Tem gente que suga nossas energias

Tem gente que suga nossas energias

Imagem de capa: pathdoc/shutterstock

Quantas vezes não nos sentimos cansados e desanimados, após termos conversado com alguém, como que inexplicavelmente?

É como se aquela pessoa estivesse carregada de peso e fosse sugando as energias de cada pessoa com quem conversa e tornando carregado cada ambiente por onde passa.

Não importa se cremos em um Deus, em vários deuses, no espiritual, no material, ou mesmo em nada, difícil é não perceber que somos circundados por energia, que tudo possui uma energia própria e que isso acaba nos afetando de alguma forma. Alguns dias nos acordam com energia e esperança renovadas; outros dias nos empurram com desânimo e ausência de perspectivas.

Fazemos parte do movimento contínuo do universo e estamos engrenados junto ao vai e vem da sociedade, dos dias, das pessoas ao nosso redor. E, apesar de muitos afirmarem que a felicidade se encontra dentro de cada um, fato é que o que ocorre lá fora também tem força para nos tornar menos felizes e esperançosos. Nossos pensamentos são capazes de nos desanimar, mas os acontecimentos exteriores e as atitudes de pessoas próximas nos influenciam da mesma forma.

Quem de nós não conhece alguém que parece sugar as energias dos ambientes por onde passa? Quantas vezes não nos sentimos cansados e desanimados, após termos conversado com alguém, como que inexplicavelmente? É como se aquela pessoa estivesse carregada de peso e fosse sugando as energias de cada pessoa com quem conversa e tornando carregado cada ambiente por onde passa.

Somos mais do que razão, somos mais do que emoção, somos também energia, que vai e vem, atraindo e se espalhando por aí. Manter a positividade e o otimismo sempre firmes faz com que nos tornemos mais fortes e protegidos contra a negatividade alheia, mas nem sempre estaremos em alerta para podermos nos defender do desânimo negativo e invejoso dos chamados vampiros energéticos. Nem sempre estaremos bem e é nesses momentos, inclusive, que ficaremos mais vulneráveis ao que de ruim nos cerca.

Portanto, cabe-nos o esforço em mantermos os nossos sonhos acordados e nossas esperanças renovadas, fortalecendo nossas emoções e nossa afetividade através do que nos possa ajudar a não sucumbir nem desanimar, orando, meditando, exercitando-nos, conversando, seja lá como for, mas sempre carregando o amor dentro de nós. Porque quem ama com verdade possui fé, esperança, motivação e disponibilidade para ajudar o outro a ser feliz, mantendo-se, assim, feliz também.

É estranho, mas a gente morre de amor

É estranho, mas a gente morre de amor

Esse texto não é, nem de longe, o que você gostaria de ler. Aqui, temos um canto de feridas expostas, de declarações que adoeceram e de consequências que você precisará carregar para o resto da vida. É estranho, mas a gente morre de amor.

A gente morre de amor quando falta o ar. Quando, mesmo querendo dizer, palavras faltam. Mais ainda, a gente morre de amor ao se abrir para a verdade. Quando você reconhece que não dá para seguir, que não dá para ser. Às vezes, o amor sobra. Noutras, não preenche. Enquanto isso, a gente morre. Morremos um pouco a cada adeus, a cada desencontro.

A gente morre de amor no dia seguinte. Quando, acordados para um novo amanhecer, percebemos o anúncio da solidão. Quando a ausência grita, estou do seu lado. Às vezes, o amor é injusto. Noutras, implacável. Enquanto isso, a gente morre. Morremos um pouco a cada noite mal dormida, a cada vontade de permanecer.

A gente morre de amor quando chora. Quando, com o peito dilacerado e o rosto encharcado, entendemos, acabou de verdade. Quando não há alternativa senão entregar os pontos. Às vezes, o amor é amargo. Noutras, saboroso. Mas morremos, mais uma vez, a cada tentativa de sobrevida.

A gente morre de amor e não sabe. Porque, vez ou outra, o amor é ceifado num tiro curto à queima roupa. Não é possível revidar, pedir clemência e nem esboçar uma segunda chance. Às vezes, o amor é causa natural. Noutras, terminal. E morremos, inevitavelmente, em algum dia não antecipado.

Eu sei, esse não é um texto otimista, sonhador e aconchegante. Mas o amor também não é, às vezes. A verdade é que morrer sempre será estranho e doloroso. O amor deixa essas lacunas inexplicáveis. Mas a gente respira até o último dia, tentando sorrir e acreditar que, para cada atestado de óbito do amor, uma grande celebração está sendo realizada para o nascimento de outro.

Imagem de capa: Diário de uma Paixão (2004) – Dir. Nick Cassavetes

Me faz um favor? Me pensa com amor

Me faz um favor? Me pensa com amor

Ei, me pensa com amor, que o carinho no pensar alisa a alma e dá uma sensação boa, de calma e alegria.

Deixa as contas de lado. Não atende ao telefone. Fica um pouco mais na cama, atrasa um pouquinho o seu cronograma, mas se lembra de me lembrar.

Que se você fizer isso eu tenho certeza que vou te sentir juntinho de mim onde quer que eu esteja e, se houver por perto alguma tristeza, ela há de desaparecer.

O pensamento é forte. Infinito em seu alcance, guarda consigo calor e quebra a distância. O pensamento é cobertor pro frio, é arrepio suave de benquerer.

Quem lembra revive as alegrias do passado, volta a sentir o perfume das flores ao lado. Enche os pulmões de ternura e prazer. E o lembrado, por mais que se sinta sozinho, ao ser tocado com tanto carinho, ganha mais alegria no viver.

Vem então e me encontra em pensamento. Vive comigo esse momento, que pensar é poder. Vem e me diz que meu caminhar vale a pena quando eu caminho serena pelo seu doce querer.

Vem, que eu me faço feliz em sua companhia. E num passe de mágica posso ser a sua menina. Risonha e feliz.

E ninguém há de saber que em meio à tanta labuta, na rua abarrotada, no consultório médico, na sala de espera lotada, há uma doce lembrança.

Um pensamento afetuoso e sincero, repleto de ternura, feito abraço em dança, que rasga o mundo inteiro e traz pra perto quem vale a pena lembrar.

Acompanhe a autora no Facebook pela sua comunidade Vanelli Doratioto – Alcova Moderna.

Atribuição da imagem: pexels.com – CC0 Public Domain

Não use palavras para convencer. Use palavras para transparecer e transcender!

Não use palavras para convencer. Use palavras para transparecer e transcender!

Imagem de capa: Cozy Home/shutterstock

Não são discursos que me convencem. Não são falas bem embasadas e estruturadas, cheias de teorias e muitas vezes sem tanta prática de coração e alma, não é isso que vai entrar em mim e fazer sentido.

Eu não quero parar para ouvir discussões, argumentos, discursos. Eu não quero ficar perdida, confusa, imersa numa cachoeira de palavras incisivas e vazias tentando preencher a minha dor, o meu momento confuso, a minha dúvida.

Eu não quero participar dessas conversas cheias de egos, cheias de vampirismos energéticos e politicagens, que encontram na minha fragilidade alimento.

Antes eu prefiro o silêncio. Eu prefiro o respiro, a ausência de companhia, a melodia do vento. Eu prefiro compartilhar a vibração sem verbete, sem nome, sem explicação. Só a sensação.

Eu não acredito mais no que sai das bocas ávidas e viciadas, amparadas em verdades de fora, que precisam se enterrar em palavras para não sentir algo além, mais profundo. Antes eu acredito no olhar que mergulhou, que flexibilizou, desestruturou, questionou tudo o que vem pronto.

Percebe os olhos falando mais que as falas? Os ‘não atos’ significando mais que os atos? O respeito às diferenças fazendo mais sentido do que o radicalismo das ideias?

Às vezes o sentimento mais genuíno se expressa em pequenos gestos, quase que involuntários, ou na delicadeza do silêncio que surge naturalmente quando dois ou mais seres se sentem humanamente confortáveis. Às vezes o que faz sentido na vida vem sem tanto esforço, sem tanto entendimento, sem nenhum convencimento; surge, agrada, encaixa e pronto.

Eu não acredito mais nos baralhos e barulhos dos meus pensamentos, nos jogos que eles encontram nessas palavras de cascas bonitas e conteúdo duvidoso.

Eu estouro, como bolha de sabão, cada um desses verbos, advérbios, adjetivos e nomes, para ver o que há realmente nessas caixinhas de presente. E eu tento, ainda que nessa fase de aprendiz, absorver para dentro desse peito o que realmente tem tutano, recheio, miolo, âmago.

Sentindo essas forças que vibram no corpo antes do pensamento, a energia que acalma e fortalece, o que toca essa pele fina de forma transparente; é isso o que busco, é isso que me aquece.

Que o que me persuada, convença, transforme, seja a luz boa, a fruta em semente, a criatividade das ideias frescas, a verdade sem entendimento.

A personagem principal da sua vida

A personagem principal da sua vida

Percebeu que a fatalidade da vida nem sempre vem na forma de um acidente. Reza a lenda, que quando as pessoas se encontram diante da morte eminente, são iluminadas por um olhar renovado sobre a vida.

Mas agora, ela via a fatalidade branda. Ela estava nas rugas que se apontavam ao redor dos seus olhos, nas marcas que compunham o seu rosto, o seu corpo, cada traço seu. Ela se insinuava na elasticidade que se perdia sutilmente com o tempo, nas dores na coluna, na tensão dos ombros.

A fatalidade estava no oco do peito, que amplificava os ecos do coração, nos odores que se transformavam, no opaco crescente dos cabelos. Ela estava nas memórias acumuladas, um tanto quanto diluídas nos excessos das experiências rotineiras.

A fatalidade estava na vontade desorientada em meio à avalanche de responsabilidades. Na esperança comida pelas traças. Nas roupas desbotadas. No cansaço. Estava cansada. Cansada demais de esperar. Voltava à infância, quando tudo começou. Recebia deslumbrada as narrativas dos personagens principais. Tão distintas, tão semelhantes.

O coração ambicioso comprava iludido aquele sonho de ser especial: de ser encontrada, de ser surpreendida, de ser afortunada por um acontecimento inesperado.

Estava nos contos de fada, onde era adormecida, presa em uma torre, caçada por bruxas, e alguém inusitado vinha lhe salvar. Estava nos contos e mitos, nos quais recebia uma benção de deuses, uma prenda das fadas, a intervenção de um sábio que lhe confiava um novo destino.

Estava nas reportagens rotineiras, nos casos burburinhos, das figuras encontradas por agentes, dos talentos comprados por milionários, das genialidades descobertas ao acaso. Haviam muitos desses mitos da espera, nos quais o ser passivo aguardava a sua estrela cadente.

Agarrou-se a esse personagem frágil, incompleto, esperando por salvação. Pensou, até mesmo, que poderia ser um acidente, uma fatalidade explícita a vir colocá-la diante do acaso da vida finita e despertá-la daquele torpor, que acreditava ser o seu estado natural.

Riu saudosista, fazendo piada consigo mesma, de que até para chegar ao mundo esperou que os tirassem de lá, sem forçar as contrações que a trariam à luz por um movimento próprio.

Sempre fora inteira expectativa. Só agora que parou, ali, diante do espelho, tentando ver além de si mesma, e se perguntou sobre o destino daqueles personagens “salvadores”. Qual era a narrativa dos guerreiros, dos príncipes, das fadas, dos sábios, dos acidentes?

Qual era a narrativa daquilo que trazia a surpresa, aquela luz tão desejada, aquele movimento irresistível? Qual era a narrativa daquilo que vinha, daqueles que aconteciam, em vez de esperar?

Mais de 35 anos se passaram e ela esperava. Aos seis anos, esperava que uma fada lhe viesse revelar um poder escondido. Aos dez, esperava que um sábio lhe destinasse uma missão incrível. Aos quinze, esperava um namorado que lhe trouxesse flores. Aos dezessete, esperava que os amigos lhes fizessem uma festa surpresa. Aos vinte, tinha esperança de que, nela, um talento incrível fosse descoberto por um superior do trabalho – expectativa que perdurou ainda por muito tempo.

Aos vinte e cinco, ela aguardava um pedido de casamento romântico e repentino. Aos vinte e sete, fantasiava encontrar um bilhete premiado na rua, que a tornasse milionária e a permitisse viajar o mundo. Aos trinta, esperava atenta que fosse abordada por um estranho e este lhe fizesse a proposta que causaria uma reviravolta em sua vida.

Passados os trinta anos, esperava, desesperadamente, qualquer coisa, qualquer surpresa, qualquer acontecimento fora do comum que lhe desvelasse uma chama de vida capaz de inflamar e iluminar toda a sua existência. Mas as coisas corriam calmas, mornas, esparsas.

Começou a silenciar a expectativa para abrandar as dores que a corroíam. Silenciados todos aqueles ideais passivos, começou a escutar e surpreendeu-se: eram muitos os que esperavam, como ela, esperavam um por vir surpreendente. Eram muitos os que se identificavam com esse ser por ser descoberto por um olhar outro.

Estava cansada. Cansada demais. E hoje, parou diante do espelho, não para pintar o rosto, cobrindo-lhe as imperfeições, não para conferir o quanto estava adequada para um encontro íntimo, social, profissional. Não para avaliar o quanto havia envelhecido.

Iluminada pelo silêncio da própria dor, daquele cansaço que se instalava languido pelo seu corpo, parou diante do espelho para ver-se de fora – com todas as imperfeições e inadequações que costumava camuflar.

Procurava em suas marcas, no fundo dos seus olhos, nas formas do reflexo, no além que o espelho sugeria enigmático, aquela chama, que algum outro desconhecido não apareceu para encontrar. Estava por ali, ela sabia, em algum lugar. Se nada acontecia, se nada lhe vinha surpreender ou salvar do mormaço do tempo a consumindo lentamente, era ela quem deveria ser a “salvação” que esperava. Era ela quem deveria ser a surpresa que almejava.

Era ela que precisaria descobrir seus poderes escondidos, destinar-se missões incríveis, plantar flores, dar festas surpresas aos amigos, identificar e incentivar talentos incríveis, causar em sua vida as reviravoltas que tanto esperava, propor-se celebrar um compromisso consigo mesma, viajar sem esperar permissão.

Estava cansada. Cansada demais. Mas, quando parou diante do espelho, sabia que um dos caminhos possíveis era nutrir a frustração das esperas vãs, até que evoluíssem para a amargura. Iluminada pelo silêncio da própria dor, olhando-se fundo nos olhos, com toda a coragem que é necessária para olhar-se fundo nos olhos, viu no espelho que viveu enganada.

O personagem principal não era aquele que esperava por ser salvo, não era aquele afortunado por um acaso – ele era a fortuna, ele era a surpresa. O personagem principal não era arrastado pelos acontecimentos – ele acontecia. Naquele dia, parada diante do espelho, ela descobriu que tinha sorte: estava destinada a ser a personagem principal da sua própria vida.

Fibromialgia: a doença em que tudo dói, até mesmo a incompreensão.

Fibromialgia: a doença em que tudo dói, até mesmo a incompreensão.

Imagem de capa: pathdoc/shutterstock

Para começar a falar sobre isso, gostaria de explicitar o incomodo que sinto ao ver que o meu Microsoft Word não reconhece essa palavra – fibromialgia- e isso me remete à ideia do quão desconhecido ela ainda é para as pessoas também.

Gostaria de informar que eu já passei um período da minha vida em que fui diagnosticada com depressão e sei bem como é lidar com a tal da incompreensão, mas, quando fui diagnosticada com fibromialgia, confesso que me assustei um pouco, afinal, nem eu conhecia muito sobre a doença. Mas, antes, vou contar um pouco da minha trajetória com a doença, para vocês entenderem um pouco a que ponto quero chegar.

Dores e mais dores, exames e mais exames, e a resposta, nos consultórios, era sempre a mesma: você não tem nada. Por muito tempo, eu evitava falar das dores que sentia, mesmo que, às vezes, elas parecessem insuportáveis para mim, porque eu sabia que as pessoas se baseavam em apenas uma coisa: você já fez vários exames, não tem nada, é coisa da sua cabeça.

Já escutei que “eu inventava doença” ou que, talvez, eu “gostasse de ficar doente”, e isso me deixava profundamente irritada, afinal, eu queria que as pessoas entendessem que eu sentia realmente todos aqueles incômodos e dores. Se todas essas falas calassem a minha dor, seria tudo mais fácil, mas não, ela persistia.

Meu corpo todo doía, desde a cabeça até os pés, desde o acordar até a noite. Havia dias em que eu não suportava ficar sentada, pelo simples fato de encostar as costas na cadeira e isso ser algo extremamente doloroso para mim. Além disso, eu sentia muita dor perto da região do rim, o que foi motivo de alerta – afinal, agora devia ser sério –; vamos ao médico.

Exames e mais exames, até que fui diagnosticada com a tal da fibromialgia. A partir disso, procurei ler sobre o assunto e tentei me informar. E, sempre que as dores apareciam, eu me sentia “impotente” demais. E agora eu tinha um nome para dar como resposta às pessoas, sempre que me perguntavam sobre o que eu tinha. Mas, para a minha surpresa, a incompreensão ainda permanecia.

Por diversas vezes em que resolvi sair de casa, mesmo com o seu corpo gritando, os seus braços doloridos, as pernas que latejam e alguém me perguntava se eu estava bem, optava por responder: “Ah, sim, estou com dores, mas não é nada demais. É que tenho fibromialgia.” E a resposta era sempre a mesma: “Fibromial o quê? O que é isso?” E lá ia eu explicar para a pessoa e ela fazer aquela cara de “Essa dai está inventando moda”.

Por muito tempo, eu deixei de falar ou explicar, pois às vezes não estou bem de fato, tudo dói em mim e isso me enlouquece, confesso que é difícil. Tenho buscado diversas alternativas, além dos remédios. Sucos verdes, exercícios e alimentação regrada. Claro, ajudam, mas vez ou outra sempre sinto aquela dor incapacitante.

E, quando digo incapacitante, é porque até levantar da cama é um trabalho imenso, não por preguiça, mas por mal estar. Sono desregulado, dores proporcionais ao nosso estado emocional e a habilidade de ter que aprender a lidar com aquela dor persistente não tem sido uma tarefa fácil. Quando estou bem ruim, sinto dor até quando me abraçam, pois qualquer toque é suficiente para “chamar” a dor. Mas o que mais me incomoda mesmo é ouvir um “Nossa, que frescura, isso nem dói” de quem desconhece a minha realidade.

Claro que em você pode ser que doa não mesmo e eu acredito nisso, mas a questão é que sinto o meu corpo como um campo de dor em que qualquer fagulha já ativa todo o sistema, é realmente difícil de compreender. Fibromialgia é uma doença e essa incompreensão também machuca.

O intuito desse texto é fazer você conhecer um pouco da realidade de quem convive com a fibromialgia e, caso você também seja diagnosticado, que procure alternativas para lidar com esse “campo minado de dor” que é o nosso corpo.

Comecei a investir mais em mim, a dedicar mais tempo para as coisas e com pessoas de que gosto. Acredite: cuidar do nosso emocional é fundamental para uma melhora. Cuidar de nós é um ato de amor e cuidado e isso ninguém pode fazer por nós, a não ser nós mesmos.

Não se esconda atrás de um diagnóstico, não se afunde em uma definição que lhe atribuíram, não se enterre em um termo. A vida é muito mais do que isso. Precisamos, sim, de empatia e de um olhar compreensivo do outro, mas devemos também fazer muito por nós mesmos, uma vez que sabemos que esperar demais do outro é, no mínimo, uma grande decepção.

Uma paixão pode te deixar boba, mas não burra.

Uma paixão pode te deixar boba, mas não burra.

Imagem de capa: Maisevich Alexey/shutterstock

Romantizar as relações é uma tarefa comum entre os apaixonados. As pessoas tendem a romantizar as histórias, verem qualidade onde nunca existiram e dedicarem músicas às fases dos relacionamentos como se fosse um filme de Francis Ford Coppola. Porém, ao perceberem que o outro não corresponde à suas expectativas, o conflito se instaura e o drama começa.

Para que haja superação da dor e para que o término não vire uma tortura psicológica é preciso entender os motivos que, realmente, levaram ao término. É necessário fazer uma autoavaliação e colocar na balança o que foi decepção e o que foi ilusão criada pela paixão.

O que o levou ao encantamento no começo da relação? Por que ele era interessante? Por que ela era mais atraente? Por que parecia mais fácil suportar as diferenças?

Todos esses questionamentos refletem o seu comportamento até aqui. Para respondê-los é necessário, primeiramente, entender que ninguém é configurado para agradar os outros. Somos formados de personalidade, hábitos e educação, e forçar uma relação a dar certo, acreditando que ela acabará se tornando perfeita, é como dar um tiro no próprio pé.

A não ser que vocês estejam dispostos a isso, a probabilidade de um dos dois mudarem “por amor” é zero. As pessoas mudam/amadurecem conforme as situações que enfrentam na vida e não a bel-prazer do parceiro.

A escolha de um parceiro envolve atração (física e emocional), admiração, desejo e respeito. Quando a paixão cega, a maioria desses “requisitos” são camuflados prevalecendo somente a perigosa atração física. Aí, meu amigo, lascou tudo.

Uma paixão pode te deixar boba, mas não burra. Pode embaçar a visão, mas não cegá-la. Pode até te deixar iludida, mas nunca enganada. Então, pare de colocar a culpa sempre no outro e veja se não foi você quem viu a perfeição onde nunca existiu.

O amor dá sinais, mas é a convivência que os comprova. Sabemos quando alguém não é para nós. Os sinais são claros, os defeitos irritantes e a rotina avassaladora. Stephen Charles Kanitz, consultor de empresas e conferencista brasileiro, afirma que “não são os grandes planos que dão certo; são os pequenos detalhes.”

Ele fala que a ama, mas a ofende na primeira oportunidade. Ela diz ser compreensiva, mas tem mais ciúmes que uma psicopata. Ele diz ser calmo, mas já ameaçou te agredir. Sinceramente, a culpa é somente do outro ou você, também, compactua com isso sendo permissivo demais? Entenda: você tem direito de errar, mas não ouse transformar isso em um casamento.

Não teima com o destino. O que não é seu, nunca irá te servir. Limpe a alma, arrume o coração e pare de viver de remendos. Há oportunidades que só entrarão pela porta, quando você tiver coragem de fechar as janelas.

Poucas pessoas suportarão nos ver felizes

Poucas pessoas suportarão nos ver felizes

Imagem de capa: Maisevich Alexey/shutterstock

O ser humano tem certas peculiaridades que ninguém explica direito, sendo uma delas o gostinho de inveja que não poucos sentem, mesmo que bem lá no fundo, quando veem o sucesso de alguém. Por mais que neguemos, não costuma ser tranquilo assistir às pessoas galgando degraus e mais degraus; é algo que poucos conseguem controlar esse sabor amargo que sobe à boca quando se olha a felicidade alheia.

Talvez a gente se sinta meio que injustiçado, comparando onde estamos com os lugares aonde os outros já chegaram. Quantos de nós já não nos esforçamos muito no trabalho, mas vimos o colega ser promovido? Quantas vezes estudamos com afinco para um concurso no qual é aprovado alguém que parece nem se esforçar? Quantas pessoas nos preteriram, em favor de um outro que lhes oferecia bem menos do que estávamos dispostos a ofertar?

Na verdade, muitas vezes, acabamos por exagerar na visão que temos do que fazemos e do que nos acontece, pois evitamos naturalmente uma auto análise nua e crua de nós mesmos. E, quando as pessoas se dispõem a se enxergarem de fato, então percebem que poderiam, muitas vezes, ter agido de outra maneira, que deveriam ter dito ou feito diferente, que não se esforçaram tanto assim. A gente acaba recebendo de acordo com o que ofereceu.

No entanto, também teremos que presenciar muita gente ocupando cargos por apadrinhamento, aproveitando ou desdenhando de oportunidades que sua situação financeira lhe permite, sendo escolhidos pelo sobrenome que carregam. Mesmo assim, muitas dessas pessoas farão o melhor que puderem a partir do que lhes chegar facilmente. O que não podemos é desistir, pois há exemplos vários de indivíduos que venceram, saindo de uma total ausência de perspectivas.

Fato é que será muito mais fácil ter alguém compadecido de nossas tristezas do que encontrar quem realmente comemore conosco as nossas vitórias. Chegar junto à miséria alheia parece ser muito mais fácil do que aplaudir o sucesso do outro. De tanto que se valoriza o sucesso material, é exatamente esse aspecto que será alvo mais contundente de inveja.

Como se vê, bem poucos suportarão nos ver felizes, com sinceridade transparente, mas serão esses poucos aqueles com quem sempre poderemos contar, sem medo de rasteiras e decepções dolorosas.

Pare ou pire!

Pare ou pire!

Imagem de capa: mavo/shutterstock

Quantas vezes ficamos angustiados e aflitos sem nem sabermos direito pelo quê?! “Por tudo, ora!”: cobranças das mais variadas ordens chovem por cima de nós todos os dias.

O namorado/marido quer atenção. Os filhos nos exigem tempo e dedicação. O trabalho, constante aperfeiçoamento e o melhor desempenho possível. A sociedade, então, quer tantas coisas para nós, que não dá nem para enumerar, mas passa por estudar (o máximo possível), trabalhar (e ganhar muito bem), ter uma família e, acima de tudo, SER FELIZ! Te vira, então!

O problema nem é tudo isso, não. O problema é o que nós fizemos com todas essas cobranças. O problema é o que nós estamos nos cobramos. O problema é o que levamos a sério dessa loucura toda.

Tudo bem querer crescer, evoluir, ser uma pessoa melhor em vários aspectos. Super certo querer encontrar e desenvolver sua missão, o que lhe realize, o que faz o seu coração vibrar. Mas para conseguir tudo isso, não podemos estar pirados! Para concretizar o mais importante, temos que estar bem. E ficar bem, nesse contexto, passa por dar uma “freiadinha” vez ou outra. Dar um passo para trás. Olhar a situação de fora.

Viver criando expectativas para o futuro só gera “pré-ocupação” em vão. Passar nossos dias cogitando hipóteses do que pode vir a acontecer “se” isso ou “se” aquilo, é um gasto de energia completamente desnecessário. Gastar nosso precioso tempo concentrados em tudo o que não se tem, no que poderia ter sido feito diferente e/ou em tudo o que deveria ser mudado, nos impede de fazermos o mais importante: vivermos o PRESENTE.

Quando vemos, então, não sabemos nem como estamos vivendo efetivamente, pois a nossa mente está muito ocupada com o passado ou com o futuro, com as cobranças dos outros, ou com as nossas próprias cobranças. Tudo num mundo imaginário onde nada acontece efetivamente. É preciso dar um basta à nossa mente irrequieta. É preciso parar. É preciso deixar a vida acontecer, simplesmente.

Observar a vida fluindo… Curtir cada momento do dia, estando concentrado apenas e tão somente nele, por mais singelo e insignificante que pareça. Tal como comer sentindo o sabor da comida, por mais óbvio que isso pareça, mas, muitas vezes, não acontece. Ou escutar uma música sentindo a sua melodia.

Talvez precisamos, efetivamente, redescobrir o mundo. Fazer de conta que nascemos agora e estamos nos deslumbrando com toda essa realidade…

Deixar acontecer. Observar. Ir no ritmo da vida que se apresenta, dançar a sua música. Respirar. Se entregar.

Viver, de fato…

Um mundo de passado

Um mundo de passado

Imagem de capa: Ditty_about_summer/shutterstock

Os jovens costumam se referir aos velhos como os contadores de histórias. Eles, os jovens, têm razão. A maioria de nós – passadinhos dos 60 – não perdemos a oportunidade de aproveitar o presente para assaltar o baú de lembranças. Muitas vezes não vem só uma história, mas um cardume delas.

Aconteceu comigo, mês passado, ao cruzar a Ipiranga com a São Luís. Estava na companhia adorável do meu sobrinho Caio. Ele que está com seus trinta e poucos tem mais familiaridade com a Avenida Paulista e suas cercanias.

Foi uma festa mostrar o Edifício Itália, o Copam, a Escola Caetano de Campos, inaugurada em 1894 (hoje sede da Secretaria de Estado da Educação). Mais do que mostrar foi bom contar. Não tudo. Uma coisa ou outra. Por exemplo, eu fugindo da cavalaria da PM em 1977. Era uma passeata de estudantes.

Lembro que morrendo de medo busquei me esconder nos corredores do Copam. Também narrei para o meu sobrinho a noite em que jovens feministas, eu entre elas, subimos no restaurante do Terraço Itália e tentamos consumir sem pagar a conta. Conseguiram?, ele perguntou. Pois é, não lembro mais.

Essa é outra coisa que acontece. Lembrar a história por partes: ora o começo, ora o meio. Nem sempre o fim. No caso do Terraço Itália a aventura foi entrar em grupo, com cartazes escritos Tomemos a Noite. Foi a intenção e não o resultado da história o que teve relevância.

Penso que o cérebro, com o passar de tanto tempo, vai selecionando: Isso fica, isso sai. Isso eu guardo, aquilo eu jogo fora. Pois da mesma maneira que o fígado não aguenta o álcool de toda uma vida, o cérebro não comporta galões e galões cheios de memórias.

Talvez essa seleção explique porque duas pessoas trazem memórias diferentes de um mesmo evento. Outro dia eu e meu irmão, Júlio, ao recordamos do enterro da nossa avó Affonsina há 46 anos, quase nos altercamos por discordamos de alguns detalhes. Foi assim, eu dizia. De jeito nenhum, ele retrucava. Qual memória estará certa? As duas. Ou, quem sabe, nenhuma.

Arapucas. Quanto mais antiga a lembrança, mais fluida. Mas há memórias gravadas a fogo. Toda vez que eu vejo um vídeo ou foto do Museu de Arte Contemporânea de Niterói – o MAC – volto a 1970. Onde está o museu – que Oscar Niemeyer imaginou uma flor, mas o povo vê um disco voador – havia um terreno baldio. Terreno alto dando para uma paisagem de deslumbre.

O mirante da Boa Viagem era frequentado, à noite, por casais de namorados que encostavam os carros na beiradinha do precipício. Eles se pegavam, se beijavam tendo a Baía de Guanabara como cenário.

Durante os finais de semana, de dia, famílias também iam espiar a Praia das Flechas aos pés. Ao longe o Pão de Açúcar e o Cristo Redentor.

Nessa época, eu morava com meus pais e irmãos em Niterói, na rua Joaquim Távora, em Icaraí. O edifício chamava-se Moema. Dele guardo memórias boas. A padaria em frente que vendia o mais gostoso Mil Folhas do planeta. O começo da minha biblioteca com a coleção Imortais da Literatura Universal, da Abril. O prédio inteiro sacudindo com a acachapante campanha do Brasil na Copa de 70.

Também guardo uma memória de choque. Na escadaria de entrada do Moema, uma vizinha com o rosto desfigurado pela dor. Era uma manhã de domingo ensolarado. O marido, a mãe e um dos filhos da vizinha foram dar uma volta no Mirante da Boa Viagem. Sabe-se lá o porquê, o carro em que estavam mergulhou no precipício. Todos morreram.

Então toda vez que alguém menciona o MAC de Niterói, conto a história trágica da vizinha do Edifício Moema. É inevitável. Suspeito que se o ouvinte é jovem – não faz ideia do terreno antes do museu – deve comentar com seus botões: Esta senhora é uma inventora de histórias.

Pessoas boas também fazem escolhas erradas

Pessoas boas também fazem escolhas erradas

Imagem de capa:  puhhha/shutterstock

Muitos de nós insistimos em crer na bondade alheia, na verdade, na capacidade de o ser humano se redimir, arrependendo-se e melhorando com o tempo. Infelizmente, algumas coisas e determinadas pessoas não mudam, jamais mudarão.

Ninguém há de passar por essa vida sem errar, sem fazer as piores escolhas, sem amar a pessoa errada, sem falar a palavra menos apropriada, enfim, erramos todos, uns mais, outros menos. O que importa é aprender a partir de cada equívoco, para que se evolua dia após dia. Da mesma forma, optar pelo menos correto não quer necessariamente dizer que a pessoa seja má, mas apenas humana, gente de carne e osso.

Nosso raciocínio costuma cair nas armadilhas que os sentimentos, vez ou outra, teimam em nos criar. Não deveria ser assim, mas parece que o coração e o cérebro não dialogam entre si, como se fossem duas instâncias antagônicas e incomunicáveis. Lemos teorias, refletimos na prática, ponderamos com discernimento, no entanto, muitas vezes cai por terra nossa capacidade de análise frente a certas situações que agem diretamente sobre nossos sentimentos afetivos. E, então, o emocional acaba vencendo o racional.

É assim quando, mesmo tendo quebrado a cara repetidamente, acabamos dando novas chances à pessoa. Quando, no fundo, já sabendo que o outro era uma roubada, a gente se entrega com tudo. Quando, por mais falsas que as lágrimas alheias sejam, a gente se comove e perdoa, uma, duas, incontáveis vezes. Quando investimos num sonho furado, numa pessoa vazia, num amor que não pende só para o nosso lado. Quantas vezes a gente parece sofrer de amnésia, não é mesmo?

Fato é que ninguém consegue prever o futuro, por mais que se tente, por mais experiência que se tenha. Além disso, muitos de nós insistimos em crer na bondade alheia, na verdade, na capacidade de o ser humano se redimir, arrependendo-se e melhorando com o tempo. Infelizmente, algumas coisas e determinadas pessoas não mudam, jamais mudarão, porque a vida ensina somente quem estiver disposto a aprender. E tem gente que se nega a assumir erros, ou seja, nega-se ao aprendizado que todo dia lhe bate à porta.

Não estaremos isentos de andar pelos caminhos que deveríamos evitar, junto a quem não teria razão de estar conosco, porque, muitas vezes, as aparências enganam e por muito tempo. Felizmente, nunca será tarde para que possamos voltar às trilhas serenas e trazer para perto as pessoas sinceras e apaixonantes. Nunca será tarde para ser feliz, enquanto vida houver, enquanto nosso coração vibrar com os sonhos que construímos em nosso caminhar.

A sua realidade não é a do outro

A sua realidade não é a do outro

Imagem de capa: George Rudy/shutterstock

Tem vezes que temos absoluta certeza que estamos certos, que temos razão, que o nosso lado da história é o que faz sentido de verdade.

Estamos convictos, estamos presos a nossa própria percepção sobre aquilo que aconteceu. E quando nos sentimos donos da verdade, não retrocedemos, não pedimos desculpas, não levantamos a bandeira branca de jeito nenhum.

O problema é quando os dois lados se sentem assim, acham que estão certos, chegamos a um impasse e nada se resolve, são dois burros numa ponte, porque ninguém sai do lugar, ninguém dá o braço a torcer.

Na maioria da vezes, por causa de um mal entendido, as pessoas param de se falar. Por falta de diálogo, por falta de entendimento de ambas as partes, por falta de interpretação de texto, as pessoas se afastam umas das outras.

As pessoas falam, mas não se comunicam, ouvem, mas não escutam o que o outro tem a dizer de verdade, já ficam pensando no que irão responder, qual será a réplica, como irão se justificar.

Ficamos tão na defensiva, quando nos sentimos acusados de algo ou quando nos damos conta de que estamos errados e ao invés de simplesmente assumirmos nossa parcela de culpa, e admitirmos que estamos errados e retrocedermos, continuamos procurando culpados e apontando dedos ao nosso redor, por causa do nosso orgulho, para não darmos o braço a torcer.

Quando seria tão melhor buscarmos resolver, optamos pelo caminho mais fácil, que é nos afastar, pararmos de falar, nos distanciamos do problema e da situação.

E quase sempre o caminho que parece mais simples, menos tortuoso, que é mais conveniente pra nós, não significa que seja o melhor, o mais acertado.

Precisamos de tempos em tempos fazer aquilo que nos incomoda, aquilo que nos tira da nossa conveniência, aquilo que nos tira do lugar que já conhecemos, seguir pela porta mais estreita.
Quando damos um passo atrás em relação ao problema, observamos que o outro também tem seus motivos para estar chateado, que o outro tem suas próprias justificativas pra achar que está com a razão.

Quando colocamos o nosso orgulho de lado, quando nos desarmamos e nos colocamos no lugar do outro, podemos ver as coisas mais claramente, de forma cristalina.

Conseguimos nos dar conta que não existe uma verdade absoluta, o que existe são versões do mesmo fato, perspectiva diferentes de vida, visões antagônicas de um mesmo acontecido.

E quando baixamos a guarda e nos permitirmos ouvir o lado do outro, o que o outro lado tem a dizer, podemos nos surpreender e perceber que podemos ter agido errado também, que machucamos o outro sem querer e que o outro tem um fundo de verdade para estar aborrecido.

Quando caímos na real e entendemos que não estamos sempre certos, que não somos perfeitos, que podemos agir mal também sem termos a intenção de sê-lo, abrimos a guarda e deixamos o outro entrar, o outro voltar e damos a chance de começarmos de novo.

Aquilo que você compartilha te define?

Aquilo que você compartilha te define?

De repente todo mundo vira PHD em política. Políticas públicas, política interna, política externa, politicamente correto, atitude política. Você abre a tela das redes sociais e se depara com um ringue virtual.

E sobra desaforo para tudo quanto é lado. É “gente de direita” ameaçando “gente de esquerda”. É gente de esquerda desacatando gente de direita. Os ânimos se exaltam, a educação precária revela o triste quadro de um povo que escancara na Web sua falta de capacidade para o diálogo, sua intolerância diante de qualquer opinião que seja divergente da sua.

A questão central, no entanto, é que enquanto as pessoas se digladiam, arranjam inimizades, desfazem amizades por conta de defender partidos X, Y, Z; ou tomar as dores de celebridades políticas iminentes, aqueles que detém o poder amealhado nas urnas, ou por meio de cargos de confiança, estão pouco se lixando para nós.

A corrupção é tão antiga quanto é antiga a nossa história de gente colonizada. O comportamento desonesto e antiético prevalece nas relações políticas e de poder, pelo simples fato de que também são regra – e não, exceção – nas relações pessoais.

Embora seja pouco passível de reflexão, aqueles pequenos jeitinhos que a gente dá para ter alguma vantagem numa coisinha aqui, outra ali… explicitam em nossas condutas o quanto somos vulneráveis a ceder, quando o que está em jogo é a nossa pele.

Difícil! Dificílimo manter a retidão e a sanidade no meio do caos. Dificílimo conservar o pensamento generoso, quando rogamos a algum deus que nos escute e nos conceda o milagre de um emprego estável, quando a maior parte das empresas lança mão do questionável artifício de demitir funcionários antigos com vistas a contratar “gente nova” por um preço menor.

Quase impossível acreditar naquilo que se houve, nas notícias veiculadas pela mídia, já que a mídia tem todos seus rabinhos presos e amarrados às elites políticas, estando elas no poder do momento ou não. Não há opinião isenta, essa é que é a triste e redundante verdade.

E é exatamente por isso, porque não passamos de público, eleitores e trouxas à serviço daqueles que “governam por nós”, só que agem estritamente em causa própria, que não devemos nos oferecer para passar adiante qualquer tipo de bobagem que os meios de comunicação achem por bem nos enfiar pelos olhos, ouvidos e mentes.

Mais do que nunca, precisamos entender que enquanto estivermos assim, polarizados, somos frágeis e fáceis de derrubar. E é por isso, que eu faço essa pergunta: “O que você compartilha te define?”; ou você anda apenas reproduzindo falas e bandeiras alheias sem parar para refletir sobre qual é o seu papel nisso tudo.

Mais do que nunca, é preciso entender que a informação é o bem mais precioso, quando aliada à verdade dos fatos. Mais do que nunca, é preciso ir atrás de compreender que quem faz a história somos nós, e que estamos escolhendo um caminho muito perigoso, quando abrimos mão de pensar e nos tornamos apenas porta-vozes daqueles, cujo único objetivo é manter-se no poder.

Imagem de capa meramente ilustrativa: cena da série “House of Cards”.

Às vezes a nossa estranheza encanta alguém

Às vezes a nossa estranheza encanta alguém

Imagem de capa: YuriyZhuravov/shutterstock

“Buscamos, no outro, não a sabedoria do conselho, mas o silêncio da escuta; não a solidez do músculo, mas o colo que acolhe. Só podemos amar as pessoas que se parecem com o céu, onde podemos fazer voar nossas fantasias como se fossem pipas.” – Rubem Alves.

É extremamente difícil encontrar alguém que consiga se abrir para o nosso ser na sua completude. Nem todos possuem a capacidade de escutar os nossos silêncios, assim como, nem todos conseguem nos enxergar de dentro para fora. Por esse motivo, na maioria das vezes, sentimos aquela sensação de estar só, mesmo estando em meio a outras pessoas, já que quando o outro é incapaz de nos enxergar com todas as peculiaridades que nos forma, dificilmente nos sentiremos em companhia de outra alma.

Como disse Drummond: “Todo ser humano é um estranho ímpar”. Sendo assim, todos possuímos características próprias, trejeitos, maneirismos, esquisitices que nos caracterizam enquanto seres únicos e insubstituíveis. São as idiossincrasias que trazem essência ao nosso ser, que nos dão charme e nos tornam verdadeiramente atraentes aos olhos daqueles que se permitem ver e enxergar. O grande problema, contudo, está nisso: quantos de nós possuem olhos capazes de interpretar as “estranhezas” do outro como algo essencial a sua pessoa?

A bem da verdade, boa parte de nós sente dificuldade, seja em observar, demonstrar e absorver esse terreno de coisas peculiares que forma o que somos. E no meio desse problema cognitivo das lâmpadas da alma, sentimo-nos como que perdidos no meio de “tudo”. Sim, porque a gente se relaciona, está cercado de pessoas quase que o tempo inteiro, mas dessas, quantas de fato nos mostramos? E quantas nos dão guarida, sobretudo, no campo das nossas estranhezas?

O resultado disso se reverbera em relacionamentos inexpressivos e mecânicos, mergulhando sempre nas águas rasas da mesmice. Se a intimidade é o último refúgio, conhecemo-la muito pouca, embora acreditemos ter com ela muitas vezes. Entretanto, isso não ocorre como queríamos, uma vez que isso dependeria de um olhar mais abrangente para o outro, a fim de que dentro de nós os seus delírios encontrassem acolhida. Afinal – “É isto que amamos nos outros: o lugar vazio que eles abrem para que ali floresçam as nossas fantasias” – lembrando Rubem Alves.

E nesse espaço que se abre – não do lado de fora, mas na interioridade de alguém, e somente nele – que nos sentimos livres para nos despir de qualquer subterfúgio que utilizamos para encarar as banalidades do existir. Aliás, neste momento as próprias trivialidades mudam de sentido, porque tudo que fazemos, por mais simples que seja, revela as bases sólidas do nosso ser. Existe liberdade para ser e sensibilidade para sentir, porque o corpo está desperto, a alma se contorce em cócegas e a boca sussurra o gozo.

E, desse modo, encontramos o refúgio da intimidade, de almas que entendem que só é possível estar e sentir verdadeiramente alguém permitindo que ele seja o seu eu por completo, sem fugas ou restrições. Com todas as loucuras, esquisitices e sonhos, já que sem eles somos tão somente a penumbra da vida.

Não vale a pena, assim, se esconder em padrões para agradar quem não aprecia as suas idiossincrasias, sabemos que isso só traz mais vazio. É necessário estar desperto para ouvir aqueles que entendem das melodias da alma, já que são nestas que as nossas estranhezas mostram o seu encanto. Precisamos de pessoas que saibam interpretá-las.

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