A vida conspira a favor de quem sabe pensar no melhor para ela

A vida conspira a favor de quem sabe pensar no melhor para ela

O pensamento é poderoso e tudo que existe hoje ao nosso redor nasceu antes nele. E não só coisas são idealizadas em pensamento, mas situações também. A única questão é que geralmente passamos mais tempo pensando naquilo que não queremos ou não gostamos, do que naquilo que realmente desejamos para nossa vida.

Em 1980, um professor da Universidade de Harvard, Daniel Wegner, iniciou um estudo para entender o que acontecia com as pessoas quando elas tentavam não pensar em algo. Wegner criou até mesmo uma teoria intitulada “Teoria dos processos Irônicos” na qual resumidamente ele chegou à conclusão de que nosso cérebro não compreende bem a negação.

Wegner percebeu que ao tentarmos não pensar em seja-lá-o-que-for acabamos ativando a ideia da própria coisa que existe em nossa cognição. A razão disso é que nosso cérebro associa pensamentos com imagens e o “NÃO” não é captado como uma.

Logo ao não desejarmos algo acabamos caminhando na direção desse algo não desejado. Então se eu pensar: “Não tenho medo” ativo em mim a ideia do medo e não da coragem, como desejei à princípio.

Para bom entendedor meia palavra basta e o nosso cérebro é um ótimo entendedor. Então passamos a trazer, inconscientemente, para nossa vida tudo aquilo que não queremos. Arranjamos o emprego que não sonhamos, o relacionamento que não desejamos, os afazeres que não suportamos e vamos tocando nossa vida carregando nos braços tudo o que não nos apetece.

Quem assistiu à animação “Kung Fu Panda” certamente lembra da cena na qual o ganso mensageiro Zeng vai até a prisão para certificar-se que o antagonista Tai Lung não escaparia e com isso deixa lá uma pena sua, que é usada por Tai Lung para, ironicamente, escapar. A ação para certificar-se que o Leopardo não escaparia, propiciou o contrário. E é assim também conosco.

A boa notícia é que podemos sim mudar nossa forma de pensar com determinação e disposição. E um ótimo ponto de partida para nos ajudar com isso é fazer uma lista das coisas que realmente desejamos em vários aspectos da nossa vida. Tudo bem detalhadinho. Depois disso ficará mais fácil pensar no melhor.

Então, ao invés de pensarmos “Não quero chegar atrasado”. O ideal seria “Quero chegar na hora”. Ao invés de “Não quero um emprego longe de casa”. O ideal seria “Quero um emprego aqui pertinho”. No campo dos relacionamentos também podemos pensar diferente. Ao invés de “Não quero um namorado ciumento” podemos pensar “Quero um namorado compreensivo”. Ao invés de pensarmos “Não quero sofrer mais uma vez em um novo relacionamento” podemos pensar “Quero encontrar alegria e paz em uma nova relação”.

É tentador listar aquilo que não gostamos ou que não queremos em nossa vida, mas é muito importante que a gente coloque em nossa mente, de forma afirmativa, tudo de bom que realmente queremos e merecemos. Se conseguirmos manter esse foco positivo, certamente o Universo e a vida conspirará a nosso favor!

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Atribuição da imagem: pixabay.com – CC0 Public Domain.

A fila andou andou

A fila andou andou

Imagem de capa:   mantinov/Shutterstock

A fila andou. Pra você, não pra mim. Pra mim, isso nunca se tratou de fila, sequência. Eu morava em você e acreditava ser também a sua casa. Não havia outros enfileirados. Só você ali. Mas ontem te vi na rua, sorriso aberto, com uma roupa que eu não conhecia e isso também me doeu. A vida andou. Te olhar com um olhar estranho, te ter perto como não sendo meu, aquilo me feriu de um tanto, que pensei que iria enlouquecer.

A fila andou. Soube recentemente, quando me contaram cheio de dedos. Você já estava amando outra vez. Sempre parecerá rápido demais pra mim. Eu ainda nem entendo direito que acabou. A minha autoestima parece ter ido por engano na caixa com as suas poucas coisas. Mas pra você, andou. O amor está logo ali, te tornando novo, te fazendo interessante, te ajudando a esquecer de mim. Ao que parece, a fila ao lado anda sempre mais rápido.

A fila andou. E tudo o que antes te parecia inconcebível, virou rotina. Tudo que eu mendigava, agora farta. Parece que a fila andou pra um lugar melhor pra todos e eu sigo aqui. Eu poderia dizer que fico feliz, que desejo o melhor, que espero mesmo que sejam muito felizes. Mas isso também seria mentir. Eu desejo que você seja pleno, que viva a sua verdade, eu desejo de verdade que você seja feliz, mas jamais que fico feliz por vocês.

Não sou do tipo gentil, superior. Não sou do tipo conformada. Não sou do tipo intelectualizada. Não sou a mulher civilizada, eu sou antiga e anterior. Eu sou primitiva, apavorada, instintiva. Sou unha e carne de amor. Passional, possessiva. Vermelho sangre. Eu não sou do tipo que passa a vida de fila em fila. Prefiro correr por aí, louca, descabida, livre da necessidade de me pendurar imediatamente ao outro. Livre da incoerência de não parecer sozinha, quando isso é realmente tudo o que eu sou. Por aqui, querido, a fila não andou. Sigo na direção que eu quiser.

Façamos a coisa certa. Errar é humano mas não é desculpa.

Façamos a coisa certa. Errar é humano mas não é desculpa.

Imagem de capa:  coka/shutterstock

Eu entendo. Todo mundo erra. Ninguém é perfeito. É direito meu e seu e de todo mundo cometer um engano aqui e outro ali e blablablá. Mas cá entre nós: será que essa desculpa já não anda velhinha demais, não? Coitada, caquética e carcomida, rola por todo canto justificando pequenos, médios e grandes equívocos. O sujeito pisa feio na bola e já se explica: “ahh… errar é humano, né?”.

É, sim. É humano. Tanto quanto é uma bruta sacanagem se esconder em desculpas surradas como essa. Por favor, né? O problema não é o erro. É o cinismo, o descaramento, a desfaçatez. Injustiça deliberada e safadeza de propósito não são erros. São indecências.

Errar é humano mas não é desculpa. Façamos a coisa certa. O mundo não aguenta mais tanto babaca piorando a vida com empenho. Quem tem o mínimo de correção e consciência faz o que é certo e ponto. Ainda que se esforce, que se rale e adoeça, não cai no desvio nem se desculpa na caradura alegando defeito de fábrica. Quando erra, corrige. Se errar de novo, corrige outra vez.

Desculpas não bastam, minha gente. Passou da hora de fazer uma força e acertar mais. Quem vive na defensiva, errando porque quer e se escondendo em justificativas ordinárias é gente sacana. Chega desse negócio.

Sorte nossa é que no mundo, entre sete bilhões de habitantes, ainda há muito mais gente boa do que vigaristas. Acontece que eles, os sacanas, estão cada vez mais à vontade para fazer das suas. Logo, quem é bom tem de se esforçar mais. É urgente ser radicalmente decente. Só assim, quem sabe, a gente equilibra essa balança. Antes que um canalha a quebre e diga com cara de santo que foi sem querer.

Lavador de pratos vira sócio de um dos melhores restaurantes do mundo

Lavador de pratos vira sócio de um dos melhores restaurantes do mundo

Sob o comando de René Redzepi, o dinamarquês Noma é um dos restaurantes mais renomados do mundo. Por quatro vezes esteve em primeiro lugar na lista dos 50 melhores restaurantes do mundo, divulgada anualmente pela revista Restaurant e mostra-se também um exemplo de administração e valorização de seus funcionários.

Ali Sonko, de 62 anos, lavou os pratos do lugar por 14 anos e acaba de se tornar o novo sócio de Redzepi. Sonko é natural da Zambia e cuida da limpeza do estabelecimento desde sua abertura em 2003. Agora ele detém 10% do negócio.

Em 2010, por problemas em seu visto, Ali havia sido proibido de embarcar com a equipe do restaurante para Londres, onde receberiam um prêmio. Na ocasião, os funcionários usaram uma camiseta com seu rosto estampado durante a cerimônia.

“São os melhores colegas de trabalho e sou amigo de todos eles. Mostram-me um enorme respeito e, não importa o que eu diga ou faça, estão sempre lá para mim”, disse ao britânico The Guardian.

Em 2012, quando o Noma venceu novamente, Ali Sonko não só conseguiu comparecer, como foi responsável pelo discurso de agradecimento.

Além de Sonko, dois gerentes foram também promovidos a sócios.

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Ensinamentos do livro “O Retrato de Dorian Gray”, de Oscar Wilde, que você deveria levar a sério

Ensinamentos do livro “O Retrato de Dorian Gray”, de Oscar Wilde, que você deveria levar a sério

O Retrato de Dorian Gray é um dos livros mais incríveis e polêmicos da Literatura Mundial e, acredite, tem motivo em ser. Interessante, real e revelador, o livro permite que leitor tenha momentos de reflexão sobre o comportamento humano, além de pensar no quão superficial a sociedade pode ser.

Com a famosa história de Dorian Gray e os crimes cometidos em nome de sua vaidade exagerada, Oscar Wilde trouxe à tona assuntos importantíssimos sobre o comportamento humano e apresentou a história da corrupção moral por meio de esteticismo. No livro, a beleza é tratada como ponto de partida para toda a maldade de Dorian Gray. Em nome dela, crimes são cometidos, suicídios realizados e traições premeditadas. Sem remorso, culpa ou medo, Dorian Gray só tinha um objetivo: manter-se jovem e belo.

Superficialmente, a história é assustadora. No entanto, quem conhece Oscar Wilde, sabe que a intenção do autor foi muito além dela. O autor tentou passar ensinamentos de ética, moral e princípios, discutidos em forma de diálogos dos seus personagens:

“O apaixonado começa iludindo-se a si próprio e acaba enganando os outros”.

Sejamos realistas, há uma grande verdade nisso. Quando nos apaixonamos vemos qualidade onde não tem, ficamos cegos aos defeitos e projetamos planos sem o aval do outro e, sabe, há até um pouco de saúde nisso. Ferreira Gullar dizia que fantasiar era necessário : “A arte existe porque a vida não basta”. O problema é fantasiar demais e depois entrar em um estado depressivo suicida.

Paixão foi feita para durar dias mesmo. Não dá para focar na pessoa como projeto de vida e esquecer que existe um mundo inteiro lá fora. Entenda que a paixão que dá certo é aquela que vira amor. A que não vira, deve ser breve e não deve deixar vestígios.

Quem não consegue resolver essa questão amorosa dentro de si, fica amargurado e transfere para todos os futuros relacionamentos uma espécie de “vingança amorosa” (como se o atual parceiro, tivesse culpa do que o anterior fez). Parece inacreditável, mas isso é mais comum do que você pode imaginar.

Paixão “mal resolvida” é paixão que não deveria ter acontecido. Então esqueça-a. Passado não é corrigido, não é mutável e não é importante. Então, deixe-o lá e encontre um novo presente.

Há coisas que são preciosas por não durarem”

Sim, isso inclui relacionamentos. A história foi perfeita, teve cenário e até trilha sonora, mas acabou. Sem motivos. Sem sofrimento. Sem explicação. Simples assim!

Algumas histórias não nasceram para durar mesmo. Elas aparecem para fazerem bem por um tempo, para mostrarem que há pessoas incríveis no mundo ou só para provarem que o amor existe mesmo, mas se elas durassem não seria tão perfeito como foi.

Às vezes um “não podemos continuar” é a melhor coisa a se ouvir. Dói na hora, mas protege a alma. Não é porque teve fim que perdeu a beleza. O acaso se faz perfeito imprevisibilidade mesmo.

Só entenda: foi bom, mas não era para ser.

“Um verdadeiro amigo te apunhala pela frente”

Na minha opinião, princípios e bom caráter deveriam ser natos, mas, infelizmente, não é. As pessoas desenvolvem essas qualidades convivendo com pessoas boas, mas as perdem conforme suas intenções de crescer na vida.

Há verdadeiros amigos que dariam a vida pelo outro, da mesma forma que há pessoas tão falsas que levariam o outro à morte sem nenhuma culpa (como acontece no livro em questão).

Um ensinamento explícito do livro é que a vaidade separa as amizades. Note: uma amizade verdadeira é quando um torce pelo outro. Quando o seu sucesso é motivo de comemoração, da mesma forma que a do que outro também é. Mas, quando o contrário acontece, as pessoas tendem a se distanciar e a se odiarem.

Verdadeiros amigos não invejam, torcem para o bem do próximo. Não mentem, aconselham. Não dizem “essa tempestade irá passar”, eles seguram o guarda-chuva e ajudam o outro a passar a tempestade. Quanto aos falsos eles são maliciosos, perigosos e sujos. São capazes de tudo para te destruir e acabar com a autoestima do “amigo” e suas vitórias são motivos de lamentações.

Que sua intuição seja a defesa da sua alma. Teremos inimigos escondidos e invejosos expostos sempre. A vida não é feita só por boas pessoas. Mas saiba diferenciar os bons dos maus, o joio do trigo.  Como dizia Danuza Leão: “já que é inevitável ter inimigos, a coisa melhor do mundo é ter um de verdade: que te odeie com lealdade e sinceridade -sem nenhum fingimento”.

“Existe muitas coisas que nós abandonaríamos se não receássemos que outras pessoas as pegassem”.

Nesse diálogo entre Dorian e seu amigo Basil, o protagonista falava sobre a fidelidade, sobre pessoas que se mantem em relacionamentos por comodismo ou medo de que outro tome “seu posto” no relacionamento.

O ser humano norteia suas atitudes em dois sentimentos: o apego e a rejeição. Opostos, manipulam o comportamento humano como quem controla as rédeas de um cavalo.

Muitas vezes, as pessoas não amam mais e querem terminar, porém, com medo de se arrependerem depois ou de imaginar o parceiro com outra pessoa, permanecem ali estáticos e infelizes. Se entendêssemos que não somos de ninguém, que a fidelidade é natural quando se ama e que temos a obrigação em sermos e fazermos o outro feliz, viveríamos melhor.

Quando a relação chega ao fim é necessário sim partir. E, claro que outras pessoas aparecerão e vocês serão felizes novamente. Qual o problema nisso? Por que esse apego ao que nunca foi seu? Somos donos de coisas materiais, não da vida alheia. Ser feliz e deixar o outro ser é uma questão de maturidade e bom senso. Liberte-se!

Por fim, ainda entre um diálogo entre Dorian Gray e Basil, temos um ensinamento que está mais para um tapa na cara do que para um conselho:  “O objetivo da vida é o desenvolvimento próprio, a total percepção da própria natureza, é para isso que cada um de nós vem ao mundo. Hoje em dia as pessoas têm medo de si próprias. Esqueceram o maior de todos os deveres, o dever para consigo mesmos. É verdade que são caridosas. Alimentam os esfomeados e vestem os pobres. Mas as suas próprias almas morrem de fome e estão nuas.”

Sem mais palavras (porque, depois da última citação, eu também fiquei sem), fica a recomendação de leitura ou releitura do livro. Os seus olhos podem enxergar além das letras e você pode aprender coisas que ninguém ensinou…

Imagem de capa: cena do filme “O Retrato de Dorian Gray”, 2009- reprodução

 

Quem gosta de banho-maria é pudim!

Quem gosta de banho-maria é pudim!

Nunca confie em pessoas mais ou menos. Esse povo que sorri amarelo, que fala meias verdades, que adora mandar uma indireta. Gente que só não sabe o que quer quando a coisa não lhe afeta diretamente, para o bem ou para o mal.

Esse negócio de cor neutra, água morna, comida insossa não consegue manter nenhuma pessoa viva entretida por muito tempo.

Cor neutra só se for em parede, caso contrário vai murchando a pessoa. Imagina só passar uma vida inteira usando bege. Ou pior, vestir roupa daquela cor que oscila entre o nude e o café com leite, e ficar parecendo que saiu sem as calças para quem vê assim, meio de relance.

Pense, então, numa vida fadada ao morno… Banho morno, relacionamento morno, café morno… Eu, hein! De repente, a pessoa assume aquele estado de letargia, sai por aí feito um morto–vivo e acha que tudo bem, porque nem se lembra mais o que é a delícia de uma água gelada pra acalmar o fogo da garganta e o aconchego de um café quente para despertar o espírito. Morreu de quê, coitado? Sei lá… parece que se dissolveu por falta de estímulo.

E comida sem gosto? Tipo aquelas gororobas que são servidas no “bandeijão” da faculdade. Tudo tem o mesmo gosto. Tanto faz se é frango, carne ou peixe… tudo é meio cinza e fibroso. Gosto de nada. Chega uma hora que a pessoa nem mastiga mais direito. Pra quê? Comer vira uma obrigação.

Mas nada, nada mesmo, pode ser pior que um relacionamento morno. Durante alguns dias, pode ser até um alento essa calmaria. Nada de conflitos, nada de desafios emocionais, nada de enfrentamento, nada de nada.

Amor morno. Tente repetir isso algumas vezes seguidas. Amormornoamormornoamormorno! Tenha santa paciência! Parece aqueles mantras que a gente aprende na Yoga pra esvaziar a mente.

Amor não foi feito pra esvaziar nada. Amor foi feito pra invadir, isso sim! Invadir a alma da inquietação daqueles que ousam subverter a ordem dos chatos de plantão e se apaixonar até as últimas consequências. Amor sem calor, sem gelo na espinha, sem sabor e sem sobressalto não serve.

Quem gosta de banho-maria é pudim. A gente, que insiste em continuar sendo gente, apesar de toda a força contrária, gosta mesmo é do fogo intenso das coisas lindas que tiram a gente do eixo, ou do arrepio dos ventos inesperados que mudam tudo de lugar.

No mais, que venham as janelas e portas escancaradas, ou o desafio das trancas que escondem o desconhecido, porque pelas frestas só passam as coisas poucas. E de miséria, o mundo já está rigorosamente saturado, não é não?

Imagem de capa meramente ilustrativa: cena do filme “Em luta pelo amor”

Não confunda meu silêncio com solidão

Não confunda meu silêncio com solidão

Em tempos de verborragias, muitas vezes vazias e grosseiras, haja vista as redes sociais impregnadas de vozes preconceituosas, violentas e intolerantes, silenciar é tido, muitas vezes, como algo negativo, como se fôssemos obrigados a ter de gritar nossas convicções por aí, a quem quer que seja. Nesse contexto, parece que não se pode, em hipótese alguma, fazer uso do silêncio, o qual somente julgam revelar o quão solitária é a pessoa.

A cultura do status, numa sociedade em que a fama acaba se atrelando a vidas glamorosas, a fotos de corpos malhados, camarões regados a champanhe, festas em iates e noitadas nos camarotes VIPs das baladas mais chiques, realça a necessidade de sair do anonimato. Aliás, para muitos, nada pior do que ser normal, anônimo, previsível. Há que se brilhar, pois o que vale é a quantidade de seguidores e de curtidas que a pessoa recebe. Silêncio não chama curtidas.

Por isso é que se torna comum a confusão entre a quietude e a solidão, uma vez que as pessoas mais introvertidas e reservadas parecem não se encaixar nessa sociedade do espetáculo. Se a pessoa diz que não possui perfil no face ou conta no twitter, todo mundo se espanta, como se estivesse em frente a um ser de outro mundo, e logo se levantam julgamentos acerca dessa pessoa, que passa a ser tachada, por muitos, como alguém solitário, antissocial e esquisito.

Na verdade, nem todo mundo gosta de se expor, nem todo mundo tem facilidade para conversar sobre qualquer coisa com qualquer um, nem todo mundo necessita de um milhão de amigos, porque simplesmente nem todo mundo pensa igual – felizmente. Ser quieto, introvertido e comedido não significa necessariamente ser sozinho, solitário, mas pode apenas se tratar de exigência, escolha, de não se contentar com qualquer um, com qualquer coisa.

Caso não esteja nos fazendo mal ou atrapalhando a nossa vida, mantermos o silêncio poderá nos ajudar a guardar nossos tesouros, para somente compartilharmos o nosso melhor com quem realmente merecer, com quem poderemos ser verdadeiros e transparentes, sem medo, sem termos de volta, distorcidamente, o que tivermos oferecido. Solidão, ao contrário do que muitos pensam, não tem a ver com a quantidade de pessoas que conhecemos, mas com o tanto de reciprocidade que faz parte de quem está junto de nós.

Imagem de capa: coka/shutterstock

Quando arrepender-se é a melhor alternativa

Quando arrepender-se é a melhor alternativa

Arrependimento não é necessariamente ruim. É uma sensação que não desce bem, mas, ao mesmo tempo, uma prova inegável de aprendizado. Quem se arrepende, pensou melhor, aprendeu, ponderou, viu ou ouviu alguma razão.

A vida está aí para isso. Para irmos para frente, e voltarmos se for melhor. Um passo atrás para evitar queda maior. Arrepender-se é tomar para si a responsabilidade de algo que não bateu tão bem assim, voltar atrás e escolher outro caminho.

E, por mais que a culpa espreite os arrependidos, não há muito espaço para ela quando se trata de mudança de atitude. O direito de mudar de opinião, caminho, certeza, promessa, o que seja, é para qualquer um de nós.

Vamos desapontar e aborrecer muita gente, mas não há justificativa no mundo que nos obrigue a viver desapontados e aborrecidos somente por não poder bancar um arrependimento.

Haverá prejuízos? Sim. Rompimentos? Também. Descrédito? Certamente.
Mas nada será tão libertador quanto o poder de escolher. E na vida, quando escolhemos errado, – e fazemos isso milhares de vezes – precisamos de uma alternativa para voltar aos sonhos e esperanças, mesmo que seja em forma de arrependimento.

Que nunca seja uma desculpa para cometer insanidades. Que não seja instrumento para magoar nem desiludir. Que jamais seja garantia de isenção de responsabilidade.

Mas que seja uma alternativa, sempre que uma decisão tomada esteja fazendo sofrer, amargando a vida, criando feridas.

Pessoa de palavra não é a que jamais volta atrás. Palavra boa é a que sai com verdade, com coragem, respeito e consistência, apesar de todas as consequências.

Vamos lutando para que os arrependimentos seja menores do que as boas escolhas, mas com consciência de que os erros são excelentes e contundentes professores.

Arrepender-se é uma opção. Fica a dica.

Teste de som

Teste de som

Imagem de capa:  pathdoc/shutterstock

Nenhuma mulher é uma ilha. Somos continentes. Também é certo que cada serzinho vivo ou morto é único. Não há duas folhas de antúrio iguais, nem duas ondas idênticas no mar. Eis o mistério da individualidade. Mas tem um negócio chamado socialização – um caldo de fervura que atinge a todos que compartilham uma mesma época.

Mulheres e homens são socializados de formas diferentes. A tradição vai distribuindo os papéis e espera que a gente corresponda a eles. Seja no palco, seja na plateia. Da infância à velhice. É claro que dá para rasgar o script. Muita gente faz isso todos os dias e o tempo todo. Mas precisa ter coragem.

Nessa divisão de atribuições ficou estabelecido que os homens cuidam do espaço público e as mulheres do privado. Não estou inventando, basta observar. Com as raras e honrosas exceções, falar em público trava a língua da maioria das mulheres. Motivo de temor.

Lembro com detalhes de trauma a primeira vez que participei como palestrante em uma mesa. Foi no auditório de uma unidade do Senac em Sampa. Eu estava com meus 35 anos. Aconteceu que minha boca secou e a voz saiu trêmula. Os colegas homens, ao meu lado, falavam com fluência de água de cachoeira.

Verdade que o tempo – ah, esse grande mestre – foi corrigindo o meu temor. O tempo mais minha teimosia herdada da ascendência cearense. Fui aprendendo que eu tinha o direito de falar em público. Quando você entende que tem um direito, vai em frente tal burro desembestado. Destrava as amarras impostas pela tradição.

Em vários momentos da minha vida, ouvi alguns homens dizendo que as mulheres falam demais. O que concordo. Mas reparem que mulheres soltam o verbo na sala, no quarto, na cozinha. Basta pôr um microfone na frente que tudo muda. Saltamos da verve doméstica para a timidez discursiva.

Pois, em geral, não fomos treinadas para a esfera pública. Está duvidando? Então atente: no Senado Federal há 13 mulheres para 68 homens. Na Câmara Federal são 462 deputados e 51 deputadas. Essa magérrima contagem é recente. Por longos anos a representatividade feminina foi próxima de 0. Os números são frios e até chatos, mas não mentem.

Já as mulheres velhas falam dentro da cozinha e fora delas. Rugas escorrem pelo rosto, mas também são visas no passaporte para viagens ousadas. Vamos ficando menos bobinhas. Já sabemos que podemos rasgar papéis que nos escondem. No entardecer, muitas deixam de ser canoas transportando a vida dos outros. Ficam bem mais para oceanos.

Quem me vê sorrir, pode jurar que eu nunca chorei

Quem me vê sorrir, pode jurar que eu nunca chorei

Imagem de capa: Victoria Chudinova/shutterstock

Me alegro com coisas ridículas, sofro por outras ainda mais. Essa é a mágica das transformações e a prova de que a eternidade só vale para o tempo e não para as fases que a vida traz e nos apresenta, quase sempre de sopetão.

Não há mal que sempre dure e bem que nunca se acabe, diz um ditado conhecido. A dor permeia a vida tentando nos enganar, prometendo estadia longa, mas é uma mentirosa, quer permanecer, mesmo sem convite.

A atitude positiva é capaz de mudar o rumo da vida. Onde é sorriso, a dor se intimida. É uma briga feia, mas necessária. O sofrimento fala alto, é impositivo, espaçoso, grudento. Mas, o otimismo é contagiante, simpático, companheiro.

Um lamento atrai outro, maior. Um sorriso atrai outro, maior.
Pode-se passar um bom tempo mergulhado no drama, mas não pode fazer-se de rogado ao convite de uma risada.

A ideia em si é dar cada vez mais espaço aos sorrisos e às atitudes positivas. A responsabilidade aumenta a cada reação que somos capazes de provocar. E uma gargalhada junto é mil vezes melhor do que um suspiro dolorido.

Quem me vê sorrir, acha minha vida boa. E ela é. Normal, com muitas dores superadas, algumas nem tanto, outras que ainda nem mexo e muitas risadas que solto para comemorar.

Quem me vê sorrir, pode achar que eu nem sei chorar. Mas é por tanto saber, que sorrio ainda mais sonora e escancaradamente.

Quem me vê sorrir, não sabe o que passei. Melhor assim. Nenhum veneno, nenhum fantasma, nenhuma dor ou desamor. Tudo isso existe, faz parte de mim, mas não podem roubar minha risada.

Essa é a vida que a gente tem obrigação de perseguir e compartilhar.

O veneno está na mesa

O veneno está na mesa

O veneno não está apenas na carne. Está no ar, na terra e em todos os alimentos que chegam à nossa mesa. Visando apenas o lucro, “os impérios do campo” nos obrigam a pagar com dinheiro e com a saúde pelos seus tesouros cancerígenos.

Eduardo Galeano disse que “Se a natureza fosse um banco, já teria sido salva”. Como também aduziu, ao magicamente acrescentar um novo mandamento às sagradas escrituras, que “Devemos amar a natureza, da qual somos parte”. As falas do uruguaio parecem óbvias, e assim as são, porque a literatura serve para isso: mostrar o óbvio, que ao vir à tona, evidencia – lembrando Fahrenheit 451 – os poros do rosto da vida. No entanto, se é claro como água que somos partes da natureza e que, portanto, devemos cuidá-la como se estivéssemos cuidando de nós mesmos, já que, afinal, é isso; por que, então, ela é reduzida ao atendimento dos interesses econômicos?

Essa problemática é trabalhada por Silvio Tendler no documentário “O Veneno Está Na Mesa”, dividido em duas partes e disponíveis na íntegra no YouTube. Ao longo do filme, vamos sendo apresentados ao mundo perverso do agronegócio, que com as suas grandes empresas e seu complexo agroindustrial, fatura toneladas de dinheiro, ao passo que despeja, literalmente, veneno na comida que chega às nossas mesas, causando diversos problemas de saúde, desde intoxicação, problemas respiratórios, doenças crônicas, câncer, até sendo causa de má formação fetal, aborto e infertilidade.

E os dados mostram que a grande parte dos alimentos que consumimos contém algum tipo de substância química que faz mal à saúde e, consequentemente, é gerador de doenças.

Dentre essas substâncias, algumas são proibidas, embora a grande parte seja liberada, o que torna algo extremamente difícil de ser controlado, uma vez que o próprio sistema legislativo/fiscalizador acaba por ser conivente com as arbitrariedades apresentadas.

O envenenamento que sofremos constantemente, seja ingerindo os alimentos, seja manipulando todas essas substâncias, é apenas um lado da moeda, que possui do outro, a poluição e destruição do meio ambiente, do solo, das florestas e de toda biodiversidade que sofre para que haja o erigimento de verdadeiros impérios do campo, já que a maior parte do mercado é controlado por pouquíssimas empresas, que criaram monopólios no que tange ao mercado de insumos agrícolas, “indispensáveis” para quem quer fazer agricultura.

Essa é uma questão mundial, mas, notadamente no Brasil, que é onde o documentário se específica, existe uma dificuldade enorme, até mesmo para o pequeno produtor, de trabalhar sem os venenos oferecidos pelas empresas que dominam o mercado. Há uma rigidez muito grande para que o produtor consiga financiamentos para a sua lavoura junto ao poder bancário. Para tanto, é necessário que a sua lavoura seja convencional, isto é, use no seu processo de produção todos os produtos do “kit câncer”: sementes, fertilizantes, adubos químicos e, é claro, inseticidas, próprios para combater pragas, ainda que a maior praga sejam eles mesmos.

Para o produtor que pretenda desenvolver uma produção orgânica, as portas se fecham, ou melhor, as cercas; deixando de receber qualquer tipo de incentivo (privado ou estatal) a fim de potencializar algo que pode (e deve) ser a saída para uma vida mais saudável para a natureza, o que, neste ponto, você já deve ter compreendido que também somos nós.

Contando com grande apoio do poder político, que muitas vezes tem suas campanhas financiadas pelo agronegócio, quando não, são parte deste, a cerca que separa o produtor da agricultura orgânica só faz aumentar. Até mesmo os órgãos e entidades que deveriam nos proteger desses males são alvo de pressões pela classe de política, a fim de que o agronegócio seja mantido livremente, com pouca regulamentação e fiscalização, gerando ainda mais lucros e ceifando vidas.

Obviamente, todos sabemos da importância da produção de commodities para o Estado brasileiro, sobretudo nesse período de crise. Entretanto, isso não significa que em nome de uma balança comercial e dos lucros exorbitantes de pouquíssimas pessoas, nós devamos ou sejamos obrigados a pagar o preço com a nossa própria saúde. Existem caminhos e saídas para esse problema, como também mostra o documentário.

A produção orgânica ou agroecologia não só é possível, como é capaz de alimentar a população de maneira saudável e econômica, fazendo cair por terra o mito de que ela é impagável para o povo, como faz pensar aqueles que lucram com a miséria. Todavia, para que isso ocorra é imprescindível que haja a diminuição das desigualdades sociais no campo e que o Estado seja capaz de estimular empreendimentos que visem à produção de alimentos como uma fonte de saúde e não somente como uma forma de “fazer dinheiro”.

Sendo assim, o pequeno produtor precisa ganhar espaço e ter as cercas que o separam de uma agriculta saudável retiradas, porque se hoje estima-se que 50% dos alimentos que chegam às mesas são provenientes dos pequenos produtores, que possuem apenas 20% das terras agricultáveis, o que poderia ser feito se eles possuíssem 50% das terras e incentivos na sua produção sem que tenham que se submeter aos interesses do esquema perverso do “agrobusiness”?

Pero Vaz de Caminha ao escrever para o rei de Portugal sobre as novas terras que avistava disse que aqui não havia ouro, nem prata, mas que se plantando, tudo dá. Passados mais de 500 anos, parece-me, que a afirmação de Caminha estava certa, embora o manancial natural não esteja sendo utilizado para nos conectar à verdadeira riqueza da nossa terra, mas antes, para conectar a riqueza da nossa terra aos sempre novos, insistentes e perversos “descobridores”.

Permita-se chorar em velórios, nunca em um relacionamento

Permita-se chorar em velórios, nunca em um relacionamento

Imagem de capa: Aba/shutterstock

Uma das melhores sensações da vida é envolver-se emocionalmente com alguém. E, talvez por essa razão, as pessoas estejam sempre buscando alguém disposto a isso.

O problema é que as pessoas definem o sentimento como o supra-sumo da vida e esquecem que ele está mais para uma comédia romântica do que para um amor de literatura.

Essa história de “amor é mágico” só serve para produções cinematográficas. Na vida real, o amor acontece de forma natural e se fortalece na resolução de problemas diários. Medir amor pelo número de viagens feitas, pelas declarações nas redes sociais e pelas fotos no Instagram é o mesmo que acreditar que irá ganhar na Loteria todos os dias.

O escritor Dale Carnegie, famoso por seus livros sobre relacionamentos sociais, escreveu: “uma das trágicas coisas que eu percebo na natureza humana é que todos nós tendemos a adiar o viver. Estamos todos sonhando com um mágico jardim de rosas no horizonte, ao invés de desfrutar das rosas que estão florescendo do lado de fora de nossas janelas hoje”.

Quando as pessoas fogem de relacionamentos comuns, com pessoas comuns, por achar que o amor não é rotina, entram em uma busca desenfreada por paixões avassaladoras e curtas, sofrendo consequências graves com o desgaste emocional.

Em relacionamentos comuns as pessoas esquecem a data de aniversário, não notam o corte de cabelo e esquecem de pagar a conta de luz .Nos relacionamentos cinematográficos as datas importantes são comemoradas em um helicóptero, o café da manhã vira propaganda de margarina e as viagens são dignas de capa da Forbes.

Relacionamentos comuns, envolvem pessoas comuns dispostas a fazerem o amor dar certo. Ponto! Toda história envolve uma discussão por problemas banais, uma dose de ciúmes e um pedido de desculpas antes de dormir. O que torna a relação insuportável, é fazer das diferenças a terceira guerra mundial.

É preciso entender que para uma história ir além do primeiro encontro, o casal precisa respeitar as diferenças e aceitar o outro como ele é e não projetar expectativas no parceiro e “emburrar” todas as vezes em que ele te frustrar.

E daí que ele esqueceu a data em que vocês se conheceram? Isso não quer dizer que ele a ame menos. É apenas uma data! E daí que ela não mostrou a roupa nova que comprou? É apenas uma roupa. Se você se estressa com pequenos detalhes, o melhor a fazer é ficar solteiro.

Quando não há equilíbrio emocional na relação não há como seguir em frente. Se sua história está mais para um drama mexicano do que um amor real, está na hora de parar e reavaliar essa relação. Saramago chegou a comparar o sofrimento à loucura: “o sofrimento em silêncio, causa uma doença silenciosa: a Insanidade Mental”.

Nenhum relacionamento que causa mais dor do que sorrisos é bom. Relacionamentos foram feitos para nos tornarmos pessoas melhores e para sermos mais felizes. Se há mais sofrimento que alegrias, é hora de fechar essa porta e seguir em frente.

Não tema o novo ou a solidão. Ambos são necessários para que você reconstruir sua autoestima e ter uma nova história de amor. Esvazie e limpe seu coração e siga seu caminho. Às vezes, a vida só está esperando o seu primeiro passo para te surpreender.

Estou aprendendo a não contar tudo o que sei e a não revelar tudo o que sinto

Estou aprendendo a não contar tudo o que sei e a não revelar tudo o que sinto

Não podemos negar a importância de ter alguém com quem possamos dividir nossos sentimentos mais íntimos, para que nossa carga se alivie e consigamos atravessar os problemas com apoio sincero. Porém, contar com a discrição do outro sempre será incerto, uma vez que as pessoas são imprevisíveis, muitas vezes no mau sentido. Desse modo, nunca estaremos livres de ver nossa confiança jogada fora por quem menos esperamos.

Compartilhar nossos medos é positivo, pois, muitas vezes, acabamos por dimensionar o que passamos de uma forma exagerada, visto estarmos bem no meio do redemoinho. Quando alguém nos ouve, de fora, é bem provável que a visão de quem não esteja carregado de emoção abrande os fatos, até mesmo trazendo soluções às nossas pendências. Isso nos ajuda muito.

Da mesma forma, nunca poderemos saber com clareza a reação das pessoas a quem resolvemos contar algo que sabemos. Difícil, nesse contexto, ponderarmos se vale ou não a pena revelarmos o que vimos ou ouvimos às pessoas, uma vez que as reações alheias podem nos trazer muitos problemas. Muitas pessoas preferem conviver com a mentira que conforta a ter que encarar a verdade que dói.

Quantos de nós não criamos inimizades ao contar para um amigo que ele foi traído, que disseram mentiras enquanto ele não estava presente, que ele precisa mudar algum comportamento desagradável? Infelizmente, até mesmo nossa sinceridade deve ser exercitada, porque nem todo mundo está pronto para ouvir o que não agrade, o que lhe abale a zona de conforto em que ilusoriamente se aninhou.

Por isso tudo, é preciso aprender a guardar algumas coisas somente para si mesmo. Muitas pessoas não estão querendo enxergar o óbvio, porque isso dói e requer mudanças bruscas, requer sair correndo de onde se está, requer uma coragem absurda. A verdade, portanto, não é para muitos, ou seja, compartilharmos com sabedoria e discernimento o que temos aqui dentro nos poupará de ver o nosso melhor usado da pior maneira.

Poucos serão aqueles com quem poderemos realmente contar, mas serão os poucos que trarão imensidão junto de nossa alma, fortalecendo o nosso coração e tornando-nos mais seguros na travessia das dores que virão.

Imagem de capa: Syda Productions/shutterstock

O futuro é incontrolável. Mas o dia de hoje está exatamente na palma da sua mão!

O futuro é incontrolável. Mas o dia de hoje está exatamente na palma da sua mão!

Confesso que sempre tive uma invejinha branca dessa gente precavida. Gente que faz previdência privada. Gente que faz lista de compras antes de ir ao supermercado – e segue a tal a risca, não compra sequer um item supérfluo. Gente que planeja viagem com dois anos de antecedência. Gente que compra terreno pra construir casa.

Essa gente que vive com um pé no futuro e outro no presente sempre foi um completo mistério para mim. Quando tento me ocupar do futuro arco com as consequências desastrosas de uma crise de ansiedade.

Eu não consigo nem decidir de véspera a roupa que vou usar no dia seguinte. Juro que já tentei! Mas isso exige de mim um exercício de projeção tão árduo que o “crime” acaba não compensando.

Ir ao futuro previamente me deixa exausta. É como se eu estivesse vivendo dentro de um daqueles filmes de ficção, em que a pessoa se desintegra em plena Revolução Francesa e desembarca numa nave espacial rumo a uma colônia de férias em Marte.

Minha alma é meio nostálgica. Curte dar uns pulinhos em histórias antigas, passadas, findas.

Vivo com saudades de alguma coisa, ou de alguém. Mas isso também me exaure. É a viagem inversa daquele filme de ficção.

O pior é que muitas vezes, numas viagens dessas a lugares de outras horas, eu fico apegada às vidas que já vivi e que não me servem mais. Fico sem vontade de voltar.

E não foi assim “de estalo” ou sem querer, que acabei aprendendo que a gente não tem nenhum controle sobre o amanhã. Muito menos, temos poderes para alterar o que já ficou pra trás.

Aprendi a olhar pro dia de hoje como um daqueles presentes caprichados pra despertar alegria na gente. Aqueles presentes caprichosamente arrumados numa caixinha linda, colocada dentro de outra caixa igualmente bela, acomodada dentro de outra maior e bonita de tirar o fôlego… E, tudo isso dentro de um daqueles papéis de celofane… brilhantes, difusos, musicais ao toque.

E se for mesmo um daqueles dias de sorte, todo o presente virá envolto em muitos metros de plástico bolha!

O futuro é incontrolável. Mas o dia de hoje está exatamente na palma da sua mão. Olhe para ele com os olhos ávidos de uma criança e com a alma tranquila de um monge tibetano. Ambos, a criança e o monge têm uma sabedoria que vale por tudo: a vida é pra ser saboreada, não para nos fazer engasgar!

Imagem de capa meramente ilustrativa: cena do filme “Ponte para Terabítia”

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