Ninguém é obrigado a gostar de ninguém, mas respeito é fundamental

Ninguém é obrigado a gostar de ninguém, mas respeito é fundamental

Parece que o mundo anda se esquecendo de uma regra básica da convivência em sociedade: o respeito. Não dá para manter um mínimo de harmonia em qualquer ambiente, caso não se respeitem as diferenças de credo, de religião, de opinião, de tudo enfim. Não conseguiremos gostar de todo mundo nessa vida, mas respeitar o espaço do outro é uma obrigação de todos nós.

Basta dar uma zanzada pelos comentários que inundam posts polêmicos pelas redes sociais, para percebermos que as diferenças vêm sendo rechaçadas e menosprezadas, por meio de ofensas e de agressões explícitas. Tem muita gente que não tolera ser contrariado, ser discordado, como se sua opinião tivesse que prevalecer sobre as demais, de qualquer jeito. E assim vão condenando todos que apenas expõem um ponto de vista, simplesmente porque pensam o oposto e agem de forma antagônica ao que os donos da verdade postulam como o mais adequado e correto.

O pior é notar que grande parte dessa verborragia violenta que muitos utilizam contra opiniões diversas não contem um mínimo de estofo argumentativo, visto serem vazias de embasamento coerente, sendo tão somente ofensas isentas de base que não seja xingamento raso. Lotam-se as redes sociais de lugares comuns, de juízos de valor, cujo mote vem a ser um preconceito cego e infantil. Soam a brigas de pré-adolescentes, cujo vocabulário é sofrível e ínfimo.

Poucos parecem ter consciência de que a felicidade de cada um é algo no qual não se intromete. Caso a pessoa esteja buscando a felicidade sem machucar ninguém nesse percurso, é preciso deixá-la em paz e seguir com a própria vida. Tem muita gente desocupada nesse mundo, não é possível; não há outra razão para que tantos se sintam incomodados com quem não cuida da vida de ninguém, com quem apenas vive as próprias verdades da forma que bem entende. Não há motivo para alguém se incomodar com a forma como o outro se veste, com a maneira como o outro ama, com o partido com o qual o outro se afina.

Se cada um buscasse a própria felicidade e estivesse bem resolvido e certo das próprias convicções, a tolerância seria uma consequência natural, pois quem é feliz e se ocupa com si mesmo não tem tempo de azucrinar os outros. Não gostaremos de todas as pessoas, tampouco concordaremos com todas as opiniões, porém, respeitar o próximo será sempre nosso dever. Ou isso, ou esse ciclo de violência e de agressões gratuitas jamais terá fim.

Desculpe decepcionar, mas, no amor, não existe a lei da compensação

Desculpe decepcionar, mas, no amor, não existe a lei da compensação

Imagem de capa:  PanovA/shutterstock

Ele te trai, mas é um bom pai. Ela é fútil, mas é bonita. Ele é grosso, mas te assume como namorada. E, acreditando nessas qualidades ilusórias, você continua nesse relacionamento destrutivo e comprometedor, porque afinal, o que importa é estar em um “relacionamento sério”.

Para realmente ser livre, é preciso entender que, na vida sentimental, não existe a lei da compensação: a pessoa pode ser sensacional, ter as qualidades (aparentes) mais incríveis do mundo e as famílias torcerem mais do que final de Copa do Mundo, mas se não rolar admiração, desejo e sentimento, esqueça. O relacionamento jamais dará certo.

A reciprocidade é a base de todo relacionamento. Fato! Sem ela nada flui. A pessoa pode ser incrível, fazer todas as suas vontades e te amar incondicionalmente, mas se você não sentir a mesma coisa, a probabilidade do sentimento morrer é de cem por cento. Lembro de Dom Quixote relatando a seu fiel companheiro, Sancho Pança, o que era um amor recíproco: “quando você realmente amar alguém e for recíproco, você vai ver como é bom amar. Pra amar não precisa namorar, e bla bla bla, mais o namoro é a melhor forma de expressar o sentimento, quando você sentir suas pernas tremerem, sua barriga gelar, teu corpo ficar mole, aí sim você vai entender a magia de amar”.

Amor não é sentimento de troca. Não funciona assim “eu entro com o sentimento e você com a reciprocidade”. Ou ele nasce naturalmente ou morre mais rápido do que um piscar de olhos. Muitas vezes, somos amados, mas não amamos. E isso é normal. Entenda que você tem o direito de não amar, mas tem a obrigação de deixar isso claro. Pode doer, machucar, magoar, mas passa. O que não dá para é ficar em um relacionamento só porque o outro é considerado bom moço.

Que mulher nunca se envolveu com um cara “fofo”, que fazia tudo por ela, mas que não fazia o coração bater? Que cara nunca namorou uma princesa, que tinha todas as qualidades que sua mãe sonhava, mas que nem saudades despertava? O amor é uma mistura de desejos, vontades e conquistas e, para que tudo isso se concretize, precisa de sentimentos reais. Como diz Arnaldo Jabor: “ninguém ama outra pessoa pelas qualidades que ela tem, caso contrário os honestos, simpáticos e não fumantes teriam uma fila de pretendentes batendo a porta.”

Ele pode ser um bom pai, mas continua sendo um péssimo marido. Ela pode ser uma boa profissional, mas continua sendo uma péssima amiga. Ele pode ser u bom filho, mas continua sendo um péssimo namorado. Acredite, a lei da compensação, não existe!

Não se culpe por não amar o cara bacana do trabalho ou a garota dos sonhos da sua família. Até porque, as pessoas que amamos fogem às regras. São as que possuem a mesma liberdade que temos. Que buscam a mesma evolução profissional, espiritual e intelectual. São aquelas que caminham conosco, que não controlam os passos, nem medem os esforços. São aquelas que não usam “eu te amo” como bom dia, mas que despertam o melhor que podemos ser e sentir, dia a dia.

Como dizia Rubem Alves: “mais fundamental que o amor é a liberdade! A liberdade é o alimento do amor! O amor é pássaro que não vive em gaiola! Basta engaiolá-lo para que ele morra! Ter ciúme é reconhecer a liberdade do amor! O desejo de liberdade é mais forte que a paixão! Pássaro eu não amaria quem me cortasse as asas! Barco eu não amaria quem me amarrasse no cais!”

Não desminta o que você disse, nem negue o que você fez

Não desminta o que você disse, nem negue o que você fez

Imagem de capa: Khomenko Maryna/shutterstock

Um dos piores comportamentos que poderemos ter será o de não sustentar o que falamos ou fizemos, mentindo, dissimulando, tratando os outros como joguetes que servem aos nossos propósitos, passando por cima da verdade, por medo, covardia ou ausência de caráter mesmo.

As pessoas entendem o mundo à sua própria maneira, de acordo com o que carregam dentro de si, conforme aquilo que vêm se tornando, em consequência dos lugares e das experiências por que passa. É por isso que surgem os desentendimentos entre os indivíduos, uma vez que cada um interpreta o que nele chega, em conformidade com o que sente, digerindo as palavras à sua própria maneira.

Inevitavelmente, em alguns momentos de nossas vidas, alguém entenderá o que dissermos ou fizermos de uma maneira completamente oposta à nossa real intenção. Alguém ficará chateado conosco, ressentido, muitas vezes tomando para si o que nem era a ele dirigido. Da mesma forma, poderá achar que não simpatizamos com ele, quando, na verdade, achamos o contrário, ou mesmo nem nos lembramos de que ele existe.

Isso porque certas pessoas sentem-se sempre perseguidas, como se o mundo agisse pensando nelas, carregando, dentro de si, uma mania de perseguição tamanha, que jamais conseguirão entender que o mundo gira com ou sem elas. É como se tudo o que falassem servisse como indiretas a elas, como se todos se comportassem de determinada forma por causa delas. Mal sabem que ninguém fica pensando no outro o tempo todo enquanto se vive.

Sim, seremos mal entendidos, mal interpretados, ou mesmo veremos nossas falas sendo usadas contra nós de forma descontextualizada por gente ruim e mal intencionada. Cabe-nos manter a firmeza de nossas convicções, pautando nossas ações pelas verdades que nos sustentam, sendo transparentes e sinceros aonde formos, com quem estivermos. Não poderemos é desmentir o que falamos, negar o que fizemos, culpar o outro daquilo que veio de nós, para fugir ao enfrentamento de nossas escolhas.

Um dos piores comportamentos que poderemos ter será o de não sustentar o que falamos ou fizemos, mentindo, dissimulando, tratando os outros como joguetes que servem aos nossos propósitos, passando por cima da verdade, por medo, covardia ou ausência de caráter mesmo. Afinal, sempre será melhor amargarmos as dores advindas de nossa luta para sermos quem realmente somos do que termos que decepcionar quem mais amamos, quando eles descobrirem as mentiras por trás de nossas máscaras.

Um texto para não ser amado

Um texto para não ser amado

Imagem de capa: Khomenko Maryna/shutterstock

Sem coerência, sem coesão, sem conclusão. Uma lista para não instruir.
Atenção: este conteúdo é impróprio para pessoas intolerantes à ironia e ao sarcasmo, pode causar convulsões de riso, desespero, náuseas, revolta, impotência e incontinência de agressividade ao autor.

1. O mundo anda muito confuso, mas não sei se algum dia não foi. Não há esperança no passado, não há esperança no futuro. Não há pessimismo ou otimismo. Predomina a perplexidade de não ter direção.

2. O mundo anda confuso. Os conceitos foram roubados. Não encontraram o ladrão. Tiraram dos ricos para distribuir aos pobres – de espírito – inviabilizaram ainda mais a comunicação.

3. Não sabemos mais o significado de nada, não fazemos sentido. Capitalismo virou termo para se referir a qualquer troca comercial. Socialismo virou sinônimo de qualquer tipo de empatia ou programa social.

4. Todo “mal comportamento” é psicopatia. Os DSMs ou CIDs poderiam ser queimados, não fossem pelas neuroses nossas de cada dia e seus respectivos psicofármacos. A psicanálise perdeu o glamour. Todos estamos doentes de emoções que não cabem na rotina do comer, dormir, trabalhar, produzir, morrer com resignação.

5. Toda tristeza virou depressão. Ter mais de uma emoção tornou-se bipolaridade. Ter patologias virou motivo de orgulho, como um troféu, mas também de reclamação e solução em pílulas. Os mesmos dependentes criticam todas as outras “toxinas”, inclusive as “naturais”. Não estou falando de maconha. Estou falando de coisas como glúten, lactose, carboidrato, ocitocina…

6. Incita-se ao budismo como incita-se à agressão. Tudo é relativo, mas as verdades são absolutas. Temos alternativas, mas não temos escolha.

7. Muitos desejam que um meteoro destrua a humanidade. Eles fazem parte da humanidade. Somos todos mais ou menos suicidas e homicidas. Mas, não por isso.

8. Temos meio de comunicação, mas não alcançamos ninguém. Informação há sobre o mundo inteiro, mas quem se lembra do que aconteceu ontem?

9. Lemos mais do que já se leu em todos os tempos, nossas referências são duvidosas. Temos problemas de interpretação como nunca.

10. É importante ser trabalhador e estudioso, mas na prática o trabalhador não é bem-vindo aos lugares “privilegiados” com o seu suor e suas roupas encardidas, os estudiosos são parasitas que vivem do dinheiro dos cidadãos de bem. Os cidadãos de bem não são trabalhadores nem estudiosos. Quem são?

11. É preciso estar sempre muito bem informado e embasado para opinar em uma discussão, com alguém muito mal informado e sem embasamento.

12. Dizem valorizar a experiência de vida mais do que aos bens materiais, mas também dizem que é preciso ter um carro do ano, uma casa na zona sul e alguma celebridade para ter experiência de vida.

13. Professores são formadores de opiniões e essenciais para educação, mas querer ter autonomia e receber tão bem quanto um juiz já é demais.

14. Os políticos não prestam, os apolíticos também não. Esquerda e direita são as únicas opções. Ninguém sabe mais o que é direita ou esquerda. Depende da conveniência do discurso. Ou talvez seja apenas a mão que se escreve, os lados da rua, uma direção no GPS.

15. Trabalhamos para viver, vivemos para trabalhar. Mentira. Trabalho e emprego não são a mesma coisa, mas se você não contar para ninguém, podemos só continuar repetindo isso.

16. Então tá, nos ocupamos de atividades remuneradas para viver quando aposentarmos e tivermos tempo para isso. Mas não há mais muita perspectiva para aposentadoria. Essa é a nova utopia.

17. Não temos mais utopia, mas queremos um mundo melhor. Não sabemos como. Só postamos. Não adianta só fazer a própria parte. Mas não damos conta de mudar o mundo. Para isso é preciso estar na “política”. Chegando lá, o que será que será? “O que não tem governo, nem nunca terá. O que não tem vergonha, nem nunca terá. O que não tem juízo”.

18. Fala-se de revolução, posta-se sobre revolução, revolucionários batendo “com a bunda no chão”. O subversivo virou opressão. Caretas não passarão. Tem que ir pra rua, nem que seja só pra tomar catuaba.

19. A hipocrisia é do outro, a maldade é do outro, “o inferno são os outros”, já dizia aquele cara, acho que era Nietzsche*.

20. Todo ato de coragem, toda rebeldia, todo questionamento, toda “revolução”, poderá ser legitimamente transformada em objeto de consumo. Você pode se isolar ou aproveitar a festa. Sua imagem não te pertence mais. Sua dignidade também não, é só ilusão.

21. Debater é importante, mas só com quem tem a mesma opinião. Do contrário, fica-se apenas com o “bater”.

22. O público é privado, o privado é público, a privada foi pro museu, porque questionava o museu, ninguém entendeu, todo mundo louvou. Agora arte é coisa de vagabundo. Não queremos nada menos do que a Mona Lisa reinventada.

23. Todo mundo é generalização, mas só para quem discorda. Só que não dá para escrever um texto de algumas centenas de palavras explicando tim-tim-por-tim-tim. Melhor escrever coisas para concordarem. Melhor escrever coisas para não concordarem e gerar polêmica. Melhor não escrever.

24. É preciso estudar para ser alguém na vida. Desemprego, subemprego, sensação de inutilidade diante de tudo o que aprendeu. Melhor ter contatos. Sem “recursos” prévios – materiais e/ou humanos -, seu diploma de papel reciclado não cola nem de enfeite.

25. Temos tecnologias de última geração e capital humano bruto. Bruto demais para comparar com os séculos 18, 19, 20… Meu Deus! Sou ateu, mas não está fácil para ninguém… Até porque “o papa é pop”, minha pampa é pobre e “eu me sinto um estrangeiro”.

26. Não se precisa de dinheiro para ser feliz. Tente limpar a bunda sem ter dinheiro. Uma bunda limpa é requisito mínimo para ser feliz, acredite.

27. Quase me esqueço da possibilidade de celebrar a natureza, levando até ela os gases dos veículos, os lixos urbanos (ou não), nossas fezes contaminadas. Tudo acompanhado de muitas fotos e citações. E como ando mal de memória, tudo isso também tem custos. A propósito, tente ser um morador de rua buscando paraísos naturais, encontrará infernos fiscais. Toda fronteira tem seus coiotes, raposas, javalis e leões.

28. O mito do eleito permanece, todos querem ser eleitos e realizarem o seu sonho, todos acham que com ele é diferente e é só lutar. Mas não têm nenhum plano e não querem fazer nenhum sacrifício. Passam mais tempo reclamando do que não conseguiram do que tentando realizar o tal empreendimento. Dizem que o que importa é realização pessoal, mas não ter reconhecimento é foda…

29. O mundo anda confuso, todos querem um amor para chamar de seu, que o aceite como é, mas que mude por ele.

30. O mundo anda confuso, e eu não tenho uma conclusão. Tenho medo de andar na rua, mas sou mais livre do que nunca, porque posso dizer/escrever/cuspir tudo isso e ter cabelo azul.

31. Mas, pensando bem, a internet é o lugar do ódio e da agressão, é o lugar da exposição e do anonimato, é o lugar da solidariedade e da empatia. É o lugar que nos falta no dia-a-dia.

32. A vida continua sem coerência, sem coesão, sem conclusão. Não vale a pena concluir, pois começaria tudo de novo. Por favor, continue… um dia, vamos rir de tudo isso.

*Sim, eu sei que foi Sartre.

Não more sozinho numa história de amor. – Zack Magiezi

Não more sozinho numa história de amor. – Zack Magiezi

Imagem de capa: Ollyy/shutterstock

Quanta insistência em quem insiste em partir, hein? Esse coração aí está gritando por um nome que não merece o seu cuidado e o seu amor.

Acredite: transformar isso em raiva também não irá ajudar em nada. O contrário do amor não é o ódio, mas sim a indiferença. Talvez seja por isso que esse alguém tenha sido tão indiferente, não é mesmo?

Eu sei que você jura e acredita que isso é amor e eu não estou aqui para desconstruir o que você sente, mas para fazê-lo pensar o quanto amor é pra dois e não apenas para um. Eu estou aqui para tentar abrir os seus olhos e dizer, num papo de amigo mesmo, o quanto você merece mais do que as desculpas que tem recebido.

Porque se contentar com mensagens esporádicas? Com quem insiste em pedir um tempo e diz não saber o que quer? Deixa ir. Não alicerce seus sonhos ou teça planos ao lado de quem não quer caminhar junto com você.

Dói, eu sei, sentir que estamos fazendo de todo o possível, que estamos lutando para ser a nossa melhor versão e sentir que isso não é suficiente. Dói não entender os porquês e os motivos para não ficar, quando a gente tem todos os motivos para não ir.

O problema não é você, não é o amor e muito menos o cupido. O problema é você ainda insistir em algo que não é amor. Continuar se machucando e acreditando que pode ser diferente e que talvez esse alguém mude de ideia sobre vocês.

Então, faça um favor a você: ame-se e deixe ir quem não o ama. Não insista nessa ferida que só machuca e nada acalenta, que só esmaga as suas esperanças e crenças sobre o amor.

O amor é uma via de mão dupla, o amor é reciprocidade, não permaneça onde o esforço e os cuidados partem apenas de um lado – o seu –; vá trilhar outros caminhos, recomece e escreva outra história em que o verbo amar seja conjugado em nós, e não apenas no eu.

Faça um favor a si mesmo: não peça, não implore nem rasteje para alguém permanecer em sua vida; você merece alguém que fique sem precisar pedir, que não minta ou engane. Você merece alguém que o ame. Então, não more sozinho numa história de amor, porque isso é solitário demais.

Tem gente que faz um bem danado as nossas vidas, ficando fora dela

Tem gente que faz um bem danado as nossas vidas, ficando fora dela

Imagem de capa: Liukov/shutterstock

Parte-se do princípio de que, quando alguém some, é por do medo, insegurança ou indecisão. Quando na verdade, essas teorias são apenas desculpas de quem não quer assumir uma relação e pretendem fazer do outro refém das suas atitudes egoístas.

Sejamos realistas: quem, realmente quer, dá um jeito. Quem não quer, arruma desculpa. Quando alguém desaparece no meio já está deixando claro sua intenção de não continuar a história e os motivos pouco importam.

Pode ser que tenha percebido que o outro não era aquilo que se imaginava; ou que não houve a química esperada ou, até, que o encanto tenha acabado, o fato é que “sumir” além de deixar claro que o outro não se importa é uma tremenda falta de respeito.

Nem sempre nossas escolhas são certas. Nem sempre a química rola, o santo bate e o amor é recíproco. Mas, o mínimo que se poder fazer, é dizer adeus e fechar a porta. É tão bonito quando alguém diz que não nos ama mais, que joga limpo apesar da situação desconfortante, que fala a verdade mesmo que doa. Feio é desaparecer e achar que o outro ficará em stand by esperando sua volta.

Acontece (quase) sempre assim: Vocês estão juntos e, do nada, o outro desaparece. Some mesmo. Das redes sociais aos telefonemas. Você, sentimental que só, entra em ciclo de culpa e questionamentos tentando entender o que o levou a fazer isso. Quer a verdade? Você deveria é estar feliz! Relacionamentos com pessoas inconstantes são um saco!

Você programa jantar com a família, ele nunca vai. Você quer relacionamento sério, mas ela não esqueceu o ex. Confia um segredo ao seu “melhor” amigo e ele usa o mesmo como piada no churrasco de sábado. Por favor, né? Entenda que há pessoas incríveis e que merecem nossos sentimentos, enquanto outros fazem um bem danado saindo de nossas vidas.

O grande Oscar Wilde dizia que “algumas pessoas levam felicidade onde quer que vão; outras, a deixam quando vão embora”. E é bem assim que acontece.

Ser abandonado por um amor, traído por um amigo e confiar em quem não deveria não são exclusividades suas. Todos nós, em algum momento da vida, tivemos decepções com quem não esperávamos. Sofremos, sentimos raiva e, depois de algum tempo vimos que, essas pessoas, nunca nos fizeram mal, pelo contrário, fizeram um bem danado ao saírem das nossas vidas.

Quando alguém desaparece, temos a tendência de questionar os motivos e sofrer pelas probabilidades, quando na verdade deveríamos é comemorar, já que a vida deu um jeito de tirar das nossas vidas, quem nunca deveria ter entrado.

Não entre na neura de achar que as pessoas estão fugindo de você. Elas estão fugindo é delas. Fugindo da chance de serem felizes, de terem alguém bacana do lado, de terem um companheiro de vida. Fuga é autoflagelação da alma.

Sou a favor da premissa que devemos ser objetivos e claros em tudo. Nessa linha acredito que desparecer é uma forma cruel de dizer “não”. É querer liberdade, deixando o outro em prisão. É ser egoísta a ponto de não se importar com a dor do outro. É brincar com o sentimento de quem respeita você. Sumir é covardia.

Compartilho da ideia de Aristóteles quando afirmava que “o homem que evita e teme a tudo, não enfrenta coisa alguma, torna-se um covarde.”

Quer um conselho? Deixe ir. Você não merece metades, incertezas, indecisões. Pare de querer ter em sua vida quem insiste em sair. Se o outro não teve a maturidade em despedir ao sair, tenha você em não aceitar as desculpas quando ele resolver voltar.

Afastar-se de gente chata rejuvenesce mais do que botox

Afastar-se de gente chata rejuvenesce mais do que botox

A cada dia que passa, mais aumenta a quantidade de pessoas que se prestam a desequilibrar qualquer ambiente em que adentram, seja no trabalho, nos pontos de encontros, seja pela internet. Infelizmente, para muitos, as redes sociais deram a liberdade de azucrinar a vida alheia, polemizando tópicos de qualquer tipo, intrometendo-se nas postagens dos outros, de maneira agressiva, na maioria das vezes.

É comum misturarem o que é individual com o que não deveria sê-lo, uma vez que, com frequência, algumas pessoas até atrelam questões de ordem pessoal a debates coletivos, tentando elevar ao nível filosófico problemas emocionais, baseados tão somente em juízos de valor. Nesse contexto, muitos culpam o mundo, por exemplo, por problemas que deveriam ser resolvidos junto a profissionais da psicologia. Da mesma forma, não raro se descontextualizam frases alheias, para, então, rotulá-las como impróprias, desvirtuando a real origem do que foi dito.

Logicamente, há que se combater qualquer forma de intolerância com as minorias, com os excluídos, com quem pensa e age na contramão dos ditames sociais. Há que se respeitar quem quer que seja, enquanto cidadão, pessoa, enquanto alguém que sente e tem o direito de viver suas verdades, caso não esteja ferindo ninguém por aí. E existe legislação que nos ampare nesse sentido. Mesmo assim, é necessário ponderar antes de acusar o outro de qualquer coisa, ou corre-se o risco de se instalar um ambiente de terror, em que ninguém mais abra a boca, por medo de ser mal interpretado.

Pior é quem polemiza qualquer questão, mesmo que não entenda minimamente sobre o assunto abordado, ou seja, tem gente que gosta de azucrinar, de perturbar as pessoas, sabe-se lá por que motivo. Quantos de nós não nos surpreendemos com um comentário agressivo e acusatório em uma postagem que fizemos apenas como higiene mental? Quantos de nós não ouvimos uma resposta agressiva de alguém a quem fizemos um questionamento simples e totalmente cordial? Quem nunca?

Não, de nada adiantará tentarmos argumentar com esse tipo de pessoa, pois jamais conseguiremos descer ao nível baixo com que costumam se dirigir aos outros. Como sempre, valerá a pena afastar-se de quem não se ajuda, tampouco quer ser ajudado, por mais que se tente. O mundo já anda tão difícil e nós mesmos possuímos tantas questões pendentes com que lidar: para que envelhecer e ganhar cabelos brancos por conta de gente chata? Vamos cuidar da saúde física e da sanidade mental, junto a quem agrega amor, verdade e serenidade. Nem mais.

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Abusos psicológicos muitas vezes começam com uma “brincadeira inocente”

Abusos psicológicos muitas vezes começam com uma “brincadeira inocente”

Pessoas aparentemente boas podem ser cruéis; adolescentes aparentemente frágeis podem ser cruéis; crianças aparentemente inofensivas podem ser cruéis. É tudo uma questão circunstancial.

O ser humano tem em sua essência uma natureza agressiva e belicosa. Somos uma mistura complexa de ações e reações que vão nos constituindo ao longo da vida, enquanto seres sociais. Somos reativos 99% do tempo. A maneira que encontramos de nos relacionar com os nossos familiares, amigos, amores e conhecidos não é acidental, é uma construção, delicada e perigosamente inflamável, a depender dos anteparos emocionais que tivermos recebido enquanto nossa personalidade estava sendo moldada.

A formação do caráter de cada um de nós tem inúmeras tonalidades e nuances, advindas das incontáveis conexões que vão se estabelecendo entre nós e os outros. Ainda antes de conhecer a luz desse mundo, estamos suscetíveis ao ambiente afetivo no qual iremos nascer. As emoções maternas nos afetam diretamente, posto que passamos cerca de quarenta semanas a partilhar com essa pessoa o mesmo corpo físico. O que ela come nos afeta; o que ela pensa nos afeta; o que ela sente nos afeta.

Ao nascer, sofremos uma abrupta ruptura orgânica de laços de sangue e de afeto. Sermos alimentados ao seio da mãe é uma forma de aliviar esse corte e nos ajudar a ir formando outras redes de relação: somos nutridos física e amorosamente.

No entanto, há inúmeras outras formas de sermos acolhidos, além da amamentação. O contato com a mãe é nossa primeira referência de troca emocional. Bebês que passam por situações de rejeição têm muito mais probabilidades de desenvolver transtornos afetivos e cognitivos.

Os relacionamentos estabelecidos no núcleo familiar são os responsáveis pela nossa formação nuclear afetiva. Esse é o nosso esqueleto emocional, uma estrutura tão organizada quanto o nosso esqueleto ósseo; o que nos manterá de pé ou nos ajudará a encontrar novas posturas, conforme tivermos de nos adaptar às infinitas transformações que nos encontrarão no decorrer do processo de amadurecimento.

Ainda muito pequenos, quando começamos a interagir com outros pequenos, a maneira de nos comunicarmos será uma espécie de imagem holográfica criada a partir de nossas relações familiares. Reproduziremos no contato externo as aprendizagens relacionais que constituem nosso interior. É por isso que observamos crianças mais ou menos disponíveis para o afeto; mais ou menos confortáveis com a troca de experiências; mais ou menos arredias, permissivas ou agressivas no contato com o outro.

Uma vez inseridos em novos meios sociais, vamos nos misturando aos demais. Aprendemos – uns mais, outros menos -, a interpretar linguagens explícitas e não explícitas. Reconhecemos ambientes amigáveis ou não. Avaliamos nossas habilidades sociais, por meio de experiências de acolhimento e rejeição. Vamos criando espaços de contato e cascas de proteção. E no início, tudo isso pode ser muito assustador, dada a nossa pouca experiência de interpretação e assimilação das intrincadas redes de relacionamentos a que estamos expostos por toda a vida.

Já um pouquinho maiores, passamos a revelar de forma mais explícita nossa natureza. O mundo vai lendo nossas reações e ações espontâneas e passa nos definir a partir de sua leitura particular. Ainda que não tenhamos conhecimento pleno disso, as pessoas à nossa volta nos imaginam e classificam, de acordo com seu próprio crivo emocional, cultural e cognitivo. Exatamente da mesma forma que nós próprios fazemos em relação ao outro.

Ocorre que alguns de nós somos mais vulneráveis a esses rótulos, que tanto podem ser do tipo transitório, quanto do tipo “cola definitiva”. Pessoas mais sensíveis, dotadas de estruturas menos preparadas para lidar com as agressões – sejam elas veladas ou não -, representam alvos fáceis demais para aqueles que se desenvolveram afetivamente acreditando que precisam subjugar, diminuir ou destruir o outro para ter uma experiência sócio afetiva gratificante.

Abusos psicológicos muitas vezes começam com uma “brincadeira inocente”. Comentários maldosos feitos “de brincadeira” podem expor de forma negativa aqueles que não adquiriram a malícia necessária para localizar no outro o desejo de ferir. Apelidos depreciativos podem afetar terrivelmente a autoimagem e a estima daqueles que cresceram sem recursos para bloquear os que vivem de invadir o espaço afetivo alheio para se auto afirmar. Isolamentos propositais, podem levar os mais vulneráveis a situações dolorosíssimas de solidão.

As crianças e os adolescentes, muito mais que os adultos, estão sujeitas a situações de abuso psicológico. Tanto a criança quanto o jovem podem estar em situação de risco, uma vez que lidam com o paradoxo entre aquilo que constitui a sua essência familiar e o apelo do grupo. É nesse momento que as redes afetivas construídas e desenvolvidas dentro da família fazem toda a diferença.

Famílias com boas estruturas afetivas têm mais recursos para identificar alterações de comportamento em suas crianças e adolescentes, alterações essas que podem indicar a ocorrência de abusos psicológicos. O apoio emocional é algo que se oferece naturalmente; nada têm a ver com regras rígidas ou superproteção. É preciso olhar atento, escuta ativa e disponibilidade afetiva para ver além do óbvio, para enxergar o comportamento do jovem e da criança além do que é senso comum: “criança inventa coisas” ou “adolescentes são instáveis assim mesmo”.

Muitas famílias deixam passar oportunidades únicas de oferecer aos menores um ambiente propício ao desenvolvimento das habilidades necessárias para interagir com o mundo e as outras pessoas. Se uma criança ou jovem anda mais quieto que o habitual; mais agitado que o habitual; com alterações de humor, sono ou apetite; protagonizando explosões de agressividade ou choro excessivo; evitando o contato com as pessoas mais próximas e buscando isolamento… há que se acender um sinal de alerta.

O melhor que se pode fazer em relação àqueles de nós que se encontram em formação é oferecer-lhes atenção genuína, amor, confiança e confiabilidade. É preciso acreditar numa evidente verdade: eles têm muito o que e sobre o que dizer! É indispensável que sejamos capazes de ouvi-los, sem julgar… ouvi-los apenas. Ajudá-los a fazer sua própria leitura da vida, garantir a eles que estejam em um lugar afetivo seguro dentro de suas próprias casas. É preciso deixar que eles falem em voz alta as dores que gritam em silêncio em suas almas em formação. E é preciso que se faça isso imediatamente, antes que não haja mais nada a ser feito.

Amores podem ser abusados, mas nunca devem ser abusivos

Amores podem ser abusados, mas nunca devem ser abusivos

Imagem de capa: Kseniya Ivanova, Shutterstock

Veja bem, o amor é bonito quando não é contido. Quando, na maior parte das vezes, concorda em ultrapassar o comum e o mais do mesmo para ser gigante, cúmplice e carinhoso. Mas isso tudo é diferente do amor pregado aos extremos. Daquele que torna-se abusivo – seja por ultimatos ou por outras formas de controle que tentam escravizar o coração a ter um único dono, o tempo inteiro.

Submeter sentimentos nas mãos de alguém é um indicativo de falsa liberdade. É preciso paciência e cuidado na hora de se entregar num relacionamento. Conhecer quem está do seu lado requer, principalmente, disponibilidade. Para conversar, para aproveitar os românticos entrelaces e compartilhar pensamentos e valores. Porque intimidade não surge somente entre beijos. Assim como o respeito, que também necessita brotar do mútuo.

Em quantas oportunidades, atitudes abusivas não fingiram, retrucaram e tomaram o lugar de uma singela preocupação? Começa assim, com a desculpa esfarrapada de estar “apenas preocupado” e “cuidando de você”. Até que um dia, preocupações se transformam em ultimatos. Ah, os ultimatos. Ultimatos são venenosos para o amor. No começo, você nem sente. Mas depois? Depois percebe que invadiu, sem pedir licença, o amor próprio.

Amores podem ser abusados, mas nunca devem ser abusivos. Porque o amor é a sensação de paz no agora. É a confiança e a vontade gostosa de percorrer instantes ao lado de quem se ama, mesmo sabendo que existe local e momento para acontecer. Porque o amor entende que para ser dois, faz muito bem ser um de vez em quando. Amor abusado é inteiro e em concordância emocional. Amor abusivo, antes de mais nada, nunca foi amor.

A beleza subjetiva do filme “O Piano” de acordo com a mitologia

A beleza subjetiva do filme “O Piano” de acordo com a mitologia

É de Joseph Campbell uma das definições mais belas de mitologia. Para ele a mitologia é a canção do universo, música que nós dançamos mesmo quando não somos capazes de reconhecer a melodia.

A mitologia se expressa através dos mitos e como mitos podemos descrever aquilo que os seres humanos têm em comum, histórias da nossa busca pela verdade, sentido e significação, através dos tempos. São metáforas que falam da alma humana.

E mesmo que nós não estejamos tão ligados ao que trata a mitologia e seus símbolos, eles nos chegam de várias maneiras. A arte, por exemplo, é uma ótima forma de dedilhar a mitologia e sua significação e o cinema não foge a essa regra.

Muitos filmes têm retratado a Grécia de forma categórica atualmente, mas existem outros, a meu ver mais interessantes, que tratam da mitologia de forma mais velada. E não importa se a mitologia fala de deuses e deusas ou de aspectos que lembram um outro tempo. As vivências humanas parecem seguir padrões comuns no decorrer dos séculos.

Vou falar a seguir um pouquinho sobre um dos filmes mais emblemáticos da década de 90, um filme muito interessante e subjetivo que utiliza aspectos mitológicos em sua concepção: O Piano.

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O piano de Ada é deixado na praia por seu marido.

O Piano – de Jane Campion – 1993

O filme O Piano, se passa em 1850 e narra da história de uma mulher, Ada, que vai para Nova Zelândia a fim de concretizar um casamento arranjado pelo pai. Ada não fala desde os 06 anos de idade e ninguém sabe a razão disso. No entanto, ela se expressa ao mundo através de seu piano e também de sua filha pequena que, por vezes, faz no filme o papel de alter ego de Ada.

O Piano é um dos filmes mais delicados e profundos que já assisti. Se Carl Gustav Jung estivesse vivo, esse filme o encantaria por certo, pois Ada e o piano se ligam lindamente em uma simbiose que remete diretamente ao inconsciente.

No que diz respeito à mitologia grega, Ada se assemelha à figura de Perséfone, uma deusa dividida entre o mundo da luz e o da escuridão. O mito diz que ao se debruçar para colher um narciso, Perséfone, que nesse momento em sua pureza se chamava Coré, foi sequestrada por Hades, o deus do mundo inferior e levada para o subterrâneo. Muito triste a mãe de Perséfone, Deméter, conseguiu fazer com que a filha passasse alguns meses ao lado dela e outros incontestavelmente ao lado de Hades. Isso porque, de acordo com o mito, Perséfone alimentou-se no subterrâneo com sementes de romã e isso a ligou a esse mundo para sempre, fazendo com que vivesse nos dois mundos.

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Muita chuva, lama e tristeza marca a vida de Ada ao lado do marido.

Ada teve seu casamento arranjado pelo pai que a mandou para a Nova Zelândia, uma terra bastante inóspita no período. Chegando lá o marido decidiu levar todos os pertences de Ada para casa, menos o piano. Dessa forma ele nega-lhe sua principal fonte de inspiração e expressão e de forma displicente impede, temporariamente, que Ada acesse seu mundo interior. Lembremos que Ada já vinha se declinando mais ao mundo inconsciente que ao consciente, na medida em que, sem falar, se mantinha de certa forma inacessível aos que a cercavam.

Desde os 6 anos de idade Ada vivia intimamente ligada ao seu inconsciente e só conseguiam se aproximar dela os que mergulhavam em seu mundo interior através da música. Em certo momento uma das mulheres da vila relata que a música tocada por Ada era estranha, como se não fosse apenas uma melodia. Sim, não o era. Era Ada falando pro mundo de outras formas.

No filme Ada tem seu piano vendido então pelo marido a George Baines, um homem que apesar de estrangeiro consegue entender e falar a língua dos nativos. Baines, no entanto não pretende ficar com a voz de Ada para si e dá-lhe a chance de tocar para ele em “aulas” que o encantam e o levam a se apaixonar ainda mais por ela. Ele também propõe que Ada resgate sua voz (o piano) através da interação que ambos passam a ter durante as “aulas”.

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George Baines pede a Ada que toque para ele em sua casa.

Nesse momento Baines se assemelha muito ao deus Hades, pois metaforicamente sequestra Ada, mantendo-a junto dele, já que, uma vez com o piano dela, sabe que Ada não conseguirá ficar muito longe. Como Hades ele a mantém em seu reduto por amor. Baines se assemelha também ao deus do subterrâneo em outros aspectos: Hades era um deus solitário, que se apaixonou loucamente por uma mulher de outro plano, uma mulher de certa forma proibida e que para tê-la subverteu regras, conquistando-a enfim e fazendo dela uma deusa poderosa.

Baines acessa muito bem o inconsciente de Ada e o compreende, mas entende que ela deve ser completa, também admirável quando no mundo consciente. Ele quer que ela seja plena nos dois mundos, falando em um pelo piano e no outro através da própria voz. Baines de certa forma compreende que Ada está irremediavelmente ligada ao mundo inconsciente, por razões não explicadas no filme. Não sabemos quais foram as sementes de romã que a fizeram se calar na infância.

Mais do que desejo, sim pois esse poderia ser o tema principal desse filme belíssimo, cuja trilha sonora memorável tem a música tema intitulada “The heart asks the pleasure first”, O Piano fala da busca do equilíbrio entre o mundo interior e exterior. Baines traz Ada de volta ao consciente, mas permite que ela continue acessando seu inconsciente através do piano. Ele não lhe nega a subjetividade. Nesse ponto Baines demonstra seu amor por Ada, pois a aceita como é, admirando-a, mas a incita para o melhor.

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George Baines e Ada em cena romântica do filme O Piano

Quando Ada sai da Nova Zelândia, levando consigo seu piano e precisa se desfazer dele nas águas revoltas do mar para que o barco onde está não afunde, ela tem o ímpeto de se jogar nas águas junto do piano. O mar aí aparece como representação do inconsciente. Mas ela entende que não deseja viver só nele e volta atrás.

Também não posso deixar de falar que a deusa Perséfone foi descrita de acordo com o poeta greco-romano Opiano de Apameia como uma mulher de olhos negros e beleza estonteante pela qual muitos homens se apaixonaram. Além do nome do poeta fazer menção direta ao nome do filme, uma coincidência, Ada, cujo nome significa beleza, também tem misteriosos olhos negros e seduz os homens sem esforço.

Representativamente, Perséfone é comumente retratada em um trono de Ébano ao lado do marido Hades. E o ébano é o material do qual eram feitas inicialmente as teclas escuras dos pianos. Esse também é outro detalhe que não pode ser ignorado.

Acompanhe a autora no Facebook pela sua comunidade Vanelli Doratioto – Alcova Moderna.

Eu não quero nenhum homem comendo na palma da minha mão

Eu não quero nenhum homem comendo na palma da minha mão

Dia desses uma amiga veio me dizer: não me leve a mal, você é uma mulher evoluída, que busca tanta coisa bonita, mas às vezes deveria agir com mais razão e estratégia, por exemplo com homens, você podia dar um gelo, ser dominadora, ativa, altiva, fria, e fazê-los comer na palma da sua mão.

Eu fiquei pensando: é, eu sei, a gente pode ter esse poder, eu até sei ter se eu quiser, talvez as pessoas precisem dessas encenações para criarem ilusões, para construírem mais uma historinha para encherem as vidas, talvez o ser humano queira suprir o vício de jogos e dramas que todas essas novelas e músicas dor-de-cotovelo implantaram na nossa alma.

Eu podia fazer joguinho, dar uma de fria, controlar minhas emoções, não expressar sentimentos e sensações. Eu podia armar esquemas, traçar planos, não sair do salto, ficar num plano superior. Eu podia me mostrar sempre linda e equilibrada, poderosa e bem resolvida. Eu podia conquistar alguém por tudo isso aí e mais um pouco, por tudo isso que eu sei ser muito bem, mas… não é o que eu realmente sou.

E só de pensar no ‘fria, poderosa e bem resolvida’, só de pensar em não expressar o que eu sinto e expressar o que eu não sinto, só te pensar em medir as mensagens, em ajeitar o cabelo, em veladamente mostrar meu currículo tão bonito de vida, me dá uma preguiça!

Eu que sou a louca, que hoje esqueci a chapinha, que parei de pintar a raiz do cabelo e tive dor de barriga por duas semanas. Eu que ainda choro como criança quando baixa a TPM, eu que às vezes falo mais do que a boca e me empolgo com uma brincadeira a dois, eu que outras vezes sou silêncio absoluto, imersa num universo paralelo desconhecido.

Que preguiça eu tenho de por o salto-alto se eu sei que vou tropeçar (mesmo no salto-alto metafórico), que preguiça eu tenho de ignorar aquilo que me faz acender toda. Que preguiça eu tenho de engolir o choro e a risada, de colocar embaixo no sutiã, do corretivo e das segundas intenções tudo o que eu deveria ter vergonha de mim, ou tudo que poderia ser escondido para que uma missão fosse cumprida com êxito.

Que preguiça só de pensar em querer fazer qualquer coisa ou pessoa comer na palma da minha mão. E quantas chances boas eu perco por não querer jogar o jogo, entrar na dança? Todas aquelas que num futuro próximo trariam insegurança, e frases do tipo: você não gosta de mim, do que eu realmente sou!

Afinal, tudo que se esconde, cedo ou tarde vem à tona. Eu não quero que ninguém coma na minha mão porque eu não quero me apertar para caber numa ilusão.

Que a gente coma sim, e de mãos dadas, que a gente coma numa mesa, numa varanda, num piquenique, lado a lado, de almas estiradas ao sol e imperfeições à céu aberto. Que a gente coma com as mãos, com as bocas, com os corpos, desde que haja vontade de comer, desde que seja um na mão do outro, um no corpo do outro, um na alma nua do outro.

Pois, pra falar bem a verdade, essa babaquice toda de conquista já não me fascina faz tempo. E quanta gente fugiu ao ver de perto a minha cara lavada de louca, muita gente mesmo! Já estou até acostumada. Mas o tesouro disso tudo é que quem ainda tem vontade de ficar por perto, é quem vale muito, mas muito a pena!

“É preciso transver o mundo”

“É preciso transver o mundo”

Imagem de capa: frankie’s/shutterstock

“Nós não vemos o que vemos, nós vemos o que somos. Só veem as belezas do mundo, aqueles que têm belezas dentro de si.” Rubem Alves.

Manoel de Barros diz em um dos seus versos: “A criança erra na gramática, mas acerta na poesia”. Pensando nisso e, consequentemente, na vida, algo que me é muito peculiar, cheguei à conclusão de que a saída da vida é a poesia. É viver poeticamente. É ver a poesia, enxergar a poesia, é transver as coisas por meio da poesia, pois como diz o mesmo Manoel: “É preciso transver o mundo”.

Com os olhos da infância, que sem preocupações sistematicamente racionais, se preocupam em descobrir o que há no mundo pronto para desabrochar.

Transver o mundo é transfigurar a realidade, é fugir das suas algemas, da sua limitação, do seu automatismo. Mas isso não implica fingir que ela não exista, e sim, encará-la de modo a modificá-la, acrescentando magia ao real, esmiuçando o óbvio, já que é quando esmiuçamos o óbvio que a magia presente na simplicidade das coisas vem à tona e, então, tem-se poesia.

A poesia, dessa forma, está em tudo, nas maiores miudezas, basta que se olhe de forma enviesada, transversa. Viver poeticamente é buscar enxergar o óbvio, é não ser engolido pelos leões da normalidade, é sentir o vento na sombra.

Na maior parte do tempo sequer percebemos o que existe ao nosso redor. Somos seres de idas, mas a vida está nas encostas. A beleza do mundo requer um olhar periférico, oblíquo, insinuante, irreverente. Eu já acreditei que a saída estava no humor, mas entendi que o humor perpassa pelo poético, é um substrato da poesia, de modo que ao usar o humor, também somos poéticos, pois é condição própria da poesia dar voltas na razão e tornar a vê-la cheia de risos.

A poesia serve para isso: desconsertar. E nós estamos muito sérios. Precisamos ficar mais desconcertados, como quando olhamos para algo e o silêncio pinta na imaginação do olhar os versos que jamais conseguiríamos dizer com caneta e razão, porque certas coisas a gente só sente, não carece de explicação. Às vezes enxergar já é a melhor explicação que pode existir.

Eu sei que nem sempre conseguimos ser assim. No entanto, podemos ter um olhar poético de vez em quando, ou será que precisamos ser tão sisudos o tempo inteiro? Ser donos da razão e inquilinos do coração só nos garante a acumulação, e isso explica porque temos tanto e sorrimos tão pouco. Somos acumula(dores).

Esquecemos de enxergar o óbvio, o qual pode estar em qualquer lugar, em qualquer coisa, em alguma pessoa, em uma simples conversa, ou no balançar das árvores quando a noite vem caindo de mansinho, bem devagar, e as brisas que a anunciam tocam em nosso corpo e dizem em nossos ouvidos baixinho quais estrelas iluminarão o céu. Você já enxergou o céu?

A saída da vida é a poesia, não há como viver sem enxergar beleza nesse mundo. Não há como transfigurar a realidade sem enxergar o despercebido, as entrelinhas, que, embora, óbvias, são invisíveis. Sei que a vida é cheia de dor e sofrimento, mas, se não considerarmos a sua imensidão de beleza e a sua capacidade poética, então, a vida está perdida, porque é para isso que vivemos.

É na simplicidade que mora a poesia, a felicidade, o sonho, o sentido da vida. Mas, é preciso transvê-la para poder enxergar. Você possui imagin(ação) para isso?

O que eu passei, já passou!

O que eu passei, já passou!

Imagem de capa: romualdi/shutterstock

Se há uma dura tarefa a cumprir, é a de deixar no passado o que pertence ao passado. Arrastamos o ontem como um troféu ponteagudo que, embora conquistado, nos fere a cada toque.

E desenrolamos o pergaminho do passado com uma insana riqueza de detalhes, utilizando todas as licenças poéticas disponíveis, porque até para a dor, romantizamos o quanto podemos. A piedade conquistada nesse momento nos alimenta, ainda que seja indigesta.

Todo mundo tem um passado, todo mundo já sofreu traumas, abandonos, rejeições. Há quem tenha sido largado por falta de amor, há também quem tenha sequer registrado a indiferença com que foi tratado. Há infinitos passados em cada um de nós.

As desordens da vida não são culpa do passado, que não deveria ser tão demonizado assim. A gente fala de passado como se fosse um maníaco insensível e insaciável. Mas o passado é o que somos.

Acabei de olhar para trás e esse momento já é passado, vivido por mim. É o que sou, do jeito que me virei, a maneira como olhei e o que entendi do que vivi.

O que eu passei, passou. Vivi coisas incríveis, mas comi muito capim também. E –surpresa- não ganhei o o passe livre para a felicidade e sossego no futuro. O passado é hoje, há um minuto.

A vida é uma dinâmica que não comporta esse excesso de bagagens e histórias. Pessoas, cenários, reações e certezas se alteram numa velocidade absurda.
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O saudoso passado arrastado ainda tenta ganhar o lugar do presente e sonha em interferir no futuro, como um tutor que tudo sabe porque tudo já passou. Mas o que ele sequer desconfia, é que além de passado, já foi ultrapassado pela vida que quer e sabe como conquistar o seu espaço.

De minha parte, fico com a empolgante tarefa de a cada dia, limpar o quadro, preparar os pincéis e a aquarela, porque o grande presente é fazer do passado um sábio aliado.

O que passei, passou.

Me diz, com que pernas devo seguir? Sobre relacionamentos e fins

Me diz, com que pernas devo seguir? Sobre relacionamentos e fins

Imagem de capa: romualdi, Shutterstock

Pode parecer loucura ou até um pouco de desespero, mas saber que você não está mais comigo, dói. Dói porque é difícil imaginar, depois de tantas partilhas, um tempo só meu. E os instantes que tivemos foram tão marcantes que, agora, não sei bem como seguir. Sem suas pernas, sem seus abraços, sem seus sorrisos.

Românticos dizem que toda história de amor atravessa tempestades. Que o amor é constantemente testado para saber da sua força e intensidade. Desconfio dessa teoria, sendo sincera. Precisar passar por esses mares de faltas e ausências, não deveria ser assim tão duro e seco. Não porque seja impossível, pelo contrário, é até comum. Mas existe uma dificuldade tremenda em aceitar, em saber diferenciar quantos dias são necessários para encontrar paz mais uma vez.

Teu gosto ainda está na minha fala. O cheiro das nossas noites ainda está nos meus lençóis. Me diz, como seguir adiante? Como continuar quando a saudade não vai embora, quando ela só sabe jogar na cara a presença inconfundível que você deixou? Não sei o que fazer, juro. Não estava preparada. Eu sei que não se trata de distribuir culpas. Elas nunca fazem bem. Algumas vezes, os caminhos de um querer a dois acabam sendo mais partidas do que chegadas. De verdade, entendo. Não trago mágoas. Mas dói. Dói agudo.

Talvez, quem sabe, mais adiante encontremos uma nova oportunidade ou um novo começo. Não estou pedindo uma segunda chance, porque sei que quem dita os próximos passos é o tempo. Não o tempo da gente, mas o da vida. De qualquer forma, mentiria se não imaginasse, ao menos uma vez, que a sorte coincidisse com o nosso amor já explorado.

Tudo bem, paro por aqui. Tenho que ser forte. Tenho que aprender a andar de novo.

Vou seguir, enquanto puder, sua. Mas agora com as minhas próprias pernas.

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