Carta a quem já se foi

Imagem de capa: LawSayWhich/shutterstock

Para você, cujos olhos eu enxergo a cada vez que me olho no espelho; para você, que vibrou com meus primeiros passos e hoje não mais anestesia minhas quedas; para você, pai, tento, sem muito sucesso, encontrar palavras que dimensionem e aliviem a saudade que não é pouca.

A saudade do teu riso de criança ecoando pelos cômodos da nossa casa amarela.

A saudade do barulho da TV ligada pelas madrugadas, que velava meu sono ao sinalizar tua presença.

A saudade dos dedos com cheiro de bergamota; do peito que se fazia travesseiro para meus sonhos de criança; da pele cujo cansaço já desenhava marcas.

Ainda é, por vezes, dolorido conquistar o mundo e não receber teu sorriso orgulhoso como recompensa.

É dolorido conhecer e amar novas pessoas para quem só conseguirei mostrar a beleza da tua existência através de fotografias e histórias.

É dolorido existir num mundo que nos arranca precocemente justamente aqueles que nos curam de existir.

Mas toda a dor que mora na saudade é, também, testemunha da minha infinita capacidade de sentir amor. E isso é bonito.







Patrícia Pinheiro tem 25 anos, é natural de Santa Maria - RS, morando em Florianópolis -SC. É formada em Psicologia e amante das palavras. Poeta e escritora, compartilha seu trabalho em suas redes sociais e é colunista do site Conti outra.