Um filme para Woody Allen

Um filme para Woody Allen

“A vida do outro é para ser olhada e compreendida. E tantas vezes ocorre o contrário: ela é virada do avesso, perscrutada e mal falada, incompreendida”. Foi meu pensamento num daqueles cafezinhos que vamos à tardinha para arejar a mente. Gosto de aproveitar todos os espaços e todas as pessoas, a qualquer momento.

Há dias não olhava nos olhos toda aquela gente que passa por mim na rua, não chegava tão próximo, não via seus movimentos, nem sentia seus cheiros atravessando a fatia do vento quando passam roçando em meus braços. Era gente nova, jamais vista antes nas calçadas.

Parei por alguns segundos, como se anulasse qualquer presença diante de mim, e pensei: “…gosto tanto de imaginar a vida das pessoas… “. Talvez seja por isso mesmo que eu goste tanto de ouvir e guardar as histórias como se fossem minhas. É a forma mais crua que encontro de me olhar e sentir quem sou. Perguntar sobre o que gosto e o que não gosto.

Outro dia uma amiga me falou sobre essa mania de olhar a pessoa e imaginá-la como é em seu mundo particular: “Um bando de estranhos! Não me interessa a vida deles. ” – confessou, já um pouco irritada quando lhe falei que a vida de cada pessoa daria um filme magnífico nas mãos de Woody Allen.

“Ele sim, desvendaria cada mundo de forma leve e profunda ao mesmo tempo. Daria minha vida para ele fazer um filme, não sei onde eu iria parar, mas pagaria para ver! ” – disse a ela, sem pensar muito naquela confissão que ouvia há poucos minutos.

Essa história de olhar o outro, de criar ficções a seu respeito, de inventar, dar vida a seres que nem sequer existem no universo real é um acontecimento fantástico na vida de qualquer ser humano capaz de tal proeza. Experimente assistir uma palestra ou falar com um escritor de ficção, só para ver até onde a inventividade dele pode chegar. Não terá limites, nem para o escritor, nem para você, que estará totalmente envolvido.

É através desse outro que muitas vezes está a grandeza do que não se pode sentir. Ali está a própria imensidão, o inexato, o ambíguo, o mistério. E é muito mais difícil invadir uma pessoa quando ainda não se sabe por onde entrar em si mesmo.

A certa altura é um labirinto humano, algo como caminhar e os passos serem inalcançáveis. Onde estará esse tal caminho? Para onde devemos ir? Onde encontrar o caminho para buscar o outro dentro da gente?

Esse outro que sou e que tantas vezes se confunde com a minha imagem verdadeira. Tenho receio dessas faces anônimas que vou topando pelo caminho e me provocam com risos de confissão: “Você sou eu. É assim, exatamente como sou.” Não é tão fácil entregar assim nossa natureza ou parte do que somos. É complexo, desconcertante. Ficamos a par da descoberta do que não desejamos: obviedades.

Queremos ser únicos e ter uma história de vida tão interessante quanto a daqueles filmes woodyallianos dos anos setenta, que chegam hoje até nós ainda com ares de novidade. É assim que queremos expor nossa vida, contar nossas histórias ao mundo: para arregalarem os olhos, abrirem as bocas e eriçarem os pelos.

Saio do café atordoada. Há muitos dias não via tanta gente. Dobro a esquina e continuo pensando. Paro. Olho disfarçadamente em direção ao café, como se lá, todas as pessoas que vi, se amontoassem e desejassem contar suas histórias de uma só vez.

VENDE-SE TUDO, por Martha Medeiros

VENDE-SE TUDO, por Martha Medeiros

No mural do colégio da minha filha encontrei um cartaz escrito por uma mãe, avisando que estava vendendo tudo o que ela tinha em casa, pois a família voltaria a morar nos Estados Unidos. O cartaz dava o endereço do bazar e o horário de atendimento.

Outra mãe que estava ao meu lado comentou:

– Que coisa triste ter que vender tudo que se tem.

– Não é não, respondi, já passei por isso e é uma lição de vida.

Morei uma época no Chile e, na hora de voltar ao Brasil, trouxe comigo apenas umas poucas gravuras, uns livros e uns tapetes.

O resto, eu vendi tudo, e por tudo entenda-se: fogão, camas, louça, liquidificador, sala de jantar, aparelho de som, tudo o que compõe uma casa.

Como eu não conhecia muita gente na cidade, meu marido anunciou o bazar no seu local de trabalho e esperamos sentados que alguém a parecesse. Sentados no chão.

O sofá foi o primeiro que se foi. Às vezes o interfone tocava às 11 da noite, era alguém que tinha ouvido comentar que ali estava se vendendo uma estante.

Eu convidava pra subir e em dez minutos negociávamos um belo desconto. Além disso, eu sempre dava um abridor de vinho ou um saleiro de brinde, e lá se iam meus móveis e minhas bugigangas.

Um troço maluco: estranhos entravam na minha casa e desfalcavam o meu lar, que a cada dia ficava mais nu.
No penúltimo dia, ficamos somente com o colchão no chão, a geladeira e a tevê.

No último, só com o colchão, que o zelador comprou e, compreensivo, topou esperar a gente ir embora antes de buscar. Ganhou de brinde os travesseiros.

Guardo esses últimos dias no Chile como o momento da minha vida em que aprendi a irrelevância de quase tudo o que é material. Nunca mais me apeguei a nada que não tivesse valor afetivo.

Deixei de lado o zelo excessivo por coisas que foram feitas apenas para se usar, e não para se amar. Hoje me desfaço com facilidade de objetos, enquanto isto, que se torna cada vez mais difícil me afastar de pessoas que são ou foram importantes, não importa o tempo que elas estiveram presentes na minha vida.

Desejo para essa mulher, que está vendendo suas coisas para voltar aos Estados Unidos, a mesma emoção que tive na minha última noite no Chile. Dormimos no mesmo colchão, eu, meu marido e minha filha, que na época tinha dois anos de idade. As roupas já estavam guardadas nas malas. Fazia muito frio.

Ao acordarmos, uma vizinha simpática nos ofereceu o café da manhã, já que não tínhamos nem uma xícara em casa.
Fomos embora carregando apenas o que havíamos vivido, levando as emoções todas: nenhuma recordação foi vendida ou entregue como brinde.

Não pagamos excesso de bagagem e chegamos aqui com outro tipo de leveza:

“Só possuímos na vida o que dela pudermos levar ao partir”. É melhor refletir e começar a trabalhar o DESAPEGO JÁ!
Não são as coisas que possuímos ou compramos que representam riqueza, plenitude e felicidade.

São os momentos especiais que não tem preço, as pessoas que estão próximas da gente e que nos amam, a saúde, os amigos que escolhemos, a nossa paz de espírito.

Martha Medeiros

Crônicas, parte da herança deixada por Rubem Alves

Crônicas, parte da herança deixada por Rubem Alves

Crônicas, fotos, simplicidade e saudade. Esses são alguns dos itens físicos e afetivos do acervo pessoal que o escritor, teólogo, psicanalista e educador Rubem Alves deixou, segundo a filha caçula dele, Raquel Alves. De Campinas (SP), onde vive, a arquiteta concedeu entrevista ao Hoje em Dia, e diz que assumiu de vez a direção do instituto que leva o nome do pai dela. O local será adaptado para abrir as portas ao grande público, a exemplo de outras instituições mundo afora que perpetuam a mensagem de escritores.

Mineiro de Boa Esperança, Rubem Alves morreu há seis meses, aos 80 anos, em um hospital em Campinas em decorrência de falência múltipla dos órgãos. Raquel diz que os textos inéditos deixados pelo pai ainda estão sendo analisados. Porém, ela acredita que o material contém escritos pré-existentes, que foram remanejados por Rubem. A família planeja outras publicações, ainda em sigilo.

Raquel lembra que o pai começou a escrever as histórias infantis inspirado nas dores que ela sofria. “Nasci com lábio leporino. Ele escrevia para me acalentar. ‘A Operação de Lili’, ele leu para mim quando eu estava num pré-cirúrgico. Ele via que eu estava com medo e a história brotava”. “A Menina e o Pássaro Encantado’ é outro livro feito para mim, pois ele viajava muito. Como fez mestrado e doutorado nos Estados Unidos, antes de eu nascer, meu pai já tinha muito vínculo por lá e já era respeitado e reconhecido, por isso, era sempre convidado para dar cursos”, lembra.

Raquel tinha 6 anos e chorava muito reclamando a ausência do pai. “Diante da ligação que tínhamos, nasceu esse livro, para que ele me explicasse a saudade”. “Em 1959, me casei e vieram os filhos Sérgio e Marcos. Em 1975, nasceu minha filha Raquel. Inventando estórias para ela, descobri que eu podia escrever estórias para crianças”, declarou o escritor mineiro, certa vez. A partir dessas temáticas de amor e simplicidade é que os livros de Rubem foram conquistando leitores mundo afora. Até agora, estima-se que o escritor tenha vendido mais de 3 milhões de exemplares, dos 138 títulos publicados. Os livros dele estão em 12 países.

“Simplicidade. Essa é a espinha-dorsal de todo legado que ele deixou. Meu pai escrevia aquilo que o coração pedia”, diz Raquel. Em um dos mais conhecidos textos de Rubem, o escritor sintetiza esta “simplicidade” diante da vida pela fala do garoto de uma escola, reproduzida para para ele, pela professora do menino: “Mas a melhor resposta à pergunta ‘quem é Rubem Alves?’ foi um menininho que deu: ‘Rubem Alves é um homem que gosta de ipês amarelos'”.

Veja a entrevista na íntegra:

A vida já se acalmou depois da morte do seu pai?

Uma parte, sim. Mas a parte sentimental ainda não. Ainda preciso aprender a viver o dia a dia sem ele. Segunda-feira (19/01) fez seis meses da morte dele. A partida do meu pai foi uma transformação aqui no Instituto Rubem Alves. Ainda contávamos com a ajuda dele. A gente tem material para trabalhar, só que quando ele faleceu, tudo mudou. O Instituto não é mais a representação dele. Agora, é a personificação, a continuidade dele.

Você largou definitivamente a arquitetura para cuidar do Instituto?

Definitivamente é muito forte. Eu, agora, estou aqui. Foi um processo natural. Antes de ele falecer, eu dividia as duas atividades, a presidência com a arquitetura.

Você tem mais dois irmãos homens mais velhos, com outras profissões, mas o fato de você ter assumido o instituto sozinha denota alguma relação específica sua com a obra de Rubem Alves?

Tem toda relação. Foi o meu nascimento que, vamos dizer, fez a transformação do meu pai. A partir do meu nascimento que ele começou a escrever para valer. Até então ele escrevia de forma acadêmica. Então ele começou a escrever aquilo que dizia respeito ao coração. E quando alguém escreve assim, muda a linguagem. Esta foi a grande transformação.

O Drummond também tinha uma ligação afetiva inexplicável com a filha dele…

E eu uma ligação inexplicável com meu pai também.

Seus irmãos nunca ficaram com um pouco enciumados com a relação sua com seu pai?

(Risos). Não, não… Quando eu nasci, meus irmãos já eram adolescentes, 14 e 16 anos. Já era uma outra natureza. A atenção que eu tinha era específica para a minha idade, e eles tinham a atenção deles.

E você pegou um pai já maduro…

Claro. Isso faz toda a diferença. Ele já tinha 42 anos. Eu nasci com lábio leporino. Tive os meus desafios de cirurgia. Sei lá quantas… O meu pai começou a escrever as histórias infantis inspirado nas minhas dores de criança. Ele escrevia para me acalentar. “A Operação de Lili”, ele leu para mim quando eu estava num pré-cirúrgico. Ele via que eu estava com medo e a história brotava…

É bonito isso…

É bonito, sim. “A Menina e o Pássaro Encantado” é outro livro que nasceu assim. Ele viajava muito. Ele fez mestrado e doutorado nos Estados Unidos, antes de eu nascer, por isso, ele já tinha muito vínculo por lá. Quando eu nasci, ele já era respeitado e reconhecido naquele meio e, por isso, era sempre convidado para dar cursos. Ele passava dois três meses lá como professor convidado. Eu tinha 6, 7 anos, imagine? Eu chorava muito diante de toda a ligação que a gente tinha. Por isso, nasceu este livro para que ele me explicasse a saudade.

E estas histórias foram conquistando milhões de pessoas mundo afora.

Eu não gosto de falar que ele partiu, falo que ele “se encantou”. A gente vai ter saudade eterna, mas as histórias dele ainda estão aqui. Agora não sou apenas eu aquela menina, mas todos leitores que o amam. O status de “a menina” deste livro, eu reparto com o mundo inteiro.

São quantos títulos?

Foram 138 livros. Mas, agora, disponíveis no mercado, são 90. Ele vendeu mais de 3 milhões de livros.

Ele deixou algum livro inédito?

Isso ainda a gente não sabe responder. Ficou um material no computador dele, que ele dizia que era inédito, mas o nosso palpite é seja algum remanejamento. São crônicas. Esse material ainda está em análise.

É verdade que ele estava escrevendo uma biografia?

Havia um plano para outra pessoa escrever, mas a editora cortou.

E o acervo do seu pai?

Vai ficar aqui no Instituto. A gente está aqui para consolidar a história dele. Livros, gravações e objetos pessoais estão aqui. O que a gente tirou do apartamento e já está tudo aqui, incluindo os livros da biblioteca particular dele, com autores que influenciaram o pensamento dele, os poetas que ele amava. Ele já tinha feito uma triagem deste livros. Sobrou somente aquilo que era essencial para o coração dele.

O seu pai tinha muita simplicidade para escrever, mas ele chegou a ser criticado por isso, como se fosse uma literatura menor.

Esta é a palavra-chave: a simplicidade. Esta é a espinha-dorsal de todo legado que ele deixou, do pensamento, da linguagem e do humanismo dele. É o que eu falei, ele escrevia aquilo que o coração dele pedia. Ele não entrava em nenhum “ismo”. Essas pessoas parecem que têm a necessidade de catalogar e ele não tinha estilo. O estilo dele era o do coração. Ele estava preocupado com a essência.

Vocês pretendem abrir o Instituto para visitação, como se fosse um ponto turístico em Campinas?

Nós pretendemos ter visitas para o público, sim, até com oficinas, porém, mais para frente. Pelo menos daqui um ano e meio.

A exemplo da Casa de Cultura Mário Quintana, em Porto Alegre?

Isso mesmo. A ideia está sendo lapidada. Ele tinha a preocupação do que iria acontecer com a obra dele. Parece que ele partiu sossegado sabendo que a obra dele iria continuar. Há algumas fotos pessoais que estou guardando para quando o Instituto for aberto ao público.

A fonte indicada é um site cujo conteúdo sempre recomendamos em virtude da seriedade e coerência: Hoje em dia

Dica de livro: Sete Vezes Rubem (Fruto do trabalho de uma década, esta obra reúne sete livros de Rubem Alves publicados pela Papirus entre 1996 e 2005.)

“Para quando eu me for”, um texto para quem não tem medo de se emocionar

“Para quando eu me for”, um texto para quem não tem medo de se emocionar

Morrer é uma surpresa. Sempre. Nunca se espera. Nem mesmo o paciente terminal acha que vai morrer hoje ou amanhã. Na semana que vem talvez, mas apenas se a semana que vem continuar sendo na semana que vem.

Nunca se está pronto. Nunca é a hora. Nunca vamos ter feito tudo o que queríamos ter feito. O fim da vida sempre vem de surpresa, fazendo as viúvas chorarem e entediando as crianças que ainda não entendem o que é um velório (Graças a Deus).

Com meu pai não foi diferente. Na verdade, foi mais inesperado. Meu pai se foi com 27 anos, a idade que leva muitos músicos famosos. Jovem. Moço demais. Meu pai não era músico nem famoso, o câncer parece não ter preferência. Ele se foi quando eu ainda era novo, descobri o que era um velório justamente com ele. Eu tinha 8 anos e meio, o suficiente pra sentir saudade pelo resto da vida. Se ele tivesse morrido antes, não haveriam lembranças. Nem dor. Mas também não haveria um pai na minha história. E eu tive um pai.

Tive um pai que era duro e divertido. Que me colocava de castigo com uma piadinha pra não me magoar. Que me dava um beijo na testa antes de dormir. Hábito esse que eu levei para os meus filhos. Que me obrigou a amar o mesmo time que ele e que explicava as coisas de um jeito melhor que a minha mãe. Sabe? Um pai desses que faz falta.

Ele nunca me disse que ia morrer, nem quando já estava deitado cheio de tubos. Meu pai fazia planos para o ano que vem mesmo sabendo que não veria o próximo mês. No ano que vem iríamos pescar, viajar, visitar lugares que nenhum de nós conhecia. O ano que vem seria incrível. Eu vivi esse sonho com ele.

Acho, tenho certeza na verdade, que ele pensava que isso daria sorte. Supersticioso. Pensar no futuro era o jeito dele se manter otimista. O desgraçado me fez rir até o final. Ele sabia. Ele não me contou. Ele não me viu chorar a sua perda.

E de repente o ano que vem acabou antes de começar.

Minha mãe me pegou na escola e fomos ao hospital. O médico deu a notícia com toda a sensibilidade que um médico deixa de ter com os anos. Minha mãe chorou. Ela também tinha um pingo de esperança. Como disse antes, todo mundo tem. Eu senti o golpe. Como assim? Não era só uma doença normal dessas que a gente toma injeção? Pai, como eu te odiei. Você mentiu pra mim. Não fiquei triste, pai, fiquei com raiva. Me senti traído. Gritei de raiva no hospital até perceber que meu pai não estava lá pra me colocar de castigo. Chorei.

Mas aí meu pai foi meu pai de novo. Trazendo uma caixa de sapato debaixo dos braços, uma enfermeira veio me consolar. Dentro, dezenas de envelopes lacrados com frases escritas onde deveriam ficar os nomes dos destinatários. Entre as lágrimas e os soluços não consegui entender direito o que estava acontecendo. E então a mesma enfermeira me entregou uma carta. A única fora da caixa.

“Seu pai me pediu pra entregar essa pessoalmente e te dizer pra abrir. Ele passou a semana inteira escrevendo tudo isso e disse que era pra você. Seja forte.” Disse a enfermeira com um abraço.

contioutra.com - "Para quando eu me for", um texto para quem não tem medo de se emocionar
Por smallblackcat/shutterstock

PARA QUANDO EU ME FOR dizia o envelope que ela me entregou. Abri.

Filho,

Se você está lendo eu morri. Desculpa, eu sabia.

Não queria te dizer que ia acontecer, não queria te ver chorar. Parece que consegui. Acho que um homem prestes a morrer tem o direito de ser um pouco egoísta.

Bom, como eu ainda tenho muito pra te ensinar, afinal você não sabe de nada, deixei essas cartas. Você só pode abrir quando o momento certo chegar, o momento que eu escrevi no envelope. Esse é o nosso combinado, ok?

Eu te amo. Cuida da sua mãe, você é o homem da casa agora.

Beijo, pai.

PS: Não deixei cartas para sua mãe, ela já ficou com o carro.

E com aqueles garranchos, afinal naquela época não era tão fácil imprimir como é hoje em dia, ele me fez parar de chorar. Aquela letra porca que uma criança de 8 anos mal entendia (eu, no caso) me acalmou. Me arrancou um riso do rosto. Esse era o jeito do meu pai de fazer as coisas. Que nem o castigo com uma piadinha para aliviar.

Aquela caixa se tornou a coisa mais importante do mundo. Proibi minha mãe de abrir, de ler. Mas elas eram minhas, só pra mim. Sabia decorado todos os momentos da vida em que eu poderia abrir uma carta e ler o que meu pai tinha deixado. Só que esses momentos demoraram muito pra chegar. E eu esqueci.

Sete anos e uma mudança depois eu não tinha ideia de onde a caixa tinha ido parar. Eu não lembrava dela. Algo que você não lembra não faz falta. Se você perdeu algo da sua memória, você não perdeu. Simplesmente não existe. Como dinheiro que depois você acha no bolso da bermuda.

E então aconteceu. Uma mistura de adolescência com o novo namorado da minha mãe desencadeou o que meu pai sabia que um dia aconteceria. Minha mãe teve vários namorados, sempre entendi. Ela nunca casou de novo. Não sei ao certo o motivo, mas gosto de acreditar que o amor da vida dela tinha sido meu pai. Mas esse namorado era ridículo. Eu sentia que ela se rebaixava pra ele. Que ele fazia pouco da mulher que ela era. Que uma mulher como ela merecia algo melhor do que um cara que ela tinha conhecido no forró.

Me lembro até hoje do tapa que veio acompanhado da palavra “forró”. Eu mereci, admito. Os anos me mostraram isso. Na hora, enquanto a pele da minha bochecha ardia, lembrei da minha caixa e das minhas cartas. De uma carta em específico que dizia PARA QUANDO VOCÊ TIVER A PIOR BRIGA DO MUNDO COM A SUA MÃE.

Corri para o quarto e revirei minhas coisas o suficiente para levar outro tapa na cara da minha mãe. Encontrei a caixa dentro de uma mala de viagem na parte de cima do armário. O limbo. Procurei entre os envelopes. Passei por PARA QUANDO VOCÊ DER O PRIMEIRO BEIJO e percebi que havia pulado essa, me odiei um pouco e decidi que a leria logo depois, e por PARA QUANDO VOCÊ PERDER A VIRGINDADE, uma que eu esperava abrir logo, logo. Achei o que procurava e abri.

Pede desculpa.

Eu não sei o motivo da briga e nem quem tem razão. Mas eu conheço a sua mãe. Então a melhor maneira de resolver isso é com um humilde pedido de desculpas. Do tipo rabinho entre as pernas.

Ela é sua mãe, cara. Te ama mais do que tudo nessa vida. Sabe, ela escolheu parto normal porque alguém disse que era melhor pra você. Você já viu um parto normal? Pois é, quer demonstração de amor maior que essa?

Pede desculpa. Ela vai te perdoar. Eu não seria tão bonzinho.

Beijo, pai.

Meu pai passava longe de um escritor, era bancário, mas as palavras dele mexeram comigo. Havia mais maturidade nelas do que nos meus quatorze anos de vida. O que não era muito difícil por sinal.

Corri para o quarto da minha mãe e abri a porta. Já estava chorando quando ela, chorando também, virou a cabeça pra me olhar nos olhos. Não lembro o que ela gritou pra mim, algo como “O que você quer?”, mas lembro que andei até ela e a abracei, ainda segurando a carta do meu pai. Amassando o papel já velho entre os meus dedos. Ela me abraçou de volta e ficamos em silêncio por não sei quantos minutos.

A carta do meu pai fez ela rir alguns momentos depois. Fizemos as pazes e conversamos um pouco sobre ele. Ela me contou umas manias estranhas que ele tinha, como comer salame com geleia de morango. De algum modo, senti que ele estava ali. Eu, minha mãe e um pedaço do meu pai, um pedacinho que ele deixou naquele papel. Que bom.

Não demorou muito e li PARA QUANDO VOCÊ PERDER A VIRGINDADE.

Parabéns, filho.

Não se preocupa, com o tempo a coisa fica melhor. Toda primeira vez é um lixo. A minha foi com a puta mais feia do mundo, por exemplo.

Meu maior medo é você ler o envelope e perguntar da sua mãe antes da hora o que é virgindade. Ou pior, ler o que eu acabei de escrever sem nem saber o que é punheta (você sabe, não sabe?). Mas isso também não será problema meu, não é mesmo?

Beijo, pai.

Meu pai acompanhou minha vida toda. De longe, sim, mas acompanhou. Em incontáveis momentos suas palavras me deram aquela força que ninguém mais conseguia dar. Ele sempre dava um jeito de me arrancar um sorriso em um momento de tristeza ou de clarear meus pensamentos num momento de raiva.

PARA QUANDO VOCÊ CASAR me emocionou, mas não tanto quanto PARA QUANDO EU FOR AVÔ.

Filho, agora você vai descobrir o que é amor de verdade. Vai descobrir que você gosta bastante da sua mulher, mas que amor mesmo é o que você vai sentir por essa coisinha aí que eu não sei se é ele ou ela. Sou um cadáver, não um vidente.

Aproveita. É a melhor coisa do mundo. O tempo vai passar rápido, então esteja presente todos os dias. Não perca nenhum momento, eles não voltam mais. Troque as fraldas, dê banho, sirva de exemplo. Acho que você tem condições de ser um pai tão incrível quanto eu.

A carta mais dolorida da minha vida foi também a mais curta do meu pai. Acredito que ele sofreu para escrever aquelas quatro palavras o mesmo que eu sofri por ter vivido aquele momento. Demorou, mas um dia eu tive que ler PARA QUANDO SUA MÃE SE FOR.

Ela é minha agora.

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Por Olena Yakobchuk/shutterstock

Uma piada. Um palhaço triste que esconde o choro por trás do sorriso de maquiagem. Foi a única carta que não me arrancou um sorriso, mas entendi a razão.

Eu sempre respeitei o combinado com meu pai. Nunca li nenhuma carta antes do momento certo. Tirando PARA QUANDO VOCÊ SE DESCOBRIR GAY, claro. Nunca acreditei que o momento de ler essa carta chegaria, então abri muitos anos atrás. Ela foi uma das mais engraçadas, por sinal.

O que eu posso dizer? Ainda bem que morri.

Deixando as brincadeiras de lado e falando sério (é raro, aproveita). Agora semimorto eu vejo que a gente se importa muito com coisas que não importam tanto. Você acha que isso muda alguma coisa, filho?

Não seja bobo, seja feliz.

Sempre esperei muito pelo próximo momento. Pela próxima carta. Pela próxima lição que meu pai tinha pra me dar. Incrível como um homem que viveu 27 anos teve tanto pra ensinar pra um senhor de 85 como eu.

Agora, deitado na cama do hospital, com tubos no nariz e na traqueia (maldito câncer), eu passo os dedos por cima do papel desbotado da última carta. PARA QUANDO SUA HORA CHEGAR o garrancho quase invisível diz.

Não quero abrir. Tenho medo. Não quero acreditar que a minha hora chegou. Esperança, lembra? Ninguém acredita que vai morrer hoje.

Respiro fundo e abro.

Oi, filho, espero que você seja um velho agora.

Sabe, essa foi a carta mais fácil de escrever. A primeira que eu escrevi. A carta que me livrou da dor de te perder. Acho que estar perto do fim clareia a cabeça pra falar sobre o assunto.

Nos meus últimos dias eu pensei na vida que eu levei. Na minha curta vida, sim, mas que me fez muito feliz. Eu fui seu pai e marido da sua mãe. O que mais eu poderia querer? Isso me deu paz. Faça o mesmo.

Um conselho: não precisa ter medo.

PS: Tô com saudade.

Por Rafael Zoehler, via Medium.

Artigo reproduzido com autorização

Envelhecer, por Albert Camus

Envelhecer, por Albert Camus

Envelhecer

“Envelhecer é o único meio de viver muito tempo.

A idade madura é aquela na qual ainda se é jovem, porém com muito mais esforço.

O que mais me atormenta em relação às tolices de minha juventude, não é havê-las cometido…é sim não poder voltar a cometê-las.

Envelhecer é passar da paixão para a compaixão.

Muitas pessoas não chegam aos oitenta porque perdem muito tempo tentando ficar nos quarenta.

Aos vinte anos reina o desejo, aos trinta reina a razão, aos quarenta o juízo.

O que não é belo aos vinte, forte aos trinta, rico aos quarenta, nem sábio aos cinquenta, nunca será nem belo, nem forte, nem rico, nem sábio…

Quando se passa dos sessenta, são poucas as coisas que nos parecem absurdas.

Os jovens pensam que os velhos são bobos; os velhos sabem que os jovens o são.

A maturidade do homem é voltar a encontrar a serenidade como aquela que se usufruía quando se era menino.

Nada passa mais depressa que os anos.

Quando era jovem dizia:

“verás quando tiver cinqüenta anos”.

Tenho cinqüenta anos e não estou vendo nada.

Nos olhos dos jovens arde a chama, nos olhos dos velhos brilha a luz.

A iniciativa da juventude vale tanto a experiência dos velhos.

Sempre há um menino em todos os homens.

A cada idade lhe cai bem uma conduta diferente.

Os jovens andam em grupo, os adultos em pares e os velhos andam sós.

Feliz é quem foi jovem em sua juventude e feliz é quem foi sábio em sua velhice.

Todos desejamos chegar à velhice e todos negamos que tenhamos chegado.

Não entendo isso dos anos: que, todavia, é bom vivê-los, mas não tê-los.”

Albert Camus

Oração do Milho, por Cora Coralina

Oração do Milho, por Cora Coralina

Oração do Milho

Senhor, nada valho.

Sou a planta humilde dos quintais pequenos

e das lavouras pobres.

Meu grão, perdido por acaso,

nasce e cresce na terra descuidada.

Ponho folhas e haste, e, se me ajudardes, Senhor,

mesmo planta de acaso, solitária,

dou espigas e devolvo em muitos grãos

o grão perdido inicial, salvo por milagre,

que a terra fecundou.

Sou a planta primária da lavoura.

Não me pertence a hierarquia tradicional do trigo,

de mim não se faz o pão alvo universal.

O justo não me consagrou Pão de Vida

nem lugar me foi dado nos altares.

Sou apenas o alimento forte e substancial

dos que trabalham a terra,

alimento de rústicos e animais de jugo.

Quando os deuses da Hélade corriam pelos bosques,

coroados de rosas e de espigas,

e os hebreus iam em longas caravanas

buscar na terra do Egito o trigo dos faraós,

quando Rute respigava cantando nas searas de Booz

e Jesus abençoava os trigais maduros,

eu era apenas o bró nativo das tabas ameríndias.

Fui o angu pesado e constante do escravo

na exaustão do eito.

Sou a broa grosseira e modesta do pequeno sitiante.

Sou a farinha econômica do proprietário, sou a polenta

do imigrante e a amiga dos que começam a vida

em terra estranha.

Alimento de porcos e do triste mu de carga,

o que me planta não levanta comércio,

nem avantaja dinheiro.

Sou apenas a fartura generosa

e despreocupada dos paióis.

Sou o cocho abastecido donde rumina o gado.

Sou o canto festivo dos galos

na glória do dia que amanhece.

Sou o cacarejo alegre das poedeiras

à volta dos ninhos.

Sou a pobreza vegetal agradecida a vós,

Senhor,

que me fizestes necessário e humilde.

Sou o milho!

Cora Coralina

“Nomes são gaiolas”, é o que diz Rubem Alves nessa crônica sobre a função dos nomes

“Nomes são gaiolas”, é o que diz Rubem Alves nessa crônica sobre a função dos nomes

Meu amigo Amilcar Herrera é um homem sábio. Isso é surpreendente, considerando-se que ele é um cientista. O fato é que ciência e sabedoria são coisas muito diferentes. Ciência é conhecimento do mundo. Sabedoria é conhecimento da vida. A exuberância do conhecimento científico vai, frequentemente, lado a lado com uma total penúria de sabedoria. Nisso o conhecimento científico pode ficar parecido com aquela praga conhecida pelo nome de “erva-de-passarinho”, uma parasita terrível que se aloja nos troncos das árvores e, à medida que cresce, a árvore morre. Estou cansado de ver Ph.Ds tolos.

Uma das características das palavras do sábio é que elas sempre nos surpreendem. Guimarães Rosa cita um intrigante aforismo que diz assim: “Aquilo que vou saber sem saber eu já sabia”. Mas não sabia. Sabia sem palavras. Aí o sábio abre a boca e a gente se surpreende por ouvir dito aquilo que já morava adormecido no silêncio do corpo. O  Amílcar falou e eu me surpreendi. Ele me disse:

Rubem, eu tenho um sonho. Sonho que um dia qualquer eu vou acordar e vou ter esquecido o meu nome. Quem sou eu? – eu vou me perguntar. E eu não saberei o que responder. Não terei memória do meu nome. O ruim é quando a gente esquece o nome, mas os outros continuam a saber quem somos. Aí os psiquiatras dizem que tivemos um ataque de amnésia. E tratam de nos curar, de fazer-nos lembrar o nome para que saibamos quem somos. O nome é uma gaiola onde o que somo mora. Declaram-nos curados quando o nosso ser aparece de novo dentro da gente. Aí eles teriam perdido a memória da gaiola que prendia o nosso ser. E o nosso ser transformaria em pássaro e voaria livre por espaços por onde nunca havia voado. O nome é uma prisão. 

É preciso confessar que não foram essas, precisamente, as palavras do Amílcar. Faz muito tempo que tivemos essa conversa. Mas foram essas as associações que sua declaração provocou em mim. Eisso que ele falou, coisa na qual eu nunca havia pensado, foi para mim uma revelação. Vi repentinamente, o que eu nunca tinha visto. É isso mesmo. Nomes são gaiolas. Neles se guardam as coisas que fizemos. Existem até os currículos, gaiolas que já fizemos. Aí, com base naquilo que já fizemos, as pessoas e nós mesmos imaginamos aquilo que se pode esperar da gente.

Peirce, lógico respeitável, no seu ensaio sobre “Como tornar claras as nossas idéias”, oferece-nos a seguinte fórmula para nos ajudar a ter clareza sobre a natureza de um objeto qualquer: “Considere quais os efeitos práticos que imaginamos que esse objeto possa ter. Então, a soma desses efeitos é o que é o nosso conceito desse objeto”. Exemplificando: o objeto “galinha” – que efeitos práticos, em nosso pensamento, são invocados por esse nome? Respondo: cacarejo, ninho, ovo, cocô, ciscar na terra, molho pardo, canja etc. Esses efeitos práticos, somados, são aquilo que, na minha cabeça, está contido dentro do nome “galinha”. Aí eu pergunto: “Como foi que cheguei a associar esses efeitos práticos ao nome galinha?”. Resposta: “Pela minha experiência passada com essa entidade penosa cacarejante”.O nome, assim, é um saco onde se deposita a experiência passada. E é baseado nessa experiência que se conclui sobre o que esperar no futuro. Ninguém vai imaginar que uma galinha vai contar como pintassilgo, nem que vai botar ovos azuis, nem que vai fazer ninhos parecidos com os dos beija-flores. Galinha e galinha, para todo o sempre. Está dito no nome.

Isso que foi dito sobre a galinha vale para tudo. Para as pessoas também. Quando o meu nome é pronunciado, eu sou imediatamente informado do que fiz no passado. E, ao ser informado, pelo som enfeitiçador do meu nome, daquilo que se fiz no passado, sou também informado do meu ser e daquilo que se espera de mim no futuro. O nome, assim, obriga-me a ser de um jeito que se espera. O nome contém o programa do meu ser.

O Amilcar sabia das coisas. Imagino que aquela confissão – “Sonho que, um dia qualquer, eu vou acordar e vou ter esquecido o meu nome…” -, imagino que essa confissão nasceu de uma dor, a mesma dor que Álvaro de Campos colocou num verso: “Sou o intervalo entre o que desejo ser e o que os outros me fizeram”. Ele acorda numa manhã, com vontade sei lá de quê ´há pessoas cuja presença numa feira ou numa igreja é impensável, não combina; o lindo cirurgião de roupa branca, ele é impensável numa feira, comprando cebolas, de bermudas e sandálias, e também não se pode imaginar que o professor de economia ateu confesso ponha-se a chamar por Santa Bárbara no meio da tempestade de raios (sobre as invocações a Santa bárbara vale ser o Alberto Caeiro). Pois imagino que o Amilcar acordou com um desejo estranho qualquer, não previsto no seu nome, desejo que nunca tivera, ou que sempre tivera, mas cujo reconhecimento fora sempre proibido pelo seu nome. Mas logo veio a interdição: “Essa ação não é permitida pelo nome Amílcar Herrera. Essa ação não está prevista no programa Amílcar Herrera”.

Compreendi, então, o curioso costume de um povo primitivo que sempre dá dois nomes às pessoas. O primeiro deles é o nome igual ao nosso, anunciado, falado, escrito, conhecido, a gente grita o nome e a pessoa responde, o nome é falado e todo mundo sabe sobe quem estamos falando. O outro nome só a própria pessoa sabe. O primeiro nome é nome falso, apenas para efeitos práticos, uma mentira socialmente necessária. O outro nome, secreto, é o lugar onde mora o meu ser verdadeiro, que é muito diferente do outro. Assim, por meio desse artifício, todo mundo sabe que ninguém está preso dentro de uma gaiola de sons, que não se pode exigir que a pessoa seja, no futuro, aquilo que foi guardado no saco do nome, no passado. Cada pessoa tem, dentro de se, um segredo, um mistério. Cada burrinho pedrês tem, dentro de si, um cavalo selvagem. Cada pato doméstico te, dentro de si, um ganso selvagem. Cada velho tem, dentro de si, uma criança que deseja brincar.

Acho que era isso que o Amílcar estava dizendo:

Se eu esquecer o meu nome e se os outros não exigirem que eu continue a ser o que sempre fui, então alguma coisa nova poderá nascer da velha: uma fonte no deserto. Afinal de contas, esta é a suprema promessa do evangelho: que os velhos nascerão de novo e virarão crianças.

Dica de livro: Sete Vezes Rubem (Fruto do trabalho de uma década, esta obra reúne sete livros de Rubem Alves publicados pela Papirus entre 1996 e 2005.)

O Melhor Amigo – crônica de Fernando Sabino

O Melhor Amigo – crônica de Fernando Sabino

A mãe estava na sala, costurando. O menino abriu a porta da rua, meio ressabiado, arriscou um passo para dentro e mediu cautelosamente a distância. Como a mãe não se voltasse para vê-lo, deu uma corridinha em direção de seu quarto.

– Meu filho? – gritou ela.

– O que é – respondeu, com o ar mais natural que lhe foi possível.

– Que é que você está carregando aí?

Como podia ter visto alguma coisa, se nem levantara a cabeça? Sentindo-se perdido,tentou ainda ganhar tempo.

– Eu? Nada…

– Está sim. Você entrou carregando uma coisa.

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Pronto: estava descoberto. Não adiantava negar – o jeito era procurar comovê-la.Veio caminhando desconsolado até a sala, mostrou à mãe o que estava carregando:

– Olha aí, mamãe: é um filhote…

Seus olhos súplices aguardavam a decisão.

– Um filhote? Onde é que você arranjou isso?

– Achei na rua. Tão bonitinho, não é, mamãe?

Sabia que não adiantava: ela já chamava o filhote de isso. Insistiu ainda:

– Deve estar com fome, olha só a carinha que ele faz.

– Trate de levar embora esse cachorro agora mesmo!

– Ah, mamãe… – já compondo uma cara de choro.

– Tem dez minutos para botar esse bicho na rua. Já disse que não quero animais aqui em casa. Tanta coisa para cuidar, Deus me livre de ainda inventar uma amolação dessas.

O menino tentou enxugar uma lágrima, não havia lágrima. Voltou para o quarto, emburrado:

A gente também não tem nenhum direito nesta casa – pensava. Um dia ainda faço um estrago louco. Meu único amigo, enxotado desta maneira!

– Que diabo também, nesta casa tudo é proibido! – gritou, lá do quarto, e ficou
esperando a reação da mãe.

– Dez minutos – repetiu ela, com firmeza.

– Todo mundo tem cachorro, só eu que não tenho.

– Você não é todo mundo.

– Também, de hoje em diante eu não estudo mais, não vou mais ao colégio, não
faço mais nada.

– Veremos – limitou-se a mãe, de novo distraída com a sua costura.

– A senhora é ruim mesmo, não tem coração!

– Sua alma, sua palma.

Conhecia bem a mãe, sabia que não haveria apelo: tinha dez minutos para brincar com seu novo amigo, e depois… ao fim de dez minutos, a voz da mãe, inexorável:

– Vamos, chega! Leva esse cachorro embora.

– Ah, mamãe, deixa! – choramingou ainda: – Meu melhor amigo, não tenho mais
ninguém nesta vida.

– E eu? Que bobagem é essa, você não tem sua mãe?

– Mãe e cachorro não é a mesma coisa.

– Deixa de conversa: obedece sua mãe.

Ele saiu, e seus olhos prometiam vingança. A mãe chegou a se preocupar: meninos nessa idade, uma injustiça praticada e eles perdem a cabeça, um recalque, complexos, essa coisa.

– Pronto, mamãe!

E exibia-lhe uma nota de vinte e uma de dez: havia vendido seu melhor amigo por trinta dinheiros.

– Eu devia ter pedido cinqüenta, tenho certeza que ele dava murmurou, pensativo.

Ah! Música – Essa linguagem universal dos sons

Ah! Música – Essa linguagem universal dos sons

Por Paula Peregrina

A música. Esta entidade etérea que se manifesta no ar, incapturável, dispensa a linguagem de códigos e conversa na língua dos sons. Esta, mesmo quando dotada de letra não precisa ser explicada. Causa sensações. Diferente de tantas outras formas de arte, seja a literatura, o cinema, a pintura, o desenho, a escultura, ou o que for, é muito mais raro topar com alguém que pergunte: “o que essa música quer dizer?” do que acontece com qualquer outra forma de arte. Talvez a grande diferença esteja no fato de que a música interage com os ouvidos, com as sensações – vibrações.

As crianças, por exemplo, perguntam sobre as coisas que veem. São categóricos nos discursos infantis perguntas como: “por que o céu é azul?”; “Por que aquela moça é tão feia?”; “Por que aquela pessoa não tem o braço?”; “Por que as pessoas são de cores diferentes?”, e por aí vai. São perguntas feitas pelos olhos, e estes apreendem rótulos que os ouvidos ignoram. Os ouvidos são mais receptivos. Encontram respostas e, logo, se calam. É certo que seja bem menos comum que uma criança pergunte: “Por que o som do violino é diferente do som do violão?”; “Por que as pessoas têm vozes diferentes?”; “Por que o mar faz esse barulho?”. Por alguma razão, as interrogações dos ouvidos parecem ser silenciosas ou não incomodarem tanto quanto as questões dos olhos a ponto de serem manifestas. Não se fala de uma pessoa que ela é “uma pessoa de audição” com a mesma conotação qualitativa com que se fala que ela “é uma pessoa de visão”. No entanto, de que vale a alta e clara vista sem a escuta?

É como se os olhos tivessem em sua composição lentes de interrogação e logo nos questionássemos sobre tudo o que vemos. Já os ouvidos, seletivos, identificam instintivamente os ruídos ritmados, das percussões de antigas religiões aos lamentos vocalizados, dos gemidos de dor e prazer à combinação de instrumentos – hipnotizam. E quem ousa perguntar o que dizia o canto das sereias? – A música diz tanto que não importa o que quer dizer. Entretanto, enquanto presente no sistema de decodificação do verbo, dos códigos linguísticos, ouvido é parte que ouve e questiona palavras ditas, ouvidas, escritas, entidades de som e imagem consecutivas: fogem à singularidade da escuta. Racionalizam os gestos. Olhouvido.

Todavia, todos escutam música, todos entendem música, e essa compreensão talvez resida justamente no fato de não perguntarem sobre ela. Pode-se até buscar a tradução da letra de uma melodia adorada quando cantada em outra língua, mas isto diz da narrativa contida na música, e não daquilo que a levou ser amada: o som, o ritmo, os silêncios que paradoxalmente a faz ser o que é. O som é imponente, se coloca diante de nós simples mortais, sem permitir que se questione demais. Aos que a isso se arriscam, bem, se não, deveriam sempre se tornarem músicos.

Entidade indizível, habitante do movimento incessante e invisível, guarda, revela, emana emoções: afetos diversos e distintos ousam viver em uma nota só. Tristezas e angustias, alegrias e êxtases, frustrações, esperanças, raiva e resignação. Tudo pode estar presente na mesma canção. Arte do presente impossível de congelar uma só parte, no máximo se rende a repetição. Ah, a música sempre me diz algo sobre o infinito!

A menina que mora em mim

A menina que mora em mim

Por Adriane Sabroza

Essa é a menina que mora em mim. Olhar doce, sorriso tímido, muitos sonhos e alguns medos.

Essa é a menina que mora em mim. A fila andou, o tempo passou, mas ela ainda está aqui. E faz questão de me lembrar disso, sempre, a todo momento, na risada fora de hora, no medo da solidão, na interminável vontade de aprender, na sensação de que há tanto ainda por saber,  no desejo , quase desesperado, que ao raiar do dia venha a confirmação de que os monstros debaixo da cama não passam de ilusão.

Essa é a menina que mora em mim. Companheira de longa data, a única que sabe como tudo se deu. Somente ela me conhece, sabe minhas dores e alegrias, medos e fantasias.

Essa é a menina que mora em mim. Apesar de todo o caminho percorrido, às vezes não acredita no que eu mesma digo e ao hesitar, me faz pensar, por vezes, mudar.

Essa é a menina que mora em mim. Carinha de criança, expressão de esperança, mas com uma alma velha, de quem também conhece o peso da vida. Talvez, por isso, mantenha o sorriso, não um sorriso inocente, mas de cumplicidade, típico entre aqueles que se conhecem não só pela metade.

Essa é a menina que mora em mim. Escondida atrás de algumas linhas de expressão, que guarda como troféus das suas pequenas batalhas. Sabe , como ninguém, o que me faz ir além, reconhece meus medos e é capaz de guardar segredos.  Sabe que o tempo é curto e que por isso, não se deve perdê-lo,  mas há momentos em que desiste, seja por dor, preguiça ou medo.

Essa é a menina que mora em mim. Enfrenta lutas diárias entre a alegria e a dor, a sabedoria e o rancor, a maturidade e o frescor. Já pensou em desistir, mas no fundo, deseja mesmo é seguir, seja lá pra onde for.

Essa é a menina que mora em mim. Nos conhecemos há tanto tempo, mas ela ainda me surpreende e faz questão de deixar claro que nem ela mesmo, me entende.

A importância do brincar na infância

A importância do brincar na infância

Por Marcela Bianco

Quando vemos uma criança brincando muitas vezes vem em nossas mentes aquele pensamento: “Ah como era bom ser criança, não precisávamos levar nada à serio!”

Mas, brincadeira de criança pode ser algo mais complexo do que você imagina!

As brincadeiras, tanto as lúdicas quanto as educativas, têm um importante impacto para o desenvolvimento saudável e para a vida psíquica das crianças, uma vez que a ajudam a desenvolver habilidades cognitivas, físicas, sócio-afetivas e morais, além de auxiliar a estruturar suas vidas emocionais.

Ao brincar, as crianças exercitam muitas habilidades como: capacidade de expressão verbal e não verbal, linguagem, raciocínio, pensamento abstrato, representação espacial, curiosidade, criticidade, objetividade, reflexão, flexibilidade, atenção, concentração, memória, imitação, criatividade, imaginação, relacionamento intrapessoal e interpessoal, autonomia, cooperação, autoconfiança, autoestima, iniciativa e sentimentos de competência.

As brincadeiras e os jogos infantis também podem ser instrumentos facilitadores do processo de ensino-aprendizagem das crianças. Nelas as crianças aprendem, por exemplo, a contar, a classificar, a ordenar, a discriminar, a traçar estratégias, solucionar problemas, etc.Além de aprender diversas regras sociais e, a partir delas, a regular seu próprio comportamento.

Também estão relacionadas ao desenvolvimento dos sentidos (táteis, visuais, etc), da coordenação motora, da corporalidade, do movimento, do equilíbrio, da propriocepção e da imagem corporal.

Por meio das brincadeiras e de seus simbolismos, as crianças são capazes de apreender e reelaborar o universo ao seu redor. Também desenvolvem uma vida imaginária mais rica, podendo expressar e representar seus sentimentos e ideias, por meio de metáforas e da fantasia, brincando com temas próprios de sua realidade psíquica.

O brincar também pode ser uma forma da criança expressar medos, ansiedades e conflitos, na tentativa de explicitá-los e encontrar maneiras de solucioná-los e elaborá-los internamente. Assim, aprendem que podem intervir na realidade e transformá-la.

Além disso, as brincadeiras funcionam como atividade prazerosa em si mesma e que leva a satisfação e realização pessoal.

As contas que são da nossa conta

As contas que são da nossa conta

Por Marcio Santiago Vaitsman

Vez ou outra há uma tendência, quando vai se falar de política, de a pessoa dizer: “Ah, eu não quero falar sobre isso, isso não é da minha conta”. Cuidado. A política é da sua conta e é da minha.

Partido é uma coisa que a pessoa decide se tem ou não. Política é da nossa conta o tempo todo, colocar-se como neutro é um ato político, porque, como a política é a tentativa de acerto de interesses que nem sempre coincidem, colocar-se neutro é ficar sempre do lado de quem é mais poderoso.

Se alguém vê um menino de 15 anos disputando uma bala com um menino de 05 anos e diz: “Não vou me meter”, bem, já se meteu. Porque ficar omisso é ficar do lado de quem vai ganhar. É claro que o menino de 15 anos tem mais força do que o menino de 5.

Por isso, o papel do cidadão não é dizer: “Isso não é da minha conta”. Ao contrário, é da tua conta, do ponto de vista do tributo, imposto, e é da tua conta como exercício de uma vida consciente.

Cada vez que eu me omito, cada vez que eu silencio, cada vez que eu suponho que problemas de governo são apenas do governo, eu não estou transferindo poder, eu estou abrindo mão dele.

E isso é algo que, entende-se, numa democracia não deva acontecer. É preciso que, cada vez mais, tenhamos clareza que nessa relação Estado-sociedade ambos tenham obrigações e ambos tenham direitos.

Não é casual que tenhamos um lema que diz: “Educação, saúde, transporte, habitação: direito do cidadão, dever do Estado”.

Mas cuidar para que o Estado cuide é um dever nosso. A tarefa do estado é cuidar. A nossa tarefa é cuidar para que o Estado cuide.

Emocionante! Menina com leucemia se “casa” com o enfermeiro em cerimônia lúdica

Emocionante! Menina com leucemia  se “casa” com o enfermeiro em cerimônia lúdica
Paciente com leucemia, Abby trocou alianças (de pirulito) com Matt Hickling

Uma comovente história foi noticiada esta semana. Abby, uma menina de quatro anos, está Internada no Albany Medical Centre, de Nova York, onde luta contra a leucemia.

Ocorreu que a criança noticiou a algumas pessoas do hospital quem seria o seu enfermeiro favorito, Matt Hickling, e afirmou que seu sonho era se casar com ele. E bem entendemos o porquê dessa escolha.

Os fatos mostram a nobreza do coração do “noivo escolhido”. O enfermeiro, comovido, organizou uma surpresa. Em 24 horas, ele, com a ajuda dos colegas do hospital, propiciou à Abby uma bonita cerimônia de casamento: vestido de noiva, buquê de flores, alianças (de pirulito), bolo, madrinhas, marcha nupcial para sua entrada na “igreja” e até um carro de brinquedo com os dizeres “recém-casados”.

Situações como estas renovam a nossa fé no humano, na esperança de que atos como estes, simples, improvisados, lúdicos, possam se proliferar num reencantamento do mundo.

Educação, Respeito, Gentileza e Gratidão

Educação, Respeito, Gentileza e Gratidão

Toda viagem é transição, promove mudanças, amplia olhares e exige adaptações.

No último final de semana, a minha sobrinha e eu tomamos um desses caminhos que nos tira de nossos quintais rotineiros. Saímos da minha cidade, que fica no interior do Estado, e fomos até a capital, a cerca de 120 km, e, para isso, utilizando o transporte público.

Foram dias culturais e amorosos junto a pessoas queridas e em lugares desejados. Na volta, entretanto, não conseguimos passagens para que nos sentássemos uma ao lado da outra.

Eu nem me preocupei, pois minha sobrinha já tem 14 anos, entretanto, achei que simplesmente pedir a pessoa da poltrona do lado seria o suficiente para que ela trocasse de lugar comigo e eu pudesse viajar lado a lado com minha acompanhante. Mas, para minha surpresa, as duas pessoas a quem pedi a inversão de lugares (uma fileira para trás ou para frente no lado oposto do ônibus) negaram imediatamente e ainda demonstraram leve ansiedade e desconforto por eu lhes direcionar a pergunta.

Tenho plena consciência de que elas não tinham nenhuma obrigação de ceder seus lugares e trocar comigo, mas, tendo em vista que eram pessoas que viajavam sozinhas, pensei que isso não seria nada além de uma pequena gentileza. Eu estava enganada.

Enquanto voltava para casa, separada da minha sobrinha, me lembrei de onde conhecia a primeira senhora que negou o pedido. Ela foi minha esteticista na adolescência e lembrei-me do seu profissionalismo e bom tratamento enquanto fui sua cliente.

A outra pessoa a quem pedi a troca de lugares estava sentada ao meu lado e, depois de um tempo, trocou algumas palavras educadas comigo, mostrou-se simpática e contou que ia até uma cidade vizinha da minha prestar um concurso. Eu subentendi que era um jovem médico.

Ficou claro que as duas pessoas que se negaram a trocar de poltrona não eram pessoas grosseiras, tinham formação e lidavam constantemente com o público.

Não diferente aconteceu quando viajei, juntamente com uma amiga, para o exterior e, para economizar, ficamos em um albergue em Praga. Como essa amiga, na verdade amiga da minha mãe, já tinha mais de 60 anos, ela pediu para a pessoa trocar de lugar no beliche com ela para que pudesse ficar na parte de baixo. Na ocasião, a pessoa que estava com a cama de baixo também negou o pedido.

É claro que esses “nãos” podem ser decorrentes de um motivo maior e pessoal, mas parece que em situações assim, essas que chegam a chamar a nossa atenção, o “não” vem seco e sem justificativa, dando a impressão de que a negativa não vai além da falta de interesse em ajudar.

E, se isso acontece com questões pequenas como essas, situações em que a ação envolvia mais uma gentileza do que uma real necessidade, o que acontece quando os pedidos partem de pessoas socialmente excluídas e que precisam do nosso olhar e de ações de verdadeira solidariedade?

Penso em alguns fatores…

Educação não se vende.
Uma das melhores definições de aprendizagem que conheço fala que a aprendizagem significa mudança de comportamento. Só aprendemos realmente quando entendemos que evoluir é fruto de mudanças e adaptações constantes e que envolvem empatia, flexibilidade e atenção.

Respeito não se compra.
Para educar é preciso humildade inclusive para entender que o tempo e a história do outro são diferentes da nossa. A polidez cultural só é verdadeira se vier acompanhada da polidez moral e social. Não se trata alguém bem apenas por que essa pessoa é nossa cliente e nos paga ou depois que vemos que ela tem cultura, por exemplo. Há que se ter atenção para as necessidades dos que estão próximos, há que se dizer um não, quando necessário, mas, um não que vá além do egoísmo e da falta de consideração.

Gentileza não se força.
A principal característica da gentileza é que ela acontece sem nenhuma obrigatoriedade. São a não obrigatoriedade e a espontaneidade dos atos gentis que os tornam nobres. Toda gentileza é ato de doação, é respeito pelo outro, é conhecimento em execução.

A não gentileza das pessoas que descrevi, embora fosse algo quase banal durante o dia, me chamou tanto a atenção porque escrevi recentemente um texto sobre a temática da gentileza que já ultrapassou 180.000 compartilhamentos.

Apesar do interesse pelo tema, na prática, as pessoas parecem assustadas umas com as outras. É como se tivessem medo de dar e de receber, pois são exatamente esses dois atos que definem as relações humanas, cada vez mais raras e distantes.

O Dr. Flávio Gikovate, quando descreve “pessoas egoístas”, diz que algumas delas não gostam de receber porque se sentem na obrigação de retribuir. E, a meu ver, nesses casos a pessoa prefere nem ganhar a ter que dar algo em troca.

Esse texto não será viral como o outro, pois, ele não fala da “beleza da gentileza” e sim dos atos de gentileza que nos faltam, da reflexão que poderia nos educar e alimentar mudanças.

Sem mudanças, morre a chance da verdadeira gratidão, a que vem do aprender com afeto e sensibilidade sobre os relacionamentos humanos.

E, ao contrário do que muitos pensam, a essência do homem, aquela que será a base para grandes atos, aparece nos detalhes, nas sutilezas, nos gestos mais simples de cortesia cotidiana. Os atos verdadeiramente revolucionários são praticados a favor de quem está mais próximo, talvez daqueles que compartilham conosco as poltronas de um ônibus, dos ilustres desconhecidos a quem tivermos a ousadia de amar.

Leia também: Toda gentileza é uma declaração de amor.

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