A lei do galinheiro

A lei do galinheiro

Imagem: sylv1rob1/shutterstock

A lei do galinheiro dita que as aves que estão no poleiro de cima fazem o que bem desejam sem se importar com o que acontecerá no poleiro de baixo.

Não é uma lei tão desconhecida nossa, embora não sejamos galos nem galinhas enclausurados num cercado de arame.

O curioso é ver como essa lei tão sem lei é aplicada na vida da gente, e ainda mais triste, muitas vezes por quem a gente ama e admira. E, por costume ou resignação, vamos trazendo conosco a desvantagem de viver nos andares inferiores, aguardando o que nos cai na cabeça.

A lei do galinheiro não é justa, não é boa, não é educativa.

Mas ela existe nas relações de amor. Ela existe e é forte, a ponto de ser quase imperceptível e aceita como normal, principalmente nas relações de dominação.

Ela também existe nas relações profissionais, muitas vezes evoluindo ao status de rinha. Nas relações de amizade, onde há mais obediência do que companheirismo. Nas relações familiares, com vários níveis de poleiros e vários galos a disputar o mais alto.

Por fim, uma lei tão desprezível e revoltante, se aplica a muitas situações que sequer desconfiamos e vamos convivendo, achando normais os detritos que caem sem nosso consentimento, como os desrespeitos, os preconceitos, os julgamentos hipócritas, as mais loucas interferências e intervenções.

Mas, se a gente consegue identificar uma condição dessas, é hora de aplicar a lei da igualdade, mesmo que a duras penas (sem trocadilhos). A lei do galinheiro não é justa nem mesmo para galinhas e galos, e não seria portanto, melhor para nós.

Sempre será momento de lutar pelo próprio espaço, pela própria voz e por respeito, independente do tipo de relação e das regras a ela aplicadas. Regras e leis só são boas quando são justas para todos.

A lei do galinheiro existe porque ainda é aceita como válida por muitos de nós. Para cair, basta alinhar os poleiros.

Quer afastar uma pessoa da sua vida? Peça para ela ficar

Quer afastar uma pessoa da sua vida? Peça para ela ficar

Imagem: altafulla/shutterstock

Você pode amar a ponto o doer o peito, sentir saudade em um nível hard e não conseguir imaginar a viagem de fim de ano sozinho, mas, nunca, nunca mesmo, peça para alguém ficar na sua vida.

Conselho dado, agora vamos às provas reais que comprovem o fato: quando alguém se mostra interessado por nós, automaticamente, nosso ego cresce e começamos a prestar mais atenção naquela pessoa que, antes, nunca tínhamos notado.

A partir daí, se a pessoa for equilibrada e tranquila, a probabilidade do relacionamento passar de casual para algo mais sério é grande. Porém, se a pessoa pula os estágios da sedução, do flerte, do conhecimento e parte para um “amor eterno”, mostrando-se um psicopata em potencial, corremos dela como um maratonista na São Silvestre.

E por quê? Porque não damos valor a nada que é muito fácil e que demonstra desequilíbrio emocional. Simples assim!
Entenda a diferença: pessoas legais são legais. Pessoas legais demais são insuportáveis! Pronto!

Cá entre nós, ninguém quer ao lado uma pessoa que exala insegurança, que sirva de GPS e que pergunte o dia inteiro se você está com saudades. As pessoas gostam de se sentirem seguras, amadas e respeitadas dentro do seu próprio espaço. Freud dizia que ficamos fortes quando estamos seguros de sermos amados. Então, desacelere e deixe as coisas fluírem naturalmente.

Esqueça esses amores inventados que nos fazem acreditar que para merecer um grande amor devemos lutar por ele até a morte. Primeiro que o amor acontece naturalmente, segundo porque acontece de forma recíproca.

Um relacionamento só é bom, quando desperta o melhor que podemos. Se sair disso, é sinal de que você está fugindo da própria companhia e jogando no outro a responsabilidade em ser feliz. E, francamente, se você se encontra nesse estágio, você não está disponível para amar.

Não importa o que os outros digam ou te aconselham. Não importam as piadinhas do estilo “vai ficar para titia” ou as filas dos pretendentes apaixonados. Para estar bem com alguém, você precisar estar, primeiro, melhor sozinha.

Não tenha pressa de amar. Deixe partir quem não quer ficar, para que você não perca a vontade de viver um verdadeiro amor, porque um falso acabou indo embora.

Olhe em volta. Tantos sorrisos para conhecer, tantos cafés para tomar, tantos lugares para conhecer e você aí, insistindo em carregar quem não merecia nem sua carona.

Ela não tem o coração de pedra, tem a firmeza necessária contra amores fracos.

Ela não tem o coração de pedra, tem a firmeza necessária contra amores fracos.

Imagem: Alissa Kumarova/shutterstock

As pessoas confundem estar solteira com estar carente ou estar sozinha. Acham que todo mundo que não está em um relacionamento necessariamente sente falta de ter alguém.

Às vezes, precisamos de um tempo a sós, um tempo para rever nossas prioridades, nossos planos. Como posso querer entrar em um relacionamento desacreditando tanto do amor desse jeito? Como posso querer alguém ao meu lado, se estou cansada de olhar ao meu redor e de ver relacionamentos fracassados por falta de fidelidade, pessoas trocando joias por bijuterias, trocando um amor de verdade por uma atração fajuta.

Como eu posso pensar em entrar em um relacionamento, vendo tanta gente machucada por esse legado do “amor”? Acreditando que amar é necessariamente sofrer? Vejo tanta gente sendo enganada, corações sendo destruídos sem dó, que, às vezes, não ter ninguém é uma forma de se defender dos possíveis machucados.

Vejo tanta gente confundindo amor com apego, desistindo do amor por qualquer coisa e trocando gente de valor por gente que não valoriza, que acreditar em compromissos tem se tornado cada vez mais difícil.

Eu sei, eu posso não ter nada a ver com isso, mas eu já fui atingida por mentiras e meu coração já foi alvo de enganos, deixando-me em pedaços e eu me recompus. Não foi fácil, acredite. Levei fama de durona, como a tal coração de pedra, e diziam que eu escolhia demais.

Mas ninguém conseguiu ver a dor que estava por detrás de tudo isso, ninguém viu o coração que, embora pulsasse, estava quebrado, tentando se recompor, a passos lentos, daquelas promessas falidas. Ninguém entendia que esse lance de não querer ninguém era uma forma de me defender da dor e que, depois de um tempo, não querer me envolver era uma forma de não me decepcionar, o que, por sinal, funcionava muito bem.

Não é fácil ter um coração quebrado, assim como não é fácil se recompor. Tem dias em que a dor faz morada e joga a chave fora, não conseguimos sair e ficamos enclausurados nos nosso passado. Tem dias em que você chora sozinho e tem medo de não conseguir viver nunca uma história dessas bonitas que vemos por aí. Dessas histórias em que tem respeito, que tem amor, que tem paciência e lealdade e que a gente acaba achando ser apenas histórias, distantes da nossa realidade.

Eu não posso curar a minha dor machucando outra pessoa, não posso tornar isso um ciclo vicioso de tentar, tentar, machucar e reparar o erro. Depois que me permiti viver esse tempo, buscando sugar tudo o que há de melhor, estou melhor. Venho lendo livros novos, descobrindo umas séries incríveis, novas aptidões, vendo o quanto eu sou forte e capaz de alcançar os meus sonhos e como a caminhada até o sucesso é longa.

Não estar com ninguém, por medo de ficar só ou por carência, é a prova de que amadureci. Então, não me peça para aceitar qualquer coisa, ou para me entregar ao primeiro abraço. Cansei de ser guiada pelo coração, cansei de me deixar levar pela aparência, não quero mais viver uma mentira e sofrer as consequências dos meus enganos.

Eu não quero um amor raso, dessa vez eu quero mergulhar. E sim, enquanto eu não sentir que posso dar um passo à frente, eu vou permanecer aqui, como estou. Primeiro, eu preciso conhecer a mim, antes de conhecer alguém. Primeiro, eu preciso estar inteira, pois não posso ser metade. Primeiro, eu preciso estar segura, para, depois, poder confiar em alguém.

Sabe quando aquele vendedor passa e você diz: Hoje, não, obrigada? Quando me falam de relacionamento eu digo o mesmo: Hoje, não, obrigada. Mas, se você quiser, volte amanhã. Não há nenhum erro em não ter ninguém, mas há todo erro do mundo em ter alguém só pra preencher vazio, só pra matar a carência e, se for para viver uma história de erros, eu prefiro viver a minha, assim, porque estar solteira e feliz me ensinou a ser mais exigente.

Fazer cara de paisagem nos livra de muitos problemas

Fazer cara de paisagem nos livra de muitos problemas

Com menor ou maior frequência, sempre haverá aqueles dias em que desejaremos jamais ter saído da cama, em que nada parecerá dar certo, em que nada do que dissermos será entendido como queríamos, em que nada nos fará sorrir. Muito do que nos acontece é resultado de nossas próprias ações, mas também seremos importunados por todo tipo de gente que não fará outra coisa a não ser perturbar a paz de qualquer um.

Um dos maiores favores que poderemos fazer a nós mesmos, nesses casos em que alguém se encarrega de carregar o ambiente com fofoca e outros tipos de maldade gratuita, sempre será lutarmos contra a nossa vontade de explodir, para que não nos desequilibremos por conta de seres desprezíveis. Quanto mais esquentarmos a cabeça, quanto mais tentarmos esbravejar e mostrar descontentamento, menos fortalecidos ficaremos, uma vez que o esgotamento emocional acaba por trazer danos também ao nosso físico.

Tentar argumentar com quem não ouve ninguém além de si mesmo sempre será uma tarefa inglória e qualquer batalha que tentarmos travar contra suas maledicências não surtirá resultados dignos, uma vez que essas pessoas só trazem sujeira e inverdade aos ambientes, pois é somente isso que possuem dentro de si, é somente isso que têm a oferecer. Jamais conseguirão assumir o mal que carregam, simplesmente porque não possuem caráter suficiente para arcar com o que dizem e/ou fazem.

Apesar de se tratar de um esforço sobre-humano, manter a calma, o ar de que não percebemos nada nem nos importamos com as tramoias alheias nos poupará de muitos dissabores e de atitudes inúteis de tentar por em ordem a desordem moral de quem age sem pensar nos sentimentos de ninguém. Porque quem age de forma vil e antiética tem o coração vazio, sendo incapaz de demonstrar arrependimento e de pedir desculpas a quem quer que seja, afinal, posam como se nunca fossem culpados de nada.

Leva muito tempo para nos acalmarmos, após termos entrado em meio a tempestades que não foram por nós provocadas, ou seja, sabermos nos desviar dos contratempos que envolvem inverdades sobre nós, enquanto mantemos o semblante em estado de serenidade, é a atitude mais adequada a ser tomada. Não tem outro jeito, aliás, não existe nada melhor do que voltarmos olhos serenos na direção dos redemoinhos em que os próprios infelizes se afogam sozinhos.

Imagem: vladee/shutterstock

Me ama com tudo que em ti for amor

Me ama com tudo que em ti for amor

Imagem: Oleksandr Schevchuk/shutterstock

Podemos, só por hoje, esquecer o mundo lá fora?
Esquece a louça
a roupa suja
o trânsito
o compromisso de amanhã

olha pra mim
mas olha mesmo
como se nunca mais
eu fosse a luz a descansar na tua retina

como se nunca mais
eu fosse a mão que sempre escolhe segurar a tua
no meio da multidão

me engole com tudo que em ti for sede
me abraça com tudo que em ti for ternura
me ama com tudo que em ti for amor

porque, hoje, eu preciso da tua plenitude
para deixar respirar a minha

Patricia Pinheiro

“Eu, Daniel Blake” escancara o Estado sem sentimentos

“Eu, Daniel Blake” escancara o Estado sem sentimentos

Ken Loach foi além, como há muito tempo não o fazia. “Eu, Daniel Blake” é merecedor das nossas palmas, mas também da nossa atenção. Isso porque o veterano cineasta inglês arregaça as inúmeras burocracias do Estado, onde o cidadão de bem dificilmente é ouvido e contemplado nos seus direitos. É um filme sobre a falta de sentimentos e respeitos que, ironicamente, pagamos para não termos.

O roteiro escrito por Paul Laverty é mais uma parceria de Loach que discute os problemas dos cidadãos impedidos, maltratados e ludibriados pelo governo. Esse, responsável em nos prover segurança, liberdade e bens básicos para sobrevivência. Ignorar qualquer aspecto sentimental seria injusto porque a produção é respaldada, em cada diálogo e plano-sequência, na mais profunda imersão da relação entre os poderes públicos e civis. Mas antes que esta reflexão acarrete pensamentos distorcidos ou isentos de fatores importantes, precisamos entender, nada disso ocorre sem o nosso aval, sem o nosso silêncio.

Loach já havia atentado anos atrás sobre essa relação desumana com a qual trabalhadores são escravizados em Pão e Rosas (2000), que mostrava a luta de duas irmãs mexicanas numa América altamente fervorosa contra imigrantes. Infelizmente, nada mudou muito após dezessete anos. Em “Eu, Daniel Blake”, o embate continua, mas agora na pátria mãe do cineasta. Isso mostra que, independente do país, ainda existem mecanismos e obstáculos criados para desistências de benefícios fundamentais para uma vida digna de qualquer um. E isso nada tem a ver com argumentos e regras necessárias para uma manutenção do Estado ou mesmo para controle, mas concebidas unicamente com o intuito de separar tantos Daniel´s quanto de Katie´´s – mãe de dois filhos, excludente do sistema, do afeto.

O entristecedor é que continuamos sendo desfalcados a cada interesse do Estado em tapar o sol com a peneira. Queremos fazer o certo do jeito errado e quem sofre somos nós, pais, mães, solteiros, aposentados, negros, homossexuais, trans e todas as classes que estejam cuidadosamente destacadas por uma caneta qualquer em um formulário qualquer, seja ele físico ou digital.

“Eu, Daniel Blake” é o tipo de filme que não adianta copiar e colar a sinopse. Que não adianta deferir elogios e bater palmas. Esse é o tipo de filme que você precisa chegar e assistir. Fazer essa escolha consciente, interessada e aberta, pois estamos nos aproximando da barbárie e da subjugação entre quem pode e merece algum sentimento, algum alento. Loach e Laverty realizaram um abrir de olhos e coração, mas enganam-se quem pensam ser uma mensagem de protesto unicamente ao Estado. A mensagem é destinada também a todos os dissidentes dessa violência que chega quando mais precisamos e, certamente, não pedimos.

Se vira, meu bem! Minhoca anda e nem tem perna!

Se vira, meu bem! Minhoca anda e nem tem perna!

A paciência sempre foi o meu ponto forte! Aliás, o meu ponto mais forte! Entretanto, tem uma coisinha que anda tirando o meu estado perene de paz: gente que se faz de coitadinha!

Parece haver um surto de vítimas do destino e há uma outra proliferação endêmica de textos na web, escritos para alimentar nas pessoas essa sensação de ser um eterno perdedor.
O discurso é variado, mas se bater tudo junto num liquidificador, não rende um copo americano de suco ralo. Pode acreditar!

As queixas são sempre baseadas num ponto de vista de pobre coitado e na existência de um suposto carrasco – ou carrasca, a depender do caso -, sempre pronto para esfolar a pessoinha.

E nem é naquele modelo lá do filme famoso, daquela cor sem graça que supostamente tem vários tons… nana nina não! É um “chororô” sem fim mesmo, por tudo, por nada, por qualquer coisa.

Tem gente que chega à perfeição de nunca começar uma frase sem a presença de um “ai!”. “Ai, eu estou cansado!”; “Ai, eu não tenho nenhum mozão!”; “Ai, eu ganho mal!”; “Ai, as mulheres são mesmo interesseiras!”; “Ai, homem é tudo igual!”; “Ai, o cara não liga depois do encontro!”; “Ai, como eu sou sem sorte na vida!”; “Ai, nenhuma roupa me serve!”.

E por aí vai… uma ladainha chata e sem serventia nenhuma! Enquanto gasta tempo se lamentando da má sorte, e da vida difícil, e nhem nhem nhem… a pessoa perde um monte de oportunidades de virar o disco, mudar o falatório e quem sabe, dar até um sorrisinho de prazer efêmero.

Eu tenho uma amiga, cuja vida nunca foi moleza. A garota sempre trabalhou para se sustentar, desde muito nova; nunca dependeu de pai, mãe ou companheiros para arcar com sua sobrevivência. Criou uma filha, praticamente sozinha, com formação acadêmica impecável, inclusive. Acorda antes das cinco da manhã, pega três conduções para ir e mais três para voltar do trabalho, faz artesanato para ganhar um dinheiro a mais, faz hidroginástica e ainda acha tempo para ter fé na vida futura, abençoar o presente e ignorar o passado. É uma amiga para todas as horas, seja um petisquinho no boteco ou uma encrenca sem precedentes, nunca me deixou na mão! E é linda, inteligente e cheirosa!

O que difere um perdedor de uma pessoa disposta a ser feliz?! Não é o berço de ouro, porque tem muita gente bem-nascida que só chora a própria sorte. Não é nenhuma estrela na testa, porque coisas ruins acontecem com todo mundo. A diferença está na coragem de levantar depois de tombos ou maravilhosos gozos. Gente que vive choramingando não tem tempo de ser feliz! Pronto, falei!

Eu não entendi que era uma despedida

Eu não entendi que era uma despedida

Imagem: fizkes/shutterstock

Eu não entendi que era uma despedida quando você chorou e disse que precisava de um tempo para entender o que sentia.

Não entendi que era uma despedida quando me ligou no meio da madrugada e, encharcado de bebida, disse que ainda precisava de mim.

Eu não entendi que era uma despedida quando me lembrei que uma semana antes você fazia planos de eternidade, e postava no Instagram fotos de nossa felicidade.

Não entendi que era uma despedida quando percebi que algumas peças não se encaixavam; que o sorriso bobo da nossa imaturidade não combinava com a seriedade do fim.

Eu não entendi que era uma despedida quando seu olhar desencontrou o meu, e pela primeira vez o seu semblante era de adeus.

Não entendi que era uma despedida quando você disse que eu precisava de alguém melhor, e eu entendia que não haveria ninguém melhor do que você.

Eu não entendi que era uma despedida quando os nós dos seus dedos se afrouxaram, e pouco a pouco você soltou minha mão para construir novos laços.

Não entendi que era uma despedida quando reli suas mensagens e revi nossas fotos. Quando imaginei que você remava comigo e não compreendi os caminhos que levaram ao fim.

Eu não entendi que era uma despedida quando adormeci e sonhei com a gente junto; quando despertei e me deparei com sua ausência.

Não entendi que era uma despedida quando nossas malas seguiram juntas, combinando as etiquetas com nossos nomes e a vontade que não se desviassem nunca.

Eu não entendi que era uma despedida quando meu coração permaneceu ligado ao seu e minha lucidez não compreendeu o fim. Quando meu caminho mostrou marcas das suas pegadas, e eu não soube mais que estrada seguir.

Não entendi que era uma despedida, mas agora entendo que preciso cuidar mais de mim; que mesmo doendo, a história de nós dois chegou ao fim; e que mesmo sendo difícil, é hora de prosseguir.

Eu não entendi que era uma despedida, mas agora quem deseja que você vá sou eu, entendendo que o tempo da negação deu lugar à aceitação. Tempo de seguir adiante com convicção e finalmente percebendo que qualquer falta de certeza já é o prenúncio de uma definitiva despedida.

Sou grata a você por ter se despedido de mim. Ainda que tenha doído, e que eu não tenha entendido, foi o impulso necessário para eu buscar meu destino. Entendendo que meu caminho não era o mesmo que o seu, e que a despedida foi o gesto necessário para a concretização de uma vida feliz.

Eleita pela Forbes como executiva do ano em seu país, chinesa não tira férias há 27 anos

Eleita pela Forbes como executiva do ano em seu país, chinesa não tira férias há 27 anos

Imagem capa: Gree

Nunca se falou tanto sobre o equilíbrio entre vida pessoal e trabalho. Cada vez mais pessoas têm se dado conta de que seus trabalhos das 08h às 18h não fazem sentido. Alguns, como eu, migraram para o home office. Mas, a verdade é que, infelizmente, poucos trabalhadores têm essa opção. E é óbvio que trabalhar em casa, como qualquer outra coisa, tem seus prós e contras. Não é fácil. Pelo contrário! Porém, a melhora na qualidade de vida compensa. E muito. Mas isso é assunto pra um próximo texto.

Sou um cara que adora ler biografias e histórias de gente que começou do nada e teve sucesso na vida. São inspiradoras. Muitas vezes nos dizem o óbvio, mas nos impulsionam a ir além. É comum ler depoimentos desses homens e mulheres sobre sacrifícios que tiveram que fazer no início de suas carreiras. Até aí tudo bem. Não existe sucesso sem trabalho duro. Eu mesmo, em 2016, sacrifiquei várias horas livres não-remuneradas para escrever artigos. A recompensa veio no final do último ano, quando fui eleito o terceiro brasileiro mais influente do LinkedIn pela própria rede profissional.

Hoje, meu trabalho é escrever. Porém, não tenho mais a necessidade de sacrificar horas livres. Como freelancer, não tenho chefe e faço meus horários. Para evitar a procrastinação e ter melhores resultados, criei um expediente e escolhi trabalhar das 09h às 18h. Inclusive, deixo isso bem claro para meus clientes. Não adianta me mandar mensagem no WhatsApp depois das 18h ou nos finais de semana que não vou te responder (e isso também é tema pra outro texto). Eu poderia ganhar muito mais dinheiro se aumentasse minha carga de trabalho para 12h diárias, por exemplo, ou se desse palestras em outras cidades e estados. Teria mais clientes, escreveria mais e, consequentemente, seria mais bem sucedido.

Mas, o que é ser bem sucedido?

Pra mim é, justamente, equilibrar vida pessoal e trabalho. Hoje não tenho um super salário, mas tenho equilíbrio. Não faço horas extras, não trabalho nos finais de semana e posso passar mais tempo com minha esposa, minha família e meus amigos. E tô feliz pra carvalho assim.

Para a Forbes, aparentemente, ser bem sucedido é outra coisa

No início do mês a Forbes da China divulgou seu ranking anual com as 100 mulheres que mais se destacaram nos negócios no país asiático. A executiva Dong Mingzhu ficou em primeiro lugar. Ela é presidente da Gree Electric Appliances, a maior fabricante de ar condicionado chinesa, cujo valor de mercado é de aproximadamente US$ 22 bilhões.

contioutra.com - Eleita pela Forbes como executiva do ano em seu país, chinesa não tira férias há 27 anos

Mingzhu, de 62 anos, de acordo com uma reportagem recente da Quartz, está à frente da organização desde 2001, onde lidera mais de 70 mil pessoas. A chinesa que ingressou na empresa como vendedora no início dos anos 1990 viu a Gree, sob seu comando, se tornar uma gigante em seu segmento — 2 de cada 3 aparelhos de ar condicionado vendidos na China são produzidos por eles.

Inspirador, concorda? Começar de baixo e chegar até a presidência da empresa, sendo responsável direta por seu crescimento avassalador. Eu realmente adoro esse tipo de história. Palmas para a querida Dong!

Ela deve, no entanto, ter sacrificado algumas coisas para chegar até lá, né?

27 anos sem férias

27 anos. Essa é minha idade. E em 2017 também será o tempo desde o último dia livre de Dong Mingzhu. A executiva não pega férias ou mesmo tira um dia de folga desde quando começou a trabalhar na Gree.

Nessas quase três décadas (caraca, também tô com quase 30 anos) ela sacrificou algumas coisas. Mingzhu é viúva desde 1984. Seu filho tinha oito anos quando ela ingressou na Gree. O menino foi morar com a avó e, desde então, ela deixou de ir em todos seus eventos escolares. Incluindo formaturas. Há alguns anos o garoto, hoje adulto, se formou na faculdade. Ela não estava lá. Tinha uma reunião que parecia ser mais importante.

contioutra.com - Eleita pela Forbes como executiva do ano em seu país, chinesa não tira férias há 27 anos
“Para fazer do mundo um lugar melhor, um número pequeno de pessoas precisa fazer sacrifícios”. Dong Mingzhu em entrevista, acrescentando que teve que sacrificar sua vida pessoal, o convívio com os amigos e com sua família. Você concorda com ela? Até que ponto esses sacrifícios são saudáveis?

Sem alternativa

Sem alternativa“. Essa é a resposta que Mingzhu costuma dar em entrevistas quando é questionada sobre seu estilo de vida workaholic. Para ela, “não há alternativa a não ser continuar na Gree por toda a vida”. Pô, Dong! Como não, cara? Você cheia da grana! Vamos sair dessa zona de conforto e curtir um pouco a vida?

A chinesa costuma dizer, ainda, que “terá muito tempo para descansar quando se aposentar” — torço por isso, Dong, afinal, nem preciso mencionar os problemas de saúde causados por excesso de trabalho, né?

Um funcionário da Gree afirmou ao Telegraph, em 2009, que “Ela passou por tudo isso sozinha. Nunca ousamos dizer que algo é impossível na frente dela. Todos nós temos que ter vontade de ter sucesso“. O discurso é bonito, mas pense comigo. Que alternativa seus 70 mil funcionários tem a não ser seguir seus passos como workaholics? O resultado do estilo de vida de Mingzhu certamente afeta todos seus subordinados e suas vidas pessoais.

Imagine que você vai morrer essa noite

Não tenho amigos porque não posso ter amigos“. Essa frase, presente em sua autobiografia lançada em 2006, mostra o vazio que parece ser a vida de Dong Mingzhu. Imagine que você vai morrer essa noite. Os anos em que você esteve na Terra valeram a pena? Sua vida valeu a pena ser vivida? Com quem você gostaria de passar suas últimas horas? O que você gostaria de fazer?

A morte é a única certeza que temos na vida. E ela também pode ser um grande motivador.

Como assim?

Pessoas como Dong parecem viver a vida no automático. Trabalhando como loucos, gerando riqueza material e colocando o dinheiro à frente de tudo e de todos com a desculpa de que terão muito tempo para descansar quando se aposentarem. A questão é: e se esse dia não chegar? E se você trabalhar tanto ao ponto de morrer por causa de um ataque cardíaco? Se o estresse causado pelo trabalho lhe deixar sequelas ou mesmo afastar de você as pessoas que ama?

A executiva chinesa do texto pode ter muito mais dinheiro que eu e ser capa da Forbes, mas sou muito mais rico e bem sucedido que ela. E por rico não falo de grana, claro.

PS1: Evidentemente, a tal da Dong Mingzhu pode fazer o que quiser da vida dela que eu não tenho nada a ver com isso. Meu ponto com o texto é questionar esse modelo de sucesso profissional à todo custo.

PS2: Hoje vou tirar a tarde de folga.

PS3: E é exatamente isso que tô afim de fazer, jogar um pouco de PS3.

PS4: Tenho outras prioridades no momento, tô feliz com o meu PS3.

PS5: Quando será que sai, hein, Sony?

Try a little tenderness

Try a little tenderness

Imagem de capa: Memory Stockphoto/shutterstock

“Ooh she may be weary
And them girls they do get weary
Wearing that same old shaggy dress
But when they get weary
[You gotta] try a little tenderness”

Sento solitária no chão frio da sala, a chuva cai la fora, a noite escura assola e reflito em tudo que eu deveria ter sido e não fui, deveria ter sido menos isso, mais aquilo. E perco tempo de vida precioso divagando sobre erros e passado, sobre a necessidade de me transformar em alguém que não sou, nem nunca fui, nem nunca serei.

Enquanto tempo e lágrimas escorrem incansáveis, faço uma pausa, respiro fundo e me acalmo: sou o que sou, o que deu para ser, fui o que tinha que ter sido. E se fui inteira, então fui meu melhor, mesmo que isso não baste aos outros. Além disso, nada que eu fale ou faça agora pode mudar o que já está feito.

Se perco energia pensando em tudo que poderia ter sido diferente, esqueço-me de viver e celebrar tudo aquilo que de fato foi.

E finalmente me dou conta do quanto sofremos, projetamos, fantasiamos enquanto deixamos de ficar com o que se apresenta para nós, com o que é, com o que somos, com tudo que nos trouxe até aqui. Naquele momento eu estava assim. Nem sempre fui meu melhor, mas certamente o melhor que consegui ser com os recursos que tinha.

O passado nos torna escravos, nossas feridas ferem também os outros, nossos medos nos paralisam, o que fomos, o que sofremos, o que sangramos muitas vezes nos impede de enxergar a beleza do novo que se apresenta diante de nós.

Desconfiados exigimos provas e certezas, queremos controle e garantias. Sem notar, perdemos boas oportunidades de felicidade, analisando-as, comparando-as com o que já vivemos, fantasiando com o que queremos que elas sejam. A dor me recorda que nunca tive nem terei controle de nada, que para ser inteira preciso correr o risco de me machucar. E as lágrimas que insistem em  cair me trazem esta única certeza e me convidam a estar presente.

Enquanto me condeno pelas escolhas que fiz, que me trouxeram até aqui, a sensação de que muitas vezes a vida segue repetidas vezes em um “loop” infinito, como um disco de vinil riscado, a letra de um antigo clássico me conforta.

Try a little tenderness.

Deixe ir. Viva o presente, com os recursos que você tem agora, abra-se para o novo, entenda que o novo nunca é igual ao que foi. Os erros não se repetem, são diferentes, com vivências diferentes que me trazem novos aprendizados.

Tente.

Com os meus processos na vida, com os processos dos outros. Para todas as falhas que foram e as que ainda estão por vir, só um pouco de ternura.

Tente.

Para os fim das linhas, os atalhos e encruzilhadas. Os caminhos tortos que percorremos. Para o cansaço e lágrimas. Para os novos começos.

Tente.

O caminho só se faz ao caminhar.

Então enxugo as lágrimas, me acalmo e decido tentar, só por hoje, só um pouco, de conforto, de afeto e ternura.

Try a litte tenderness

Se fazer presente dispensa presentes

Se fazer presente dispensa presentes

Imagem: Pindyurin Vasily/shutterstock

Receber uma ligação, uma mensagem, uma surpresa, de forma inesperada, impensada, inusitada. Alguém se fazendo presente, batendo na porta da nossa vida, trazendo a notícia de uma saudade carinhosa e com pressa de ser resolvida.

Eis aí um enorme presente. Uma lembrança declarada, espontânea, destemida, pronta para ser compartilhada.

A lista de afetos é enorme, o tempo é curto, a vida é louca. Mas a saudade ignora tudo isso e aperta quando já não cabe mais na casinha onde vive. E cada um sabe o quanto expande e encolhe a sua saudade.

Tem saudade diária, que quer só cumprimentar, para se fazer presente. Tem saudade que aguenta um pouco mais, que se esconde por trás da rotina e deixa a semana toda passar, porque não sabe como se infiltrar.

Tem saudade que só desperta de vez em quando, que vive mais adormecida, mas ainda assim é saudade. Tem a saudade de uma vida, que vive escondida, na forma daquele aperto no peito, sem coragem de sair.

E saudade não se resolve com presentes. Saudade só se acalma com presença.

Se fazer presente é demonstração de amor, de amizade, companheirismo, sintonia. O tempo não colabora, mas também não pode ser responsabilizado. Presença se demonstra de muitas maneiras.

Em tempos de tecnologias múltiplas, as ausências ficam cada vez mais notórias. E não há presentes que dispensem ou substituam o que a saudade mais suplica: a simples presença.

Uma palavra, uma mínima lembrança, um rabisco, bilhetinho, até o emotion do diabinho. Tudo vale na tentativa de substituir a saudade pela presença.

Quase sempre, é somente disso que todos nós precisamos em algum momento do dia. E, com toda certeza, o dia será mais feliz!
Se estiver em débito com alguma saudade, não mande presentes, se faça presente!

Para você, o amor que escolheu ficar

Para você, o amor que escolheu ficar

Imagem de capa: Mila Supinskaya Glashchenko, Shutterstock

Essa carta é para você, o amor que escolheu ficar. Até pouco tempo, ainda duvidava se chegaria o dia em que te escreveria. Não sabia se iria demorar, como e quando iria surgir. Mas aqui está você, um amor inteiro, um amor sadio, um amor escolhido.

Te reconheci ainda de longe, sem saber muito mais do que um sorriso e um olhar. Mas não tinha jeito, era para sermos nós. Tudo tornou-se apenas uma questão de liberdade. Para dizer que é você, que sou eu. Não ignoramos os maus bocados passados, mas não desistimos de seguir em frente.
Você entende que amores já vieram e respeita que amores não ficaram. Estamos num único abraço. Se isso não é sintonia, não sei o que é. E assim foi e continua.

Você admira o lar construído pelos nossos afetos. Daqui de onde vemos tantos sentimentos, acentuados por cafunés não desperdiçados, por beijos não pedidos a todo instante. Você sabe que esse amor não é metade, pode aceitar dentro do peito. Mas, se por ventura, algum dia as nossas pernas trocarem de lugar, não lamente. Não posso prometer futuros, somente presentes. Então, digo sem meias palavras que, agora é amor. O amor que escolheu ficar.

Essa carta é para você, o amor que escolheu ficar. Até pouco tempo, não saberia como demonstrar tantas felicidades. Também desconfiaria sobre como e quando iria confessar esse desejo. Mas aqui está você e tenho muita sorte por amar do seu lado.

Dizer sempre o que o outro quer ouvir é uma forma de desamor

Dizer sempre o que o outro quer ouvir é uma forma de desamor

Males do desamor estão escondidos em inadvertência opinativa sobre certos aspectos que realmente importam em um relacionamento genuíno. Agradar nem sempre é se importar.

Algumas vezes temos que ouvir coisas bem desagradáveis das pessoas que amamos, ou então dizer a elas algo que não lhe comprazem. Apesar do desconforto emocional que isso pode causar, dependendo do caso, não é algo de todo ruim. Pior do que ser incomodado pela amargura de palavras moralistas alheias é ser apunhalado pela própria moral quando essas palavras nos fazem sentido no futuro.

Uma pessoa que se importa realmente com a outra não hesita em manifestar objeção ao que está sendo tratado, se achar que é o correto a fazer. A questão aí não é tentar ferir os sentimentos do outro, mas oferecer cenários de risco para que a pessoa faça suas escolhas sem desconsiderar as possíveis consequências.

Poucas pessoas estão preparadas para ser realistas ou lidar com gente realista. Diante de inúmeras adversidades corriqueiras, é muito melhor procurar pessoas que nos tranquilizam em momentos de preocupação, e então costumamos rejeitar, não sem algum ressentimento, quem nos orienta com outras realidades menos convenientes. Muitas verdades que se revelam a alguns são o motivo de outros se alimentarem com mentiras. O realismo não é o melhor conforto, o otimismo sim. Mas ser otimista demais torna alguém resguardado, passível de acreditar em invulnerabilidade, sendo, assim, ainda mais vulnerável do que já é por natureza.

Algumas vezes, não conseguimos adotar a sinceridade sem sermos rudes. Nesses casos, há uma diferença entre ser rude por ter sido sincero e mentir para esconder a rudeza. A sinceridade acompanhada de descortesia tende a ser combatida, não agradecida. Quando alguém começa a nos dizer: “Olhe, sinceramente…”, logo imaginamos que essa pessoa irá nos bombardear com palavras espinhosas, mas nem sempre ser sincero remete a dizer coisas mais difíceis de aceitar.

Muitos se sentem desrespeitados em ouvir as verdades do outro como se fossem as suas, e então taxam quem as verbalizou de estúpido, arrogante, egoísta, sem noção. Contra esse problema, costumeiramente escolhem omitir o que pensam para reduzir a intensidade do desgosto, quando, na verdade, agridem-se indiretamente por conta de não lidar com seu problema. Sim, abuso verbal é método de violência, mas omissão verbal também pode ser.

Há de se ter atenção redobrada com aqueles que buscam sempre nos agradar com palavras sutis, agradáveis e acalentadoras, e nunca nos repreendem (mesmo suavemente). Quem se preocupa verdadeiramente com nosso bem-estar reconhece que o valor da felicidade não se estrutura apenas nela. O mimo é uma expressão de amor, e também uma atitude que desacostuma a pessoa à maturidade amorosa. Quanto a isso, cabe os dizeres do filósofo alemão Erich Fromm em seu livro A Arte de Amar:

“O amor infantil segue o princípio: ‘Amo porque sou amado’. O amor amadurecido segue o princípio: ‘Sou amado porque amo’. O amor imaturo diz: ‘Eu amo você porque preciso de você’. O amor maduro diz: ‘Eu preciso de você porque amo você’.”

Em um mundo onde o amadurecimento é visto como forma de opressão, a possibilidade de ser mimados é atraente demais para que aceitemos os perigos do mimo exagerado. Um desses perigos é que, quando a vida nos desafia a adiar gratificações, a não ser tão imediatistas, traduzimos isso em sofrimento desnecessário, e então adotamos a posição de vítimas. A inocência é saudável até certo ponto; para além desse limite, torna a pessoa refém das próprias responsabilidades.

Não temos como perceber todas as vezes que erramos, então dependemos de pessoas que nos orientem. Às vezes, precisamos de humildade para ouvir conselhos dos outros e alterar nosso comportamento; outras vezes, precisamos de proatividade para dar conselhos aos outros e inspirá-los à mudança.

Reconhecer aquilo que a pessoa que amamos gosta de ouvir torna-se mais fácil em proporção ao aumento da intimidade desse amor, todavia, usar tal conhecimento afetivo de forma invariável não é um sinal de preocupação com o bem-estar da pessoa, mas uma outra estratégia de manipulação emocional que aponta investimento nos próprios interesses.

Uma boa forma de saber se alguém se importa ou não com nós é observar o seu potencial de criticidade a nosso respeito: se esta pessoa nunca nos critica, então a nós ela é indiferente. Nossas opiniões, se não forem por vezes contestadas ou provocadas, tornam-se frugais, porque somente a crítica faz nascer a reflexão da qual toda boa opinião depende.

Muita gente pensa que o ato de criticar logo remete a falar mal em sentido pejorativo: isso só se aplica no caso de críticas destrutivas. Por outro lado, as críticas construtivas tem conotação positiva, visto que promovem desenvolvimento humano.

A identificação do significado de uma crítica depende muito de como adaptamos o que ouvimos para nossa realidade, e também do nosso relacionamento com o crítico. Sem uma adaptação justa e uma relação desprovida de inveja, ciúme ou mesquinharia, não temos um real feedback produtivo, apenas impressões precipitadas baseadas em letárgicos duelos de julgamento pessoal.

Toda crítica é escondida em um conselho, que pode vir para o bem ou para o mal. Se todo conselho fosse bom, as pessoas sempre o pediriam.

A qualidade dos conselhos depende muito da habilidade de escolher os conselheiros. Na época da monarquia, por exemplo, várias conspirações foram organizadas por pessoas mais próximas do rei, aquelas que faziam parte da corte especial e participavam ativamente dos processos de Estado. Justamente por ter recebido maiores votos de confiança do rei, esses indivíduos tinham mais chances de verificar os pontos fortes de seu líder para neutralizá-los, e identificar os pontos fracos para explorá-los. O rei que não sabia selecionar seus conselheiros ficava à mercê deles e, portanto, a autoridade se invertia.

Bem, é sabido que as pessoas têm a mania de usar seu filtro interno para ouvir apenas o que querem ouvir. Contudo, cedo ou tarde verão-se tentadas a ouvir o que não querem, pois ninguém sobrevive – tampouco evolui – só de elogios.

O ideal, quando ouvimos palavras indecorosas de alguém que amamos ou mesmo daqueles que não temos tanta intimidade, não é responder em tom de ofensa, mas, primeiro, discernir se realmente foi uma ofensa. Nem sempre o problemático é a causa do problema que está sendo problematizado. É muito fácil transferir o conteúdo de uma crítica do campo técnico para o campo pessoal. As pessoas estão mais preocupadas com seu orgulho presente do que aprender no agora.

É deveras importante controlar o temperamento ao se dar um conselho, porque a percepção de destemperança por parte da outra pessoa faz com que ela adote uma postura defensiva, e esta, por si só, prejudica na devida assimilação do caso, uma vez que o foco passa a ser a relação pessoal entre os envolvidos e não o caso em si. Assim, no calor da discussão, conselhos são rejeitados e ignorados com muita facilidade.

Um conselho dado de maneira inadequada não terá efeito solutivo, mesmo que seja o mais adequado dos conselhos.

Muitos relacionamentos são terminados ou prejudicados porque, por mais de uma vez, uma pessoa pediu ajuda à outra para resolver um assunto para si relevante, mas foi decepcionada em ouvir exatamente aquilo que mais temia. Engraçado como as pessoas primam pela sinceridade, mas não se mostram muito seguras para ouvir opiniões desagradáveis, por mais sinceras que possam ser.

O romancista espanhol Miguel de Cervantes, criador de Dom Quixote, aconselhava o seguinte: “Segui o vosso caminho e não deis conselhos a quem não vos pede”. Mas a grande maioria das opiniões é oferecida sem que o outro peça ou queira ouvi-las, mas, ainda assim, desejamos opinar, dada a necessidade iminente de expressão e utilidade.

Pede-se do outro um dizer necessário, mas, muitas vezes, o que queremos ouvir não é o que precisamos saber. Confunde-se muito querer e precisar. Nós queremos tudo o que precisamos, mas não necessariamente precisamos de tudo que queremos. Assim se dá também com conselhos e opiniões no nosso cotidiano.

Nós damos mais bons conselhos do que achamos preciso recebê-los. Aconselhar sem dar o exemplo é incoerente igual um cristão que peca e condena o herege pelo pecado. Francis Bacon, filósofo inglês, dizia:

“Aquele que dá bons conselhos constrói com uma mão; aquele que dá bons conselhos e exemplo constrói com ambas; o que dá bons conselhos e mau exemplo constrói com uma mão e destrói com a outra.”

O conforto para uma lamentação nos é tão necessário que estamos muito mais inclinados a pedir ajuda àqueles que supomos ser apoiadores carinhosos, como se a privação afetiva fosse causada pela falta de carinho e nada mais. Essas solicitações de consolo em tempos de crise melancólica são quase inevitáveis, no entanto, deveria ser tão costumeira a vontade de ter alguém para ajudar a secar nossas lágrimas como a vontade de entender porquê elas surgiram. Sem a compreensão das causas de dor, o sofrimento injustificável é mais penoso e desesperador do que o normal, porque sabemos que sua reincidência não tem precedentes, uma vez que ainda não identificamos a raiz do mal e, portanto, não sabemos como evitá-lo, o que nos torna mais suscetíveis a ele.

Problemas diferentes requerem competências de ação diferentes. Pedir ajuda sempre à mesma pessoa, independente da situação que se apresenta e do grau de confiança praticado, é equivocado e perigoso, porque não há somente um problema a ser resolvido e nem alguém que possa ter conhecimento de todos os problemas.

As pessoas mais confiáveis e dignas da nossa companhia são aquelas que, primeiro, buscam compreender nossas angústias, para em seguida nos ajudar a superá-las. Não devemos aceitar tudo sobre quem amamos, mas, para genuinamente amarmos uma pessoa, precisamos nos esforçar para compreender o porquê ela faz o que faz, e esse esforço só é possível se abraçarmos as suas diferenças, inclusive as que não queremos para nós, mas que, querendo ou não, também fazem parte de nós a partir do momento em que amamos.

Moça, o amor é para quem ama. Simples assim

Moça, o amor é para quem ama. Simples assim

Imagem de capa: Olena Andreychuk, Shutterstock

Moça, você precisa entender que do amor não se corre atrás. Ou ele está indo na sua direção, com todo o carinho e intensidade ou sequer teve vontade de permanecer. Não há grandes explicações, moça. É bem simples. Sempre foi. O amor é para quem ama.

Sabe o tempo que você dedicou naqueles beijos? Não se arrependa. Foram toques sinceros e entregues. Deixou ali mais do que os seus lábios, mas inteiros da sua alma. Beijou com graça e excitação. Beijou em todos os encontros e desencontros. Ainda assim, beijou. Tenha certeza que o seu gosto não será esquecido.

Nas vezes que os seus abraços criaram laços, você permitiu o amor fazer morada. Deixou portas e janelas escancaradas para que ele entrasse devagarinho, como quisesse. Foram abraços de respeito e sintonia. Abraços de chegadas e nunca de partidas. Ainda assim, ele também foi embora. Tenha certeza que a sua coragem não será ignorada.

Moça, você precisa entender que nada disso foi em vão. Que apesar do tudo que você foi, algumas vezes, o amor é passado a perna. Não se culpe. Em tempos de desapegos, ainda há quem ache uma boa troca esconder respeito em troca muitos amores.

O amor é para quem ama. Talvez você não perceba o quanto é simples reconhecer isso, entendo. Mas deixe o coração aberto. Deixe essas incertezas e desgostos de lado. Beije-se. Abrace mais de você. Moça, o amor é para quem sabe se amar primeiro.

INDICADOS