Aos 86 anos, senhor usa tempo livre tricotando gorrinhos para bebês prematuros de UTI

Aos 86 anos, senhor usa tempo livre tricotando gorrinhos para bebês prematuros de UTI

Foto: Divulgação

Aos 86 anos, o engenheiro aposentado Ed Moseley chamou a atenção da imprensa americana por um motivo muito nobre. Moseley dedica parte do seu tempo a tricotar gorrinhos para bebês prematuros da unidade de terapia intensiva neonatal do Hospital Northside, em Atlanta.

Vivendo em um lar de idosos, na Georgia, Ed decidiu participar de um programa de extensão para tricotar gorrinhos para os recém-nascidos. Mesmo não sabendo tricotar, topou o desafio. Pediu à filha um kit com lãs e agulhas e, superadas as dificuldades iniciais, deu conta do recado.

Mais de 350 gorrinhos já foram feitos pelas mãos generosas dele, que se diz feliz pela oportunidade de ajudar outras pessoas e se manter ocupado enquanto assiste golfe na televisão – seu passatempo favorito. “Quando alguém aprecia algo que você faz, isso faz com que você se sinta bem”, disse à ABC News.

O altruísmo de Moseley inspirou outros colegas residentes e a equipe do asilo, que o ajudam a tricotar para o projeto. Além disso, as crianças da escola onde sua neta é professora se interessaram em aprender a tricotar.

Segundo o ACJ, Ed também ajudou a montar kits de higiene pessoal para mulheres e crianças carentes e continua fazendo os gorrinhos para atender pedidos da família e de amigos, sem cobrar nada.

Definitivamente, um exemplo a ser seguido!

A intimidade é linda. O que a gente faz com ela, nem sempre.

A intimidade é linda. O que a gente faz com ela, nem sempre.

Imagem de capa:  Jacob Lund, Shutterstock

Ahh… essa vida tem cada uma! Então logo eu, tão afeito a viver só, virar noite no trabalho, acordar cedo e dormir tarde, de repente dei de sonhar com você e eu dormindo agarrados, juntos feito conchinhas.

Sabe Deus por que motivo. Mas aqui comigo eu penso que a razão é simples. Deve ser porque dormir em paz é coisa que a gente faz de consciência limpa, na solidão de cada um ou junto de quem nos faz sentir amor. Dormir pesado em companhia certa é um exercício de leveza e profunda intimidade. Só acontece entre almas que lá pelas tantas, de alguma sorte, se aproximam, se unem, se ajudam e caminham adiante.

Confesso. Eu ando carecido de pegar no sono sob seu olhar amoroso, acordar e encontrar você ali, me esperando para um dia novo. Eu dou conta. Estou pronto. Faço jus ao nosso acordo tácito de bichos íntimos. Prometo amar e respeitar a nossa intimidade, prima-irmã da compreensão e da confiança, filha amada do respeito, companheira da ternura.

Você sabe. A intimidade é tão bonita! Pobre de quem não reconhece. Não sabe o que está perdendo. Há quem a trate com desprezo, atrevimento, abuso. Esses a perdem, enferma, em lençóis manchados de desleixo, sobre camas puídas de descuido e indiferença, atravancando um quarto escuro e empoeirado.

Intimidade não sobrevive sem estima, sem apreço. Como a planta que carece de água e luz e terra boa, intimidade só perdura, floresce e ramifica se for regada de atenção e delicadeza.

Quem diz que a intimidade é o que estraga um namoro, um casamento ou coisa parecida não sabe do que fala. Que culpa tem a intimidade se o casal não sabe usá-la como deve?

Ahh… gente íntima. Ocupa com cuidado o espaço do outro que a intimidade torna seu. Duas almas quando se fazem íntimas se respeitam e se libertam, não se intimidam nem se prendem. Ser íntimo é viver dentro do outro e deixar o outro viver dentro de mim. É preciso apreço e dedicação. Se vivo em alguém, respeito quem me recebe. Se deixo o outro viver em mim, o recebo com gratidão e gentileza. É tão simples. Sejamos íntimos e dedicados. Amorosos e felizes. E que a intimidade nos seja linda para sempre.

Moça, sai dessa de “inimigas”

Moça, sai dessa de “inimigas”

Eu queria tocar algumas polêmicas do feminismo, mas de uma forma leve, sem academicismos, sem muita pretensão. Tentei falar de um jeito que o leitor pudesse chegar até o fim do texto sem ódio no coração. Gerar mais reflexão do que reação. Se não consegui, fica a intenção.

Não menos de uma vez ouvi de algum homem referindo-se a algum ditado ou crença antiga, como o de que duas mulheres dividindo o mesmo telhado é discórdia na certa. Não me lembro bem o dito detalhado, me lembro bem apenas que ouvi muito nesse sentido.

Também já vi, como certamente você também viu, várias piadas que desacreditam a amizade e as relações de cumplicidade entre mulheres.

Fossem apenas os homens crentes e praticantes da discórdia feminina, creio que ela não passaria mesmo de um dito antigo ou de uma piada. Mas é surpreendente o quanto mulheres alimentam entre si, por vezes, creio, sem perceber, esse vício cultural.

Eu não sou lá uma pessoa muito velha, mas desde quando descobri a existência do feminismo até os dias de hoje, algo em torno de uma década e meia, nunca ouvi tanto falar sobre o assunto como agora. Nunca conheci tantas mulheres que se dizem feministas. Nunca vi tantos homens dispostos a conversar e a ouvir sobre o assunto.

Fossem quantidade e qualidade sinônimos e o avanço da nossa civilização no sentido de superar as diferenças biológicas enquanto determinantes, e compreender que gêneros são construções culturais, seria certo. Todavia, como quantidade e qualidade não são sinônimos, eu fico cá com minhas dúvidas.

De uns tempos para cá tenho ouvido dizer que certas celebridades do momento são feministas e fico confusa. De outro lado, assisto a uma rixa tacanha e ranzinza entre bolinhas e luluzinhas que me lembra a época da escola.

Certos comentários sobre o feminismo, utilizando nomes de grandes intelectuais que escreveram sobre esse assunto (e muitos outros, podem acreditar!) que me deixam em dúvida se as li de fato, ou se li alguma outra coisa e a memória me trapaceou.

Felizmente, até agora, a memória vai bem, obrigada. É somente mais uma questão séria encarada de forma superficial em uma sociedade obesa de informação e anoréxica de conhecimento ou sabedoria, palavra esta mais romântica e de muita estima. Nestes tempos, ninguém está completamente a salvo de ser muito (e mal) informado.

Essa informação toda e sua superficialidade pode ter lá suas vantagens, suas potências, sei lá, perguntem ao homem do futuro, ou à mulher do futuro. Eu, humildemente no presente, penso apenas que agora, sem sabermos muito bem no que vai dar essa nossa caminhada humana, podemos ser um pouco mais amáveis e honestos uns com os outros.

Essa febre de chamar outras mulheres de “inimigas”, “invejosas”, “recalcadas” e mais um bocado de adjetivos que não atingem com a mesma violência os estigmas masculinos, me parece bem incoerente com a postura de qualquer mulher que se diga feminista, que se considere liberta dos padrões sociais ou que diga lutar por isso.

Não adianta comprar briga com homens quando nós mesmas, enquanto mulheres, ajudamos a nos diminuir e a nos desvalorizar umas às outras. Atitudes que alimentam o tal ódio feminino, coisa de tempos longínquos demais para dizer que é invenção dessas gênias da cultura de massa.

Acho bem estranho mesmo, que nem tendo muito gosto por certos tipos de composição musical e logo não os ouvindo a não ser pelo acaso, escute por aí, com certa frequência, por tocarem em rádios de diversos lugares públicos ou comerciais, músicas na voz feminina que, se algo mais fazem, pouco mais é do que ofenderem outras mulheres.

Os argumentos são diversos: quase sempre é pela disputa por um macho. E nesse caso, me perdoem, mas a postura é bem de macho e fêmea mesmo, de marcar território, de brigar, ainda que verbalmente, pelo roubo do “amor” ou do sexo do outro enquanto propriedade. Até aí, não está tudo bem, mas fica pior.

Novas formas de ofender uma mulher chamando-a de puta, prostituta e outros adjetivos, como os que já mencionei, são hermeticamente elaborados pelas compositoras para destilar sua amargura em ter sido traída pelo homem com o qual tinham um compromisso, ou alguma situação do gênero.

Eu fico aqui me perguntando, afinal, mais errado é quem assume o compromisso e fura com ele, ou é a outra pessoa que estava livre, leve e solta? De dois erros, o pior, é sem dúvida o primeiro. É uma questão lógica antes de ser uma questão ética. Só se pode cobrar algo de alguém com quem se tem um compromisso, a canalhice não está no feminino, neste caso. Por que, então, é sempre a mulher que paga o pato?

Para ser honesta, não consigo pensar em exemplo melhor do que os casos de “traição” para revelar a incoerência do tratamento entre mulheres e homens. É uma das situações que mais explicita o quanto realmente não damos conta do feminismo. Vou repetir esse exemplo por aí.

Em contrapartida, temos uma porção de músicas melosas falando da beleza de fulana, canções de açougue, dessas que faltam pouco marcar as mulheres como se fossem bois e exaltar a qualidade de suas partes esquadrinhadas.

Todo mundo adora! Ou é romântico ou faz mexer o corpo. É cultura. Afora os exemplos musicais, vemos essa lógica e outras semelhantes reproduzidas em tantos outros meios e, porque não, pelas pessoas em suas redes sociais e relações pessoais.

Tudo bem, tem muita coisa que é cultura sim, para o bem ou para o mal se isso existir. Mas duvido muito que esses exemplares sejam dos melhores da mesma natureza. Há muita gente boa, com ideias mais interessantes por aí, que só não encontra espaço para tornar-se conhecida.

Achar que é uma pessoa politizado porque está ouvindo um rit do momento “não elitizado”, sem questionar ao menos um pouquinho a verdade disso e mais: o que está para além disso, é meio ingênuo.

Mas cada qual com seu qual, não vejo mais quê em delongar as polêmicas do que dizer do que vim dizer. Aquele ditado dito no início, essa visão das mulheres se odiarem entre si, que os homens gostam de cantarolar de forma tão gozada, só se sustenta porque encontra amparo.

Não bastassem tantas questões sociais graves pelas quais as mulheres passam mesmo vivendo no século do futuro, apesar de todas as conquistas que, vamos combinar, vivem ameaçadas; ainda temos que lidar com uma cultura que nos instiga a odiarmos umas às outras.

Só os grupinhos fechados de amigas é que se valem, mas, no geral, critica-se a aparência de outras mulheres por qualquer pormenor. Critica-se a sua vida sexual. Critica-se a sua forma de pensar e de agir. Critica-se o seu comportamento. Critica-se a sua roupa. Critica-se os seus relacionamentos, suas escolhas. Se for bem-sucedida é porque “deu para alguém”, roubou, trapaceou de alguma forma. Infelizmente, não são só os homens que repetem essas coisas por aí…

E falando em homens, todas as mulheres são potenciais inimigas quando o assunto é homem. E, talvez a pior ingenuidade de todas: há aquelas que se pensam superiores por terem identificações e o respeito aparente de seres do sexo masculino, que não raro se utilizam de elogios que exaltam a sua grande diferença e superioridade em relação às outras.

Moça, sai dessa, pense bem: isso é basicamente o mesmo que o cara dizer que “apesar de você ser mulher…” blá blá blá. Não é exatamente um elogio. Enfim, isso te diminui tanto quanto a qualquer outra. Vai chegar uma hora que, conforme a conveniência do assunto e do contexto, o apesar vai sumir e você será como as outras.

Se nós, mulheres, tendemos a nos olhar com olhares maldosos, com desconfiança, com inimizade e tantas outras coisas que vomitam por aí, é muito mais porque, boa parte das vezes, somos criadas para isso (o cristianismo, me perdoem, é um grande contribuinte para essa causa).

Com poucas exceções, reproduzimos uma cultura que dita que nenhuma mulher é completamente confiável, nem homem pode ser amigo de mulher sem um envolvimento sexual latente. Sempre há um risco. Acabamos isoladas em nosso útero.

Temos concursos de beleza para nos rivalizar ainda mais, cultuando uma suposta ideia de que existe uma beleza feminina maior. Já parou para se perguntar por que não tem “mister universo”? Já parou para se perguntar por que as mais importantes competições que envolvem homens (ou nas quais eles são a maioria) englobam grupos ou algo mais do que ter nascido com uma genética favorável à aparência?

Nessa vida, ao menos no que diz respeito ao que culturalmente se arrasta, nada é coincidência. Ir à luta é necessário, é bacana, mas pouco adianta se não mudarmos certas atitudes cotidianas. Defender feminismo no “face” e fazer cara de bunda pra outra mulher porque você acha ela atraente, buscando formas de humilhação e de achar defeitos para desmoralizá-la é incoerência.

Condenar a moça com quem seu namorado te traiu em vez de dar a real nele, cobrar isso dele, e até juntar com ela para falar mal dele, é incoerente. Na boa, presta atenção, é geralmente isso que homens fariam se fosse você a “traidora”. Não é necessariamente o caso agir da mesma forma, mas, no mínimo, agir com razão.

Não podemos continuar justificando com hormônios e TPMs os nossos equívocos quando os nossos argumentos dizem que as nossas distinções biológicas não nos definem social e intelectualmente. Temos muitos paradoxos para lidar no decorrer da vida até fortalecermos a nossa voz, não por gritarmos mais alto, mas por sermos claras e homogêneas o suficiente para sermos ouvidas.

E, por incrível que pareça, precisamos ouvir também… afinal, gênero não é questão de ter pênis ou vagina, mas de uma construção social sobre o masculino e o feminino, que são variáveis conforme épocas e culturas diferentes. Então, a discussão está para muito além de homem e mulher: diz respeito a práticas, a hábitos, a crenças, a costumes, a morais e mais outras questões que podem perpassar por muito mais do que esse aparente binômio.

Já parou para pensar que o que mais ofende um homem, ou o que mais o condena socialmente, é apontar o feminino nele? Por mais de uma vez, e ainda hoje ocorre algumas vezes, o feminismo é confundido com expurgar o feminino a qualquer custo. E, por vezes, essa parece mesmo uma solução, diante dos nervos cansados que não querem carregar o sofrimento desse gênero.

Às vezes parece que a solução é se igualar aos homens, e muitos homens e mulheres entendem erroneamente dessa forma a questão feminista. Não se trata disso. Pode ser que exista alguma teoria aí que diga o contrário, mas de modo algum é essa a questão. Sequer há sensatez em algo assim.

O que precisamos mesmo é amar mais o feminino, é valorizar mais o que é nosso, nossas singularidades (a sua e a das outras), é olharmos com a mente mais aberta para o que é nasce do universo feminino. Decidir o que vai e o que fica, porque temos propriedade para fazer isso.

Precisamos mesmo é nos conhecermos mais, entendermos melhor o que temos em comum umas com as outras e deixar esses ódios de lado. É prestar atenção que tem feminino em muito mais do que nas mulheres e que só falta isso ganhar seu destaque merecido. É tentar encontrar um equilíbrio e não tentar competir com aquilo que criticamos, o tal do machismo, como se quiséssemos tomar seu lugar opressor. Não queremos, acredito, a existência de qualquer lugar opressor.

Não se trata de tomar o lugar de uma atitude conservadora e agressiva que favorece o masculino para colocar o feminino no lugar. É acabar com a ideia de que existe um melhor e um pior, é tirar o conservador e o agressivo da frase, e deixar o masculino e o feminino em interação. É acabar com a dominação de uma coisa pela outra, para que elas possam se potencializar em vez de se anularem.

E se te parece romântico pensar nessa realização enquanto macro, eu concordo. Mas enquanto micro é perfeitamente possível. Sair desse papo de inimigas, de recalcadas, de desleixada, de puta e etecetera e tal para depois vir pedir homens para respeitarem mais as mulheres já é um começo.

Comece por você, mude seu olhar e seu discurso sobre o feminino e já vai desarmar muito machismo por aí. Comece pelas suas amigas, trazendo outros pontos de vista quando o impulso é reproduzir esses discursos. Comece tendo um pouco mais de empatia com a pessoa que é do mesmo sexo que o seu e está sujeita às mesmas pressões que você.

Sai dessa de “inimigas”, pois se não podemos ser todas amigas, no mínimo, podemos ser cúmplices.

Imagem de capa meramente ilustrativa- cena da série “Xena, a princesa guerreira”

Não espere ver o outro sangrar para constatar que machucou

Não espere ver o outro sangrar para constatar que machucou

Imagem de capa: David Prado Perucha, Shutterstock

Não aguarde muito tempo para deixar a consciência falar e trazer as malas pesadas da culpa. Não conte com o esquecimento alheio. Quem é ferido não esquece fácil, porque a dor não deixa.

Se num momento de raiva você machucou alguém, o momento imediatamente seguinte deve ser dedicado ao retorno do equilíbrio, às desculpas e consolo de quem foi injuriado.

Não espere o sangue aparecer para se dar conta que feriu alguém. As feridas secas e sem hematomas são as que mais doem. E as cicatrizes fecham e depois abrem novamente, para se alimentarem de rancor e, muitas vezes, vingança.

Não ouse achar que o perdão já está garantido. Não recolha suas pedras atiradas contando piadas. Não faça pouco caso do que o outro sente quando ferido.

Muitas vezes, ser machucado não é tudo. Ainda pior, é sê-lo por você, de forma inesperada. A confiança despedaçada, a espontaneidade que dificilmente retornará, a má impressão que sempre acompanhará…

Os grandes feridos dão entrada nas emergências de hospitais buscando cuidados urgentes, de quem estiver de plantão. Os profundamente feridos, caem num precipício profundo e cheio de ecos. Caem de susto, de tristeza, de incredulidade e decepção.

Não seja você a criatura que empurra. E, se por infelicidade ou incapacidade o fizer, trate de pular logo atrás, com um corda bem grande e pesada, e traga de volta, nem que seja nas costas, quem foi ferido por suas razões.

Não se iluda ao acreditar que agressões, veladas, silenciosas, vociferadas, enganosas, maldosas, não trazem de volta sérias consequências.

No calor do momento, escolha não ser o agressor. E se esbarrar com alguém sangrando, ofereça um curativo.

Nunca se desculpe por ter dito a verdade

Nunca se desculpe por ter dito a verdade

Em um mundo de aparências líquidas, amizades frágeis e amores fracos, ser verdadeiro tornou-se quase que uma ofensa. Ou andamos de acordo com a onda hegemônica do lugar comum, subjugando-nos ao que a maioria dita como normal, ou sofreremos a incompreensão, muitas vezes violenta, de muitos. Haja o que houver, não se furte de dizer a verdade.

Não se desculpe por ter alertado ao amigo sobre as atitudes que fazem dele uma pessoa pior, chamando à realidade de seu comportamento, toda vez que ele se desviar dos caminhos serenos da ética, enveredando para os descaminhos perigosos e, muitas vezes, sem volta. Amigos não servem apenas para beber cerveja, mas também para ajudarem-se enquanto seres humanos decentes.

Não se desculpe por ter se colocado, ao colega de trabalho, quanto às atitudes dele que lhe desagradam, sobre a necessidade de haver limites de tolerância, para que você não se sinta prejudicado. Sempre existirá quem queira puxar o tapete do outro, de forma a tentar se sobressair às custas das falhas alheias, em vez de se destacar pelo que se é. Sim, a estes deve ficar claro nosso nível de paciência.

Não se desculpe por ter dito aquilo que pedia o seu coração, mesmo que tenha sido um tanto quanto antipático, desde que não tenha sido grosseiro – podemos ser firmes sem ofender, sim. Inevitavelmente, por mais que nos calemos diante do que nos desagrada, necessitaremos por para fora esse nó que engasga o nosso emocional, ou adoecemos. Somente engolir acaba nos forçando a cuspir fogo na hora errada e com quem não merece.

Não se desculpe por ter dito “eu te amo” todos os dias em que estiveram juntos, por ter amado com todas as suas forças, pela entrega inteira, total, integral, pelo mergulho no mar de sentimentos que invadia a sua essência enquanto construía seu relacionamento, por ter desejado invadir a afetividade de quem você amava acima de tudo. Errado não é se lançar por completo e insistentemente ao encontro de quem faz o coração vibrar, mas sim fugir covardemente de alguém por medo do não, da dor, medo do amor.

Todos sabemos, – de tanto ouvir e ler sobre – o quanto a verdade harmoniza, acalma, elucida, fortalece. Tudo o que perdermos em razão de termos sido verdadeiros foi embora como bênção, como livramento, afinal, o que nos alimentará a esperança e a certeza amorosa sempre será aquilo que vier de forma transparente. O resto, dispensa-se por si só.

Imagem de capa: Creative Lab, Shutterstock

Liberdade para sentir

Liberdade para sentir

Imagem de capa: Bogdan Sonjachnyj, Shutterstock

Com o tempo, você aprende que nem todos os laços devem ser mantidos. Você aprende que, algumas pessoas, simplesmente não cabem no mesmo coração. Porque diferenças são respeitáveis, mas a falta de entendimento e compromisso para com elas, não podem ser ignoradas. Algumas pessoas confundem carências com sensibilidades. Colocam no mesmo saco, ego, possessão e amor.

Com o tempo, você aprende que não há nada de errado em dizer adeus. Partidas não podem ser evitadas ou camufladas. Insistir numa relação que flerta com o fim, é fazer do próprio corpo um martírio desnecessário e destrutivo. Gostar não é isso. Admiração não é isso. Trancafiar sorrisos para ajudar quem pouco reconhece, atrofia o seu desenvolvimento. Nada de permanecer sociável por aparências, interesses e outras desculpas frágeis das quais você é induzido.

Com o tempo, você aprende que amizade é escolha. Favores não podem ser postos numa balança, como quem quer estipular valores e pontuar os níveis de fraternidade. Quem adentra nesse caminho não precisa de amigos, mas de autoafirmação. E bem sabemos que o mundo anda repleto de rostos estampados em outdoors, buscando nada menos que a sua atenção e energia.

Com o tempo, você aprende que amor é liberdade. É direito de ir e vir quando quiser, para quem quiser. Fidelidade é você ser honesto a respeito do que sente. Traição é você ignorar o próprio querer para agradar um outro alguém. Quando isso acontece, o carinho passa distante. Se você não está entregue para um abraço, então por que abraçar? Só deposite o que lhe cabe, mas não cobre o que não vier a ficar.

Com o tempo, você aprende que nada é preto no branco. Uma moeda tem de dois lados, mas isso não permite um alvará para um desfile ignorâncias. Conhecimento é perspectiva. Sentimentos, também. Tenha paciência, mas seja audaz. Tenha força, mas preze pelo equilíbrio. Tenha você, mas compartilhe o nós.

Mães e Pais têm licença poética para serem ridículos

Mães e Pais têm licença poética para serem ridículos

Imagem de capa: Rawpixel.com, Shutterstock

Estava eu divagando sobre a vida, sobre o sentido que damos a ela e como, muitas vezes, ela vai se desenhando por si só, e observei que um desses desenhos que ela se encarrega de traçar, rabiscar e colorir, de uma maneira muito singular, é a maternidade/paternidade.

Quando nasce um filho, nascem também uma mãe e um pai. O “nascer” mãe/pai não se dá como a data e horário do parto dos bebês, por exemplo: nasceu dia 04 de fevereiro de 2013, às 15:47 horas. Mãe e pai ficam nascendo o tempo todo, adaptando-se às necessidades do rebento e se transformando para acompanhar as fases de seus filhos. Haja amor para tantos partos de um mesmo filho, primeiro bebês e crianças, depois pré-adolescentes, adolescentes e, finalmente, adultos.

Lembro-me de amigas que me mostravam incansavelmente as fotos de seus filhos que estavam no celular, eram fotos em todas as poses. Que chatice! Eu não era mãe! Além do mais, para mim, recém-nascidos sempre tiveram uma semelhança com joelhos: eram bonitinhos, mas inchadinhos e sem forma.

Desmarcar compromisso de trabalho porque não tinha com quem deixar o bebê ou porque adoeceu, sempre achei antiético e irresponsável. Emocionar-se quando o filho deu o primeiro passo, falou a primeira palavra, era desnecessário, afinal, é isso que se espera de uma criança, que ela se desenvolva. Mãe/pai chorar porque chegou o dia de a criança ir para a escola, qual o sentido? Afinal, todas as crianças precisam se socializar e aprender a ler e a escrever.

Até que meu filho chegou, eu “nasci mãe” e, aos poucos, tudo isso foi fazendo sentido. Mostrar fotos para todos, inclusive para aqueles que não querem ver (não são mães/pais), era quase uma obsessão. Recém-nascidos não têm mais cara de joelho, consigo identificar as características que são da mãe e as que são do pai, mesmo num rostinho tão pequeno.

Se meu filho adoece, desmarco compromissos pessoais, profissionais, e, se no dia tiver um encontro com o papa, infelizmente também terá que ser desmarcado. Entendi perfeitamente o drama de mães/pais que deixam seu filho no primeiro dia de aula, na escolinha, pois hoje eu sei que é a primeira “grande” separação.

Nascer mãe/pai faz com que nos preocupemos com uma possível terceira guerra mundial, com a fome, a Batalha de Aleppo, tsunamis, terremotos, falta de acesso à educação, saúde e segurança; surtos de doenças, acidentes de trânsito, política e economia, enfim, preocupamo-nos com tudo e com todos.

Mãe/pai tem um olhar refinado para identificar a dor do outro, maior disponibilidade interna para perceber crianças ou famílias que precisam de apoio e ajudá-los. De forma alguma digo que quem não tem filhos não seja capaz de se preocupar e se mobilizar para fazer um mundo melhor, mas afirmo que o “olhar” de mãe/pai faz uma leitura diferente de tudo ao redor.

Nascer mãe/pai traz muitas alegrias, damos outros significados para a vida e importância para as pequenas coisas, mas viver dói mais. Tornar-se mãe/pai é se preocupar com tudo que acontece à volta e principalmente com o filho. É consultar a previsão de tempo antes de sair de casa, especializar-se em comidas saudáveis, pesquisar se existe um sequestrador de plantão nos arredores, tornar-se PHD em vacinas, estudar como se deve criar um filho no Google (porque tem horas em que não confiamos no nosso instinto).

Ser mãe/pai também é tornar-se mais sensível: choramos pelos filhos de outras pessoas, pelas crianças inocentes que morrem, sofremos com as mães/pais que perdem seu filho. Mãe/pai são pessoas fáceis de se reconhecerem, choram até em propagandas de margarina, mas são sábios o suficiente para dar importância ao que realmente vale a pena. É apreciar um domingo de sol para passear no parque, é identificar o sorriso das pessoas na rua, é admirar a professora do filho, é conciliar o trabalho com ser mãe/pai, é manter as amizades nessa trajetória da vida.

Talvez sejam coisas singelas, mas, possivelmente, sejam essas coisas que dão sentido à vida: sorrisos, beijos, abraços, momentos e a paz. Ser mãe/pai traz muitos desassossegos, mas refina nosso olhar para enxergar beleza nas coisas pequenas e acreditar no que vale a pena, é ter fé na vida.

E o que seria do mundo se não fossem as mães/pais que fazem outra leitura dele? Que sentem, compreendem a vida com mais ternura? Que transbordam um amor diferente?

Sendo assim, digo que mães/pais têm o direito de mostrarem as fotos de seus filhos para todas as pessoas, de chorarem quando os deixam na porta da escola, de se emocionarem com o primeiro passo e a primeira palavra, de não dormirem às vésperas das vacinas doloridas, de se deprimirem diante das atrocidades que são cometidas com milhares de crianças no mundo, porque tudo isso faz sentido quando se nasce mãe/pai.

Mães/pais estão sempre com lágrimas nos olhos que podem ser de amor ou dor. Estão sempre em estado de alerta para protegerem o filho ou outra criança. Somos bons em ensinar a afetividade e a ternura, mas somos melhores ainda quando se trata de defender nossas crias.

Eu duvido que mães/pais não tenham exercido sua “ridiculez” defendendo com “unhas e dentes” o seu ideal de criar o próprio filho, quando duvidou do pediatra, quando o filho apanhou de um coleguinha, quando algum familiar questionou a educação dada à criança, quando houve critica à comida oferecida ao bebê, enfim, a lista é infindável.

Por isso eu digo: nós, mães/pais, temos licença poética para sermos “ridículos”!

E vamos continuar sendo “ridículos”, pois ainda há muitas coisas a serem feitas para melhorar o mundo para as nossas crianças.

É preciso saber quando é hora de entrar em um relacionamento

É preciso saber quando é hora de entrar em um relacionamento

Imagem de capa: Vitalii Vitleo, Shutterstock

Muitas vezes, queremos guardar os nossos melhores sentimentos para apenas demonstrá-lo em um momento certo. Muitas vezes, medimos a nós mesmos e ao outro para saber o que podemos ou não dizer. Muitas vezes, procuramos apenas trocar, no sentido de que só damos ao outro o que também recebemos dele.

O relacionamento, nessa perspectiva, é como um rio no qual eu não sei se vou ou não pular.

Estamos isolados no alto de uma rocha, vendo tudo do alto e com vontade de apreciar aquele prazer que só um rio pode nos dar. Aquela refrescância da água gelada em todo o corpo; aquele sentimento de estar boiando deixando tudo nos levar; aquele sentimento de nadar e fazer cambalhotas só porque podemos; aquele momento em que muitas coisas fazem sentido ao lado do rio e começamos a ver por outras perspectivas; aquele momento em que não nos preocupamos muito com o que está acontecendo fora dali (nossos problemas não importam, as notícias do jornal não importam, os likes que possamos ter não importam). Um momento único em que você se sente sendo levado.

Então, estamos nós planejando, calculando, raciocinando, problematizando, dificultando e comparando a respeito de pular no rio. Queremos saber a melhor hora, a temperatura perfeita da água para entrarmos, o vento mais favorável, o local mais seguro e a parte mais visível e transparente da água. Imaginamos as probabilidades de o pulo sair errado e de algo de ruim acontecer conosco. Comparamos com os rios que já mergulhamos e com os de que já ouvimos falar, desde conselhos antigos e histórias mal contadas de amigos. A cada momento, problematizamos e descobrimos um novo motivo para não pularmos.

Pensamos tanto, que ficamos ali parados, feito estátuas, endurecidos, como se estivéssemos à espera de um sinal - esperamos por um milagre. Podemos ficar nessa posição por muito tempo. A outra pessoa pode ter pulado e podemos estar ali só disfarçando que vamos também, dando um desculpa boba de que estamos esperando as melhores condições, a temperatura melhorar.

Há um instinto de autoproteção nessa atitude, ao não pular e algo de imprevisível acontecer no rio. Podemos dizer para nós mesmos: “ainda bem que não pulei, ainda bem que não fiz essa besteira, ainda bem que não perdi o meu tempo ali”. Ao fazer isso, nós nos passamos por ganhadores, corajosos e inteligentes.

Mas será que é isso mesmo?

Ao ficarmos à margem, perdemos todo o prazer de sentir como é entrar naquele rio. Vamos voltar para casa com um certo arrependimento de não termos pulado e postergar mais uma vez a dádiva de viver o nosso momento e de ser feliz.

Perceba que não existe um mapa ou um planejamento detalhado sobre como pular no rio. Tome as medidas básicas de proteção (amor próprio) e vá sentir como aquele rio é.

Não estou dizendo que é para entrar em qualquer relacionamento que apareça, isso seria uma grande falta de bom senso. Aqui, o importante é se conhecer e saber se esse relacionamento faz bem - não ferindo e nem diminuindo. Querer algo perfeito é esperar por algo que nunca vai chegar.

O perfeito só existe na sua cabeça. Aceite o que aparece à sua frente e pule nele. Ao pular, você vai poder transformar o seu relacionamento no que quiser.

Saiba que não há nada melhor do que demostrar os seus sentimentos e que isso é ter coragem. Isso é pular no rio. O medo pode estar presente, mas ele não vai lhe impedir de agir.

Demostrar seus sentimentos é ser quem você é - a sua essência. É ser livre de dogmas, culturas, preconceitos e culpas. É saber que: sempre quem dá tudo que tem é quem ganha tudo. Não guarde sentimentos, entregue-os com muito amor. Não faça trocas e nem cobre os sentimentos dos outros, deixe tudo livre e faça tudo por você. A grande diferença é que você mostra quem é  por você , não pelo outro. Você é fiel a si mesmo e não está disposto a se podar para se encaixar em padrões sociais.

“Nós nos complementamos, mas não completamos. Você vê? Seu relacionamento de amor complementa. Não preenche, não é para isso que estamos aqui. Podes pensar assim, e podes viver toda tua vida nisso. Mas, assim que descobres a verdade, então sinto que podes ser um parceiro muito bom. Porque sua parceira será tua guru, e tu serás o guru dela. Porque estão os dois focados dentro, no mesmo, no amor pela verdade. Não afastados. De outra forma, parece que muitos relacionamentos são um obstáculo, por estarem tão enredados em realidade. A maioria dos relacionamentos promovem a dualidade. Poucos intensificam a procura pela verdade, de alguma forma. Pode ser um amigo, um relacionamento, sua conexão, sua relação como amigo, como parceiro, potencializa sua busca pela verdade. Embeleza-a! Mas não é muito comum. Mas, ao mesmo tempo, todos os relacionamentos podem fazer uso disso para encontrar a verdade também. Porque um relacionamento romântico é aquele que pode te levar à situações que outro tipo de relacionamento não consegue. Compreendes? Coloca-te em situações que nenhum outro relacionamento consegue. E te permite dizer: ‘a-ha! Até aqui consigo ver’. (…) Portanto, todos os relacionamentos podem ser úteis. Tudo pode ser útil. Na verdade, à medida que vais mais à fundo na verdade, verás que tudo te reflete.” —  Mooji, em “The Need For A Partner” (2013)

Ame sempre e seja fiel a quem você realmente é.

“Triste é viver mais de touch do que de toques”

“Triste é viver mais de touch do que de toques”

Imagem de capa: nelen, Shutterstock

“Triste é viver mais de touch do que de toques” – Zack Magiezi

A nossa realidade é respaldada de avanços e sucesso, dizem até que a nossa geração evoluiu muito e continua a evoluir. Mas o que percebo é que, nesse “mundo moderno” em que vivemos, temos deixado cada vez mais para trás coisas importantes.

No mundo “moderno”, as pessoas não se falam mais. Os telefones não param de tocar, devido aos inúmeros compromissos diários. Aquele “vamos marcar algo” fica apenas na teoria e deixamos sempre para depois, porque precisamos terminar a tese de mestrado, entregar o trabalho da faculdade ou estudar para aquela prova. Dispensamos as pessoas e assumimos cada vez mais compromissos.

No mundo moderno, a tecnologia continua a evoluir e a alma humana continua a mesma por aí, esbanjando egoísmo e preconceito, justificando suas intolerâncias com verdades que ela mesma cria. Os gestos afetuosos foram trocados por mensagens nas redes sociais, afinal, é mais fácil, porém, cada vez menos sincero.

Namoro já virou novidade e compromisso é coisa de quem quer perder tempo. A lei do desapego tomou conta e o desinteresse é o que paira sobre as relações. Quanto menos você demonstrar, melhor – esse é o ditame atual.

No mundo moderno, as mãos estão sempre ocupadas para segurar os aparelhos, os tablets, smartphones e afins, mas nunca estão dispostas a saudar com um bom dia as pessoas ao redor ou a ajudar quem tanto precisa de nós. Os olhos estão sempre atentos às mensagens e notificações, mas não conseguem perceber a dor de quem mora ao nosso lado, de quem convive e partilha o dia a dia conosco.

Os ouvidos sempre estão atentos para as novidades, mas não conseguem escutar aquele “eu te amo” ecoado baixinho pelos pais logo pela manhã, ao sair de casa. Não conseguem acolher alguém que precisa apenas do nosso abraço, da nossa força, da nossa coragem.

No mundo moderno, a boca sempre está pronta a indagar e responder bravamente, mas nunca preparada para soar uma palavra que transmita afeto e respeito ao próximo. Vejo cada vez mais ambição e menos compaixão nas pessoas. O tal “subir na vida” não respeita mais o espaço do outro, a ética e o bom senso. A competição é livre e vence quem jogar melhor.

No mundo “moderno”, ter é mais importante do que ser. E a alma humana continua a mesma: acreditando ser superior e dotada de razão, justificando suas falhas ao invés de assumi-las, apontando o dedo para o erro do outro, sem antes mesmo corrigir os seus.

É uma pena que, no mundo moderno, tenham se esquecido daquilo que não se perde com o tempo, daquilo que não sai de moda nunca: o respeito, o amor sincero e o toque acolhedor. Esqueceram-se de que ser feliz é uma proeza e não há nada melhor do que a consciência tranquila no final do dia. De que bonito mesmo é olhar para o outro com compaixão, saber olhar com bondade quem tanto precisa de nós.

Moderno mesmo é o amor que fica depois dos vendavais, quem é corajoso para desbravar uma história de amor e assumir o que sente, mesmo em meio a tanto caos do tal desinteresse.

Bonito mesmo é o respeito com as diferenças, as opiniões e quem evita a todo custo julgar o outro, mesmo quando todos insistem em apontar o dedo. É uma pena, como diz Zack Magiez, que a nossa geração seja cada vez mais do touch e cada vez menos do toque.

“Não existe mãe solteira, mãe não é estado civil”- feliz e nobre colocação do Papa Francisco

“Não existe mãe solteira, mãe não é estado civil”- feliz e nobre colocação do Papa Francisco

Por mais que o tempo passe, alguns ranços teimam em persistir, permeando os valores sociais, distorcidamente, de forma a emperrar os avanços necessários e urgentes. Um deles diz respeito às mulheres que engravidam sem estarem casadas. Sim, por incrível que pareça, ainda existe muita gente que condena, mesmo que veladamente, esse tipo de atitude, culpabilizando tão somente a mulher por uma responsabilidade que não é só dela.

É preciso que duas pessoas estejam envolvidas no ato sexual, para que se conceba uma criança, pois a mulher sozinha só concebe filho sem a presença física do homem com a ajuda da medicina, até onde se sabe. Embora seja a mulher quem abrigará o filho em seu corpo, aquele ser humano que se desenvolve é resultado do ato de duas pessoas, ou seja, tanto o pai quanto a mãe têm sua parcela de responsabilidade sobre as consequências do que ambos fizeram.

Mas, como é a mulher que empresta toda a sua força, abrigando o filho em seu corpo, é sobre ela que os olhares acusatórios se voltam, é contra ela que se atiram as censuras, é sobre ela que os comentários maldosos versam. É como se coubesse somente à mulher os cuidados e responsabilidades para que a gravidez indesejada fosse evitada, como se o homem se isentasse naturalmente de qualquer participação na concepção, afinal, não é a barriga dele que cresce. Quanta injustiça.

E, assim, atrelamos um “solteira” junto à qualidade de mãe, enquanto os pais, também “solteiros”, parecem sair incólumes frente aos atrasos que se juntam ao preconceito nos discursos de muitos. O Papa Francisco não poderia ter sido mais feliz e nobre em sua colocação sobre mãe não ser um estado civil: mães são pessoas que criam os filhos, acompanhadas ou não, simplesmente porque mães se assumem desde o início, ao passo que muitos pais se negam a arcar com o que lhes cabe e, pior, com a conivência de muita gente.

A sociedade necessita urgentemente rever alguns conceitos que, além de equivocados, trazem dor junto à vida de quem justamente precisa de apoio e de força para continuar. Existem mulheres que tomam para si a tarefa de serem mães, tenham ou não gerado a criança em seu ventre, assim como existem homens que assumem a responsabilidade sobre o filho, ao lado daqueles que fogem a qualquer coisa que lhes obrigue a crescer. Porque estado civil das pessoas não diz absolutamente nada a respeito de seu caráter. E ponto.

Campanha “Adote um Avô” une jovens e idosos que vivem em asilos

Campanha “Adote um Avô” une jovens e idosos que vivem em asilos

Imagem de capa: REPRODUÇÃO

A Adopta um Abuelo (Adote um Avô) é uma organização sem fins lucrativos que se encarrega de juntar jovens e idosos. O intuito é incentivá-los a compartilharem experiências, rir, aprender e falar sobre a vida. Além de quebrar preconceitos, o convívio entre eles ajuda a combater a solidão, que segundo o fundador Alberto Cabanes, é o inimigo número um da velhice.

O projeto circula por diversas cidades espanholas e nasceu no Natal de 2013, quando Cabanes foi visitar seu avô Clemente em um lar de idosos. Lá ele conheceu Bernardo, um dos residentes.

Sem filhos, Bernardo contou o seu desejo de ter netos, para que assim pudesse receber a visita deles no Natal. Emocionado ao ouvir o relato, Cabanes não teve dúvida e logo disse: “eu te adoto, Bernardo.”

“Tive a sorte de ser criado pelos meus avós e de aprender com eles valores impagáveis. Ninguém merece estar só. E nos lares há muita solidão”, contou o fundador em entrevista ao jornal El Mundo.

O contato e o cuidado desses jovens netos têm resultados concretos, pois ajuda a diminuir os índices de ansiedade e depressão, melhorando a autoestima.

A iniciativa conta hoje com mais de 200 voluntários, responsáveis pela adoção de aproximadamente 100 idosos.

Se você quer saber mais sobre o projeto ou como pode ajudar, basta clicar no site oficial da campanha.

Alguns vazios são absolutamente cheios de histórias

Alguns vazios são absolutamente cheios de histórias

O que seria de nós sem essa mistura, meio louca, meio linda, e meio atrapalhada, de tantas venturas e desventuras que vão nos arquitetando ao longo dessa jornada?

Amores que deram certo, amores que não chegaram a acontecer, amores com os quais vivemos a sonhar, até aqueles que não deram em nada, ou deram completamente errado… É esse o vento em nossas velas. É isso que nos faz navegar.

De nada vale um dia se não amamos as coisas que temos, o trabalho que escolhemos, os amigos que acolhemos, os planos que tecemos, as vitórias que merecemos e os erros que cometemos. Ainda que nada seja pra sempre. E não é. Ainda, assim, só terá valido a pena qualquer coisa que nos tenha feito sentir amor.

Amor não é só feito de encontros e histórias de romances. Amor é também desencontrar-se do idealismo e das projeções. Abrir espaço, no peito e na vida, para relações que vão além dos finais felizes.

E quem é que quer um final feliz, afinal de contas?! O que a gente quer é que a nossa história seja escrita em capítulos intermináveis. Que haja outros motivos novos pelos quais a gente queira sair da cama, sair na rua, sair do prumo!

E é bom que a gente entenda que haverá dias assim, assim… meio sem sal e sem açúcar. Dias morninhos. Dias de calmaria. Dias que podem oferecer espaço para pausas bem-vindas. Reticências. Vírgulas.

Pausas são aqueles intervalos de gozo ou dor, em que somos agraciados pela vida com algumas chances de aproveitar a própria companhia.

Parar. Respirar. Olhar para os vazios com a mesma amorosidade que se olha para as conquistas ou os sonhos. Páginas em branco podem ser tão lindas quanto aquelas preenchidas de aventuras.

Há vazios que são absolutamente cheios de história. Esses espacinhos vagos, desocupados. Momentos da vida que nos ensinam a silenciar, a não dizer, a observar. Histórias diáfanas, incompletas, singulares.

Parar. Respirar. Dar a si mesmo o tempo necessário de absorver o que foi sorvido na avidez de ser feliz; na ganância de abraçar o mundo sem medir os braços; na voracidade de viver tudo de uma vez, como se amanhã nunca fosse chegar.

O que já foi, é lição dada. Se temos, ou não, a sabedoria de aprender, fica na nossa conta. O que está ao nosso alcance é ler nossas próprias histórias, com o desprendimento necessário para deixar ir o que não cabe mais, e oferecer páginas em branco para que histórias diferentes possam ser escritas.

O que nos cabe é a imensidão de novas e insondáveis oportunidades. Outros erros. Quem sabe alguns acertos. E a certeza absoluta de que é no improvável que reside o gosto da vida. Porque sabores previsíveis acabam perdendo a graça e lições que se repetem não servem para quase nada.

Imagem de capa meramente ilustrativa: cena do belíssimo filme “Out of Africa”.

A era do medo crônico

A era do medo crônico

Imagem de capa: Everett Collection, Shutterstock

Tenho me deparado nos últimos tempos com pessoas que sofrem de medo crônico:

Medo de andar sozinho na rua, medo de dormir de janela aberta e algum bicho entrar; medo de perder a carteira, medo de se atrasar, medo de comer algo e passar mal, medo de perder algum prazo, medo de perder o (a) namorado (a), medo de ser incompreendido, medo de não realizar os próprios sonhos.

É claro que a falta de segurança nos grandes centros urbanos, bem como o aumento da violência, contribuem para o crescimento desse tipo de sentimento, e é claro também que devemos nos manter alertas para evitar certos perigos reais. Caminhar na orla do Rio de Janeiro ou na Avenida Paulista às onze da noite falando distraidamente num iPhone, por exemplo,  é dar sopa para o azar. Uma pena que seja assim, mas…

Uma pessoa que já foi assaltada diversas vezes, logicamente terá medo de passar pelo desconforto novamente. Como diz o velho ditado, “gato escaldado tem medo de água fria”. A instabilidade econômica também gera um medo real de perdermos nossos empregos, isso é natural.

Mas será que todos os nossos medos são reais?

Desconfio seriamente que não. E desconfio, também, que se não lutamos contra esses fantasmas eles acabam proliferando e se tornando um modo de ver a vida e, portanto, de estar no mundo.

Isso não seria um problema, se a mente condicionada no medo não gerasse tanto desconforto e sofrimento e não impedisse avanços e conquistas.

Para quê serve o medo, afinal? Numa primeira instância, para nos proteger. Ok. Porém ele nos protege de quê, exatamente?

Talvez de nós mesmos. Talvez da surra que daremos em nós mesmos se cometermos algum erro, se dermos mole em algo.

Tenho notado que as pessoas mais condicionadas na energia do medo são aquelas que exigem muito de si e não se permitem errar; pessoas que se preocupam demais com o que os outros possam falar ou pensar delas, que se maltratam em demasia quando cometem um pequeno deslize e que são, portanto, extremamente vaidosas.

O que pode nos levar a crer que o medo talvez possa ser um efeito colateral da vaidade, não?

O vaidoso não é aquele que cuida da aparência ou que se julga acima do bem e do mal. O vaidoso é aquele que não suporta a ideia de não ser bem quisto e bem visto por todos –  o que é impossível, nem Jesus Cristo e o brigadeiro de panela conseguiram essa façanha.

O contrário do medo não é a coragem. Corajosos são os que sentem medo e prosseguem apesar do medo.

O contrário do medo é a humildade. A humildade de reconhecer os próprios limites, de saber-se falho por natureza, de não querer agradar a todos, de não esmorecer diante de uma crítica, de saber-se impotente diante do grande mistério chamado “vida”.

Todavia ninguém padece de vaidade porque quer, trata-se de um mecanismo de defesa como qualquer outro, e, como qualquer outro mecanismo de defesa, acaba ativando emoções nada gratas, como o medo.

Sente medo quem não quer perder a admiração de alguém. Sente medo quem não conhece a própria força. Sente medo quem finge ser o que não é. Sente medo quem precisa desesperadamente de amor – não o amor das carnes, o amor do meio-dia, mas o amor pelo que se é; o amor que aceita e conforta, que dá sentido às coisas e que, ao invés de despir, oferta a melhor das roupas: a nossa própria pele.

É quando estamos nus de nossas vaidades e vontades que os medos se transformam no que realmente são: pequenos brincos perdidos no chão.

Ter fé e ver coragem no amor

Ter fé e ver coragem no amor

Imagem de capa: Hrecheniuk Oleksii, Shutterstock

Quem pensa que estamos distantes do amar, não sabe por quantos abraços já passamos para chegarmos até aqui. Vai muito além dos pesos e medidas embutidos nos relacionamentos frágeis e clichês. Não precisamos disso. Somos dois recipientes que transbordam cumplicidade pelos lábios. Ter fé e coragem no amor é o nosso lema, é a nossa história.

Estar com você dá um sossego na alma. Quando trocamos olhares, egos passam longe. É admiração mútua sem uma necessidade de cobranças e compensações. Apenas entregamos palavras, depositamos carinhos e permitimos êxtases. Não existe dúvida no tempo compartilhado. Todos os dias você me mostra que sorrisos são a melhor forma de demonstrar respeito e empatia. E fico tranquilo, afastando qualquer resquício de preocupação ao saber da nossa entrega por escolha.

Tenho fé em nós. Enxergo coragem em nós. Porque seguimos sinceros na contramão dos amores construídos através de encomendas e curtidas. Quem me vê desacompanhado de promessas, desconhece que você é o motivo. Abandonei, amores atrás, essa coisa de ficar declarando juras para falar de sentimentos. É bem mais honesto confiar no amor um instante por vez, gestos por dia. Desse jeito, não somente reconhecemos e contemplamos momentos com mais ternuras, como também traduzimos, sem ruídos, esse querer de dois.

Mas, acima de tudo, é importante deixar claro que você é livre, tanto para ficar quanto para ir embora. O que seria do amor se não entendêssemos que a sua amplitude reside na transitoriedade? Amar é movimento contínuo, indefinido e impreciso.

Quem pensa que estamos próximos do desamor, não sabe por quantas partidas já passamos para chegarmos até aqui. Vai muito além das indiferenças e possíveis opostos comentados nos relacionamentos preguiçosos e sem perdões. Não precisamos disso. Somos metades que não se preocupam com preenchimentos, mas que fazem questão de somar.

Ter fé e coragem no amor é o nosso princípio, meio e fim.

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