Notas sobre a esperança

Notas sobre a esperança

Imagem de capa: Reephotoeasy, Shutterstock

Esperança, por definição, é a confiança de que algo bom acontecerá. É o sentimento da possibilidade de realização, servindo como uma alavanca motivacional positiva.

Tenho dentro de mim uma esperança inesgotável. Não sei como ela surgiu nem o motivo. Mas sei (e sinto) que ela bate forte. Quando tudo parece desabar, ela surge, afastando o desespero e trazendo lucidez.

O ano de 2010, para mim, teve apenas 100 dias. Foram quase três meses de um freela e um dia de enterro. Quando o conheci, no início desse período, era uma tarde de outono. O sol apareceu tímido e deu espaço a um vento cortante. Sentia um frio desagradável.

O escritório em que trabalhava estava localizado em Moema. Tinha uma arquitetura antiga, com sinteco brilhoso no chão e inúmeras obras de arte na parede. Eu estava na última sala, sozinha, quando ele entrou. Acho que nos vimos diversas vezes, mas nenhuma que criasse algum laço importante. Naquele dia, a vida nos colocou frente a frente.

Cumprimentou-me. Perguntou o que eu fazia ali. Disse que iria escrever textos e que permaneceria ali por três meses. Ele respondeu de forma seca: pouco tempo. Retruquei de forma irônica: Pouco? Não! O suficiente. Ele riu. Argumentei dizendo que, em três meses, muita coisa poderia acontecer. E realmente aconteceu.

A partir daquela data, o visitante passou a ser presença constante na minha sala. Às vezes, só entrava com os olhos. Parava na porta e me observava. Outras, sentava na cadeira próxima da janela e admirava o céu. Nunca descobri o que ele pensava. Eu achava que meu cabelo estava bagunçado ou muito maquiada e que ria da cena mentalmente. Bobagem. O cavalheiro em questão tinha a alma grande demais para se perder em detalhes.

Num fim de expediente, de forma atrevida, convidou-me para um café. Fazia um pôr do sol lindo de outono. Aceitei. Tomei aquela bebida quente como se fosse a primeira e a última vez que iria degustá-la. Observou-me calado. Não pegou xícara alguma. Estranhei.

Após uma breve pausa, ele disse (sem cerimônias) que tinha câncer no esôfago. Não sentia nem o gosto e nem o cheiro do café, mas, ao me observar, lembrou-se de como era bom tomá-lo. E foi ali que travamos uma grande amizade.
Conversamos (diariamente) por meses.

Perguntou-me sobre Deus, sobre a vida, sobre a morte e sobre amores. Contou-me (secretamente) que havia perdido quase todos os cinco sentidos. Não sentia cheiro, nem gosto de nada. Ouvia pouco e enxergava menos ainda. Só não havia perdido a capacidade de amar (amava a família, os amigos, a vida, de forma genuína). E também a capacidade de acreditar que algo bom (sempre) aconteceria.

Meu amigo definiu essa crença como esperança. E nesse ímpeto, questionou-me se ficaria curado. Assustei. Logo a mim? Que ousadia. Não sou Deus. Qual a certeza que temos da vida? Hesitei. Tive medo de responder. Medo de ser traída por ela (a tão sonhada esperança).

Ele olhou bem nos meus olhos e percebeu que eu iria chorar. Dei um leve sorriso e (corajosamente) respondi que sim, ficaria curado. Tudo iria depende dele. E retruquei (incisivamente) querendo saber o que ele desejava para si. Não respondeu.

Na manhã seguinte, meu último dia de trabalho, o escritório acordou de luto. Não tivemos tempo para despedidas. Chorei trancada na sala onde ele, por mais de 90 dias, me visitou. Estava profundamente triste.

E foi assim, entre uma lágrima e outra, que ela apareceu. Da janela, percebi que havia um (lindo) pôr do sol. Era a esperança.

10 características de pessoas infantiloides

10 características de pessoas infantiloides

 

Segundo o horóscopo chinês, 2017 será o ano do galo. Entre outras coisas isso quer dizer que estaremos todos mais impacientes, uma vez que o penoso é um bicho arisco.

Que coisa boa poder culpar um simples galo imaginário pela minha total falta de paciência para com algumas coisas. Chineses, seu fofos, hashtag gratidão para vocês!

Pois bem, o ano ainda nem começou direito e a ave já ciscou no meu terreiro: paciência zero para o infantiloidismo.

São características do infantiloidismo:

  1. Escutar a verdade e ficar dodói, com vontade de matar o mensageiro e não de tentar resolver o próprio problema;
  2. Não poder ser confrontado, nem puxado para a realidade porque logo os sentimentos de não ser compreendido e de vitimismo aparecem;
  3. Ignorar a lei da física de que toda ação provoca uma reação;
  4. Fingir que não sabe que o único lugar onde sucesso vem antes de trabalho é no dicionário;
  5. Ter esperança num ano melhor, mas não fazer absolutamente nada para melhorar a semana;
  6. Nunca poder ser contrariado ou criticado – críticas soam como desafeto, não aceitação ou invasão;
  7. Sentir-se perseguido e injustiçado;
  8. Fechar a cara (ou a conversa no WhatsApp) quando é questionado;
  9. Achar que todos têm o dever e a obrigação de entender seus problemas e aceitar incondicionalmente suas limitações.
  10. Temer responsabilidades e fazer as coisas pela metade.

O infantiloidismo é um mecanismo de defesa do ego. Para preservar-se de uma possível dissolução, o ego cria uma capa impermeável que impede a entrada da luz: a realidade.

O problema é que assim como as crianças não ficam invisíveis debaixo da mesa da sala de jantar – como elas imaginam –  quem veste a capa do infantiloidismo a mando do ego também não. Pelo contrário! Quanto mais um infantiloide nega sua dura realidade na tentativa de ocultar seus medos e faltas, mais esses medos e faltas se tornam evidentes tanto para ele quanto para o interlocutor.

Ninguém está imune ao infantiloidismo. Vez ou outra, caímos na esparrela da capa impermeável da invisibilidade e da salvação eterna. Mas fazer disso um estilo de vida é outra história – lembrando que tudo o que passa de três meses deixa de ser fase para se tornar um estilo de vida.

Outro probleminha trazido por essa capinha nada fashion? O pensamento mágico. Ao vestirmos o presente de grego do ego somos invadidos pelo sentimento de que algo mágico vai nos acontecer porque somos especiais, escolhidos, sortudos; porque temos bom coração. Vestidos com a tal capa impermeável nos sentimos capazes de tudo: de mudar de emprego, de morar fora do país, de emagrecer dezenas de quilos, de abrir um novo negócio, comprar um apartamento, casar, ter filhos, mandar todo mundo à merda, etc, etc, etc.

Mas de repente, não mais que de repente, eis que vaza um fiozinho de realidade por entre os furinhos dos botões da indumentária e pronto. Esse fiozinho é o suficiente para fazer um estrago gigantesco. Se vestidos com a capa somos invencíveis, diante de um fio de luz de nossa parca realidade nos sentimos um zero à esquerda, um fracasso, uma ameba sem energia para ir daqui à padaria.

E por que aceitamos esse presente amaldiçoado, essa capa diabólica que serve apenas para nos enganar? Porque ela confere conforto, o conforto de não precisarmos agir, de não precisarmos nos responsabilizar por nada, ou melhor, o pseudo-conforto da fantasia e da inércia – só quem chuta perde (ou acerta) o gol, certo?

Ao dizermos “não, obrigada”, para o presentinho, estamos automaticamente assumindo que cabe somente a nós mudarmos nossas vidas e que ninguém é culpado pelas escolhas que fizemos e que nos trouxeram para o lugar aonde chegamos.

Nesse caso não tem astrologia chinesa, hindu, galo, galinha, arara rosa ou preta, papagaio ou hipopótamo para culpar.

Que tal observar em que momento o ego está ofertando o regalo e qual a sua motivação para aceitá-lo antes de vesti-lo?

Nossas mães nos ensinaram a não aceitarmos balas de estranhos, né? O ego é um estranho se fingindo de amigo e sua case pode ser tão perigosa quanto uma bala alucinógena. Pense nisso! E bom banho de chuva, porque a vida foi feita para a gente se molhar…

Estou pronto para ficar com você

Estou pronto para ficar com você

Imagem de capa: KIRAYONAK YULIYA, Shutterstock

Eu sei que quase deixei esse sentimento passar batido. Andava um tanto quanto perdido nos amores passados, querendo proteger-me de novas decepções e desencontros. Não esperava, sinceramente, na possibilidade de ser alvo da sorte destinada aos dispostos. Mas tudo mudou depois que te conheci. Estou pronto para ficar com você.

É tranquilidade dividir instantes do seu lado. Nas manhãs de pernas sobrepostas, cada afago concebido é motivo explícito. Apenas os mais ousados conseguem nutrir essa sintonia que carregamos. Não é para qualquer um estar afastado dos egoísmos bobos e dos egos vazios. Com você, nada é o que parece ser. É uma sensação gostosa de paz quando estamos a sós, seja dançando em silêncio, ou, ainda, quando gememos primazia.

Não me pergunte o porquê de ter demorado todo esse tempo. Acredito que precisava beber ausências antes de ser apetite por companhia novamente. Mergulhei em muitos abraços, é verdade. Mas, somente após recolher grandes doses de amor-próprio, é que finalmente pude despejar carinhos mais precisos e merecedores de você.

A vida é uma consequência de escolhas. Por vezes, sem qualquer aviso prévio, ela estende novos caminhos, cria novas chances. Para o nosso bendito privilégio, você sorriu de volta ao aceno que deixei estampado à vista de todos. Não tínhamos combinado nenhum acerto, mas as nossas mãos encaixaram-se espontaneamente. Dali por diante, a construção de algo maior, tateável e simples.

Peço desculpas por tê-la feito esperar. Não posso imaginar os descaminhos que atravessou até chegar aqui. Ainda assim, não importa mais. O que você precisa saber é que os beijos estão a nosso favor. Que nenhum dia será rotina. Que nenhuma noite será exceção. Estou pronto para ficar com você.

Enquanto você dá inúmeras chances à mesma pessoa, tem alguém querendo só uma chance pra te fazer feliz

Enquanto você dá inúmeras chances à mesma pessoa, tem alguém querendo só uma chance pra te fazer feliz

Sempre existirão outras pessoas, outros empregos, outros momentos, isso todo mundo sabe. No entanto, como é difícil nos desprendermos do que já pensamos ser nosso, do que já faz parte de nossas vidas, mesmo que seja algo ou alguém que nada de bom tem a acrescentar. Às vezes, até nos apegamos ao que faz mal, ao que machuca, somente para não termos que nos mexer e sair à procura de coisas novas.

Temos certa necessidade de tranquilidade, de mantermos algumas certezas em nosso caminhar. Incertezas demasiadas nos intranquilizam, pois queremos algum tipo de serenidade em meio a essa vida que costuma virar tudo de cabeça para baixo, sem hora marcada. Por essa razão, acabamos, muitas vezes, guardando conosco aquilo que parece seguro, mesmo que não seja o mais acertado, ainda que se trate de alguém que nem se preocupa conosco um mínimo que seja.

E assim vamos deixando passar por nós gente que seria o amigo de todas as horas, que nos amaria muito além da cama, que nos roubaria beijos e sorrisos na ordem e na medida exatas. E assim vamos deixando escorrer por entre nossas mãos oportunidades únicas de emprego, de viagem, de conhecer o novo, de se lançar à amplitude de que se valem os nossos sonhos. Tudo porque preferimos manter – mesmo que com dor – o que aparentemente já temos.

Na verdade, abrir mão do que já é uma certeza, por conta do que é incerto e duvidoso pode ser decepcionante, pois nem tudo dá certo, nem todos se mantêm iguais, reviravoltas acontecem. E, lá na frente, poderemos nos arrepender, poderemos perceber que o que já tínhamos era suficiente, que quem estava conosco era mesmo a pessoa certa, que aquele amigo era mais leal, enfim, estaremos, sim, sujeitos a escolhas erradas. Nem por isso erraremos sempre que escolhermos.

Jamais poderemos controlar tudo o que faz parte de nossa jornada, nem teremos como prever o que aconteceria se agíssemos de uma ou de outra forma. Sempre que nos lançarmos ao novo, estaremos correndo riscos, estaremos partindo rumo ao desconhecido. No entanto, poderemos ao menos manter a certeza quanto ao que e a quem não queremos mais fazendo parte de nossas vidas, porque assim estaremos mais seguros no propósito de ser feliz, sabendo que o que emperra já se foi.

Imagem de capa: SpeedKingz, Shutterstock

“Ninguém é tão ocupado. É só uma questão de prioridades.”

“Ninguém é tão ocupado. É só uma questão de prioridades.”

Imagem de capa: Ollyy, Shutterstock

“Ninguém é tão ocupado. É só uma questão de prioridades”. (Guilherme Ávila)

Ninguém há de negar que a vida contemporânea requer um desdobramento absurdo de cada um de nós, em meio às mais diversas tarefas e obrigações que lotam as nossas agendas. Os horários de trabalho se estendem, a necessidade de estudos mais aprofundados, a jornada dupla, as contas que se avolumam ao fim de cada mês. Enfim, o dia a dia atual tornou-se uma maratona muitas vezes ingrata de responsabilidades com o que não é lazer, deixando-nos pouco espaço para os contatos descompromissados, para o recarregar baterias junto ao nada para fazer.

Por essa razão é que perdemos a vontade de sair da rotina, como se nossas forças já se esgotassem ao fim de cada expediente, uma vez que nem ao menos conseguimos nos desligar do trabalho quando não estamos trabalhando. Preocupam-nos os débitos bancários, os boletos intermináveis, o seguro vencendo, a crise econômica, a crise conjugal, a violência que espera nossos filhos lá fora, o medo de perder o emprego, perder os bens, o cartão de crédito.

E então nos esforçamos para arranjar um tempinho para caminhar na esteira, para levantar peso, para cuidar dos cabelos e das unhas, para fuçar a vida alheia nas redes sociais, enquanto negligenciamos o que de mais especial já possuímos: as pessoas que nos amam com verdade. Deixamos para lá a cervejinha com aquele amigo de todas as horas, a visita aos parentes queridos, o telefonema ao pai, à mãe. Deixamos para depois o ficar junto com o parceiro, que teima em procurar, em vão, pelo nosso olhar.

Não é preciso demorar-se por horas ao lado de alguém, para que nossa afetividade seja compartilhada, pois a intensidade do amor independe da quantidade, mas se alimenta do tanto de verdade que carregamos durante nossos encontros. Podem ser minutos, horas, não importa, porque o que importa é importar-se, seja através de um aperto forte de mão, de um bilhetinho grudado na geladeira, uma piscadinha repentina, um beijo estalado, um “te amo” do nada. Sempre teremos tempo para perguntar a quem amamos como foi o seu dia.

Por mais que estejamos cansados, esgotados, desanimados, ainda que o dia tenha sido decepcionante, mesmo quando a gente tenha levado rasteira atrás de rasteira, é preciso chegarmos à nossa casa com o propósito de entrar em um lar, fechando a porta para o que nos desagrada e não tem nada a ver com aquelas pessoas maravilhosas que nos aguardam ao fim do dia. Ali nos lembraremos de que somos amados o bastante para acreditar no poder do amanhã, na força do amanhecer e das esperanças que cada novo dia nos traz.

Antes de seguir em frente, supere.

Antes de seguir em frente, supere.

Imagem de capa: Kichigin, Shutterstock

É quase automático: todo fim de relacionamento aparece um amigo, com a maior boa intenção do mundo, aconselhando-nos a curar o amor antigo com um novo. E o pior: há pessoas que , realmente, acreditam que isso possa dar certo.

A rotina de quem acaba de ficar solteiro é cruel e, caso você não seja muito controlado, entrará em um surto psicótico em questão de segundos. O calendário passa por uma mudança tão brusca que você pensa que mudou o ano sem aviso prévio: não tem mais quem buscar no trabalho, não tem companhia para ir o cinema, os programas de quinta à noite passam a não existir e o domingo parece nunca mais acabar. Nesses dias, você entra em um desespero e quer, a qualquer custo, encontrar uma companhia, para suprir os dias que ficaram longos demais (quando, na pior das hipóteses, não cogita voltar no relacionamento anterior).

O medo em ficar sozinho é tão grande que faz com que as pessoas tomem decisões erradas. Sem entender que essa solidão é um estado provisório e dura pouquíssimo tempo (infelizmente, porque ela é muito divertida).

Essa ideia de que os momentos de solidão estão associados ao desânimo e ao vazio existencial é enganosa. É na solidão que você descobre que gosta de vinho, de seriados e de comer na sala. São nos momentos de solidão que você descobre os próprios valores e aprende que ninguém pode te tratar menos do que você merece. Aprende a se respeitar e a exigir que os outros façam o mesmo. Na solidão nos descobrimos. Como dizia Herman Hesse “nada lhe posso dar que já não exista em você mesmo. Não posso abrir-lhe outro mundo de imagens, além daquele que há em sua própria alma. Nada lhe posso dar a não ser a oportunidade, o impulso, a chave. Eu o ajudarei a tornar visível o seu próprio mundo, e isso é tudo.”

Sabe, não somos máquinas. Todo término de relacionamento merece um período de silêncio, de respeito, de quietude. Não dá para engatar uma história na outra, porque as pessoas são diferentes e carregam bagagens de vida pesadas. A alma também precisa ser arrumada, limpa, organizada. Não dá para receber visita em casa suja. Arrume essa vida primeiro. Limpe essa sujeita que ficou. Feche as brechas da saudade. Cure essas marcas do passado. Feche essas feridas que não cicatrizaram ainda. Há tanta desordem nesse coração e você querendo receber uma nova visita. Faxina leva tempo e você deve esperar o seu.
Antes de abrir a porta da sua vida alguém, olhe pelo olho mágico da porta. É mais fácil proibir a entrada do que ter que tirar depois.

Estar solteiro não significa estar disponível

Estar solteiro não significa estar disponível

Imagem de capa: Syda Productions, Shutterstock

Ah, os rótulos, malditos rótulos, que nos impedem de abraçar encontros verdadeiros, que nos afastam de quem tem muito a oferecer, que nos fazem cair em armadilhas inúteis. Rótulos são perda de tempo, de pensamento, perda de vida. Quase tudo daquilo que se dissemina como o mais provável acaba sendo o mais equivocado, porque as pessoas são, na maioria das vezes, surpreendentes – e no bom sentido.

Um terreno comum em que essas ideias mal ajambradas se perpetuam vem a ser aquele relacionado à disponibilidade dos solteiros, dos compromissados e dos nem tanto assim. Muitos de nós costumamos achar que a pessoa que não possui parceiro provavelmente se encontra com uma vontade irrefreável de se relacionar, até mesmo descompromissadamente. É como se vivêssemos todos à procura de alguém, como se esse fosse o objetivo primeiro de todo e de qualquer ser humano.

Esse equivocado conceito ainda se torna mais forte quando se trata de recém-separados, recém-divorciados, ou seja, de pessoas que acabaram de por fim a um relacionamento. Muitos acham que mulheres separadas, por exemplo, são presas fáceis, que se encontram carentes, mais suscetíveis a paqueras e flertadas. Como se o estado civil de uma pessoa fosse capaz de regular o comportamento delas, como se a aliança ou a falta dela pudesse ser um termômetro da carência de alguém.

Isso tudo é pura balela. Existem pessoas casadas que não são compromissadas com o parceiro, bem como há pessoas solteiras que não estão dispostas a se relacionar naquele momento. Existe gente com aliança ou sem e que se respeita, bem como há gente com aliança ou sem e que não se respeita. A fidelidade é um compromisso das pessoas primeiramente com elas mesmas, com seus próprios princípios, porque quem não se respeita jamais respeitará quem quer que seja, tenha ou não feito votos em frente a uma platéia.

Quanto aos solteiros, muitos deles podem muito bem estar querendo dar um tempo nos relacionamentos afetivos, para colocar os pensamentos em ordem e arrumar os sentimentos dentro de si, no sentido de construir certezas quanto ao que realmente querem ou não para suas vidas. O que menos desejam, portanto, é arranjar alguém para namoro e sim curtir a vida junto a amigos. Ser feliz sozinho, aliás, é perfeitamente possível.

Enfim, nem todo solteiro quer deixar de sê-lo, nem todos os separados estão disponíveis para beijos ou qualquer coisa do tipo, da mesma forma que muitos indivíduos compromissados, por incrível que pareça, procuram avidamente por aventuras infiéis. Porque caráter e comprometimento têm a ver com o que carregamos dentro de nossos princípios e aliança alguma é capaz de mudar isso.

De nada.

Não, ele não irá mudar por você…

Não, ele não irá mudar por você…

Imagem de capa: GaudiLab, Shutterstock

Sabe aquela promessa de que o amor muda as pessoas? Então, a não ser que você seja protagonista de algum filme de Hollywood isso é quase impossível de acontecer. Ninguém muda ninguém. Aprenda isso! Então, poupe o seu tempo, sua história e seus nervos e viva mais a realidade do que a ficção que lhe apresentaram.

Mudança é uma palavra tão forte que as pessoas deveriam temer usá-la. Ninguém muda da noite para o dia. Imagina se mudaria por alguém. Mudamos quando a vida exige um comportamento mais centrado, mais sério. Quando as circunstâncias exigem amadurecimento e postura diante dos fatos. Mudamos quando a vida bate tão forte que a única saída é enrijecer para não envergar. Mas, sempre tem uma porção de românticos iludidos da sociedade, que possuem aquelas frases prontas “amiga se ele te amar, ele muda!” ou “homem quando ama é fiel, não trai!” (como se a fidelidade estivesse condicionada a sentimento e não ao caráter).

As pessoas precisam perder essa mania de se iludir com tudo o que lhes é conveniente. Ninguém muda por ninguém! Encare isso! Você pode ser a mulher mais magnífica que ele encontrou na vida, a nora que a mãe dele pediu aos céus, mas ainda assim, se ele não quiser parar de viver a vida de solteiro, ele não irá parar. As pessoas possuem o tempo de aprendizagem delas. Não se iluda. Ele não vai parar de beber porque te ama. Ele vai parar de beber porque o fígado dele irá gritar que não aguenta mais. Irá parar de festar porque ele cansou e não porque você insistiu para que ele fizesse isso. O que faz as pessoas amadurecerem e mudarem suas concepções de mundo e de atitudes são as experiências que elas adquiriram com a vida. E só isso! Não se iluda achando que ele irá se apaixonar e mudar da água para o vinho por sua causa. Ele mudará se quiser e por motivos alheios aos seus, acredite.

Camões dizia que “todo o mundo é composto de mudança” e eu concordo fielmente nisso. Ninguém tem a síndrome da Gabriela de Jorge Amado “eu nasci assim, cresci assim, vou morrer assim…”, todos mudam. Mas no próprio tempo. Acredito até, que mudamos mais por medo do que por qualquer outro motivo. Mudamos por medo de perder quem amamos. Mudamos por medo de perder o emprego. Mudamos por medo de morrer. Mudamos por medo de sofrer. Mudamos por medo do novo, mas mudamos! Como dizia Freud: “Quando a dor de não estar vivendo for maior que o medo da mudança, a pessoa muda.”

Amor é o sentimento mais incrível do mundo e, é sim, capaz de mover montanhas, mas nos livros. Na vida real, amor tem mais a ver com paciência, companheirismo e convivência do que ilusão. Você é sim importante e é sim o amor da vida dele. Mas não quer dizer que ele irá mudar toda a vida por sua causa. E ainda bem! Se ele fizesse isso seria, no mínimo, motivo de psicanálise! Amor é calmaria, normalidade, paz. Deixa as coisas acontecerem e as pessoas mudarem com o tempo. Se os defeitos forem graves, abre mão e sai dessa história. Algumas coisas não valem a pena. Se os defeitos do teu amor forem aceitáveis, aguenta firme… você também tantos e ele não desistiu de você.

A lágrima mais pesada é aquela que ninguém vê

A lágrima mais pesada é aquela que ninguém vê

Imagem de capa: Juta, Shutterstock

Ainda que tenhamos alguém com quem possamos compartilhar os nossos pesares, as lágrimas mais amargas serão aquelas que cairão enquanto estivermos sozinhos, enfrentando solitários a luta contra os nossos próprios fantasmas, na solidão das noites sem fim.

Embora seja prudente sabermos a quem poderemos confessar nossas fraquezas e mostrar toda dor que pesa dentro de nós, segurar-se, reter em si toda e qualquer tristeza, temendo a exposição do que se sente, é por demais prejudicial aos nossos sentimentos. Tudo o que se avoluma além do suportável acaba eclodindo de maneira desequilibrada, seja na forma de somatizações, de explosões de fúria, seja no fechamento cada vez mais doído dentro de nossa própria escuridão.

Todos passamos por fases em que a tristeza parece pontuar a maior parte dos dias, por razões externas, como a morte de um ente querido ou um divórcio, por exemplo, ou por razões íntimas, quando nos sentimos desanimados, menos gente do que todo mundo, sem nem mesmo saber por quê. Adentrar por entre as tempestades internas é um dos preços que pagamos por podermos refletir, analisar o mundo, abstrair e sentir o que nos rodeia ao nosso modo.

Somos uma carga ambulante de sentimentos vários, de hormônios, de sentidos, de memórias, ou seja, carregamos as bagagens emocionais por onde estivermos, digerindo-as de acordo com nossa forma de encarar as coisas. Cada pessoa sente de maneira distinta e, por isso, um mesmo evento deixa marcas diferentes em cada pessoa que o vivenciou. Ninguém sai igual dos lugares por onde passa; nosso eu se transforma a cada dia, num ritmo pessoal, próprio e intransferível.

Por essa razão, não se pode esperar que alguém sinta e enxergue o mundo exatamente como se espera, pois as nossas reações são só nossas e de ninguém mais. Alguns se demoram longamente no luto do que e de quem se foi; outros precisam de menos tempo para se reerguer. Alguns externam a tristeza sem contenção alguma; outros se privam de compartilhar suas lágrimas. Não existe certo e errado na dor, existe tristeza e necessidade de empatia por parte de quem está ao lado.

No entanto, ainda que tenhamos alguém com quem possamos compartilhar os nossos pesares, as lágrimas mais amargas serão aquelas que cairão enquanto estivermos sozinhos, enfrentando solitários a luta contra os nossos próprios fantasmas, na solidão das noites sem fim das tempestades que parecem varrer de nós qualquer resquício de esperança.

E é assim, e é por isso mesmo, que conseguiremos reunir forças para sair dali, em direção ao novo, ao sol que nasce, ao sonho que renasce, aos encontros mágicos que nos aguardam, ao amor que sempre se aninha em nossos corações. Porque fomos feitos para sobreviver, para resistir, para durar, enquanto vida houver em nós, enquanto vidas estiverem pulsando ao nosso redor.

A Insustentável Leveza do TER

A Insustentável Leveza do TER

Imagem de capa: Nejron Photo, Shutterstock

Millôr Fernandes costumava dizer que “O importante é ter sem que o ter te tenha”. Tenho a impressão de que essa frase não se coaduna com o modus vivendi da sociedade contemporânea, de modo que a sua atualização seria em termos baumanianos – “O importante é ter, aparentar ser, mesmo que não seja”. Isto é, dentro da sociedade de consumo há um predomínio quase absoluto da aparência ante a realidade.

A mudança de um cogito, que substitui o indivíduo para em seu lugar colocar coisas, ocorre pelo fato de vivermos em uma sociedade em que o próprio indivíduo é valorado tão somente por aquilo que possui, o que em outras palavras significa dizer que o ser humano também foi transformado em coisa e é comercializado no mercado da personalidade, no qual recebe seu valor não por aquilo que é, e sim, por aquilo que possui e, por conseguinte, aparenta ser.

Sendo assim, devemos considerar que as coisas, nesse prisma, adquirem um valor muito maior do que necessariamente/realmente possuem, o que nos leva a dois conceitos. O primeiro é o fetichismo da mercadoria construído por Marx, em que as coisas passam a transcender o seu valor em si (de uso e de troca) para adquirir uma valoração determinada pela construção social. Ou seja, o olhar social faz com que determinados produtos exerçam conotações que extrapolam o seu real valor, fazendo, consequentemente, que passemos a “querer/desejar” adquirir determinada coisa não por real necessidade e/ou vontade, mas por querer “ter” a aparência que o consumo da coisa determinada produzirá.

Trocando em miúdos, as coisas, os produtos, as mercadorias, colocados na rede do capitalismo, criam um fetiche que seduz os indivíduos a buscarem por meio do consumo a incorporação em personagens que remetam à aparência de vidas felizes e de sucesso, ainda que internamente não haja qualquer tipo de felicidade, tampouco, sucesso.

Sendo assim, a partir do fetichismo da mercadoria as coisas são personificadas e as pessoas são coisificadas, recebendo os rótulos dos seus preços, os quais devem estar bastante aparentes nas prateleiras. Esse mecanismo nos leva ao segundo conceito, a saber, o de hiper-realidade, construído por Jean Baudrillard, filósofo francês. Para ele, as coisas são ressignificadas a partir da perspectiva de quem olha. Isto é, nós (sociedade) passamos a exercer um juízo significante em relação às coisas, de modo que haja uma supressão do valor real do próprio ser e em seu lugar seja erigido o valor das coisas, obviamente, com seus novos valores sígnicos.

Em um mundo marcado pela aparência e superficialidade, não há de se estranhar que o homem prefira despir-se de si para buscar por todos os meios se tornar alguém que não é, mera aparência frágil de imagens determinadas pelos detentores do poder, preocupados tão somente em criar um exército de pessoas completamente iguais em sua superficialidade débil.

Diante disso, parece-me que na medida em que preferimos viver em um mundo de aparências, esquecemo-nos que os outros também usam máscaras, e que entre o abrir e o fechar da cortina, a vida tornou-se completamente um grande teatro, em que os atores secundários são homens desumanizados admirando a excelência do protagonismo de coisas heroificadas (fetichizadas e ressignificadas), enquanto o público, igualmente desumanizado, aplaude, sem qualquer preocupação com a fragilidade com o que somos, mesmo que, por trás de todo aparato mercadológico, se esconda a real aparência da insustentável leveza do ter.

Tem gente que só soma quando some

Tem gente que só soma quando some

Imagem de capa: A. and I. Kruk, Shutterstock

Sempre haverá quem vem para somar junto e quem parece somar somente quando estiver a quilômetros de distância.

Seria ótimo se pudéssemos sempre conviver com pessoas agradáveis, de bom humor, otimistas e éticas, mas não. Somos obrigados a ter que dividir espaços com indivíduos desagradáveis, mal educados, mal amados, pessimistas e ardilosos. Impossível conseguir atravessar a jornada da vida somente na companhia de gente do bem, portanto, os momentos junto ao pessoal divertido devem ser aqueles que carregaremos dentro de nós.

Evite guardar dentro de si o que vem de quem não gosta de ninguém, tampouco dele mesmo. Muitas pessoas sentem-se tão pequenas, tão nada, possuem uma autoestima ínfima e, dentro de sua lógica estúpida, decidem diminuir qualquer um que estiver ao seu lado. Dessa forma, pensam compensar o quão menosprezíveis se sentem, tentando retirar de si a atenção das pessoas, ridicularizando o vizinho.

Da mesma forma, alguns indivíduos acham que são incompetentes, não possuem segurança quanto ao próprio potencial. Com isso, não se furtarão a tentar atacar o potencial do outro, a quem inveja, a quem quer destruir. Na cabecinha maquiavélica dessas pessoas, é necessário que o outro seja criticado para que o trabalho delas se valorize; é preciso que o outro falhe, não consiga, para que essas pessoas precisem aparecer.

Não dê atenção a quem só sabe abrir a boca para criticar os colegas, os conhecidos, os sócios, a família, o mundo enfim. A quem não possui a mínima capacidade de enxergar qualquer resquício positivo nas ações e no modo de ser de ninguém, enquanto destila suas maldades com ares de inocência e com a voz lânguida. Muitas pessoas que sempre estão calmas não passam de ótimos atores, pois, por dentro, ruminam um ódio inexplicável por todos à sua volta.

Inevitavelmente, acabaremos, muitas vezes, carregando as palavras desanimadoras de gente maldosa, enquanto nos esquecemos das palavras amigas daqueles que jamais desistirão de nós. Cabe-nos, portanto, tentar gravar dentro de nossos corações todo o conforto animador que virá daqueles que gostam de nós com verdade e fidelidade, deletando instantaneamente qualquer palpite infeliz daqueles que não servem para nada, que fazem um bem tremendo exatamente quando não estão presentes.

Porque sempre haverá quem vem para somar junto e quem parece somar somente quando estiver a quilômetros de distância. E lembre-se: gente do bem compensará cada aborrecimento enfrentado com gente besta e inútil. É a vida.

É preciso dizer adeus ao que te faz sofrer

É preciso dizer adeus ao que te faz sofrer

Imagem de capa: KieferPix, Shutterstock

Algum lugar do mundo, 04 de janeiro de 2017.

Talvez você esteja numa daquelas fases em que não vê saída. Você se sente dentro de um buraco, com o mundo em volta espremendo-o e sufocando-o. Não bastasse isso, a noite cai. Começa a chover e trovejar. Morcegos aparecem. O frio dentro e fora da alma só aumenta. Todos parecem mais felizes que você.

Não deve ser a primeira vez que se sente assim. Você já esteve em outros buracos antes e conseguiu escapar. Mas não consegue se recordar como. Nem ao menos se lembra de como entrou neste, mas está fundo. E grita por alguém ou algo que o salve novamente, uma escada, uma corda… Implora. Crava todas suas unhas na parede e tenta subir com muito esforço, mas cai a cada tentativa. Quão frustrante isso é? Quantas chuvas ainda terá que suportar? Qual é o tamanho da sua solidão? A boa notícia é que você nunca foi salvo por nada nem ninguém. Você apenas deixou morrer aquilo que o prendia nos antigos buracos.

Mas, e quanto a curar-se ao invés de morrer? Sim, alguns aspectos de nós podem realmente serem curados, transmutados. Porém, há muitos outros, profundos, que precisam efetivamente morrer para que algo novo nasça. Deixaram de receber sangue faz tempo e gangrenaram. Não há mais recuperação. Se não forem cortados, corremos o risco de perder até mesmos nossas partes sadias. E, então, entramos nestes vales profundos da alma, em covas interiores, e lutamos muito para sair, porém, não o podemos antes de soltarmos o lado expirado de nós.

Por mais estranho que pareça, somos apegados ao nosso sofrimento. Por mais que ele nos castigue, mesmo que doloroso, ele ainda ocupa um grande espaço na nossa vida. E, se tem algo que assusta o bicho homem mais do que a dor, é o vazio.

Então, quando precisamos soltar algum destes estimados aspectos, para caminharmos em direção ao nosso verdadeiro eu, existe um luto. Por aquela dor tão profunda e que tanto nos fez companhia. Que, apesar de pesada, estava lá em nossos ombros, quando ninguém mais restara. Por isso, cada vez que cair em um buraco e sentir que sua luta pela fuga está sendo em vão, reflita se, no fundo, não está lutando contra sua própria identificação com o que lhe dói.

Há quanto tempo você carrega este aspecto em putrefação? O quanto ele já lhe fez companhia? Consegue se imaginar sem ele? O quanto você já se descreveu baseado nessa dor (e fez questão de pontuar o quanto ela era grande em você)? Sobre o que conversará? De onde conseguirá atenção? Quem é você, além disso tudo? O que fica, então?

Perceba o espaço vazio que a falta desse sentimento/hábito deixaria em sua vida. E se algo bom e belo pudesse ocupar o seu lugar? Você sente dó de trocá-lo, após tanto tempo que passaram juntos? Você chega até mesmo a pensar que não merece viver sem sua dor. Como um relacionamento abusivo consigo mesmo. Sim, é difícil terminar esse relacionamento. Não há limites para nossa carência.

É preciso morrer por dentro constantemente. De tempos em tempos, caímos em buracos. Existem muitos aspectos a serem deixados. A boa notícia é que eles aparecem apenas quando já somos capazes de lhes dizer adeus. É como trocar de pele ou perder um dente de leite. Não são tempos fáceis, eu sei. Mas vamos aprendendo a dizer “até nunca mais” cada vez mais rápido. E, assim, ficamos mais leves e flutuamos até a superfície.

Lembre-se apenas de que nunca é fora. Não importa o malabarismo que esteja fazendo, a única coisa necessária é deixar ir. Liberte-se. Deixe que sua dor morra. Arranque a erva daninha. Encare o vazio e renasça. Existe um mundo de novas possibilidades fora desse buraco. Há tantas surpresas lindas nos esperando. Porém, o novo só pode vir após o vazio. E o vazio, somente após a morte do velho. Respire e deixe ir.

Não era preguiça! As inúmeras e traiçoeiras facetas da depressão.

Não era preguiça! As inúmeras e traiçoeiras facetas da depressão.

A fadiga, ou falta de energia para envolver-se com as mais diversas atividades, pode ser um sinal de que algo não está funcionando como deveria no seu cérebro. E, aquela vontade de ficar na cama, que o impede de cumprir com seus compromissos, pode estar camuflando um sintoma de depressão.

Preguiçoso é aquele que demonstra uma baixa determinação para vencer a inércia, física ou mental, para tomar iniciativas ou realizar tarefas. Preguiçosos costumam desenvolver estratégias que os beneficiam, em detrimento do esforço alheio. Preguiçosos são capazes de aperfeiçoar metodologias que lhes garantam um lugar confortável, de onde possam dar ordens ou coordenar o trabalho daqueles que se dispõem a atender-lhes as demandas.

A lei do menor esforço é o cartaz de campanha dos preguiçosos. Diante de uma tarefa a eles confiada, os preguiçosos revelam inventivas maneiras de alcançar resultados – e neste caso esqueça a perfeição -, num espaço menor de tempo e com utilização de energia de trabalho reduzida.

Então, quer dizer que os preguiçosos podem revelar-se eficientes diante de desafios complicados? A resposta é: Sim! Os preguiçosos compensam a falta de disposição para o trabalho duro com estratégias mais simplificadas na resolução de encrencas e na dissolução de nós cegos. Só não vá esperando que o cara tome a iniciativa. Para isso, os preguiçosos são uma verdadeira negação.

Acontece que, o indivíduo deprimido pode, entre outros sintomas, apresentar uma considerável queda na energia para o trabalho. A depressão é responsável por sofrimentos colaterais físicos que vão desde dores generalizadas pelo corpo, até uma total ausência de interesse pelo mundo ao redor.

A diferença entre um deprimido prostrado e um preguiçoso contumaz é que a baixa energia causada pela doença interfere, inclusive, em atividades que nada têm a ver com o trabalho ou a aplicação da disciplina, do comprometimento ou da responsabilidade.

A prostração decorrente de um quadro depressivo, cobre a vítima com um manto de ferro e névoa. O cérebro de uma pessoa deprimida pode, entre outras coisas, estar sendo privado da produção adequada de Dopamina.

A dopamina é um neurotransmissor cuja importantíssima missão é controlar os movimentos, a motivação e a cognição. A baixa produção desse elemento químico, compromete a ação do Sistema Nervoso Central, causando desinteresse pela vida e impedindo a pessoa de ter prazer na realização de tarefas, contatos sociais e até mesmo em cuidar de si mesmo.

Todos nós, em algum momento do dia, estamos sujeitos a sentir “aquela preguicinha boa”. Sabe, aquela moleza gostosa no final de um dia de trabalho, ou mesmo depois da praia ou de uma festinha com os amigos? Essa sensação de querer ficar um pouco à toa é absolutamente normal. A bem da verdade, um pouco de ócio é fundamental para que corpo, alma e mente tenham o direito de relaxar e diminuir o ritmo. É saudável essa molezinha!

Acontece, que a lentificação e a falta de energia causadas pela depressão não passam nem perto de ser uma escolha. Enquanto o preguiçoso faz de seu comportamento um aliado para se dar bem, aqueles que lutam para sair da cama porque estão deprimidos, não têm nenhum recurso estratégico para dar conta de tamanho abatimento.

A falta de motivação crônica é doença. É uma das inúmeras e traiçoeiras facetas da depressão. Pode levar indivíduos altamente responsáveis, produtivos, honestos e inteligentes a se sentirem reféns de sua própria cama.

E, como em tudo na vida, é preciso usar o bom e velho bom-senso. Olhar para si mesmo e para os demais como seres falíveis e passíveis desses “pequenos pecados” ou desses terríveis e cada vez mais frequentes distúrbios de humor e comportamento. Antes de sair julgando – a si mesmo, a um colega, ou familiar – não custa dar um passinho atrás. Na dúvida, tente ouvir, acolher e compreender. Algumas vezes é só isso que falta para enxergar além das aparências.

Imagem de capa meramente ilustrativa: cena do filme “O amor não tira férias”

A mulher da minha vida

A mulher da minha vida

Imagem de capa: Protasov AN, Shutterstock

A mulher da minha vida tem tanto defeitos quanto qualidades. Para ela, não há esforços a serem medidos na hora de estar presente para quem quer que seja. O seu coração é tão grande que mal cabe em palavras. É uma mulher que não foge aos desafios da vida, pois tem vocação para liberdade.

A mulher da minha vida me deu de tudo um pouco. Me ensinou lições que não podem ser aprendidas em livros e salas de aula. Com cuidado, afeto e até um pouco de rigidez, ela transpareceu ensinamentos valiosos para uma vida inteira. Algumas foram sobre gentilezas, outras sobre justiça. Mas também sobre perdão, amor, felicidade, tristeza, ódio e mais um punhado de sentimentos que vamos tomando conhecimento ao longo dos anos, mas que sem uma direção apropriada, acabamos por colocá-los em quantidades cansativas ao coração. Não porque exista algo de errado conosco, mas porque o mundo, algumas vezes, não pede licença e cobra que tenhamos todas as respostas.

A mulher da minha vida é bonita, independente e não leva desaforo para casa. Ama praia. Ama estar em contato com a natureza. O tempo dela sempre dura mais de 24 horas. Não há limites que a impeçam de realizar algo.

A mulher da minha vida escreve. Escreve os versos mais sinceros e não está nem aí para os clichês dos insensíveis de plantão. Ela é simplicidade na ponta dos dedos.

A mulher da minha vida é, acima de tudo, alguém incomparável.

A mulher da minha vida chegou há tempos, mas continua aqui.

A mulher da minha vida é amor a ser somente amor, todos os dias.

A mulher da minha vida é você, mãe.

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