Quando rompemos, fiquei com o que era mais precioso: fiquei comigo

Não existe adeus tranquilo, não há serenidade na partida, tampouco alívio no rompimento. Toda e qualquer separação é dolorida e angustiante, pois com ela se despem os fracassos, avultam as mágoas, quebram-se expectativas, instala-se a impotência. Assistir aos sonhos de uma vida fazendo as malas e saindo pela porta, para nunca mais, é como perder um pedaço de si, ser arrebatado por uma vivência tardia de si mesmo.

Isso porque somos feitos para amar e somos levados, desde sempre, a acreditar na necessidade primeira de pautarmos nosso viver no aconchego de um amor que conforta e liberta, verdadeiro e eterno. Por essa razão, queremos sempre que o amor dê certo e lutamos por isso até se esgotarem as forças, muitas vezes às custas de nossa dignidade, da humanidade que nos deveria preencher.

Assim, tanto quem toma a iniciativa de romper quanto quem ainda acreditava ainda existirem chances sofrem, cada qual à sua maneira, por razões próprias. A coragem de agir e a dor da covardia são igualmente dolorosas e alquebram os sentimentos dos protagonistas das separações da vida, sem possibilidade de se medir ou comparar a dor de um e de outro. Quem vai e quem fica estarão fatalmente sozinhos naquele momento.

Chegada a hora de enfrentarmos a vida sem a presença do outro, longe daquilo por que tanto lutávamos e em que tanto acreditávamos, será preciso nos resgatarmos, continuamente, sem descanso. Não poderemos fugir da tristeza, tampouco tentar negá-la, mas teremos que encontrar maneiras de digerir aquilo tudo em favor de nosso despertar solitário, ainda que não felizes, ainda que entre lágrimas.

A tristeza é egoísta, quer tomar todos os espaços para si e instalar-se de vez, aniquilando qualquer lampejo de luz que possa vir a ofuscá-la. Há que se combater o vazio desolador e desesperador com atitudes e força de vontade imensuráveis, amparando-se também no amor daqueles que sempre estiveram conosco, com amizade sincera.

Sempre será bem vinda uma viagem demorada, uma aventura que nunca se teve coragem de enfrentar, uma nova forma de encarar a vida, mudanças de planos, de sonhos, de postura. A tristeza irá nos acompanhar aonde formos, mas com certeza se enfraquecerá aos poucos, pois a dor se alimenta da estagnação, da paralisia, da morte em vida e é combatida com movimentação, abalos nos sentidos, gargalhadas sinceras, beijos roubados e autoestima em expansão – quiçá por amores fresquinhos.

É preciso, pois, manter acesas, ainda que custe, a esperança e a certeza de que haverá sempre muito amor aguardando por nós, pois fomos feitos para durar, para recomeçar incansavelmente, enquanto vivermos, enquanto respirarmos os sonhos de uma felicidade plena e possível de ser vivenciada, desde o raiar até o anoitecer de cada novo dia.

*O título deste artigo é baseado em uma frase de Tati Bernardi.







"Escrever é como compartilhar olhares, tão vital quanto respirar". É colunista da CONTI outra desde outubro de 2015.