A Mitologia Nórdica

A Mitologia Nórdica

Mitologia é o conjunto de mitos, bem como o estudo dos mitos, de sua origem, da evolução e do significado de cada um deles. O mito trata de uma narrativa sagrada, que explica a formação do universo e de como tudo se criou, incluindo a humanidade, os fenômenos naturais e conceitos abstratos – como o amor, por exemplo. Trazem em seu conteúdo forças sobrenaturais e divindades, por isso a maioria dos mitos estão atados a alguma religião.

A Mitologia está sempre associada com uma cultura e com um povo e os seus sistemas religiosos e culturais, algumas quase extintas, como a mitologia grega, romana, egípcia, etc. Os personagens centrais dos mitos são deuses ou heróis sobre humanos e suas histórias são sagradas para o povo a qual pertencem, sendo endossadas por governantes, sacerdotes e pelo povo. Esses povos as tem como histórias reais de um passado remoto. Essa é a forma como cada povo escolheu de contar a formação do mundo como é hoje.

São histórias atemporais e se ajustam a qualquer tempo e qualquer sociedade. Isso porque revelam verdades fundamentais e pensamentos sobre a natureza humana. Todas as histórias presentes expressam pontos de vista e crenças de um país, um período no tempo, cultura e/ou religião a qual lhes deu à luz. No entanto, elas não saem de “moda”.

O cinema, a literatura e a televisão se valem dessas histórias, pois estão cheias de significados. Star Trek, Star Wars, Harry Potter, Senhor dos Anéis, Percy Jackson, As crônicas de Nárnia, utilizam temática mitológica.

A Mitologia Nórdica

A Mitologia nórdica também é chamada de mitologia germânica, viking ou escandinava e trata-se do conjunto de mitos dos povos escandinavos, durante a era Viking. Após a cristianização desses povos, muito da sua mitologia foi esquecida.

A mitologia nórdica, ao contrário de outras, não designa uma religião no sentido habitual da palavra. Não havia um livro ou escrituras que designassem uma religião. As lendas eram transmitidas de forma oral, durante a era viking.

A maioria das fontes sobre essa mitologia vieram da Islândia, através dos Eddas. Uma coletânea do séc. XIII, composta por fragmentos da antiga tradição escandinava. Essas lendas foram compiladas da tradição oral como forma de preservar esse conhecimento. Existem a Edda em prosa e a Edda em verso. A Edda em verso são poemas sobre os feitos de deuses e heróis da mitologia nórdica. A Edda em prosa é uma coletânea literária religiosa, a principal fonte literária de mitologia nórdica, escrita por Snorri Sturluson, até cerca de 1200.

É importante ressaltar que o povo viking possuía uma relação muito forte com a agricultura, pois era uma sociedade rural. Por isso, os ritos de fertilidade e fecundidade eram extremamente comuns, visando a prosperidade do povo. Além disso era um povo hostil e habituado com guerras.

A religião deles era muito mais prática, ligadas a atos e gestos. Pode-se dizer que era uma sociedade fortemente influenciada pela função sensação. Diferentemente dos gregos, que possuíam uma apreciação pelo belo e pelo equilíbrio, sendo mais movidos pelos sentimentos. Os ritos e a mitologia eram uma busca da compreensão da vida prática. Alguns autores afirmam que era uma religião da vida. A religião era toda pautada em rituais, principalmente o culto aos ancestrais.

Cosmologia nórdica

Na Mitologia Nórdica o universo era um disco gigante, formado por nove mundos. No centro do universo há Yggdrasil– uma árvore colossal que é o eixo do mundo – que liga os nove mundos da cosmologia nórdica. Suas raízes se encontram em Niflheimo mundo do frio, da névoa e da neve. Mundo sombrio onde se localizavam árvores assombradas e um solo onde não se produzia nada, havia uma escuridão profunda e era habitado por gigantes e monstros.
No seu tronco estava Midgard, o mundo dos humanos, domínio da deusa Jörd e era cercado por oceanos.

Na parte mais alta, que se dizia tocar o Sol e a Lua, encontrava-se o reino de Asgard (a cidade dourada), o reino dos deuses, com seu Valhala, local onde os guerreiros vikings eram recebidos após terem morrido, com grande honra, em batalha.

Havia também o Vanaheim, repouso dos Vanir – deuses mais benevolentes, relacionados a agricultura, a fertilidade, comércio, prazer e paz.

O outro reino era Helgardh, mundo dos mortos governado pela deusa Hela (ou Hel), esse é um reino mais frio, escuro e mais baixo. Encontra-se abaixo da terceira raiz de Yggdrasil.

Havia também o Svartalfheim, o mundo dos anões ou elfos escuros e o Alfheim, o mundo dos elfos claros.

Jotunheimera o mundo dos gigantes e Muspelheimé o reino do fogo, onde habitam os gigantes de fogo.

Além disso, dizia-se que o Yggdrasil era guardado pelas valquírias, pois os seus frutos continham todas as respostas para as indagações da humanidade. Somente os deuses a visitavam. Dizia-se também, que as folhas de Yggdrasil podiam trazer os mortos de volta para a vida e apenas um de seus frutos, curaria qualquer doença e até mesmo salvaria uma pessoa da beira da morte.

O tema da árvore no centro do mundo é um tema comum. Na tradição judaico cristã temos a árvore do bem e mal no jardim do Éden. A diferença é que aqui os frutos da árvore, apesar de serem proibidos também, trazem muitos benefícios à humanidade. O problema é que os homens então se assemelhariam aos deuses e seriam imortais. Outra diferença é que na Gênese há a transgressão humana e na nórdica não.

Existiam também dois clãs de deuses, os AesireosVanir, que foram inimigos, mas se uniram novamente. Enquanto os Vanir são deuses da natureza, os Aesir são belicosos.

Os principais deuses Vanir são Njor e seus filhos Frey e Freya. Os Aesir mais famosos são Odin, Thor, Tyr e Frigga. Quase todos Aesir estavam predestinados a morrerem durante o Ragnarok– o fim dos deuses. Ambos clãs se uniram para lutar contra os gigantes, lembrando a mitologia grega, onde os deuses eram inimigos dos titãs.

O conflito desses dois clãs representa a integração dos deuses do céu e da ordem com deuses da terra e da fertilidade, mostrando um equilíbrio entre essas duas forças. Algo que hoje falta em nossa tradição, que possui um deus apenas da ordem, da lei e do céu. Nos faltam deuses da fertilidade e ligados à terra.

Hoje, o foco da nossa sociedade está mais no mental e na lógica. Precisamos resgatar o contato com os aspectos de fertilidade, da terra, do corpo e das emoções. E conhecer essa antiga mitologia, pode nos mostrar como unir esses dois aspectos novamente de forma mais consciente.

Para ser o amor do seu amor, primeiro seja amigo

Para ser o amor do seu amor, primeiro seja amigo

Imagem: s4svisuals/shutterstock

Alguns casais já foram amigos um dia, mas perderam a sobriedade da união quando separaram os sentimentos. Quiseram amar somente com o exagero do amor e acabaram esquecendo que a amizade era o que sustentava todo o relacionamento. Esgarçaram o que tinham de mais sagrado. Destruíram o pacto entre as almas e fundaram um abismo.

Não souberam ampliar o campo de atuação da amizade. Esqueceram que ela funciona como cláusula primeira de qualquer relação. É o termômetro. A bússola. Sem esse recurso, o amor não respira. Mesmo sendo um sentimento vigoroso e múltiplo, o amor só pode demonstrar a sua potência quando aliado à serenidade da amizade.

Porque a amizade é o amor à paisana. O reconhecimento do outro sem menosprezar os detalhes mais simples. Na amizade até a implicância tem valor. Tem charme.

A amizade é o amor legítimo. Amizade no relacionamento amoroso é a coroação sublime de uma incessante busca. Onde é possível compartilhar a calmaria de um domingo no parque e experimentar o vendaval nos lençóis. Harmonia que nasce da compreensão das diferenças. Solidez que não se estilhaça com qualquer ameaça de vento.

O amigo reconhece o outro pelo olhar. Detecta de longe quando tenta disfarçar uma dor contando uma piada. Sabe que o olhar absorto no tempo esconde alguma angústia. Compreende que a falta de palavra não é descaso nem apatia. Às vezes, é apenas cansaço.

Amigo é uma espécie de mãe de aluguel quando a gente se perde na vida. Toda amizade sincera nos ensina sobre as tonalidades do amor.
A principal, é a tolerância nos dias difíceis, quando o outro se isola para resolver sozinho as pendências que a vida impõe.

Quando silencia. Quando não quer desabafar porque ainda não sabe nomear o que está sentindo e precisa de um tempo para realinhar as órbitas dos pensamentos. Porque não quer que o outro sofra nem se preocupe à toa. Porque não quer fazer alarde com assuntos passageiros.

Amizade é o amor mais delicado que existe, porque a tolerância está sempre se revezando com o perdão para que não fique nenhuma ponta solta, nenhum mal-entendido. Para que não haja desconfiança.

Amizade é o amor puro, que reconhece na própria pele as cicatrizes do outro. A amizade no relacionamento é um fundamento que deve ser aprimorado no calor das declarações e reforçada num gesto de cuidado, quando o outro está distraído.

Para ser o amor do seu amor, primeiro seja amigo.

Algumas pessoas podem permanecer,em nossos corações, mas não em nossas vidas

Algumas pessoas podem permanecer,em nossos corações, mas não em nossas vidas

A vida é permeada por despedidas, algumas serenas, outras impetuosas, muitas delas contrárias à nossa vontade. Porque a passagem do tempo leva consigo muitas coisas e muitas pessoas, distanciando-nos de quem amamos, retirando-nos o que parecia nosso, encaixando as vidas em seus devidos lugares. E nem sempre esse encaixe vem ao encontro de nossos desejos.

Alguns amigos não poderão estar para sempre por perto, ao nosso lado. As oportunidades que se lhes abrirão poderão levá-los a lugares distantes, a novos rumos, a estradas por onde não poderemos seguir. Poderão se casar com quem não gosta de nós, ou arranjar emprego em outra cidade, outro país. A amizade e o carinho ficam, mas a presença não é uma garantia, nunca será.

Irmãos, da mesma forma, continuarão a seguir, mesmo que a uma larga distância, longe do lar, junto a novas famílias, outras paragens. Os reencontros podem ser constantes, esparsos ou mesmo raros, porque a vida de cada um tem o seu propósito e nem sempre teremos aquele irmão ou irmã querida junto de nós. Eis uma das consequências nem sempre doces da vida adulta.

E, nessa toada, nem sempre ficaremos junto ao amor que imaginamos ser o feito para nós, aquele que cabe perfeitamente em nossa alma. Podemos nos distanciar de quem amamos por conta de oportunidades diferentes que chegam para cada um, em razão de chances de vida em que somente cabe uma das partes, ou mesmo porque nos esquecemos de regar o sentimento que um dia invadiu a nossa essência. Amores também se vão.

Além disso, infelizmente, poderemos ser surpreendidos pela partida súbita que a morte nos impõe, sem mais nem por quê, obrigando-nos a prosseguir sem a presença de quem já era parte de nós, de quem já era nossa história, nossa referência, de quem era tão nosso. Dando ou não tempo de nos despedirmos, fato é que ninguém está preparado para enfrentar a morte de alguém querido, embora ela seja uma certeza única do ciclo da vida.

Como se vê, as pessoas vão embora de maneiras diversas, com ou sem aviso, obrigando-nos a reorganizar toda a nossa carga afetiva, rearranjando tudo aqui dentro de nós, para que não enlouqueçamos, para que sigamos, doloridos, quebrados, mas sigamos. Sorver com intensidade os momentos em que a presença de quem amamos é uma certeza nos ajudará, enfim, a suportarmos a dor de sua ausência, toda vez que a vida assim nos exigir.

Nem todo mundo ficará em nossas vidas, mas os encontros especiais jamais sairão de nossos corações. É assim que a gente continua.

Imagem: Oleggg/shutterstock

O que cabe dentro de um abraço?

O que cabe dentro de um abraço?

Dores pequenas ou grandes, que podem ir de saudades, a corações partidos; de joelhos ralados a fracassos profissionais; de solidão involuntária à descoberta de uma traição. Qualquer uma dessas experiências dolorosas pode ser amenizada ou até mesmo curada pelo poder terapêutico de um abraço sincero.

Pessoas que se abraçam de corpo inteiro realizam muito mais do que um simples encontro físico, são protagonistas do transbordamento da alma, da mistura de anseios e vontades de amar.

Pessoas que se entregam ao poder curador de braços que acolhem, além de oferecer a si como conforto ao outro, ganham de volta a maravilhosa e benéfica energia de um coração grato e momentaneamente desarmado.

Durante o abraço, nosso organismo produz um hormônio chamado ocitocina; o mesmo hormônio que promove a união entre mãe e filho, desde a gravidez até a amamentação, evoluindo para os contatos pessoais como a criança, como estar com ela para cuidar, brincar, contar uma história, cantar para ela ou embalá-la ao colo.

A ocitocina tem relação com a fidelidade, o desejo sexual, a sensação de pertencimento e a quebra de padrões negativos que levam a quadros de ansiedade e tristeza.

 

Mas não vale aquele abraço engessado, dado apenas para cumprir uma função de social. Precisa ser aquele abraço que não tem pressa de acabar, que faz a gente ter vontade de esquecer o resto do mundo para se diluir no calor e aconchego de um outro alguém.

Estudos comprovam, inclusive, que a ocitocina é responsável por estruturar um sistema de proteção neurológica, capaz de inibir o envolvimento dos indivíduos com o uso de álcool e drogas. Além de ser determinante no enfrentamento das dificuldades advindas dos períodos de abstinência.

Abraçar é delicioso, é benéfico e é sinal de disponibilidade afetiva. Então, por que será que a gente anda economizando abraços?

Será que andamos com medo de nos envolver? Será que andamos sem tempo de sentir? Será que estamos demasiadamente distraídos das coisas simples e ocupados demais para investir em nossa saúde emocional?

Seja lá por qual motivo for, penso que seria uma boa hora para destrancarmos os abraços, liberá-los para além das nossas reservas e oferecê-los a quem amamos como quem oferta o mais caprichoso presente.

Dentro de um abraço cabe toda forma de afeto, cabe o silêncio confortável entre duas pessoas que se querem bem, cabe o suspiro de alívio por ter encontrado um lugar para aquietar a alma, cabe a manifestação genuína de acolhimento e entrega, cabe a aceitação do outro e o perdão.

Sendo assim, em seu próximo encontro com alguém que vale a sua amizade ou que desperte a sua bondade, tire o sorriso automático do rosto e em vez de estender uma mão reservada e incerta, abrace!

Imagem meramente ilustrativa: Cena do filme “Ghost”,1991.

O que é lixo para uns, é luxo para outros

O que é lixo para uns, é luxo para outros

Imagem: Pixabay

Minha casa foi plantada por um construtor que entendia da trajetória do sol. A qualquer hora do dia ela está sempre inundada de luz. Mas é pela manhã, quando a luz se torna mais diáfana, que eu me sento em qualquer lugar e vejo a vida perfeita como seria, se não existisse a morte.

Fica tudo envolvido por uma compreensão eterna que me transporta ao mais profundo estado de existir sem dor. Que dura minutos, mas que me abastece por algumas horas. Depois, tudo volta a ser como é: estranhamente perigoso. Mas enquanto não é, desfruto.

Desfruto, por exemplo, a beleza da mesinha redonda, que estrategicamente posicionei ao lado do sofá, e imediatamente me comovo porque essa mesinha foi catada do lixo.

Uma bela manhã, acordei, abri a janela, e quase não acreditei: a minha vizinha jogara fora a mesa redondinha, que deve ter-lhe servido redondamente, durante muitos anos. E eu, favelada que sou, atravessei a rua, de pijama mesmo, me abracei com ela, e com ela atravessei a rua, dizendo-lhe com amor de mãe: “você agora é minha.”

Dei-lhe lugar de honra na sala principal da casa. Que é onde me sento, para aspirar em largos haustos a eternidade tão sonhada.
A mesinha de rattan é o símbolo da minha evolução histórica como ser no mundo.

Eu nunca me imaginei capaz de assumir publicamente que sou capaz de levar o lixo dos outros para mim. Mas ela me faz lembrar que o seu direito de existir coincide com o meu direito de declarar publicamente que tenho vocação para revirar lixo, e de lá extrair tesouros.

Quem sabe, com essa declaração, eu possa inspirar um estilo e livrar o planeta de muitos entulhos. Todo mundo deveria revirar lixo para dar uma segunda chance àquilo que não é lixo, àquilo que pensaram que fosse, mas não era.

Assim é a vida: uns só enxergam lixo onde outros enxergam encanto, estilo e beleza. É uma questão meditativa. Cada um deveria perguntar-se: eu vejo lixo, ou vejo luxo?

O efeito direto dessa digressão visual dá origem ao que vou relatar agora: algumas pessoas jogam no lixo o que não querem, e outras recolhem do lixo o que querem. Quando as primeiras descobrem que alguém ousou querer aquilo que não quiseram, são tomadas por uma ira indefectível, seja desmerecendo o que jogou, seja falando mal daquele que fez o resgate.

Pura dor de cotovelo. O remédio para a dor de cotovelo é falar mal. Porque falando mal, procuram sentir-se menos mal pelo descarte sem critério.

Uma mesa redonda pode virar o que quiser na sua forma esférica: pode compor com o sofá, ou pode existir redondinha em um dos lados da cama, sem fazer hematomas nas pernas da sua dona.

Uma mesa alta de canto, com bastante personalidade, e muito peso, pode virar uma mesa baixa de centro, basta cortar as pernas. Melhor cortar as pernas, se as pernas lhe incomodarem do que mandar a mesa inteira para o lixo.

É assim que lixo vira luxo: cortando aqui, adaptando ali, dando o seu jeitinho e a sua interpretação pessoal a todos os átomos, em estado bruto, que dependem de você para um destino melhor do que o monturo.

Eu sou frequentadora de brechós. Quando estive em Paris, só fiz compras em brechós. Paris é a meca dos brechós. Fiquei tão amiga do Pierre, dono do brechó em frente ao hotel, que no último dia, de tanto atravessar a rua, de tanto ir com uns trocos, e vir com roupas maravilhosas, nos despedimos como amigos.

Ele me disse: – Quando vier a Paris de novo, volte.
E eu lhe disse: – Voltarei.
Embora nós dois soubéssemos que jamais voltaríamos a nos ver.

Na minha cidade, a compra mais memorável foi realizada em um depósito de móveis usados: um trono africano, todo estropeado, mas com vocação para bunda de rei. Ou de rainha. Foi paixão à primeira vista. E o apelo me bateu irresistível: – Que será de ti se eu não te levar para mim? Levei.

Mandei revestir de veludo negro, e depois de pronto, no momento em que o tapeceiro fazia a entrega, descobri que não havia lugar para mais um trono. Dei o trono para o meu irmão, e quem usa é a minha cunhada. Mas o trono ganhou a sua segunda chance e me ama de paixão por isso.

“ASSIM É A VIDA e AGORA É TARDE.”

Entre essas frases um intervalo para reflexão. Não sobre objetos usados, mas sobre as metáforas às quais eles nos conduzem. Existem circunstâncias nas quais somos tentados a jogar fora o que é apenas a representação do nosso tédio. Um olhar mais profundo revelaria que o tédio é nosso e não do objeto.

Nada e nem ninguém, nenhum afeto, nenhuma aquisição, tem poder para fazer o outro feliz, cada um tem a obrigação de fazer-se feliz. E buscar em Deus a própria felicidade.

Preste atenção, baby, ASSIM É A VIDA.

Preste atenção, baby, para que não lhe digam: “AGORA É TARDE.
Agora é tarde porque outra mulher, outro homem estão escrevendo o “happy end” que você deixou pelo meio, seja a história da mesinha que foi jogada no lixo, seja a história de um amor que foi sacrificado como peru de véspera, e que está na posse de outra pessoa, agora.

O que é lixo para uns, é luxo para outros. Por isso, eu cato lixo.

O meu parceiro foi descartado quando ainda era solteiro, jovem, lindo, louro, inteligente, comunicativo, olhos azuis, de boa índole, recém formado e louco de vontade de se casar. Pois acreditem: a namorada de infância sentiu-se entediada por tanta formosura, e pediu-lhe um tempo. Bobeou, dançou.

Nesse tempo que ela pediu – e ele deu-, conquistei para mim a eternidade: peguei o ser, amei, cuidei, beijei, abracei, encantei, providenciei os acabamentos finos,- nele e em mim,-e até hoje, estamos juntos.

Não devolvi, não troquei, não vendi, não dei, não tripudiei, e fiz dele o pai dedicado dos meus filhos, e o avô amoroso dos meus netos. Na época, fiz com certo pudor, mas com firmeza.

E não deu outra: ela reivindicou a antiga posse. Mas o que já era meu, continuou sendo meu, com a concessão de Deus.
Quem mandou jogar fora? AGORA É TARDE, baby.

Como vocês podem ver, só hoje assumi publicamente a minha vocação, mas ela é antiga. Bem antiga.

O privilégio de não saber o que fazer da vida

O privilégio de não saber o que fazer da vida

Imagem: George Dolgikh/shutterstock

Existe uma pressão tão grande para encontrarmos logo o que queremos fazer pro resto da vida que parece errado fazer as coisas só pelo prazer de fazer, de tentar, de curtir. Que medo é esse de perder tempo se estamos ganhando tanto por outro lado?

Por uma vida com menos objetivos e mais descobertas.

Eu sei que não saber o que fazer da vida pode ser muito angustiante. Somos impactados por tantas histórias de pessoas que juntaram profissão com o propósito de vida e foram viver felizes para sempre, que parece obrigação encontrar a nossa vocação e arriscar tudo por ela.

A questão é que eu vejo muita gente sem ideia do que fazer da vida, mesmo já sabendo o que faz seus olhos brilharem. E vejo outras que gostam de tantas, mas tantas coisas ao mesmo tempo, que não querem se dedicar a uma coisa só. São pessoas do mundo, que preferem arrecadar experiências e histórias para contar, preferindo se dedicar a projetos pessoais, a aprender, descobrir, viajar, amar. Essas, inclusive, são as pessoas mais interessantes que eu conheço, porque elas olham para o mundo com vontade de absorver tudo que ele tem para nos oferecer.

E eu sinto que existe uma pressão tão grande para encontrarmos logo o que queremos fazer pelo resto da vida, que parece errado fazer as coisas só pelo prazer de fazer, de tentar, de curtir. Que medo é esse de perder tempo, se estamos ganhando tanto por outro lado? Afinal, que obsessão é essa pela sucesso? Por que sentimos obrigação de ser o melhor em tudo o que fazemos? Para mim, para obter sucesso em alguma coisa, é preciso apenas concluí-la com prazer, nada mais.

Temos que ter em mente onde queremos estar daqui a 5 anos, mas nunca tivemos tanta oportunidade de fazer o que queremos. É um paradoxo. E fica difícil mesmo escolher um caminho só, traçar metas e alcançá-lo, porque escolher uma coisa significa abdicar de todas as coisas. E, se você tiver certeza do que quer, beleza. Vai fundo, porque vai valer a pena abrir mão de todas as outras coisas. Mas, se você não tem tanta certeza assim, qual é o problema de aproveitar a vida com toda a intensidade, tentando viver tudo ao mesmo tempo, sem um objetivo?

Existem tantas formas de ser feliz e de encontrar o propósito em coisas que a gente nem imagina. Às vezes, o seu propósito é viajar mesmo, conhecer lugares e pessoas novas. Não é o que você mais gosta de fazer? Às vezes, é tocar violão na sala, apresentar uma peça num pocket show. Às vezes, não tem nada a ver com arte. Sua parada pode ser resolver problemas, ajudar pessoas a se desenvolverem, estudar, ensinar, conectar, empreender. E, vem cá, será que você precisa mesmo transformar essa paixão em profissão? Enquanto não tem dinheiro envolvido, ninguém pode lhe dizer como fazer.

E, tudo bem também, se sua vocação e propósito mudam de tempos em tempos, afinal, como disse Guimarães Rosa, no livro Grande Sertão: Vereda: “O importante e bonito do mundo é isso: que as pessoas não estão sempre iguais, ainda não foram terminadas, mas que elas vão sempre mudando. Afinam e desafinam.”

Pensando nisso, cheguei à conclusão de que quem não sabe o que fazer da vida tem o privilégio de não precisar viver com um objetivo e não há nenhuma inércia nisso, mas sim muito movimento. Você pode se dedicar a fazer uma coisa nova todos os dias. Pode encontrar talentos e vontades escondidos, pode descobrir o propósito na própria descoberta, sem medo do fracasso e sem o peso de obter êxito. E é assim que você vai descobrir que as coisas que fazemos sem expectativas, imersos no processo, são as mais verdadeiras. São as que realmente valem a pena.

A lei do retorno é infalível

A lei do retorno é infalível

Não raro, costumamos achar que vimos sendo tratados injustamente ou de forma desagradável pelas pessoas que nos rodeiam. É como se estivéssemos recebendo muito menos do que verdadeiramente queremos ou pensamos que merecemos. Assim, passamos a colocar a culpa do que nos ocorre tão somente nas pessoas e no mundo lá fora, o que nos impede de nos enxergarmos como sujeitos de nossas histórias, uma vez que, nessa ótica, seríamos meros joguetes nas mãos dos outros.

E, assim, vamos passando os dias lamentando as supostas injustiças que nos vão sendo impostas, recheando nossas amarguras com os tratamentos que julgamos descabidos por parte das pessoas que convivem conosco, sentindo-nos mal amados, mal interpretados, mal vistos e desvalorizados. Afinal, ninguém parece nos entender ou perceber os potenciais que possuímos, como se estivéssemos sendo subutilizados em todos os setores de nossas vidas.

Por essa razão é que jamais poderemos fugir ao enfrentamento de nós mesmos, analisando racionalmente o que estamos oferecendo, como estamos nos comportando, enxergando a nós mesmos, na forma como estamos tratando as pessoas, nas palavras que usamos, no tom de voz que colocamos, no olhar que dirigimos ao mundo lá fora. Muitas vezes, apenas estamos recebendo de volta exatamente o que oferecemos, nada mais nem menos do que isso.

Caso consigamos perceber a forma como as pessoas vêm nos enxergando, o que o mundo vem recebendo de nós, muito provavelmente entenderemos várias coisas que nos acontecem, tendo a consciência de que o que nos chega não é injusto e sim retorno de mesma medida. Muitas vezes, estaremos ofertando é nada, tratando mal as pessoas, ignorando-as e menosprezando-as, fechando-nos aos encontros, a tudo o que está fora de nós. Como é que poderão enxergar algo que não demonstramos? Como é que nos enxergarão, caso nos fechemos aqui dentro?

Embora exista quem não consiga fazer outra coisa que não azucrinar a vida de quem quer que seja, a maioria das pessoas com quem conviveremos estarão abertas a receber o nosso melhor e a fazer bom uso de tudo o que oferecemos, valorizando-nos e tratando-nos com o devido respeito.

É preciso, portanto, que nos permitamos o compartilhamento transparente de nossas verdades, para que elas nos tragam o retorno afetivo que nos enriquecerá a vida onde e com quem estivermos. Porque merecemos, sempre, o que oferecemos.

Imagem: sergey causelove/shutterstock

Moça, valorize-se. Você merece muito mais do que estão te oferecendo

Moça, valorize-se. Você merece muito mais do que estão te oferecendo

Imagem: sergey causelove/shutterstock

Ele não ligou, não te procurou no dia seguinte ao encontro e não demonstrou que quer um relacionamento sério. Mas, como você acreditou em todas as palavras que ele disse, seu coração encontrou todas as justificativas possíveis para convencer o cérebro de que “com o tempo, ele irá te amar”.

Moça, não faça isso! Você merece muito mais do que estão te oferecendo. Você não precisa de quem te procura no final da noite, como última opção. Não precisa de alguém que não te assume, porque a vida de solteiro é mais interessante. Não precisa de alguém que te elogie só para te usar como estepe de relacionamento. Você, simplesmente, não precisa!

Eu sei que te ensinaram a ser a melhor em tudo: na escola, na faculdade, na família, no trabalho e que, por isso, lidar com a rejeição não é seu forte. Mas, acredite, há rejeições que são defesas.

Você nunca foi mulher para ser encaixada em agenda de segunda-feira ou no encontro de domingo à noite. Você nasceu para ser prioridade! Não aceite menos que isso. Não acredite nessa sua autoestima instável que grita que “qualquer relacionamento serve”.

Não corra atrás de quem sabe onde te encontrar. Dê a você o valor que merece, antes de exigir isso dos outros. Saiba diferenciar as pessoas que gostam de você em toda a sua essência, daqueles que são gentis por conveniência.

Sabe, não podemos exigir dos outros aquilo que não estão dispostos a nos dar. Então, deixe ir quem nunca quis ficar. Pare de tentar manter em sua vida, alguém que só se afasta. Não ligue, não peça, não insista. Não é preciso ouvir um “não” quando as atitudes deixam explícito isso. Faça como Pablo Neruda quando afirmava que “se sou amado, quanto mais amado mais correspondo ao amor. Se sou esquecido, devo esquecer também…Pois amor é feito espelho: – tem que ter reflexo.”

Pouco importa se ele mandou flores para se desculpar pelas grosserias da semana passada ou se ele te mandou mensagem para explicar porque te apresentou como amiga naquela festa. O que importa é a forma como você permite ser tratada.

Cuide mais de você e não fique tentando entender as escolhas dos outros. Cada um sabe o caminho que segue e a vida não é um roteiro de filme com final feliz garantido.

Agradeça pelas ligações não atendidas, pelos encontros em que ele não foi e pelas vezes em que ele disse em que vocês não combinavam. Ele estava certo! Você nunca combinou com gente desinteressada e fria mesmo.

Precisamos falar de amor enquanto abraçarem o ódio

Precisamos falar de amor enquanto abraçarem o ódio

Imagem de capa: O Grande Ditador (1940) – Dir. Charles Chaplin

Eu não vou mentir, escrevo o texto abaixo bastante emocionado. Não lembro exatamente o dia em que me senti tão triste quanto hoje. Percebi que nós estamos falhando como seres humanos, e isso não é sobre religião, mas humanidade na sua essência. Desde quando a morte é motivo para celebração? Desde quando fazemos marchinhas, piadas e desenhos sob o pretexto da alegria e do finalmente ele (a) se foi? Talvez desde sempre, é verdade. Mas não vim do sempre, nem você.

Crescemos e estamos vendo outros nascerem numa sociedade que respira o ódio e o descaso para com o próximo. E estamos perdendo o controle. Perdendo benevolências, ajudas e vontade de conhecer quem mora ao lado, quem pensa diferente. Não há preconceito que passe batido, mas a raiva escorrega entre nossas pernas. Ela fica escondida e na situação mais conveniente ou convincente, ataca. Infelizmente, não sobra um respeito que a segure. E tudo isso para quê? Por quê?

Você vai me dizer que é muito fácil falar desse amor. Que um sentimento assim é um vislumbre utópico e que todos odiamos. Que todos comemoramos, em algum ponto, quando alguém que fez o mal morre. Parece ser o nosso senso de punição, já que desacreditamos há tempos do sistema judiciário. De repente, posso até concordar com você. Sério. Mas, e quando alguém que sequer conhecemos e temos conhecimento dos fatos, encara o fim? Como funciona essa bússola moral vista hoje em dia que aponta e estabelece culpados e inocentes conforme os nossos próprios egos?

Já passamos da hora de atrasarmos o amor. Ele precisa vir urgente e para ontem, antes que deixemos de lado empatias e gentilezas para darmos lugar aos maus tratos, insensibilidades e, principalmente, para essa prepotência de saber sobre tudo a todo momento. Nunca chegaremos a amar ou mesmo a reconhecer o amor enquanto estivermos abraçados, dia após dia, com esse ódio enrustido de justiça para o bem da humanidade.

Síndrome do preocupado: quando a mente esgotada parece não funcionar mais!

Síndrome do preocupado: quando a mente esgotada parece não funcionar mais!

Você chega na cozinha e de repente não sabe o que é que foi fazer ali, afinal? Você toma o mesmo remédio duas vezes porque não tem certeza se já tomou? Você deixa de pagar uma conta porque tem certeza que já pagou antes? Você anda com a impressão de que suas coisas andam se escondendo de você? Você vive achando que o dia tem menos horas do que deveria ter?

Se você se identificou com as questões propostas ali em cima, ou foi remetido a outras situações envolvendo confusões semelhantes, fique atento, você pode estar sofrendo da Síndrome do Preocupado.

Trata-se de uma disfunção comportamental que afeta aquelas pessoas que têm por hábito assumir mais compromissos do que são capazes de cumprir; ou que acham que é uma maravilha ser multitarefa e fazer um monte coisas ao mesmo tempo.

A história começa naquele ponto em que acreditamos que sempre podemos produzir mais, e melhor, e mais rápido, junto com a necessidade de viver conectado por meio dos tablets e smartphones. Aceitamos de bom grado a ideia de que é muito esperto da nossa parte acreditar que precisamos ser bem-sucedidos em tudo aquilo que nos propomos a fazer. Então, quando algo dá errado ou não sai exatamente como programamos, somos acometidos por uma sensação incômoda de fracasso e frustração.

A história continua quando não compreendemos que o excesso de obrigações é uma violência contra nossas estruturas físicas, psíquicas e emocionais. Encurtamos o horário do almoço e às vezes acabamos “comendo qualquer coisa”, diminuímos o tempo de sono, rareamos as experiências afetivas com nossas famílias e amigos e compramos a ideia de que o ócio é terrivelmente pernicioso e errado.

A sobrecarga vai logo mostrando suas consequências: falta de concentração, esquecimentos inexplicáveis, irritação, falta de paciência e insatisfação consigo mesmo. Isso para não falar das inúmeras doenças físicas que podem surgir em função de rotinas desumanas, como dores de cabeça com hora marcada, insônia, gastrite, colite, e mais uma porção de “ites” por aí a fora.

A história termina com dois possíveis finais, bem naquele estilo “você decide”. Caso você insista em testar os limites do seu corpo e mente, pode acabar esgotado, perdido num mar de tarefas inacabadas, com dores musculares e arrebatado por uma inquietante falta de perspectiva.

Mas há um final muito mais feliz do que esse bem ao alcance das suas mãos e do resto do seu corpo inteiro. É muito simples: puxe o freio! Só para começar, pare para fazer uma análise do quanto do seu tempo diário vai pelo ralo da vida em grupo inúteis do Whatsapp, em espiadas de cinco em cinco minutos nos perfis das redes sociais, em horas inteiras que você passa pasmando diante de programas alienantes na frente da televisão, em quanta porcaria você coloca dentro do seu corpo como se fosse comida.

Evolua suas observações para a maneira como você organiza o seu dia; reflita sobre as inúmeras situações em que você é incapaz de delegar tarefas ou pedir ajuda; observe as incontáveis vezes em que você abriu mão de prazeres simples, como ler um bom livro, bater papo com os filhos, cuidar das plantas, ouvir música, costurar. Tente olhar para si mesmo com um pouco mais de respeito e dê um fim a essa escravidão voluntária.

Certa vez, um discípulo perguntou ao Dalai Lama qual era o seu segredo para manter-se em paz e equilibrado. O sábio, então, respondeu: “É simples! Eu como, medito, trabalho e durmo!”. O discípulo um tanto confuso, tentou argumentar: “Mas, isso eu também faço, Mestre! Então por que vivo estressado?”. O Mestre, desta vez, tornou ainda com mais amorosidade e explicou: “Quando for comer, coma. Quando for meditar, medite. Quando for trabalhar, trabalhe. Quando for dormir, durma.”

No fim das contas, nos deparamos com a velha e boa constatação: as coisas mais simples são quase sempre as mais geniais, não é mesmo?!

Imagem de capa meramente ilustrativa: cena do filme “O Diabo veste Prada”

Quem nasce sem receber privilégios deve criar os seus

Quem nasce sem receber privilégios deve criar os seus

Imagem: Rick Wang/shutterstock

Há coisas que dependem de nós. Outras dependem de outras pessoas, do acaso, de Deus, do momento oportuno, de estar no lugar certo, na hora exata, com as ferramentas necessárias.

Se entendêssemos que nem todo sucesso ou fracasso é nosso mérito ou nossa culpa, seríamos menos onipotentes na hora de celebrarmos o sucesso, e menos severos na hora de contabilizarmos o fracasso.

Por mais que se tenha vontade de vencer, de acertar, de decolar, circunstancialmente outros fatores podem pesar mais do que a nossa vontade.

O lugar onde vivemos pode ser um catalizador ou uma barreira para os nossos objetivos. A família em que nascemos pode nos ajudar, ou não, em nossos propósitos. Os relacionamentos sentimentais que estabelecemos nos levam para cima ou para baixo. Os amigos servem para o estímulo, ou para o desvio de rota. A escola em que estudamos nos coloca em condições de concorrer, ou nos deixa alinhados com os medíocres. O trabalho que executamos nos serve de ganha pão ou de banquete.

Parece impossível, não é verdade? Mas não é. É apenas difícil.
Esses fatores não são deterministas: sobre todas as dificuldades podemos triunfar. Não seremos os primeiros: há inúmeros casos de pessoas que venceram essas e outras barreiras, e figuram entre as bem sucedidas.

Qual a diferença entre essas e aquelas apenas comuns? Por que alguns chegam lá, e outros estão sempre a caminho, sem nunca chegarem? Porque há uma diferença entre “ter uma vontade” e “ter a certeza.”

Quando temos a certeza, Deus, a sorte, ou o destino ( Deus não se importa com o nome que você lhe dá), entram nessa jornada conosco, em direção ao sucesso.

A nossa certeza deve estar constituída sobre três pilares:

A) Um forte desejo. Deseje algo com tamanha intensidade que seja isso que ocupe o seu pensamento do amanhecer ao anoitecer. E se não for pedir muito, ao dormir, sonhe com ele.

B) Creia que esse desejo é parte do plano de Deus para a sua vida, e assim o fazendo, lembre-se que é ele “quem realiza em você o querer e o efetuar.”

C) Receba o seu bom desejo como parte da sua realidade, antes mesmo da posse.

Essas medidas aparentemente complexas são simples de entender: as coisas existem dentro de nós, antes que se materializem ao mundo. Assim como um bebê é gestado dentro do ventre de uma mulher antes que nasça, e em nenhum momento, a mulher duvida que está aprontando o seu filho para traze-lo ao mundo, assim deve ser a nossa fé.

Posso garantir que funciona. Deus já trouxe à existência inúmeros sonhos que concebi, acreditei, e trabalhei, fazendo a minha parte, de forma subjetiva, e de forma objetiva. Se funciona para mim, funciona para você e para qualquer pessoa que se disponha a não queimar etapas no processo.

Se você tem a sorte de ter à mão todos os elementos que abrem o seu caminho, não precisará atraí-los; mas se você não tem, trabalhe duro com as coisas possíveis, acredite firmemente nas impossíveis, e elas te seguirão.

E quando elas te seguirem, não se esqueça de agradecer. Reconheça que, sozinho,você não conseguiria. Vença o teste da soberba. Há um recurso infinito na gratidão que não se esquece de agradecer.
Afinal, a barriga não dói uma vez só. E os sonhos se renovam enquanto vivemos.

O amor é sobre dividir o melhor de você com outra pessoa

O amor é sobre dividir o melhor de você com outra pessoa

Algumas vezes, o tempo pode ser injusto. Não é uma certeza o quanto permaneceremos ao lado de alguém, seja por motivos além do nosso alcance ou por supostas entregas de cada um. Por isso que o amor não pode ser econômico. O amor é sobre dividir o melhor de você com outra pessoa.

É também sobre não ter dúvidas do que podem alcançar juntos. É cumplicidade de manhã e apetite para felicidades no decorrer do dia. É sobre serem honestos em cafunés, beijos e abraços. É não fazer cara feia quando o pensamento desalinha ou quando os gostos se afastam. Porque toda a brevidade que perdemos disputando quem está certo e errado, o amor vira um carretel sem direção. E nenhum adeus pode sobrepor à saudade de ficar.

É também sobre encontrar sonhos a dois. Não enxergar no outro uma lacuna a ser preenchida pelas suas maiores qualidades, mas como um caminho disposto de soma para inúmeros entrelaces de ambos. É trabalhar defeitos de sorrisos abertos, um por vez, carinhos por dois. Porque relacionamentos não podem ser insistências contra a solidão. Estar com alguém é entender que, dentre todas as escolhas possíveis, escolhemos inteiros.

É também sobre entender o que o coração precisa. É dizer por vontade e fazer por sinceridade. É não omitir partes de si para agradar. É estar junto nos momentos mais imprecisos e continuar em frente. Porque o amor é muito mais amor quando medidas não são impostas.

Algumas vezes, o tempo é justo. É uma certeza quando reconhecemos alguém que realmente possa estar ao nosso lado, seja por motivos além do nosso alcance ou por entregas bem-vindas de cada um. Por isso que o amor é um recipiente a transbordar. O amor é sobre permitir tudo de você com outra pessoa.

Imagem de capa: Blue Jay (2016) – Dir. Alexandre Lehmann

O que gente não conta, conta?

O que gente não conta, conta?

Imagem: Oksana Yurlova

Tem coisas que a gente faz questão de contar. Não importa porque, mas contar é bom, dividir, partilhar.

E, tem coisas que a gente não conta. Não conta porque não quer, porque não se sente confortável, porque não interessa a ninguém, porque a revelação não será um prazer.

Mas, e quando e gente começa a acreditar que se a gente não contou, não aconteceu? E quando a gente entra no campo de não contar sequer para o nosso travesseiro?

Um caminho que oferece enorme perigo, pois que já não se trata de não divulgar, mas sim de ignorar, negar.

Pode ser uma coisinha boba, pode ser um crime odioso. Pode ser qualquer coisa. A pergunta que se faz é: Isso conta?

Bem no início do ano eu passei por uma situação um tanto vergonhosa, daquelas que a gente repensa como fala, o que fala e de que jeito fala. Realmente, para negar, somos rápidos.

Bom, eu fui a uma consulta no gastro, estava com a digestão lenta, uma sensação chata, e cheguei lá reclamando desse inconveniente. Ele pegou uma folha de papel, uma caneta, e me perguntou o que eu tinha comido e bebido nas festas de final de ano, e ele então iria anotar TUDO.

Engoli seco e comecei a contar, falando quase para dentro, pausadamente, como uma oração, omitindo algumas coisas, confessando outras, colocando a culpa nos temperos de outra mão, e ele então parou e me falou, sério: – Se você não me contar direito, eu vou entender que você só veio aqui para passear e sequer acredita que eu possa te ajudar.

Além de ter ficado de cara no chão, percebo agora uma lista infinita de sentimentos, emoções e outras tantas coisas que a gente não conta sequer para nós mesmos, ou floreia, decora, enfeita, fala partes, descarta outras.

Pode ser bobo, pode ser sério. A pergunta que fica é: O que conta na vida para ela valer a pena ser contada?

40% das mulheres que sofrem algum tipo de violência doméstica são evangélicas, diz pesquisa

40% das mulheres que sofrem algum tipo de violência doméstica são evangélicas, diz pesquisa

Imagem: Joe Techapanupreeda

Desta vez, os mestres da camuflagem foram o objeto de uma pesquisa realizada pela Universidade Presbiteriana Mackenzie. A pesquisa aponta, o que não nos surpreende, o fato de que 40% das vítimas de violência doméstica são abusadas por parceiros evangélicos. E, para corroborar tais resultados, asseguro-lhes que um número sem fim de relatos me chegam, referindo-se a parceiros “religiosos” e extremamente abusivos.

É também notória a existência de “líderes espirituais” que abusam sexualmente de seus seguidores, sendo que alguns conseguem hipnotizar e manipular de tal forma, a ponto de levá-los ao suicídio em massa. Outros, numa escala maior, conseguem tirar boa parte da receita de famílias inteiras, com a promessa de que suas vidas só prosperarão mediante pagamento.

Religiosos perversos podem facilmente se misturar e aparecer como normais ou saudáveis como qualquer um, mas, na verdade, são mestres manipuladores da opinião pública, bem como de pessoas com quem não convivem na intimidade.

Quando ocupam uma posição de liderança, podem manipular todo o grupo pela indução de que estão “unidos por Deus”, enquanto, privativamente, vitimam um membro específico, manipulando-o com ameaças e culpabilizações, de modo que sua vítima creia que o resto da congregação nunca acreditará se clamar por ajuda.

Utilizam-se de uma boa oratória, de carisma e de conhecimento religioso para manipular, a fim de que seus interesses sejam atendidos, tais como matar, morrer, manter relações sexuais ou abrir mão de bens materiais em troca de “benção”, “reconhecimento divino” ou “purificação”. Dessa forma, perpetram todo tipo de violência contra pessoas inocentes, crentes e de boa-fé, que buscam na religião algum alívio para seus problemas.

Usam de forma deturpada a “palavra de Deus” para justificar falso moralismo, homofobia, racismo, ímpetos violentos, maledicência, preconceito, violência sexual, pedofilia, machismo e abuso pela posição que ocupam.

Conseguem obediência de seus seguidores com grande facilidade, já que perversos sabem, como ninguém, farejar pessoas necessitadas, carentes de atenção, amor ou cuidado. Você diz do que precisa e ele lhe apresenta imediatamente uma promessa de solução mágica. Isso encanta, fazendo com que ganhe confiança e submissão. É assim em todas as suas relações interpessoais.

Nesse contexto, esses anjos de candura, dentro de casa, mostram-se verdadeiros demônios diante de mulheres silenciadas pela vergonha e pela culpa. Mulheres que sabem que não podem contar com qualquer rede de apoio, pois qualquer queixa é imediatamente desqualificada por amigos, familiares e vizinhos, afinal, aquele homem “é um santo” e “ajuda tanta gente”.

Na tentativa de manter sua posição de autoridade diante de todos, bem como de manter poder sobre uma vítima, esse perverso não hesitará em usar fofocas difamatórias ou mentiras para arruinar a reputação de sua vítima aos olhos da igreja, desqualificando, assim, qualquer acusação que venha a fazer. Não raro, reúnem a equipe disciplinar da igreja para suprimir as acusações e gritos de ajuda de sua vítima, rotulando-a como pecadora, rebelde, louca ou desonesta.

Para quem acha que um religioso não seria capaz de fazer mal a alguém, ou para aqueles que se deixam adoçar pelas “boas ações” de gente perversa, é importante entender que as características indicativas de perversão narcísica e psicopatia podem estar presentes em qualquer um e que a aparente “caridade” de um perverso nada mais é do que um modo de ter controle sobre aqueles que se sentem beneficiados por “sua bondade” tornando-se, portanto, seus devedores.

Ser amoroso e preocupado com um indivíduo pelo qual não tem interesse esconde as verdadeiras cores e intenções de um típico perverso. A verdade é que não experimentam qualquer sentimento ou emoção por nenhum membro. Olham com desgosto e desdém para os membros considerados, por ele, inferiores ou fracos, mas os utilizam como massa de manobra, como seus possibilitadores e como prova de sua “caridade”.

Assim, não importa qual a posição ocupada por tal pessoa, é preciso estar atento ao seu comportamento fático, pois este difere das palavras, ainda que se insista em não enxergar. Importante, nesse sentido, não se ignorarem pedidos de socorro de quem com essas pessoas convivem na intimidade, apenas porque o suposto abusador parece alguém bom. É preciso manter as antenas ligadas, porque o mal existe e tem muitas faces.

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