Respeito não deveria ser artigo de luxo. Mas deveria ser um aplicativo emocional vindo de fábrica.

Respeito não deveria ser artigo de luxo. Mas deveria ser um aplicativo emocional vindo de fábrica.

São nobres os indivíduos que reconhecem o espaço do outro. Que entendem o respeito como algo bonito e importante nos dias de hoje. Mas, infelizmente, ainda há quem encare o ato de respeitar uma aberração, no qual ele só funciona se for praticado em benefício próprio. Porque quando se trata de entregar a mesma reciprocidade, somos seletivos.

A verdade é que estamos vivendo sob regras estranhas ao falarmos do respeito. Num dia queremos que ele nos abrace em relação aos assuntos que nos interessa e nos emociona. Noutro, agimos conforme uma vontade egoísta, julgando e apontando atitudes que nós ignoramos quando nos convém. Estamos confundindo dizer o que queremos com respeito. Estamos passando por cima de uma educação sentimental em prol de verdades momentâneas. É cada vez mais comum, alguém chegar e expor o que pensa, sem mesmo construir uma preocupação para com o outro e de como aquele comentário ou atitude irá afetá-lo. Em tempos de redes sociais, isso é cada mais vez evidente e alarmante.

Não é que não tenhamos liberdades e aberturas o suficiente para esclarecermos pontos de vista. O problema é essa quantidade assustadora de “falo o que penso e dane-se” quem não gostar. Ou a desculpa clássica do mundo virtual, “quem mandou publicar”? É claro que existem casos e casos. Generalizar usuários e conteúdos seria, inclusive, uma forma camuflada de controle. Mas não é isso. Apenas seríamos muito mais unidos e proveitosos se usássemos do mesmo respeitar que suplicamos diariamente nas ruas, caso também o trouxéssemos para curtidas, comentários e compartilhamentos.

Pouca gente lê o que consome na internet. Pouca gente reflete sobre o que gosta e não gosta na internet. A facilidade das informações vem criando o “atire primeiro e atire mais depois”. É cansativo, tóxico e, por que não, entristecedor? Claro que seria utópico demais esperar mudanças de comportamento em larga escala. Mas será que não poderíamos, com um pouco mais de disposição, tentarmos algo diferente?

Respeito não deveria ser artigo de luxo. Mas deveria ser um aplicativo emocional vindo de fábrica. Em qualquer lugar, em qualquer dia, respeitar é uma necessidade urgente. É questão de amor público, sabe? Porque já faz um tempo que venho querendo dizer, respeito não é uma moeda de um lado só.

Imagem de capa: Tudo Pode Dar Certo (2009) – Dir. Woody Allen

Não queira saber quem eu sou. Hoje eu sou novidade!

Não queira saber quem eu sou. Hoje eu sou novidade!

Imagem de capa: Masson/shutterstock

Coisa chata é passar a vida atendendo às necessidades de se contextualizar. Para impressionar, muitas vezes a verdade passa longe e a gente apela para uma multidão de personagens e sonhos ocultos do que gostaria de ser.

Essa compulsão em se apresentar por completo, em se virar do avesso para que o outro conheça, avalie e julgue, em detalhes enfadonhos e desnecessários…

Eu, particularmente cansei de andar com a plaquinha de identificação. Agora me interessa ser novidade! Novidade para quem chega, para quem já achava que conhecia, novidade para mim!

A vida exige uma dinâmica onde não cabem mais formatos duros e embalagens que não sejam flexíveis. Eu até acho que sei quem sou, mas depende do contexto, sempre.
E não dá para apresentar o pacote completo o tempo todo, entubar no outro toda uma construção de experiências, certezas, senões e pensamentos.

Quando a gente conhece alguém, geralmente sente algo próximo de prazer, indiferença ou antipatia, respeitadas as variações de intensidade de cada encontro. É a sensação que abre as portas para uma relação, ou não. Adiante virão as descobertas, não é preciso apressar. Até o que gente tenta seconder, aparece. Não há nenhuma necessidade de fazer uma longa e detalhada exposição, de se contextualizar no mundo e no tempo, de encher o potinho de paciência do outro.

É bom ser novidade, carregar pouca coisa, caprichar no sorriso e na boa conversa como cartão de visita. É bom deixar a bagagem guardada, para ser usada no momento necessário e não viver arrastando e colocando no colo dos outros a todo instante.

As pessoas esperam de nós o que esperamos delas. A leveza de um encontro está diretamente ligada ao que se troca nele. Se entregamos uma carga de informações gigante, cansamos e entediamos quem nos ouve.

De vez em quando é bom experimentar a sensação de novidade!
Hoje eu acordei em branco e pronta para voar como uma folha de papel ao vento!

Sobre a (misteriosa e fascinante) arte de seguir em frente

Sobre a (misteriosa e fascinante) arte de seguir em frente

Imagem de capa: Vitalii Nesterchuk/shutterstock

Que atire a primeira pedra quem nunca desanimou. A vida é feita de altos e baixos. É necessário perceber que é assim com todo mundo. Comigo, com você e até com o vizinho que aparenta ter a vida perfeita. Apesar disso, acho urgente apreciar cada momento, pois todo instante traz importantes lições.

Eu vivia um período complicado. Tinha terminado um relacionamento longo e estava prestes a voltar para Campinas, minha terra natal. Tentava (desesperadamente) acreditar que, quando uma porta se fecha, outro ciclo surge, instantaneamente e feliz. Na prática, não é bem assim. Qualquer término é, no mínimo, doloroso e precisamos passar pelo período de luto.

Entre uma lembrança e outra, me peguei observando os milhares de frequentadores que existiam no metrô. Cercada por estações, trilhos e trens, percebi os muitos encontros, de beleza e de vida, próximos a mim.

Não lembro ao certo qual estação estava. Lembro apenas que era a linha azul e que, no meu vagão, um casal discutia sobre a curtida que ele deu nas fotos do Facebook de uma amiga. Não sei se a pivô da discórdia tinha postado fotos de biquíni. Só sei que gerou ciúmes. Confesso que ri mentalmente do conflito. No fundo achei que o moço estava feliz com a demonstração de afeto dela. (Ciúmes, em alguns poucos casos, pode sim, servir como uma simples prova de amor).

Mas naquele vagão, ninguém me chamou tanta atenção quanto aquele homem de gravata frouxa, solitário, quatro assentos a frente do meu. Tinha os olhos baixos, verdes e avermelhados, que levantavam as vezes para olhar a janela. Talvez tivesse chorado um pouco, aquele choro silencioso de homens fortes que aceitam a derrota como uma intrusa inoportuna. Era bonito.

Apostei (comigo mesma) que estava triste. Me instigou (sincera) curiosidade e fiquei divagando sobre sua personalidade. Imaginei que poderia ter a alteridade que se vê em três ou quatro pessoas durante toda a vida. Enquanto isso, seguimos para a Sé.

Sentei mais perto (discretamente) apenas para observá-lo. Passou a mão entre os cabelos pretos, lisos e divididos ao meio. A barba estava por fazer. Vi seus ombros (largos) abaixarem como se fossem abraçar o chão. Permaneceu assim até abrir a porta da próxima estação. Supus que desceria no Paraíso. Não desceu. Parecia um anjo caído.

O telefone dele tocou. Pegou (lentamente) o celular. Estranhei ter sinal dentro do vagão. Ouvi sua voz firme e decidida dizer: ‘Terminamos. Já está decidido. Vamos seguir em frente’. Desligou ou perdeu o sinal. Deitou a cabeça entre as mãos e voltou a olhar o chão. Suspirou. Deduzi que deveria ter posto fim em algum relacionamento. Estávamos quites.

Naquele instante, fruto de alguma guinadas do destino, me olhou. Devo ter ficado (irritantemente) vermelha, pois recordo de ter sentido minhas bochechas queimarem. Sempre fui tímida.

Levantei os olhos e nossos olhares se cruzaram. Uma sensação boa de consolo me tocou a alma. Estava viva e, apesar de toda a mudança de rota que estava passando, isso já era motivo para (profunda) gratidão.

Ele deu um leve sorriso. Sorri também. Um sorriso gratuito, de amizade e compreensão. Ficamos assim por alguns segundos. Em seguida, desci na Sé. Acho que, apesar de estranhos, nos entendemos e compartilhamos a mesma dor.

A vida é assim! De forma misteriosa e fascinante nos deparamos com pequenas surpresas pelo caminho.

É preciso seguir em frente, sempre com gratidão.

Substitua seu pedido de desculpas pela mudança de comportamento

Substitua seu pedido de desculpas pela mudança de comportamento

Imagem de capa: bondart/shutterstock

Ao falarmos em mudanças, a primeira definição que nos vem à mente é a material. Baseadas na competitividade social, muitas pessoas acreditam que a mudança do físico é mais importante do que o do comportamento e, por essa razão, vivem escravas do que podem consumir e aparentar.

Mudam de emprego ou carro para, além do conforto, usarem isso como cartões de visitas. Mudam de casa, mas não abandonam o parceiro violento. Mudam de cidade, mas levam o mesmo comportamento desonesto para a outra, mudam de médico, mas continuam com a mesma patologia.

Entenda: enquanto a mudança for apenas uma palavra solta, ela nunca proporcionará a efetiva transformação que esperam dela. Mudanças acontecem de dentro para fora e não o contrário.

Fernando Pessoa afirmava que a mudança era uma forma de respeito próprio: “Assim como lavamos o corpo deveríamos lavar o destino, mudar de vida como mudamos de roupa — não para salvar a vida, como comemos e dormimos, mas por aquele respeito alheio por nós mesmos, a que propriamente chamamos asseio”.

Exercícios físicos sem dieta, não emagrecem. Querer economizar, sem parar de gastar não é possível e aprovação em concurso público sem estudo é ilusão. Então, o que nos leva a acreditar que apenas a força de vontade é necessária para alcançarmos nossos sonhos? O mundo precisa de gente com postura, de palavras o dicionário está cheio.

Queremos amigos fiéis, mas não perdemos a oportunidade de falar mal dos que temos. Queremos um relacionamento leve, mas somos ciumentos e possessivos. Queremos gentilezas, mas quando um mendigo pede ajuda, julgamos que o dinheiro será usado para comprar bebida. Pense bem: quem deve mudar: nós ou o mundo?

Aprenda, de uma vez por todas, que querer não é poder. Se assim fosse, estaríamos sarados, ricos e realizados sentimentalmente. O poder está no agir, no planejamento de metas, na ação diante dos seus sonhos e, isso inclui vida sentimental, sim.

Vida sentimental não é algo fácil. A convivência com alguém diferente reflete em divergências e discussões. Normal e compreensível. O problema é que, durante o relacionamento, em vez dos envolvidos respeitarem as diferenças, querem ditar regras de como o outro deveria ser.

É preciso entender que não devemos moldar o amor pela forma das nossas carências. Isso seria limitá-lo a algo muito mesquinho. Para sermos completamente felizes e não carregarmos culpas desnecessárias, precisamos entender que somos mutáveis e passíveis de erros e que, cada um, vive como acha certo.

Há pessoas que ofendem e até traem o parceiro, por não conhecerem a grandiosidade do sentimento dentro deles. Desconhecem o que sentem pelo outro, menosprezam o carinho dado e acreditam que sozinhos viveriam melhor. Mas, quando isso acontece a dor do arrependimento é tão grande que fazem de tudo para terem uma nova oportunidade. E, muitas vezes, merecem mesmo.

Há pessoas que fazem da segunda chance, a primeira, que precisam cair para se levantar melhor. E, a elas, uma única oportunidade dada é suficiente para escreverem uma história diferente. Da mesma forma que há pessoas maldosas que só pedem perdão para não ficarem sozinhas. Escravizam psicologicamente o outro, a ponto de acreditarem que não serão felizes com mais ninguém. Que fique claro: há pessoas que erram e mudam. Há pessoas que nunca mudarão. Por favor, não confunda!

A verdadeira desculpa é a mudança de comportamento. Não é em um jantar romântico ou durante uma viagem ao Caribe que as mudanças acontecem. Elas se efetivam no respeito diário, na fidelidade constante e nas escolhas que envolvem a vida a dois.  Pouco importa “desculpa” se ela não vier acompanhada de um arrependimento genuíno. Pouco importa ser tratada bem na frente dos outros, se quando estão a sós ele te ignora. Pouco importa se ela se diz fiel, mas elogia outros caras na sua frente.

Aprenda que mudanças acontecem de dentro para fora. Começamos a nos transformar quando não aceitamos migalhas, mentiras e ofensas. Mudamos quando trocamos as experiências ruins por esperanças de um futuro diferente. Então, mude! Transforme sua vida em algo maior. Seja mais generoso, mais gentil, mais humano. Se o outro não valorizar essa mudança e continuar com as mesmas atitudes abusivas, mude você de parceiro.

Se você quer viver sua verdade, apenas cuide-se e relaxe. Confia!

Se você quer viver sua verdade, apenas cuide-se e relaxe. Confia!

Imagem de capa: Julia Trotti

Se você quer viver a verdade na vida, a sua verdade, não deveria se importar muito em querer saber o que vai surgir pra você depois daquela esquina, aquela curva que você ainda não consegue ver e entender.

Não adianta se preocupar em prever, não adianta agir tentando moldar situações, pessoas, sentimentos… Tudo tem o seu jeito e momento. Também não adianta se prevenir demais. O que vale sim é se cuidar, de si mesmo e do seu entorno. O que vale é encarar os medos, olhá-los nos olhos e ver quão pequenos e tolos na verdade eles são, fundamentados em ilusões de controle, apoiados em estruturas sólidas que não existem nessa vida. Tudo é efêmero e movimento, o universo tem um ritmo que a gente desconhece.

Se você quer viver sua verdade, apenas cuide-se e relaxe. Confia!

O que surgir pra você será um presente bom, porque quando a gente quer o que é de verdade e se abre para isso, o que nos chega é cristalino e bom. Talvez seja diferente dos seus planos, dos seus ideais, dos ideais de mundo, dos sonhos concretos que insuflaram no seu peito e você nem sabe mesmo se são seus.

Mas quando a gente confia e se abre para a verdade, o universo conspira a nosso favor. Então, talvez pessoas que a gente não imaginava vão embora, sentimentos que pareciam fortes volatizem no ar, estruturas grandes desmoronem, talvez nasça uma flor em um cantinho que você nem costumava olhar. Talvez surjam coisas pra você que você nem imaginava. Então deixe de dar tanto peso e importância às suas expectativas. Deixe de valorizar tanto pessoas e coisas.

Valorize a sua presença, o seu estar no mundo, o seu dia.

Se você deu o seu melhor, é isso que vale. Se coisas se afastam é porque não entrariam confortavelmente na sua dança, no seu momento de alma. E que dor seria viver, investir energias num evento, num sentimento, numa pessoa que não faz parte naturalmente do seu caminho! Você só pode ser sua verdade e seguir em frente, e continuar andando nos seus passos.

Pare sim, às vezes, para admirar as paisagens, acampe um pouco num momento se for o caso, mas não se apegue, ande, seu lar de amor vai junto com você.
Que as mãos dadas que possam surgir venham espontaneamente e voem quando quiserem, ou parem um pouco para olhar os próprios medos. Mas você não precisa entrar junto, continue no seu próprio rumo.

Relaxado e em paz. Confia.

Que tudo é surpresa e verdade em cada passo que você der.

Nem todo mundo que você ama te abandonará

Nem todo mundo que você ama te abandonará

A sensação de abandono é muito dolorosa e nos amedronta ter de passar por isso. Parece que, quando assim nos sentimos, voltamos a ser aquela criança assustada em meio a uma multidão de estranhos, quando nos perdíamos de nossos pais, ou quando eles se atrasavam para nos pegar na escola. Quando nos vemos largados, esquecidos, sentimo-nos vulneráveis, frágeis, menos do que um nada.

Somos seres com necessidade de compartilhamento, de acolhimento, de sentimentos recíprocos, sendo desagradável e dolorido o retorno de um vazio que nada traz de volta, como se plantássemos sementes estéreis em terreno infecundo. Desde pequenos, ansiamos por sermos aceitos, primeiramente pelos nossos pais, mais tarde pelos amigos e por aí vai. Dá para ser feliz sozinho, quando optamos por ser solteiros, porém, é difícil encontrar a felicidade quando nos dão as costas enquanto pedimos exatamente o contrário.

Inevitavelmente, sentiremos o abandono de forma pungente, ao longo de nosso caminhar, pois veremos partir os amigos mais próximos, os familiares mais queridos, os momentos, os amores e desamores, por entre sorrisos e lágrimas, seja para outras cidades, outros moradas, outros abraços, seja para o mundo depois desse. As pessoas e os momentos simplesmente vão embora, com ou sem despedida, por mais que a gente lute contra, ainda que a gente implore e grite contra isso.

Mesmo assim, felizmente, conseguiremos manter junto de nós algumas pessoas, muitas lembranças, objetos, fotos, sonhos, seja lá fora ou aqui bem dentro da gente. Sempre haverá quem não desistirá de nós, quem acreditará no nosso melhor, quem aceitará nossas falhas, quem nos resgatará de nossas escuridões e nos reerguerá dos escombros de nossas derrotas. Haverá quem nos ame e nos acompanhe até o fim de nossas vidas. E haverá muito a ser guardado dentro do coração da gente.

Viver é assim mesmo, é uma surpresa atrás da outra, algumas boas, outras péssimas. É um partir e chegar de gente e de momentos, sem aviso prévio, muitas vezes sem oportunidades de dizermos adeus. É prazer e dor, satisfação e decepção, tempestade e bonança. Porque nada que passa em linha reta pode ensinar alguma coisa, nada que vem fácil demais nos torna mais gente, nem nada cai do céu. Não podemos é deixar que esse medo de abandono nos impeça de trazer gente para junto de nós, sempre, pois aqueles que ficarem serão sempre os únicos que deveriam ter ficado. Ninguém mais.

Imagem de capa: bondart/shutterstock

O tempo só cura o que você decidiu esquecer

O tempo só cura o que você decidiu esquecer

Imagem de capa: Dmitry A/shutterstock

Prega-se como verdade absoluta que o tempo cura tudo, mas isso é uma grande inverdade. O tempo ajuda no processo de amadurecimento, na aquisição do conhecimento empírico, na sabedoria espiritual e só. Nas outras questões, ou você age ou o tempo age contra você. Shakespeare afirmava que “um dia você descobre que se leva muito tempo para se tornar a pessoa que quer ser e que, o tempo, é curto”.

Tudo começa no cérebro, no poder da decisão, na vontade própria. É na mente que começa sua cura, sua libertação e não no passar dos dias. Essa história de que “o tempo cura tudo” é para quem não tem peito para enfrentar a própria dor e joga, no mundo, a resolução dos seus problemas. Martha Medeiros afirma que “o tempo não cura tudo. Aliás, o tempo não cura nada, o tempo apenas tira o incurável do centro das atenções”. Resumindo: não é o tempo que cura as coisas é o seu poder de decisão em decidir se curar.

Pode ser um antigo relacionamento amoroso, um trabalho desgastante ou qualquer outra coisa que seja mais uma tortura psicológica do que um crescimento pessoal. Enquanto sua posição for cômoda e medrosa, você permanecerá sob stress. Desculpe a sinceridade, mas você é formado pelo silêncio que faz e pelas situações que aceita.

Se você se cala diante de uma injustiça, você está compactuando com aquilo, mesmo que de forma passiva. Se você aceita seu trabalho desgastante e não procura se especializar em outra área, fazer uma outra faculdade ou procurar um outro emprego, que te valorize como profissional, você merece estar onde está (e não estamos falando de salário aqui. Pode ser que um salário menor, em um outro lugar, te faça mais feliz do que um salário de milhões). Se você aceita esse relacionamento abusivo e acha normal, você está com a pessoa que merece. Somos o que permitimos ser!

O comodismo e o medo são os grandes responsáveis por fazer pessoas incríveis, permanecerem em situações frustradas. Eles usam de bens materiais, solidão e prestígio social para fazer com que pessoas inteligentíssimas permaneçam em stand by dos seus sonhos. Até o dia em que não dá mais tempo de realizar grandes coisas.

O relacionamento não está como gostaria? Converse. Não adiantou, termine. O medo em ficar só não pode ser maior que o amor próprio. E se doer? Não camufle sua dor. Deixe que ela te dilacere e te faça chorar muito. Isso alivia a alma e mostra que seu coração ainda pulsa pelo essencial. Mas, permita-se sofrer uma vez só! Lembre-se que a cura começa de dentro para fora.

O trabalho é mais stress do que reconhecimento? Fique até encontrar um melhor. Estude, preste concursos públicos, queira crescer em sua carreira. Entenda, por favor, que não é tempo que fará sua vida melhorar, é a sua disposição em fazer isso. Sêneca, em sua grande sabedoria, tratava o tempo como algo transitório: “ninguém se preocupa em ter uma vida virtuosa, mas apenas com quanto tempo poderá viver. Todos podem viver bem, mas ninguém tem o poder de viver muito”.

Não adianta você ter o carro do ano, trabalhar de frente para a praia e viajar com seu parceiro todo mês, se nenhuma dessas coisas te traz paz. Enquanto não resolvemos dentro de nós as situações que nos incomodam, nada ficará bem.

Você precisa acreditar que é capaz de fazer mais do que está acostumado. Precisa voltar a acreditar no amor, nas pessoas, no próprio valor. Precisa entender que quem manda no dinheiro é você e não o contrário. Precisa caminhar além do que seus pés aguentam. Você é mais! Você pode mais! Faça suas conquistas hoje e esqueça quanto tempo lhe resta. Até porque, o tempo irá passar de qualquer jeito.

Planta precisa de tempo para crescer, e o estudante precisa de tempo para se formar, um bebê precisa de tempo para nascer. Você só precisa de uma decisão: querer ser curado!

Não é sinal de incompetência precisar de colo. Incompetente é quem não sabe oferecê-lo!

Não é sinal de incompetência precisar de colo. Incompetente é quem não sabe oferecê-lo!

Pense naquela pessoa mais fria que você conhece. Aquela que consegue racionalizar absolutamente TUDO, sejam perdas ou ganhos. Aquela que se mantém impassível diante das crises, próprias ou alheias – pensando bem, principalmente as alheias. Aquela que parece ter expressões congeladas no rosto, prontas para qualquer tipo de ocasião. Aquela que aparenta ter uma alma de fibra inabalável e um exterior cascudo e inviolável. Pensou? Muito bem! Guarde essa imagem.

Agora faça o exercício oposto. Pense na pessoa mais emotiva que você conhece. Aquela que parece estar sempre com os sentimentos à flor da pele. Aquela que se afeta com o triste destino das borboletas, que se esforçam tanto para nascer, e vivem tão pouco. Aquela que vive com os olhos marejados, chora até em inauguração de supermercado. Aquela que fica comovida com propagandas de banco para o dia das mães. Pensou? Excelente! Guarde também essa ideia.

Agora vai aí um desafio! Pense na pessoa mais equilibrada que você conhece. Aquela que consegue fazer uma mescla plausível entre razão e emoção. Aquela que é capaz de ter empatia pelo sofrimento dos seus semelhantes, e também dos seus diferentes, sem esgotar-se psicologicamente com isso. Aquela que é capaz de estabelecer limites, sem ser arrogante. Aquela que é capaz de acolher, sem ser omissa consigo mesma. Aquela que entende a importância dos bens materiais, sem se tornar escrava deles. Aquela que é capaz de ter atitudes espiritualizadas, sem pregar uma religião qualquer. Aquela que é exatamente o que parece. É, companheiro… Dificílimo, não é mesmo! Caso você conheça alguém minimamente parecido com isso, você é uma pessoa que goza de um potencial de sorte, rigorosamente fora da curva.

Pois há ainda uma outra reflexão, muito mais difícil que essa. Tente enquadrar-se em um desses grupos, para os quais voce elencou, com alguma facilidade algumas pessoas. As atitudes que você tem assumido ao longo da vida o colocam em qual categoria aos olhos dos outros? Eita!!! Difícil demais de responder a essa pergunta, hein?!

A questão é que a gente não “é” nada mesmo. Com alguma sorte, a gente “está” mais para um ou mais para outro, a depender das circunstâncias, da dor, do prazer ou do tamanho da encrenca que nos apareça para resolver.

Não há caixas ou formas que sejam suficientes para acomodar nosso eterno processo de evolução – ou involução -, afinal de contas, quem é que pode jurar de pé junto que nunca nessa vida deu alguns ou vários passinhos para trás?!

A verdade é que todos nós, em algum momento da vida haveremos de ser ou querer um colo que traga alento, conforto e segurança. Simplesmente porque não é sinal de incompetência precisar de colo. Incompetente é quem não é capaz de oferecê-lo!

Imagem de capa meramente ilustrativa: cena do filme “A procura da felicidade”.

Chutar o balde, todo mundo chuta. Difícil é pegar a vassoura e ajudar na casa.

Chutar o balde, todo mundo chuta. Difícil é pegar a vassoura e ajudar na casa.

Imagem de capa: Bignai/shutterstock

É difícil, sim. Oferecer ajuda de verdade, pensar junto, fazer pelo outro mais do que apenas criticá-lo é tarefa dura, trabalho pesado. Em pleno século 21, tem gente achando bonito ser truculento, mal educado e inconveniente em nome de um pretenso e duvidoso desejo de ajudar.

Você sabe como é fácil chutar o balde, né? Vê quanta gente assanhada pra ver o circo pegar fogo? É tanta boa intenção infernizando a vida alheia, tanto bom-mocismo apontando o dedo, plantando cizânia e puxando o tapete, tanto vigarista disfarçado de salvador da humanidade que os canalhas deviam se preocupar: eles estão perdendo mercado.

Do nada, toma forma na sua frente um sujeito qualquer e anuncia: “agora eu vou chutar o balde”. E dá-lhe esculhambação, clichês medonhos, chavões idiotas em nome da moral e dos bons costumes. Dá-lhe hipocrisia cuspida em nossa cara por alguém que se acha perfeito e não tem o menor pudor em julgar quem quer que seja.

Cá entre nós, chutar o balde todo mundo chuta. Duro é passar a mão numa vassoura e ajudar na limpeza da casa. Apontar o dedo é fácil. Estender a mão é que são outras.

A questão é: quem tem tanto tempo para cobrar qualquer coisa dos outros bem podia gastar um minuto ou dois pensando no que fazer para mudar o que acredita estar errado. Fazer e não cobrar somente. Realizar e não tagarelar. Corrigir e não julgar. Dar o exemplo e não um pontapé no balde.

Quem fala sem ouvir e age sem pensar mais atrapalha do que ajuda. Chutar o balde e sair andando, sem a menor disposição de arrumar a bagunça que vai deixar na casa alheia não é ser voluntarioso nem comprometido. É ser um canalha em pele de gente boa.

Não permita que ninguém lhe diga que você não vai conseguir

Não permita que ninguém lhe diga que você não vai conseguir

Todos temos nossas opiniões sobre aqueles com quem convivemos, pois o dia-a-dia nos aproxima das pessoas e acabamos as conhecendo cada vez mais. E, embora essa proximidade nos permita aconselhá-las e opinar sobre suas vidas, não poderemos, em hipótese alguma, determinar-lhes o futuro, como se fôssemos deuses ou videntes, uma vez que por muitos nossas palavras serão ouvidas e levadas em conta.

Pessoas são incríveis, surpreendem, são capazes de superar o que jamais imaginaríamos, de chegar a lugares que pensávamos serem inalcançáveis, de agirem de forma totalmente inesperada. Isso porque ninguém tem a noção exata do tanto que possui dentro de si, da real potencialidade que carrega, do quanto suas ações podem salvar a si mesmo e aos demais.

Costumamos nos julgar bem abaixo do que na verdade estamos, duvidando de nós mesmos, temendo o erro, o fracasso, fugindo aos possíveis nãos que poderemos ouvir vida afora. Por essa razão, ninguém precisa nos desestimular, dizendo que aquilo não é para nós, que não conseguiremos obter certas coisas, ou que jamais seremos felizes se fizermos esse ou aquele outro. Nós mesmos já temos a tendência a diminuir o alcance de nossa imensidão.

Não podemos permitir que o medo, a dúvida e a autoestima frágil se tornem obstáculos ao nosso caminhar seguro, à firmeza de nossas convicções e de nossos sonhos, mesmo os mais altos. Da mesma forma, não devemos dar ouvidos às palavras de desânimo, à negatividade circundante, ao descrédito que o outro tenta nos incutir. Caso haja chances, por ínfimas que sejam, de acontecer, sigamos em frente, a despeito de toda torcida contrária que tivermos de enfrentar nesse percurso.

Ninguém tem o direito de dizer ao outro que ele não irá conseguir isso ou aquilo, porque ninguém tem o direito de determinar o destino de vidas que não são suas. Quem deve saber aquilo de que somos capazes, com propriedade, somos nós mesmos, ou seja, não podemos achatar nada aqui de dentro por conta de palpites alheios. Porque, como já se disse, somos do tamanho de nossos sonhos e sonhos não têm limites, assim como nós.

Imagem de capa: Dmitry A/shutterstock

Não existe a pessoa certa. Mas existe a pessoa que você sabe que não é a errada

Não existe a pessoa certa. Mas existe a pessoa que você sabe que não é a errada

Se você vive procurando por aí encontrar a pessoa certa, lamento, não vai acontecer. Porque não há alguém esperando por você, do jeitinho que quer, com todas as qualidades fantasiosas saídas da mais bela história de amor. Mas existe sim, alguém que você possa confiar e entregar os seus melhores sentimentos, resultando assim em permitir-se algo verdadeiro, algo inesquecível.

Passar a vida esbarrando em afetos baratos, não é amor. Quantas vezes você jurou ter dado de cara com a pessoa certa? Depois de um tempo, depois de conhecer melhor quem está do seu lado, veio a decepção. A quebra dolorosa das expectativas que nutriu, durante tantos carinhos trocados. Então, como quem saltou do alto de um prédio, você assume a clássica postura do “fechado para balanço”. Desculpe, mas nada disso precisa ser essa sofrência made in novela mexicana. O problema é que você passa tempo demais achando muito e vivendo pouco. Quando o coração é partido uma vez, você o ignora. Acha que sabe o suficiente para cair de cabeça no próximo amor de verão em vez de tomar as rédeas e não passar pelos mesmos términos, novamente.

Te contaram uma mentira e você caiu direitinho. Não existe a pessoa certa. Mas existe a pessoa que você sabe que não é a errada. Sabe como? Porque é a pessoa que não te deixa por menos. Porque é a pessoa que está mais preocupada em entender e respeitar você do que sobrecarregar e diminuir tudo o que você trouxe de bom. Ela não apara verdades em benefício próprio. Ela não finge felicidades para evitar silêncios.

Qualquer outra variação disso, sinto em dizer, mas é a pessoa errada.

Imagem de capa: Lullaby for Pi (2010) – Dir. Benoît Philippon

14 filmes reais absolutamente imperdíveis para amantes de psicologia

14 filmes reais absolutamente imperdíveis para amantes de psicologia

O cinema se debruçou com maestria sobre transtornos mentais para compor suas películas. Existe hoje uma lista quase infinita de filmes que tratam deles, no entanto, escolhi mostrar aqui apenas filmes baseados em fatos reais, cujos personagens de carne e osso, tiveram suas vidas marcadas por transtornos psicológicos. Alguns filmes estão disponíveis na Netflix, outros na internet, mas absolutamente todos são imperdíveis para quem se interessa por psicologia, psiquiatria e psicanálise.

1 – Amadeus (1984) / Transtorno Bipolar

contioutra.com - 14 filmes reais absolutamente imperdíveis para amantes de psicologiaApós tentar acabar com a própria vida, Antonio Salieri resolve confessar a um padre que foi o responsável pela morte do gênio Wolfgang Amadeus Mozart, contando em detalhes como conheceu, conviveu e lentamente viu crescer seu ódio pelo jovem criativo que, segundo ele, compunha como se sua música tivesse sido abençoada pelo próprio Deus. Baseado na peça de Peter Shaffer e com o roteiro escrito pelo próprio Shaffer, “Amadeus” nos conta a vida de Mozart sob o ponto de vista de Salieri, um compositor de talento que jamais conseguiu se igualar à genialidade de Mozart. Nesse filme é possível notar em várias cenas que Mozart tinha o que hoje os psiquiatras chamam de Transtorno Bipolar.

2 – Gia – Fama e Destruição (1998) / Personalidade Borderline

contioutra.com - 14 filmes reais absolutamente imperdíveis para amantes de psicologiaQuando Gia Carangi (Angelina Jolie) chegou a Nova York pela primeira vez, ela era apenas mais um rosto bonito em busca do sonho de se tornar modelo. A personalidade eletrizante e a potente de Gia rapidamente a colocaram no caminho das capas das revistas mais caras. Mas ser amada pelo mundo não foi suficiente para impedir que o desejo de Gia a levasse a lugares perigosos. Gia Carangi provavelmente era vítima de Transtorno de Personalidade Limítrofe (ou Borderline), não diagnosticado na época. Filme ótimo com atuação maravilhosa de Angelina Jolie.

3 – Garota Interrompida (1999) / Personalidade Borderline e Sociopatia

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Em 1967, após uma sessão com um psicanalista que nunca havia visto antes, Susanna Kaysen foi diagnosticada como vítima de Transtorno de Personalidade Limítrofe (ou Borderline). Enviada para um hospital psiquiátrico, onde viveu nos dois anos seguintes, ela conhece um novo mundo, de jovens garotas sedutoras e transtornadas. Entre elas está Lisa Rowe, uma charmosa sociopata que organiza uma fuga com Susanna, Georgina e Polly, com o intuito de retomarem suas vidas. O filme foi baseado no livro biográfico, de mesmo título, escrito por Susanna no qual ela relata suas experiências em um hospital psiquiátrico na década de 60.

4 – Iris (2001) / Alzheimer

contioutra.com - 14 filmes reais absolutamente imperdíveis para amantes de psicologiaEsse filme conta a história de amor entre a novelista e filósofa Iris Murdoch e seu marido, o professor de Oxford John Bayley, narrada em duas épocas distintas: na juventude, quando se conheceram, e na velhice, quando Iris sofre do mal de Alzheimer. Nesse filme a frase “até que a morte os separe” é levada a sério pelos protagonistas que se amam de forma irrestrita nos dias bons e nos dias mais difíceis.

5 – Uma mente brilhante (2001) / Esquizofrenia

contioutra.com - 14 filmes reais absolutamente imperdíveis para amantes de psicologiaJohn Nash é um matemático prolífico com uma carreira acadêmica respeitável. Nash resolveu na década de 1950 um problema relacionado à teoria dos jogos, o que lhe garantiu grande prestígio. No entanto, ao ser chamado para fazer um trabalho de criptografia para o Governo dos Estados Unidos, Nash passa a ser atormentado por delírios e alucinações. Diagnosticado como esquizofrênico, e após várias internações, ele precisará usar toda a sua racionalidade para distinguir o real do imaginário. Filme imperdível baseado na biografia de John Nash escrita por Sylvia Nasar.

6 – As horas (2001) / Depressão

contioutra.com - 14 filmes reais absolutamente imperdíveis para amantes de psicologiaEsse filme é um tratado sobre a depressão. Virginia Woolf está paralisada como escritora em toda a ação do filme. Já a personagem vivida por Julianne Moore, a americana típica dos anos 50, tem uma família comum, uma vida comum, tudo em um cenário neutro, sem conflitos, e vive mergulhada em uma depressão que parece contraditória à felicidade vendida pelo “american way of life”. E por fim vemos no filme a belíssima Meryl Streep como uma descolada mulher nova-iorquina que tem uma companheira compreensiva, uma filha adorável e um antigo amor à beira da morte e que também sofre de depressão. Dentre outras coisas, o filme é extremamente feliz ao mostrar como o entendimento da depressão modificou-se com o passar dos anos.

7 – Prenda-me se for capaz (2003) / Transtorno de personalidade antissocial (sociopatia)

contioutra.com - 14 filmes reais absolutamente imperdíveis para amantes de psicologiaFrank Abagnale Jr. (Leonardo DiCaprio) já foi médico, advogado e co-piloto, tudo isso com apenas 18 anos. Mestre na arte do disfarce, ele aproveita suas habilidades para viver a vida como quer e praticar golpes milionários, que fazem com que se torne o maior ladrão de banco da história dos Estados Unidos com apenas 17 anos. Mas em seu encalço está o agente do FBI Carl Hanratty (Tom Hanks), que usa todos os meios que tem para encontrá-lo e capturá-lo. Atualmente Frank William Abagnale Jr. preside a Abagnale and Associates, uma empresa de consultoria contra fraudes financeiras. O filme foi baseado em uma biografia sua não autorizada. O comportamento de Frank nos leva a crer que ele sofre de Transtorno de personalidade antissocial (sociopatia).

8 – Jornada da alma (2003) / Transtorno de personalidade histriônica

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Em 1905 Sabina (Emilia Fox), uma jovem russa de 19 anos que sofre de histeria (transtorno de personalidade histriônica), recebe tratamento em um hospital psiquiátrico de Zurique, na Suíça. Seu médico, o jovem Carl Gustav Jung (Iain Glen), aproveita o caso para aplicar pela primeira vez as teorias do mestre Sigmund Freud. A cura de Sabina vem acompanhada de um relacionamento amoroso com Jung. Após alguns anos ela volta à Rússia, tornando-se também psicanalista e montando a primeira creche que usa noções de psicanálise para crianças. Décadas após sua morte, ela tem sua trajetória resgatada por dois pesquisadores.

9 – Loucos de amor (2005) / Síndrome de Asperger

contioutra.com - 14 filmes reais absolutamente imperdíveis para amantes de psicologiaDonald Morton (Josh Hartnett) e Isabelle Sorenson (Radha Mitchell) sofrem da síndrome de Asperger. Donald trabalha como motorista de táxi, adora os pássaros e tem uma incomum habilidade em lidar com números. Ele gosta e precisa seguir um padrão em sua vida, para que possa levá-la de forma normal. Entretanto ao conhecer Isabelle, em seu grupo de ajuda, tudo muda em sua vida, pois ele se apaixona por ela. O filme foi inspirado na vida real do casal Jerry Newport e Mary Meinel (agora Mary Newport).

10 – O aviador (2005) / TOC – Hipocondria

contioutra.com - 14 filmes reais absolutamente imperdíveis para amantes de psicologiaHoward Hughes (Leonardo DiCaprio) ficou milionário já aos 18 anos, devido à herança que seu pai, um inventor texano, deixou para ele. Pouco depois se mudou para Los Angeles, onde passou a investir na indústria do cinema. Hughes ajudou a carreira de vários astros, como Jean Harlow, e ainda trabalhou em filmes de grande sucesso, como “Hell’s Angels”, o qual dirigiu. Paralelamente se dedicou a uma de suas maiores paixões, a aviação, e se envolveu com atrizes como Katharine Hepburn e Ava Gardner. DiCaprio dá a Howard Hughes um tom perfeito, extremamente cuidadoso nos pequenos detalhes, principalmente em suas crises hipocondríacas. A cena em um banheiro, por exemplo, onde lava as mãos com seu próprio sabonete, usa uma tolha limpa e fica esperando que alguém abra a porta para sair sem tocar na maçaneta é impressionante.

11 – Sybil (2007) / Transtorno de múltiplas personalidades

contioutra.com - 14 filmes reais absolutamente imperdíveis para amantes de psicologiaNesse filme Sybil é uma estudante da universidade de Columbia que sofre de transtorno dissociativo de identidade. A psiquiatra Cornelia Wilbur é a encarregada do caso da jovem e durante o tratamento descobre várias situações abusivas sofridas por sua paciente no passado. Sybil é um filme baseado no livro de 1973, de mesmo nome, escrito por Flora Rheta Schreiber no qual é contada a história de Shirley Ardell Mason, nascida em 1923 no estado de Minnesota. Sua história é o mais famoso caso de personalidade múltipla já registrado.

12 – Temple Grandin (2010) / Síndrome de Asperger

contioutra.com - 14 filmes reais absolutamente imperdíveis para amantes de psicologiaEsse filme é uma cinebiografia da jovem autista Temple Grandin (Claire Danes). Ela tinha uma maneira particular de ver o mundo, o que a fez se distanciar das pessoas, mas isso não a impediu de conseguir, dentre outras coisas, seu doutorado. Com uma percepção de vida totalmente diferenciada, dedicou-se aos animais e revolucionou os métodos de manejo do gado com técnicas que surpreenderam experientes criadores. O filme é uma lição de vida e a atriz Claire Danes está sensacional nele.

13 – Sete dias com Marilyn (2010) / Personalidade Borderline

contioutra.com - 14 filmes reais absolutamente imperdíveis para amantes de psicologiaEm 1956 quando Arthur Miller, o novo marido de Marilyn, deixa a Inglaterra, Colin (Eddie Redmayne), um auxiliar de estúdio, decide mostrar a ela os prazeres da vida britânica. Essa torna-se uma semana idílica na qual Colin convive com uma grande estrela ansiosa para fugir dos holofotes de Hollywood. A protagonista que vemos no filme (Michelle Williams) é tão linda, quanto insegura e volátil. Assim era Marilyn na vida real. Muito da vida de Marilyn nos leva a crer que ela era vítima de Transtorno de Personalidade Limítrofe (ou Borderline), algo evidente no filme.

14 – Sentimentos que curam (2015) / Transtorno Bipolar

contioutra.com - 14 filmes reais absolutamente imperdíveis para amantes de psicologiaA história gira em torno do casal formado por Ruffalo e Zoe Saldana, que teve duas filhas apesar do fato dele ser maníaco-depressivo desde jovem. Esse é um filme autobiográfico. A diretora Maya Forbes se baseou na história real de seu pai, Donald Cameron Forbes, para escrever o filme no qual é interpretada pela própria filha na vida real. Maya quis fazer um retrato afetuoso do pai e conseguiu. No filme vemos a história de um homem com transtornos psicológicos que é salvo pelo amor. O efeito colateral dessa abordagem pode estar na visão demasiadamente romantizada da bipolaridade, mas o filme vale muito a pena.

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Oliver Sacks e a verdade por trás do filme Tempo de Despertar

Oliver Sacks e a verdade por trás do filme Tempo de Despertar

Em 1966 o neurologista Oliver Sacks foi contratado pelo Hospital Psiquiátrico Mount Carmel, nos EUA. Nesse hospital ele teve contato com um grupo de pacientes que por muitos anos se encontrava em estado catatônico. Ao contrário da enormidade de médicos que fogem de hospitais psiquiátricos, Sacks conseguiu enxergar nesse ambiente um local rico para o aprendizado da natureza mental humana e, dotado de imensa empatia, enxergou esses pacientes de uma forma mais ampla: apesar de inertes, pareciam dotados de uma inteligência velada, como se estivessem aprisionados em um corpo apático.

Antes catalogados como doentes mentais cujas habilidades estavam irremediavelmente comprometidas, o neurologista conseguiu encontrar um ponto comum em muitos deles: tinham sido vítimas de uma epidemia pós-guerra, que matara muitos e paralisara tantos outros.

Citando um pouco o fator histórico para que entendamos melhor essa estranha enfermidade, no final da primeira guerra mundial se alastrou pela Europa e EUA uma epidemia de encefalite letárgica, conhecida como “doença do sono”. Ninguém nunca soube precisar ao certo a origem da doença, provavelmente um vírus, e como se alastrou, contudo, muitos pacientes apresentaram no momento do contágio sintomas diversos acompanhados de muita sonolência, e posteriormente, muitas vezes anos após esses primeiros sintomas e tendo vivido uma vida normal dentro desse período, perderam as funções de forma a ficarem catatônicos, como se estivessem em sono profundo.

Muitos sobreviventes dessa epidemia foram colocados em hospitais psiquiátricos e por lá ficaram por décadas, como seres esquecidos, que precisavam apenas de água e comida.

No ano de 1969, quando a Levadopa, uma droga experimental, passou a ser um pouco mais em conta, Sacks e sua equipe passou a ministrá-la a esse grupo de pacientes. Paralisados desde a década de 20 (ou até mesmo antes) e, em grande parte, tendo sido atingidos pela moléstia ainda na juventude, muitos voltaram à vida de súbito, como se estivessem apenas adormecidos.

Extremamente rígidos e enervados, sentados em cadeiras de roda por décadas, após a medicação, muitos foram encontrados de pé, andando por seus quartos, sem qualquer fadiga muscular. Tinham voltado à vida quase que milagrosamente.

Em um trecho do livro “Tempo de Despertar” escrito por Sacks em 1973 ele relata que quando chegou ao hospital, ao visitar uma ala, uma enfermeira que trabalhava no hospital há trinta anos lhe confidenciou algo sobre uma paciente: “É incrível, essa mulher não envelheceu um único dia nos trinta anos que a conheço. O resto de nós envelhece – mas Rose é a mesma”. Aos 61 anos, parecia trinta anos mais nova. E era assim com grande parte dos pacientes acometidos por esse mal.

O livro “Tempo de Despertar” escrito pelo neurologista é bastante denso e minucioso. Sacks aponta nele, dentre outras coisas, que, estranhamente, muitos parentes de pacientes ficaram desgostosos com a melhora dos enfermos. Isso aconteceu, por exemplo, com a mãe do paciente Leonard L. Ela viu os pensamentos de Leonard migrarem para outras mulheres e isso lhe conferiu um extremo ressentimento.

Leonard foi para Sacks o paciente mais brilhante. Mesmo já acometido pela letargia conseguiu se formar em Harvard, quando tornou-se impossibilitado. Contudo amante da leitura o fazia mesmo em estado de paralisia. Conseguia se comunicar através de um tabuleiro e foi capaz de expressar com maior precisão como era viver naquele estado de torpor.

Quando despertado ficou maravilhado com o mundo, caminhando pelos jardins do hospital, cheirando rosas e acariciando suas pétalas.

Infelizmente a Levadopa com o tempo foi perdendo gradativamente a eficácia e não mais apresentou os efeitos significativos, quase milagrosos, vistos em 1969. Em alguns casos ela teve que deixar de ser ministrada por causa dos efeitos colaterais, em outros continuou a ser tomada, contudo sem o mesmo efeito.

Durante os relatos de Sacks fica muito claro que fatores emocionais, ou seja, relações humanas foram cruciais para determinar o maior ou menor sucesso da medicação nos pacientes. Muitos se agarraram ternamente aos que lhes eram queridos: pais, irmãos e filhos. Outros se entregaram desalentados ao perceberem que não tinha restado ninguém.

As relações humanas foram o bote salva-vidas que determinou a vitória de muitos frente a essa doença tão singular. Talvez seja pela razão de que após décadas de sono seja valiosa a lembrança de um outro sobre o melhor de nós.

O livro de Sacks foi um sucesso e inspirado nele foram escritas inúmeras peças de teatro (e de rádio também) e em 1990 um filme com o mesmo nome do livro “Tempo de Despertar” foi lançado tendo Robert de Niro como Leonard L. e Robin Williams como Dr. Sacks.

O livro e o filme são inspiradores e bastante reflexivos. No filme há muito de uma lição moral sobre aproveitar a vida e enxergar nela a beleza que muitas vezes se perde frente às dificuldades.

Já o livro acaba passando uma mensagem semelhante, ao nos mostrar como somos fortes ao lutar por nós quando temos uma razão para isso. Nele também fica evidente como são determinantes os vínculos verdadeiros que nos envolvem com ternura.

Oliver Sacks faleceu em agosto 2015 aos 82 anos, vitimado por um câncer. Durante o período em que estava já consciente de seu delicado estado de saúde, escreveu um último livro, o “Gratidão”, no qual nos faz refletir, ainda uma vez, sobre a importância da vida.

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Confia em quem vê a tristeza por trás do seu sorriso

Confia em quem vê a tristeza por trás do seu sorriso

Não está fácil mantermos a confiança nas pessoas, ultimamente, sei lá, parece que os valores estão de ponta cabeça, bagunçados, e acabam bagunçando os princípios, a lealdade, a cumplicidade. Um amigo pode vir a decepcionar a gente em troca de um churrasco num sítio com piscina, por exemplo. E quem ainda se mantém fiel às próprias convicções de parceria afetiva costuma dar com a cara contra o muro.

Pessoas que achamos conhecer bem agem, de repente, de uma maneira totalmente oposta ao que esperávamos. Quem mora conosco, num belo dia, comporta-se como alguém que não conhecemos, como alguém por quem jamais nos apaixonaríamos. No trabalho, colegas nos difamam pelas costas; na mesa do bar, brindamos com quem nos critica veladamente. E a gente vai pisando em ovos, tateando no escuro, porque quase ninguém mais parece ser o que na verdade é.

Difícil, nesse contexto arenoso, compartilharmos verdades de uma forma transparente, na certeza de que o retorno será certo e na mesma medida. Difícil encontrar terrenos serenos onde aninhar nossos medos com segurança. Raro podermos dividir nosso melhor e nosso pior com quem jamais teria a indecência de usar algo daquilo contra nós mesmos. Por isso há tanto nó na garganta, tanta pressão no peito, tanta dor de estômago, tantas lágrimas no escuro, acumulados que ficam os sentimentos dentro de nós.

Mas a verdade é que ninguém sobrevive sem ter alguém em quem confiar, alguém com quem dividir dor e contentamento, porque ninguém é capaz de carregar sozinho por muito tempo tudo o que cabe dentro de si. Sentimentos não aceitam serem guardados, não conseguem adormecer sem se espalhar por aí. A gente precisa dividir nosso mundo, para que aquilo que for bom alcance mais pessoas e o que não for seja superado e deixado para trás.

O bom dessa vida é que ela sempre nos presenteará com encontros especiais, com pessoas que nos iluminarão os caminhos, ajudando, aconselhando, apoiando, escutando o que dissermos com interesse e nos amando de volta sem ressalvas. E será junto a elas que poderemos ser transparentes, sem julgamentos, e será junto a elas que nossos dias se tornarão mais felizes e leves, porque elas entenderão cada nuance que se esconde em nosso olhar, impedindo-nos de afundar, de desistir. Haverá alguém em quem poderemos confiar e gratidão é o que sempre alimentará essa troca mágica de energia positiva.

Imagem de capa: Kotin/shutterstock

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