No duro, amor é tudo o que melhora a gente. O resto é conversa mole.

No duro, amor é tudo o que melhora a gente. O resto é conversa mole.

Imagem de capa: Kseniya Ivanova/shutterstock

Olhe em volta, para cima, para baixo. Feche os olhos, espie o que passa aí dentro. Solte o olhar e deixe a vista passear lá fora, como um cachorro sem corrente que dispara em direção do nada, eufórico, embriagado de liberdade, feliz da vida. Mire para frente, para trás, para um lado e para o outro. Em todo canto, a todo tempo há o que pode nos tornar piores e o que há de nos fazer melhores.

O caminho anda cheio do que pode piorar tudo. Tombos que nos roubam a coragem de andar, tropeços que nos paralisam, desencontros que nos tornam perdidos, sem rumo, sem sono nem sonho. Se deixar, cada tombo que a gente leva nos leva embora um pouquinho do que nos mantém de pé.

Por aí não falta o que tem tudo para nos tornar piores. Se a gente deixa, a gente piora. Se a gente cuida, a gente melhora. O mesmo tropeção que me parte as unhas me leva dois, três passos à frente. A mesma rasteira que me derruba me acende um ímpeto furioso de apoiar a mão no chão e me jogar para cima. Defender a mim e a minha gente de quem nos ataca. Proteger nossa paz e nossa casa lutando sem medo contra o mal que nos espreita. Melhorando nosso jeito de andar pela vida.

É aí que o amor revela sua cara linda, forte, angulosa. Esse amor que nem sempre chega sorrindo mas que só existe para melhorar a gente. O amor é o que nos faz melhores, nunca piores. É o que nos fortalece, jamais nos enfraquece.

Amar nos transforma em bichos firmes, corretos, bondosos. A insegurança, a mesquinharia e o ciúme rastejam em outros terrenos. O amor é tudo o que nos faz melhores. O resto é apego, posse, vaidade, conversa errada.

O sujeito que ama se importa com o ser amado tanto quanto consigo mesmo. Quer dar jeito no mundo como quem se aplica a pintar a casa. Sem perceber, envolve-se em causas alheias, desenvolve o hábito das atitudes gentis. No duro, o amor é o que melhora a gente. O resto é conversa mole.

Quem sente amor vive disposto para o trabalho, seja o peso de levantar uma casa, a leveza de assoprar um joelho esfolado ou o desprendimento de soltar o corpo e a alma na preguiça do sofá num amorzinho bom, melhorando em seu tempo como um bolo gostoso que cresce no forno da vida.

E ainda que estejamos sós, um sentimento bom de que estamos entre amigos há de nos acolher e abraçar. É o amor que mora no coração de cada um. Esse amor que é a bondade da gente, o abrigo firme na chuva de canivete, a razão de ser, a impressão de que toda aporrinhação vale a pena. Amor que é o lugar onde se mora, de onde se sai e para onde se volta, onde quer que a gente esteja. O amor que melhora o mundo e os que ainda restam, teimosa e amorosamente, vivos. Porque amar, minha gente, amar ainda é o jeito mais bonito de estar na vida.

Confie mais em seus princípios do que em seus hormônios

Confie mais em seus princípios do que em seus hormônios

Imagem de capa: Alexandr Polyakov/shutterstock

Uma das melhores sensações da vida é estar apaixonado. Se assim não fosse, a ciência não teria dedicado anos de estudo ao tema, para comprovar o que sentimos na pele: o cérebro realmente se altera quando a pessoa está apaixonada.

A situação ficou pior quando os cientistas descobriram que o cérebro demora um quinto de segundo para se apaixonar, além de liberar substâncias como dopamina, ocitocina, adrenalina e vasopressina (as mesmas substâncias liberadas no consumo de drogas como a cocaína). Resumindo: nos apaixonamos na velocidade de um piscar de olhos e com o perigo do vício imediato.

Quando nos apaixonamos, ficamos felizes, sentimos que estamos completos e planejamos a vida a dois para os próximos dois séculos. O problema é que, como tudo na vida tem dois lados, a paixão também tem os seus: se por um lado dá asas e nos dá a sensação de poder voar, por outro, permite que algumas pessoas viciem no estado eufórico que ela produz e, quando o mesmo acaba, acreditam que o amor acabou também.

Temos aqui dois problemas: os que acreditam que os relacionamentos são medidos pelas sensações de entusiasmo diante do novo e os que agem no calor dessas emoções e se arrependem depois.

O “novo” sempre encantou e isso não é nenhuma novidade. É maravilhoso conviver com o mistério e descobrir aos poucos o que a nova relação nos reserva. Novos gostos, novas personalidades, novos pontos de vistas…tudo encanta em um primeiro momento. Isso explica porque nos apaixonamos por pessoas tão diferentes de nós.

Ninguém se apaixona pelo gosto musical, literário ou pela cor dos olhos. Gostamos do que é diferente e nos encantamos pelo inatingível. O problema é que esse estágio acaba rápido e o que era “novo” passa a ser rotina e o ‘diferente” a ser irritante. Nesse momento a paixão tem que decidir: ou vira amor ou morre.

Todos nós (ou quase todos) já vivenciamos o sentimento de alegria que a paixão proporciona. Como, também, já sentimos o efeito contrário que ela produz. Já vimos beleza onde não tinha, qualidades em que nunca as possuiu e acreditamos em promessas nunca cumpridas.

Paixão é um sentimento meio cafajeste mesmo. No calor dela casamentos são aceitos, tatuagens são feitas e amor eterno jurado, mas depois que a tempestade passa, quase nada é cumprido. Para Shakespeare “as juras mais fortes consomem-se no fogo da paixão como a mais simples palha”.

Quando um sentimento não é correspondido sofremos de ansiedade, expectativas e de uma dose cavalar de orgulho. Sentimos como se estivéssemos sido traídos pelo próprio coração e entramos em um ciclo de depressão e baixa estima. Mas, um dia tudo passa e começamos a ver a vida com outros olhos e a entender que paixão boa é paixão recíproca! Fora isso, é tortura psicológica.

A ciência não tirou a vontade de nos apaixonarmos, tão pouco o lirismo do sentimento. Pelo contrário, provou que para duas vidas se tornem uma, antes, é necessário apaixonar-se muitas vezes e percorrer um longo caminho de amadurecimento sentimental.

A sabedoria vem de entender a diferença entre viver uma paixão e permitir que ela direcione a sua vida. Como dizia François La Rochefoucauld: “um homem sensato pode apaixonar-se como um doido, mas não como um tolo”.

Gosto de risos fáceis, de abraços sinceros e de gente doida e feliz

Gosto de risos fáceis, de abraços sinceros e de gente doida e feliz

A sociedade nos dita regras e normas de convivência, como se existissem manuais de como se portar perante os outros, como se houvesse homogeneidade naquilo que podemos ou não fazer, naquilo que devemos sempre sentir, em tudo o que é errado, inconveniente, e no que é o correto. Esquecem-se de que sentimentos não vêm com manuais, muito menos caráter. Esquecem-se de que não são as regras de etiqueta, mas sim o nosso comportamento com o próximo, que nos define a essência humana.

Existem pessoas extremamente polidas, bem vestidas, com um currículo acadêmico impecável, mas que não cumprimentam ninguém por onde passam. Existem indivíduos que vivem em missas e cultos religiosos, que ditam de memória qualquer versículo bíblico, que participam ativamente dos eventos das paróquias, mas que só sabem fofocar e criticar a vida dos outros. Não podemos confundir apenas o que vemos superficialmente com o que cada um possui dentro de si.

Por outro lado, há pessoas que são solidárias, acolhedoras, agradáveis, éticas, que nos abraçam com verdade, que nos orientam com propriedade, que nos ouvem em silêncio reconfortante, sem precisar se mostrar, brilhar, sem afetações. São os sorrisos mais sinceros e curativos que existem. Pessoas que nos curam a alma, que nos resgatam dos escombros emocionais, que nos guiam para longe do nosso pior, que são felizes e por isso não aborrecem ninguém.

São aquelas pessoas doidas, simplesmente porque não se ajustam às convenções impostas, caso tenham que perder aquilo que as define, caso tenham que se anular para se adequar à suposta normalidade de uma sociedade hipócrita, cujos discursos, em sua maioria, cheiram a mofo. Na verdade, são doidas pela verdade, são loucas para ajudar, são malucas pelo bem do todo, pelo contentamento natural, sentindo-se bem quando quem caminha junto também está bem, sem inveja, sem mesquinharia alguma.

Se prestarmos atenção em tudo o que estamos perdendo, por conta de ficarmos dando importância a coisas inúteis, a momentos que devem ser deletados sumariamente e a pessoas desprezíveis, perceberíamos que falta muito pouco para sermos realmente mais felizes e tranquilos. Falta apenas caminhar junto das pessoas certas, guardando no coração somente o que nos fez melhores e nos desviando daquilo que não serve para nada, mas nada mesmo. É assim que deve ser e é de nós que isso depende, de mim e de você.

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Carta a quem já se foi

Carta a quem já se foi

Imagem de capa: LawSayWhich/shutterstock

Para você, cujos olhos eu enxergo a cada vez que me olho no espelho; para você, que vibrou com meus primeiros passos e hoje não mais anestesia minhas quedas; para você, pai, tento, sem muito sucesso, encontrar palavras que dimensionem e aliviem a saudade que não é pouca.

A saudade do teu riso de criança ecoando pelos cômodos da nossa casa amarela.

A saudade do barulho da TV ligada pelas madrugadas, que velava meu sono ao sinalizar tua presença.

A saudade dos dedos com cheiro de bergamota; do peito que se fazia travesseiro para meus sonhos de criança; da pele cujo cansaço já desenhava marcas.

Ainda é, por vezes, dolorido conquistar o mundo e não receber teu sorriso orgulhoso como recompensa.

É dolorido conhecer e amar novas pessoas para quem só conseguirei mostrar a beleza da tua existência através de fotografias e histórias.

É dolorido existir num mundo que nos arranca precocemente justamente aqueles que nos curam de existir.

Mas toda a dor que mora na saudade é, também, testemunha da minha infinita capacidade de sentir amor. E isso é bonito.

Não importa o que aconteça, eu não vou perder a fé.

Não importa o que aconteça, eu não vou perder a fé.

Só por hoje eu me rendo, como poucas vezes me rendi.
Caio de joelhos, e balbucio uma oração ininteligível para uma divindade qualquer.
Só por hoje, deixo de lado o peso, a dor de ter que aguentar tanta coisa em silêncio, e não suportar mais sorrir apesar de.

Apesar de, eu também tropeço e desabo. Apesar de, eu também sofro e choro.
Na maioria das vezes, escondido no banheiro, longe de um abraço que possa me levantar.
Só por hoje, abandono o personagem forte que montei ao longo dos anos, e resgato o verdadeiro rosto que me habita. Estendo a mão ao amigo que, assim como eu, desiste da armadura e se desmancha em lágrimas, porque já não pode esconder o que lhe dói. Está frágil demais para impedir que a emoção alcance os olhos.

Hoje, e não só por hoje, me permito ser mais flexível ao deixar o peito transbordar amor sem esperar que me amem da mesma forma. Hoje, mesmo sofrendo, me dou conta que ainda existe um riso frouxo atrás da cara amarrotada. O menino que mora em mim, estende as mãos e pede colo porque está assustado com os nãos do mundo.

Digo sim ao menino que sou, o acalmo no remédio de uma antiga canção, mesmo sabendo que ele não consegue mais dormir. Penso no quanto tenho deixado a desejar por não nutrir mais o imaginário da criança. Estou cansado demais para deixar que ela sonhe.

Mas não importa o que aconteça, eu não vou perder a fé. Não agora. Não neste exato instante, em que miro os olhos aflitos no espelho e vejo ali uma faísca de alegria, um punhado de esperança. A alma é uma imensa gaveta de sonhos multicoloridos, e eu não posso soterrar o menino que ainda sorri. Ainda há tantas paisagens para ver. Tanto mar. O sussurro no escuro me faz lembrar o quanto estou vivo, e por mais que diga que não, desejo a vida mais vibrante e bela.

Só por hoje, faço deste silêncio a minha prece mais genuína. Desta lágrima insistente, o grande salto para o recomeço. Bem provável, que ainda caia outras vezes e me renda, se assim tiver que ser. Mas não importa o que aconteça, eu não vou perder a fé.

O gato, miau. O cachorro, au au. E a cobra… “Oi amiga!”

O gato, miau. O cachorro, au au. E a cobra… “Oi amiga!”

Imagem de capa: Ann Haritonenko/shutterstock

Alguns relacionamentos nascem de forma completamente instantânea. São aquelas pessoas que cruzam nosso caminho num ângulo qualquer, mas acertam o nosso coração bem no meio da nossa capacidade de sentir afeto, desarmar barreiras e confiar.

E o problema com essa relação afetiva que estoura feito pipoca, é que o recém-conhecido que era desconhecido até um minuto atrás, não tem uma estrela na testa. Nem estrela, nem asteroide com poderes de causar a destruição de um planeta.

A gente reage, movido pela aura de afinidade aparente; encorajado por coincidências de gosto que parecem surgir num passe de mágica. Aquele estranho, ali na nossa frente, parece ter sido enviado por um anjo de bom humor e, ao que parece, sem nada melhor para fazer no momento.

O mundo está coalhado de gente “iluminada”, pessoas de riso fácil, cheias de carisma e magnetismo. E não é nada difícil acabarmos bancando a mariposa que, hipnotizada pela atração da luz, acaba sem rumo e sem asas.

Amigos fiéis, daqueles que a gente pode contar até debaixo d´água, ou em longos períodos de seca, são coisas raras. Esse monte de companheiros de festa que a gente junta por aí, não pode carregar, nem tampouco merecer, toda essa expectativa.

E, verdade seja dita, nem a gente é capaz de ser melhor amigo de todos aqueles que compõem os nossos círculos de amizade. E tudo bem! A vida não é mesmo feita só de relações profundas. Há lugar de sobra para encontros leves e sem compromisso.

No entanto, cabe sempre observar… Gente falsa é nociva em qualquer esfera; causa estrago, independente do grau de intimidade.

A vida nos dá de presente inúmeras oportunidades de aprender uma valiosa lição: nunca se deve oferecer espaço para esse tipo de pessoa que adula demais, que vive distribuindo elogios rasgados e afagos melados além da conta.

Essa simpatia exagerada não combina com o que é possível numa relação de fato e de verdade. Amigos do peito não são ursinhos de pelúcia treinados para dizer “eu te amo”. Amigos de verdade dizem coisas difíceis, perdem a paciência, respeitam o nosso espaço e esperam que a gente respeite o deles.

Por isso, pense bem… porque os gatos, quando não gostam de alguém, eriçam os pelos e podem até causar alguns arranhões. Os cães, quando não vão com a sua cara, rosnam, mostram os dentes, e podem até morder pra valer. Mas as cobras… essas que andam sobre duas pernas… essas não dão pista, nem demonstram claramente o que pensam ou sentem. E quando menos você espera… já tomou um bote!

ESPECIAL ALZHEIMER

ESPECIAL ALZHEIMER

Imagem de capa: Marta Design/shutterstock

Carros rasgam as ruas com seus corações movidos a álcool, buzinas ressoam alto e pessoas caminham ou correm nas calçadas e faixas de pedestres de acordo com suas emergências ou atrasos. A vida segue apressada e, em meio a tanto caos, penso nas pessoas que vivem em alguns desses apartamentos incrustados em prédios que timidamente se erguem em direção ao vazio dos céus.

Penso, especificamente, naquelas que vivem em seus universos particulares, criados pela falta de um elemento muito caro a todos nós: a memória. Não apenas a lembrança de nomes e rostos, mas também a de como se fazem tarefas que antes eram simples e, muitas vezes, automáticas. A vida às vezes bate doído demais e muitas vezes nem sabemos de onde veio o golpe.

Foi divagando sobre isso que saí do elevador em direção ao consultório do doutor Rodrigo Shcultz, que me aguardava para uma entrevista à CONTI outra. Sabe como é, jornalista não é aquele que sabe de tudo e sim aquele que consegue encontrar quem sabe – já dizia Zuenir Ventura.

Rodrigo Schultz trabalha na Unifesp, onde cuida de um laboratório de demência avançada, é também voluntário como diretor científico da ABRAz (Associação Brasileira de Alzheimer). Ainda na Unifesp, é responsável pelo Instituto da Memória, importante órgão no estudo do envelhecimento cerebral e para o desenvolvimento de novas drogas para o tratamento da Doença de Alzheimer.

Ele divide o espaço bem instalado na Borges Lagoa, em São Paulo, com outros dois colegas de profissão, com quem trabalha há mais de 20 anos. A atendente é sorridente e a sala é impecável. O ar condicionado disfarça o calor escaldante do lado de fora e as persianas abaixadas segredam uma vista que não consigo decifrar.

Boa parte dos primeiros minutos de conversa foi dedicada à explicação do que é a doença que acomete mais de 1,2 milhão de pessoas só no Brasil. Ela se caracteriza pelo declínio progressivo e irreversível de funções cognitivas e corresponde a 50-60% das causas de demência. No entanto, é preciso cuidado para não transformar Alzheimer e demência em sinônimos, já que existem vários outros tipos desta segunda.

“As pessoas realmente fazem essa confusão”, confirma Dr. Rodrigo. “Não só as pessoas de uma forma geral, as pessoas que não são da área, mas até alguns médicos que tratam tudo como se fosse Alzheimer. Na verdade eles não tiveram essa formação, de que existem outras, de que é um diagnóstico diferencial que é amplo.”

É comum imaginar que as alterações presentes em pacientes com Alzheimer fazem parte do envelhecimento normal, mas não é bem assim. Em matéria publicada pelo Valor, o médico Alexandre Kalache, presidente do Centro Internacional de Longevidade no Brasil, afirmou que, caso não haja doenças e com os cuidados certos, o cérebro do idoso pode trabalhar tão bem quanto o de qualquer jovem.

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Alexilusmedical/shutterstock (neurônios em degeneração)

Leia também: Cirurgia de médico brasileiro reverte Alzheimer: memória voltando

Escalas e diagnósticos

O maior fator de risco está relacionado à idade – normalmente acima dos 65 anos, podendo vir a acometer pessoas entre os 55 e 60 em casos mais raros e ainda não se sabe como ela ocorre. Entre outros fatores estudados estão hereditariedade, ambiente, atividade mental e traumatismos na cabeça.

Existem formas de classificações diversas e em dado momento surgem questões sobre a variedade de escalas usadas para medir o grau ou estágio da doença. Dr. Rodrigo então me mostra algumas delas, como a CDR (Clinical Dementia Rating) e a FAST (Functional Assessment Staging). Estão impressas e encadernadas em blocos de papel que ficam ao alcance das mãos dele, mas que funcionam como guias abstratos na identificação do estágio de cada paciente.

“Você pode dividir em 3, em 15, em 100 se você quiser. A maneira de dividir em um número maior de fases te ajuda a compreender com mais facilidade como a pessoa está”, explica. Diferentemente, em caso de pesquisas clínicas, exige-se sempre o uso da mesma escala, pois elas exigem esse tipo de metodologia. “O importante não é como chegar lá, mas chegar lá”, disse, “usando escalas confiáveis e adequadas, claro”.

“Não existe um teste para diagnosticar a doença de Alzheimer. O diagnóstico é hoje feito por um processo de eliminação excluindo outras doenças e condições que podem causar falta de memória. Com isto se obtém uma precisão que supera os 90%”, informa Ana Hartmann, psicóloga especialista no assunto e autora do livro Desembarcando o Alzheimer: Um Guia Prático Para Familiares e Cuidadores (L&PM, 2012). “O único exame que garante 100% de certeza é o exame microscópico do tecido cerebral, que só pode ser feito após a morte do paciente”, completa.

Recentemente, a notícia de que um teste para diagnosticar a doença está sendo desenvolvida com sucesso por pesquisadores da UFSCar (Universidade Federal de São Carlos) tem causado alvoroço entre leigos e pesquisadores.

A pesquisa foi financiada pela FAPESP (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo), pelo CNPQ (Conselho Nacional de Desenvolvimento Cientifico e Tecnológico), e pela CAPES (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior), por meio de bolsas de pesquisas concedidas a estudantes de pós-graduação e graduação.

A promessa de um diagnóstico rápido e preciso gera discussões éticas sobre como tal teste será usado. A principal crítica gira em torno do propósito final dela. Apenas informar que uma pessoa está doente, sem fornecer o acompanhamento ou os conhecimentos necessários para lidar com uma doença que não tem cura, é o suficiente?

Procurada pela reportagem, Tatiane Liberato, da Agência de Inovação da UFSCar informou que “o teste em estudo, caso venha a ser aprovado, poderá vir a ser comercializado como teste para o diagnóstico de Alzheimer. Neste sentido, os estudos indicam que o teste poderá ser utilizado tanto para o diagnóstico precoce quanto no acompanhamento da progressão da doença”.

A previsão é de que os estudos necessários para que o teste seja aprovado levem de 05 a 10 anos.

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Sintomas e Tratamento

Mudanças de comportamento como irritabilidade, comportamento depressivo, ansioso ou esquecer o que antes não esquecia; até mesmo uma interferência no dia a dia, como esquecer de tomar os remédios que sempre tomou ou se atrapalhar na volta para casa, por exemplo. Estes são apenas alguns dos sinais que podem indicar o início de um quadro de Alzheimer.

“Existe o tratamento farmacológico e o não farmacológico e são igualmente importantes. O não farmacológico envolve fisioterapia, fonoaudiologia, musicoterapia, psicologia, neuropsicologia, enfermagem, assistência social, nutrição. Tudo isso ajuda na hora de superar algumas dificuldades”, esclarece Rodrigo. As drogas disponíveis não são inibidoras da evolução da doença, elas são sintomáticas e as reações podem variar. “Algumas pessoas têm melhor resposta que outras, algumas continuam piorando da mesma maneira e algumas ficam estáveis por um período.”

Não é raro surgirem de tempos em tempos notícias de alguma cura milagrosa ou de cirurgias que prometem fazer mais do que se pode no momento. “Meu conselho é que as pessoas ao escutarem notícias desta natureza se aconselhem com o seu médico assistente ou outro profissional da área” adverte Ana, que já tem presença confirmada em congresso que ocorrerá em Londres, no qual são apresentadas as últimas pesquisas e descobertas ao redor do planeta.

Em relação ao futuro das pesquisas, Rodrigo, médico competente e ateu não militante, é direto: “Nada a curto, mínimo a médio e, a longo prazo, talvez”, mas reitera a importância das pesquisas que vêm sendo desenvolvidas e do esforço dos profissionais envolvidos.

A rotina

Ser esquecido de maneira gradual e involuntária por quem se ama. Acompanhar de perto o declínio físico e mental de quem um dia se dedicou a cuidar de nós. Esse é o destino de grande parte dos familiares de pacientes com Alzheimer. Pessoas que assumem responsabilidades muito pesadas, fazendo de cada uma delas um Atlas, sustentando o peso de seu próprio mundo nas costas.

Algumas delas fazem terapias e tomam medicamentos para aliviar o estresse, enquanto outras buscam ajuda e apoio em lugares não tão convencionais como as redes sociais. Na internet é possível encontrar diversos grupos e comunidades virtuais que agregam responsáveis por cuidar de pacientes com Alzheimer, sejam eles parentes ou profissionais.

Durante duas semanas a reportagem acompanhou alguns desses grupos. A sensação é bastante ambígua. De um lado, muita força e superação; do outro, desolação que beira o desespero. Os relatos são fortes e refletem a dura realidade do que é lidar cara a cara com a doença diariamente.

Nestes espaços, os familiares cuidadores encontram apoio e trocam experiências e dicas entre si. Lá desabafam e contam os pormenores de uma vida difícil e cheia de percalços.

Para permanecer nesses grupos é preciso ter “estômago forte”. Durante o tempo de observação, mais de uma pessoa abandonou alguns deles, alegando que estavam sofrendo demais com os relatos ali colocados e que achavam melhor se afastar temporária ou permanentemente.

Ao procurar saber um pouco mais do drama pessoal de algumas dessas pessoas, tornou-se bastante evidente que eles, os cuidadores, também precisam de cuidados. Em muitos casos, a rotina é estritamente fechada e quase não sobra tempo para qualquer outra atividade que não esteja relacionada aos cuidados com o paciente. Além disso, os custos são altos.

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Uma doença dispendiosa

Pelas contas do Dr Rodrigo Schultz, “vai uns 300/400 reais de início na fase leve, podendo chegar a 500 reais se for um antidepressivo junto ou algum remédio pra agitação, fora os cuidados”. O custo nas fases avançadas pode ser três vezes maior – lembrando que essa conta inclui apenas o tratamento farmacológico.

Uma das participantes dos grupos, que preferiu não se identificar, afirmou à reportagem gastar até R$ 1.500 por mês só com os cuidados necessários de sua mãe, de 78 anos, de quem cuida há 5 anos e meio. Sua rotina inclui dar os remédios, servir as refeições (exclusivamente pastosas), dar banho e trocar de roupa – tarefa que ela considera a mais difícil. “Às vezes só consigo trocar a roupa dela quando ela está dormindo”, conta.

Cooperação familiar

No Alzheimer, em relação às outras doenças do envelhecimento, o desgaste emocional do cuidador é muito maior que o desgaste físico. Não é que não exija esforço, mas a cabeça e as emoções tendem a ser mais abaladas que o próprio corpo.

A cooperação entre familiares é elemento importante no cuidado, uma vez que muitos casos, dependendo da fase da doença, exigem atenção 24 horas. E é justamente nesse ponto que a coisa parece desandar para muita gente. São diversos os casos de quem não pode contar com a ajuda de parentes próximos (quase sempre irmãos), isso faz com que essas pessoas assumam sozinhas todas as tarefas.

Alesandra Souza, 34 anos, teve sorte nesse quesito. Ela cuida da mãe há sete anos, com a ajuda das irmãs. “Revezamos os dias, na segunda, terça sou eu e uma das irmãs, um dia dou o banho e troco ela enquanto a outra vai lavando os lençóis da cama e faz alga para ela comer com os remédios de cada manhã. Nos banhos da noite é só uma, porque na manhã fazemos em duas para não atrasar a hora do trabalho. Então à noite fiquei com a quarta e a sexta, para dar banho, janta, remédios e deitar ela. Temos os dias de dormir com ela no seu quarto, os meus são: segunda, terça e sexta”, detalha.

Para casos onde existem desavenças ou desentendimentos sobre a divisão das tarefas de cada, o doutor Rodrigo Schultz aconselha apenas uma coisa: conversa. “A maioria das pessoas não conversa. Elas perguntam e perguntar não é conversar”, dispara.

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O cuidado humanizado

Muito se fala em humanização no cuidado aos idosos acometidos por doenças do envelhecimento. A doutora Ana Hartmann conta que este tema o carro-chefe do seu trabalho e que lida com ele doze horas por dia. Segundo ela, o melhor jeito de se atender alguém é através de algo chamado manejo, que nada mais é do que “a forma correta de atender alguém com um quadro demencial”.

Questionada sobre o que falta para termos um cuidado mais humanizado para estes pacientes, respondeu: “Eu lhe pergunto se um médico que tem formação em clínica geral, mas que seja super humano, terá sucesso em fazer uma cirurgia cardíaca? Obviamente que não! Porque uma cirurgia cardíaca exige conhecimento específico. O mesmo temos em relação ao cuidado de pessoas com Alzheimer.”

E continuou: “Erroneamente, e por falta de outros recursos, as famílias contratam cuidadores de idosos ou técnicos em enfermagem para cuidar de seus entes queridos com Alzheimer. Primeiro erro gritante: estes cuidadores irão tratar um paciente doente como um idoso”, argumenta, na tentativa de demonstrar que envelhecimento não é doença. “Eu tenho trabalhado a mais de 16 anos treinando pessoas para este fim. E veja bem, este treinamento não é apenas para cuidadores. Este treinamento é para o dentista que atende estes pacientes, para o médico do atendimento de emergência, para o atendente do balcão do aeroporto, do advogado, do funcionário do banco… Assim como todos nós que, hora ou outra, nos depararemos com esta doença que exige conhecimento, muito conhecimento.”

Na opinião do doutor Rodrigo, é necessário dar a atenção devida ao cuidador, pois quanto melhor informado e orientado ele estiver, melhor será a evolução do paciente.

Com o fim do nosso tempo de entrevista, me despeço e volto para a rua abafada pelo mormaço da tarde paulistana, saudando intimamente a coragem e dedicação dos profissionais e familiares que vivenciam de perto a difícil batalha pelo direito à memória.

A CONTI outra sempre fala sobre o Alzheimer. Saiba mais.

 

O seu azedume só azeda você!

O seu azedume só azeda você!

Imagem de capa: pathdoc/shutterstock

Tudo bem, nada na sua vida anda muito fácil, seus sonhos estão meio nebulosos, pessoas boas ao seu redor são escassas, a grana é meio curta, os desejos são imensos, o País vai mal, as perspectivas para o futuro não são das melhores…

Você não acha nada anormal estar “azedo” diante deste panorama. Afinal, não há muito com o que se animar. Nada empolgante, nenhuma novidade, poucas esperanças…

Então você pensa: “deixe-me, ora, cada um se sente como quer”. Acredita que irritação, ansiedade e desânimo fazem parte, simplesmente. E vai seguindo vida afora, dia após dia, exarando negatividade. Até pensa que uma hora vai passar, mas fica esperando que passe sozinho. Ou com a melhora da economia mundial. Com o aumento do seu salário. Com a aproximação de pessoas legais.

E não percebe que essa nuvem negra que lhe acompanha atinge, direta e principalmente, você mesmo. Você pode até tentar “descontar” nos outros, mas sairá mais prejudicado do que eles. Não se dá conta de que o universo ressoa a energia que você emana e que, se continuar vibrando azedume, só atrairá situações que irão lhe causar mais aborrecimentos, nervosismo e descontentamento. Um legítimo círculo vicioso.

Então, a primeira coisa a fazer é assumir a responsabilidade pela sua vida, pelo seu presente e pelas suas emoções. Apesar dos eventos ruins que possam ter acontecido na sua vida, a maneira como você reage a tudo é que importa. Não interessa o que os outros lhe fizeram, pois as pessoas só o atingem até onde você permite. O que foi, foi, você precisa se preocupar com a sua vibração nesse momento, pois viver bem o presente lhe garantirá, de quebra, um futuro igualmente promissor.

Reconhecer e perdoar fatos e pessoas que lhe atingiram de alguma forma é, realmente, libertador. Se perdoar pelos próprios erros cometidos no passado, igualmente. Sair da frequência do que já foi e não há como se mudar, é a melhor coisa que se tem a fazer.

E quando você pensar, ainda que por um instante, que não tem nada com o que se empolgar, pare e feche os olhos. Apenas sinta. Sinta o seu coração batendo. Sinta a grandiosidade desse universo. Sinta como você faz parte, como está ligado a tudo isso. Atente às maravilhas todas que te cercam. Ao milagre da vida pulsando dentro de você. Respire. Agradeça.

Você está tendo a oportunidade de fazer parte de algo muito especial. Dentro de você há infinitas possibilidades. Basta silenciar a mente e ouvir a sua alma. Conectar-se com o sagrado que de tudo e de todos faz parte. Aumentar sua frequência. Sentir um amor puro e grandioso surgindo dentro do seu ser.

Isso faz parte de ti. É natural. Pague pra ver!

De tudo que é mais sagrado

De tudo que é mais sagrado

Imagem de capa: Khosro/shutterstock

Sou feita de estranheza e feminices. De candura e aspereza. De alecrim e quebra-pedra. Relicário que tem por tampa os mistérios de minhas mulheres.

Soube de muito que um chá curava tudo, de dor de moça em dia de chico a aperto no coração em caída de tarde, mas que era leite queimado que acalmava a tosse em noite de lua.

Aprendi sobre a lua… e nas viradas ainda uivo… como toda loba de boa matilha, me ensinaram a cuidar da cria, mas amamentar filhote alheio. E ir abarcando rebento de leite e irmã de peito, sabendo que amiga na guerra é aliada… e luta é o que nunca há de faltar.

Aprendi cedo a chorar baixo e a cantar alto. Mesmo lamento de enganar solidão ou espantar mau-olhado, porque quebranto se afasta com reza mas só finda na oferenda. É que a santa tem força e capricho, e as benzeduras, incensos e promessas, mal nunca hão de fazer.

Fui crescendo ouvindo conselho para não ouvir coitada, com amargo de boldo e água de cheiro, patuá feito com pano branco e muito sal grosso… que servia pra olho gordo, mas também pra fechar ferida.

Muito de quando em vez, ajudava na lida. Varria pó com vassoura fina… e de leva, qualquer pensamento ruim. Deixava pronta a sala pra visita, que entrava sem cerimônia… porque a casa se tinha porta, a porta não tinha tranca… amigo era bem vindo e não carecia de aviso… desafeto, acaso existisse, a espada de São Jorge recebia ou tratava de aviar… e todo dia tinha alguém de fora pra almoçar!

Quem chegava, encontrava fumaça no fogão, e em dia de segunda, angu mole com carne moída e couve picada fininha. café com pão sem miolo, que eu nunca aprendi a gostar…

Como nem tudo era delicadeza, percebi que mulher se metia em assunto de homem. Batia prego, asa, ponto e muita perna na rua. E sabia como ninguém juntar os poucos dinheiros e fazer com que a caixinha desse pra semana… por sina e por desvelo, carregava o peso do trabalho durante o dia, o do marido no claro da madrugada e das culpas por todas as horas.

Prazer, se havia, era coisa que não se mostrava. Pra que esbanjar com a alegria, se o bonito era sofrer… no máximo o luxo de um banho bem quente e de banheira, onde no segredo das vergonhas, se olhava sem se tocar.

No mais o tudo era o fiar e a lembrança das coisas, umas de ver de perto e outras de ouvir falar. Muito! Pois causo é coisa que se repete! E a gente ia sabendo o final e apurando o detalhe… percebendo a escorregadela em algum ponto… do enredo ou da costura. Rendados de tear… trama de tricô e barrados de crochê feitos com agulha miúda… e eu gostava mesmo é da bordadura em ponto de cruz e com linha de tecer sonho. E que ninguém me cobrasse o avesso.

No correr da brevidade, seguia a certeza de que a vida ia dando certo na medida da pouca cobiça, e que o filho ia ser estudado! Os medos rodavam na altura das saias e as aflições se desmanchavam em recatos, pudores, ousadias e coragens. E todo o amor se fartava, na benção de minhas mulheres encantadas. De Nossa Senhora do Perpétuo Socorro!… que é sempre quem salva. E do sagrado feminino.

Sobre sentimentos camuflados e trincheiras íntimas

Sobre sentimentos camuflados e trincheiras íntimas

Imagem de capa: Nikolay Bassov/shutterstock

Não quer dizer sim. Talvez quer dizer não sei. Sim quer dizer sim, estou livre para escolher. São muitos códigos, alguns sem lógica alguma, criados para não serem jamais decifrados.

Vivemos uma longa lista de sentimentos camuflados, entrincheirados, na tocaia, aguardando um momento de trégua para enfim, partir para a exposição.

Somos preconceituosos com nossos sentimentos. Somos antiquados. Somos reféns da opinião alheia, da aprovação dos chegados, da benção da família, do vizinho, da time line.

Curiosidades e emoções brotam fora da lógica de qualquer um, ganham vida nos devaneios e sonhos de realização. Mas, como não se enquadram nos padrões, acabam por se refugiar na trincheira dos segredos, alertas para não serem descobertas ou traídas por uma palavra, gesto ou olhar.

Lidar com esse time de intrusos que ameaça a normalidade das coisas é tarefa que exige coragem. Mandar embora sem tentar entender razões, pode ser uma porta escancarada para a entrada de frustrações pesadas. Negar, rejeitar, despachar, varrer… Cada um certamente sabe o que fazer com o que aparentemente não lhe cabe.

Preocupante é condenar ao descarte por razões externas. Por que não saber o que está de fato rolando com esse sentimento que a gente nem desconfiava que pudesse existir? Pode ser o surgimento de outro olhar para a vida, pode ser um tiro na água, pode ser qualquer coisa, mas certamente será mais um aprendizado na jornada do autoconhecimento.

Se conhecer é experimentar liberdade, é saber de si e ter consciência de que ainda há muito para conhecer. É usar espelho próprio e não o do outro, saber dos padrões, mas não usá-los como correntes.

Todo mundo guarda sentimentos camuflados e escondidos, velados, platônicos. Não mexer com eles é escolha. Vivê-los e arriscar o caminho desconhecido, também é escolha.

A escolha é sempre livre, soberana. Cabe a cada um decidir quando é a hora de tirar a camuflagem e declarar o fim da guerra interior.

Você fica maravilhosa quando se ama.

Você fica maravilhosa quando se ama.

Imagem de capa: InaKos/shutterstock

Você fica linda quando não olha para os padrões, quando aceita suas celulites, sua barriguinha e quando não acha que isso é um problema.

Você fica linda quando valoriza as suas curvas e quando se destaca pela sua inteligência admirável. Quando você se olha no espelho e enxerga uma mulher de coragem, uma mulher forte que já suportou tanta coisa.

Uma mulher que não aprendeu apenas a equilibrar o corpo em cima de um salto alto, mas que já aprendeu a equilibrar as emoções diante de situações que tentaram jogá-la no buraco. Você é aquela que aprendeu a suportar a saudade, o medo, as mentiras, as traições e tantos enganos de pessoas que você amava. Você é aquela mulher que a gente olha e vê uma história de superação, a gente olha e vê nos olhos o brilho de quem ainda acredita na vida, nas pessoas e no amor.

Você fica linda quando passa o seu batom vermelho, quando usa seu vestido florido, porém, melhor do que isso, você fica linda quando se ama. Quando não se importa com aquilo que dizem por que você, mais do que ninguém, sabe a mulher guerreira que é.

É bonito ver você mudando por você, melhorando muita coisa por você. Deixando para trás quem não enxerga a sua alma e quem suga as suas energias. É bonito ver o quanto você não tem medo de recomeços e que, embora tudo pareça desmoronar, não perde a fé nunca.

É lindo ver você correndo atrás dos seus sonhos sem deixar de estender a mão para quem precisa do seu colo, do seu abraço. É admirável ver a sua graça de viver e como se preocupa com as pessoas, mesmo precisando de tantos cuidados.

Mulher, você fica linda de todos os jeitos, com todas as cores e combinações, mas, quando você se ama, ah, quando você se ama, você fica maravilhosa.

Eis a vida: é uma porrada atrás da outra

Eis a vida: é uma porrada atrás da outra

Cheguei à conclusão de que, não importa o tanto que a gente ore ou tente andar corretamente, a vida muitas vezes vem para derrubar com força, atropelando, passando por cima, deixando-nos sem chão, sem norte, sem rumo. Quando achamos que está tudo bem, que finalmente teremos paz, lá vem tempestade se formando sobre nossas cabeças, lá vem dor, decepção choro e sofrimento. Isso não é pessimismo de minha parte, é mera constatação.

Eu não vivo sozinho, não sigo de acordo só com o que eu penso e quero, porque existem mais pessoas comigo, acreditando em mim e torcendo junto. Ninguém faz o que quiser, sem ter que prestar atenção no alcance de suas atitudes. Ninguém consegue agir conforme cada batida de seu coração, a não ser que se trate de alguém sem amigos, sem família e sem noção de coletividade. Nada do que fazemos, afinal, recai somente sobre nossas cabeças – somos parte de um corpo coletivo.

Ademais, a gente acaba amando demais algumas pessoas, a gente forma família, círculo de amizades, a gente trabalha junto com os outros. Dessa forma, nossa felicidade não tem autonomia suficiente para se bastar sem se importar com o que ocorre ao seu redor. Não dá para ser feliz, por exemplo, quando há alguém que amamos muito sofrendo bem ali na nossa frente. Nós carregamos as dores que não são somente nossas também, pois somos humanos, compadecemos, olhamos além de nós mesmos.

Como manter o sorriso quando um filho chora ou se mete em enrascada? Como ter ânimo, diante de uma esposa doente, de um irmão acamado, de um amigo endividado, desempregado? Embora não possamos carregar o peso do mundo em nossos ombros, fato é que a nossa essência bondosa acaba, por si só, solidarizando-se com os machucados alheios, chegando junto à dor de quem amamos. Porque a gente divide tudo com as almas amigas, até mesmo o que fere.

Mesmo assim, ainda que eu esmoreça, caia ao chão, chore e pense em desistir, meu instinto de sobrevivência e minha fé acabam por me resgatar. Acredito que nada é por acaso, nada. Tudo é lição, tudo é aprendizado e evolução. E, quando nada mais parece restar, a não ser desistir, a não ser parar, morrer em vida, é momento de se agarrar à fé. Fé em Deus, em algo superior, em alguma força que venha não se sabe de onde, fé no que temos dentro de nós – a gente é mais forte do que imagina. Por isso é que sempre haverá alguém que não desiste de nós. Por isso é que fomos feitos para durar.

Imagem de capa: Chernishev Maksim/shutterstock

Você sabe em que medida a lavagem cerebral afeta a sua vida?

Você sabe em que medida a lavagem cerebral afeta a sua vida?

Imagem de capa: Eduard Gurevich/shutterstock

O que é lavagem cerebral? Você sabe em que medida a lavagem cerebral afeta a sua vida e dita as suas escolhas?

Muitas pessoas pensam que lavagem cerebral é apenas um catecismo ministrado aos incautos e débeis mentais seguidores de um grupo formado por doutrinas fundamentalistas exóticas e amalucadas.

Não é bem assim. A lavagem cerebral é um processo constante e contínuo que é praticado pela sociedade organizada, formando o que se pode chamar de movimentos sociais. Se você está vivo, e pertence de maneira efetiva a um grupo social, está sendo submetido a constantes lavagens cerebrais.

Interessa a todos os setores do humanismo que sejamos lavados cerebralmente. Interessa-lhes que os cidadãos não pensem, não comparem, não analisem, não critiquem, não exerçam resistência, obedeçam, e propaguem ideias difundidas com o objetivo de catequizar a população em massa.

Interessa ao comércio, à política, ao Estado, à religião, aos grupos sociais, a todas as cooperativas e cooperações que se unem sob o mesmo credo, interessa-lhes que todos os seus cooperados se mantenham fortemente motivados, alienados e manipulados sob estatutos e conveniências.

Somos alvo de lavagem cerebral o tempo todo, de maneira velada, constante, contínua. Só que não percebemos.

Chamamos de moda, tendências, publicidade, propaganda, atualização, religião, cultura, toda a informação que recebemos para nos induzir a determinados comportamentos, e pensamos que estamos a salvo de manipulações mentais. Só que não.

Sofremos uma manipulação cerrada sob a influência da mídia: vestimos a moda que um grupo invisível determina que é a “última moda.” Por mais que não se goste da “última moda” num primeiro momento, de tanto sermos expostos à ideia última, acabamos adotando aquilo que, a princípio, detestamos. E quando estamos definitivamente convencidos de que aquela moda é a nossa moda, chega a próxima nos convidando para esquecer o aprendido e efetuar uma nova compra.

O mesmo acontece com o nosso gosto musical. De tanto ouvir uma música feia, a achamos bonita. Dali uns dias nos surpreendemos cantarolando o refrão que grudou em nossa cabeça.

Avistamos a primeira imagem do novo modelo de um carro e pensamos: “ esse eu jamais compraria”. Quem nunca? Depois de um tempo nos surpreendemos saindo da concessionária justamente com aquele carro que nos parecia impossível de tão feio.

De tanto nos expormos ao conceito ele se agarra a nós. De tanto ouvirmos a sugestão, ela se torna nossa. De tanto baterem na mesma tecla invadem o nosso piano e trocam todos os nossos sustenidos e bemóis.

Vivemos dentro da caixa dos outros, do grande caixão universal coletivo, e fora da nossa caixinha. De tanto todo mundo repetir a mesma coisa, acabamos por replicar o mesmo comportamento.

Renunciamos ao nosso senso crítico e adotamos o senso comum. Que é burro, mas é avassalador, por conta do processo de lavagem cerebral a que somos submetidos continuamente.

Somos lavados e varridos por propagandas de produtos cujo conteúdo e utilidade são duvidosas, mas fazem o nosso cérebro sucumbir ao desejo, a tal ponto que até mesmo a nossa química cerebral se altera a cada vez que obedecemos à sugestão massiva.

Somos dopados pelas endorfinas que se apresentam e inundam a nossa corrente sanguínea no momento da compra.

Consumir libera altas doses de endorfinas. Consumir afoga mágoas. Consumir “amplia” a visão de mundo. Tiramos a visão dos problemas e nos fixamos naquilo que está nos seduzindo. Passamos por cima de tristezas infindáveis, a cada vez que enfiamos a mão no bolso, e sacamos a carteira para comprar aquilo que não precisamos, mas naquele momento, parece ser a única coisa no mundo sem a qual não poderemos mais viver.

Por que fazemos isso? Por que nos rendemos a algo cujo prazer dura apenas o instante da posse? Por conta da lavagem cerebral que nos assedia todos os dias, todos os anos, em todos os setores da sociedade organizada, enquanto vivemos.

Engana-se quem pensa que esse assédio é apenas de origem comercial.
Que nada – e antes fosse!

Somos abduzidos por conceitos sociais, por conceitos filosóficos, por conceitos sanitários, por conceitos políticos, por conceitos religiosos, e por outras associações menos óbvias que no fundo querem não apenas o nosso dinheiro, mas também a captura da nossa mente.

Quando digo “conceitos religiosos” não estou me referindo a religiões exóticas ou perturbadoras.

Lamentavelmente, o bom, grande, seguro, antigo, e eterno Cristianismo é hoje o veículo das maiores investidas desferidas contra nós. Os “gurus do cristianismo” trabalham com um instrumento de grande poder: a salvação das nossas almas.

Quem não sabe que precisa de Jesus para se salvar? Todos sabemos. Não há nenhum outro nome, e nenhum outro homem na face da terra, que tenha vencido a morte e voltado para assumir que pode salvar todo aquele que nele crê. Ninguém teve coragem de reivindicar isso. Só Jesus.

Sabendo disso os “gurus do cristianismo” lançam os seus tentáculos infalíveis contra a plebe ignara, faturando como depositários da fé, e explorando todas as leis do Antigo Testamento, -feitas para os judeus e não para os cristãos, – como se fôssemos judeus e não cristãos.

Essa profissão vantajosa rende status, posição e dinheiro. Muito dinheiro. Basta olhar para a vida dos assim chamados pastores midiáticos, incensados por programas de televisão e por seguidores que mal leem a Bíblia.

Coincidentemente, quanto mais sucumbe ao mercado de lavagem cerebral, mais o homem se percebe vazio, pequeno, carente de graça, e mais se torna presa fácil da sociedade e de seus conceitos estatutários. Estabelece-se um circulo vicioso.

Nesse rastro entram os partidos políticos, as organizações societárias, as estruturas que nasceram para atender as brechas das necessidades fundamentais do ser humano com educação, saúde, segurança, cultura, entretenimento, e sobretudo, pertencimento. O homem é um ser que adora pertencer. Depois dele vem o cachorro.

Tudo o que a gente imagina, e tudo o que nos rodeia, se vale da prática da lavagem cerebral sobre a humanidade e sobre nós.

Aqui no Brasil temos visto o fenômeno da religiosidade partidária promovida pelas ideologias de esquerda. É de praxe fazer um catecismo, mas a esquerda se especializou de forma que se encontra anos-luz na frente das outras ideologias.

Não importa quanta corrupção e quanta bandidagem haja no seio desses partidos, sempre haverá multidões dispostas a lutar, defender, arrumar discussões infindáveis e brigar por tratados enganosos de justiça social. Quando percebem a mais leve sombra de discordância ou de censura ao partidão, pulam como bonecos de mola.

O que impede pessoas de bom nível cultural enxergarem a corrupção e a roubalheira que se escondem nesse ninho? A lavagem cerebral. Funciona? E como funciona! A lavagem cerebral coloca as inteligências no bolso da insensatez e da mediocridade comum a todos os níveis de escolaridade.

Ela não apenas ajunta, como também separa. Faz parecer que a humanidade deve ser contida dentro dos bolsões de seus credos fundamentais. Rotulada por seus estatutos. Por isso, proliferam os estatutos. Quanto mais leis, mais muros delimitando a humanidade catequizada. Ouso dizer que estamos há tanto tempo nessa toada robótica que não saberíamos mais viver sem lavagem cerebral.

Ficaria um vazio.
Uma ausência de centro.
Um oceano sem limites de força gravitacional.
Uma massa sem forma.

Sem os donos da verdade teríamos que construir a nossa própria verdade priorizando a individualidade, promovendo a unicidade essencial do ser consigo mesmo, rompendo os laços do pertencimento a qualquer preço que faz partidários de um mesmo clube de futebol, de um mesmo credo político, de uma mesma denominação religiosa, de uma mesma escola de samba, de um mesmo gênero musical, de uma mesma seara, de um mesmo rebanho, sem o exercício da contestação e da dúvida.

Isso dá um trabalho!
Poucos querem!
A maioria esperneia até diante de um artigo como esse.
Que venham as críticas!

Os poucos que despertarem com as fagulhas que este texto produzir, ficarão silenciosos, e me farão pensar que este artigo valeu a pena.

Da coragem de partir

Da coragem de partir

Imagem de capa: Bogdan Sonjachnyj/shutterstock

“Portanto, nem todo contato é saudável, nem toda fuga é doentia. Uma das características do neurótico é não poder fazer bom contato, nem organizar sua fuga.” Fritz Perls

Existe uma linha tênue entre a escolha de permanecer e a coragem de partir, muitas vezes é difícil mapear racionalmente os motivos que nos fazem ficar em uma relação que se mostra disfuncional ou tóxica. Dentro da abordagem da Gestalt-terapia, sempre que permanecemos em uma situação, mesmo reconhecendo que ela não é saudável, é porque existe alguma necessidade sendo suprida em tal dinâmica. O que acontece em um estado de neurose, ou quando estamos dessensibilizados, é que muitas vezes não conseguimos reconhecer essa necessidade para supri-la da melhor forma. Entendemos, de alguma maneira, que temos que ir, mas não conseguimos entrar em contato com o que nos faz ficar, e assim ficamos paralisados, imóveis, sem a capacidade de tomarmos escolhas mais saudáveis para nós mesmos.

Na tentativa de justificar a covardia que nos paralisa e corrói, contamo-nos histórias e meias verdades que, geralmente, começam com uma promessa ilusória de que o amor tudo deve suportar, de que amor verdadeiro é incondicional. Assim, aceitamos as migalhas que nos são jogadas e o pouco, muito pouco, que se torna cada vez mais escasso. Enquanto vivemos do pouco que nos é dado, aniquilamos toda riqueza e toda grandeza que existe em sermos capazes de escolher, para nós, caminhos mais harmoniosos e saudáveis, de troca e crescimento, de assumirmos as verdades de nossas fraquezas e necessidades não ou mal supridas, de sermos responsáveis por buscar supri-las de maneiras mais autênticas e menos caóticas.

Como muitos relacionamentos estão fundados nos frangalhos que damos e recebemos, temos uma falsa impressão de que a escassez é normal. Para nós, mulheres, um agravante: somos criadas para tudo suportar, para sermos tolerantes, para nos adequar. A sociedade patriarcal faz questão de nos lembrar, durante todas as fases de nosso crescimento, da importância da adequação, de anulação, de ficarmos caladas – ou homem nenhum vai nos amar ou tolerar.

O que ninguém menciona é que nós também não gostamos de diversas coisas nos homens, mas, ao contrário deles, somos o tempo todo convidadas a tolerá-las. E o custo é alto: adequamo-nos, podamo-nos e nos diminuímos para caber dentro de uma dinâmica de relacionamento que não contempla nem metade de nossa grandeza. Na solidão das dores que brotam de um viver tentando se adequar – mas sempre se sentindo inadequada –, nossa alma clama por aceitação e liberdade.

Fritz Perls, um dos pensadores da Gestalt-terapia, falou sobre essa adequação e como a necessidade dela acaba com o ser humano autêntico, que é funcional para seu meio. Segundo ele: “Quanto mais a sociedade exige que o indivíduo corresponda aos seus conceitos e ideias, menos eficientemente ele consegue funcionar”. Ou seja, a exigência de adequação aniquila a possibilidade de vivermos uma vida mais autêntica e gera neurose. Não é à toa que estamos vivendo tempos com o maior número de transtornos mentais e neuroses da história da humanidade.

Então, mais do que se adequar, é preciso ter coragem para partir. Partir quando o pouco é quase nada, quando o outro não consegue enxergar a beleza que existe em nossa inadequação. Quanta essência existe em nossa indignação; quanta autenticidade vive em nossa frustração; quanta liberdade habita em um grito de basta!

É preciso coragem para partir antes que nos partam, para seguir quando o outro traz à tona apenas o pior de nós, quando a alma está cansada de adequar-se, de tudo suportar. Não, o amor verdadeiro não é incondicional, nem tudo tolera. Ele é exigente, provoca-nos, instiga e questiona, para que a gente se sinta vulnerável, desconfortável e inadequado. E para que a gente sinta quanta vida brota da nossa inadequação. Amor também é feito de limites. E, quando uma relação nos exige medir as palavras, autocontrole e adequação é quando entendemos: é preciso ter coragem e saúde emocional para organizar nossa fuga e partir.

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