar nas aparências os nossos propósitos de vida, tampouco julgar o outro a partir de sua conta bancária.
Já se tornou lugar-comum dizer que o “ter”, hoje, passa por cima do “ser”, atropelando-o e se sobrepondo como condição insubstituível para se destacar no mundo. Já nos cansamos de ler e de ouvir reflexões que nos alertam para a necessidade de cuidarmos de nossa essência humana, ou o que tivermos lá fora de nós de nada adiantará durante as tormentas que virão. Mesmo assim, nada parece mudar, haja vista a supervalorização do consumismo cada vez mais intenso.
Todos gostamos de comprar e de adquirir bens, de comer bem, não há mal nisso. Não podemos é priorizar tão somente nossa capacidade de compra como um referencial exclusivo do quanto somos felizes e realizados. Não podemos é focar nas aparências os nossos propósitos de vida, tampouco julgar o outro a partir de sua conta bancária. É lógico que conforto material é bom, mas devemos ter a clareza de que o sossego da alma independe da quantidade de dinheiro que temos guardado.
Da mesma forma, muitos de nós confundimos sucesso com supersalário e status, como se as pessoas só conseguissem se realizar na vida, caso elas ganhassem salários altos em profissões valorizadas pela sociedade. Na verdade, é perfeitamente possível alguém ser feliz e realizado longe dos holofotes sociais, fazendo algo de que goste muito, mesmo que ganhe pouco dinheiro com isso. Realização pessoal é algo íntimo e se refere a sentimentos.
Tal fato se constata ao vermos quantos pais se intrometem nas escolhas profissionais dos filhos, muitas vezes distanciando-os do que eles realmente gostariam de fazer, para que possam corresponder aos sonhos de todo mundo, menos ao deles próprios. Eu mesmo conheci, dia desses, aqui na minha cidade, um homem que passa a semana na borracharia do pai, onde se realiza, e , aos finais de semana, faz plantões nos hospitais, utilizando o diploma de médico que o pai fez questão de que ele tivesse.
Quantos casos vemos de pais de família que se suicidam e até matam os familiares, após perderem tudo o que tinham? Passaram a vida se apegando somente ao material, ou seja, quando não há mais bens, a eles nada mais parece restar na vida. Esqueceram-se de cultivar também a fé, o espiritual, o amor enfim, tudo o que sempre ficará, mesmo que se percam emprego, casa, carro, bens materiais.
Porque, caso mantenhamos bem nutridos os espaços afetivos dentro de nós, com certeza conseguiremos atravessar os vendavais dessa vida, reerguendo-nos e continuando, junto a quem caminha ao nosso lado com verdade e amor sincero.
É ilusão dizer que dá pra ser inteiro sem um carinho. Que dá pra ser tudo sozinho. É ilusão fingir que não se quer um amor.
Não há no mundo quem não atenda a porta quando o amor toca. Não há no mundo quem recuse a felicidade por capricho, por achar que ser feliz é coisa torta e louca.
Amor é sobremesa proibida na dieta. É caloria extra, é perdição e benquerer. Amor é luz na escuridão. É um beijo de língua no coração. É poesia pra sentir e viver.
Todo mundo gosta de carinho e há de encontrar no mundo seu próprio caminho. E que esse caminho guarde um, dois ou mais amores daqueles bem quentinhos, que fazem a gente querer deixar de lado o micro, o smart e a tv.
Então não esquece, arruma o seu cantinho. Olha pro mundo e pra dentro, e coloca cada coisa em seu lugar, bem devagarinho. Não se deixe enganar pelo que parece bonito. Amor bom é aquele que vem e muda tudo com jeitinho.
Deixa o amor entrar, mas não pare de viver pra procurar. O que é seu a vida se encarrega de trazer e mostrar. Luta por todos seus sonhos, caminha por todos seus desertos, chora suas lágrimas e bebe sua ânsia.
Comece e recomece. Seja a mulher ou o homem da sua vida. Acerte as contas contigo. Seja seu melhor amigo. Aprenda a amar, aprenda a aceitar, aprenda a dançar conforme sua própria música.
Continue em frente. Não se contente com o que te parece raso. Perfuma sua vida com um chanel nº 5. Torna ela chamariz de abelha silvestre. Deixa que o mundo faça mel da sua presença.
Tenha paciência. Seja grato ao mundo por tudo e depois de tudo, quando olhar para trás. Quando puder se abraçar gostoso e notar que você viveu de um jeito sincero e prazeroso, você pode e deve olhar pra vida e dizer pro amor: agora só falta você.
Viver na dúvida, entregue às fantasias e interpretações de sinais imperceptíveis e questionáveis. É o que fazemos na maioria das vezes, temendo que a realidade nos decepcione e destrua os sonhos caprichosamente alimentados.
Preferimos montar o cenário e inserir o amor lá dentro, ainda que por vezes não combine com a proposta. Preferimos decorar a realidade a encará-la sem pintura.
Bem me quer, mal me quer. Não me interessa saber a categoria do querer, se construí um castelo indestrutível para o amor que tanto sonhei. E, se for preciso, manipularei as pétalas para que me mostrem o resultado que espero.
Uma pena que a vida não funcione desta maneira. As pétalas frágeis podem ser arrancadas e escondidas, mas ainda mais frágeis e sem estrutura, são as ilusões.
Elas fazem o papel de analgésico muitas vezes, por não suportarmos a dor da indiferença ou do desamor, mas não conseguem nos sustentar por muito tempo.
É preciso deixar as ilusões partirem, levando as portas, janelas e jardins do castelo construído, deixando tudo descoberto e à vista, para entender por onde começa a reconstrução.
Querer não é poder. Querer é só metade da força para uma construção. Tem um outro lado que também precisa querer e oferecer seus esforços para coisa funcionar.
Se nos deparamos com o “não me quer”, por mais que doa e decepcione, não haverá ilusão ou sonho ou vontade que transforme o terreno baldio em um lugar bom para se viver.
Sonhar é gostoso. Conforta, dá esperanças, boas ideias, sugere o futuro. Mas sonhar por dois, depositar esperanças, tempo e vontade em um projeto solitário, é doloroso e decepcionante.
Nesse caso, ao invés de consultar as pétalas, melhor é deixar as flores vivas e inteiras, e aprender a lidar com o “não me quer” sem transformá-lo em “mal me quer”.
Você pode até se apaixonar por alguém do dia para noite, mas amar alguém é algo que se constrói. Vamos amando aos poucos o jeito como o outro se ajeita no sofá para ver aquele filme, o cafuné que faz em nós com tanto amor, a sua paixão por comida e o jeito que leva e vê a vida.
É aos poucos que aprendemos a amar e a tolerar aqueles defeitinhos chatos que nos irritam e, ao mesmo tempo, fazem com que a gente veja que podemos amar aquilo achávamos não ser possível. Que podemos rir daquilo que aparentemente nos irrita.
Aos poucos, vamos amando o jeito que aquele alguém mexe no cabelo e quando nos pede para ficar mais um pouco. Mas, assim como o amor se constrói aos poucos, ele não acaba do dia para a noite.
O amor vai morrendo quando, ao invés de interromper uma briga com um beijo, o outro diz palavras que prolongam ainda mais uma discussão qualquer. O amor morre aos poucos, quando o orgulho domina mais que o perdão. Quando as desculpas ficam apenas para os corretos e sempre existe um culpado.
O amor morre aos poucos, quando um insiste em fazer dar certo e o outro persiste em dar errado. E, assim, com a indiferença, os gestos que machucam e as palavras que ferem, o amor vai perdendo a capacidade de lutar, vai deixando de ser amor e vai virando dor. Aquela dor que machuca e nos faz sofrer.
É quando a saudade vira apenas lembranças e deixa de ser reencontro. Quando os erros do outro viram motivos para termos razão. O amor morre aos poucos, quando o outro não valoriza, não elogia, não se importa e, principalmente, quando deixamos de ser nós mesmos e nos escondemos em um riso disfarçado de “tudo bem”, quando, na verdade, está tudo de mal a pior.
O amor morre aos poucos, quando perdemos a parceria de quem amamos, assim como a generosidade e a paciência. Quando o outro desiste, enquanto você luta. E, então, o que era amor vira desamor e vai aos poucos perdendo o seu colorido, vai aos poucos deixando de ser bonito, até que um dia não suportamos mais o pouco que recebemos e o relacionamento chega ao fim, não por falta de amor ou falta de tentar, mas pelo cansaço da insistência, de tanto avisar e o outro ignorar, como quem acha que, uma vez brotado a semente do amor, jamais precisaremos regá-lo novamente.
E então a gente cansa de insistir, de tentar fazer dar certo, cansa da mesmice e da zona de conforto. A gente percebe que aquilo está mais para comodismo do que para amor e, no fundo, a gente deseja ser cuidado e não apenas cuidar; a gente quer abraços, beijos e elogios e, mesmo sabendo que o outro nos ama, queremos ouvir o eu te amo. E, quando tudo isso fica apenas no começo da história, o amor vai deixando de ser amor e vira ferida, vira mágoa e discussão, e o que era para ser paz começa a ser tempestade, daquelas que parecem não passar.
Mas o amor não vira desamor em 24 horas ou em uma briga; o amor vai morrendo aos poucos e, mesmo a gente tentando reacender, só é possível pegar fogo se o outro tentar também, caso contrário, ela – a chama – apaga, assim como o amor também morre.