Para fazer um filho feliz, não é preciso ser supermãe

Para fazer um filho feliz, não é preciso ser supermãe

Quando eu não era mãe, ouvia relatos de mães que não conseguiram amamentar no peito seu filho recém-nascido e vinham teorias psicológicas na minha cabeça que constatava que essa mãe não se entregou o suficiente para o filho a ponto de alimentá-lo com seu próprio leite.

Quando eu não era mãe, ia ao supermercado e se encontrasse alguma criança fazendo birra, eu pensava: falta competência para essa mãe educar melhor seu filho e estabelecer limites.

Quando eu não era mãe, estive com amigas minhas que tinham filhos pequenos, fazendo qualquer coisa para a criança comer um pouco do prato servido no almoço, eu pensava: deixe passar fome que uma hora a criança vai comer.

Quando eu não era mãe, ficava horrorizada assistindo mães oferecerem aos seus filhos refrigerantes, comidas industrializadas e dizia para mim mesma: que preguiça de fazer algo melhor para as crianças.

Quando eu não era mãe, maldizia as mães que colocavam seus filhos pequenos em frente à televisão para assistir Galinha Pintadinha, Peppa Pig ou coisas parecidas.

Ah, quando eu não era mãe, certamente eu era a melhor mãe do mundo!

E um dia fui mãe!

Embora tenha me esforçado absurdamente para amamentar meu filho no peito, nenhum método funcionou. Senti-me culpada pela “falta de entrega”. Tive que entrar com leite artificial. No início da minha experiência, pensei que estava causando um trauma ao meu filho por não ser amamentado no peito. Quando ele estava com um ano e meio, descobriu-se que ele tinha inserção anteriorizada do freno da língua, ou seja, tinha a língua presa e por isso não mamava direito. E eu, mãe, tinha certeza que a culpa era minha.

E hoje há dois anos e seis meses sou mãe.

Fui uma supermãe até um ano e meio, cozinhava somente alimentos nutritivos, fazíamos refeições em casa, meu filho assistia muito pouco às programações da televisão, não comia doces e muito menos refrigerantes.

Mas que trabalho dá ser uma supermãe!

E minha vida não era somente ser mãe, tinha que ser profissional, esposa, cultivar minhas amizades e tantas outras coisas que as mães têm que fazer.

O problema de ser supermãe é que por fazer tudo absolutamente do jeito que a sociedade diz que é correto, é que não sobra disposição para estar inteira com seu filho. Haja tempo para cozinhar tudo que faz bem, tempo para entreter o filho sem televisão e paciência para todas as birras e manhas.

Atualmente, desisti de ser uma supermãe, resolvi ser somente mãe e sou mais feliz. Tenho mais tempo para ficar com ele, afinal não passo horas na cozinha preparando somente coisas extremamente saudáveis e recomendadas pelos pediatras, amigos, familiares e sociedade.

Voltei com minha agenda de trabalho de antes da maternidade, ele fica com a babá, afinal de contas todos nós temos que lidar com a falta e a primeira falta da criança é a mãe e terá que aprender a lidar com isso.

Quando faz birra nos supermercados, faz e pronto! Nada de traumas, nem para ele e muito menos para mim.

Enfim, agora decidi ser uma mãe normal! Sou aquela mãe que todos nós tivemos, sou aquela mãe igual às dos coleguinhas do meu filho.

Percebi que ele é mais feliz assim.

Agora sou mãe e pronto! E que ninguém me diga que ser “supermãe” é melhor para qualquer filho!

Você é um Analfabeto Político

Você é um Analfabeto Político

Sim, é. Mas não precisa se preocupar. Você não tá sozinho. Eu, tu, ele. Nós. Tamo junto! E nem é motivo propriamente pra vergonha, já que a gente é preparado pra isso. Sim, somos maioria. E ok, isso é uma generalização. Talvez você que esteja lendo realmente não seja parte deste time, lembrando até que existe o analfabetismo pleno e o analfabetismo funcional. Pra dar um exemplo simples, saber a diferença entre presidencialismo e parlamentarismo (coisa que se aprende na escola e dá pra relembrar com um google rápido), pode ser equiparado a conhecer o alfabeto, o que tira a pessoa do analfabetismo pleno, mas se você tem dificuldades pra discorrer sobre as vantagens de um sobre o outro, a partir de um ponto de vista próprio (ou emprestado mesmo), pode cair na categoria dos analfabetos funcionais. Outro teste: você fica à vontade pra falar sobre os benefícios que o voto distrital pode ou não trazer? Ou sabe o que é distritão, voto distrital misto, lista aberta, essas coisas que fazem parte da discussão sobre a reforma política no Congresso?

Sempre achei que a gente também deveria aprender na escola coisas práticas, como trocar um chuveiro ou ter aquelas aulas de marcenaria, que a gente vê em filme americano. Aprender sobre Política também poderia fazer parte, já que pode nos afetar mais do que não saber usar uma serra circular. Não falo só de uma passagem superficial sobre sistemas de governo e coisas assim, que são dadas pra alimentar a decoreba sem questionamento que tem validade só até a próxima prova. Temos escolas em que existe aula de Religião. Por que Política não pode ser uma disciplina também?

Nem tudo se aprende na escola, claro. Sempre dá pra correr atrás de informação, ainda mais agora que ela está por toda parte. Acho que não sei mais fazer uma equação de segundo grau, como muita coisa que foi dada na escola. Mas isso porque são coisas distantes pra mim. Sei que elas fazem parte do cotidiano, já que o prédio em que moro está de pé por conta delas, mas eu fico confortável em deixar que outras pessoas, com formações específicas, dominem as equações e se entendam com elas, pelo bem da comunidade, enquanto eu posso optar pelo direito de replicar o discurso do “Eu odeio Matemática!”. A Matemática não vai se ofender, já que ela consegue sobreviver sem mim e sabe que eu não consigo sobreviver sem ela.

A maior parte das pessoas diz que odeia Política. Mas sabe, com variados graus de consciência, que a vida de todos é afetada por ela, de várias formas. Impostos que puxam o custo de vida, leis que ditam comportamentos, obras que melhoram as cidades, por exemplo. Sem impostos, não temos as obras e sem as leis não estamos longe da barbárie, que mesmo com elas nunca fica muito longe. Impostos, leis e orçamentos interferem diretamente na nossa vida e são votados sempre, todos os dias em que o Congresso trabalha, mas a gente sabe que diabos é um Congresso? A diferença entre um deputado e um senador?  Você sabe? Mesmo?

Com as redes sociais, a Política está em pauta todo dia, mas o que circula por ali tem mais o objetivo de confundir e desinformar. Tudo chega muito fácil e ainda existe a ilusão de que se algo está dito em um post, deve ser verdade, não precisamos ir atrás pra confirmar. Olhando por esse lado, antes de termos uma formação política, talvez aulas sobre como usar as redes sociais sejam mais urgentes…

Mas voltando à política: pra maioria das pessoas, votar em candidatos pra vereador ou deputado é sempre um problema. Tem sempre muita gente pedindo indicação, em época de eleições. Mais ou menos como na escola, onde um assunto é esquecido depois da prova, os candidatos em que se votou são esquecidos depois das eleições. Talvez porque não se saiba que um vereador ou deputado pode ter mais impacto sobre nossas vidas do que um governador ou presidente.

contioutra.com - Você é um Analfabeto PolíticoEm 1959, um rinoceronte chamado Cacareco teve quase 100 mil votos para vereador, em São Paulo. Rinoceronte mesmo, aquele bicho com chifre, que vivia no Zoológico. Para desilusão dos seus eleitores, que já imaginavam como seria a posse, seus votos foram considerados nulos. Mas a partir daí, o Voto Cacareco passou a ser sinônimo de voto de protesto. Claro que aí tinha uma mistura de voto propriamente de protesto e brincadeira. Mais ou menos como aconteceu recentemente com Tiririca, que teve 1,3 milhões de votos em 2010 e um pouco menos na reeleição, em 2014, mas ficando ainda com mais de um milhão de votos. Ainda houve uma tentativa de se impedir que ele tomasse posse, sob a acusação de analfabetismo, mas ao contrário de Cacareco, ele não só tomou posse como ainda tem tido uma carreira razoavelmente elogiada, sendo um dos mais assíduos, propondo projetos que beneficiam artistas circenses e ocupando a 68ª posição entre 513 deputados, na avaliação do ranking Atlas Político. Nada mal, mas quem votou nele, votou por quê? Não porque esperasse essa performance, mas talvez porque fosse uma forma mais divertida de se anular um voto, já que a ideia podia ser de que voto pra deputado não serve pra nada mesmo…

E como fica a questão do analfabetismo político entre vereadores, deputados, senadores? Ano passado, encontrei com um amigo que se candidatou a vereador em uma cidade pequena. Não ganhou, mas ficou na suplência. Como sempre temos um preconceito estocado para todas as horas, a primeira coisa que pensei foi que ele devia estar procurando uma fonte de renda. Pra minha surpresa, mais um preconceito foi demolido ali. Ele me disse que, apesar da suplente, ele estava comparecendo a todas as sessões e ainda tinha entrado em uma faculdade, para estudar Gestão Pública. Quantas pessoas têm esse grau de dedicação, quando resolvem seguir a carreira política?

É isso que a gente tem que descobrir, na hora de votar. Ano que vem teremos eleições municipais. Pode ser hora de já ir pensando em quem são os vereadores que estão por aí. Em qualquer cidade, dá pra assistir uma sessão da Câmara. Na cidade de São Paulo, pra facilitar, existe um projeto que se chama Câmara no Seu Bairro, onde a cada semana a Câmara de Vereadores realiza uma audiência pública em uma das regiões da cidade. Parece que a adesão dos vereadores não é lá muito grande, mas a da população tem sido. Pode ser um começo de mudança.

Outro começo pode ser tentar descobrir pra que é que serve um vereador, o que é o voto distrital ou ler o poema “O Analfabeto Político”, do Bertolt Brecht.

Estar lá, por Fabíola Simões

Estar lá, por Fabíola Simões

Numa época distante eu achava que “prova de  amor’ era um termo usado para definir grandes feitos,  como ajoelhar-se no meio da rua na madrugada ou encomendar uma faixa com declarações de amor copiadas de versos do Vinícius. De fato vivi algumas situações pareciadas na adolescência e guardo com carinho esses momentos de pura paixonite juvenil.

Mas o tempo passa.  Ah…como passa… E muito mais que esperar provas de amor intempestivas, descobrimos que amor de fato é estar lá.

Esta semana teria que fazer um exame de saúde e durante o preparo passei muito mal. No banheiro, me contorcendo de dor e agarrada à calça de moletom do meu marido, não conseguia pensar em mais nada. Porém, horas depois, constatei admirada que aquela tinha sido uma grande prova de amor. Segurando meu cabelo, enquanto eu vomitava vezes seguidas, aquele homem participava de minha agonia numa parceria tão amorosa, simples e verdadeira que, apesar do excesso de intimidade, me mostrou que estará comigo até nos momentos em que o cenário se restringir ao chão frio e inóspito, e a paredes cor gelo nada acolhedoras.

Não havia nada de romântico entre aquelas toalhas felpudas e escovas de dente coloridas. Mas ele estava lá. Preocupado, segurando forte minha mão _ e meu cabelo _, garantindo que logo eu estaria bem.

Descobrir que existe alguém que está lá nas horas mais difíceis e necessárias, ou nos momemos mais intensos e felizes é o que faz esse alguém ser tão especial ou um grande amor.

Lembro que uma amiga querida me contou que quando perdeu a mãe, seu marido era quem mais chorava. Aquilo lhe comoveu tanto a ponto dela não saber quem alí deveria consolar quem. lnexpicavelmente, o choro dele foi o estar lá com ela. Sentir a dor que ela sentia e partilhar de sua angústia tinha  sido mais que uma prova,  tinha sido o amor em si.

Estar lá é ser mão que entrelaça seus dedos aos nossos, desmanchando os nós,  afrouxando
as defesas, apaziguando as imprevisibilidades.
Estar lá é amparar dúvidas, dissecar incertezas, afugentar medos:

É segurar a barra quando a vida pesa além da conta, e não baixar a guarda quando a imperfeição dos dias faz morada no vitral de nossa paisagem.

Estar lá é correr para ver o céu se colorir de vermelho no fim ao dia e não se esquecer de
partilhar a novidade com quem ama, nem que seja à distâncias somando e dividindo a alegria.

É absorver a felicidade inteira, para depois dividi-la em pedaços generosos descobrindo que
só assim restará beleza e euforia.

Estar lá é entender que a vida não é uniforme, ela é repetitiva; e se estivemos presentes num nomemo importante, o estaremos sempre, e sempre, e sempre, de uma forma ou de outra:

Estar lá é nunca ser ausência que dói, que machuca, que vira lembrança e depois ressentimento. É entender que é necessário fazer-se presente, mesmo que de uma forma invisívei, mas ainda assim, viva.
É aprender a conduzir uma dança que só pode ser dançada a dois, relevando a falta de jeito de quem tenta, ou ao menos se esforça pra ser o melhor enquanto está lá.

Estar lá é ser capaz de perdoar, colocando uma pedra em cima de certas instabilidades e dissonâncias, desenvolvendo a paciência e a tolerância de quem apenas quer estar lá

Ao constatarmos que estar lá é mais importante que dar provas do nosso afeto, descobrimos que nossa história real está longe de ser comparada aos enredos românticos ou clássicos de livros e filmes.

Esperamos demais da vida e do amor, e nos esquecemos que só precisamos contar com alguém de verdade.

Alguém que de alguma forma esteja lá.

A MORAL DO ENSINO, uma lição de Mahatma Gandhi

A MORAL DO ENSINO, uma lição de Mahatma Gandhi

Uma mãe levou seu filho ao Mahatma Gandhi e implorou:

“Por favor, Mahatma, diga a meu filho para deixar de comer açúcar.”

Gandhi fez uma pausa e disse:

“Traga seu filho de volta daqui a 2 semanas.”Intrigada, a mulher agradeceu e disse que faria como ele ordenara.
Duas semanas depois, ela voltou com o filho.

Gandhi fitou os olhos do jovem e disse:

“Pare de comer açúcar.”

Agradecida, mas perplexa, a mulher perguntou:

“Por que me pediu para trazê-lo em duas semanas?

Poderia ter dito a mesma coisa antes…”

Gandhi replicou:

“Há duas semanas eu também estava comendo açúcar.”

As 5 coisas que seus filhos irão se lembrar sobre você

As 5 coisas que seus filhos irão se lembrar sobre você

Minha esposa Ashley e eu acabamos de ter nosso quarto bebê. Ter um bebê novo em casa me fez sentir mais nostálgico do que o habitual e eu tenho refletido sobre minha própria infância. Eu tenho pensado sobre as memórias que se destacam em minha mente e eu penso sobre as memórias que eu quero que meus próprios filhos tenham. Eu quero ser intencional em cada momento precioso.

Jerry Seinfeld brinca dizendo que, “O único propósito dos bebês é nos substituir! É por isso que suas primeiras palavras são, ‘Mamãe, Papai… Tchau tchau.'”

É uma piada engraçada, mas também um lembrete importante de que a vida é curta e nosso tempo com nossos filhos está passando rápido. Com isso em mente, eu quero tirar o maior proveito de cada minuto e criar o tipo de legado que irá perdurar por muito tempo depois que eu tiver ido embora. Este não é um pensamento mórbido, mas sim uma forma importante de manter o foco no que mais importa a cada minuto que temos com nossos filhos.

Como pais, temos a tendência de nos estressar com coisas que nem são tão importantes. Nossos filhos provavelmente não vão se lembrar de cada detalhe da decoração de nossa casa, ou o quão perfeito nosso jardim era, nem se nossa geladeira estava abastecida com nomes de marcas ou produtos genéricos. Vamos nos concentrar no que realmente importa. Se você quer saber o que seus filhos vão se lembrar sobre você, aqui está:


5 coisas que seus filhos vão se lembrar sobre você:

1. As vezes em que você fez com que sentissem segurança (ou insegurança)

Há uma vulnerabilidade e uma necessidade de proteção no coração de cada criança. Seus filhos vão lembrar daqueles momentos que você perseguiu os monstros debaixo de sua cama ou os acalmou depois de um pesadelo, mas eles também irão se lembrar das vezes em que o seu temperamento tornou-se o monstro que eles temiam. Nossos filhos provavelmente vão nos ver irritados algumas vezes, porque isso faz parte da vida, mas faça sua missão de vida fazer seus filhos sempre se sentirem seguros e protegidos quando estiverem com você.

2. As vezes em que você deu a eles toda sua atenção

Crianças medem o seu amor principalmente pela quantia de atenção que damos a elas. As vezes em que você para o que está fazendo para participar do chá da tarde ou sair para jogar bola ou pular em uma cama elástica serão memórias gravadas em suas mentes e corações para sempre. Reserve tempo para fazer as pequenas coisas com seus filhos, porque no final, esses vão ser os momentos mais importantes.

3. A forma como você interage com seu cônjuge

Nossos filhos estão formando suas opiniões sobre o amor em grande parte observando como tratamos nosso marido ou esposa. Esforce-se para ter o tipo de casamento que os torne animados para se casar algum dia. Dê-lhes a segurança que vem de ver sua mãe e pai em um relacionamento sério e amoroso um com o outro.

4. Suas palavras de incentivo e as de crítica

O coração de uma criança é como cimento fresco e a impressão feita no início da vida vai endurecer ao longo do tempo. Elas irão basear seu senso de identidade, capacidade e até mesmo autoestima, em grande parte nas palavras que você diz a elas naqueles anos de formação. Parte do nosso trabalho como pais é corrigir e disciplinar, mas mesmo ao corrigir, deixe que suas palavras sejam cheias de amor, incentivo e reforço positivo.

5. Suas tradições familiares

As crianças adoram espontaneidade, mas elas também têm uma profunda necessidade de previsibilidade. Elas vão recordar com muito carinho as “tradições” que você estabelecer, seja uma noite de filmes (ou jogos) em família toda semana, um lugar para o qual vocês viajam regularmente em família, a maneira como vocês celebram aniversários e eventos especiais ou qualquer outra tradição especial. Seja intencional ao criar algumas tradições que eles irão querer passar para seus próprios filhos algum dia.

Por Dave Willis, fonte indicada: Família.com

Como Drummond, vamos de mãos dadas

Como Drummond, vamos de mãos dadas

Não me canso de achar estranho como alguns casais se comportam quando se trata de compromisso. A facilidade com que a fila anda e com que se troca de parceiro(a) é rápida para muitos que conheço. E essas mesmas pessoas costumam reclamar da falta de sorte no amor.

Talvez o desprendimento e a forma como a mídia e a sociedade encaram os novos relacionamentos influenciem em muitas escolhas e que mergulhar em um relacionamento é algo profundo e muitas vezes, doloroso.

Acredito que estamos nessa vida em sociedade para compartilhar, ensinar e aprender. E que seja bem difícil alcançar nossos objetivos sozinhos. Quando sentimos grande tristeza, alegria, raiva, remorso… enfim, todos os dias nós, de acordo com o caminhar do relógio atraímos diversos sentimentos para o lado de dentro. Nossas vivências precisam ser divididas, exteriorizadas, porque precisamos estar leves para caminhar. A presença do outro é estímulo para novos passos, para o outro dia, para o trabalho, para a vida.

Alguns prometem demais. Prometem o que não podem cumprir. Outros não se suportam tempo suficiente para descobrir a cumplicidade e as afinidades que poderão vir a existir. Há aqueles que repudiam o dar as mãos por confundir com exposição ou imposição. O estar junto é estar por livre arbítrio, por vontade, por desejo de estar perto e dividir os momentos não é dominar o outro. Dividir é servir de fortaleza nos momentos de tormenta, ultrapassando os ventos fortes e as tempestades, é ser o amigo que tem abertura para falar o que precisa ser dito e também para ouvir. É se deleitar com os prazeres mais simples, e por que não com os mais ousados?

Não precisa durar para sempre, só precisa ser sincero. Não precisa se transformar em outra pessoa, só vai funcionar se você for você.

Porque felizmente nós temos a capacidade de não esquecer aquilo que nos fez bem, mesmo que hoje faça parte do passado. Assim será eterno, mesmo sem o nosso querer.

Há pouco estava conversando com uma amiga e ela me contava de mais uma desilusão amorosa afirmando que as pessoas que se aproximam dela estão sempre cheia de problemas e isso a incomoda. Infelizmente, todos nós temos problemas e passamos por dificuldades. Então eu sugeri que se ela está à espera do par que não carregue nenhum tipo de turbulência seria melhor que ela parasse de procurar. E digo o mesmo para mim e para qualquer pessoa que não consiga enxergar nada de bom no outro. Permanecer de mãos dadas é difícil. Quando elas estão friinhas e cheirosas são maravilhosas, todavia as mãos também podem coçar, suar, apertar. As luvas podem proporcionar certo conforto, entretanto, você não terá o mais importante: o sentir. E aí, se for trocar de mãos todas as vezes que elas te importunarem é melhor que as mantenha livres.

Todavia, penso como Drummond, acho que será menos pesado e mais gratificante se formos de mãos dadas, em todos os sentidos, com todos os amores.

Por Márcia Rios

Fonte indicada: O POVO online

Por que buscar a psicoterapia?

Por que buscar a psicoterapia?

Por Lilian Marin Zuchelli e Marcela Alice Bianco

A psicoterapia é um processo que se desenvolve através de uma relação especial entre paciente e psicoterapeuta e que possibilita uma transformação e ampliação da consciência do paciente acerca de sua vida e das questões para as quais necessita encontrar respostas, por meio de um exame sistemático da vida interna do paciente.

A busca pela psicoterapia está diretamente relacionada à existência de um incômodo, insatisfação, dor, angústia ou sofrimento, o qual se manifesta através de diferentes sintomas (ansiedade, depressão, estresse, fobias, distúrbios alimentares; pouca adaptação ao meio, reações desajustadas, etc.) e com o qual a pessoa (ou sua família ) não consegue encontrar sozinha uma resolução eficaz.

Por meio do processo psicoterápico o indivíduo acaba se deparando com a complexidade de sua situação a qual não mais é somente identificada com o sintoma, mas com questões muito mais profundas como: perda da identidade, perda do sentido da vida, sentimentos profundos de rejeição, entre muitos outros aspectos.

É um processo único e individual, cujos objetivos e alcance dependerão das necessidades e potencialidades (conscientes e inconscientes) de cada paciente em específico, num dado momento de sua vida.

É de extrema importância que a pessoa que busca uma terapia encontre um terapeuta que se prontifique a ajudá-lo, por meio de uma relação genuína, interessada, sigilosa e acolhedora.

É através dessa relação de confiança e empatia que o terapeuta poderá auxiliar o paciente a encontrar suas próprias respostas e despertar suas forças curadoras.

Autoria

contioutra.com - Por que buscar a psicoterapia?Lilian Marin Zuchelli – Psicóloga Clínica e Psicoterapeuta Junguiana pela PUC-SP. Especialista em Psicoterapia de Abordagem Junguiana associada à Técnicas de Trabalho Corporal pelo Institiuto Sedes Sapientiae. CRP: 06/23768

 

 

contioutra.com - Por que buscar a psicoterapia?Marcela Alice Bianco – Psicóloga Clínica e Psicoterapeuta Junguiana formada pela UFSCar. Especialista em Psicoterapia de Abordagem Junguiana associada à Técnicas de Trabalho Corporal pelo Sedes Sapientiae. CRP: 06/77338

A diferença entre o ignorante e o arrogante

A diferença entre o ignorante e o arrogante

Ignorar é desconhecer. Ser um ignorante, ao contrário do tratamento pejorativo do termo, não é nenhum defeito. O problema é quando a pessoa toma gosto na definição e não tem nenhum interesse em evoluir, mas, aí a conversa muda e, da ignorância, caminha-se para a arrogância.

Enquanto o ignorante pode ser simples e manter traços de pureza até infantil, o arrogante é esnobe, desfaz do outro e adorna-se em armaduras que o protegem da realidade. Lá dentro, por trás do vil metal, um frágil ser preso respira assustado, teme ser descoberto.

O arrogante tem mania de achar que todo mundo que não pensa ou tem os mesmos gostos que ele é ignorante. Mas, o maior problema desse tipo de comportamento é que, enquanto o ignorante pode facilmente aprender, o arrogante vive estagnado em suas verdades, padece isolado em seu pedestal e é doente crônico de vaidades. Arrogância é ignorância incurável, doença gravissíma e que pode até matar. Mata de desgosto quem convive com o tipo!

No final das contas, o ignorante não sabe que pode ser belo e o arrogante ainda não percebeu que é feio.

Só a morte desperta os nossos sentimentos, por Albert Camus

Só a morte desperta os nossos sentimentos, por Albert Camus

Não amaremos talvez insuficientemente a vida? Já notou que só a morte desperta os nossos sentimentos? Como amamos os amigos que acabam de deixar-nos, não acha?! Como admiramos os nossos mestres que já não falam, com a boca cheia de terra! A homenagem surge, então, muito naturalmente, essa mesma homenagem que talvez eles tivessem esperado de nós, durante a vida inteira. Mas sabe porque nós somos sempre mais justos e mais generosos para com os mortos? A razão é simples! Para com eles, já não há deveres.

É assim o homem, caro senhor, tem duas faces. Não pode amar sem se amar. Observe os seus vizinhos, se calha de haver um falecimento no prédio. Dormiam na sua vida monótona e eis que, por exemplo, morre o porteiro. Despertam imediatamente, atarefam-se, enchem-se de compaixão. Um morto no prelo, e o espectáculo começa, finalmente. Têm necessidade de tragédia, que é que o senhor quer?, é a sua pequena transcendência, é o seu aperitivo.
É preciso que algo aconteça, eis a explicação da maior parte dos compromissos humanos. É preciso que algo aconteça, mesmo a servidão sem amor, mesmo a guerra ou a morte. Vivam, pois, os enterros!

Albert Camus, in ‘A Queda’

A menina que adorava contar histórias

A menina que adorava contar histórias

Era uma vez … (uma história sobre alguém que adorava contar histórias tem que começar assim, não é mesmo?) a menina que adorava contar histórias.

Uma menina simples, mas bem esperta, que sabia que as palavras eram como tesouros escondidos. E que, por isso, quando alguém as encontrasse, elas seriam capazes de modificar o mundo, tornando-o melhor, mais interessante, menos enfadonho e multi colorido.

E assim ela decidiu fazer. Dedicaria um tempo de sua vida a escavar palavras, a encontrar aquelas que melhor exprimissem o siginificado pretendido, as que melhor vestissem a sua imaginação. Porém, ela sabia que esta tarefa não seria fácil, pois as palavras, por vezes, têm vontaqde própria… mas sabia também que se fosse diferente, não estaríamos tratando de um verdadeiro e valioso tesouro.

E assim ela seguiu seu caminho, em meio a tantas palavras que encontrava: antigas, conhecidas de longa data, bem como por entre as palavras novas, que acabara de desvendar o significado. Todas as palavras realmente exercíam um fascínio sobre ela. Gostava do som, daforma e do que podiam expressar. Entendia que elas eram a ferramenta para se construir as mais preciosas pontes, aquelas que nos levam ao coração do outro e que por este motivo, eram tão preciosas. Sabia também que a comunicação é algo muito complexo, que se apresenta de várias maneiras, podendo gerar inúmeras confusões. Então, sabendo do cuidado que a tarefa exigia, se esforçava ainda mais para encontrar a melhor palavra e evitar uma palavra mal dita, que, se mal compreendida, poderia colocar tudo a perder.

As histórias para ela eram a mais pura diversão. Eram como sonhos no meio da noite e, quer refletissem a realidade ou não, nunca escapariam do seu verdadeiro propósito, que ela acreditava ser acessar ao coração. Além da escolha das palavras, ela tão bem sabia, seria necessário dosar a emoção, pra que a história coubesse dentro do peito e pudesse ser levada com a gente pra onde e quando necessário, sendo ela própria a nossa melhor companhia nos momentos de solidão.

Ela tinha um plano e nele as histórias seriam muitas, diferentes e também malucas, sofridas ou engraçadas, de diversos formatos e tamanhos, com a única preocupação de por pra fora o que vai dentro, de  limpar a nuvem de sentimentos que pode nublar a mente em alguns momentos e de nos fazer voar. Pra bem longe, pra perto, sei lá …achava mesmo que voar é sempre bom, pra qualquer lugar!

E ela decidiu assim, que contaria muitas coisas, e que, pra isso, teria sempre à mão o seu imenso baú de palavras, para que no momento certo pudesse acessar, travestindo-as de qualquer emoção que quisesse repartir. Teria histórias de criança, de bicho e de gente grande, todo tipo de historia, tantas quais fosse possível, pois o repertório da vida é infinito, assim como a nossa capacidade de sonhar.

Em algum momento, ela já sabia disso, suas histórias ganhariam vida e o fato dela tê-las contado, seria somente um mero detalhe. A história tomaria a forma de quem a escutasse, do jeitinho que a pessoa imagnasse, tornando-se assim também pro outro, um tesouro mais que precioso. E a partir daquele momento, a história não seria mais sua e sim, daquele que a guardasse, com novas palavras e personagens, como se fosse algo totalmente novo, dependendo de quem a escutasse. Cada hstória, independente do conteúdo, seria capaz dessa ligação , de unir mundos tão diferentes pela via da emoção.

E se um dia lhe faltasse história ou se as palavras a abandonassem? Inventaria um plno b, com os recurso que encontrasse. Lançaria mão do gesto, do desenho ou da música para impedir que não houvesse história. Para garantir que de um jeito ou de outro, o sentimento pudesse ser expresso,  a emoção compartilhada e para que os outros saibam que, inependente de uma história ser boa ou não,  sempre vale a pena compartilhá-la.

Filha de Rubem Alves relata que as cinzas do pai se fizeram seiva de um ipê amarelo

Filha de Rubem Alves relata que as cinzas do pai se fizeram seiva de um ipê amarelo

Por Paulo Silas

Era uma manhã gelada quando o escritor Rubem Alves partiu para o Centro Médico de Campinas com destino à Avenida da Saudade 1.004, a câmara do município. Isso foi há exato um ano. O endereço não necessariamente era o da sua casa – talvez, fosse do povo. O plenário da Câmara, entretanto, se tornou a sua sala, recebeu os amigos, parentes e outras pessoas que o admiravam. Lá, foram ditas – reservadamente aos mais íntimos – suas últimas palavras, cravadas em uma carta. Logo depois, em 14 de setembro, suas cinzas foram carregadas até um jardim. Um lindo ipê amarelo as acolheu.

Apresento a você, leitor – com a devida autorização – um texto inédito da filha de Rubem, Raquel Alves, escrito ao fim daquele 14 de setembro, data em que família e amigos do escritor se reuniram para celebrar a vida:

“E ele ficou encantado

Ele sempre contou – e gostava de falar isso – que tinha conquistado tudo o que conquistou e tinha se tornado o que se tornou porque tudo o que havia planejado para a sua vida deu errado. Se tivesse dado certo, teríamos nos despedido de um clérigo ou de um pianista. Mas com a morte não assim. Tudo saiu de acordo como ele sempre sonhara.

No dia e local combinados, estávamos todos lá. Só os mais queridos. Família e amigos, aqueles que valem como irmãos, companheiros de uma vida toda. Não para chorar a despedida, mas para celebrar a vida. A seleção de poesias para serem lidas estava feita, de acordo com o gosto dele. Ivan Vilela chegou com sua viola para que a poesia não fosse só lida mas também ouvida. A cova e muda do ipê amarelo nos aguardavam. E a caixa de mogno que guardava as cinzas, sobre a mesinha, ensaiava um leve ar de solenidade interrompida pelo barulho das folhas das árvores e o crepitar do mato seco sob nossos passos.

Era a primeira vez que estávamos sem o nosso mestre de cerimônias. Quem iria ler o quê? Quem começaria? Fizemos um trato enquanto ensaiávamos interromper aquele silêncio desconfortável de quem aguarda não se sabe o quê, um sabiá decidido anunciou em alto e bom tom que era hora de começar. Ivan nos deliciou com sua viola e, em seguida, meu irmão começou a ler “Vou plantar uma árvore”, autoria de nosso pai. Começaram a preparar a muda para ser plantada e tiraram de dentro da caixa um saco transparente com cinzas. Eu assistia à cena e me indagava em silêncio como seria que as espalharíamos… Ainda não havia entendido se eram sagradas demais para serem tocadas ou não.

Buraco aberto, muda no lugar, Sérgio com sua decisão de primogênito enfiou a mão no saco e começou a adubar a muda com aquilo que algum dia tinha dado vida ao meu pai. Não, não tinha como ser fúnebre aquilo tudo. Era pura poesia e encantamento. Estávamos celebrando a vida e o amor, plantando a esperança de continuarmos num mundo bonito. Em seguida, Marcos, eu e quem quisesse realizar o desejo de Rubem Alves.

Terminando o plantio do ipê amarelo, entendi na carne a grandiosidade da simplicidade. Não haveria nada mais simbólico e supremo que plantar uma arvora para celebrar a vida, sem nenhuma palavra rebuscada, apenas aquilo que nos tocava a alma. Ao tocarmos as cinzas, deixamos de lado toda a nossa vaidade e todo o nosso orgulho, despimo-nos do que nos é desnecessário para encarar frente a frente, ali nas nossas próprias mãos, a efemeridade da vida.Um dia a morte nos tocará também e cabe a nós decidirmos se queremos ser árvores ou lajes de concreto. Vai da alma de cada um.

Entre sorrisos e emoção lemos a Cecília Meireles, o Fernando Pessoa e o Vinícius de Moraes. Até mesmo não estando mais entre nós, ensinou-nos a beleza da vida. Tempus Fugit; Carpe Diem. Amém.”

Artigo publicado no Jornal de Limeira, no dia 19 de julho de 2015 e foi aqui reproduzido com o consentimento do repórter Paulo Silas, a quem agradecemos.

Dica de livro: Sete Vezes Rubem (Fruto do trabalho de uma década, esta obra reúne sete livros de Rubem Alves publicados pela Papirus entre 1996 e 2005.)

Quero sentir a beleza do que é recíproco

Quero sentir a beleza do que é recíproco

Assistindo, recentemente, (e pela milésima vez), ao filme Diário de uma Paixão, me pego comovida com a linda história de amor que ele conta, mas, principalmente, tomada por um friozinho gostoso na barriga ao testemunhar a química, a vontade incontrolável que um tem do outro. Me pego querendo tudo isso.

Quero sentir a beleza do que é recíproco. Ser capaz de espreguiçar minha alma, de aguçar meus sentidos e descobrir novas sensações enquanto mãos me contornam, sem pressa, como quem decora minha pele.

Quero barulho de motor ecoando na minha janela de madrugada, anunciando a chegada daquele que não pôde esperar até amanhã para saciar a sede da presença. Quem ama não espera o amanhã, pois sabe que há uma eternidade que o separa do agora.

Quero a leveza e o cuidado com os detalhes que permitem que as palavras vazem, sem tanta ponderação; que os silêncios abriguem magia e conforto; que o abraço seja remédio.

Quero querer tanto a ponto de perder o eixo, de ser hipnotizada pelo sorriso, viciada no beijo; e saber que o outro carrega a mesma loucura, fazendo-me sentir desejada até os ossos, para que eu seja capaz de derramar, da forma mais pura, todo o afeto que cabe em mim.

Acredito que o que me cativa na história dos personagens Allie e Noah não é especificamente a dificuldade, a oposição dos pais e a doença na velhice, mas a pureza de um sentimento que, independentemente das situações enfrentadas, fica estampado no corpo deles, me lembrando que – ainda que se trate de uma ficção -, ele existe, ele é real, e que, grata que sou por poder senti-lo, não me demorarei onde ele não é pleno e jamais deixarei de fantasiá-lo e persegui-lo.

Ser grato é ter um pacto de reciprocidade com a vida

Ser grato é ter um pacto de reciprocidade com a vida

Era meio dia. Um sol causticante fazia doer os meus pés, dando a sensação de que o solado do meu sapato já havia derretido. A cidade estava apressada. Daí a poucas horas teríamos a transmissão de um jogo da seleção brasileira de futebol e todos corriam para as suas casas ou procuravam algum estabelecimento onde pudessem ver a partida.

No meio da praça, um pregador de cabelos brancos dizia, aos berros, uma qualquer coisa sobre o amor de Deus e a salvação eterna. Seu discurso, bem como a sua existência, pareciam ser ignorados pelos transeuntes e talvez a indiferença só não fosse total pelo incômodo causado pelos gritos do pregador, em razão dos quais alguns franziam a testa.

Também eu tive a intenção primeira de passar por ele a passos largos. Era quase a hora do jogo e certamente o tom do seu discurso não me era muito agradável. Mas, como sempre me acontece, alguma estranha força fez com que eu parasse diante dele, fitando-o por um ou dois minutos. Ao final desse breve tempo, abri um sorriso, inclinei a cabeça como se agradecesse, e segui em frente.

Saí da praça e já havia caminhado mais de meio quarteirão quando ouvi alguém me gritar:

– Moça, por favor, moça! Espera!

Eu me viro e estava ali o pregador. Aquele senhor olhou fixamente nos olhos, estendeu-me a mão com uma flor pequenina, colhida furtivamente no canteiro da praça, e disse:

– Obrigado, moça. Muito obrigado.

O segundo “obrigado” saiu a custo, com a voz já embargada, enquanto uma lágrima discreta lhe corria pelo rosto.

Surpresa com a dádiva, eu inclinei novamente a cabeça, agradeci, sorri e prossegui a caminhar em direção à minha casa. Essa cena passou diversas vezes na tela da minha memória até que cheguei à conclusão de que não há nenhuma muralha, nenhum escudo, nenhum armamento, nada que nos faça mais protegidos e mais fortes do ter a alma envolvida e permeada pela gratidão.

Ser grato é ter um pacto de reciprocidade com a Vida. Só conseguem celebrar esse acordo aqueles que já alcançaram a compreensão de que toda e qualquer experiência é uma oportunidade de crescimento espiritual e de fortalecimento moral, porque propicia-nos o autoconhecimento.

A cada momento, teremos motivos de sobra para esconjurar a vida, achincalhar a existência, maldizer os circunstantes… Mas, se escolhermos o prisma da gratidão, essas mesmas circunstâncias nos darão oportunidade de agradecer pela dádiva de estarmos vivos, de alegrarmo-nos e maravilharmo-nos na constatação de que existimos como sermos únicos e fantasticamente dotados de percepções, possibilidades, habilidades, sonhos e sentimentos ímpares.

Aquele humilde pregador poderia estar ofendido com o mundo que o ignorava, poderia estar decepcionado com a falta de fé das pessoas, poderia julgar-se ofendido, desprezado, não amado, mas a sua alma estava blindada.

A gratidão é uma blindagem que só pode ser traspassada por flechas de ternura, por dardos de uma gratidão de infindável magnitude para que a pessoa, de ternura e gratidão ferida, se faça ainda mais forte. Ainda mais protegida contra frieza e da ingratidão do mundo que a cerca.

PS.: A flor que recebi ainda a guardo como marcador de página de um livro de cabeceira. Sempre que a olho, a minha alma, em prece, agradece. Simplesmente agradece. Não importa a quem ou porquê…

Você não tem que tentar tanto…

Você não tem que tentar tanto…

A rádio toca a música “Try” da cantora pop americana Colbie Caillat e me faz pensar sobre o papel do esforço nos relacionamentos interpessoais (de todos os tipos). Eu, como muita gente que conheço, já me vi fazendo muito esforço para que algumas pessoas gostassem de mim. Era um comportamento tão recorrente que o revisitei algumas vezes em consultório.

Encontrei muita coisa na raiz desse meu “esforço”, algumas causas são bem pessoais, outras são mais generalizadas. Acho que o principal ponto é que é difícil lidar com a rejeição, ninguém gosta de sentir-se rejeitado. Nós, enquanto seres humanos e sociais que somos, precisamos de conexão para viver tanto quanto precisamos de ar, é puro instinto de sobrevivência. É inerente ao ser humano esse desejo de pertencimento. Nós queremos fazer parte de algo maior que nosso próprio umbigo, desejamos fazer parte de um grupo, sempre. Portanto, é de nossa natureza buscar isso em (quase) todos os encontros que a vida nos proporciona. Mas, nem sempre essa conexão acontece da maneira como desejamos e quando isso acontece  nos vemos inundados de sentimentos como frustração e rejeição que são de fato extremamente desconfortáveis. Então em uma nobre tentativa de evitar esse sentimento, nos esforçamos.

contioutra.com - Você não tem que tentar tanto...

Eu tenho uma personalidade expansiva e ao longo da vida consegui fazer boas conexões com os outros, me considero uma pessoa de muitos e bons amigos. Comunicativa e alegre, sempre transitei bem por entre as diversas “tribos”. Na formatura do primeiro grau subi ao palco para receber o troféu de “mais alto astral” da turma. Na formatura da faculdade subi novamente ao palco para fazer o discurso em homenagem aos colegas. Eu sempre fui boa em fazer amigos. Por isso, não me acostumei a lidar com frequência com esse sentimento de rejeição, mesmo assim ele já existiu, em diversos momentos, por motivos, que às vezes soube identificar, outras não.  Se nem sempre consigo identificar o que gera tal desconexão, o que sei afirmar com certeza é que ele é muito frustrante.

Acredito que a questão do esforço seja meio confusa para nós porque somos uma sociedade que cultiva demasiadamente um sistema de meritocracia. Enquanto na própria escola, desde muito cedo, somos ensinados que se nos esforçarmos bastante conseguiremos um bom emprego e teremos muito sucesso, infelizmente (ou felizmente) nos relacionamentos não é bem assim que funciona. Não existe sistema de meritocracia para o coração ou pelo menos, não deveria existir. Repare a natureza, nada nela acontece através de esforço. É tudo muito orgânico.

A verdade é que nem sempre conseguimos explicar porque gostamos ou não de alguém. Mas, independente disso, os melhores relacionamentos são provenientes de encontros que são fluídos, acontecem sem esforço algum. Um bom relacionamento é aquele que vem de graça, sem dívidas ou fiados, onde existe um certo equilíbrio entre o dar e receber.

Com um olhar mais atento, passei a perceber um comportamento manipulador por trás dessa máscara de “muito legal”. A pessoa que está sempre querendo agradar os outros, fazendo esforço, sendo muito prestativa, boazinha ou legal é também muito manipuladora. Geralmente são pessoas inseguras que têm muito medo da rejeição. Compreensível. Mas, são manipuladoras no sentido que, de tanto esforço feito, é privado do outro o direito de simplesmente não gostar de tal pessoa ou não querer conexão com ela. E quando, mesmo com esforço, a conexão não acontece, o vilão sempre é o outro, afinal “depois de tudo que eu fiz por/para você?”. Geralmente o outro não pediu que fosse feito nada por/para ele, mas ele leva a culpa e a má fama mesmo assim.

Hoje, como conheço essa máscara consigo ficar mais atenta, quando vejo que estou me esforçando muito para que o outro me “enxergue” eu simplesmente paro tudo. É um direito do outro não querer abrir esse canal para conectar-se comigo. Independente de qual seja o motivo. E eu preciso aprender a lidar com esse sentimento de frustração da melhor maneira possível, pois é a maior prova de respeito que posso dar para o outro (e para mim): o direito que ele tem de não querer conexão comigo. Ponto final.

E quando isso acontece é importante também não levar para o lado pessoal. Para isso também preciso deixar de lado o ego e aprender a me dar menos importância. Nem tudo está relacionado à minha pessoa, nem sempre foi algo que eu fiz, nem sempre o problema sou eu, às vezes é o outro. Na verdade existem ene motivos que podem levar uma pessoa à não querer fazer tal conexão comigo. E é perda de energia preciosa e tempo viver de achismos ou deduções, mas o que posso fazer para preservar a minha alma e meu coração nesse processo tão frustrante, é saber identificar quando estou recebendo nada ou muito pouco e quando é a hora de parar de tentar. Simplesmente parar de me esforçar e deixar estar. Deixar livre, deixar ir.

You don´t have to try so hard.

Escute a música:Colbie Caillat – Try

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