Um tipo de homem para se evitar

Um tipo de homem para se evitar

Ele é bonito, viajado, fala várias línguas, se veste bem e é extremamente educado – sempre segura a porta para as mulheres passarem, puxa a cadeira, abre a porta do carro. Entende de vinhos, música erudita, literatura, teatro.

Não é rico, mas tem uma vida econômica estável e cercada de pequenos luxos.

Seu humor é irônico, ácido. É incapaz de cometer uma indelicadeza com quem quer que seja, porém, é mordaz com quem possui intimidade – criticando roupas e o modo de andar e de falar dos que julga menos polidos do que ele.

Gosta de presentear, gosta de partilhar seu conhecimento: “leia o livro x”, “escute a música y”, “vá ao teatro z”.

Detesta seu país. Por ter vivido em Paris acredita que seus conterrâneos são atrasados, mal educados, mal vestidos e incautos – sempre que pode, numa reunião entre amigos, desmerece a cultura de seu país com frases do tipo “aqui os atores representam tão mal”.

E por ostentar uma altivez tamanha e sugerir (ainda que tacitamente) que possui algo que os demais não possuem, é extremamente sedutor – afinal a paixão é a crença de que o outro tem o que nos falta.

Trata-se de um hedonista que vivencia plenamente os prazeres que a vida pode proporcionar – do luxo e do requinte de uma boa mesa à uma cama com lençóis de seda e uma bela dama sobre ela.

Ostenta a melancolia chique dos que fingem que, por saberem que nada sabem, não passam de reles miseráveis.

Quando (supostamente) apaixonado, escreve mensagens matinais como: “Que outros desejem a fortuna, a glória, as honras, eu desejo-te a ti. Só a ti, minha pomba, porque tu és o único laço que me prende à vida, e se amanhã perdesse o teu amor, juro-te que punha um termo, com uma boa bala, a esta existência inútil”.

E faz promessas ardentes e enlouquecidas de paixão como: “Quando estou ao pé de ti sinto-me tão feliz; parece-me tudo tão bom… Queres que fujamos? Foge comigo, vem, levo-te! Vamos para o fim do mundo”.

À medida que a relação progride e um certo grau de intimidade é estabelecido, ele passa a criticar paulatinamente o objeto de sua “paixão”: “não use esse tipo de sapato”, “aprenda a tocar tal música no piano”, “fale baixo”, “não acredito que você nunca leu esse livro?!”, “você é infantil”, “solte esse cabelo”.

E quando a dama finalmente se entrega, aceita os seus apelos e faz as malas para viver com ele, ele fica irritadiço, diz que as coisas não podem ser feitas de modo tão precipitado; diz que está trabalhando demais e que em breve terá que viajar para o exterior a negócios, e… desaparece.

Não, cara amiga leitora, ele não é o canalha que partiu o seu coração. Ele é Basílio, personagem de Eça de Queiroz do livro “O Primo Basílio” (Editora Record), que levou sua prima Luísa, de vinte e poucos anos, à ruína.

Publicado em 1878, o romance deveria ser leitura obrigatória para todas as meninas em fase de formação. Não apenas porque a narrativa é pungente e questiona os valores das famílias ditas tradicionais, tampouco por tratar-se de um grande clássico, com personagens riquíssimos; nem por nos prender à sua narrativa do começo ao fim das 266 páginas; mas porque, para além da chantagem que Luísa – a prima que se apaixona pelo primo galanteador – sofre de sua criada invejosa Juliana (que descobre a traição da patroa, casada com Jorge), podemos entender a lógica DESSE TIPO de homem:

“Não lhe faltava mais nada senão partir para Paris com aquele trambolhozinho! Trazer uma pessoa, havia sete anos, a sua vida tão arranjadinha, e patatrás! Embrulhar tudo, porque à menina lhe apanharam a carta de namoro e tem medo do esposo! Ora, o descaro! No fim, toda aquela aventura desde o começo fora um erro! Tinha sido uma ideia de burguês inflamado ir desinquietar a prima da Pratiarcal. Viera a Lisboa para os seus negócios; era tratá-los, aturar o calor e o boeuf à la mode do Hotel Central, tomar o paquete e mandar a pátria ao inferno – e ele, burro, ficara ali a torrar em Lisboa, a gastar uma fortuna em tipoias para o Largo de Santa Bárbara para quê? Para uma daquelas! Antes ter trazido a Aphonsine! Que verdade, verdade, enquanto estivesse em Lisboa o romance era agradável, muito excitante; porque era muito completo! Havia o adulteriozinho, o incestozinho. Mas aquele episódio agora estragava tudo! Não, realmente, o mais razoável era safar-se”!

Imagino que se eu tivesse lido a obra de Eça de Queiroz aos dezesseis anos teria poupado muitas lágrimas inúteis em minha vida e teria pensado algumas vezes antes de me jogar de cabeça em certas relações com janotas como Basílio. Talvez nunca tivesse pensado, como Luísa:

“As qualidades de Basílio apareciam-lhe então magníficas e abundantes como os atributos de um Deus. E estava apaixonado por ela! E queria vir viver ao lado dela! O amor daquele homem, que tinha esgotado tantas sensações, abandonado de certo tantas mulheres, parecia-lhe como a afirmação gloriosa de sua beleza e da irresistibilidade da sua sedução. A alegria que lhe dava aquele culto trazia-lhe o receio de o perder. Não o queria ver diminuindo; queria-o sempre presente, crescendo, balançando sem cessar diante dela, o murmúrio lânguido das ternuras humildes”.

A pomba Luísa teve um final trágico – aliás, o final do livro é arrebatador –, porém não senti pena dela. Afinal, não passava de uma mocinha que vivia numa província, em 1878, que nada sabia da vida. Senti pena de nós, mulheres ditas modernas, que vivem sua sexualidade livremente, trabalham, têm acesso à informação, grau universitário; mulheres viajadas, inteligentes, cultas, independentes, que sabem se vestir, falam várias línguas, comandam empresas, escrevem romances, mas que ainda, sim, caem nessa pantomima.

Imagem de capa: cena da minissérie da Rede Globo de 1988: “O Primo Basílio”. Atores: Marcos Paulo e Giulia Gam

Rejeição é a vida mostrando que há novas possibilidades para ser feliz

Rejeição é a vida mostrando que há novas possibilidades para ser feliz

Imagem: Africa Studio/shutterstock

Analisando friamente, a rejeição parece uma faca que nos corta sem anestesia, enquanto o outro continua sua vida normalmente. Mas, se pararmos para analisá-la na sua essência, a rejeição é muito mais defesa do que agressão e serve para nos proteger de uma porção de erros que cometemos (ou poderíamos ter cometido) em nome do amor.

Em algum momento da vida fomos ou seremos rejeitados. Fato! O que não dá é para cultuar esse sofrimento e achar que somos indignos de sermos amados porque algumas pessoas recusaram a fazer isso.

Tudo tem dois lados. Até a dor. E eu sei que poucos sentimentos são tão dolorosos quanto ser rejeitado por alguém, principalmente quando amamos. Mas é preciso entender que é muito melhor ouvir um “não quero ficar com você”, do que saber que alguém está ao nosso lado por obrigação, por dó ou por qualquer outro motivo que não seja o amor (sinto o coração apertar, ao imaginar que há pessoas que se sujeitam a isso).

Muitas vezes, estamos tão envolvidos emocionalmente com alguém que não conseguimos ver a realidade tal qual ela é. Não vemos que o outro não quer estar ali, não quer continuar a relação e que o amor que sentimos não é recíproco. Mas, estamos tão cegos pelo sentimento que não permitimos que as escolhas sejam democráticas na relação.

Confundimos amor com posse, carência com afeto e atenção com dependência emocional e, quando o outro quer partir, o culpamos por nossos vazios existenciais. Na verdade, o que dói na rejeição não é a falta de amor, é a ferida que fica no ego de quem recebe um “não.”

Nós rejeitamos e somos rejeitados frequentemente. E isso é normal! Ninguém escolhe quem vai amar e não podemos mandar nos sentimentos de ninguém (ainda bem). Todos nós temos nossos critérios conscientes ou inconscientes de escolhas pessoais.

Ninguém aponta para o outro e diz “se apaixone por mim agora!”, porque amor é coisa de alma e não de vontades próprias. Então, relaxe, e veja as coisas com mais simplicidade.

Não encare a rejeição como uma metralhadora de autoestima. Encare como uma defesa da alma e descobrimento do próprio valor. Às vezes, sermos rejeitados por quem julgávamos amar é a forma que a vida encontrou de dizer “o caminho é outro, vem comigo.”

Não há tristeza que supere nossa capacidade de sentir alegria.

Não há tristeza que supere nossa capacidade de sentir alegria.

Imagem: Aleshyn_Andrei/shutterstock

Eu tenho fé. Nunca a tristeza vai ser maior que a alegria da gente. Por mais azedo que seja o dia, há sempre um instante doce à espera, pronto para vencer as horas aborrecidas.

Ninguém escapa do desgosto e da amargura. Toda alma tropeça aqui e ali em alguém disposto a estragar a festa. Só nos resta olhar em frente e estar ao lado de quem nos goste. E que toda tristeza aprenda a viver perto de nossa alegria.

Teimosia. É só o que nos cabe. Ser feliz é coisa de quem insiste na vida. Vivamos cem anos e todo dia alguém há de atentar contra a paz que é direito nosso. Acontece. É tanto idiota por aí mirando nossas costas que a gente já nem repara.

Hoje vou rezar por nós de novo. Pedir a Deus e a todos os santos por nossa capacidade de sentir alegria. Que apesar de toda aporrinhação, sejamos capazes de respirar fundo e resistir. E que maior do que toda tristeza seja a nossa competência para criar belezas, nossa coragem de consertar os erros, nossa gratidão por estarmos vivos. E que tudo isso se apresente com euforia e amor. Amém!!

Não tem jeito. Sentir alegria é uma capacidade humana mais forte que toda tristeza. É quando a tardinha é tão bonita, as pessoas certas estão juntas, o vento é fresco, o sol é manso, o céu é azul e o dia não passa, como quem nos diz que será para sempre.

Será. Sempre é. Por mais funda que seja uma angústia, ela nunca dura o tempo infinito da alegria de que somos capazes. Sejamos felizes. Apesar de tudo, sejamos felizes.

O amor é complexo. Esse arrepio fácil na nuca é outra coisa!

O amor é complexo. Esse arrepio fácil na nuca é outra coisa!

Não é de se admirar que a gente esteja sempre às voltas com relacionamentos amorosos que vivem naufragando em mares de expectativas surreais.

Todos esses naufrágios acabam acontecendo porque a gente teima em vestir terno e gravata em encontros que ficariam muito mais confortáveis e interessantes trajando bermudas e um descolado All Star.

Há amores e amores. E a única coincidência entre eles é só a grafia mesmo. O ponto de tensão se forma quando a gente força a barra para fazer o que era para ser puro tesão virar romance de filme francês. Nem sempre procede, não é mesmo!?

Esse arrepio fácil na nuca faz parte de todo o processo de encantamento que cerca essas coisas maravilhosas que são as paixonites e atrações instantâneas.

Relacionamentos tipo pipoca de cinema ou macarrão instantâneo têm lá seus encantos, mas podem ser chamados de muitos adjetivos bacanas, só não lhes serve essa designação substantiva que se chama “amor”.

O amor é complexo e depende, entre outras coisas, de disposição afetiva para construir uma relação aos poucos, a cada encontro e a cada desencontro também.

Amor é aquela mistura genial de chocolate com pimenta, é café passado na hora, é brigadeiro de panela, é pão feito em casa – de preferência a quatro mãos.

Amar é entender até os silêncios e respeitar, inclusive, os ruídos. Quando o amor pega a gente de jeito mesmo, o tesão é um ingrediente gourmet, não é o sal.

O sal do amor é a alegria pelo sucesso do outro que deixa a gente de pernas bambas e coração aquecido. É querer prolongar o tempo junto, mas também compreender que momentos a sós são a base de uma relação de confiança e respeito.

O sal do amor é essa vontade de querer dividir, multiplicar e somar a vida, tudo com a mesma pessoa. E, a cada dia, descobrir nas bonitezas e dificuldades do convívio, mais razões para ficar e nenhuma vontade de partir.

É preciso ter muita coragem para acolher no peito um amor de verdade. Porque o outro vai errar, vai se transformar e vai nos desafiar. Porque não é fácil acomodar dois mundos num casal.

Não é nada fácil compreender que às vezes a doçura azeda, e que é justamente nessa hora que a gente tem a chance de amadurecer e ver no desafio do convívio uma oportunidade única de dar um passo além.

Pode ser mesmo, de verdade, que esse fogo no corpo acabe se transmutando num calor benigno que é capaz de acomodar, entre braços e pernas, algo além de um encontro de desejos. E isso é nada menos que absolutamente maravilhoso!

E pode ser ainda melhor! Quem sabe o calor benigno, o fogo que arrebata, o sabor agridoce dos dias, as calmarias e tormentas não acabem fazendo surgir uma história que vale inúmeros começos, e meios, e fins, e outros tantos recomeços.

Quem sabe a gente já não esteja pronto para desapegar de tantos modelos de propaganda amorosa que tão facilmente compramos. Quem sabe já não seja tempo de parar de jogar na conta do outro o custo da nossa felicidade.

E que venha o amor, sem rótulos, sem pesos, sem joguinhos e estratégias de poder. E que seja complicado, posto que a simplicidade é mesmo coisa muito cheia de detalhes. E que nos faça olhar para dentro com a indiscutível certeza de que viver sem amar é quase a mesma coisa que não viver… ou ainda, algo menos que isso.

Imagem meramente ilustrativa: cena do filme “Amor e outras drogas”.

Pessoas que cuidam da própria vida são mais queridas

Pessoas que cuidam da própria vida são mais queridas

Pessoas que cuidam da própria vida correm atrás de seus sonhos de forma ética e limpa, sem pisar ninguém pelo caminho, sem tentar culpar o outro pelo que lhes acontece, sem achar que o mundo conspira contra elas.

Inevitavelmente, em algum momento de nossas vidas e em determinados locais, encontraremos aquele tipo de pessoa que cuida da vida de todo mundo, parece saber de tudo, conhecer todos, controlando a vida de quem quer que seja. Esses indivíduos são invariavelmente alvo de antipatia, uma vez que todos acabam querendo evitar a sua companhia, ou seja, ninguém parece gostar deles.

Quem cuida da própria vida vive bem primeiramente consigo mesmo, aceita-se como é e se basta. E essa condição faz com que a pessoa não se incomode com o que vem de fora, com a forma como o outro leva a vida, pois compreende que cada um tem a sua própria maneira de encarar a vida, aceitando todos como são. Quer ver o outro feliz, pois também é feliz de fato.

Quem cuida da própria vida é alguém que se sente bem, gosta de quem vê ao se olhar no espelho, ou seja, não se compara com ninguém, entendendo que deve se virar na vida com o que possui, a partir do que é capaz, de acordo com o que faz o seu coração vibrar. Por isso mesmo, deixa cada um ser o que é, aceita as pessoas em tudo o que lhes define, enxergando o melhor que cada um tem a oferecer.

Pessoas que cuidam da própria vida correm atrás de seus sonhos de forma ética e limpa, sem pisar ninguém pelo caminho, sem precisar usar de artifícios desleais nessa busca dos caminhos mais serenos que compõem a sua jornada. Conseguem avaliar a si próprias, assumindo o que não dá certo, sem tentar culpar o outro pelo que lhes acontece, sem achar que o mundo conspira contra elas.

Pessoas que cuidam da própria vida não prestam atenção na vida dos outros, a não ser quando percebem que alguém está precisando de ajuda – isso é empatia. Estão sempre dispostas a dedicar um tempo para ouvir, ajudar, acolher o outro, pois são solidárias. Ao contrário do que possa parecer, não são egoístas, apenas se aproximam da vida alheia para torná-la melhor.

Não é à toa que nos sentimos tão bem perto dessas pessoas que somente cuidam das nossas vidas quando pedimos ou quando percebem que estamos chateados, tristes. São pessoas bem vindas, que nos provocam sorrisos espontâneos, que tornam a vida menos pesada, menos perigosa. Embora não consigamos evitar por completo as pessoas desagradáveis e enxeridas, sempre poderemos contar com o apoio acalentador e prazeroso daqueles que nos somam coisas boas. Por eles é que a vida vale a pena.

Policiais chilenos resgatam cães abandonados e os transformam em parceiros de ronda

Policiais chilenos resgatam cães abandonados e os transformam em parceiros de ronda

Imagem de capa: @bombicum

Desde o ano passado os policiais chilenos da cidade de Quilpué, conhecidos como Carabineros, contam com reforço pra lá de especial. Ao adotarem cães de rua, estes policiais conquistaram fiéis companheiros de ronda.

Tudo começou depois que um cachorro de rua foi atropelado perto de uma estação da polícia. Mobilizados, os oficiais resolveram então adotar os animais, transformando-os em parceiros.

Os colegas caninos usam coletes parecidos com os dos oficiais e os acompanham nas tarefas do dia a dia. Estes jalecos reflexivos foram doados por uma vizinha, no intuito de impedir que mais algum deles fossem atropelados.

Além disso, os bichinhos se mostram bem educados e, sempre que um policial precisa entrar em algum lugar, eles esperam do lado de fora, calmos e quietos.

Ao terminarem os seus turnos, voltam para a delegacia, onde os aguardam comida, água e um lugar para dormir em segurança.

contioutra.com - Policiais chilenos resgatam cães abandonados e os transformam em parceiros de ronda

Com informações do site espanhol: SoyValparaíso.

Hoje é carnaval, amanhã não existe!

Hoje é carnaval, amanhã não existe!

Imagem:  conrado/shutterstock

Faz uns anos que eu não sei o que é carnaval, que eu uso esse feriado para esquecer do mundo, ficar em casa, desligar de tudo. Fico com preguiça de pensar em sair na rua, de pegar a estrada, de encontrar pessoas. Nem os desfiles pela TV eu assisto. Simplesmente me desligo.

Mas, outro dia desses, numa conversa com um jovem carioca apaixonado por carnaval, tive uma lembrança emocional dos tempos da adolescência em que eu passava o ano esperando para que chegasse fevereiro, chegasse essa folia. Eu aproveitava os 3 dias de festa do começo ao fim, era uma energia que não acabava mais, parecia que tinha baixado um santo em mim.

Eu perguntei para o rapaz: ‘mas o que há de bom nisso de se espremer numa multidão, num calorão de matar atrás de um trio elétrico?’

E ele encheu o olhos de sorrisos, e disse algo como:

‘Eu não sei bem, mas o carnaval é um organismo de alegria que te invade e contagia e não tem sensação igual.

O carnaval é uma pulsação. Tem que suar, dançar, esquecer que se é corpo, alma, e virar célula constituindo uma multidão que salta e vibra num mesmo ritmo. Todo mundo vira uma coisa só, uma massa de alegria.

Ninguém é de ninguém no carnaval, nem a gente da gente mesmo. E é isso que a gente quer, e é isso que a gente espera, render-se, abandonar-se, permitir-se.

A gente se agrega a uma energia, faz uma prece e se entrega à folia e que a quarta-feira de cinzas nos espere ou nos vele.

Carnaval é esquecer do céu, do chão, do umbigo. É deixar o sol queimar a pele e a chuva cair gloriosa, é pular de braço dado com um desconhecido, é a festa mais religiosa que existe, rompem-se as diferenças, todos tornam-se irmãos, amamo-nos uns aos outros como a nós mesmo. O mais importante é dançar e cantar, comemorar.

Carnaval quebra as horas dos relógios, faça lua ou faça sol é tempo de folia. No carnaval a gente usa máscara, maquiagem, fantasia, tudo como pretexto pra gente derrubar as máscaras da nossa alma, borrar a maquiagem no tempo e libertar as nossas fantasias de dentro. Jogamos pro alto como confete as expectativas, destruímos o dia de amanhã.

Hoje é carnaval, amanhã tudo se resolve, amanhã não existe! Hoje a gente é suor e sal, amor e celebração, hoje a gente canta o axé de coração aberto e voz alta, a gente dança o que tocar, até funk do tigrão.

Hoje a gente usa saia, tira a camisa, pula no mar, na piscina, se declara, sorri, beija, brinca. Ninguém julga, hoje as regras foram abolidas.

Porque o caos é tão importante quanto a calmaria. Porque a bagunça abençoa as nossas vidas, porque é importante desestabilizar tudo que é sério e adulto e cresce na gente o ano todo. Carnaval é o pretexto pra gente soltar as rédeas, soltar a franga, chutar o pau da barraca, virar criança.’

Que mais eu poderia dizer a não ser sorrir e sentir uma imensa vontade de pular carnaval este ano!

Há silêncios que constrangem. Há silêncios que constroem…

Há silêncios que constrangem. Há silêncios que constroem…

Imagem: CREATISTA/shutterstock

Silêncio no elevador, constrange. Você está descendo nesse veículo de utilidade indiscutível e, de repente, o elevador para no 12 andar e entra o seu vizinho, que você conhece, mas não muito. E entre o 12 e o térreo fica estabelecido um silêncio constrangedor. Parece uma viagem incômoda e comprida.

Instintivamente você se encolhe contra a parede, olha para o chão que, naquela hora te falta, e descobre o cachorro. O cachorro te tira do constrangimento abanando o rabo, interessadíssimo na sua pessoa, bem no momento em que a porta se abre e você sai esbaforida, como bezerro liberto da estrebaria, dizendo “até mais.” Até mais NUNCA, se for possível.

Silêncio no consultório não constrange. O médico já te examinou, já fez o diagnóstico, você já sabe que daquilo não vai morrer, e então, ele se volta para o computador, para fazer as anotações em sua ficha, e te esquece. Você fica ali, muda, enquanto ele digita calado, mas o silêncio é um conforto íntimo, uma oportunidade de xeretar, olhando em volta, e conferir porta-retratos com a imagem da esposa, dos filhos,e da última viagem que eles fizeram para Cancun.

Silêncio no consultório do dentista não constrange. Você chega, mal diz boa tarde, e já vão colocando na sua boca aberta aqueles ferros que te impedem de fecha-la. Se em boca fechada não entra mosquito, em boca aberta não sai som. Sem som não há palavras. Sem palavras há silêncios. Um silêncio que te é lícito e que você pode desfrutar de olhos fechados.

Silêncio na fila do banco não constrange. Barulho de conversas alheias, também não. Todo mundo paradinho na fila, trocando o peso nas duas pernas, olhando fixamente para a frente e para o painel, de quando em quando apenas o barulhinho da campainha chamando o próximo, o próximo, o outro próximo,quando de repente, a dona Maria avista o seu Joaquim,e de longe começam a trocar notícias.

Seu ouvido ouve, ele foi feito para ouvir, mas nem o silêncio anterior e nem o barulho te constrangem. Em fila de banco, no silêncio a gente aproveita para pensar, e no barulho, a gente aproveita, para fazer laboratório e aprender sobre o ser muito humano.

Silêncio no decorrer de uma visita, que te visita e não tem o que falar, constrange. A pessoa é querida, é amável, é prestativa, é atenciosa, mas nem é tão sua amiga, e vem te visitar, e não tem nada para falar. Não preparou o script. Não ensaiou coisa nenhuma. Você que está em casa, desprevenida, fica esperando que ela tenha o que dizer, já que se deu ao trabalho de vir, mas ela não diz.

-“Eu só vim para te ver”, ela diz quando chega. E você não sabia que era para levar a declaração ao pé da letra. Ela só veio te ver. Não veio para conversar.

Esse silêncio constrange. Constrange porque você não está preparada para tanta plenitude e se obriga a inventar um assunto qualquer para escapar do silêncio entre duas pessoas que não têm nenhuma intimidade, sentadas no mesmo sofá. Da sua casa. Como se fosse uma viagem de ônibus, ou de avião.

Aliás, silêncio no ônibus ou no avião, mesmo que seja entre duas pessoas sentadas lado a lado não constrange. Fala quem quer, dá prosseguimento quem gosta.

Silêncio entre amigas, também não constrange. Se essa amiga que vem te visitar, for muito, muito amiga, o silêncio não constrange. Vocês podem tranquilamente dividir o silêncio, ou ligar a TV e assistir um programa onde só o apresentador fala, desde que, de vez em quando vocês possam sorrir, ou gargalhar, ou até chorar. Se a intimidade for muita, podem até dormir.

O silêncio entre amigos, muito amigos, é conexão. É raro, mas acontece e quando acontece é muito bom.

Silêncios virtuais constrangem ou não. Você está no maior papo em tempo real com uma pessoa. De repente, silêncio. Nem tchau, nem dá licença, nem preciso ir. Nesse caso, constrange. A gente rola a conversa para cima, pensando: será que falei alguma coisa errada?

Mas se o papo for entre duas pessoas cuja amizade seja à prova de web, alguém que você já conhece, convive, e confia, dá para pensar: foi atender à porta, as crianças chegaram, o wifi caiu, depois falamos mais. A confiança te isenta de projeções ruins.

Silêncio entre namorados lógico que não constrange. Namorados não dependem de sons, eles falam com as mãos, com os olhos, com o toque, com a língua, com a boca, com o cheiro. E não raro, no meio de uma longa conversa, o silêncio pode ser introduzido com essa frase poética:

– Amor, cala a boca e me beija…

Ai você obedece e beija. Nesse caso, não… não constrange.

Você quer apenas namorar ou viver um grande amor?

Você quer apenas namorar ou viver um grande amor?

Imagem: GlebStock/shutterstock

Vejo inúmeras pessoas dizendo que estão fartas de relacionamentos furtivos – ou de ficar sozinhas – e que tudo o que mais desejam é namorar.

Sempre que escuto isso, penso: será que essa pessoa quer namorar ou viver um grande amor? Porque pode existir diferença, sim, entre essas duas coisas.

Claro que existem namoros que surgem de grandes amores (ou os promovem), porém muitos deles são baseados na simples necessidade de ter alguém ao lado para amenizar a solidão, para o desfrute de uma boa companhia, para jantar, viajar, ir ao cinema, atender as convenções sociais, manter certa regularidade (ainda que morna) sexual.

Mas a vida, meus caros, como não me canso de dizer, é uma dama caprichosa: ela nos dá o que achamos que merecemos. Ou melhor, o que achamos que queremos.

Eu, particularmente, sempre quis viver grandes e arrebatadores amores e, felizmente, fui (sou) presenteada com muitos deles. No entanto, para se viver um grande amor é preciso um bocado de coragem (e sorte!). É preciso ter namorado muito, muito, muito – e por muito tempo – consigo mesmo.

Somente depois de ter se apaixonado pelos próprios erros e qualidades, ter se desiludido com as próprias falhas, ter rompido consigo mesmo em rompantes de raiva e depois ter se reconciliado; somente depois de ter achado charmosos os próprios defeitos, ter dado boas gargalhadas do disco da Shakira em meio aos da Billie Holiday e ter odiado a maneira como se comportou naquela situação X; somente depois de ter se colocado para fora de casa, de ter praguejado o dia em que nasceu, ter achado as próprias roupas cafonas e a imagem embaçada no espelho tenebrosa e ter se perdoado por tudo e por nada; somente depois de ter se dado trégua é que abrimos caminhos para um grande amor.

Ou seja, somente depois atravessar esse mar de fogo – viver um namoro complexo e pulsante consigo mesmo, com todas as etapas de um relacionamento – estamos aptos a viver, ou melhor, a experimentar e partilhar a alegria de um grande amor.

Quem nunca namorou consigo mesmo jamais viverá um grande amor. Pode até se deliciar com paixões instantâneas, mas um grande amor, duvido.

Quem não conhece a própria dor não pode (não sabe) como acolher a dor do outro. Quem nunca enfrentou a solidão, encarando-a nos olhos, é incapaz de ofertar conforto e amparo. Quem nunca se perdoou por suas falhas jamais perdoará as alheias. Quem nunca conseguiu se aceitar não é capaz de aceitar outrem – e sem aceitação não existe amor.

O amor, o amor de verdade, só acontece quando damos mais do que temos. Quando ultrapassamos nossos limites, quando sentimos medo, porém continuamos; quando entendemos que podemos viver sem o outro, mas escolhemos sua companhia; quando entendemos que ninguém pertence a ninguém e que ninguém está no mundo para atender a nossas necessidades e expectativas e que o ciúme não é sinal de amor ao outro, mas de autopreservação, ou seja, amor-próprio (leia: egocentrismo, egoísmo); quando deixamos de sentir a diferença como ameaça e passamos a desfrutar da possibilidade de crescimento que ela proporciona; quando aceitamos e acolhemos o outro em suas faltas do mesmo modo que desejamos ser aceitos e acolhidos; quando morremos juntos para o que fomos e para o que poderíamos ter sido e nos dissolvemos num só corpo, num só gozo, em pleno abandono.

Abandono. Essa palavrinha parece não combinar com o amor, não é? Todavia, o amor só é possível quando praticamos o abandono – inclusive e principalmente de velhas crenças acerca de nós mesmos e do mundo.

Somente depois de termos aprendido esses movimentos é que a nossa terra estará arada para sorver o delicioso fruto chamado “grande amor”.

Dia desses li por aí: “amor não é aquilo que te deixa em paz, calmo, feliz e tranquilo; o nome disso é Rivotril” – ou, acrescentaria, “um simples namoro”.

Não existe amor sem crescimento, sem expansão, sem abandono, sem mudança, sem medo. E mudar dói. Requer coragem. Amar bagunça a vida, não tem jeito. Namorar, só por conveniência, às vezes ajeita. Não existe certo, nem errado, trata-se apenas de uma escolha.

Portanto, cuidado com o que deseja, porque seu pedido pode se realizar: você deseja (somente) namorar ou viver um grande amor?
Lembrando que: é preciso ter se perdido de si umas não sei quantas mil vezes para se perder na estrada de um louco, grande e lindo amor.

Seja lá para que lado for, vá na fé! E boa sorte!

FALANDO NISSO

Ao escrever este texto lembrei-me da receita do grande poetinha Vinicius de Moraes, “Para viver um grande amor”

Amigos reais e amizades virtuais: uma mistura que pode dar muito certo!

Amigos reais e amizades virtuais: uma mistura que pode dar muito certo!

Imagem: dramalens/shutterstock

Todas as pessoas que você tem adicionadas nas Redes Sociais são suas amigas no mundo aqui fora, o chamado “mundo real”?! É claro que não, né? E quer saber…isso é ótimo!

A explicação é até bastante simples: aquelas pessoas que formam o seu time de amigos do peito constituem a sua rede de relacionamentos formada por elos mais fortes.

São, normalmente, pessoas mais parecidas com você, com interesses em comum, valores mais próximos e, muitas vezes com padrões de instrução bem semelhantes que vestem a tal camisa de amigo íntimo.

É claro que isso não é uma regra. Assim como tudo na vida, há amizades intensas e belíssimas que nascem de encontros absolutamente improváveis. Mas, exatamente por serem encontros extraordinários, estes não são os mais comuns.

A internet é uma poderosa ferramenta de aproximação entre indivíduos que, sem essa ajudinha, jamais chegariam a se conhecer.

E é bem verdade que se você deu um passo além com alguns de seus contatos, evoluindo para conversas privadas, por exemplo, é porque aquelas pessoas, em especial, aparentemente possuem algo em sua forma de se mostrar, expressar e comunicar que o atraíram de alguma forma.

Quando um contato virtual evolui para além dos posts, curtidas e cutucadas, há uma boa chance dessa relação de elo frágil vir a ser uma amizade cheia de possibilidades e, em alguns casos – por que não? -, virar um relacionamento afetivo e até amoroso.

Estar online, segundo pesquisadores da universidade de Toronto*, oferece aos indivíduos 33,4% mais chances de ampliar o círculo de amigos. Isso é claro, se o tal indivíduo não permanecer 24 horas por dia abduzido para dentro da tela de um smartphone, certo?

Quando as amizades virtuais surgem por meio de um bem-vindo efeito colateral das relações reais, elas acabam por agregar valor aos níveis de socialização.

Um bom exemplo disso são as solicitações de amizade que vêm por meio de “amigos dos amigos”; neste caso há uma oportunidade bem grande de ocorrer uma migração da tela para um encontro ao vivo.

E tudo bem se as amizades virtuais não fizerem um upgrade de elo frágil para elo forte, porque a vida também é feita de encontros menos intensos e mais leves. É importante ter a mente aberta para ampliar horizontes.

Conhecer pessoas diferentes de você é uma forma bastante saudável de mudar o foco e abrir o olhar para novos interesses e jeitos de interpretar a vida. É na interação que a gente se transforma. E transformar-se é uma das coisas mais saborosas que podemos fazer por nós mesmos, ainda que seja, em primeira instância, de forma virtual.

*Asur, S. , Huberman, B. A. (2010). Predicting the future with social media. In Proceedings of the IEEE/WIC/ACM International conference on web intelligence and intelligent agent technology (Vol. 1; PP. 492 – 499). Toronto, Ontario, Canada; ACM.

Nossos filhos não são depósitos dos nossos sonhos

Nossos filhos não são depósitos dos nossos sonhos

Imagem: Dusan Petkovic/shutterstock

Muitas vezes, esperamos que os filhos se tornem alguém que nós queríamos ser; desejamos que eles cursem a faculdade que nós queríamos ter feito, ou seja, transferimos aos filhos a responsabilidade de viver o que nós não vivemos quando tivemos nossa chance.

Os filhos são nosso legado, a perpetuação de quem fomos; através deles teremos a continuidade de nossa existência e de nosso amor, que nutrirão em suas mais doces lembranças. São nossos bens mais preciosos, a razão de nosso viver, o combustível que nos fortalece na luta diária, amor incondicional e verdadeiro.

Natural, portanto, querermos sempre o melhor para eles e termos orgulho do que são, de suas conquistas, da pessoa em que aos poucos vão se transformando.

No entanto, tendemos, muitas vezes, a nos concentrar demais nas suas vidas e, com isso, paramos de prestar atenção em nós mesmos, no que somos além deles. Assim, acabamos por projetar nos filhos tudo aquilo que é nosso: nossos sonhos, nossos projetos, nossas verdades.

Criamos expectativas em relação a eles que, na verdade, são expectativas nossas em relação a nós mesmos. Esperamos que os filhos se tornem alguém que nós queríamos ser; desejamos que eles cursem a faculdade que nós queríamos ter feito; ou seja, não raro transferimos aos filhos a responsabilidade de viver o que nós não vivemos.

É difícil e doloroso olharmos para trás e encarar o que não tivemos coragem de fazer, o que não tínhamos como pagar, o que não nos foi permitido por nossos pais, o que não se disse, não se viveu, não se realizou. Como não queremos que nossos filhos sofram, como nós, o gosto amargo dos arrependimentos que teimam em nos perseguir, acabamos, sem perceber ou querer, extrapolando os limites de uma orientação sadia, impondo-lhes escolhas que cabem somente a eles.

Para muitos de nós, pais, é quase impossível conformar-se resignadamente com o fato de que a vida é deles, os sonhos são deles, os erros – incontestavelmente imprescindíveis – serão deles também.

Nossos filhos são pessoas que pensam, agem e vivem de forma autônoma, possuem os próprios sentimentos, os próprios sonhos e desejos. Carregam as verdades que construíram de acordo com o que sentem, com a forma como lidam com o mundo à sua volta, e não necessariamente – raramente, na verdade – seguirão caminhos iguais aos nossos ou aos que queremos.

Lançar-se-ão ao mundo, desfrutarão as alegrias, enfrentarão os dissabores, entregar-se-ão às paixões, munidos de toda bagagem emocional acumulada à maneira deles e, por mais que não se perceba ou não pareça, sempre haverá muito do pai e da mãe ali em meio ao que os filhos carregam vida afora.

É natural nos preocuparmos com as suas escolhas, pois muitas vezes enxergamos as consequências futuras com negatividade e queremos, a todo custo, evitar-lhes frustrações. Não é fácil, por exemplo, assistir calmamente aos filhos optando por profissões pouco rentáveis, apaixonando-se por quem não nos agrada, vestindo-se de uma maneira que nos choca, ouvindo músicas que ferem nossos ouvidos.

Nesses momentos, cabe aos pais perceberem se eles estão confortáveis e felizes com aquilo, se não estão prejudicando outrem, porque nada deve importar mais do que o bem estar e a felicidade deles. Caso não estejam escolhendo caminhos ilegais, antiéticos ou autodestrutivos, é preciso deixá-los conviver com as escolhas que fizeram e com os resultados delas, por mais que isso doa.

Quanto mais vivermos a vida de nossos filhos como se fosse a nossa própria vida, menos estaremos preparados para vê-los crescer e conquistar independência, seja a financeira, seja a emocional. É natural e sadio orgulhar-se das conquistas e de quem os filhos se tornaram, porém, pais que dependem tão somente disso para a satisfação pessoal estarão irremediavelmente fadados a sucessivas quebras de expectativas.

Pautar a própria vida pelas medalhas, diplomas, desempenho escolar e troféus dos filhos é despedir-se aos poucos de si mesmo, é fugir ao autoconhecimento, que deve ser diário e que depende de olhar para si mesmo como alguém que pensa, age e possui vontades e anseios só seus, intransferíveis. Depositar nossos sonhos na vida de nossos filhos, para exibi-los como prêmios, é sobretudo injusto, pois lhes retira o direito de serem o que são, de respirarem o próprio viver.

Na verdade, não existem regras, manuais ou instruções que nos indiquem seguramente como criar os filhos, principalmente porque cada pessoa sente e reage de uma forma diferente ao que encontra pela frente. Não fosse assim, irmãos criados pelos mesmos pais seguiriam o mesmo caminho, fariam as mesmas escolhas, o que inclusive não ocorre nem com irmãos gêmeos.

Saber ponderar e diferenciar a orientação da imposição, o interesse da intrusão, o conselho da ordem expressa ao lidar com nossos rebentos é tarefa árdua, mas imprescindível para que consigamos vê-los se tornarem o que querem, buscando a felicidade e lutando com segurança em meio aos reveses da vida.

Tudo o que fizemos pelos nossos filhos estará sempre ali com eles, guardado para ser usado na hora certa, com a sabedoria que lhes permitimos desenvolver com nossos exemplos de vida. Inegavelmente, sempre teremos orgulho do que eles são, porque então nos veremos nos seus olhos e teremos a certeza de que jamais morreremos em suas memórias.

O problema da expectativa é que ela nasce na gente, mas morre no outro

O problema da expectativa é que ela nasce na gente, mas morre no outro

Imagem: View Apart/shutterstock

Ninguém lida bem com o fim do amor. Mesmo que você seja o supra-sumo do autocontrole, você acaba sofrendo. Seja por criar expectativas demais em relação à outra pessoa ou por matar um sonho dentro do peito.

A dor nos faz prometer que nunca mais iremos amar e que seguiremos à risca, o que a nova geração nos ensina: “aconteça o que acontecer, não se apegue!” Mas, como nem tudo acontece como planejamos, a vida sempre traz surpresas e, no amor, não seria diferente.

Todos nós já sofremos desilusões, aprendemos com elas e seguimos em frente. Somos a soma dos nossos aprendizados. O problema é que, enquanto alguns endurecem para o amor, outros morrem em nome dele. Há pessoas que não sabem viver um amor tranquilo. Acreditam que o amor precisa ser vivido em potência máxima e com a intensidade de um furacão.Criam expectativas no primeiro encontro e se recebem um convite para um jantar já é motivo suficiente para planejar a festa do casamento.

Criar expectativa é cruel. Tanto para quem sente, quanto para quem a recebe. Vamos a um exemplo clássico: não são raras as vezes em que encontramos pessoas bacanas, mas que deixam claro que não querem um relacionamento sério (o que, aliás é um direito delas). Mas, os passionais de plantão sempre acham que o outro irá mudar de opinião, da noite para o dia e, quando percebem que isso não irá acontecer, se frustram e começam a denegrir a imagem do outro, dizendo que ele não presta. Alto lá!

A pessoa é um excelente profissional, bom filho, paga seus impostos em dia, é gentil com todo mundo e não presta porque não quis um relacionamento sério? Pera aí! Ele deixou isso claro no começo. Quem gerou falsas expectativas foi você.

É preciso ser mais realista e viver o presente, para não corrermos o risco de desacreditar no amor porque nossas expectativas não foram correspondidas. Primeiro porque somos responsáveis por nossos atos e não pelos dos outros. Entenda que as pessoas agem conforme suas próprias vontades e não conforme queremos. Segundo porque amor é um sentimento muito sério para ser sentido no primeiro encontro. Amor é sentimento sagrado e precisa de tempo para ser consolidado.

Esqueça essa história de que “só o amor basta”. Não basta não! Amor “água com açúcar” foi feito para o cinema. Na vida real amor inclui divergências, cumplicidade, rotina, admiração e respeito. Amor real passa pelo tédio, sofre influência familiar e tem rotina sim! Nenhum relacionamento está imune a discussões e isso faz parte da união.

A mãe dele irá implicar com você em algum momento, os amigos irão dizer que você é ciumenta, o pai dela irá te odiar e o irmão dela irá te ameaçar de morte até vocês ficarem amigos e assistirem futebol juntos. Normal! Com o tempo, tudo isso acaba e as duas famílias viram uma (ou não, mas tudo bem). O importante é não deixar o amor morrer pela idealização de algo que não existe.

Expectativas intoxicam a alma de angústia e ansiedade e nos fazem prisioneiros dos próprios sonhos. Liberte-se e entenda que a vida não costuma seguir regras para cumprir o destino e, quer saber, ainda bem! O amor costuma caminhar no sentido oposto das expectativas para provar a você que nem tudo está sob seu controle.

Não crie expectativas, crie força. É melhor estar
seguro de si, do que ferido de frustrações.

Pesquisas apontam: quem passa menos tempo no Facebook é mais feliz

Pesquisas apontam: quem passa menos tempo no Facebook é mais feliz

Imagem: oneinchpunch/shutterstock

O Facebook me intoxica. Me intoxica com reclamações de pessoas que não conheço. Com fotos de comidas que às vezes parecem vômito. Com vídeos de animais sendo maltratados. Com frases que nunca foram escritas por Clarice Lispector, Fernando Pessoa, Caio Fernando Abreu ou Mario Quintana.

Me intoxica com seu patrulhamento – sempre tem um pentelho para dizer que você não deve pensar, postar ou escrever algo – e com a avalanche de informações misturadas que se encontram ali: bons artigos, boas músicas, resenhas, vídeos interessantes.

Se eu fosse clicar em todos os artigos que me chamam a atenção, ou fosse escutar num só dia todas as boas músicas que os bons amigos indicam, não faria outra coisa da vida.

Portanto, não são apenas os sem-noção que colaboram para a minha intoxicação. Os com-noção (e excelentes postagens) colaboram, e muito, porque sempre fico com a sensação de que perdi alguma coisa quando não clico ou não leio algo que supostamente acharia interessante.

Além disso, as mensagens inbox. Às vezes simplesmente não estamos com saco (nem tempo) para começar uma conversa por ali e o truque de não visualizar para o outro não ser notificado não surte o menor efeito, pois ele percebe que você está online (uma vez que posta ou curte postagens alheias) e subentende que você não leu sua mensagem porque não quis. E entre o seu direito de não querer responder e o sentimento de rejeição do outro nasce a sua culpa e o julgamento do outro de que você é arrogante, metido, insensível ou sei lá o quê.

As notificações em avalanche, os convites para aplicativos malas, a inserção forçada em grupos que nada tem a ver com a gente, as páginas que nunca curtimos, mas que nos são entubadas, as brigas políticas e a perseguição dos “politicamente-corretos” – tudo isso me intoxica.

No entanto, o que mais me intoxica é a sensação de que a minha vida, em alguns momentos, está menos interessante do que a vida do meu vizinho que está sempre viajando para lugares paradisíacos e, claro, postando muitas fotos; frequentando festas badaladas, bares, shows e restaurantes incríveis, comendo comidinhas refinadas e de chefes famosinhos em plena segunda-feira, indo a exposições interessantíssimas em plena quarta-feira, enquanto eu, pobre de mim, estou derretendo no calor do Rio de Janeiro e tentando escrever um novo livro.

Desde que li uma matéria que dizia que pessoas que passam menos tempo no Facebook são mais felizes passei a diminuir minha frequência na bolha azul.

” O Facebook ativaria um poderoso processo de comparação social. “Os indivíduos tendem a postar informação, fotos e anúncios que fazem com que suas vidas pareçam sensacionais. Exposição frequente a esse tipo de informação pode levar o outro a sentir que sua vida é, em comparação, pior”. Saiba mais

O resultado do meu afastamento virtual foi surpreendente. Não me comparar com ninguém (quem nunca?) me trouxe uma sensação de que a minha vida vai bem, obrigada, sem tamanho. Quando viajo, então, passo semanas sem entrar. E é tão bom desfrutar do que temos (o presente) e não do que não temos (a vida dos outros).

Quando nos concentramos em nós, nas nossas vontades, necessidades, vivências e aprendizado – e não no que devemos ser para o outro; no que queremos que outro pense de nós – há uma diminuição de ansiedade quase palpável (e tempo de sobra para aplicar em coisas que realmente nos são caras).

As famosas selfies não me incomodam. Algumas até me divertem. Gosto de ver meus amigos se sentindo bonitos em tempos onde quase todo mundo odeia a própria imagem – sim, porque para postar uma selfie a pessoa tem que estar se achando linda na foto.

Aliás, nunca consegui concordar completamente com os analistas de plantão que garantem que o excesso de fotografias em redes sociais é sinônimo de narcisismo crônico e/ou produto de uma sociedade narcísica. Ok, existe esse componente, isso é inegável, mas fecho com Ítalo Calvino, em seu conto A aventura de um fotógrafo, no livro Amores Difíceis (Editora Companhia de Bolso):

“ Somente quando põem os olhos nas fotos parecem tomar posse tangível do dia passado, somente então aquele riacho alpino, aquele jeito do menino com o baldinho, aquele reflexo do sol nas pernas da mulher adquirem a irrevogabilidade daquilo que já ocorreu e não pode mais ser posto em dúvida. O resto pode se afogar na sombra incerta da dúvida”.

Ou como aponta em outro trecho:

“ É só você começar a dizer a respeito de alguma coisa: ‘Ah, que bonito, tinha era que tirar uma foto!’, que já está no terreno de quem pensa que tudo o que não é fotografado é perdido, que é como se não tivesse existido, e que então para viver de verdade é preciso fotografar o mais que se possa, e para fotografar o mais que se possa é preciso: ou viver de um modo o mais fotográfico possível, ou então considerar fotografáveis todos os momentos da própria vida. O primeiro caminho leva à estupidez, o segundo, a loucura”.

Penso que a mania de fotografar tudo-o-tempo-todo, inclusive a si mesmo – além do advento dos telefones com máquinas digitais – tem mais a ver com uma necessidade de se esquivar do sentimento de transitoriedade (e do que é efêmero) do que qualquer outra coisa.

Voltando ao assunto inicial: por que não abandono a bolha azul se ela me intoxica tanto? Porque tem o humor de páginas como Artes Depressão, boas dicas dos amigos,  a sensação de que estou próxima de pessoas que não vejo há anos por morarmos em cidades diferentes, pela ótima ferramenta que é para divulgação do meu trabalho e, também, por ser uma boa distração em noites de insônia não produtiva.

O segredo, aprendi, é dosar – assim como se bebe água junto à ingestão de bebida alcóolica para não passar mal depois, se deve passar menos tempo no Facebook para não enjoar dos outros e de si mesmo.

Não precisa vir em um cavalo branco, só não seja um cavalo

Não precisa vir em um cavalo branco, só não seja um cavalo

A maturidade de saber que a vida não é fácil nem nunca será, por mais que lutemos e nos comportemos eticamente, acabará por nos proteger de criarmos ilusões fantasiosas sobre um mundo de faz-de-conta, bem como de aceitarmos qualquer um em nossas vidas.

Contos de fadas são passados e repassados às crianças, pontuados por finais felizes e harmoniosos para sempre, fazendo com que o imaginário de todos se recheiem com a possibilidade de viver uma vida cor de rosa, como aquelas das princesas da Disney. Esperar pelo príncipe encantado, no entanto, é permanecer na infância, tal qual uma garotinha insegura que espera um super herói que a proteja do mundo, da vida em si.

Não existe felicidade eterna, simplesmente porque ser feliz é um objetivo, não uma constante. A felicidade é o caminho que percorremos enquanto tentamos realizar nossas metas, enquanto ultrapassamos obstáculos, vencemos dores, sobrevivemos às perdas mais duras. Ninguém é feliz o tempo todo, uma vez que, caso alcançássemos a satisfação plena e última de nossa vida, o amanhã nem teria mais sentido.

O mais saudável é sorver os momentos felizes que encontramos em nossa jornada, esparsos, mas intensos; breves, porém mágicos. Com todos é assim, ou seja, esperar que o outro nos traga o que supostamente nos falta só nos servirá como prolongamento de decepções. O outro também vem com felicidade a ser procurada, com sonhos e ideais ainda distantes, portanto, não será capaz de ser um escudo, uma muralha que nos livre de passar pelo que é só nosso.

Tendo consciência de que ainda haverá muito a ser vivido e conquistado, seguiremos mais conformados com a incompletude que nos serve como motivação a jamais parar no mesmo lugar, a prosseguir, trôpegos que seja, mas seguindo em frente. Assim, ninguém esperará por um príncipe encantado que venha suprir as carências de ninguém, pois seremos fortes o bastante para entender que somos nós os atores principais do roteiro de nossas vidas.

A maturidade de saber que a vida não é fácil nem nunca será, por mais que lutemos e nos comportemos eticamente, acabará por nos proteger de criarmos ilusões fantasiosas sobre um mundo de faz-de-conta, onde a felicidade é plena e as pessoas são cordiais e transparentes. Da mesma forma, esse equilíbrio não nos permitirá aceitar em nossas vidas pessoas que trazem somente dor e sofrimento, subtração, agressão e covardia.

Porque, então, estaremos prontos tanto para receber o que fizemos por merecer, quanto para fechar as portas de nossa essência a tudo aquilo que entristece e a todos que tentarem nos diminuir e tentarem fazer com que nos sintamos menos gente, menos pessoa, menos amor. E sorrir com a alma é o que nos manterá confiantes e seguros, rumo ao que faz o nosso coração vibrar.

Imagem de capa meramente ilustrativa: cena da animação “Enrolados”

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