Sobre homofóbicos, machões, racistas e outros tipos que não gostam de gente.

Sobre homofóbicos, machões, racistas e outros tipos que não gostam de gente.

Imagem de capa: kudla, Shutterstock

Quando eu crescer, quando eu for mais que esse velho ranzinza de cara feia, esse operário aborrecido que mal consegue pagar o aluguel, esse amigo ingrato e distante de tanta gente amiga, ahh… eu bem me aplico a compreender o que passa na cabeça de um homofóbico, um machão, um xenófobo, um racista ou qualquer outra criatura que dedica a própria vida a incomodar a dos outros.

Você sabe como é difícil esse negócio de tratar das nossas próprias atribuições. Dá um trabalho danado. Toma tempo! Há sempre mais e mais o que fazer. Quem se ocupa com empenho de seu dia depois do outro pratica a arte do malabarismo, corre de um lado a outro equilibrando pratos em varetas delicadas, cospe fogo, anda na corda bamba, salta no trapézio sem rede. Cuidar da própria vida é mão de obra espinhosa, serviço pesado. E ainda tem gente que consegue aporrinhar e perseguir a vida alheia.

É muito esforço. Os semideuses que dão conta de tal proeza devem se importar de verdade com aqueles a quem perseguem. Se isso não é amor velado e mal resolvido, é um ódio violento e descarado. Aqui comigo, silencioso para não incomodar, eu tenho a impressão de que é pura raiva incontrolável, malquerença profunda, incontido recalque. Nada mais que isso.

Misóginos convictos de seu ódio irrestrito por mulheres, machões orgulhosos de sua masculinidade babando raiva dos homossexuais, racistas, fascistas, xenófobos e outros espécimes convencidos de sua superioridade em relação ao outro têm no mínimo um aspecto medonho em comum: eles são gente que não gosta de gente.

O canalha que espanca a mulher é pior do que um mero covarde e um criminoso rasteiro. É alguém que não gosta de gente. Quem persegue os que têm uma orientação sexual diversa da sua não é só homofóbico. É alguém que não gosta de gente. Quem deprecia, humilha e espezinha um ser humano pela cor de sua pele, o lugar onde nasceu ou o conteúdo de sua conta bancária é mais que um habitante do limbo moral onde vegetam os canalhas. É alguém que não gosta de gente.

Quem se presta a esse tipo de coisa devia ser estudado. De suas glândulas há de brotar substâncias que a ciência bem podia usar na produção de antídotos para tanto veneno, como das cobras saem os soros antiofídicos. É um mundo livre, Meu Deus! Cercear o voo dos outros, limitar seus movimentos como quem corta as asas de uma calopsita só pode ser coisa de quem não suporta o fato de que o mundo é habitado por seres diferentes, diversos, distintos, livres para ser o que são.

Um dia eu me aplico a compreender quem não tolera a liberdade do outro. Hoje não dá. Eu tenho mais o que fazer e o aluguel vai vencer de novo. Hoje não. Mas um dia. Um dia.

Tenha por dentro a mesma beleza que você expõe por fora

Tenha por dentro a mesma beleza que você expõe por fora

Imagem de capa: Veles Studio, Shutterstock

Não sejamos hipócritas: aparência importa sim! Importa em uma apresentação de trabalho, importa na vida social, importa para a autoestima e importa até, no primeiro encontro com aquela pessoa que você quer sair há séculos.

Sem contar que a aparência diz muito sobre quem somos e revela traços marcantes da nossa personalidade. Mas, chega uma hora em que é necessário mostrar além da beleza física. É necessário que outras qualidades como inteligência, senso de humor e generosidade venham à tona e deixem explícito quem, realmente, somos.

Entrar em uma calça 38 é mágico! Sentimo-nos as próprias mulheres maravilhas (sem o cinturão e o poder de voar). Mario Quintana tinha até um jeito irônico de dizer que a beleza física é tão importante quanto à interior: “dizes que a beleza não é nada? Imagina um hipopótamo com alma de anjo… Sim, ele poderá convencer os outros de sua angelitude – mas que trabalheira!” Não há como discordar. Claro que o ser humano é formado por um conjunto de qualidades que o tornam belo e isso envolve o físico, o interior e suas atitudes.

Chamar a atenção pela beleza externa é bom, mas você já experimentou encantar as pessoas com sua inteligência e com seu bom humor? Já sentiu a sensação de ser admirada por ser, simplesmente, você? Não tem silicone, bronzeamento a jato e 50 kgs cravados em uma balança que superem o prazer de uma boa conversa. Pessoas bem humoradas são agradáveis , inteligentes e estar perto delas é, no mínimo, apaixonante. José Ortega y Gasset dizia que “a beleza que seduz poucas vezes coincide com a beleza que faz apaixonar.”

Lembra da famosa frase de Antoine de Saint-Exupéry, em “O Pequeno Príncipe”: “Eis o meu segredo. É muito simples: só se vê bem com o coração. O essencial é invisível aos olhos?” Então, não são os olhos que devem se lembrar da sua verdadeira beleza, é a alma. Pessoas bem resolvidas demonstram coerência entre aparência e essência e deixam isso explícito em suas atitudes diárias.

Claro que é importante cuidar da saúde e ficar atento a ela, mas cuidar da mente e do autocontrole emocional é tão importantes quanto. Karl Marx dizia que “se a aparência e a essência das coisas coincidissem, a ciência seria desnecessária.” Seu currículo pode ser invejado e a Apple e a Microsoft podem ser suas referências profissionais, mas se você desconhecer as palavras ética, caráter e humildade, sua reputação estará condenada a afundar mais rápido que uma âncora jogada ao mar.

Mesmo com os valores invertidos na sociedade, o “ter” jamais terá mais valor que o “ser”. Não importa se você tem o título de Miss Universo, o corpo mais definido que uma fisiculturista e toma mais Whey do que água. As pessoas não ligam para isso. Elas se importam com a forma como você as trata. As pessoas lembrarão de você pela generosidade que pratica, pela bondade que carrega dentro de peito e pelo sentimento que despertou nelas, seja bom ou ruim.

Nada contra gente sarada. Acho lindo (confesso que até queria ter aquele gominhos no abdômen)! Mas queremos gente sarada por dentro e por fora. Dessas que comem batata doce e batata frita. Que tomam suco verde, mas que não tentam convencer o outro de que é a melhor coisa do mundo. Que entrem em suas calças 38, mas que respeitem as nossas calças 44. Que chorem fazendo seus abdominais, mas riam com nossas piadas nos finais de semana. Gente que aparenta ser bonita por fora e que é maravilhosa por dentro.

Sabe, bonito mesmo é cumprimentar o senhor que busca as latinhas na rua da sua casa pelo nome. É sair para correr e levar água para os cachorrinhos de rua. É deixar mais leve a vida de quem carrega mais peso que você na academia, distribuindo amor, carinho e atenção. É deixar o narcisismo de lado e ser mais humilde.

Pele enruga, cabelo cai, corpo muda. O que fica mesmo é o bem que você fez para quem nunca pode te retribuir. Como dizia Nelson Rodrigues: “Ser bonita não interessa, seja interessante…”

A arte de ser feliz em pequenos instantes

A arte de ser feliz em pequenos instantes

Imagem de capa: KIRAYONAK YULIYA, Shutterstock

Embora tenhamos claro que a felicidade é uma construção diária, muitas vezes perdemos momentos únicos planejando-a. O tempo faz pressões para que sejamos tudo ao mesmo tempo agora e, em vez de saborearmos o hoje, escolhemos viver o amanhã. A arte de ser feliz deve ser focada em pequenos instantes. Ainda que sejam passageiros, é onde residem as melhores e mais sinceras experiências.

A vida não pode ser uma sucessão de obrigações e boletos a pagar. É importante abraçarmos cada sensação, como se fosse a primeira e a última de nossas vidas. Contemplar o novo, revisitar o gasto e criar o oportuno. Precisamos de mais coragem para sermos inteiros. Nada de esperarmos que a vida nos preencha lacunas. É nossa responsabilidade reconhecermos o querer primeiro. É afundar os pés na areia, sentir o cheiro da chuva no fim da tarde, comer algo com prazer, compartilhar mãos com quem se quer estar. Já que somos efêmeros, nada mais justo que apoiarmos a nossa própria felicidade o quanto pudermos, em qualquer lugar que estivermos.

Existe graça, leveza e virtude no amor derramado sem porquês. Sejamos artistas ao tratarmos dos nossos sorrisos. Sejamos acrobatas ao riscarmos infelicidades e maldades daqueles que não somam. Deixemos de lado os medos passados e, sem mais delongas, atentemos para um presente intrínseco. Egoísmo é querermos fazer adiamentos de uma paz possível para todos. Não se joga com afetos e liberdades. Só os ignorantes carregam descasos e saltam os olhos para o outro.

Banhemo-nos em gratidão. A felicidade é para ser urgente e inteira. Tenhamos pressa porque, antes que os próximos instantes alcancem a finitude futura, temos todo um espaço concebido por grandiosidades, doçuras e outras gotas mais de viver.

Amor pra mim é como café: não poder ser morno, precisa ser quente.

Amor pra mim é como café: não poder ser morno, precisa ser quente.

Imagem de capa: doodko, Shutterstock

Eu sinto falta de toda a nossa magia e de como tudo era tão bonito logo no início. Eu sinto falta dos seus abraços na chegada e dos seus beijos na despedida. Eu queria acreditar que tudo está exatamente como antes e que houve mudanças e evoluções entre nós. Mas esse amor, que antes era furacão, hoje virou tempestade.

Eu queria estar errada quando sinto que está tudo diferente entre a gente e queria que fosse verdade quando você me dissesse que está tudo bem. Enganos e mais enganos e nós estamos nos afundando. Eu queria os seus anseios novamente, seus elogios inesperados e aqueles bilhetes colocados no meio de um livro velho, ou na porta do meu guarda-roupa novo. Eu queria sentir que ainda somos dois inteiros e não metades. Queria ver o nosso amor sendo par e não ímpar. Achei ser loucura, achei ser saudade, achei ser falta ou exagero. Tentei encontrar respostas, mas as incógnitas permaneciam ali me torturando.

Achei que, talvez, se eu mudasse o corte de cabelo ou comprasse uma roupa nova, fizesse a sua sobremesa preferida, as coisas iram se acertar, as coisas iriam mudar. Enganos e mais enganos e nós estamos afundando. Eu sei que o amor tem dessas de não ser mais novidade depois de um tempo, mas é aí que a sua essência mora. É continuar achando o outro interessante, mesmo que a novidade desapareça, que o corte de cabelo do primeiro encontro cresça e que as palavras “linda” e “bonita” tornem-se chamamentos, em vez de adjetivos. Eu sei que o amor é isso, uma espécie de vício: quanto mais se tem, mais se quer. Por isso eu quero muito de nós. E já não me acho tão errada em pensar assim. Já não acho mais loucura querer um amor nesse ritmo bagunçado.

Não tem essa de esfriar, de se esquecer de elogiar, porque eu já sei o quanto você me acha bonita. Não tem essa de não sair mais, porque já conhecemos muitos lugares, ou de deixar as coisas como estão, porque, sei lá, “está bom assim”. Não exijo de você atenção o tempo todo, isso já é loucura, só volte a me mandar mensagens inesperadas dizendo que pensou em mim quando viu meu chocolate favorito no mercado. Só não deixe de dizer o quanto meu pijama velho combina com o meu mau humor matinal e como eu fico linda quando estou brava.

Só não deixe de elogiar minhas receitas, mesmo que esteja faltando sal ou que eu tenha exagerado no açúcar. Não deixe de comprar um ingresso daquele filme que eu pedi que você assistisse comigo e de deslizar seus dedos em minhas mãos, como quem quer prestar atenção no filme, mas também quer dar carinho. Eu lhe peço que não deixe de me beijar na testa enquanto esperamos o elevador e de me dar um beijo na bochecha quando eu escolher o lanche do cardápio. De roubar beijos e sorrisos e de me esmagar com seus abraços. Só não deixe de me amar por pouca coisa, ou de achar que já está tudo ganho entre nós.

Nós não precisamos nos afundar, nós precisamos ganhar um ao outro todos os dias. Amor, para mim, é feito café: não poder ser morno, precisa ser quente.

Minha casa e meu corpo são meus templos

Minha casa e meu corpo são meus templos

Imagem de capa: lzf, Shutterstock

Minha casa e meu corpo são meus templos. São espaços de liberdade, de amor e de respeito. Eu cuido da parte de fora e de dentro, eu compartilho meus sorrisos e ensinamentos, eu abro os braços nos meus dias de sol, eu tenho colo e acalento, mas também fecho as janelas para agitadas tempestades que querem me invadir, bagunçar, entrar e sair sem nem descalçar os sapatos, sem pedir licença, sem olhar nos olhos.

Aqui não é bem-vindo quem quer entrar sem ser convidado, ou sem tomar cuidado, sem jeito, sem tato. Minha casa e meu corpo são sagrados. Ofereço um café e um cafuné para quem se aproxima com boas intenções, quem traz uma oferenda, um ensinamento, um beijo, uma flor e com desprendimento deixa uma prenda perto do meu coração, que é meu altar.

Eu cuido dos sentimentos que nessa pele correm, eu olho com atenção para as flores que crescem na varanda. Eu celebro com comidas e bebidas as boas companhias e me fecho feito casulo nos dias de escassez energética. As portas não estão sempre abertas, a entrada não é livre e nem franca, minha casa e meu corpo não são a casa da mãe joana.

Não é só chegar, puxar um papo e uma cadeira, não é só tocar a campainha, não é tentando espiar pela fechadura, não é invadindo, exigindo, entrando, abrindo, ficando, se sentindo em casa. Dessa forma aqui você não vai conseguir nada.

Minha casa e meu corpo não são seus, são meus. Se eu te der passagem, pode sim ficar à vontade, abrir a geladeira, tomar uma cerveja, ser você mesmo. Pode sim fazer uma visita, desarrear as bagagens e os pesos do corpo, esticar as pernas, abrir o coração. Pode pegar um livro, pode cuidar dos bichos, pode relaxar, fechar os olhos, deixar os ventos te renovarem inteiro.

Aqui tem sim liberdade de expressão, espaço para deixar fluir a imaginação, um prato extra na hora da refeição, mas também tem limites, tem reclusão, tem a minha palavra contra (ou a favor) da sua intenção.

Por isso venha, mas peça licença, fale a senha, chegue com cuidado, carinho e devoção. Se for de minha vontade, se for pela nossa verdade, as minhas portas e janelas se abrirão.

10 dicas pra 2017 ser mais leve

10 dicas pra 2017 ser mais leve

Imagem de capa: Sjale, Shutterstock

Fiz algumas anotações no meu caderninho do ano passado e resolvi compartilhar aqui, já que são algumas dicas pra tornar a vida mais fácil de ser vivida. Claro que existem algumas coisas muito particulares e não vão ter nada a ver com você, mas acho que dá para encaixar algumas coisas na vida de todo mundo.

1 – Beber pelo menos 3 litros de água por dia

Acredite, beber água o tempo todo é bom para TUDO. Inclusive para o seu humor. É só andar com uma garrafinha de água e enchê-la sempre que der. No começo você vai esquecer, mas, depois, seu corpo vai pedir água o tempo todo.

2 – Assistir a algum TED, ou procurar pela Internet qualquer assunto de que você goste

Uma das coisas que mais me deixa feliz é aprender alguma coisa nova por que eu me interesse. Eu começo a pesquisar e fico o dia todo ou a semana toda debruçada naquele universo novo tentando entender mais, descobrir mais, discutir mais. “A mente não alimentada devora a si mesma.”

3 – Andar mais a pé

Andar a pé é uma forma de fazer exercício, mas você não anda pensando que está se exercitando e, mesmo assim, está liberando endorfina. O legal de andar a pé é poder observar tudo à sua volta. Observar os detalhes da rua em que você sempre passa, ver como as pessoas reagem, como a luz do dia muda totalmente a vibe do lugar, dependendo da hora.

4 – Descomplicar tudo

Pense duas vezes antes de criar caso com alguma coisa, ou antes de reclamar. Respire fundo, guarde para você. Se for realmente necessário, fale numa boa, sem soltar faísca.

5 – Não deixar os monstrinhos da cabeça (nóias) o dominarem

Você precisa prestar atenção ao que é real.  A gente não controla nada, muito menos o que as pessoas pensam. Preste atenção na realidade e se apegue a isso, em vez de ficar criando uma realidade paralela na sua cabeça. Se a pessoa não parece interessada, aja como se ela não estivesse interessada, em vez de fica criando mil e uma histórias para justificar a ausência dela. Só ela tem a resposta. Se a pessoa estiver lhe dando atenção e parecer gostar de você, não invente que ela não está nem aí. Tente se guiar pelas ações, mais do que pela sua imaginação. Não estou dizendo que é fácil, mas é a única forma de não entrar em parafuso.

6 – Dar a louca de vez em quando

Pode dar a louca, mas sem interferir na liberdade de qualquer outra pessoa, ok? Quando eu digo dar a louca, eu digo se permitir sentir as coisas lá do fundo do estômago. Permitir-se errar, permitir-se sentir, permitir-se perguntar, escrever uma carta de amor, ou uma carta esculhambando tudo de vez. Sair por aí, comprar uma passagem para a Tailândia, dividida em 12 vezes, pegar o carro e cair na estrada, beber todas, experimentar o mundo ou se esconder dele.

7 – Usar mais acessórios malucos, tipo peruca, unhas postiças, cílios coloridos

Essa é uma das minhas metas para este ano! Eu amo me fantasiar, amo glitter, amo peruca, amo poder ser outro personagem. Então, por que não? Por que só no carnaval a gente pode sair por aí fantasiado de alguma coisa? É tão mais divertido poder ser qualquer coisa em qualquer dia.

8 – Ler pelo menos um livro por mês

Gente, tem atividade mais gostosa do que viajar sem sair do lugar, viver outra vida sem parar a sua, aprender, refletir, conversar com você mesmo e se envolver com personagens? Então, vamos praticar isso mais!

9 – Pensar mais na sua saúde mental do que na estética perfeita

Eu abro o instagram e me deparo com um monte de corpos sarados o dia inteiro. As pessoas só falam sobre isso o tempo todo e eu comecei a perceber que estava gastando mais tempo do que o necessário pensando em como ficar com o corpo perfeito, se é que isso existe. Minha meta é ser saudável, comer bem e me exercitar, porque isso é bom para o meu equilíbrio e não porque eu quero ficar com a barriga da (insira qualquer blogueira fitness aqui). Acho que não tem problema nenhuuuuuum querer melhorar, ficar mais bonito, sentir-se mais confiante. O problema é quando isso passa a ser uma paranóia e não um estímulo.

10 – Conectar-se mais com tudo

Conectar-se com pessoas que estão longe ou perto. Conectar-se com pessoas desconhecidas. Conectar-se com a natureza, com as coisas inanimadas, com as histórias, com uma obra de arte. Conectar-se com você mesmo. Acho que “conectar” é a palavra do século e a palavra da minha vida.  Arte é conectar, amor é conectar, viver é conectar. O barato da vida é se sentir conectado com o que quer que seja. É a única forma de se sentir pleno.

Desacelere e olhe para o lado

Desacelere e olhe para o lado

Imagem de capa: Antonio Guillem, Shutterstock

A vida anda tão corrida e num ritmo frenético de 140 caracteres que tudo tem que ser rápido, objetivo e sucinto. Nada mais tem seu próprio tempo e momento, as coisas são apressadas e aceleradas o máximo possível.

Parece que temos medo do silêncio, das pausas, da reflexão. Não queremos esperar por mais nada e tudo tem que ser na hora e quando queremos, se possível, antes ainda.

Nosso dia parece ter menos horas em comparação a quantidade de coisas que temos que fazer. Estamos vivendo no looping, no piloto-automático, estamos igual a um avestruz com a cabeça enfiada debaixo da terra e não estamos nos dando conta nem de quem está ao nosso lado.

Não estamos presentes, não estamos acordados para o que está acontecendo ao nosso redor. Estamos cada vez mais autocentrados e focados apenas no que nos interessa, naquilo que queremos, e como iremos conseguir. Temos planejamento para os próximos cinco anos, metas, sonhos e nada vai nos parar até chegarmos lá, até o topo, até o cume do sucesso que tanto ansiamos.

Estamos tratando os outros como peças de xadrez, como instrumentos para um fim, como algo descartável. Não podemos tratar as pessoas dessa forma, como seres substituíveis, como algo para abrirmos mão quando não for mais necessário ou útil pra gente.

Temos toda essa tecnologia ao nosso favor para facilitar o nosso dia a dia, nosso processo de trabalho ou para encurtar as distâncias com quem a gente ama, mas parece que ao invés de termos mais tempo para vida real e o que realmente importa, temos cada vez menos disponibilidade para o outro, para a sua rotina, para sua vida.

A cultura do faça mais com menos, onde tudo tem que caber nos caracteres do Twitter ou nas 24 horas do snapchat.
Tudo é efêmero e instantâneo, parece que estamos em uma esteira aonde não podemos parar ou diminuir a velocidade ao longo do caminho.

Estamos presos a um status quo, ao que está preestabelecido e não vemos uma maneira possível de desacelerar sem ficar pra trás, sem ser sugado pelo olho do furacão.

Não acho que o problema seja a falta de tempo, o quão ocupado ou sobrecarregados estamos. De uma forma ou de outra, estamos todos no mesmo barco, naufragando em obrigações, reuniões e contas pra pagar. Acho que a disponibilidade tem muito mais a ver com o que é prioridade pra gente do que a nossa eterna correria e falta de tempo.

Quando alguém é importante, quando adoramos determinado programa ou ver os amigos está no top 5 da nossa lista de prioridades, a gente arruma tempo sim, sem ‘mas’, sem exceções ou desculpas. Tem coisas na vida que são complicadas e difíceis de entender, mas isso é bem simples.

Quando a gente quer tá junto, quando a gente quer tá o mais perto possível na vida do outro, participar ativamente da vida de alguém, a gente comparece, a gente tá ali, sempre ao alcance de um abraço, de um telefonema, nem que seja de um áudio do WhatsApp e pronto.

Desassossegos meus

Desassossegos meus

Imagem de capa: Coy_Creek, Shutterstock

“Hoje mergulho no desassossego! Vou solitário, individualista… na busca de uma revolução que seja só minha.”
(Kléber Novartes)

Minha alma é uma desassossegada inata
Está sempre à busca de algo que nem sabe ao certo o que é
Não se contenta com explicações superficiais
Com um não-sentido para as coisas
Tem a necessidade de estar ligada a algo superior
Aperfeiçoar-se, expandir-se, resplandecer…

Meu corpo, também, sempre foi desassossegado
Ele quer movimento, mas ao mesmo tempo se exaure com tantas inquietações
Desacomoda-se com qualquer possibilidade de vida medíocre
E dia a dia me exige mais cuidado, mais dedicação, mais conteúdo de qualidade
Além de me cobrar um preço alto pelos outros desassossegos todos…

Minha mente, então, é um desassossego só
Ela conversa consigo mesma, cogita hipóteses
Antevê acontecimentos, testa possibilidades
Questiona padrões por ela mesmo impostos
Às vezes, me tonteia e me controla…
Não entende que, assim, me esgota.

Meu coração, tadinho, é o único que me traz paz
Basta parar com tudo, e prestar atenção somente nele, que o sossego logo vem
E, ainda que por um breve período, me sinto plena, serena e preenchida

Nada mais importa, nada é tão grave assim, tudo passa…
E percebo, então, que tudo que preciso está dentro dele
Que há uma fortaleza dentro de mim
Cheia de luz, de silêncio e, sobretudo, de amor
Fácil e plenamente acessível…

Todavia, os borbulhos insistem em voltar
E me tiram da imensidão
Me arrancam das sutilezas, me sequestram a simplicidade
Me atormentam, e me confundem
Me cegam, novamente…

Então, eis o grande desafio da minha vida:
Distinguir-me e desligar-me da minha mente
Relaxar, assim, o meu corpo
E dar paz, enfim, à minha alma, através do meu coração…

Mergulhando na imensidão do amor que mora em meu íntimo
E mantendo-me nas suas profundas e cristalinas águas pelo máximo de tempo possível
Iluminando-me, transcendendo-me e unindo-me à luz maior que a todos é inerente
Dando sentido aos desassossegos todos, enfim…

Nossas memórias são traiçoeiras

Nossas memórias são traiçoeiras

Imagem de capa: Jaroslav Monchak, Shutterstock

Certa vez li um estudo que diz que quando recordamos um fato do passado, na verdade recordamos a última lembrança que tivemos de tal ocorrido. Ou seja, com o passar do tempo, nossas memórias são construídas em cima de memórias e não do que de fato aconteceu. Além disso, nosso mecanismo de memorização é seletivo e excludente, e nós esquecemos muito mais do que memorizamos. E ainda, temos certa tendência em “editar” o passado, tornando-o melhor do que foi. Portanto, nossas memórias são traiçoeiras, elas não são acuradas, verdadeiras, elas são nada mais que nossa versão editada da real história.

Talvez esse seja um mecanismo de defesa ou sobrevivência que desenvolvemos em nossa evolução. Pois, dar sentido à nossa historia é um fator importante para sobrevivência. É compreensível que queiramos florear nossa própria história deixando-a mais bonita e significativa. Encontrar beleza e dar sentido às nossas feridas é talvez o maior ato de redenção e gratidão aos nossos antepassados, às suas dores, às nossas dores. Talvez seja por isso que lembramos do passado com tanto apreço, certo romantismo até, que insistimos em recordar das partes boas e melhorar as ruins.

Isso explica aquele relacionamento antigo que você insiste em lembrar como um ótimo relacionamento, tão perfeito, tão feliz, e atenta-se pouco aos detalhes, às brigas e incompatibilidades, ao término em si e os fatos que levaram à ele. Também explica essa nostalgia que permeia nossa infância, as recordações que geralmente temos de uma infância doce e feliz.

Da memória excluímos todas as vezes que ainda tão pequenos, sentimos medo, raiva, impotência, angústia, solidão. Esquecemos das vezes que vivenciamos episódios que sequer tínhamos repertório emocional para compreender. A nossa mente faz um trabalho de certa forma poético ao tentar nos proteger dessas (re)vivências traumáticas, aprimorando-as ou apagando-as.

Mas, independente de como nossa memória funciona, o que interessa na prática é que por mais “traiçoeira” que ela seja, por mais que nosso cérebro tente nos proteger de reviver grandes dores, nosso corpo como organismo completo que é, tem uma sabedoria imensurável, e ele registra tudo, e ele não esquece nada. Assim, muitas vezes desenvolvemos ansiedade, raiva, tristeza, depressão e tantas outras agonias emocionais que não sabemos nomear de eventos que não podemos recordar.

Além disso, para sobreviver, aos poucos nos adaptamos aos ambientes caóticos em que crescemos e criamos vícios de comportamento, padrões aprendidos e repetidos, crenças engessadas, histórias melhoradas (e portanto fantasiosas). Geralmente agimos inconscientemente, por amor aos nossos progenitores, para pertencer ao nosso núcleo familiar, seja qual for a razão, fato é que tudo isso nos gera uma alta dívida emocional. E essa dívida sempre nos é “cobrada”, é como se de alguma maneira nossa alma nos cobrasse essa dívida para que busquemos a verdade e reaprendamos a contar a nossa história mais verdadeira.

A boa notícia é que o passado, como diz o nome, passou e sempre temos a escolha de construir novos caminhos e possibilidades com os recursos que temos hoje. Portanto, não somos reféns do que foi. Por mais importante que seja revisitar nosso passado para entender de onde viemos, o que ajuda mesmo é entender como essas memórias perdidas e os traumas não solucionados no passado se manifestam em nosso dia-a-dia.

Entenda, a verdadeira possibilidade de mudança está apenas no presente. Portanto, aprender a deixar para trás o que foi (e não temos poder de mudar), compreender nossos medos e estarmos por inteiros em nossas escolhas é uma tarefa libertadora e curativa. É o antídoto infalível para qualquer sofrimento da alma. Pois, só o presente é verdadeiro e a verdade, muitas vezes pode ser dura, mas ela sempre nos é fiel.

E nossa alma só sossega quando encontra a verdade.

Precisamos ser inteiras antes de sermos a metade de alguém

Precisamos ser inteiras antes de sermos a metade de alguém

Primeiro dia de 2017, saí da festa de reveillon e fui direto pro mar pular as sete ondinhas.
Saúde, paz, viagens novas, amigos novos, experiências novas, aprendizados novos.
Pedi tudo isso e um pouco mais. Voltei da praia e perguntei pra minha amiga o que ela tinha pedido.

– Pulei as sete ondas e nas sete pedi que esse ano eu finalmente encontre um namorado novo – ela me respondeu – estou precisando de um up na minha vida.

Sorri e não falei nada, mas fiquei pensando em como eu queria que ela soubesse que a vida não se resume em encontrar um namorado. Que os problemas delas não serão resolvidos quando ela começar a namorar.

A vida não é só encontrar alguém que te queira, ou ficar triste por alguém que não te quer. A vida vai tão além disso.
A gente precisa parar de achar que a nossa felicidade depende de outras pessoas.

A vida é fogueira acessa em noite fria, é banho de mar gelado, é comer até não conseguir levantar da mesa, é dirigir sem rumo, é rir até a barriga doer, é dormir ao ar livre numa noite estrelada, é ler livros que te façam soltar em voz alta um “puta que pariu”, é dormir no sol, acordar com insolação, se arrepender e no próximo fim de semana estar fazendo a mesma coisa, é pôr do sol depois de um dia cheio, é nascer do sol depois de uma madrugada de festa, é a sensação de superação após a subida de uma montanha, é passar a madrugada conversando com gente que te entende, é tomar uma breja gelada com os amigos depois do trabalho, é ligar o rádio e estar tocando a sua música preferida, é dormir na rede, é conhecer gente nova, é ficar amiga de gente completamente diferente de você, é acampar com amigos, é vestir uma roupa nova e se sentir a mulher mais bonita da festa, é se pegar sorrindo simplesmente por ter vivido o que viveu e por ter conhecido quem conheceu.

A gente tem tanta coisa pra viver antes de querer se apaixonar.
Então, pra que a pressa?
Se você não está feliz com a vida que leva, não ache que o que falta nela é alguém pra te completar. Você já deveria ser completa por si só antes de encontrar alguém.
E eu te imploro, não se acomode na vida porque acha que encontrou o amor dela. O amor da sua vida vai sempre ser você mesma e você não deve abrir mão disso por nada nesse mundo.
Você vem sempre em primeiro lugar.

Você tem todo o tempo do mundo pra se conhecer e se descobrir sem ficar se preocupando se algum homem vai te querer.
Você precisa estar em paz com você mesma antes de encontrar alguém pra supostamente te trazer essa paz.
Você precisa viajar sozinha, ir ao cinema sozinha, sair pra jantar sozinha, ir ao parque ler um livro sozinha, antes de querer fazer tudo isso com alguma outra pessoa.
Você precisa saber aproveitar a sua própria companhia.
Você precisa ser inteira sendo sozinha.
Só assim, depois de estar em paz consigo mesma, você estará pronta para receber alguém em sua vida.

Não é que ninguém deva namorar, longe disso.
Eu só acredito que nós devíamos parar de nos envolver com outras pessoas apenas por carência.

Quem não é um bom ímpar, nunca será um bom par.

Imagem de capa: acervo pessoal da autora.

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A beleza do ato de ler para alguém

A beleza do ato de ler para alguém

E em meio a uma maratona de filmes eis que surge “O Leitor”. Resumidamente, é um drama que se passa durante e após a II Guerra Mundial e tem como protagonista o jovem Michael Berg que se envolve com uma mulher mais velha, Hanna Schmitz.

Com o caminhar do longa o telespectador vai percebendo que Hanna não sabe ler (fato que ela tentar esconder), o que não diminui seu interesse por romances.

Importante: algumas das cenas mais bonitas do filme são as em que Michael lê para ela, leitura esta que se torna uma rotina até o dia em que Hanna desaparece.

Decepções amorosas, polêmicas e spoilers à parte, “O Leitor” é um lembrete da beleza e do valor do ato de se ler para alguém. E dentre as tantas formas de se declarar um amor, ler algo que se gosta em alto e bom tom para alguém não seria uma das mais bonitas?

É reverenciada a mãe que lê uma história ou outra da Ruth Rocha para os filhos antes de dormirem. É querida aquela amiga que nos lê os poemas de Bukowski e nos mostra as crônicas da Martha. É mais amado o amante que nos declama aquele poema de Drummond. É admirado o professor que nos apresenta sua poesia favorita do Neruda ou aquele texto encantador do Rubem Alves.

É simples, é nobre, é encantador, é singular e é uma forma de compartilhar um pouco do que somos com o outro, é também uma forma de emociona-lo, de tocá-lo… E não é pra isto que estamos aqui?

Ler para alguém, é afinal, sem dúvidas um dos itens da lista de simplicidades que transformam um dia, melhoram um humor, mudam uma compreensão de mundo e como no filme, às vezes, influenciam e direcionam toda uma vida. Então fica aqui o apelo: sempre que puder, leia para alguém.

Imagem de capa: cena do filme “O leitor”.

Desculpe, minha mãe. Mas ser sozinho para mim é uma conquista e não um fracasso.

Desculpe, minha mãe. Mas ser sozinho para mim é uma conquista e não um fracasso.

Imagem de capa: SujaImages, Shutterstock

Ô, minha mãe! Senta aqui um pouquinho, faz um esforço. É só ouvir um minuto ou dois. Tenha a bondade. Eu sei que é duro, sei como é difícil guardar aí consigo as suas opiniões e seus conselhos tão definitivos e importantes, mas você precisa escutar.

Não, eu não sou triste porque vivo só. Tal e qual todo mundo, sinto tristeza de quando em vez, mas nunca é porque não me casei de novo. Ser sozinho, para mim, deixou de ser um fracasso há muito tempo e virou uma conquista preciosa. Um prêmio pelo trabalho duro de olhar a mim mesmo com respeito e com apreço.

Foi fácil, não. Não quando a gente cresce ouvindo que quem não casa é “encalhado”, “solteirão”, “fica para titio” e essas maldades próprias da crueldade familiar. Perversões bem intencionadas. Você me desculpe a ingratidão, mas essas “lições” caseiras só me fizeram mal. Demorou, mas eu consegui: juntei todas elas, joguei no lixo e senti uma alegria tão grade, minha mãe! Você não imagina a minha felicidade quando me dei conta de que não preciso agradar a você e aos outros mas só a mim mesmo. Não sabe o tamanho do meu alívio quando percebi que já não me afetava mais o seu olhar de piedade pelo filho que “não deu certo com ninguém”.

É claro que você não tem culpa, mãe! O mundo a fez aceitar o inaceitável, que toda gente tem de “ter alguém” a qualquer custo, inclusive o da infelicidade conjugal, das brigas na frente dos filhos, da reclusão, da submissão e da angústia por uso continuado. Mas eu não. Eu tô fora. Agradeço a preocupação mas me permito me ocupar de outras coisas, inclusive “envenenar” as minhas primas e sobrinhas e parentes e a quem mais interessar possa contra a sua ladainha familiar bem intencionada do “encontre um moço bom, case e tenha filhos”. Isso não funciona pra todo mundo, mãe! Deixe as meninas serem felizes como quiserem. Deixe o povo escolher o que é melhor a si mesmo!

Agorinha ainda, minha mãe, uma multidão de machões com o cérebro de um mexilhão agarra à força mulheres sem companhia masculina tentando cumprir a recomendação de suas mamães. Desprovidos de discernimento, eles acreditaram que ninguém nasceu para ser sozinho e não se conformam que moças estejam sós porque querem ou porque as opções andam sofríveis. Logo, avançam contra elas com sangue nos olhos e uma faca nos dentes, como zagueiros desferindo carrinhos por trás, decididos a ganhá-las de qualquer jeito e exibi-las mais tarde, como troféus, no almoço da família.

Deus me livre! Honestamente, prefiro ser o “caso perdido” da ótica materna tradicional. Compreendo que toda mãe deseje a felicidade de seus filhos. Mas felicidade é tarefa pessoal e intransferível. Cada um constrói a sua. E a minha passa longe da sua concepção do assunto.

Estou só, minha mãe, porque errei e acertei o suficiente para deixar e ser deixado por alguém. Porque respeito o outro tanto quanto a mim mesmo. Porque sou livre para trabalhar e fazer escolhas. Livre para errar e acertar. Livre para me arrepender e corrigir. Livre para novas tentativas. Livre até para, quem sabe, caminhar de novo ao lado de alguém tão livre quanto eu.

Na dúvida… seja generoso. Na certeza… seja ainda mais!

Na dúvida… seja generoso. Na certeza… seja ainda mais!

A generosidade é o real milagre do coração humano que consegue, por alguns instantes, parar de bater em causa própria para bombear algo além de sangue. Generosidade é a única cura possível para a doença comportamental do isolamento afetivo.

Não se trata apenas de envolver-se em ações concretas de doação, como contribuir com dinheiro, alimentos, roupas ou remédios para pessoas em situação de emergência, penúria circunstancial ou crônica.

É isso também. Posto que gente com fome, com frio, doente ou privada de qualquer necessidade básica de sobrevivência, torna-se vulnerável tanto física, quanto psicológica e moralmente.

E no caso de estarmos em situação mais favorável, isso faz de nós gente potencialmente capaz de estender a mão, alongando para além do corpo físico uma extensão de humanidade, que além de nos fazer evoluir, oferece ao outro, condições de ultrapassar as situações de sofrimento com um tantinho a mais de substrato humano.

A desigualdade nas condições de vida, tão explícitas, já seriam um incentivo mais do que suficiente para fazer brotar no peito da gente o calor daquilo que, sem nenhuma sombra de dúvida pode ser chamado de amor.

Ser capaz de ter empatia pelo outro – e tanto faz se esse outro encontra-se geograficamente ao nosso alcance ou do outro lado do planeta -, é condição básica para que tenhamos direito a essa tal de felicidade.

Essa gloriosa sensação de bem-estar e plenitude pela qual vivemos obcecados, acaba sendo constituída por uma situação extremamente frágil e efêmera se, o que nos mover para alcançá-la for tecido apenas por recompensas individuais.

Dito assim, isso parece até meio óbvio. Mas não é. Isso é nossa maneira automatizada de lidar com as demandas da vida, regidos por um funcionamento vazio de conteúdo, de significado e de valor humano agregado.

O nosso alívio e solução para essa vidinha tacanha de trabalhar para juntar coisas, está justamente na mudança de foco. Olhar em redor com o mesmo interesse que olhamos para as coisas que tanto cobiçamos ter.

Sentir pelo conforto do outro uma responsabilidade voluntária e amorosa que nos faça dar um passo adiante; não em direção ao topo, mas em crescimento espiritual que nos envolva numa jornada menos solitária.

A vida é mesmo tão breve, não é?! E sendo breve, não precisa ser curta. Curta no sentido de passar voando a ponto de ficarmos perdidos numa vertigem de interesse autocentrado e frio.

Ser generoso é descobrir alegria em algo que se faz interessado no bem além de nós, sem nenhum interesse pessoal. Pode ser algo que, de tão simples, torna-se genial. Ouvir. Enxergar. Compartilhar. Silenciar. Oferecer. Respeitar.

Na dúvida, seja generoso. Esqueça as desculpas prontas de falta de tempo, excesso de obrigações e escassez de recursos. Na certeza, seja ainda mais! Afinal, é na partilha que multiplicamos a chance de encontrar o real significado da vida; uma vida plural que venha nos salvar desse isolamento afetivo que nos endurece e paralisa.

Nota da página: A imagem de capa- meramente ilustrativa- é do filme espanhol Cuerdas: curta-metragem de Pedro Solís Garcia

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