“Estamos todos numa multidão e numa solidão ao mesmo tempo”

“Estamos todos numa multidão e numa solidão ao mesmo tempo”

Imagem de capa: Rob Z/Shutterstock

“Estamos todos numa multidão e numa solidão ao mesmo tempo”, disse Zygmunt Bauman. Uma frase aparentemente contraditória que elucida os relacionamentos modernos.

Em um mundo cada vez mais conectado, é de se estranhar a tamanha solidão que nos forma. Desse paradoxo, Bauman tirou a sua emblemática frase, uma vez que estava atento para a relação entre esses dois fatores.

É indiscutível os grandes avanços que o desenvolvimento tecnológico permitiu, principalmente, no que tange às tecnologias da informação. Entretanto, é preciso, como fez o sociólogo polonês, estar atento às problemáticas trazidas e/ou potencializadas a partir do desenvolvimento tecnológico.

Para ele, o grande atrativo dos relacionamentos desenvolvidos no meio virtual, as “amizades Facebook”, está na facilidade em desconectar que estas possuem, dispensando todo o desgaste que uma relação concreta exige. De fato, a internet permite que amizades sejam construídas e desconstruídas em um clique, todavia, isso não é um fato que se resume à internet, podendo ser tranquilamente aplicado às relações “concretas”. Dessa maneira, o Facebook e toda a parafernalha tecnológica desenvolvida “apenas” potencializaram a dificuldade existente em nós de criar laços.

Apesar de não ser a causa propriamente dita, as tecnologias da informação não perdem o seu caráter problemático e contraditório percebido por Bauman, já que sendo aportes criados para promover a conexão, é contraditório como as suas próprias estruturas estimulam a desconectabilidade entre as pessoas. Mas, novamente, isso só acontece em função da nossa formação enquanto indivíduos, sendo, portanto, o maior (ou real) problema o homem e não a máquina.

Sendo assim, o problema deve ser encarado como um via de mão dupla, uma vez que o mundo virtual e o mundo real estão interligados, e a peça de ligação é o homem, de modo que se há condições para uma maior aproximação entre as pessoas, seja entre pessoas que se conhecem no mundo real (pois muitos dos nossos contatos no mundo “online” também existem no mundo “off-line”), seja entre pessoas que se relacionam “apenas” virtualmente, e isso, verdadeiramente, não ocorre, o epicentro do problema não está nos meios de comunicação, mas em quem sustenta, ou tenta sustentar, esses meios, inclusive, o olho no olho.

A questão é que não estamos dispostos a nos esforçar por qualquer relação, não queremos esperar o tempo de preparo, não queremos semear, e, dessa forma, nos adaptamos rapidamente aos “relacionamentos Facebook”, como também, passamos a “compartilhar” a nossa experiência virtual no âmbito físico. Isso ocorre porque ao não estarmos dispostos a nos empenhar em uma relação, acabamos por não conseguir nos conectar verdadeiramente a alguém e, consequentemente, dividir emoções, sentimentos, alegrias, sofrimentos, que é o que permite que uma relação verdadeira seja criada.

Pouco importa, assim, se a relação existe no mundo concreto, ela é tão líquida quanto a amizade que acabou de ser feita com alguém que mal se sabe quem é em uma rede social. O problema, portanto, não está no meio em que a relação foi desenvolvida, e sim, no meio em que ela se sustenta, se existe troca de afeto, de palavras, se há abertura para que qualquer coisa seja dita, para que confissões sejam feitas.

Isso é o que define uma relação, o modo como as pessoas que se relacionam se portam diante dela, em como elas fazem para que ela seja nutrida. Entretanto, não agimos dessa maneira e, por conseguinte, possuímos relações tão frágeis, que não possuem qualquer capacidade de retirar-nos da solidão, embora as redes sociais aparentem a grande conectividade que possuímos.

Nesse ponto reside outro elemento de destaque e de interesse dos relacionamentos virtuais, a maquiagem que ela promove na nossa solidão, demonstrando, aparentemente, uma ideia falsa de rede. Contudo, como toda maquiagem, ela sai com agua… ou com lágrimas, deixando vir à tona a solidão que em momento algum deixou de existir.

Posto isso, a solidão não deixou de existir porque temos milhares de amigos no Facebook ou porque conseguimos falar com um número gigante de pessoas por meio do WhatsApp. A solidão não deixou de existir porque ainda somos (e, parece-me, que estamos “evoluindo” nisso) “incapazes” de nos ligar à outra pessoa e, então, experimentar a beleza da pluralidade.

Ao contrário da solidão, as multidões aumentam, com a sua “capacidade” ludibriadora, fantasiando relacionamentos frágeis com máscaras de conectividade. Apesar de problemático, há pouco incômodo, porque as multidões, como disse, só fazem crescer.

Multidões online cheias de solidões off-line, corpos próximos com almas distantes, mundo cheio de paradoxos, de distâncias próximas, de homens que mesmo estando na multidão, sentem-se sozinhos. Só mesmo uma resposta aparentemente contraditória para esclarecer uma mentira com aparência de verdade.

La La Land: o encanto é mais intenso

La La Land: o encanto é mais intenso

Apesar de Hollywood ter uma predileção por musicais, historicamente, não foram todos que puderam ser chamados de inesquecíveis. Porque é um gênero difícil, onde o público precisa estar em sintonia com a narrativa apresentada e, mais do que isso, ter a sorte de estar no lugar certo, no tempo certo. Felizmente, assim é La La Land.

Damien Chazelle faz parte de uma safra exclusiva. Não há, em ascensão hoje, alguém que mescle habilidades técnicas com um sentir tão honesto e nostálgico nos seus roteiros. O que pode soar clichê para muitos, na verdade move todo o trabalho do jovem cineasta de 31 anos (32 no próximo dia 19 de janeiro). Premiado pelo cultuado Whiplash, Chazelle teve que esperar o sucesso do longa para ouvir um “sim” ao universo de La La Land. O importante é que ele chegou e trouxe uma experiência das mais puras e românticas de todos os tempos da sétima arte.

Logo de cara, cantorias e coreografias alegres. O plano aberto, as cores, o sincronismo, nada entrega ou mesmo prepara o espectador para o que está por vir. Somos apresentados para Emma Stone e Ryan Gosling, respectivamente, Mia e Sebastian. Ela, uma atriz aspirante. Ele, um músico de jazz sem lar. Do encontro banal, o início de outros encontros urgentes e sentimentais. Através das estações do ano, La La Land culmina em atos diversos. Ora para falar de amor, ora para falar de música. Noutras, cinema. O ponto em comum entre tantos assuntos? Sonhos.

Nas atuações poéticas de Gosling e Stone, particularmente, ela memorável e de fazer transpirar o coração. Talvez, desde Ingrid Bergman, beleza, carisma e uma chama artística não estivessem tão recorrentes como estão na ruiva de olhos expressivos. Um Gosling seguro, inspirado e remontando o jazz na sua essência e paixão. Cenários estonteantes, uma fotografia saída dos versos mais preciosos, uma direção avidamente semelhante aos grandes do passado, mas embutida de uma sutileza rara, única.

La La Land é sobre tudo. É gratidão, completude, essência, homenagem, referência, urgência, vida e um amor declarado. Exposto e sem medo algum de possíveis descaracterizações, Chazelle criou o ambiente propício dos apaixonados, dos que não desistem de serem arrebatados, dia após dia, por essa explosão eufórica, inocente e resiliente de amor.

Boas notícias: SUS passa a oferecer práticas como meditação, reiki e musicoterapia

Boas notícias: SUS passa a oferecer práticas como meditação, reiki e musicoterapia

Imagem de capa: fizkes/ Shutterstock

A Portaria do Ministério da Saúde , no. 145 de 12 de janeiro de 2017, traz boas notícias para os amantes de práticas preventivas, meditativas e tratamentos com enfoques alternativos à medicalização através da ampliação de sete novos procedimentos no SUS: Arteterapia, meditação, musicoterapia, tratamento naturopático, tratamento osteopático, tratamento quiroprático e Reiki

Desde 03 de maio de2006, pela Portaria nº 971/GM/MS, havia a aprovação de Práticas Integrativas e Complementares no Sistema Único de Saúde.

Segundo o Departamento de Atenção Básica (DAB), em 11 anos da implantação das Práticas Integrativas e Complementares (PICs), pode-se destacar o interesse crescente da população por uma forma de atenção humanizada e de cuidado singular, iniciando o desenho de uma nova cultura de saúde e a ampliação da oferta destas práticas na rede de saúde pública.

Isso faz com que, gradativamente, cada vez mais cidades optem pela capacitação e contratação de profissionais da área.

Os cidadãos devem buscar informações sobre os serviços disponíveis em suas cidades junto aos órgãos de saúde pública local.

Abaixo, ainda com dados do DAB, segue lista e breve descrição das práticas Integrativas e Complementares em Saúde (PICS).

Fitoterapia
A fitoterapia é um tratamento terapêutico caracterizado pelo uso de plantas medicinais em suas diferentes formas farmacêuticas, sem a utilização de substâncias ativas isoladas, ainda que de origem vegetal. A fitoterapia constitui uma forma de terapia que vem crescendo notadamente neste começo do século XXI.

Acupuntura
A acupuntura é uma prática que compõe a Medicina Tradicional Chinesa. Criada há mais de dois milênios, é um dos tratamentos mais antigos do mundo. Diferentes abordagens para o diagnóstico, prevenção e tratamento de doenças são realizadas, entretanto o procedimento mais adotado no mundo atualmente é o estímulo da pele por agulhas metálicas muito finas e sólidas, manipuladas manualmente ou por meio de estímulos elétricos.

Homeopatia
Homeopatia é um sistema terapêutico que envolve o tratamento do indivíduo com substâncias altamente diluídas, principalmente na forma de comprimidos, com o objectivo de desencadear o sistema natural do corpo de cura. Com base em seus sintomas específicos, um homeopata irá coincidir com o medicamento mais adequado para cada paciente.

Medicina antroposófica
A Medicina antroposófica é um sistema terapêutico baseado na antroposofia que integra as teorias e práticas da medicina moderna com conceitos específicos antroposóficos. Utiliza, terapias físicas, arteterapia e aconselhamento, além de medicamentos antroposóficos e homeopáticos. A abordagem terapêutica tem o seu fundamento em um entendimento espiritual-científico do ser humano que considera bem-estar e doença como eventos ligados ao corpo humano, mente e espírito do indivíduo, realizando a abordagem holística (“salutogenesis”) que enfoca os fatores que sustentam a saúde humana através do reforço da fisiologia do paciente e da individualidade, ao invés de apenas tratar os fatores que causam a doença. A autodeterminação, autonomia e dignidade dos doentes é um tema central; terapias são acreditadas para aumentar as capacidades de um paciente para curar.

Termalismo/crenoterapia
O termalismo é um método natural de tratamento que recorre às águas minerais e/ou termais para fazer as curas. A variedade de componentes químicos e propriedades físicas da água e o seu equilíbrio permite obter propriedades que ajudam a recuperação da saúde. O termalismo engloba também todo um conjunto de tratamentos à base de produtos naturais retirados da nascente, como vapores, gases e lamas.O recurso à água como agente terapêutico foi iniciado pelos povos que habitavam nas cavernas, depois de observarem o que faziam os animais feridos.

Arteterapia
Uma atividade milenar, a arteterapia é um procedimento terapêutico que funciona como um recurso que busca interligar os universos interno e externo de um indivíduo, por meio da sua simbologia. É uma arte livre, conectada a um processo terapêutico, transformando-se numa técnica especial, não meramente artística. É uma forma de usar a arte como uma forma de comunicação entre o profissional e um paciente, assim como um processo terapêutico individual ou de grupo  buscando uma produção artística a favor da saúde.

Meditação
A meditação é uma prática milenar descrita por diferentes culturas tradicionais. Tem como finalidade facilitar o processo de autoconhecimento, autocuidado e autotransformação e aprimorar as interrelações – pessoal, social, ambiental – incorporando à sua eficiência a promoção da saúde. Amplia a capacidade de observação, atenção, concentração e a regulação do corpo-mente-emoções.

Musicoterapia
Prática integrativa que utiliza a música e/ou seus elementos – som, ritmo, melodia e harmonia – num processo facilitador e promotor da comunicação, da relação, da aprendizagem, da mobilização, da expressão, da organização, entre outros objetivos terapêuticos relevantes, no sentido de atender necessidades físicas, emocionais, mentais, espirituais, sociais e cognitivas do indivíduo ou do grupo.

Tratamento naturopático
A Naturopatia é um sistema terapêutico que utiliza métodos e recursos naturais, para apoio e estímulo à capacidade intrínseca do corpo de recuperação da saúde.

Tratamento osteopático
A osteopatia é método diagnóstico e uma forma de tratamento manual das disfunções articulares e teciduais, muito utilizado em condições dolorosas da coluna cervical e dos membros superiores. Através de técnicas de manipulação, stretching, mobilização, tratamentos para a ATM, e mobilidade para vísceras, aos poucos vai melhorando a mecânica dessas articulações, órgãos e tecidos, fazendo com que os sintomas venham regredindo a medida do tempo.

Tratamento quiroprático
A Quiropraxia é uma prática que se dedica ao diagnóstico, tratamento e prevenção das disfunções mecânicas no sistema neuromusculoesquelético e os efeitos dessas disfunções na função normal do sistema nervoso e na saúde geral. O tratamento de quiropraxia é dividido basicamente em três etapas. A primeira visa eliminar ou reduzir os sintomas da subluxação (desalinhamento da coluna), a segunda a estabilização e por último a manutenção que progredir com o bem estar.

Reiki
O Reiki é a canalização da frequência energética por meio do toque ou aproximação das mãos e pelo olhar de um terapeuta habilitado no método, sobre o corpo do sujeito receptor. A terapêutica objetiva fortalecer os locais onde se encontram bloqueios – “nós energéticos” – eliminando as toxinas, equilibrando o pleno funcionamento celular, de forma a restabelecer o fluxo de energia vital – Ki. A prática do Reiki responde perfeitamente aos novos paradigmas de atenção em saúde, que incluem dimensões da consciência, do corpo e das emoções.

Terapia Comunitária
A Terapia Comunitária atua em espaço aberto à comunidade para construção de laços sociais, apoio emocional, troca de experiências e prevenção ao adoecimento. Ao produzir a diminuição do isolamento social e ao produzir uma matriz móvel permite um espaço de troca e apoio social o qual funciona como alicerce para a produção de redes sociais e a transformação microrregional. A técnica se divide em cinco passos semi-estruturados – acolhimento, escolha do tema, contextualização, problematização, rituais de agregação e conotação positiva – fáceis de aprender e de se difundir como instrumento de promoção da saúde e autonomia do cidadão.

Dança Circular/Biodança
Biodança é um sistema de integração e desenvolvimento humano, um sistema baseado em experiências do crescimento pessoal induzido pela música, movimento e emoção. Esta terapia utiliza exercícios e músicas organizados, a fim de aumentar a resistência ao estresse, promover a renovação orgânica e melhorar a comunicação. Sua metodologia é induzir experiências de integração por meio da música, do canto, do movimento criando situações que facilitam a reunião em nível de relacionamento interpessoal.

Dança Circular é uma prática de dança em roda, tradicional e contemporânea, originária de diferentes culturas que favorece a aprendizagem e a interconexão harmoniosa entre os participantes. As pessoas dançam juntas, em círculos e aos poucos começam a internalizar os movimentos, liberar a mente, o coração, o corpo e o espírito. Por meio do ritmo, da melodia e dos movimentos delicados e profundos os integrantes da roda são estimulados a respeitar, aceitar e honrar as diversidades.

Yoga
Trabalha o praticante em seus aspectos físico, mental, emocional, energético e espiritual visando à unificação do ser humano em Si e por si mesmo. Constitui-se de vários níveis, sendo o Hatha Yoga um ramo do Yoga que fortalece o corpo e a mente através de posturas psicofísicas (ásanas), técnicas de respiração (pranayamas), concentração e de relaxamento. Entre os principais benefícios podemos citar a redução do estresse, a regulação do sistema nervoso e respiratório, o equilíbrio do sono, o aumento da vitalidade psicofísica, o equilíbrio da produção hormonal, o fortalecimento do sistema imunológico, o aumento da capacidade de concentração e de criatividade e a promoção da reeducação mental com consequente melhoria dos quadros de humor, o que reverbera na qualidade de vida dos praticantes.

Oficina de Massagem/Automassagem
Diversas culturas utilizam as massagens no cuidado em saúde, a automassagem tem a finalidade de manter ou restabelecer a saúde, por meio da promoção do equilíbrio da circulação de sangue e de energia por todas as partes do corpo. É realizada pelo próprio sujeito, por meio de massagens de áreas e/ou pontos de acupuntura no seu corpo.

Auriculoterapia
A auriculoterapia é uma terapia que consiste na estimulação com agulhas, sementes de mostarda, objetos metálicos ou magnéticos em pontos específicos da orelha para aliviar dores ou tratar diversos problemas físicos ou psicológicos, como ansiedade, enxaqueca, obesidade ou contraturas. A auriculoterapia chinesa faz parte de um conjunto de técnicas terapêuticas, que tem como base os preceitos da Medicina Tradicional Chinesa (MTC). Acredita-se que tenha sido desenvolvida juntamente com a acupuntura sistêmica (corpo), que é, atualmente, uma das terapias orientais mais populares em diversos países e tem sido amplamente utilizada na assistência à saúde.

Massoterapia
A massoterapia é um termo que engloba diversas técnicas terapêuticas, cujo objetivo é melhorar a saúde e prevenir alguns desequilíbrios corporais. Por meio do ato de tocar regiões do corpo de uma pessoa, realizando movimentos fortes ou sutis, é possível trabalhar os aspectos físicos e mentais de cada um. A prática, baseada em técnicas de massagens relaxantes, estéticas ou terapêuticas inspiradas no oriente e no ocidente, é reconhecida pela Organização Mundial de Saúde (OMS).

Pessoas boas costumam se ferrar, mas sempre estão felizes

Pessoas boas costumam se ferrar, mas sempre estão felizes

Mesmo que soe a clichê, a filosofia de botequim, não dá para fugirmos à constatação de que a bondade é a porta de entrada de incontáveis decepções. Porque o mundo atual vale-se da distorcida esperteza como válvula de sucesso, ou seja, muitos usam dessa esperteza com má fé, justamente em relação àqueles que confiam neles, àqueles que ingenuamente julgam o coração de todo mundo de acordo com o próprio.

E, por pessoa boa, não se relaciona, aqui, a alguém bonzinho, mas a uma pessoa com olhos limpos e generosos, com mãos que se estendem, com ouvidos atentos e coração leve. Trata-se daquele tipo de pessoa que não se nega a ajudar, que compartilha conhecimento, que divide riquezas da alma, sem apego emocional. Desapegam-se de si mesmas, porque somente se sentem humanas quando são parte de um todo.

São aqueles amigos que nunca demonstram desinteresse por nós, os colegas de trabalho que não são capazes de guardar para si algum tipo de conhecimento, os familiares que se lembram de nós mesmo do outro lado do mundo. Pessoas boas, gratas, sensíveis, com empatia suficiente para saírem de seus mundos e abraçarem o mundo de qualquer pessoa que precise de algo.

Infelizmente, quem possui uma essência por demais bondosa inevitavelmente será vítima do mau uso de suas ofertas por parte daqueles que só pensam em se aproveitar, em maldizer, em puxar tapetes, passando por muitas situações difíceis em que terá que confrontar o bem que possui com o mal que rodeia sua vida, a nossa vida, a vida de quem quer que seja. Triste, mas inevitável, a doçura da amabilidade sempre encontrará a contrariedade ferrenha do ódio amargo dos infelizes.

Pessoas bondosas costumam acreditar no melhor de cada um, pintando a vida com as cores leves da humildade e do acolhimento, desejando a felicidade alheia, pois querem que todos sejam tão felizes quanto elas próprias se sentem. E, ao longo do percurso, irão se deparar com o pior do ser humano, com a mentira, com a inveja, com a mesquinhez, com o mau-humor e a maldade daqueles que jamais serão capazes de sorrir com gratidão.

Mesmo assim, continuarão a sorrir, a caminhar tranquilamente, a acordar com o propósito de ser e de fazer gente feliz, porque é assim que sua alma se torna cada vez mais rica e agraciada com as bênçãos que só quem é alegre com verdade está pronto para receber. Todos os dias.

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Que gato preto? Eu tenho medo é das mulas no meio do caminho!

Que gato preto? Eu tenho medo é das mulas no meio do caminho!

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Com todo respeito à superstição alheia, esse negócio de discriminar os gatos pretos já deu, né? Enquanto evitamos cruzar o caminho dos felinos de pelagem negra, uma multidão de mulas, antas e outros animais de péssimo caráter atenta contra a nossa sorte todos os dias e nós fingimos nem perceber.

No trânsito, animais de teta se habituaram a romper o sinal vermelho, ignorar os limites de velocidade, ultrapassar outros veículos em trechos proibidos. E se acontece uma desgraça, um crime é tratado como acidente, imprevisto, falta de sorte, essas coisas que acontecem quando o motorista cruza com um gato preto no caminho.

Uma moça de minissaia é estuprada numa festa e uma manada de imbecis concorda que a culpa do crime é dela própria. Quem mandou usar a roupa errada no lugar errado? Então o rebanho baba de aprovação, os números da violência galopam montanha acima e os jumentos rebusnam que isso tudo é porque a bruxa está solta.

Roubaram seu carro e ele não tinha seguro? Escolheram outra pessoa para o emprego que você queria porque o seu inglês é fraco? A pessoa amada cansou da sua companhia e foi embora? Liga não. É só uma fase de má sorte.

A mesma de muitas moças que, pressionadas pela sociedade, as convenções, o “relógio-biológico” e, quase sempre, por suas próprias famílias, casam-se com o primeiro “bom moço”, um príncipe encantado que depois se transforma num sapo enorme e violento com mania de agredi-las na privacidade de suas casas. Má sorte. Não há o que fazer senão fugir dos gatos pretos que enchem as ruas por aí.

Mas eu aposto em qualquer jogo de azar e ganho: neste instante, em algum celeiro com ar-condicionado e piso de mármore, um asno com cargo público, eleito por nós mesmos, está tramando com seus pares um jeito “legal” de aumentar o próprio salário, ainda que tire o dinheiro da saúde, da educação, da segurança e, claro, torne pior a vida de milhões de cidadãos comuns a quem só falta um pouquinho de sorte.

Acredite. As bestas quadradas e as mulas ignorantes, os asnos homofóbicos, as amebas machistas e os políticos cachorros dão muito mais azar do que toda a população de gatos pretos do mundo. Deixemos os bichinhos em paz!

Não basta conquistar, é preciso manter.

Não basta conquistar, é preciso manter.

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Não são raros os amores que começam fervorosos e acabam mais gelados que um iceberg e o motivo, acredite, não é nada surpreendente: as pessoas esquecem de manter o relacionamento que conquistaram.

Conquistar não exige muito esforço. Um pouco de paixão (acompanhada de corações acelerados, ligações diárias e saudades excessivas), de charme e romantismo conseguem isso. Mas, para manter um relacionamento as pessoas precisam de doses cavalares de paixão, amor incondicional, respeito, vontade e o mais importante: disposição para fazer dar certo.

Para começo de conversa, é necessário entender que um relacionamento possui duas vertentes: o amor e a paixão. E sim, são dois sentimentos diferentes e paralelos e, por isso, tantas pessoas os confundem. Enquanto o amor é definido pelo companheirismo, pela parceria e pela cumplicidade, a paixão á formada pelo contato da pele, pelo olhar e pela admiração. E, não, um não supre o outro.

Quando amamos temos medo de perder. Protegemos. Cuidamos. Como diz Carpinejar: “porque amor é justamente isso, é ficar inseguro, é ter aquele medo de perder a pessoa todo dia, é ter medo de se perder todo dia. É você se ver mergulhado, enredado, em algo que você não tem mais controle.”

O amor é o mais perfeito antídoto contra o egoísmo que existe. Quando amamos, de verdade, aprendemos a dividir um espaço na cama, a chave do carro, o controle da TV… a vida! E a paixão faz você ter prazer em fazer tudo isso! A paixão nos faz sentir vivos, alegres, completos. Gabriel García Marquez tinha um dos mais sensatos pensamentos sobre a paixão: “como provar aos homens o quanto estão enganados ao pensar que deixam de se apaixonar quando envelhecem, sem saber que envelhecem, justamente, quando deixam de se apaixonar?!”

O problema está em manter o que foi conquistado. Existe uma grande ilusão, criada pela sociedade, de que tudo o que foi conquistado é nosso por direito. Grande erro! Passou no concurso? Não precisa mais estudar! Casou? Não precisa mais se preocupar com a aparência. Comprou uma casa? Não precisa mais economizar. Que ilusão!

A grande verdade é que, grande parte das mulheres nunca sabem o que querem e, dos homens, é que nunca valorizam o que já possuem. Amor exige extremo cuidado e atenção diária. Não dá para, depois de uma briga, dormir em camas separadas, nem ficar sem conversar por dias, tão pouco provocar ciúmes achando que isso irá apimentar a relação.

É preciso cuidar do que nos é sagrado! Amor é coisa para gente grande. Grande de idade, alma e espírito. Drummond em toda a sua sabedoria dizia que não podíamos permitir que a rotina nos cegasse a ponto de não enxergarmos o essencial: “por isso, preste atenção nos sinais – não deixe que as loucuras do dia-a-dia o deixem cego para a melhor coisa da vida: O AMOR.”

As pessoas se perderam um pouco nesse conceito de independência. Conquistamos o nosso espaço no mundo, atuamos em carreiras profissionais diversas, somos livres para decidir se queremos ou não casar, mas ainda continuamos carentes de amor. Não sabemos dar e receber afeto. Não sabemos amar sem ter ciúmes, não sabemos casar sem ter um papel que indique posse. Simplesmente, não sabemos!

Amor vai além de tudo isso. Amor é quando, mesmo sem precisar de ninguém para pagar seus boletos, nem opinar sobre sua vida, você deseja estar ao lado de alguém especial. Alguém disposto a fazer dar certo, sem neuras, sem traumas e sem cobranças. Resumindo: um companheiro de vida. De vida toda!

São esses os sentimentos que nos fazem começar uma história. E são eles que nos deveriam motivar a continuar. Então, pense bem…o amor pode sim acabar, mas isso, meu caro, quem decide é você.

Quando os filhos fazem as malas

Quando os filhos fazem as malas

Quanto mais tentamos controlar as pessoas, mais elas nos fogem por entre os dedos. Cada um de nós tem a necessidade de procurar nosso lugar no mundo, de acordo com o que somos e pensamos – é a nossa verdade, que pulsa por afirmação e ar puro. Nada nem ninguém conseguem nos prender, nesse sentido, por muito tempo, pois nascemos para sermos únicos, para sermos nós mesmos.

Quando se trata de filhos, porém, torna-se muito difícil, principalmente às mães, acompanhar de longe, na torcida somente, o autodescobrimento e a formação de identidade daquelas que são as pessoas mais importantes e amadas em suas vidas. Instintivamente, as mães necessitam proteger os seus filhos de qualquer ferida, pois sempre parecem doer muito mais nelas mesmas os machucados dos seus rebentos.

Com isso, fugindo à sua função de orientar, aconselhar e apoiar, acabam muitas vezes impondo aos filhos aquilo que elas esperam que eles sejam, sintam, falem e façam, até mesmo a quem devem se entregar, numa via de mão única, em que o diálogo não encontra espaço. Obviamente – e felizmente -, os filhos, mesmo que demore, irão se tornar aquilo que eles tinham de ser; irão agir da forma como eles quiserem, obedecendo aos desejos que são só deles; irão sentir de acordo com que eles possuem dentro de si; irão namorar a pessoa por quem eles se apaixonarem, a despeito da aprovação ou desaprovação dos pais.

Nesses momentos, cabe aos responsáveis o aconselhamento, o diálogo e a exposição saudável de pontos de vista, sem agressividade ou cobranças de quaisquer tipos – quanto mais baixo falamos, mais o outro nos escuta; simples assim. Os pais precisam aprender a assistir aos filhos na caminhada que lhes é destinada, deixando-os sofrer, cair, decepcionar-se, machucar-se, por mais que isso seja dolorido, pois somente assim eles aprenderão as lições de vida e serão levados a repensar, a recomeçar, valorizando e utilizando tudo o que lhes foi ensinado, desde pequeninos.

Nos momentos de dor, principalmente, e na hora certa, os filhos encontrarão apoio nos valores que adquiriram no seio de suas famílias e isso os ajudará a reerguerem o ânimo em meio às tragédias pessoais a que estão sujeitos.

Por essa razão, precisamos preencher as nossas vidas urgentemente, caso estejamos por demais incomodados com a vida do outro, pois ninguém tem o direito de impedir o caminhar e o existir alheios, nem dos filhos nem de ninguém. Excepcionalmente, quando eles estiverem adentrando por caminhos tortuosos e destruidores – como o das drogas, da violência, do crime -, a intervenção direta dos pais e responsáveis será, sim, necessária e bem vinda; caso contrário, os filhos precisam apaixonar-se pela pessoa errada, escolher o caminho mais difícil, gastar dinheiro inutilmente, enforcar aula, decepcionar-se com as pessoas, para que venham a colher amargamente as consequências e com isso aprender a ser gente melhor.

Temos que, muitas vezes, deixar a vida ensiná-los, pois ela é mais dura e incisiva do que qualquer um de nós, e todos precisamos dos tombos abruptos para nos tornarmos cada vez melhores e mais fortes.

Ter essa consciência de que os filhos devem viver à revelia dos nossos desejos e sonhos é primordial inclusive para que enfrentemos com menos pesar a síndrome do ninho vazio, como a chamam os psicólogos, quando os filhos partem com suas malas, sonhos e ilusões rumo à faculdade, ao intercâmbio, ao casamento, à vida longe dos pais. Por mais aflitivo que seja, distanciar-se e deixá-los confortáveis nessa nova etapa de vida é o melhor a se fazer.

Eles crescem, sabia? Crescem e devem aprender, por seus próprios meios – pois já carregam dentro de si, nesse momento, tudo o que achamos que eles não ouviram de nós -, a economizar para não faltar, a se dedicar aos estudos para não bombar, a respeitar para ser respeitado, a conquistar bens e dignidade no casamento, a ser solidário e humano. Interferir sem ser chamado é tolher do filho o potencial de vida e a construção de destinos que são só dele.

Assim como plantamos as sementes e observamos o fruto crescer e florescer, com podas ocasionais e água para aliviar-lhes o sufoco, devemos nos deslumbrar e nos orgulhar enquanto assistimos ao desabrochar de nossos filhos, aliviando-lhes a lida e estendendo-lhes as mãos, quando e se precisarem. Aprisionar as plantas não as fará desistir de procurar pela luz do sol; da mesma forma, controlar e sufocar os filhos não os fará desistir de lutarem por suas verdades, pela realização dos seus sonhos e concretização de seus desejos – deles e não dos pais.

Afinal, eles precisam aprender a discernir o que lhes faz bem e o que não, enquanto experimentam as coisas, as pessoas, o mundo, pois é essa vivência prática que dignifica e amadurece as pessoas, e nenhum sermão substitui isso. No mais, caso a vida se torne dura, triste e insuportavelmente pesada, será sempre um alento saber que existe um pai, uma mãe e um lar para onde podemos regressar, mesmo que somente em nossas lembranças, um lugar a que pertencemos, onde encontraremos conforto consolador, bem como força para recomeçar, sempre e incansavelmente.

Imagem de Antic Milos, Shutterstock

A falsidade, a inveja e outras drogas

A falsidade, a inveja e outras drogas

Caso você nunca tenha levado uma esculhambação de graça, não se preocupe. Certamente vai chegar sua vez! E a explicação para este fenômeno é muito simples: o que não falta nesse mundo é gente que curte achar defeito no outro, julgar o que o outro faz e dar opinião na vida de algum pobre desavisado só para dar uma “lustradinha” no próprio ego. O que essa gente parece não saber é que opinião é coisa preciosa; e, como tal, deve ser oferecida a quem a solicitar. Caso contrário, é mais fino e delicado guardá-la para si e ir cuidar da própria vida.

Cuidar da vida alheia é uma tola estratégia usada para tirar o foco das próprias questões. Afinal, é muito mais fácil enxergar, apontar e tornar públicos os problemas de outrem do que sair da superfície da própria história, e tentar entrar em contato com suas profundezas e com tudo aquilo que apenas aparenta estar perfeito aos olhos do mundo. O culto às aparências costuma ser o álibi preferido daqueles que morrem de medo de visitar a real estrutura de sua trajetória.

Como são perigosas essas pessoas que batem no peito e fazem exibição explícita de suas almas imaculadas, fingindo ser ícones de virtude, franqueza e autenticidade! Verdadeiros buracos negros em forma de gente! Essa espécie é capaz de fazer você acreditar que não tem valor, que suas capacidades são insuficientes, que você não é digno de alcançar sucesso ou paz.

Gente que precisa diminuir o outro e alimentar-se de sua energia para aplacar os monstros de despeito que habitam suas carcaças. Gente que nunca fica satisfeita com o que possui; sempre vai querer mais e, de preferência, o que for seu. Gente embrulhada numa gentileza falsa para esconder sua verdadeira cara azeda, disfarçada em doces gestos artificiais. Gente que sorri com uma boca dura de arrogância, enquanto os olhos sagazes perscrutam cada mínimo movimento seu para, mais tarde, usar fragmentos da sua vida em comentários vazios e, não raras vezes, enfeitados com detalhes mentirosos, maldosos e cheios de malícia.

No entanto, verdade seja dita, pensada, vivida e posta em prática: Não há carrasco que sobreviva muito tempo se não houver vítimas disponíveis. Assim, não tente dourar a pílula do veneno que lhe oferecem tão gentilmente. Não caia na armadilha de acreditar que nada do que você faz é admirável, que seus erros (só os seus!), não têm perdão e que você não é digno de possuir cada mínima coisinha que conquistou ou tudo aquilo que a sorte lhe ofereceu.

Abra os olhos, ao mesmo tempo em que, ingenuamente alarga os braços à toda gente. Há quem não mereça o seu desarmado jeito de amar. Há quem não faça jus à sua confiança. Há maldade nesse mundo, pode acreditar. Há pessoas que, caso você não estabeleça limites, invadirão a sua vida, quebrarão a sua integridade emocional e contaminarão a sua mente e o seu espírito com um bichinho traiçoeiro que acabará devorando sua coragem e alegria.

Respire! Inspire! E, principalmente, expire toda e qualquer crença que tenha vindo encaixotada com uma etiqueta explícita de destruição. Jamais ofereça ao outro o direito de julgar suas condutas, a menos que esse outro conheça, respeite e tente compreender suas limitações, dificuldades e dores. Não desista de amar. Porque o amor ainda é o mais poderoso escudo contra a maldade alheia. Continue irradiando tranquilidade, generosidade e indiferença às ofensas. Mas, em último caso, se o seu silêncio não for suficiente para calar a acidez de quem se alimenta da sua tristeza; bote seu melhor sorriso no rosto, encha o coração da mais pura determinação de não se deixar contaminar e dê um BASTA nessa falta de noção. Depois disso, fique em paz e esteja certo de que, um dia, até o mais venenoso e ardiloso dos escorpiões acaba provando do próprio veneno.

Imagem de capa: Anetlanda/shutterstock

“A vida é trem bala, parceiro. E a gente é só passageiro prestes a partir”

“A vida é trem bala, parceiro. E a gente é só passageiro prestes a partir”

Imagem de capa: muratart, Shutterstock

Ouvindo a música Trem Bala, de Ana Viela, refleti o quão frágil a vida é e o quanto temos valorizado as coisas e descartando cada vez mais as pessoas.

Vivemos cansados e não conseguimos tirar um tempo para assistir àquele filme que tanto queríamos. Passamos horas e horas em frente ao computador, ao lado de livros, e cada vez menos tempo com quem realmente amamos.

A vida segue a uma velocidade assustadora, que não nos permite pausas e retrocessos, e tudo o que precisamos fazer é avançar. Passamos a vida tentando alcançar o sucesso e nos esquecemos de alcançar as pessoas. Almejamos aprender a tocar algum instrumento, mas nos esquecemos de como é tocar um coração. Lutamos pelo sucesso com unhas e dentes, mas desistimos das pessoas nos primeiros erros. Abraçamos oportunidades e nos esquecemos de abraçar as pessoas.

Se existe algo que aprendi com todas as perdas, de pessoas que tanto amo, é que o hoje é tempo de amar, de pedir perdão e de perdoar. O hoje é tempo de se dizer que está com saudade e correr para um abraço cansado no final do dia, porque o depois pode não chegar e só a saudade não será suficiente para trazer quem amamos de volta, para viver momentos que não vivemos e fazer diferente.

Acreditamos tanto no sucesso e deixamos de acreditar em quem corre do nosso lado, de incentivar os planos e os sonhos de quem amamos. Quanto tempo você tira para ligar para aquele amigo que você não vê há tempo? Há quanto tempo você não aproveita tempo de qualidade para estar com quem gosta? Quanto tempo você tem investido em coisas, compromissos e interesses e não em quem realmente se importa com você?

Quanto tempo você investe em quem não repara no seu riso sincero e não aplaude as suas vitorias? Repare bem, porque a vida é um trem bala e, quando se vê, tudo já passou. O maior tesouro que você pode ter é o amor de quem cuida e se importa com você, pois a vida é muito mais que viagens, dinheiro, sucesso e coisas.

A vida é sobre quem está ao nosso lado, quem segue nessa caminhada conosco e quem não abandona o barco quando a tempestade vem. A vida é muito mais do que carros, jantares caros, é sobre ter com quem contar quando você não tem nada e o outro se dispõe a ser tudo em nossas vidas.

Por isso, reafirmo: o tempo de amar e valorizar as pessoas é hoje, porque, como diz a música, “quando menos se espera, a vida já ficou pra trás”.

Quando eu disse sim ao meu corpo!

Quando eu disse sim ao meu corpo!

Imagem de capa: Igor Sinkov, Shutterstock

O corpo fala, comunica, tanto seduz quanto repele, suplica, ordena, humilha e se submete. O corpo se manifesta de várias maneiras, até quando tenta se esconder.

O corpo ganha voz quando a boca se cala, perde o controle quando se embriaga e os sentidos quando se acovarda.

Tem gente que não aceita o corpo. Convive com ele em estado de tensão e constante conflito. Não é mais um instrumento divino que abriga tudo o que se é. O corpo se torna um inimigo para a toda a vida, e, como castigo, recebe maus tratos e grande desprezo.

Tem gente que deseja o corpo alheio, persegue o modelo dos sonhos com tamanho fanatismo, que distorce o corpo até as últimas forças e dotes naturais.

Tem corpo que parece não ter gente dentro. Tem gente que parece não ter corpo que a prenda.

Eu vivi boa – e bote boa nisso – parte da vida em luta com o corpo. Até os dias de hoje ainda discutimos nossa relação, mas agora em outro nível, um querendo bem ao outro.

O dia em que tomei posse definitiva do meu corpo, não lembro. Mas, sutil e curiosamente, um dia percebi que não era mais tempo de briga. Tinha chegado o momento de fazermos as pazes e nos ajudarmos mutuamente.

O espelho ficou fora da conversa. Um objeto jamais poderia ter voz de comando nessa relação, e ele teve, por décadas. Não só ele, mas as revistas, as novelas, os anúncios e as fotografias. Todos, com intenção ou não, contribuindo para ficarmos “de mal” por muito tempo.

Por isso, nenhum deles foi consultado quando resolvemos nos entender. O corpo parou de lutar para contra minhas investidas e eu, abri mão de tentar faze-lo ser o que jamais será.

Tomei posse do que é de fato meu e dele cuido como achar melhor.
E, juntos, não caímos mais nas manipulações e sugestões que escondem o tempo passando e a vida escorrendo, enquanto corremos em direções contrárias.

De agora em diante, melhores amigos! Saúde!

Não está fácil para ninguém! Mas fica menos difícil para quem arregaça as mangas!

Não está fácil para ninguém! Mas fica menos difícil para quem arregaça as mangas!

Imagem Zadorozhnyi Viktor/Shutterstock

Ela começou vendendo picolés numa caixa de isopor, na pequena cidade onde morava. Aproveitou o fato de que em Itinga (Norte de Minas Gerais), não havia energia elétrica e fez sucesso com seus picolés na saída das missas. Sabrina Nunes não tem medo de desafios. Foi por isso que deixou a pequena Itinga para trás e foi ser cortadora de cana numa outra cidade maior, onde poderia ter mais oportunidade. Cortou cana por pouco mais de um mês, virou secretária na mesma empresa. E é com orgulho que conta: “O tempo que fiquei cortando cana foi difícil. Mas era o que eu tinha para fazer. Lá mesmo eu fiz contatos para conseguir me recolocar. Eu só agarrei a oportunidade, sem coitadismo.” Depois de sete anos trabalhando como secretária, conseguiu uma bolsa de estudos e mudou-se para o Rio de Janeiro, onde foi cursar Engenharia. Enquanto estudava, arrumou emprego num escritório, valendo-se da experiência anterior. Decidiu fazer alguma coisa para complementar a renda. Investiu R$50 em material e começou a produzir bijouterias. Batizou o pequeno empreendimento com o nome de Francisca Joias, em homenagem à sua avó. Começou vendendo pela Internet, através de uma plataforma especializada em artesanato. Tudo o que ganhava era reinvestido. Como deu muito certo, decidiu criar sua própria loja virtual. A crise econômica foi vista como uma oportunidade, Sabrina decidiu contratar algumas revendedoras (mulheres que haviam perdido o emprego), e assim, incrementar os canais de venda para seus produtos. Hoje a empresa conta com 620 parceiras de venda, que compram os produtos com 40% de desconto no e-commerce e revendem pelo mesmo preço da plataforma. “Com o desconto, eu perco margem de lucro, mas aumento meu número de vendas. Além disso, dou chance a quem precisa trabalhar”, afirma Sabrina.

Geraldo Rufino é dono da empresa JR DIESEL, especializada em peças usadas para caminhões e tem, hoje em dia um faturamento anual que gira em torno de R$50 milhões. O começo da sua história foi um “negócio próprio” que ele inaugurou aos 7 anos de idade, Rufino catava latinhas. A diferença entre esse homem e outros milhares de catadores de latinhas é a postura diante do problema; enquanto a maioria paralisa diante de um fracasso, Rufino tem aquela garra que só os apaixonados têm: ele aprende, tira uma lição e se transforma. Não deu certo o negócio das latinhas? Segundo ele, deu tão certo que virou uma Kombi velha, que virou um caminhão velho, que virou dois caminhões velhos que viraram um negócio formalizado de peças de caminhão. Enquanto muitos ficam sentados diante das dificuldades e se lamentam, Geraldo Rufino trabalha 12 horas por dia e garante que se diverte muito com isso.

Duas meninas que resolveram desbravar uma área de negócios tradicionalmente masculina: a marcenaria. Letícia Piagentini e Fernanda Amaral são sócias e criam com suas próprias mãos todas as peças de madeira e tapeçaria. A Lumberjills, marcenaria, nasceu de um sonho da dupla em trabalhar com artefatos. Eram colegas de trabalho na área de vendas e hoje tocam, juntas, seu próprio negócio. E o que era hobby virou um empreendimento de sucesso. As garotas investiram R$20 mil para iniciar o negócio, fizeram cursos de aprimoramento em design e marcenaria e apostaram em um nicho promissor: jovens que curtem móveis “descolados”, mas não querem gastar muito. Acertaram em cheio! As vendas, por enquanto, concentram-se entre Santo André e São Paulo; os móveis são feitos por encomenda. Fernanda e Letícia, idealizam, projetam, confeccionam e instalam. Tudo é feito de forma artesanal, sob demanda, por isso elas não têm estoque. “Ao contrário de marcenarias que trabalham em escala industrial, nós não negamos nenhuma peça, nem que seja um abridor de garrafa ou uma única prateleira. Muitas pessoas nos procuram exatamente para isso. Nós tentamos aproveitar cada pedacinho de madeira que sobra”, afirma Fernanda. O projeto para 2017 é investir no e-commerce para ampliar os horizontes de negócios.

Henrique Fogaça, o chef tatuado que compõe o trio de jurados do Programa Mastercheff, não nasceu cozinheiro. Fogaça era bancário, começou e abandonou dois cursos acadêmicos, Arquitetura e Comércio Exterior. Alimentava-se basicamente de pratos congelados, até que cansou de comer comida ruim e passou a arriscar-se na cozinha para produzir suas próprias refeições. O moço contava com a luxuosa consultoria de sua mãe e sua avó, duas cozinheiras de mão cheia. Fazia sua marmita com recheios simples: arroz, feijão, bife empanado, frango assado, nada de comida sofisticada. Incentivado pela mãe inscreveu-se no vestibular para o curso de Gastronomia; passou, cursou e se encontrou. Pediu demissão do banco, comprou e equipou uma Kombi, onde fazia e vendia sanduíches caprichados de hambúrguer, carne louca e linguiça. O negócio acabou não vingando. Mas o cara não se intimidou, não. Passou a vender sanduíches na baguete, bolo de laranja e mousse de chocolate (doces de sua infância), de porta em porta. Trabalhou no D.O.M, restaurante do renomado e premiado chef Alex Atala. Seu primeiro negócio próprio foi um pequeno café na Galeria Vermelho, espaço de arte contemporânea na cidade de São Paulo. Hoje, Henrique é um próspero empresário da área de Gastronomia, toca quatro restaurantes de sucesso e garante que “Comida tem que ter nome de comida. Tem que satisfazer, ser farta. Não pode ser artigo de luxo. Afinal, é algo primitivo, ligado a coisas básicas como a sobrevivência e o prazer.”

O que há de comum entre essas histórias? Qual é o ponto de intersecção entre as trajetórias de Geraldo, Sabrina, Henrique, Fernanda e Letícia? À primeira vista, nada, nenhum ponto de intersecção. O que poderia haver de coincidente entre caminhões velhos, bijouterias originais, móveis descolados e comida boa?! O ponto de encontro entre o sonho dos cinco empreendedores é a capacidade de tirar de um problema, de uma situação de crise, insatisfação ou perda, o combustível para se reinventar e mudar sua trajetória, não apenas profissional, mas da própria vida. Em todos os relatos aparece a ideia do trabalho como fonte de alegria e prazer.

O Brasil passa por uma crise gravíssima que tem em seu cerne, além da questão econômica, a quebra de expectativa, a sensação de desamparo e de descaso. Esse pode ser um ambiente propício para gerar aumento de casos de falência financeira, desemprego e falta de perspectivas. Mas, há quem sobreviva. Há outras tantas histórias de pessoas comuns, gente que não aparece na mídia, homens e mulheres que não ficaram famosos, não são grandes empresários; mas tiveram a coragem de arregaçar as mangas e olhar para a vida como um lugar de oportunidades. Há gente que afunda na crise e há gente que aprende a navegar com ela.

Todo ser humano é um fascista em potencial: Reflexões sobre a Banalidade do Mal

Todo ser humano é um fascista em potencial: Reflexões sobre a Banalidade do Mal

Imagem de capa: Andriy Solovyov, Shutterstock

Theodor Adorno disse que todo ser humano é um fascista em potencial, pois nenhum de nós está isento de cometer atrocidades contra o outro, uma vez que todos podem perder ou deixar-se perder a capacidade de pensar o mundo como uma dimensão de espaços que coabitam.

Ou seja, qualquer ser humano pode deixar de enxergar a dimensão que forma o outro e passar a entender o mundo a partir de um único ponto de vista, sem direito ao diálogo, até porque, como disse, não há um interlocutor para que o diálogo seja estabelecido.

Dessa forma, há de se considerar a força que a estrutura sócio-política exerce para que o indivíduo se torne um fascista, como ocorreu na Alemanha nazista, em que o próprio Estado criou mecanismos para que qualquer pensamento contrário ao dominante fosse exterminado pelo ódio e pela violência. Naquela ocasião, o horror nazista não foi praticado por pessoas “demoníacas”, tomadas por um ente abstrato, como muitas vezes aparenta, e sim, por pessoas comuns, adaptadas e subservientes ao sistema, inclusive, um totalitário.

Analisando por essa perspectiva, percebemos que de fato há no homem uma potencialidade para o mal. Mais que isso, existe uma potencialidade para que o mal seja praticado e banalizado. Em toda prática fascista, portando, há uma banalização do mal, uma vez que ao se tornar parte do cotidiano, algo padrão compartilhado por todos, o fascismo se torna banal, um mal não de “monstros”, mas de homens comuns.

Nesse ponto, o pensamento de Adorno se encontra com o de Hannah Arendt, em que se constata que o vetor do mal praticado em regimes fascistas é o homem comum, destituído da capacidade de pensar. A perplexidade que essa análise traz não está apenas em perceber que responsáveis por milhares de mortes eram indivíduos médios, mas, sobretudo, em entender que qualquer um pode se tornar uma pessoa abominável e externar o monstrinho que somos, lembrando Saramago.

Obviamente, dificilmente teremos a repetição de modelos totalitários como o nazismo, o stalinismo, ou as ditaduras latino-americanas, em que sobressaltaram aos olhos indivíduos como Hitler e Stálin. No entanto, na conjuntura atual, é possível que pequenos reinos totalitários sejam instalados, bem como, o levante de pequenos tiranos. E é exatamente isso que se observa dentro do panorama social contemporâneo.

Discursos de ódio, segregação, culpabilidade dos problemas produzidos socialmente a determinados grupos, isolamento, egoísmo, egocentrismo, competição extrema por todos os espaços, incapacidade de ouvir, enxergar, ver e reparar. Todas essas características, as quais poderiam se relacionar com os regimes totalitários supracitados, na verdade, também pertencem a nossa sociedade. Sendo assim, a banalização do mal em uma nova faceta nos atinge e demonstra que o inferno não está nos outros, em outro lugar, mas em nós, aqui e agora.

A grande problemática, desse modo, reside no fato de, mesmo após tantas experiências negativas para o ser humano, a sociedade insistir em se organizar de maneira autodestrutiva, desintegrada e excludente. Com uma estrutura social que estimula uma concorrência brutal, em uma espécie de luta de todos contra todos, como se fôssemos inimigos, gladiadores no coliseu, no melhor estilo do humanitismo desenvolvido por Machado, não é estranho que tenhamos perdido a capacidade de enxergar o outro como um ser com dimensão própria e diferente da nossa, que mais do que meros julgamentos, deve ser compreendido em sua individualidade e complexidade.

Quando se desenvolve um sistema que cria condições favoráveis ao afloramento do mal e sua prática por todos (banalização), há se entender que os dispositivos possuem problemas e precisam ser corrigidos. Isso não significa estabelecer um determinismo, em que todos, sem exceção, agirão do mesmo modo quando expostos a determinada circunstância sócio-política, mas perceber que os moldes em que a sociedade se constrói são fundamentais para que se tenha indivíduos inclusivos ou exclusivos (autoritários, incapazes de dialogar e, não raras vezes, agressivos).

Se vivemos em uma sociedade pautada no reino do eu, então, somos incapazes de enxergar o outro de forma autônoma e diferente. Pelo contrário, enxergamos o outro somente como um reflexo nosso e na medida em que não conseguimos perceber esse reflexo, vemo-nos na obrigação de por meio da força torná-lo igual ao modelo-padrão.

Trocando em miúdos, não há na base formadora da nossa sociedade elementos que estimulem o diálogo, a capacidade, para lembrar Rubem Alves, de enxergar que o outro possa ver mundos que eu não enxergo. E é justamente essa incapacidade que produz a violência, seja verbal, como discursos de ódio e intolerância nas redes sociais, seja física, quando o indivíduo-tirano não aceita a insubordinação daquele que vive diferente das suas normas.

Posto isso, o mal pode existir e ser banalizado em qualquer época e sociedade, porque, como disse Bertold Brecht – “A cadela do fascismo está sempre no cio” – à espera de sistemas que a copulem e produzam cachorrinhos obedientes a todo comando do pai. Sendo, portanto, o mal oriundo do homem comum, banal, que estava apenas procurando do melhor modo estar adaptado ao sistema, é preciso ressaltar a sua incapacidade de ser diferente e romper com a ordem.

É preciso ressaltar a nossa extrema facilidade em se adaptar e banalizar o mal, mesmo que, no fim das contas, todos sejamos afetados pela violência do totalitarismo, verdadeira tragédia do homem comum.

Gente chata é como unha encravada: só alivia quando a gente corta

Gente chata é como unha encravada: só alivia quando a gente corta

Não é fácil viver em sociedade, uma vez que somos obrigados a ter que conviver com pessoas que não nos agradam nem um pouco, com gente falsa, mal-humorada, mentirosa, agressiva, ninguém merece. É assim mesmo, afinal, muito provavelmente também seremos desagradáveis para muitos, que suportarão a nossa presença por conta das situações que se lhes obrigarão.

Não estaremos livres de encontrar indivíduos com quem não teremos a mínima simpatia, seja na família, na escola, no ambiente de trabalho, seja na roda de amigos. Não dá para explicar muito bem o porquê de gostarmos tanto de algumas pessoas e as razões da nossa antipatia por outros, embora existam aquelas que simplesmente pedem, suplicam, para serem desprezadas, de tão desagradáveis que são.

Quem não conhece alguém que diz que você engordou ou envelheceu, que faz piadas idiotas com alguma característica sua, que diz o que não deve onde jamais poderia, que fala mal de quem não está presente, enfim, alguém chato pra caramba? São aqueles indivíduos que espalham qualquer roda em que aparecem, que todos evitam convidá-los para qualquer evento, que pesam todo e qualquer ambiente que adentram.

O interessante é que, não raro, muitas pessoas que, de início, não nos causam uma boa impressão, com o tempo, após a convivência, passam a ser agradáveis para nós. Isso porque somente o dia-a-dia é que realmente mostra, com propriedade, quem é quem. Da mesma forma, muitos indivíduos acabam por se revelar o oposto do que imaginávamos, pois nenhuma máscara resiste à passagem do tempo – felizmente.

Devemos, ainda, atentar para o fato de que, em alguns casos, nossa antipatia pelo outro advém do fato de enxergarmos nele algum comportamento que também possuímos e não nos agrada, ou seja, é como se o outro fosse espelho de algo em nós mesmos de que não gostamos. E mais, como ninguém está livre de invejar alguém, deveremos tomar cuidado para que não estejamos invejando a pessoa e usando a antipatia por ela como defesa própria.

Mesmo assim, quando já tivermos analisado e ponderado todas as possibilidades de convivência harmônica com alguém e não tivermos conseguido mudar nossa opinião sobre ele, nem com a ajuda da passagem do tempo, é sinal de que ele sempre será um chato para nós. Nesses casos, o melhor a fazer é cortar de nossa vida quem a torna menos agradável, evitando contatos, a não ser os estritamente necessários. Tem gente que não muda, mesmo quando fica muda. Delete, releve, abstraia e finja surdez.

Vida que segue, e bem longe de gente chata.

Imagem de capa: AstroStar, Shutterstock

Prazer, eu sou o EGO

Prazer, eu sou o EGO

Imagem: Reprodução

Aquela imagem de ser especial, aqueles desejos intermináveis que nos cercam, as necessidades de atenção e carinho, as metas para nos tornarmos melhores. Ego - uma palavra tão pequena para algo que toma um espaço tão grande em nós, não é mesmo? É essa a face que nos constrói. Todo o nosso passado o sustenta, todo o nosso presente o alimenta e todo o nosso futuro o desenvolve. Prazer, esse é o EGO.

Podemos dizer que, a todo momento, estamos o exercitando, seja ao nos elevar ou ao nos diminuir. Levamos o ego à academia  –  dos relacionamentos, do trabalho, da família, de toda a nossa vida  –  e, no final, ele sai fortalecido, achando que é tudo o que somos.

Ele domina nossas falas, nossos pensamentos, nossos sentimentos, nossas emoções, nosso corpo, nossos relacionamentos, nossas aparências e tudo mais no entorno. O ego é aquele pecado original, é aquele conhecido, como o bem e o mal, como ignorante, como instinto animal. Ele possui várias faces: pode ser o bom, pode ser o mau; pode ser o inteligente, pode ser o burro; pode ser o rico, pode ser o pobre; pode ser a alegria, pode ser a tristeza  –  ele está em todos esses adjetivos e formatos.

Perceba que o ego trabalha com opostos: ele traz a dor e a alegria, o desejo (a falta) e a sua satisfação, o belo e o feio, a vítima e o vilão. Todos esses opostos são complementares, sendo um o contraste do outro. Ele no mostra a tristeza, por também nos mostrar a alegria; a escassez, por mostrar a fartura; o conflito, por mostrar a sensação de paz.

O EGO TRABALHA COM OPOSTOS, COMO UMA MOEDA QUE, UMA HORA É CARA E NA OUTRA É COROA. UMA HORA É ALEGRIA, em OUTRA É TRISTEZA. UMA HORA É CONFLITO, na OUTRA É PRAZER.

Esse não é um fato novo: todas as religiões ou buscam domar/enjaular o ego, ou matá-lo. Todas as escrituras, testamentos, livros e canções (guita) procuram nos comunicar a verdade, seja por leis morais ou porconhecimento.

Nessa vida, o ego deve ser investigado e conhecido.

É necessário reconhecer onde está o seu ego nesse momento. Sobre quais objetos, pessoas, palavras ou locais ele está lhe indicando para pensar agora.

QUE DESEJO VOCÊ ESTÁ TENTANDO OBTER? QUE NECESSIDADE QUER SATISFAZER?

O ego joga sujo, inventa a perfeição só para você fazer de tudo para alcançá-la. Ele cria a tristeza e promete a felicidade na satisfação do desejo, só para você desejar mais e mais. Ele cria uma autoimagem, só para você fazer de tudo para preservá-la e melhorá-la. Ele inventa conflitos, para você se agitar e buscar paz em algum objeto, pessoa ou lugar.

Ele quer técnicas, práticas, cultos, rituais, curas, cursos, trabalhos, relacionamentos, entorpecentes, filosofias, novidades, livros, filmes, sexo e compras, para acabar com ou minimizar qualquer insatisfação. Ele cria a doença e a sua cura no mundo exterior.

Ele não gosta de olhar para dentro; na verdade, ele não suporta o silêncio. Ele não gosta de se sentir sozinho, por achar que só algo lá fora pode satisfazê-lo. Ele evita uma paz e uma felicidade suprema, a ponto de garantir a si mesmo que é impossível isso existir.

Bem isso tudo é o ego. Mas, e o que não é o ego?

QUEM É VOCÊ? QUEM É VOCÊ SEM ESSA MÁSCARA (PERSONA=PESSOA) DO EGO? O QUE É ISSO QUE É VOCÊ?

A partir do momento em que investigamos e conhecemos melhor o funcionamento do ego, uma porta se abre para o testemunho. O testemunho do que está acontecendo agora, do que se passa dentro de nós. Perceba que, dentro, também, é só um conceito e não necessariamente temos esse limite.

Que pensamentos estão aí? Você está onde agora? Está no passado, futuro ou no presente? O que o ego está tentando fazer? Que imagens ele lhe mostra? que conflitos ele cria? Quem ele diz que é você?

Investigue o que é o ego e como ele funciona. Veja quais são os seus moldes, os seus padrões, as suas heranças. Investigue, também, o que não é ele. Sem o ego e sem o corpo, o que sobra? Essa pergunta é o amor, que desperta, que traz consciência.

FELIZ DAQUELE QUE SUPEROU O EGO (BUDA)

“Um homem disse a Buda:

– EU QUERO felicidade.

Buda respondeu:

– Primeiro retire o EU, que é a sua imagem e vem do seu ego. Depois, retire QUERO, que é seu desejo e também vem do ego. Pronto, agora você é deixado com a felicidade, o que você realmente é.”

Namastê!

Virgilio

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