“Nossos corpos são sonhos encarnados”

“Nossos corpos são sonhos encarnados”

Imagem de capa:  frankie’s/shutterstock

Um dos aspectos fundamentais no homem, diferenciando-o, inclusive do resto da natureza, é a linguagem. Evidentemente, a natureza encontra modos de se comunicar, entretanto, é na espécie humana que a linguagem se fez como instrumento de comunicação e ao mesmo tempo fim do próprio homem.

O que somos nós sem a linguagem? Qual o significado do mundo que nos cerca sem as palavras? E por que há em nós uma necessidade tão grande de falar ou escrever, de dizer ao mundo o que sentimos? Não por outro motivo que não seja para juntar os nossos pedacinhos, como fala Galeano. Porque nascemos separados e buscamos durante a vida aprender a difícil arte de encontrar.

Embora tenhamos à nossa disposição as palavras, capazes de criar alegoricamente coisas profundas e abstratas, como os nossos sentimentos, há na vida tanto silêncio, que chega a parecer que, em verdade, ainda não aprendemos a nos comunicar.

Entretanto, se “Somos diálogos”, como disse o poeta Holderlin, então, a nossa existência enquanto indivíduos depende da forma como conseguimos estabelecer com o outro um elo comunicativo, em que ao mesmo tempo em que consigo transmitir o que sinto e penso, também consigo compreender o que perfaz a cabeça e a alma do outro.

No entanto, não é tão fácil juntar os nossos pedacinhos, pois mais do que falar, é necessário saber interpretar e isso implica entender o que compreende o outro. Ou seja, tendo dentro de cada sujeito um mundo que o habita, é preciso que aprendamos a falar a língua desse mundo, já que do contrário mesmo que usemos as palavras, elas serão apenas um amontoado de coisas que nada significam.

Sendo assim, para que a linguagem seja verdadeiramente um meio de comunicação, há a necessidade de aprender a língua do mundo do outro, de entrar nesse mundo, de viver esse mundo, de sê-lo por alguns momentos. É necessário ser o outro, ter empatia, pois apenas desse modo a linguagem passa a ser ponte que une dois universos diferentes, únicos, mas complementares na sua singular estranheza.

Estamos nos desacostumando tanto a falar, que a nossa alma tem se acostumado a emudecer, os nossos sentimentos a se sufocarem e os nossos pensamentos a desaprender. Assim, ficamos como que presos ao redor de conchas, como se a nossa pele estivesse incrustada por uma dureza de tamanha ordem que até os sons deixam de passar. E os sons não passam, a música para de tocar, mas o relógio dispara que não dá para parar de correr entre estranhos que não querem acordar, porque o silêncio é tão grande que a trêmula boca deixa de saber falar.

Mas se não tem fala, não há poesia. Sem poesia, não há sonhos. Sem sonhos, não há corpos. Sem corpos, não há gente. Sem gente, sem gentes, sem nós, a corda cede e a gente cai em um terreno inóspito de monólogos silenciosos de almas perdidas que não sabem ou nunca quiseram aprender a língua do outro e, portanto, estão condenadas a perambular sozinhas.

Todavia, se somos diálogos, precisamos, então, aprender a escutar, pois é na escuta que aprendemos a falar as línguas estranhas que precisamos compartilhar. Sendo assim, é somente quando aprendemos que neste mundo habitam outros mundos, que nos tornamos capazes de abrir espaço para que as palavras se cruzem, os corpos se encostem e os sonhos floresçam, porque os “Nossos corpos são sonhos encarnados” a procura de moradas tranquilas em que possam descansar.

A frase que dá título ao texto pertence a Rubem Alves.

Gente entregue, isso sim é afrodisíaco

Gente entregue, isso sim é afrodisíaco

Imagem de capa: FCSCAFEINE, Shutterstock

Você pode encarar tudo como um jogo. Você pode medir um sentimento aqui e outro ali. Pode fingir, esconder e dar uma de ignorante. São suas condições, vai saber. Mas do lado de cá, nada disso é interessante e vale o meu tempo e afeto. Gente entregue, isso sim é afrodisíaco.

Gente entregue é raridade. Poucos estão inclusos nesse pequeno clube de intensidades. O que é uma pena, porque honestidade emocional deveria vir acompanhada em todos os inícios, meios e fins. Os relacionamentos seriam mais cristalinos e até certas diferenças encontrariam um ponto de entendimento. Mas não funciona dessa forma, pelo visto. Hoje, ainda há quem acredite nos falsos testemunhos do coração. Gente que demonstra uma alergia para o sincero, para o verdadeiro.

Não pode expressar que quer encontrar, que está com saudade, que ama ou que apenas gosta de estar junto. Qualquer uma das opções é motivo de sabotagem e fuga. Por quê? Depois lamentam. Dizem-se exaustos de tentar e esperar uma reciprocidade tardia. Um aviso, não existe chegada sem entrega. Cumplicidade não é comercial de margarina.

Expectativas quebradas não justificam um encolhimento dos sentimentos. Eles mudam, passam por transformações e outras análises, mas não diminuem. Leva tempo, leva autoconhecimento. Não quer encontrar, não quer sofrer? Não cobre presença. Não peça, mesmo que gentilmente, entregas que você não está em tempo de ceder. Mas se sentiu uma intensidade disposta para um viver ao lado? Entregue-se.

Gente entregue é uma sintonia sem partido. Acontece vez ou outra, mas quando acenam trazem experiências legítimas e acolhedoras. Desse tipo de gente, quero proximidade e todo o tempo permitido.

Atrações físicas são comuns, mas conexões mentais são raras.

Atrações físicas são comuns, mas conexões mentais são raras.

Imagem de capa: Volodymyr Tverdokhlib/shutterstock

Você conhece alguém que faz você sentir aquele friozinho na barriga, alguém que, com o toque, faça você estremecer? É comum vermos bocas que nos atraiam, sorrisos que nos desmontam e olhares que nos encantam. É comum nos atrairmos pelo perfume bom que fica em nós depois do abraço.

Mas como é difícil aquela conexão mental daquela conversa boa de que você não quer se despedir. De quem faz você abrir o seu coração; aquela conversa boa que permite que você seja simplesmente você. Como é raro ter alguém para falar das nossas paixões malucas, dos nossos gostos peculiares e dizer ao outro o quanto detestamos dieta. É raro encontrar alguém com quem a gente possa falar sem medo da reprovação e que ri da nossa risada de porquinho.

Como é bom e raro ter alguém que ache os nossos planos incríveis, enquanto muitos veem como bobagem. É raro ver alguém interessado em nos ouvir e não apenas em nos beijar, quem queira realmente nos conhecer do avesso e não com beijos calorosos que dão sinal para outra coisa. É raro alguém que queira conhecer a nossa alma, o nosso caráter, e que veja o nosso coração e não apenas o nosso corpo.

É raro quem olha para nossa alma e queira escutar as nossas histórias. É raro quem queira rir conosco das bobagens dessa vida e que divida as suas piadas mais sem graça nos fazendo rir.

É comum quem chega e arrepia com um beijo ao pé do ouvido, difícil é quem vem e nos arrepia com uma conversa boa, daquelas que você não se cansa, daquelas que dispensa o beijo e aguça o desejo de conhecer mais sobre esse alguém. É fácil quem vem e faz com que nos apaixonemos pelo jeito que nos olha, difícil é quem vem e queira olhar para a nossa alma e nossa história.

Em um mundo de tantos disfarces e coisas passageiras, é raro quem “perde” o seu tempo com uma conversa boa e, mais ainda, quem nos faz “perder” tempo com ideias interessantes, sonhos cativantes. É raro pessoas que no fazem querer sempre mais e mais e que entendam as nossas dores. Atrações físicas não são uma raridade, mas conexões mentais, gente que acolhe o nosso sofrimento e que sempre vê algo por detrás do nosso sorriso, não é só raro como nobre e bonito.

Sim, atração física é importante, mas não é tudo e está longe de sustentar uma conversa. Está longe de ser amor ou de nos fazer ter confiança nesse alguém. Porque bom mesmo é podermos ser nós mesmos e termos alguém que desperte aquela vontade de sermos sempre melhores. Difícil é quem não olha apenas para as curvas, mas contempla o nosso sorriso, a nossa inteligência e se interesse pelos nossos sonhos. Alguém que se interesse pela nossa vida e que queira escutar sobre o nosso dia a dia tão comum.

Como é empolgante conhecer alguém assim, cuja conversa flui, as ideias coincidem e, mesmo que haja discordância, o outro sabe como respeitar as diferenças, sem tentar impor, sem tentar convencer. E, então, esse alguém se torna cada vez mais interessante, não pelo beijo, pelo toque ou pelo perfume, mas pela conversa, pela forma como se interessa em nos conhecer de fato.

A gente se cansa das mesmas pessoas com as desculpas de sempre

A gente se cansa das mesmas pessoas com as desculpas de sempre

Imagem de capa: Anetlanda/shutterstock

É tão cansativo ter que se decepcionar, que ficar sem receber de volta e ter que ouvir sempre as mesmas desculpas, digerindo justificativas que se repetem e se repetem dia após dia. Cansa quando só um lado da balança pesa e se doa; esgota.

Vez ou outra, algumas pessoas nos apresentam justificativas questionáveis, quando não correspondem ao que precisavam. No entanto, há aquelas que quase nunca são capazes de terminar o que começam, de honrar os seus compromissos, ou de cumprir as tarefas que são delas, não sem terem, na ponta da língua, justificativas difíceis de se sustentarem por tanto tempo.

Existem pessoas que nunca chegam no horário marcado, que não conseguem terminar o expediente sem pendências, que jamais são capazes de corresponder a um simples pedido que lhes fazemos. Não cumprem prazos, nem promessas, ou seja, são pessoas com quem não podemos contar, em hipótese alguma. O pior é que não conseguem justificar-se com segurança, muitas vezes repetindo as mesmas desculpas de sempre, com algumas pequenas mudanças no enredo.

Infelizmente, quem arranja desculpas para tudo na vida também se comportará desse jeitinho quando se tratar dos relacionamentos pessoais. Certamente, irão deixar os parceiros no vácuo em muitos momentos, não comparecerão aos encontros agendados com amigos, tampouco conseguirão prestar favores mínimos que sejam a ninguém. Somente se mostrarão firmes no propósito de trazerem o velho corolário de desculpas esfarrapadas que ninguém mais engole.

E é tão cansativo ter que se decepcionar, que ficar sem receber de volta e ter que ouvir sempre as mesmas desculpas, digerindo justificativas que se repetem e se repetem dia após dia. Cansa quando só um lado da balança pesa e se doa; esgota. E, por mais que a gente alerte e avise o outro, nada muda, porque simplesmente existem pessoas que não mudam, tampouco estão dispostas a mudar, uma vez que não estendem os olhos além de si mesmas.

E, para piorar, quando nos cansamos de vez e paramos de acreditar nos indivíduos que nunca provaram o contrário, nem nunca o tentaram, a maioria deles ainda se sente no direito de se ofenderem e de se sentirem injustiçados, como se nós fôssemos a parte errada e malvada da história. Não se trata, porém, de certo ou errado, de bondade ou maldade, mas sim de gente que cumpre e gente que não cumpre o que promete. Infelizmente, algumas pessoas jamais poderão obter o nosso voto de confiança.

Que você tenha a sorte de um encontro que surpreenda

Que você tenha a sorte de um encontro que surpreenda

Imagem de capa: jujikrivne, Shutterstock

“A vida é arte do encontro, embora haja tanto desencontro pela vida.” Quando Vinicius concebeu essa verdade, nem ele poderia imaginar o quanto ela duraria. Mas ainda há tempo. Ainda é possível acrescentar um pouco de sorte, um pouco de surpresa. Que novos encontros aconteçam.

Conhecer novas pessoas, agregar sorrisos e conversas que façam o seu espírito mais livre, quase nada nessa vida pode ser comparada. A sensação da novidade, convenhamos, deixa qualquer coração partido ou inibido um ponto mais próximo da plenitude. Não existe uma data certa ou mesmo faz grande diferença quando começar, mas é certeiro que, colocar-se à disposição de desbravar lugares desconhecidos e pessoas das quais normalmente não falaria, é dessas experiências que surpreendem.

Sim, abraçar o novo demanda sorte. Nem sempre é a vontade que a define. Requer paciência e, principalmente, uma leveza natural. Não adianta pedir e forçar para que o universo conspire. Antes de tudo, é necessário contemplar os diferentes lados de si. Provar, pensar e sentir além da rotina, da comodidade e do velho. Para que novos encontros aconteçam é preciso despir-se da preguiça e dos sentimentos surrados pelo passado.

Surpreendente é desejar que, mais dia ou menos dia, a sorte chegará sorrindo e com os braços estendidos, onde um encontro não será julgado pelo tamanho das oportunidades, mas pela intensidade proposta ali, naquele instante. Que você tenha sorte. Que você se surpreenda. Que você viva.

Segura teu filho no colo, mesmo que ele já tenha crescido

Segura teu filho no colo, mesmo que ele já tenha crescido

Um dia teu filho crescido voltará. Dirá do mundo que descobriu com os próprios olhos e das coisas que o fizeram balançar. Um dia teu filho precisará do teu colo e consolo.

Um dia teu filho virá com os ouvidos atentos e precisará das tuas palavras. Não, filho crescido não é filho criado.

Um dia teu filho sentará ao teu lado e pedirá teu conselho e nessa hora põe de lado as desdenhosas chorumelas ou o medonho “eu avisei”, “bem feito”, “cada um com seus problemas”. Torça pelo melhor, torça para teu filho vencer, mas se ele fraquejar, que teu coração o receba com candura e amor.

Muitos filhos não voltam porque não têm para onde voltar. Porque foram varridos para fora do ninho e caíram no mundo. Muitos filhos se tornam órfãos de mães e pais vivos depois de adultos.

Quantas coisas desastrosas poderiam ter sido evitadas se antes existisse uma conversa entre um filho e um pai! Entre um filho e uma mãe! Como seria bom e sincero poder compartilhar aprendizados de forma leve, sem ressentimentos! Sem esperar uma queda para então estender a mão!

Nós podemos isso hoje, pais e mães podem isso agora. Podem dizer das verdades sem macular sonhos. Podem falar da vida com amor e orientar quando ela for dor e reparação.

Às vezes, eu fico pensando em como seriam as coisas se algumas pessoas tivessem tido pais e mães amorosos. Leio biografias e fico imaginando como poderia ter sido aquela história se a pessoa em questão pudesse ser amada, reconfortada e abraçada depois dos vinte, trinta ou quarenta anos.

Olho para o rosto feliz de mulheres admiráveis como a saudosa Palmirinha, por exemplo, a doce vovó que há anos ensina deliciosas receitas na TV, e penso em quanto sofrimento ela aceitou por não ter no passado para onde voltar. Em como foi difícil para ela, com três filhas pequenas, ter ficado ao lado de um marido abusivo por ter perdido o pai e pela mãe não lhe ter sido nem um pouco amigável.

Sim, vive-se sem o abraço do ninho o qual um dia nos abrigou, mas vive-se melhor e com mais candura se as portas da casa da infância forem destrancadas e lá dentro, sem rancores, sem ressentimentos, houver uma palavra de amor e um abraço carinhoso.

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Atribuição da imagem: pexels.com – CC0 Public Domain

A gente achava que já tinha visto de tudo; a gente não viu é nada!

A gente achava que já tinha visto de tudo; a gente não viu é nada!

Imagem de capa: Sofia Zhuravetc

A gente achava que as pessoas pudessem escolher quem elas amariam, sem julgamentos alheios. A gente achava que podia perdoar e que não mais voltaria a enfrentar a mesma decepção repetidamente. A gente achava que não seria machucado de novo e de novo pelas mesmas pessoas.

Sabe aquela velha história de que, quando pensamos já ter todas as respostas, vem a vida mudar todas as perguntas? É assim com tudo, porque nunca estaremos preparados para ver, ler ou ouvir certas coisas, que achávamos serem inconcebíveis. No entanto, quanto mais se vive, mais se surpreende com o que se tem pela frente.

A gente achava que ninguém mais daria algum tipo de importância à etnia, à cor da pele, à proveniência de alguém, como se isso pudesse dizer alguma coisa sobre as pessoas. Infelizmente, velhos e danosos estereótipos ainda persistem em muitos meios sociais, onde negros são tidos como menos capazes, nordestinos são tidos como preguiçosos, estrangeiros são tidos como ladrões de emprego.

A gente achava que a pessoa pudesse escolher quem ela amaria, que pudesse amar quem fosse, onde estivesse, da forma que lhe fosse melhor, caso não estivesse importunando ninguém. Infelizmente, grande parte das pessoas ainda não consegue aceitar relacionamentos que não se enquadrem nos preceitos religiosos ou nos manuais de etiqueta dos séculos passados.

A gente achava que vivia em um regime democrático, num país de livres escolhas partidárias, de autonomia política, sem que precisássemos ser ofendidos e agredidos verbalmente pelos eleitores dos outros partidos, com escárnio e, por vezes, até mesmo através de agressões físicas. Infelizmente, principalmente nas redes sociais da internet, assiste-se a uma troca de farpas violentas, num ambiente intolerante e cínico.

A gente achava que podia confiar nas pessoas, em casa, no trabalho, na vida, e que o nosso melhor não seria devolvido da pior forma, justamente por quem mais nos era especial. Infelizmente, muitas pessoas ainda não conseguem – porque não querem – ser leais, invejando o que o outro tem ou é, porque simplesmente não conseguem enxergar nada de bom em si mesmas.

A gente achava que podia perdoar e que não mais voltaria a enfrentar a mesma decepção repetidamente, porque o perdão faria o outro repensar suas atitudes. A gente achava que não seria machucado de novo e de novo pelas mesmas pessoas. Infelizmente, muitos indivíduos não são capazes de aprender, porque não querem, porque não acham ser necessário, porque simplesmente não sabem olhar para nada além de suas próprias necessidades limitadas. Não crescem, não amadurecem, continuam brincando enquanto vivem, utilizando pessoas como brinquedinhos descartáveis.

Viver é uma aventura cheia de surpresas, muitas delas negativas. Felizmente, teremos também muita coisa boa vindo ao nosso encontro, todos os dias, e é por isso que sempre valerá a pena viver com amor e esperança. Apesar de tudo e de todos.

Depositar a própria felicidade em mãos alheias é como dirigir de olhos fechados

Depositar a própria felicidade em mãos alheias é como dirigir de olhos fechados

Talvez seja um dos maiores sonhos da humanidade essa tal história de “ser feliz”. Mas basta um único instante de reflexão para se chegar a uma singela – porém não simples -, conclusão: ser feliz é das coisas mais subjetivas dessa vida.

A gente fica marcando encontros fictícios com a felicidade. Quando eu tiver um trabalho dos sonhos, serei feliz. Quando encontrar o amor, serei feliz. Quando tiver mais tempo para fazer aquilo que gosto, serei feliz. Quando isso, quando aquilo…

E, sem perceber, vamos nos acostumando a projetar nossa alegria sobre alicerces imaginários e frágeis, dada a sua fugacidade.

O que é, afinal de contas o trabalho dos sonhos, por exemplo? É receber muito dinheiro e “ralar” menos? É ser dono do próprio negócio? É ter no ganha-pão a realização de um talento? É ter mais segurança?

E como é que a gente sabe que encontrou “o” amor? É quando a gente tiver a sorte de ter o melhor sexo e o melhor amigo ou amiga na mesma pessoa? É quando a gente perceber que perdeu o interesse de procurar? É quando a gente tiver a sensação de ter encontrado um lar?

E o que diabos é ter tempo? É acordar mais cedo? É ir dormir mais tarde? É parar de procrastinar? É parar de desperdiçar horas, dias, meses e anos com disputas inúteis?

Não é nada fácil descobrir fórmulas para equacionar questões tão simbólicas da nossa existência. E não é fácil, nada fácil, por uma simples razão: não há fórmulas.

A gente vai se descascando aos poucos. A cada vez que nos permitimos imergir em experiências de vida reais e significativas.

É naqueles dias em que, ao deitar a cabeça no travesseiro, sentimos uma coisa boa no peito – uma plenitude -, por ter reconhecido no suor do trabalho também a essência de uma missão, que temos o prazer de um encontro com a felicidade.

É naquelas experiências de contato físico, em que deixamos a alma exposta dançar ao redor, o corpo amolece tranquilo, porque a excitação, o prazer e a paz se misturaram em beijos, abraços e entregas, que trouxeram pra dentro de nós o sabor, a temperatura e a maciez da felicidade.

É quando, enfim, aprendemos a parar de brigar com o tempo, e compreendemos que é aquilo a que damos valor que vai durar mais e que há momentos inesquecíveis que não passam de um instante, que vislumbramos a face rosada e tranquila da felicidade.

E, por fim, é naquele segundinho de deslumbramento em que juntamos sonho, desejo, intenção e esforço na clareza do reconhecimento de que o nosso destino é metade incerteza e metade da nossa conta, que seremos capazes de acolher a chance de ser feliz, de estar inteiro para partilhar dessa embriagante descoberta com outro alguém. Felicidade é partilha, não é dependência. Porque depositar a própria felicidade em mãos alheias, é como dirigir de olhos fechados, mais dia, menos dia, vai acabar num inevitável desastre.

Imagem de capa: cena do filme “O segredo dos seus olhos”

Pessoas que assumem os próprios erros são mais confiáveis

Pessoas que assumem os próprios erros são mais confiáveis

Imagem da capa: LuckyImages/shutterstock

Errar conscientemente, sabendo da dor que trará ao outro, é antiético; errar tentando acertar, querendo o melhor, é necessário. Somente assumindo os erros é que estaremos aptos para aprender a não voltar para eles, bem como nos tornaremos mais confiantes e dignos de confiança.

Está aí uma espécie em extinção: pessoas que assumem o erro, que sustentam o que disseram e/ou fizeram, arcando com as consequências disso tudo. Infelizmente, prolifera-se, pelos vários ambientes de nossas vidas – trabalho, círculo de amizades, de familiares -, um comportamento extremamente danoso, por pautar-se pela fofoca, por atitudes destemperadas e impulsivas e pela omissão, quando as bombas explodem.

No ambiente de trabalho, muitos acabam fugindo furtivamente, quando se trata de assumir algum erro cometido, até mesmo negando veemente o que, como e quando fizeram algo que comprometa sua suposta eficiência. Não raro, chegam a acusar quem se encontra em nível hierárquico mais baixo, ou seja, colocam a culpa em alguém que raramente terá voz para se defender aos superiores.

Da mesma forma, existem aqueles que não demoram a acusar quem não esteja presente na roda de conversa, denegrindo a sua imagem, atribuindo-lhe falas e atitudes que nada mais são do que o retrato exato do próprio acusador. Com isso, tentam se proteger, de antemão, do que eles próprios fazem, mas não assumem, haja vista o medo que esse tipo de pessoa sempre tem de ser desmascarado.

Esteja onde estiver, a questão é que sempre haverá quem não tenha a coragem de confessar que errou, que se comportou de maneira inadequada, que agiu sem pensar, não trazendo para si a responsabilidade sobre os próprios atos. Talvez por se acharem perfeitos, ou por medo covarde, fato é que a estes será quase que impossível assumir os erros, mesmo para aqueles com quem tem mais proximidade, aqueles que nunca negam ajuda, que são compreensivos.

Não há que se temer o erro, assim como não há que se temer retratar-se, pois erra quem faz, quem se move, quem se lança e ousa sair do lugar. Errar conscientemente, sabendo da dor que trará ao outro, é antiético; errar tentando acertar, querendo o melhor, é necessário. Somente assumindo os erros é que estaremos aptos a aprender a não voltar para eles, bem como nos tornaremos mais confiantes e dignos de confiança.

Só permita que seu coração entre em um novo lar se ele já foi capaz de abandonar o antigo

Só permita que seu coração entre em um novo lar se ele já foi capaz de abandonar o antigo

Imagem de capa: Andrii Medvednikov/shutterstock

Há quem afirme que “para esquecer um grande amor é necessário encontrar outro” e isso é tão errado quanto cruel. Começar uma história com resquícios de sentimentos e traumas anteriores é, além de constrangedor um desgaste desnecessário.

Ficar falando e ouvindo do ex, ser comparado o tempo todo e ter o nome trocado é uma falta de respeito sem tamanho. Entenda: se o relacionamento continua presente dentro de você, ainda não é o momento de começar uma nova história.

Cada um de nós tem um tempo para a cura. Alguns superam mais rápido, outros precisam de um tempo maior, que envolve sessões de terapia, conselhos de amigos e grupos religiosos, tamanho o trauma envolvido na relação. E, tudo bem! Não é o caminho escolhido que importa, é o objetivo em comum que nos move: a cura.

É difícil esquecer quando ainda há sentimento. É difícil partir quando se quer ficar. É difícil esquecer quando se quer amar e perdoar quando se foi traído, mas, acredite, é possível. Se você lembrar o quanto era feliz antes desse amor, o quanto tem valores que deixou adormecido e o quanto tem sofrido sem necessidade, você é capaz de esquecer. Miguel Unamuno, romancista espanhol, escreveu que “é preciso esquecer para viver; a vida é esquecimento; cumpre abrir espaço para o que está por vir”.

Quando começamos uma relação queremos que ela dê certo (lógico), mas, esquecemos que, para que isso aconteça, o primeiro passo é não gerar expectativas. Não está nas mãos do outro a sua cura, está nas suas. Não será o outro que fará você esquecer seus traumas, será a sua mente e seu poder de autocontrole que farão isso. Não será o outro que te fará feliz, isso é um estado de espírito individual, não um presente que você ganha ao assinar um contrato de casamento. Aprenda: não se mede amor e respeito pelos olhos dos outros.
O que dói no processo de esquecimento não é saber que a presença do outro não será mais rotina, são os planos que foram destruídos, as expectativas que foram frustradas, o medo em não ser mais feliz. São essas as coisas que doem. A verdade é que nosso coração está preparado para amar, mas não para sentir saudade.

Dor traz amadurecimento emocional e consequentemente relacionamentos maduros e duradouros. Amadurecimento emocional não vem embalado para presente com uma fita dourada, pelo contrário, é adquirido depois de muito sofrimento e de muitos foras. Aceitar que esses momentos são naturais e que passar por ele é um privilégio, é sabedoria.
Então, desacelere e meça seus sentimentos. Nunca fique em uma relação por desejo alheio, a vida é sua, portanto, a opção de continuar ou não também é. Enfrente sua solidão, permita-se sofrer, curtir o luto do término e aprenda a se amar novamente. Depois, somente, depois, esteja disposto a amar.

“Aprenda a lidar com a solidão. Aprenda a conhecer a solidão. Acostume-se a ela, pela primeira vez na sua vida. Bem-vinda à experiência humana. Mas nunca mais use o corpo ou as emoções de outra pessoa como um modo de satisfazer seus próprios anseios não realizados”. (Do livro Comer Rezar e Amar de Elizabeth Gilbert)

Não permita ser julgado por quem não vive a sua história

Não permita ser julgado por quem não vive a sua história

Olhar de longe os acontecimentos, como mero espectador, não dá a ninguém autoridade suficiente para julgar o que vê. Frequentemente, as pessoas são julgadas pelas atitudes que tomam, sofrendo olhares de censura e comentários reprovadores de quem não conhece o que se passou de fato até que se chegasse àquela tomada de decisão. Um dos maiores favores que faremos aos outros será o de conhecer antes de julgar.

Quem rompe um relacionamento, quem larga o emprego, quem ama como quiser, quem fala o que pensa, são inúmeros os exemplos de comportamentos que acabam sendo alvo da maldade alheia, alvo do veneno de quem não consegue enxergar a si próprio e foge disso denegrindo o outro. Como podem emitir juízos de valor baseados somente no conhecimento superficial, sem ter vivido de perto nenhuma das histórias que não são suas?

Cada pessoa sente o mundo, os acontecimentos, a vida, de um jeito próprio, ajeitando aquilo tudo conforme o que possui dentro de si, de acordo com o que vem se tornando enquanto a vida lhe envia as bagagens. Ninguém sente igual, nem dor nem prazer, o que nos impede de querer que o outro aja como achamos que deveria ou como nós mesmos agiríamos. E quem disse que o que pensamos é o mais correto? É muita presunção mesmo.

Da mesma forma, bem como tanto se alerta, é preciso exercitar a empatia, colocando-se no lugar do outro, entendendo-o antes de criticá-lo. E é preciso coragem para se colocar nas dores alheias, porque isso dói, isso traz consciência de que, muitas vezes, estamos sendo injustos com quem apenas necessita de apoio. Atitudes extremas quase nunca são tomadas por quem está bem e tranquilo, mas sim por pessoas enredadas em meio à dor e ao desespero.

Portanto, não permita que ninguém o julgue sem ter vivido a sua história, sem ter compartilhado nada com você, sem nunca ter perguntado se precisava de algo. Ignore quem ataca sem entender, quem julga sem conhecer, quem fofoca sem saber, porque a maioria das pessoas só está preocupada com o que acham serem erros alheios que poderiam ser evitados, embora elas próprias errem e tentem se esconder, apontando o dedo para fora de si. Afinal, ninguém conseguirá ser tão implacável quanto a nossa própria consciência.

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O porquê da arte ser terapêutica

O porquê da arte ser terapêutica

Imagem de capa viki2win/shutterstock

“Vou escrever uma coisa que eu não sei o que, justamente para ficar sabendo. E que só eu posso me dizer, mais ninguém” disse Fernando Sabino.

Eis uma boa justificativa para a arte ser terapêutica. A autodescoberta. Através da arte (nesse caso, a escrita), tornamo-nos capazes de fazer descobertas sobre nós mesmos.

A linguagem artística é uma ferramenta importante para a promoção de autoconhecimento, essa capacidade de ver e conhecer a si mesmo que, por sua vez, advém do autodistanciamento, conceito do renomado psiquiatra judeu Viktor Frankl. O autodistanciamento diz respeito à prática de se distanciar de si mesmo.

Ao ler um poema meu, por vezes, descubro algo, entre as palavras, que disse sem perceber. Ao observar minha pintura, vejo parte do meu ser que se esconde entre as cores. Ao ouvir minha música, sou capaz de ouvir, também, o canto de minhas próprias emoções. Ao externar o que sou, sou capaz de apreender-me e, consequentemente, de me avaliar melhor.

A arte é também refúgio, porto seguro. Abrigo-me na poesia de Drummond, quando ninguém mais é capaz de me entender. Escondo-me entre os filmes de Woody Allen, quando não tenho a quem recorrer. Visto-me com a música de Chico, quando não tenho a que mais me agarrar.

A arte é volúvel. Está sempre aberta à interpretação de quem nela mergulha. Está à mercê, não necessariamente do artista, mas daquele que a aprecia. É possível, portanto, encontrar-se na arte do outro. Por isso, é frequente também nos refugiarmos na arte uns dos outros.

Ah! A arte é terapêutica, por guardar consigo aquilo que nos transborda: a emoção, o afeto, sentimento em seus limites. Danço, até que toda a minha tristeza e decepção se dissipem. Toco meu violão, até que o choro e a angústia que arranham minha garganta desapareçam. Atuo com efervescência, até que aquela dúvida e ansiedade cruéis me deixem. Desta perspectiva, a arte é também calmaria.

E de onde emana todo esse poder da arte?
Simples. Às vezes, o discurso racional que somos obrigados a adotar cotidianamente não abarca tudo aquilo que sentimos. A arte está nessas brechas que não conseguimos preencher com nossa – tão superestimada – razão. Leonardo Da Vinci tinha plena consciência disso: “A arte diz o indizível; exprime o inexprimível; traduz o intraduzível”.

É por essa e outras que a linguagem artística pode ser considerada um eficiente ansiolítico alternativo, um confortável abrigo para nossas angústias e um poderoso instrumento para autoconhecimento.

Acredite: pessoas ímpares dão ótimos pares

Acredite: pessoas ímpares dão ótimos pares

Imagem de capa: Atelier211/shutterstock

Drummond já dizia: “ninguém é igual a ninguém. Todo o ser humano é um estranho ímpar”. Somos diferentes em opiniões, sonhos e vontades e é exatamente isso que nos torna únicos.

Tem-se por definição que pessoas ímpares são pessoas solitárias e amargas, mas isso é tão errado quanto contrário. Pessoas ímpares são pessoas reais, verdadeiras e simples. São pessoas que, embora saibam o valor da solidão, também, valorizam a companhia do outro.São pessoas que aprenderam a se amar, antes de despertar o amor ao próximo.

Chega a ser assustador essa necessidade em amar e ser amado que algumas pessoas apresentam, como se isso fosse um objetivo de vida e não e não um acaso. Muitos não entendem a diferença entre estar só e ser só e fazem dos momentos de solidão verdadeiros martírios para a alma.

Fernando Pessoa afirmava que o homem que não se encontra na própria solidão, não é verdadeiramente livre: “a liberdade é a possibilidade do isolamento. Se te é impossível viver só, nasceste escravo.”

Artur da Távola tem uma das definições de amor mais realistas da literatura moderna: “é preciso entender que união não significa, necessariamente, fusão. E que amar, “solamente”, não basta. Entre homens e mulheres que acham que o amor é só poesia, tem que haver discernimento, pé no chão, racionalidade.

Tem que saber que o amor pode ser bom, pode durar para sempre, mas sozinho não dá conta do recado. O amor é grande mas não é dois. É preciso convocar uma turma de sentimentos para amparar esse amor que carrega o ônus da onipotência.”

O insucesso de muitos relacionamentos se dá exatamente por essa razão: além de idealizarem um amor romântico inexistente, não conseguem ser boas pessoas ímpares, logo não são boas pessoas pares.

Outro grande problema que envolve o relacionamento é a responsabilidade que se coloca no outro em fazer o relacionamento dar certo. É preciso entender que não está nas mãos de ninguém a sua felicidade. O grande amor da sua vida é você! Honre-se! Respeite sua história, sua vida, sua família. Não crie expectativas que o outro não poderá suprir. Seja ímpar antes de ser par!

Quando falamos em pessoas ímpares falamos em pessoas que sabem ser felizes nos momentos mais delicados da vida. Falamos de pessoas guerreiras, simples, reais e que, por terem enfrentado as dificuldades de peito aberto, estão prontas para serem e fazerem outras pessoas felizes.

Pessoas ímpares são boas porque acreditam no amor, mas sabem que ele não tem poder de vencer tudo. São fieis, constantes e responsáveis. Possuem endereço fixo, são fáceis de encontrar e não somem no meio da relação como o mestre dos magos.

Pessoas ímpares são fortes. Encaram os problemas de frente e não culpam os outros pelas cicatrizes que carregam. Sabem que o companheiro atual não tem culpa do que os anteriores fizeram. Sabem que a felicidade não possui fórmula mágica e encontram na rotina motivos para serem felizes.

Pessoas ímpares não temem o tempo, as rugas, a solidão. Esperam por seus milagres lutando e não acreditam em resultados sem esforços. Pessoas ímpares são imperfeitas, cometem erros e sabem o valor do perdão. Sabem que a mudança de comportamento tem mais valor que meia dúzia de rosas entregues sem arrependimento.

Pessoas ímpares perdoam traições, mas não ficam vítimas delas. Terminam relacionamentos, mas se curam dos traumas. Carregam cicatrizes, mas não carregam as dores.

Pessoas ímpares são gratas, felizes e doces. Eternas aprendizes da vida, acreditam que essa vida é apenas uma passagem e, por isso, conseguem ver além das dificuldades.
Pessoas ímpares são raras, mas existem e eu desejo que, antes de você encontrá-las, você saiba a importância de se tornar uma.

Meu bem, pra mim você é privilégio

Meu bem, pra mim você é privilégio

Imagem de capa: limonstrik, Shutterstock

Meu bem, você pode achar que é muita sorte sua, que o universo resolveu te presentear e que nada disso era para acontecer. Mas, sinto em dizer, melhor se acostumar. Porque não pretendo partir e andar sem que o seu sorriso esteja junto ao meu.

O nosso amor não é trapaça. Não estamos pulando a vez de ninguém por decidirmos assumir o protagonismo desse sentimento. Anota aí, queremos mais. É o pacote completo e autoral, construído um dia de cada vez. Sem pressa ou pressão. Do canto dos nossos abraços, sobra espaço para a simplicidade. Seja você e serei eu.

Façamos o acaso nos servir e deixemos a roleta da vida girar para os preguiçosos. Sobre o universo, ele sabe muito bem com que par se meteu. Fez birra, lançou umas tempestades mas, veja você, aqui estamos.

Independente do futuro que dure, o presente encontrou uma brecha de eternidade pra gente se amar. Meu bem, eu te amo e é um privilégio indiscutível poder ficar.

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