Quando rompemos, fiquei com o que era mais precioso: fiquei comigo

Quando rompemos, fiquei com o que era mais precioso: fiquei comigo

Não existe adeus tranquilo, não há serenidade na partida, tampouco alívio no rompimento. Toda e qualquer separação é dolorida e angustiante, pois com ela se despem os fracassos, avultam as mágoas, quebram-se expectativas, instala-se a impotência. Assistir aos sonhos de uma vida fazendo as malas e saindo pela porta, para nunca mais, é como perder um pedaço de si, ser arrebatado por uma vivência tardia de si mesmo.

Isso porque somos feitos para amar e somos levados, desde sempre, a acreditar na necessidade primeira de pautarmos nosso viver no aconchego de um amor que conforta e liberta, verdadeiro e eterno. Por essa razão, queremos sempre que o amor dê certo e lutamos por isso até se esgotarem as forças, muitas vezes às custas de nossa dignidade, da humanidade que nos deveria preencher.

Assim, tanto quem toma a iniciativa de romper quanto quem ainda acreditava ainda existirem chances sofrem, cada qual à sua maneira, por razões próprias. A coragem de agir e a dor da covardia são igualmente dolorosas e alquebram os sentimentos dos protagonistas das separações da vida, sem possibilidade de se medir ou comparar a dor de um e de outro. Quem vai e quem fica estarão fatalmente sozinhos naquele momento.

Chegada a hora de enfrentarmos a vida sem a presença do outro, longe daquilo por que tanto lutávamos e em que tanto acreditávamos, será preciso nos resgatarmos, continuamente, sem descanso. Não poderemos fugir da tristeza, tampouco tentar negá-la, mas teremos que encontrar maneiras de digerir aquilo tudo em favor de nosso despertar solitário, ainda que não felizes, ainda que entre lágrimas.

A tristeza é egoísta, quer tomar todos os espaços para si e instalar-se de vez, aniquilando qualquer lampejo de luz que possa vir a ofuscá-la. Há que se combater o vazio desolador e desesperador com atitudes e força de vontade imensuráveis, amparando-se também no amor daqueles que sempre estiveram conosco, com amizade sincera.

Sempre será bem vinda uma viagem demorada, uma aventura que nunca se teve coragem de enfrentar, uma nova forma de encarar a vida, mudanças de planos, de sonhos, de postura. A tristeza irá nos acompanhar aonde formos, mas com certeza se enfraquecerá aos poucos, pois a dor se alimenta da estagnação, da paralisia, da morte em vida e é combatida com movimentação, abalos nos sentidos, gargalhadas sinceras, beijos roubados e autoestima em expansão – quiçá por amores fresquinhos.

É preciso, pois, manter acesas, ainda que custe, a esperança e a certeza de que haverá sempre muito amor aguardando por nós, pois fomos feitos para durar, para recomeçar incansavelmente, enquanto vivermos, enquanto respirarmos os sonhos de uma felicidade plena e possível de ser vivenciada, desde o raiar até o anoitecer de cada novo dia.

*O título deste artigo é baseado em uma frase de Tati Bernardi.

Inadequada, eu?

Inadequada, eu?

Quantas vezes já me senti inadequada? Incontáveis vezes. Quantas vezes já sofri por isto? Todas elas.

De fato, relembrando aqui, já senti bastante inadequada. Pelo que falei, pelo que deixei de falar, pelo que pensei em falar, pelo que nem cogitei…

Por ter me vestido de menos, demais, combinando, relaxando, escandalizando…

Por ter telefonado na hora errada, ter forçado uma coincidência, deixado alguém na mão, elogiado a pessoa errada, ignorado quem não merecia…

Pelos julgamentos apressados, pelos preconceitos velados, pela falta de consistência em argumentos inúteis, por ter perdido a chance de calar.

Estar inadequado é estar fora do contexto, da direção que um tema segue, da evolução dos fatos. É nadar contra e se afogar em contradições.

Sentir-se inadequado é perceber-se fazendo ou sentindo algo que grita contra a sua natureza, mas sem reação forte o bastante para recuar.

Não notar-se inadequado é deixar-se cumprir aquele papel incômodo, ridículo, vulnerável, contestável, tantas vezes lamentável. É ser o tolo da vez.

Em todas as instâncias, o sentimento ponteagudo de inadequação mostra que, dentre os caminhos possíveis, acabamos escolhendo o que não nos comporta, não nos suporta, não nos dá passagem fácil. Saímos dele envergonhados e muitas vezes culpados.

Para compensar, não fui inadequada todas as vezes em que pensei antes de falar, julgar, discutir e discursar, ainda que a vontade fosse forte e a platéia, atraente.

Não fui inadequada quando me olhei verdadeiramente no espelho e me senti bem para mim e não para os outros, aceitei meu corpo, minhas formas, meu andar, meu olhar.

Nem quando tomei uma atitude certa do que estava fazendo e não só para impressionar, quando disse sim apenas quando quis dizer sim, e não quando era a única resposta que cabia.

Por fim, colocando tudo na balança, parece que é parte habitual da gente, esse sentimento estranho, esse sapato de número trocado, mal calçado, inadequado.

E se é inevitável que sejamos inadequados em certas ocasiões, que sejamos tanto mais leves e divertidos quanto poderá ser a nossa gafe.

Essa ainda me parece a forma mais adequada de lidar com uma atitude inadequada.

Sobre seu filme favorito…

Sobre seu filme favorito…

Qual é seu filme preferido? Quantas vezes você já assistiu? Do que você mais gosta na personagem principal? Tem alguma característica específica ou é o jeito com que ela se comporta durante todo o filme? É uma história real ou fictícia?

Independentemente das respostas que você deu acima, estou quase que totalmente certa de que o que mais te encanta e o que mais te prende no enredo dessa história, seja essa real ou não, é a determinação ou a resiliência contidas nas atitudes e nas escolhas dos principais envolvidos.

É a capacidade que eles têm de, diante da adversidade, persistir e encontrar a melhor resposta, a melhor saída. É a evolução e o amadurecimento deles no decorrer dos acontecimentos. O que te encanta é a fé, a coragem e, arrisco dizer, até alguma (ou muita) dor que eles sentem em determinados momentos.

Sim, porque é disso que é feita a vida! De dinâmicas pessoais. De personalidades se construindo. De crenças e valores fortes. Da busca pela felicidade. Da superação. E, arrisco de novo, quanto maior for a dor experimentada, maior será a alegria e a sensação de gratidão no momento da vitória.

O que quero dizer com isso? Bem, é que não consigo entender por que tantas pessoas ainda desejam viver uma vida sem desafios, sem dor, sem medos, sem motivos para se superar, já que é justamente tudo isso que confere à história de cada um a beleza, a emoção e as maiores oportunidades de crescimento?

Por que você ainda insiste em acreditar que seria possível e até interessante viver uma vida morna ou perfeita? Sem graça ou sem problemas. Isso definitivamente não existe. E se existisse, nos levaria ao tédio absoluto, à estagnação completa e a um caos dentro de nós mesmos.

Por isso, em vez de passar seus dias reclamando das relações que não deram certo, das tentativas fracassadas ou das investidas que ainda não tiveram o final feliz que você tanto deseja, imagine-se protagonista de um filme campeão de bilheterias. Imagine-se indicado ao Oscar de melhor amante, melhor vivente, o melhor exemplo de superação do ano!

Faça sua vida valer a pena ao invés de sentar no sofá e se lamentar. Não acredite que só é feliz quem nunca sofre. Não deseje, de um jeito infantil e covarde, uma vidinha perfeitinha e absolutamente incompatível com a natureza humana de um guerreiro de verdade. Não!

Se jogue em novas experiências. Acredite que você é capaz de lidar com tudo o que surgir no seu coração e diante dos seus olhos. Aposte que você é não só a personagem principal de sua história, mas também o diretor – aquele que transforma o enredo que vier numa sequência de escolhas e ações que tiram o fôlego de quem está te assistindo!

E para isso, tudo o que você precisa é se preparar. Abrir a mente, a alma e o coração. Buscar seus recursos internos. Treinar o melhor que existe em você. E, por fim, viver um dia de cada vez. Uma cena de cada vez. Para que o amor seja sentido não só no final, mas a cada ato consumado.

Você é a média das 5 pessoas com quem passa mais tempo

Você é a média das 5 pessoas com quem passa mais tempo

O ambiente em que vivemos afeta o que somos. O conjunto de características do grupo em que estamos inseridos influencia na maneira em que nos comportamos como seres humanos.

Jim Rohn foi um famoso empreendedor, autor e palestrante motivacional que certa vez cunhou uma das frases mais utilizadas no mercado de desenvolvimento pessoal:

“Você é a média das cinco pessoas com quem passa mais tempo”.

Essa afirmação, embora não científica, é amplamente aceita e reconhecida como verdadeira.

Você já considerou que as pessoas em seu entorno podem afetar o caminho do seu futuro e da sua carreira? Todos nós precisamos de familiares, amigos e mentores em nossas vidas, no entanto, você já parou para pensar que talvez algumas dessas pessoas tenham um impacto negativo em sua vida, mesmo que inconscientemente?

O que isto significa?

Isto significa que o seu ambiente — especificamente as pessoas inseridas nele — tem um enorme impacto em quem você se torna. Nossa vida social tem grande relação com os resultados que alcançamos. Tem relação com a concretização ou não dos nossos objetivos e aspirações.

Em tese, cercar-se de pessoas saudáveis, inteligentes, desafiadoras e interessantes provavelmente o tornará como esses caras. E o oposto também é válido. Você deve se afastar de pessoas negativas e que não estejam alinhadas com o seu mindset. Menos “isso não vai dar certo” e mais “tem alguma maneira em que eu possa te ajudar a conseguir isso?“.

Por exemplo: se você está cercado de pessoas que não se preocupam com a saúde, certamente esta também não será uma preocupação sua.

Não estou dizendo que você deva abandonar familiares e amigos que se enquadrem nessas descrições. Talvez eles não estejam alinhados com seu grande objetivo de vida, mas vocês podem crescer juntos em alguma área específica de suas vidas. Ou talvez a relação de vocês esteja baseada apenas no lazer — e não tem problema algum nisso. Porém, busque novas formas externas de encorajamento e deixe os conselhos para quem está na mesma sintonia.

Por que é importante?

Você tem o poder de controlar quem você se torna. Não só a nível interno através do desenvolvimento pessoal, mas ao escolher com quem você passa mais tempo. Se seu círculo de amizades tiver pessoas mais espertas que você, mais ricas, mais saudáveis e mais bem sucedidas, há uma grande chance de se tornar como essas pessoas. Por outro lado, se seu círculo interno é formado por pessoas negativas, fofoqueiras e preguiçosas, provavelmente este será o conjunto de coisas que o futuro reservará pra você — e aí não adianta esperar que algum milagre aconteça.

O poder do nosso ambiente é tão grande que pode influenciar toda a sua vida. Se você quer ficar rico, ande com pessoas ricas. Agora, se quer ter uma vida minimalista e desapegada, fique longe desses caras. Tudo o que você quer para o seu futuro pode ser moldado através das relações humanas que você tem no seu dia a dia.

Como encontrar pessoas alinhadas com sua visão de mundo?

Nasci em Imbituba, uma cidade localizada no belo litoral catarinense com pouco mais de 40 mil habitantes onde morei até meus 24 anos. Em 2013 me mudei para Tubarão — 50km de distância de Imbituba — em busca de oportunidades que não encontrei em minha cidade natal.

Passei o último final de semana na capital Florianópolis e foi aí que tive o insight para este texto baseado na frase de Jim Rohn.

Tubarão é uma dessas cidades em que a economia gira em torno do comércio tradicional. E, veja bem, não há nada de errado com isso. Tem muita gente ganhando dinheiro e sendo feliz no varejo. Porém, geralmente, esse tipo de atividade lima o potencial criativo das pessoas. Você faz, diariamente, mais do mesmo e não há espaço para a inovação.

Florianópolis, por sua vez, tem se destacado como uma cidade criativa. Tem muita coisa rolando dentro do empreendedorismo e do marketing digital, minhas áreas de interesse. Talvez, no meu caso específico, seja o tipo de ambiente que preciso e que nunca terei numa cidade com as características de Tubarão — e, novamente, não há nada de errado com a cidade, nem com seus habitantes.

O ponto aqui é que você deve se questionar sobre onde seu mercado de interesse está e o que as pessoas tem feito por lá — quais palestras elas tem assistido, que cursos tem feito, que eventos tem participado. Se alguém que você admira estará em determinado evento, vá até lá. Ouça o que esses caras tem a dizer, interaja nos happy hours, expanda seu networking.

Portanto, esteja sempre aberto para mudanças. Sejam elas no seu círculo social ou mesmo geográficas. E reforço que isso não significa que você deva abandonar sua família ou amigos. O fato é que talvez eles não sejam os melhores conselheiros para o que você procura, por isso é importante estar rodeado de pessoas que estão em sintonia com seus objetivos.

Exercício

Pergunte a si mesmo o seguinte:

  • Com quem você está gastando seu tempo?
  • Sobre o que eles falam?
  • Estão de acordo com a forma como você deseja aparecer no mundo?
  • Eles estão te levantando ou tentando mantê-lo preso?
    ***

Se você está na mesma vibe que eu do empreendedorismo e do marketing digital, estarei nos dias 03 e 04 de novembro em Florianópolis para o RD Summit 2016. Bora lá trocar uma ideia durante o happy hour?

Só os loucos são capazes de mudar o mundo

Só os loucos são capazes de mudar o mundo

A gente não devia, mas vai se acostumando. Vai se acostumando a ficar parado, a não se incomodar, a achar que não há nada que possa ser feito, a aceitar que o mundo sempre foi assim e que não há saída. A gente não devia, mas vai se acostumando.

Vai se acostumando a aceitar os desmandos, a exploração como um processo inexorável, a corrupção como insuperável. A gente não devia, mas vai se acostumando. Vai se acostumando a calar, até que o silêncio ecoe pelos quatro cantos a nossa indiferença.

Ítalo Calvino disse que: “O inferno dos vivos não é algo que será: se existe um, é o que já está aqui, o inferno em que vivemos todos os dias, que formamos estando juntos. Há duas maneiras de não sofrê-lo. A primeira é fácil para muitos: aceitar o inferno e se tornar parte dele a ponto de não conseguir mais vê-lo. A segunda é arriscada e exige vigilância e preocupação constantes: procurar e saber reconhecer quem e o quê, no meio do inferno, não são inferno, e fazê-los durar, dar-lhes espaço”.

Diante do exposto, é sabido que conformar-se é sempre uma saída mais cômoda. Somos frágeis, precários, e na maior parte do tempo sequer damos conta de nós mesmos, de tal modo que imaginar ser possível mudar o mundo a partir das nossas ações parece loucura. Sendo assim, preferimos nos acostumar com a realidade, aceitando-a como um processo tal como é, sem qualquer possibilidade de modificação. E, então, como ninguém se incomoda, o inferno permanece sempre mais vivo, alimentando-se da nossa covardia e indiferença.

Entretanto, embora não acreditemos ser capazes de alterar o nosso meio, esperamos que essas modificações possam vir de outras pessoas, sobretudo, quando o inferno que alimentamos trata de nos causar queimaduras. Paradoxal? É sempre mais fácil acreditar na existência de heróis do que arregaçar as mangas e tentar fazer algo. É sempre mais fácil se manter na zona de conforto do padrão da conformidade do que assumir a condição louca da mudança, pois lembrando Kerouac – “[…] as pessoas que são loucas o bastante para pensarem que podem mudar o mundo são as únicas que realmente podem fazê-lo”.

Assim sendo, ainda que a nossa condição seja de fato precária e não tenhamos controle sobre quase nada, há possibilidade de mudar o mundo a partir de nós mesmos. No entanto, como ressalta Calvino, essa escolha necessita de coragem e esforço para que fujamos das labaredas, para que sejamos a luz a que os poetas às vezes dão o nome de esperança, para que sejamos loucos, inadequados, inconformados, para que tenhamos a coragem de sempre fazer algo e mais coragem ainda para acreditar que esse algo que incomoda, essa revolução interior é a maior que pode existir e é a única que de fato pode dar espaço àquilo que não é inferno no meio dele, já que como lembra Joseph Brodsky:

“Eu não acredito em movimentos políticos. Acredito em movimentos pessoais, ao movimento da alma, quando um homem olha para si mesmo e está tão envergonhado que tenta fazer algum tipo de mudança – dentro de si mesmo, não do lado de fora”.

Ou seja, a mudança no mundo externo depende da nossa mudança interna. Depende da forma que nos enxergamos como parte do problema, como parte do inferno, ao passo que buscamos, por meio do nosso eu, ser a mudança que queremos no mundo, ser o que não é chama no meio do fogo. Antes de arrumar o quebra-cabeça maior é necessário arrumar o nosso quebra-cabeça, pois quando a gente arruma o homem, consequentemente, nós arrumamos o mundo ou como diz um pensador chamado Gabriel – “Quando a gente muda, o mundo muda com a gente”.

Podemos não ter o melhor dos mundos, mas um mundo melhor depende da forma que nós lutamos por ele. Para isso é preciso vigilância e preocupação constantes como diz Calvino, loucura como lembra Kerouac e vergonha como atenta Brodsky, porque por mais que as condições sejam adversas, sempre há o que pode ser feito. E mesmo que isso seja pouco, não importa, porque à luz de Thoreau, um “louco” no seu tempo: “Um homem não tem que fazer tudo, mas algo, e não é porque não pode fazer tudo que precisa fazer este algo de maneira errada. Pois não importa quão limitado possa parecer o começo: aquilo que é bem feito uma vez está feito para sempre”.

Ser humilde não é ser submisso!

Ser humilde não é ser submisso!

Enquanto a humildade é caracterizada por uma forte aceitação de si e dos demais como seres com o mesmo valor, a submissão é marcada pela rejeição de si mesmo e uma supervalorização do outro.

Às vezes, confundimos as coisas e achamos, por exemplo, que ser humilde é a mesma coisa que ser submisso. Mas não, não é, mesmo que ambas as palavras sejam frequentemente empregadas como sinônimos.

Uma pessoa humilde não busca ficar no centro das atenções, não por medo ou timidez, não por se sentir inferior, mas por entender que isso não é importante, por saber que ninguém precisa estar no centro para ser centrado. E a pessoa humilde pode até abrir mão de expressar sua própria opinião, não por achar que ela não tenha valor, mas por entender que o que ela pensa, naquele momento, talvez não seja tão importante ou por perceber em certas situações que é mais prudente se calar.

Ser humilde é ser modesto e ter consciência das próprias limitações, é aceitar-se e aceitar os outros e viver de forma simples, natural e despretensiosa, sem vaidade, sem se corromper por valores estranhos e compreendendo que não é melhor que ninguém. Sim, ser humilde é principalmente isso: compreender que não se é melhor que ninguém, pois ninguém neste mundo é melhor que ninguém. Então, a pessoa humilde sabe que também o outro, qualquer outro, não é melhor que ela. E aqui está a principal diferença entre a humildade e a submissão.

A pessoa submissa não se valoriza, acredita não ter os mesmos direitos que (determinadas) outras pessoas, acha-se fraca perante aqueles que vê como mais fortes, permite ser desprezada porque ela mesma se despreza e abre muitas vezes mão de seu lugar neste mundo por se sentir inferior, por acreditar ser alguém de segunda categoria.

Enquanto a humildade é caracterizada por uma forte aceitação de si e dos demais como seres com o mesmo valor, a submissão é marcada pela rejeição de si mesmo e uma supervalorização do outro. Enquanto, então, a humildade é o gesto de amor próprio e ao próximo, a submissão é um gesto de negação de si mesmo, de alguém que não se ama e não se respeita.

Ao ter consciência das próprias limitações, a pessoa humilde sabe também onde estão os limites do outro, não permitindo que ele vá longe demais e não aceitando ser menosprezada, maltratada, humilhada por ninguém. Já a pessoa submissa não conhece esses limites ou talvez até conheça, mas não acredita ter o direito de impô-los, aceitando o menosprezo, os maus-tratos e a humilhação, submetendo-se até mesmo a um rebaixamento moral.

Portanto, está enganado quem acredita que está sendo humilde ao aceitar ser pisado por quem quer que seja, pois isso nada tem a ver com humildade. Isso é submissão.

Outra diferença entre as duas coisas é que a pessoa humilde é humilde sempre, independentemente da pessoa com quem interage. Ela será humilde ao falar com o chefe, com o prefeito, com o Presidente da República e será igualmente humilde ao falar com um empregado, com o zelador do prédio ou com o desabrigado que lhe pede esmola na rua. Novamente: ela entende que todas as pessoas (todas mesmo!) têm o mesmo valor. Já a pessoa submissa costuma se rebaixar diante daqueles que acredita que são mais fortes que ela, mas tenta humilhar alguém que acredite ser mais fraco. Ela aceitará então ser maltratada por seu chefe, mas maltratará o zelador do prédio ou qualquer um que julgue ser inferior.

Para mim, humildade é uma virtude, que devemos incentivar e alimentar. Já a submissão é um desvio, um defeito que precisamos corrigir o mais rápido possível. A humildade liberta, a submissão aprisiona.

Devemos sim nos sentir pequenos, pois somos pequenos, mas diante da criação, do universo, da vida. Mas jamais devemos nos diminuir perante qualquer outra pessoa, já que, na essência, somos todos iguais.

Para um “eu te amo” não há porquê

Para um “eu te amo” não há porquê

Temos essa ideia antiga de que para dizer “eu te amo” é necessária uma explicação cheia de sentimentalismos e gestos fartos, como se amar fosse obrigatório de provas. Essa ebulição emocional, algumas vezes, brota nos pequenos instantes. E não há absolutamente nada de errado nisso.

Benditos sejam os indivíduos que transbordam esses dizeres. Não se acomodam ou possuem medo de expressar os versos que surgem na garganta. É claro que a cautela existe. Ninguém precisa sair por aí declamando sem direção os pormenores da paixão pelo outro, mas é inegável o poder da paz de, consigo, nutrir a liberdade da escolha em dizê-lo. Um “eu te amo” não é para ser medido numa régua com início, meio e fim. Reconhecer o amor numa espécie de contrato a ser seguido por ambas as partes só faz bem aos corações cansados.

O tempo é mero detalhe quando se quer falar do nó de dois. Esperar o quê? Amanhã pode ser tarde. Depois de amanhã pode ser nunca. Entre todas as coisas cabíveis a serem ditas e escritas, o “eu te amo” não está banalizado. Pois não existe um porquê para o sentimento de carinho, cumplicidade e querer bem.

Não vamos dar adeus para essas três palavras. Elas merecem mais. Nós merecemos mais. Sem emboras, todavias e portantos. Eu te amo assim mesmo, com a cara estampada de sorrisos.

Olho as minhas mãos- Mário Quintana

Olho as minhas mãos- Mário Quintana

Olho as minhas mãos: elas só não são estranhas
Porque são minhas. Mas é tão esquisito distendê-las
Assim, lentamente, como essas anêmonas do fundo do mar…
Fechá-las, de repente,
Os dedos como pétalas carnívoras !
Só apanho, porém, com elas, esse alimento impalpável do tempo,
Que me sustenta, e mata, e que vai secretando o pensamento
Como tecem as teias as aranhas.
A que mundo
Pertenço?
No mundo há pedras, baobás, panteras,
Águas cantarolantes, o vento ventando
E no alto as nuvens improvisando sem cessar.
Mas nada, disso tudo, diz: “existo”.
Porque apenas existem…
Enquanto isto,
O tempo engendra a morte, e a morte gera os deuses
E, cheios de esperança e medo,
Oficiamos rituais, inventamos
Palavras mágicas,
Fazemos
Poemas, pobres poemas
Que o vento
Mistura, confunde e dispersa no ar…
Nem na estrela do céu nem na estrela do mar
Foi este o fim da Criação!
Mas, então,
Quem urde eternamente a trama de tão velhos sonhos ?
Quem faz – em mim – esta interrogação?

Mário Quintana

Eu o perdoo porque o amo, mas me afasto porque me amo

Eu o perdoo porque o amo, mas me afasto porque me amo

Um “te amo” e um “me amo” não precisam competir entre si, mas sempre será conveniente que, em nossa relação, coloquemos o nosso bem-estar em primeiro lugar para não sairmos feridos.

Antes de dizer um “te amo” sincero e emocionado, deveríamos dizer a nós mesmos “eu me amo e mereço ser feliz”.

Não é fácil separar estas duas esferas tão íntimas e complexas, como são as necessidades de si mesmo e do próprio parceiro. No entanto, é vital estar atento à nossa autoestima e nossa identidade.

Se alguma vez você viveu este momento em que teve que deixar a pessoa que amava porque era consciente de que manter a relação era tão doloroso quanto autodestrutivo, saberá, sem dúvida, o quanto é difícil tomar esta decisão.

Algo que toda pessoa deve saber, em especial no caso dos adolescentes que iniciam suas primeiras relações afetivas, é que o amor autêntico não dói.

O amor deve ser bonito, reconfortante e sábio, para que o “te amo” e o “me amo” não sejam como a água e o óleo.

Convidamos você a refletir sobre isso.

Eu me amo o bastante para amá-lo com toda a minha alma

Quem não ama a si mesmo dificilmente poderá estabelecer uma relação sincera e saudável. Fica claro que nenhum de nós é sábio artesão do afeto, da correspondência e desta cumplicidade que entende, respeita e constrói uma autêntica felicidade.

O amor é construído a cada dia, mas sempre que houver vontade de ambas as partes e que não se busque exclusivamente satisfazer as próprias necessidades.

Quem não ama a si mesmo

– Quem não ama a si mesmo busca que os demais satisfaçam suas carências e necessidades emocionais.

– É impossível atender a nossa autoestima e identidade quando mantemos uma relação afetiva com alguém que não ama a si mesmo. Concentramos todas as nossas energias em atender o outro, em fazer feliz a esta pessoa.

– Em alguns casos, quando nos apaixonamos por alguém que não se ama, pensamos que vamos agir como seus “salvadores”, que seremos nós a resposta para seus problemas e a luz para sua escuridão.

– No entanto, o que acontece é que, no final das contas, ficamos esgotados emocionalmente até o ponto em que nos esquecemos de nós mesmos.

Me amo o bastante para amá-lo como você merece

Uma relação madura é uma relação consciente, onde nenhum dos membros do casal se chantageia e onde não existe “o seu e o meu” nem muito menos o “porque sim”.

Em uma relação madura posso dizer “me amo” porque sei que somente quando me sentir uma pessoa completa, sem medo da solidão e que sabe como se constrói a felicidade, poderei dar o melhor de mim para a outra pessoa.

Se eu me amo, não o obrigarei a apagar meus medos, a cobrir minhas carências, a ser meu salvador cotidiano e a “dar-me oxigênio” sempre que eu precisar respirar.

Eu o perdoo, mas irei deixá-lo

Assim como comentamos no início, a maioria de nós teve que deixar alguém que amávamos em alguma ocasião. A razão para esta distância pode ser uma traição, o cansaço, dar-nos conta de que não somos amados como merecemos.

– Pois bem, seja qual for a causa pela qual tivemos que romper este laço afetivo, é necessário fazer uso do perdão.

– Pode ser difícil, pode ser que sintamos uma dor enorme, mas este é o único modo de fechar esta etapa de nossas vidas.

– O amor próprio e a dignidade são autênticos nutrientes do coração, estes que nos permitem agir sempre com maturidade mesmo nos momentos mais complicados.

– Sem autoestima poderíamos seguir mantendo uma relação tóxica somente por medo de ficarmos sozinhos, por temos que deixarmos uma pessoa que amamos, e ainda que nos faça infelizes, preferimos isso porque tememos mais ainda ficar sem esta outra metade que nos completa.

Não devemos cair neste tipo de situação. O amor próprio é o que nos confere esta valentia pessoal capaz de deixar algo quando já não tem futuro, quando já não se sustenta, e o que nos proporciona são mais lágrimas do que alegrias.

Não se esqueça: você nunca será egoísta por dizer a si mesmo a cada dia: “me amo e mereço ser feliz”.

Fonte indicada: Melhor com Saúde

Idosos órfãos de filhos vivos são os novos desvalidos do século XXI

Idosos órfãos de filhos vivos são os novos desvalidos do século XXI

Atenção e carinho estão para a alegria da alma, como o ar que respiramos está para a saúde do corpo. Nestas últimas décadas surgiu uma geração de pais sem filhos presentes, por força de uma cultura de independência e autonomia levada ao extremo, que impacta negativamente no modo de vida de toda a família. Muitos filhos adultos ficam irritados por precisarem acompanhar os pais idosos ao médico, aos laboratórios. Irritam-se pelo seu andar mais lento e suas dificuldades de se organizar no tempo, sua incapacidade crescente de serem ágeis nos gestos e decisões.

Por Ana Fraiman, Mestre em Psicologia Social pela USP

A ordem era essa: em busca de melhores oportunidades, vinham para as cidades os filhos mais crescidos e não necessariamente os mais fortes, que logo traziam seus irmãos, que logo traziam seus pais e moravam todos sob um mesmo teto, até que a vida e o trabalho duro e honesto lhes propiciassem melhores condições. Este senhor, com olhos sonhadores, rememorava com saudade os tempos em que cavavam buracos nas terras e ali dormiam, cheios de sonho que lhes fortalecia os músculos cansados. Não importava dormir ao relento. Cediam ao cansaço sob a luz das estrelas e das esperanças.

A evasão dos mais jovens em busca de recursos de sobrevivência e de desenvolvimento, sempre ocorreu. Trabalho, estudos, fugas das guerras e perseguições, a seca e a fome brutal, desde que o mundo é mundo pressionou os jovens a abandonarem o lar paterno. Também os jovens fugiram da violência e brutalidade de seus pais ignorantes e de mau gênio. Nada disso, porém, era vivido como abandono: era rompimento nos casos mais drásticos. Era separação vivida como intervalo, breve ou tornado definitivo, caso a vida não lhes concedesse condição futura de reencontro, de reunião.

Separação e responsabilidade

Assim como os pais deixavam e, ainda deixam seus filhos em mãos de outros familiares, ao partirem em busca de melhores condições de vida, de trabalho e estudos, houve filhos que se separaram de seus pais. Em geral, porém, isso não é percebido como abandono emocional. Não há descaso nem esquecimento. Os filhos que partem e partiam, também assumiam responsabilidades pesadas de ampará-los e aos irmãos mais jovens. Gratidão e retorno, em forma de cuidados ainda que à distância. Mesmo quando um filho não está presente na vida de seus pais, sua voz ao telefone, agora enviada pelas modernas tecnologias e, com ela as imagens nas telinhas, carrega a melodia do afeto, da saudade e da genuína preocupação. E os mais velhos nutrem seus corações e curam as feridas de suas almas, por que se sentem amados e podem abençoá-los. Nos tempos de hoje, porém, dentro de um espectro social muito amplo e profundo, os abandonos e as distâncias não ocupam mais do que algumas quadras ou quilômetros que podem ser vencidos em poucas horas. Nasceu uma geração de ‘pais órfãos de filhos’. Pais órfãos que não se negam a prestar ajuda financeira. Pais mais velhos que sustentam os netos nas escolas e pagam viagens de estudo fora do país. Pais que cedem seus créditos consignados para filhos contraírem dívidas em seus honrados nomes, que lhes antecipam herança. Mas que não têm assento à vida familiar dos mais jovens, seus próprios filhos e netos, em razão – talvez, não diretamente de seu desinteresse, nem de sua falta de tempo – mas da crença de que seus pais se bastam.

Este estilo de vida, nos dias comuns, que não inclui conversa amena e exclui a ‘presença a troco de nada, só para ficar junto’, dificulta ou, mesmo, impede o compartilhar de valores e interesses por parte dos membros de uma família na atualidade, resulta de uma cultura baseada na afirmação das individualidades e na política familiar focada nos mais jovens, nos que tomam decisões ego-centradas e na alta velocidade: tudo muito veloz, tudo fugaz, tudo incerto e instável. Vida líquida, como diz Zygmunt Bauman, sociólogo polonês. Instalou-se e aprofundou-se nos pais, nem tão velhos assim, o sentimento de abandono. E de desespero. O universo de relacionamento nas sociedades líquidas assegura a insegurança permanente e monta uma armadilha em que redes sociais são suficientes para gerar controle e sentimento de pertença. Não passam, porém de ilusões que mascaram as distâncias interpessoais que se acentuam e que esvaziam de afeto, mesmo aquelas que são primordiais: entre pais e filhos e entre irmãos. O desespero calado dos pais desvalidos, órfãos de quem lhes asseguraria conforto emocional e, quiçá material, não faz parte de uma genuína renúncia da parte destes pais, que ‘não querem incomodar ninguém’, uma falsa racionalidade – e é para isso que se prestam as racionalizações – que abala a saúde, a segurança pessoal, o senso de pertença. É do medo de perder o pouco que seus filhos lhes concedem em termos de atenção e presença afetuosa. O primado da ‘falta de tempo’ torna muito difícil viver um dia a dia em que a pessoa está sujeita ao pânico de não ter com quem contar.

A irritação por precisar mudar alguns hábitos. Muitos filhos adultos ficam irritados por precisarem acompanhar os pais idosos ao médico, aos laboratórios. Irritam-se pelo seu andar mais lento e suas dificuldades de se organizar no tempo, sua incapacidade crescente de serem ágeis nos gestos e decisões. Desde os poucos minutos dos sinais luminosos para se atravessar uma rua, até as grandes filas nos supermercados, a dificuldade de caminhar por calçadas quebradas e a hesitação ao digitar uma senha de computador, qualquer coisa que tire o adulto de seu tempo de trabalho e do seu lazer, ao acompanhar os pais, é causa de irritação. Inclusive por que o próprio lazer, igualmente, é executado com horário marcado e em espaço determinado. Nas salas de espera veem-se os idosos calados e seus filhos entretidos nos seus jornais, revistas, tablets e celulares. Vive-se uma vida velocíssima, em que quase todo o tempo do simples existir deve ser vertido para tempo útil, entendendo-se tempo útil como aquele que também é investido nas redes sociais. Enquanto isso, para os mais velhos o relógio gira mais lento, à medida que percebem, eles próprios, irem passando pelo tempo. O tempo para estar parado, o tempo da fruição está limitado. Os adultos correm para diminuir suas ansiosas marchas em aulas de meditação. Os mais velhos têm tempo sobrante para escutar os outros, ou para lerem seus livros, a Bíblia, tudo aquilo que possa requerer reflexão. Ou somente uma leve distração. Os idosos leem o de que gostam. Adultos devoram artigos, revistas e informações sobre o seu trabalho, em suas hiper especializações. Têm que estar a par de tudo just in time – o que não significa exatamente saber, posto que existe grande diferença entre saber e tomar conhecimento. Já, os mais velhos querem mais é se livrar do excesso de conhecimento e manter suas mentes mais abertas e em repouso. Ou, então, focadas naquilo que realmente lhes faz bem como pessoa. Restam poucos interesses em comum a compartilhar. Idosos precisam de tempo para fazer nada e, simplesmente recordar. Idosos apreciam prosear. Adultos têm necessidade de dizer e de contar. A prosa poética e contemplativa ausentou-se do seu dia a dia. Ela não é útil, não produz resultados palpáveis.

A dificuldade de reconhecer a falta que o outro faz.

Do prisma dos relacionamentos afetivos e dos compromissos existenciais, todas as gerações têm medo de confessar o quanto o outro faz falta em suas vidas, como se isso fraqueza fosse. Montou-se, coletivamente, uma enorme e terrível armadilha existencial, como se ninguém mais precisasse de ninguém. A família nuclear é muito ameaçadora. para o conforto, segurança e bem-estar: um número grande de filhos não mais é bemvindo, pais longevos não são bem tolerados e tudo isso custa muito caro, financeira, material e psicologicamente falando. Sobrevieram a solidão e o medo permanente que impregnam a cultura utilitarista, que transformou as relações humanas em transações comerciais. As pessoas se enxergam como recursos ou clientes. Pais em desespero tentam comprar o amor dos filhos e temem os ataques e abandono de clientes descontentes. Mas, carinho de filho não se compra, assim como ausência de pai e mãe não se compensa com presentes, dinheiro e silêncio sobre as dores profundas as gerações em conflito se infringem. Por vezes a estratégia de condutas desviantes dão certo, para os adolescentes conseguirem trazer seus pais para mais perto, enquanto os mais idosos caem doentes, necessitando – objetivamente – de cuidados especiais. Tudo isso, porém, tem um altíssimo custo. Diálogo? Só existe o verdadeiro diálogo entre aqueles que não comungam das mesmas crenças e valores, que são efetivamente diferentes. Conversar, trocar ideias não é dialogar. Dialogar é abrir-se para o outro. É experiência delicada e profunda de auto revelação. Dialogar requer tempo, ambiente e clima, para que se realizem escutas autênticas e para que sejam afastadas as mútuas projeções. O que sabem, pais e filhos, sobre as noites insones de uns e de outros? O que conversam eles sobre os receios, inseguranças e solidão? E sobre os novos amores? Cada geração se encerra dentro de si própria e age como se tudo estivesse certo e correto, quando isso não é verdade.

A dificuldade de reconhecer limites característicos do envelhecimento dos pais. Este é o modelo que se pode identificar. Muito mais grave seria não ter modelo. A questão é que as dores são tão mascaradas, profundas e bem alimentadas pelas novas tecnologias, inclusive, que todas as gerações estão envolvidas pelo desejo exacerbado de viver fortes emoções e correr riscos desnecessários, quase que diariamente. Drogas e violência toldam a visão de consequências e sequestram as responsabilidades. Na infância e adolescência os pais devem ser responsáveis pelos seus filhos. Depois, os adultos, cada qual deve ser responsável por si próprio. Mais além, os filhos devem ser responsáveis por seus pais de mais idade. E quando não se é mais nem tão jovem e, ainda não tão idoso que se necessite de cuidados permanentes por parte dos filhos? Temos aí a geração de pais desvalidos: pais órfãos de seus filhos vivos. E estes respondem, de maneira geral, ou com negligência ou, com superproteção. Qualquer das formas caracteriza maus cuidados e violência emocional.

Na vida dos mais velhos alguns dos limites físicos e mentais vão se instalando e vão mudando com a idade. Dos pais e dos filhos. Desobrigados que foram de serem solidários aos seus pais, os filhos adultos como que se habituaram a não prestarem atenção às necessidades de seus pais, conforme envelhecem. Mantêm expectativas irrealistas e não têm pálida ideia do que é ter lutado toda uma vida para se auto afirmar, para depois passar a viver com dependências relativas e dar de frente com a grande dor da exclusão social. A começar pela perda dos postos de trabalho e, a continuar, pela enxurrada de preconceitos que se abatem sobre os idosos, nas sociedades profundamente preconceituosas e fóbicas em relação à morte e à velhice. Somente que, em vez de se flexibilizarem, uns e outros, os filhos tentam modificar seus pais, ensinando-lhes como envelhecer. Chega a ser patético. Então, eles impõem suas verdades pós-modernas e os idosos fingem acatar seus conselhos, que não foram pedidos e nem lhes cabem de fato.

De onde vem a prepotência de filhos adultos e netos adolescentes que se arrogam saber como seus pais e avós devem ser, fazer, sentir e pensar ao envelhecer? É risível o esforço das gerações mais jovens, querendo educa-los, quando o envelhecimento é uma obra social e, mais, profundamente coletiva, da qual os adultos de hoje – que justa, porém indevidamente – cultivam os valores da juventude permanente e, da velhice não fazem a mais pálida ideia. Além do que, também não têm a menor noção de como haverão eles próprios de envelhecer, uma vez que está em curso uma profunda mudança nas formas, estilos e no tempo de se viver até envelhecer naturalmente e, morrer a Boa Morte. Penso ser uma verdadeira utopia propor, neste momento crítico, mudanças definidas na interação entre pais e filhos e entre irmãos. Mudanças definidas e, de nenhuma forma definitivas, porém, um tanto mais humanas, sensíveis e confortáveis. O compartilhar é imperativo. O dialogar poderá interpor-se entre os conflitos geracionais, quem sabe atenuando-os e reafirmando a necessidade de resgatar a simplicidade dos afetos garantidos e das presenças necessárias para a segurança de todos.

Quando a solidão e o desamparo, o abandono emocional, forem reconhecidos como altamente nocivos, pela experiência e pelas autoridades médicas, em redes públicas de saúde e de comunicação, quem sabe ouviremos mais pessoas que pensam desta mesma forma, porém se auto impuseram a lei do silêncio. Por vergonha de se declararem abandonados justamente por aqueles a quem mais se dedicaram até então. É necessário aprender a enfrentar o que constitui perigo, alto risco para a saúde moral e emocional para cada faixa etária. Temos previsão de que, chegados ao ano de 2.035, no Brasil haverá mais pessoas com 55 anos ou mais de idade, do que crianças de até dez anos, em toda a população. E, com certeza, no seio das famílias. Estudos de grande envergadura em relação ao envelhecimento populacional afirmam que a população de 80 anos e mais é a que vai quadruplicar de hoje até o ano de 2.050. O diálogo, portanto, intra e intergeracional deve ensaiar seus passos desde agora. O aumento expressivo de idosos acima dos 80 anos nas políticas públicas ainda não está, nem de longe, sendo contemplado pelas autoridades competentes. As medidas a serem tomadas serão muito duras. Ninguém de nós vai ficar de fora. Como não deve permanecer fora da discussão sobre o envelhecimento populacional mundial e as estratégias para enfrentá-lo.

Para ler na integra acesse Ana Fraiman  

Imagem de capa: Idoso angustiado, de Thais Batista

É preciso saber a hora de sair

É preciso saber a hora de sair

Numa análise rasa, desde pequenos somos ensinados que persistência significa sucesso e desistir quer dizer que você fracassou. Avançar é progresso e parar é derrota. A verdade, porém, é um pouco mais sutil.

Quer se trate de um trabalho, empreendimento, relacionamento ou projeto, há razões perfeitamente válidas para que você queira os deixar. Se você tem um instinto que deve se retirar, muito provavelmente há uma boa razão por trás deste pensamento.

Claro, não existem regras rígidas e ríspidas sobre isso. Gosto sempre de frisar em meus textos que somos seres singulares e as situações que retrato variam de pessoa para pessoa. O que quero mostrar neste artigo é que se você está pensando em seguir em frente, principalmente no âmbito profissional, existem maneiras responsáveis de se fazer isso — e de saber a hora de sair.

Você simplesmente não se importa

Existe uma clara distinção entre tédio e apatia. O tédio é um estado de espírito que pode ser remediado por uma simples mudança de perspectiva — uma caminhada no horário de intervalo, uma sessão de brainstorming ou mesmo uma xícara de café. Apatia, por outro lado, é muito mais mortal. É um estado inconsolável e doloroso de desinteresse. Quando você sente que seu trabalho é totalmente vazio de significado, não há mais volta. É hora de pensar em suas possibilidades e avaliar o que você pode fazer para mudar de ares. Seja uma troca de emprego ou a criação do seu próprio negócio, só você pode decidir se está num barranco ou na ponta do precipício. O que não aconselho de maneira alguma — e vejo muitos gurus do empreendedorismo sugerindo isso — é que você simplesmente largue tudo. Demissão é um negócio sério e sem volta. É o tipo de coisa que deve ser feita de forma planejada e responsável. Não caia no conto de largar tudo e ir atrás do seu sonho. Você pode, sim, ir atrás dos seus objetivos — e sou totalmente a favor disso —, mas volto a frisar: de forma responsável.

Você se importa demais

O contrário é tão ou mais perigoso. Os tais dos workaholics são os viciados em trabalho. E sabemos que nenhum vício faz bem. Qualquer coisa em excesso é prejudicial. No caso do trabalho, muitas pessoas acabam sacrificando o tempo com a família e/ou com os amigos por causa de seus empregos. Tem os que viajam o tempo todo, tem aqueles que passam o final de semana resolvendo pepinos pelo celular e tem aqueles, nos casos mais graves, que deixam de acompanhar o crescimento dos filhos. Isso não significa, necessariamente — embora seja o mais indicado, que você deva abandonar seu emprego, mas sim estabelecer limites. Urgência e importância são coisas distintas.

O ambiente é tóxico

Você talvez já tenha ouvido ou lido que “somos a média das 5 pessoas com quem passamos mais tempo“. O famoso palestrante motivacional Jim Rohn é o autor da frase que me inspirou a escrever um texto a respeito disso. O assunto é polêmico e não tem base científica, mas vale a reflexão. É sensato avaliar se o ambiente em que você está inserido está, de alguma forma, lhe prejudicando. Se você trabalha em tempo integral é provável que essas cinco pessoas sejam seus colegas de trabalho. Afinal, durante a semana muitos de nós passam mais tempo no trabalho do que em casa. Se seu ambiente de trabalho é particularmente negativo, você provavelmente será afetado. Considere as pessoas ao seu redor e o que pode ser feito para melhorar a situação. Se a resposta for “nada”, talvez seja hora de sair.

Você se sente deslocado

No bordão popular, o famoso peixe fora d’água. É a sensação de olhar em torno do escritório ou indústria em que trabalha e se perguntar “o que eu tô fazendo aqui?“. Você percebe que é algo além do que o fato de simplesmente não gostar do seu trabalho. Você não se sente parte daquilo. É aquela frase clássica de fim de relacionamento que aparece nos filmes: “o problema é comigo, não com você“. Neste caso, o problema não é o chefe, a empresa, os colegas ou o departamento. O problema está em você se sentir deslocado. Quando você está descontente com o seu trabalho, há sempre aquela esperança de que trabalhando duro algo bom acontecerá. Mas, se você está no caminho errado, a persistência não fará muita diferença.

***

Existem muitas razões pelas quais você pode sentir desconforto no trabalho e sair não precisa necessariamente ser a resposta para todas elas. Mais uma vez, cabe a você realmente decifrar o que está acontecendo. O que vale para todas as situações é que você deve sempre se manter em movimento. Reclamar por reclamar não o levará a lugar algum.

Os redemoinhos do transtorno depressivo recorrente

Os redemoinhos do transtorno depressivo recorrente

As cores, de repente, mudam de tom, ficam esmaecidas. O que era vivo e empolgante, subitamente parece uma gravura em nuances de sépia. O ar parece mais denso, como aquele mormaço num dia que não se decide se chove ou faz calor. No peito uma melancolia que perturba e aquela antiga sensação de aperto na garganta, como se ali houvesse um choro há anos reprimido e que agora precisa desaguar.

O transtorno depressivo recorrente caracteriza-se pela repetição dos episódios de depressão, alternados por períodos de normalidade, durante os quais parece ter havido a remissão dos sintomas. A pessoa que convive com esse transtorno sofre com a visita inesperada da sensação de perda de prazer pelas atividades, mesmo as mais apreciadas; sente cansaço e desânimo; o que antes poderia ser avaliado como pequenos problemas, geram irritação e impaciência. A vida parece ter mudado ao redor, tudo ficou mais opaco e hostil.

Ainda que sejam episódios leves, aqueles que vivem na pele o processo depressivo recorrente, sentem-se impotentes diante de suas incontroláveis oscilações de humor. Muitas vezes, aguentam a dor calados e torcem para que ninguém os surpreenda em crises de choro que chegam sem avisar. Outras vezes, fazem a ariscada tentativa de confessar que estão deprimidos outra vez; sentem-se culpados e sem valor, como se tivessem de pedir desculpas pelo transtorno – literalmente pelo transtorno.

Não é raro acontecer a primeira manifestação de transtorno depressivo recorrente na infância. Neste caso, o diagnóstico é ainda mais delicado, posto que a criança não consegue expressar com clareza o que sente ou explicar a razão de seus comportamentos. Sendo assim, é preciso olhar atento e amoroso; se a criança de repente se comporta de modo incompatível à sua natureza, manifesta alterações no ritmo de sono, perde o apetite ou parece não se saciar, chora por qualquer motivo ou perde o interesse por atividades que a encantam, é necessário buscar a ajuda de um profissional da área de Psicologia ou Psiquiatria.

O que diferencia o transtorno depressivo recorrente dos episódios únicos de depressão é, justamente a ocorrência em ciclos que podem durar dias, semanas ou até meses. A adolescência também pode ser o período da primeira manifestação. Ocorre que muitas vezes recorremos a rótulos equivocados para categorizar o comportamento na adolescência. É claro que não se pode chamar qualquer simples rebeldia ou recolhimento natural dessa fase da vida de depressão. No entanto, o isolamento exagerado, explosões emotivas despropositais, irritação intermitente, alterações significativas no apetite e no sono, pode indicar que algo definitivamente está errado. E também neste caso, como na infância, a avaliação Psicológica ou Psiquiátrica é fundamental.

Entretanto, como passamos quase a maior parte da vida na fase adulta, ao menos cronologicamente, é ainda mais comum que o transtorno depressivo recorrente se manifeste nessa fase. Estima-se que há entre nós, os brasileiros, 17 milhões de pessoas sofrendo de depressão. E o mais sério de tudo isso é que, inúmeras vezes essas pessoas não são diagnosticadas, tratadas e acompanhadas adequadamente.

Aqueles que lutam para compreender, administrar e sobreviver aos episódios recorrentes de depressão lidam com dois inimigos invisíveis e muito traiçoeiros. Um é a própria doença, que diferente de uma ocasional tristeza, traz enormes prejuízos funcionais que afetam a vida afetiva, cognitiva e social daquela pessoa. O outro é o preconceito. Infelizmente, ainda há quem pense que depressão é frescura ou “coisa da cabeça”.

A verdade é que a depressão é muito mais democrática do que se pode supor, infelizmente. Ela pode se instalar em indivíduos extremamente bem-sucedidos e, também naqueles que ainda não se encontraram ou perderam tudo; pode ocorrer com pessoas cercadas de gente querida, inseridas em famílias estáveis e relacionamentos amorosos felizes; pode, inclusive, acontecer para aqueles que acham que isso é coisa de gente desocupada.

Não há vacina para prevenir a depressão. Mas há um “remédio” poderosíssimo, constituído por elementos essenciais como diagnóstico; terapia; medicação (se for o caso); e o mais simples deles, porém, o mais raro que é a compaixão humana.

Depressão: É preciso amar de fora para dentro

Depressão: É preciso amar de fora para dentro

Ela já não podia mais sorrir. Ele já não conseguia mais comer. Situações que reconhecemos, mas que ignoramos. Não por maldade, acredito. Mas por um desconhecimento dos reais problemas que o outro esteja passando. A mente funciona através de percepções. Como definir os significados recebidos por alguém que sofre depressão? A Ciência ajuda a explicar, sem dúvida. Remédios auxiliam nesse momento, também. Ainda assim, a depressão é um estado sem data de expiração. Lidar com isso, as pessoas ao redor de quem sofre, não é tarefa fácil. Talvez seja esse um dos obstáculos para enxergar além. Visualizar o cuidado, a paciência e o afeto com os olhos de uma tarefa, uma missão. Quem sabe, por ventura, a aproximação não devesse acontecer pelos moldes do amor simples. Do fazer por querer fazer. Do estar por querer estar. Porque a dificuldade em fazer a vida ser mais vida para alguém próximo acometido pela depressão, não é como lançar dados ou colocá-la de frente com frases inspiradoras sobre as belezas da vida. Amar de dentro pra fora é uma sentença quase que ausente para essas pessoas.

Na vida, sobrevivemos. Para acordar pela manhã, trabalhar, estudar, construir algo significativo e tantos outros desejos oriundos da cartilha social que nos é passada. Mas, cultivar a sensibilidade de fazer dos dias um algo mais, tateável e zeloso, não se aprende em páginas, bulas e anúncios. Viver inclui experiências. Um punhado das mais legítimas sensações. Não por acaso, tudo começa com um abraço. O amor por quem vê o céu cinza quando, na verdade, ele está azul. Atribuir culpa, deficiência e qualquer outro mal por discordar da maioria, simplesmente impede o coração daqueles que muito sentem e que não conseguem expressar. Angústias, medos e confusões expostas em lágrimas constantes. No desejo de não ter desejos. E de todas as formas possíveis de seguir em frente, amar de fora para dentro é fundamental. Nutrir, dia após dia, momentos simbólicos do sentir sem prerrogativa. Do carinho sem cobrar os 10% na saída. Mostrar para quem carrega a depressão nos ombros, o quanto você pode derramar de ajuda sobre ela. Pode ser um amor para poucos fazerem isso, gratuitamente, mas certamente é amar demais para elas.

Depressão é uma cura sem doença e uma doença sem cura. Todavia, a cada instante de amar, talvez ela sorria. Talvez ele volte a comer. De qualquer forma, todos somos capazes. Todos somos livres para vivermos. Amar de fora para dentro é indolor e não precisa de receita. Primeiro, você abraça. Depois, apenas exista. Amem-se.

“Não desista de quem desistiu
Do amor que move tudo aqui…”

Empatia é a habilidade mais importante que você deve ter

Empatia é a habilidade mais importante que você deve ter

Dentre todas as habilidades “praticáveis“, a empatia com certeza é a mais importante. Ela vai te levar a um maior sucesso profissional e pessoal, além de torná-lo mais feliz enquanto a pratica.

E, não confunda empatia com simpatia. A primeira significa você fazer uma conexão emocional com alguém, enquanto a segunda está diretamente ligada a maneira como você trata uma pessoa com naturalidade.

A chave para ser empático é não julgar as outras pessoas. É colocar-se no lugar do outro ao invés de apontá-lo o dedo. No geral, pessoas empáticas são menos preconceituosas. Aceitam o outro como ele é.

Ok, por que praticar a empatia?

Só a definição acima provavelmente já faria o mundo um lugar um pouco melhor. Mas, vamos lá!

  1. Você entenderá melhor as necessidades das pessoas ao seu redor;
  2. Você entenderá melhor a percepção que cria nos outros através de suas palavras e ações;
  3. Você entenderá as partes tácitas de sua comunicação com os outros;
  4. Você entenderá melhor as necessidades de seus clientes;
  5. Você terá menos conflitos interpessoais para lidar no trabalho e em casa;
  6. Você será capaz de prever com maior precisão as ações e reações de quem interage com você;
  7. Você vai aprender como motivar as pessoas ao seu redor;
  8. Você convencerá de forma mais eficaz as pessoas a respeito de seu ponto de vista;
  9. Você lidará melhor com a negatividade dos outros e entenderá suas motivações e medos;
  10. Você será um líder melhor, um melhor seguidor e, mais importante, um amigo melhor.

Ok,  e como praticá-la?

Ouça atentamente o que as pessoas tem a dizer. Considere a motivação por trás do orador. Considere quais experiências de vida ou de trabalho o levaram àquela visão de mundo. A partir destas três ações será muito mais fácil colocar-se no lugar do outro. Isso parece tudo muito óbvio, mas a partir do momento que você começa a praticar a empatia, verá rapidamente os benefícios provocados por ela.

Então, abra sua mente. Melhore, mesmo que só um pouco, a vida de quem está ao seu redor.

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