Rompimentos não me assustam mais. Sou muito boa com finais.

Rompimentos não me assustam mais. Sou muito boa com finais.

Imagem de capa: Vagengeim/shutterstock

Não se trata de ser volúvel ou inconstante, mas sim de perder o medo de perder. Nada nem ninguém é posse de outra pessoa. Há começos e finais.

A grande dor é passar o tempo prevendo ou tentando adiar um final. Na tentativa de manter uma vontade viva, contorna-se o muro à frente e abre-se um caminho alternativo, mas certamente a chegada será em outro ponto. O plano inicial de fato chegou ao fim, e outro nasceu a partir desse final.

Eu já alimentei fartamente o medo dos finais. Não conseguia aprender e ver vantagens nas etapas que se concluíam. Lamentava cada final de ciclo como se fossem perdas, e, na verdade, ninguém perde nada do que não possui.

Também tive muito receio da vida que corria bem, pois que em algum momento a calmaria haveria de ter um final. E ele sempre chegava. E ele também passava, se transformava, virava outro começo.

E em algum momento, todo esse medo se transformou, ainda com muita resistência e apego, mas se foi. Agora, sou muito boa com finais. Não os provoco, não os procuro, mas os respeito e aceito sempre que consigo entender que são o caminho mais saudável e portas para os recomeços.

Rompimentos são tão dolorosos quanto os começos, mas não percebemos por conta da excitação inicial… e da mágica alegria que só se apresenta nesses momentos. Mas os começos são povoados de dúvidas e ansiedades. E, creia ou não, isso também dói.

Rompimentos são conclusões argumentadas, são respostas que preenchem as lacunas. Não exatamente o que gostaríamos, mas o golpe de misericórdia para acabar com situações arrastadas, vidas finalizadas, energias esgotadas, vontades desencontradas.

Os finais sempre levam alguma coisa de nós. Já me levaram amores, amigos, saudades, arrependimentos, desejos. E deixei que levassem tudo, sem muita briga nem revolta.

A cada final que se aproxima, me preparo, me despeço, me desculpo, desapego do que será levado e só o que peço em troca é coragem.
Coragem para abrir bem os olhos e enxergar claramente o que começa a partir desse final, que já não ameaça mais.

De apertos e sinhazinhas

De apertos e sinhazinhas

Ainda bem menina descobri que as roupas e a vida dos meninos eram mais divertidas do que a minha. Nos domingos, eles pulavam da cama e numa velocidade incrível ganhavam as ruas da Tijuca para brincar.

Comigo era diferente. Sempre saía depois deles, pois havia mais panos para cobrir o corpo e o maldito cabelo para pentear. Mamãe pegava a escova e começava a operação Desembaraçamento. Pôr em ordem os fios rebeldes. No caso da minha cabeça, todos.

Um estado de insurreição ampla e irrestrita. Doía muito. Mas mamãe recitava o versinho: Sinhazinha está tão bela, pois então aguente mais. Pois então se estou tão bela, por favor aperte mais.

Eu ficava doida. Porque não queria ser sinhazinha e muito menos sentir dor. É claro que os meninos também sentiam dor, mas em geral acontecia quando eles se machucavam. Quando caíam da bicicleta ou brincando de pegar peixinhos no fétido rio Maracanã.

Enquanto isso, eu vivia a tortura de ter os cabelos desembaraçados para mantê-los femininos. Como se o feminino rimasse naturalmente com sacrifício. Eu observava minhas tias e primas mais velhas entrando e saindo do banheiro como se fossem atrizes trágicas se preparando para subir no palco.

Toalhas enroladas no cocuruto, cremes esparramados nos rostos e braços, sobrancelhas desenhadas a lápis. Para raspar os pelos das pernas e axilas usavam a lâmina Gillette (que trazia um homem bigodudo na embalagem). Eu me perguntava: Elas estão se preparando para uma guerra?

Invejar as roupas dos meninos causava tristeza na minha mãe. Diria até que isso a perturbava pra valer. Eu queria um short, ela comprava um vestido. Sonhava com um tênis, ela me presenteava com sandálias de fadinha. Uma vez pedi um par de botas. Veio a resposta: De jeito algum!

A cena dramática do embate mãe e filha se deu nos meus 6 anos. Festa junina na escola com a óbvia ciranda. Meninos e meninas fantasiados de caipiras. Mamãe me olhou e achou que faltava um toque a mais. Costurou no meu par de conga branca duas rosas de plásticos. Enormes! Ela adorou. Eu chorei de humilhação.

Hoje sei que para cuidar da saúde mental nada melhor do que deixar a infância na infância. Guardá-la em um pendrive e acessá-la quando nos convir. Mas no desktop o que devemos fixar é o tempo presente. A vida do agora.

Nesse agora, não cobiço mais as roupas masculinas. Ao contrário, acho que as mulheres dão de dez em criatividade e inovação. Repare na alta taxa de diversidade com que nos vestimos. Formatos, cores, texturas. Conquistamos as calças compridas sem abandonar as saias.

Ao caminhar na avenida Paulista, reparo nos homens. Observo uma multidão de ternos e gravatas. Penso: Poderia ser meu pai andando por aqui. Verdade, as gravatas estão muito mais coloridas. Os ternos mais alegres. Mas, meu Deus, seguem sendo ternos e gravatas!

Por outro lado, não encontro nenhuma mulher vestida como mamãe quando jovem. Mudamos. Mas as grifes de sapatos ainda não acompanharam isso. Ao comparar calçados para mulheres com sapatos para homens, percebo que a redenção ainda está longe.

Os femininos são bem mais estreitos e incrivelmente incômodos. Como se a revolução tivesse se iniciado pela cabeça, descido pelo tronco e estancado nos pés. A sinhazinha ainda diz: Aperte mais.

A vida é muito curta para não parar para admirar a paisagem

A vida é muito curta para não parar para admirar a paisagem

Imagem de capa: HPepper/shutterstock

Ah, que viagem doida é essa, a vida?! Que a gente entra e bem cedo aprende que tem que correr, não perder tempo, não perder focos, que tem que ganhar várias corridas.

Que trem de ferro em linha reta é esse?! Que a gente coloca combustível sem parar nos nosso corpos e mentes e o nosso olhar sempre à frente, concentrado em algum ponto de chegada que o mundo nos ajudou a inventar.

E mesmo quando o corpo chia, o coração suspira e a gente precisa diminuir a intensidade do caminhar, a mente não para de ostentar, o mundo não para de falar. Quando foi mesmo a última vez que a gente parou a própria rotina, os próprios sonhos e expectativas e apenas sentou naquela cidadezinha de beira de estrada e tomou um cafezinho sossegado, sem pensar em nada?

É tudo sempre tão corrido, o calendário sempre preenchido, as horas completas, os dias espremidos. Os nossos pés já nem tocam o chão, passam flutuando por todas as superfícies. Não mergulhamos em nenhuma estação de nós mesmos.

Não dá tempo de entender o sofrimento, de quebrar um círculo vicioso, de romper hábitos que nos fazem mal, não dá tempo de aprofundar, adentrar nos labirintos do coração, desfazer os nós e criar outros ‘eus’.

Não dá tempo de construir outro mundo, pois este já nos escraviza em seus mitos. Nossas mãos práticas seguem as riscas, as receitas, desaprenderam no nascimento a tocar e a conduzir intuitivamente, são agora instrumento de nossas necessidades.

Ah, que vida desenfreada, competitiva, em que a gente voa alto, rápido, em que a gente é avião a jato e gosta de mostrar o ronco forte de nossas turbinas e a grandeza de nossas capacidades de lidar com tudo.

Em que a gente quer ser mais para se sentir mais e ofuscar um vazio escondido, em que a gente quer fazer barulho para não ouvir as vozes do nosso silêncio essencial, em que a gente quer ter mais para não deixar de alimentar a máquina das doces ilusões que nos rodeiam. Em que a gente quer parecer mais para convencer os espectadores desse teatro todo, e a nós mesmo, de que todos os nossos esforços não foram em vão.

Que vida vã é essa, pele espessa que não se deixa cortar, sentir, invadir. Superfícies dura e escorregadia, em que tudo passa e pouca coisa fica. Em que a gente vê passar pela janela vultos de tantas coisas, pessoas e sentimentos, num piscar de olhos, tão rápido que não dá tempo de fazer sentido, de entrar para a memória, de construir belezas em nossos álbuns de fotografia.

A vida é curta, então a gente corre. Que ironia! Vida é travessia, a chegada é a morte. O que fica dessa viagem, se a gente não para e aprecia? Se a gente não desce em muitas estações, e olha em volta, anda e respira? se a gente não perde a gente mesmo em algumas paragens? Se a gente não recomeça do zero e muda o rumo e decide não ir em frente por um bom período de tempo?

Ah, a vida é curta demais para não parar para admirar as paisagens!

“13 Reasons Why” e seu papel social

“13 Reasons Why” e seu papel social

Se você já tiver ultrapassado os 20 anos de idade, imagine-se voltando ao seu ensino médio, aos seus 17 anos. Agora você é uma garota que acaba de se mudar e está ingressando naquele assustador universo que é o colégio novo. Imagine-se encontrando obstáculos exponencialmente maiores ao longo da exploração desse novo universo. Bullying, assédio e assim por diante. Mescle tais obstáculos as dúvidas, inseguranças e exigências que vem com a adolescência.

Pronto. É esse o cenário que Hannah Baker enfrenta ao chegar à cidade. 13 Reasons Why (Os 13 Porquês), nova série da Netflix, conta todo o processo que levou Hannah a se suicidar.

Para além do bullying e assédio, 13 Reasons Why trata de questões como a homofobia, o machismo, o estupro e obviamente, o próprio suicídio. Temas atuais, considerados pesados, transversais a vida escolar que não só podem, mas devem ser abordados, postos em evidência e acima de tudo, discutidos e repensados.

Toda a história é contada do ponto de vista de Hannah. Talvez seja esse o exercício que série propõe: o de nos colocarmos no lugar de dela. É sua verdade que nos é narrada. É sua realidade que presenciamos. É impossível passar por esse processo – o de estar na pele de Hannah – sem se repensar.

E é justamente ao nos fazer refletir sobre nós mesmos, sobre a forma como agimos que 13 Reasons Why mostra sua dimensão político-social que é sem dúvidas um diferencial nela. Sim. A humanidade e a fragilidade de nossas relações pede por isso.

A conscientização voltada para o respeito às diferenças e o exercício da empatia é uma necessidade urgente. A arte, que tem por particularidade o dom de nos fazer sentir, é, por sua vez, um instrumento poderoso e eficaz quando o objetivo é trazer reflexão. Então por que não unir o útil ao agradável, não é?

Para os que ainda não viram a série, fica a sugestão. Para os que viram, fica o apelo para que nos esforcemos mais para não sermos um dos motivos. As discussões estão sendo abertas. A mudança e a transformação depende de nosso empenho e participação. E sim, hoje você pode salvar uma vida com um gesto simples. Talvez ouvindo, talvez acolhendo, talvez informando, talvez simplesmente estando presente. Fique esperto!

Abra as janelas, mas saiba fechar as portas com firmeza

Abra as janelas, mas saiba fechar as portas com firmeza

Imagem de capa: Evgeny Atamanenko/shutterstock

Abra as janelas ao que vem com força verdadeira, mas feche as portas ao que chega sem verdade, sendo nada além de peso inútil.

Quando conseguimos ajudar, aconselhar, compartilhar experiências com verdade, tornamo-nos melhores e tornamos os outros pessoas melhores. Poder ver o tanto de felicidade que conseguimos espalhar por aí é uma das melhores sensações que existe, pois ninguém é feliz em meio a dores e tristezas circundantes. Infelizmente, porém, nem todo mundo está pronto para receber nossas ofertas.

A gente deve abrir as janelas quando encontra alguém que soma, que vem com verdade, respirando o ar da transparência isenta de maldade. Quando nos sentimos bem ao lado da pessoa, onde estivermos, pois sabemos que ali estamos protegidos contra a falsidade e os interesses escusos, pois sabemos que ali nada irá nos ferir, nada será usado contra nós, nada será carregado de negatividade.

A gente precisa fechar as portas toda vez que a insegurança e o medo vierem assombrar os nossos sonhos, que alguém disser que não conseguiremos, que não somos capazes, que aquilo que é nosso não serve para nada. Toda vez que não nos sentirmos bem perto de gente que transmite tudo, menos sinceridade; que fala tudo, menos coisas boas; que sabe de tudo, menos do que a gente mais precisa.

Abra as janelas a cada manhã, mentalizando tudo de bom que possa ocorrer, desejando o melhor, para si e para o mundo, porque atrair positividade depende de nossa disposição em ser feliz. Alimente as esperanças, as metas, confiando na própria capacidade de ser alguém que se reinventa e renasce, sempre que necessário. Sorria, tenha fé, ame e ame de novo. O mundo está aguardando por você diariamente.

Feche as portas quando necessitar de um tempo consigo mesmo, sem ninguém, quando seus pensamentos estiverem menosprezando tudo de bom que você carrega dentro de si. Quando estiver alimentando amor sem volta, não correspondido, insistindo naquilo que não tem algum futuro. Quando estiver machucado, vazio, sem rumo, sem, guarida, sem toque, sem companhia de fato, junto mas desacompanhado.

É preciso abrir-se a tudo o que está ali em frente, ao lado, pronto para receber-nos e dar asas aos nossos mais lindos sonhos. No entanto, ter cautela com coisas e pessoas que não são o que aparentam será urgente, para que não nos percamos de nós mesmos, por conta de ervas daninhas que ingenuamente deixarmos repousar em nossos jardins. Abra as janelas ao que vem com força verdadeira, mas feche as portas ao que chega sem verdade, sendo nada além de peso inútil.

No modo “quase”, a vida não anda

No modo “quase”, a vida não anda

Imagem de capa: Yuriy Mazur/shutterstock

Eu quase fiz isso ou aquilo, quase tive coragem, quase me arrisquei, quase decidi. Eu quase vivi, mas não o fiz porque estava quase indo, quase voltando.

Se alguém te disser que está quase resolvendo uma questão, esqueça ou repense a importância. Quase é nada. Quase é cogitação aguardando a coragem chegar. E quase sempre, ela não comparece.

Quase é o relógio esquizofrênico que anda para frente e retorna, frustrando as horas de quem espera.
Quase é a certeza na promessa que não se concretiza.

Estamos quase lá significa que não estamos em lugar algum. Ou, pelo menos, não aonde gostaríamos. Não há quase que satisfaça, porque não há um quase desejo.

A gravidade do quase se mede pelo tempo que ele consome. Quem diz que está quase resolvendo assuntos ou decisões urgentes não para si, dificilmente percebe como esse tempo do quase se arrasta e consome quem aguarda.

Quem prefere quase porque acha o não muito forte, não sabe o quão forte é a decepção de quem se equilibra na corda do quase. Um tombo bem poderia ser mais honesto.

Quase é frustração, é falso gozo, linha de chegada que se afasta.

-Ah, eu quase contei toda a verdade, mas não encontrei o momento certo…
-Estava quase resolvendo o que combinamos, mas voltei atrás por este ou aquele motivo…
-Quase te liguei, quase te encontrei, quase te mandei aquela mensagem, mas apaguei…

O quase é a bengala da covardia. Uma vez citado na frase, faz o papel de suporte. Também pretende ser um anestésico, já que o quase é suave e o não é rude. Ainda lamenta-se, mas com esperanças de que o quase amadureça e vire ação.

Quase acho o quase inocente, mas em pouquíssimas situações. Na maioria delas, o comparo àquela pessoa educada e de fala mansa, que ainda assim, não hesita em fechar portas e rejeitar o que não lhe convém, delicadamente, ainda que às custas da confiança e paciência alheias.

Na vida de um quase, nada nunca terá firmeza. Mas quase.

Quebrar a cara também é descobrir o mundo

Quebrar a cara também é descobrir o mundo

Imagem de capa: DC Studio/shutterstock

Em cada um de nós, por mais medo que se sinta e histórias que se escute, sempre há um desejo de rua e de queimar o pé no asfalto, porque quebrar a cara também é descobrir o mundo.

Pablo Neruda diz em um dos seus versos que: “Você pode cortar todas as flores, mas não pode impedir que a primavera chegue”. O poeta está correto, há coisas que não podem ser evitadas por mais que você se prepare ou faça de tudo para que não aconteça.

Isso ocorre pelo fato da vida não ser uma estrada retilínea, mas antes, uma estrada sinuosa, cheia de curvas perigosas e imprevisíveis, e por mais que alguém te diga exatamente como proceder, em determinado tempo e espaço do caminho, algumas coisas só são aprendidas quando vivenciamos a experiência, por mais dolorosa que esta seja.

Não sou adepto da ideia de que só se aprende com a dor. O amor, a meu ver, ainda é e será o maior dos professores. Entretanto, não há como negar que ela nos ensina muitas coisas, aliás, como disse, parece que só conseguimos aprender certas coisas por meio da dor, do sofrimento, do fracasso, da derrota. Em outras palavras, só aprendemos algumas coisas quando quebramos a cara.

Não adianta, algumas coisas não entram na nossa cabeça até passarmos pessoalmente por determinadas experiências. Podemos ser alertados, inclusive e de maneira geral, por pessoas mais sábias e experientes; podemos ouvir histórias, relatos de situações verídicas, ensinamentos sobre a vida de modo amplo e em pontos bem específicos, mas, por mais abertos e compreensivos que sejamos, sempre haverá algo que passará do nosso olhar e ouvidos, de forma que ao nos depararmos com aquela situação outrora evidenciada, agiremos de modo errado e, então, inevitavelmente quebraremos a cara.

Podemos relacionar esses acontecimentos exclusivamente ao período da adolescência, mas estaríamos errados. Embora, de fato, seja nessa fase, em que o “foda-se” está ligado para tudo, que quebremos mais a cara e até por isso mesmo ela esteja relacionada ao amadurecimento; o “quebrar a cara” ocorre por toda a vida, já que ninguém conhece esta em todos os seus aspectos a ponto de nunca errar.

Ainda que “quebrar a cara”, “se dar mal”, traga dores, sofrimento, decepções, frustrações, etc., é preciso entender que isso é algo que faz parte da descoberta da vida. É necessário sair, se arriscar, fazer suas próprias escolhas, viver suas próprias experiências, seus próprios relacionamentos, mesmo que vez ou outra nos machuquemos por algum motivo. Se fechar em relação ao mundo só nos torna ainda mais estranhos a ele.

É claro que, da mesma maneira que é preciso “cair no mundo”, também é necessário ouvir, sobretudo, quem tem algo para contar e se preocupa com o nosso crescimento. Todavia, os nossos sentidos dependem da experiência real para que certas coisas sejam apreendidas e isso não é algo ruim, mesmo que no fim estejamos cheios de feridas e arranhões.

Somos recortes de tudo que vivemos, inclusive, as experiências e vivencias nem tão boas ou dolorosas. O importante é o que conseguimos aprender com a cara quebrada, porque como disse Sartre – “Viver é isso: ficar se equilibrando o tempo todo, entre escolhas e consequências” – e em cada um de nós, por mais medo que se sinta e histórias que se escute, sempre há um desejo de rua e de queimar o pé no asfalto, porque quebrar a cara também é descobrir o mundo.

Sabedoria é gostar de quem gosta da gente

Sabedoria é gostar de quem gosta da gente

Se pudéssemos ter a noção exata do tempo perdido, em nossas vidas, com gente que não se digna a responder de volta um nada que seja e com coisas inúteis e impossíveis de ocorrerem, talvez parássemos de vez com essa mania que a muitos acomete, qual seja, correr atrás do que não virá, valorizar o que não nos pertence, mendigar atenção de quem não nos enxerga. Porque isso equivale a patinar no gelo do vazio: só esgota energia e não soma nada a ninguém.

Vai saber por que tantas pessoas focam a vida justamente em tudo e em todos que as rejeitam, esquecendo-se de lutar para manter junto o que e quem já são certezas, já são amores correspondidos, já estão ali. Vai saber o quanto tantas pessoas se sentem menores e diminutas, indignas de reciprocidade, de afeto sincero, de verdade enfim. Parece que a rejeição se instala tal qual um vírus de difícil combate, acabando com a saúde da pessoa, tornando-a triste, indisposta e com a autoestima em frangalhos.

Parece que a gente reluta em ser feliz, como se não houvesse felicidade possível longe daquilo que está distante, como se não fôssemos conseguir viver sem o amor daquele que nos nega retorno, como se a gente fosse um nada, não tivesse nada, não conseguisse nada. Realmente, ninguém é capaz de nos fazer tão mal quanto nós mesmos. Ninguém é capaz de nos diminuir tanto quanto nós mesmos. Porque, em grande parte, somos nós que consentimos com essa miséria emocional toda que nos assola.

Não conseguiremos gostar de todo mundo que gosta de nós, não teremos simpatia por todas as pessoas que simpatizarem conosco, porque afeto ninguém explica direito; tem gente que nunca fará parte de nossos corações, por mais que tentemos. Mesmo assim, é preciso olhar mais para perto, enxergando aqueles que já estão em nossos caminhos, valorizando o que faz parte de nossas conquistas, porque somos alguém, sim, que merece ser feliz, ser valorizado, ser visto, ser amado.

Enquanto fitarmos somente o horizonte de possibilidades distantes, deixando tudo o que já está ao nosso lado em segundo plano, jamais conseguiremos alcançar a felicidade. Enquanto insistirmos em quem não está nem aí para o que somos, jamais acolheremos amor verdadeiro em nossos corações. Vá ser feliz agora, porque o depois demora muito!

Imagem de capa: DC Studio/shutterstock

Nunca termine um relacionamento dizendo: “Você merece alguém melhor.”

Nunca termine um relacionamento dizendo: “Você merece alguém melhor.”

Imagem de capa: Antonio Guillem/shutterstock

Quando você se foi, eu achei que morreria. Quando você se despediu, eu achei que fosse uma brincadeira e custei acreditar. O dia amanhecia, eu não conseguia sair do quarto e, nossa, como tudo aquilo doía.

Olhava para o celular esperando alguma mensagem sua e a saudade me visitava todos os dias, de um jeito avassalador. Eu achei que não iria suportar vê-lo novamente e que meu coração ficaria em pedaços – impossível torná-lo inteiro novamente.

Eu achei que iria desmoronar e que não iria mais conseguir acreditar em nada e nem em ninguém mais, afinal, você prometera que ficaria pra sempre. O melhor abraço se foi, o meu sorriso no final do dia cansado já não estava mais ali e, aos poucos, fui aprendendo a lidar com a sua ausência. Com a sua partida.

Você se foi sem ao menos me dizer os porquês, aquelas suas falas clichês só machucaram ainda mais o meu coração. Você disse adeus com desculpas que não são verdades. Não suportava ouvir alguém dizer o quanto você falava sobre mim, de como sou uma pessoa incrível e que merecia alguém melhor. Nossa, meu coração ficou em pedaços. Quem ama entrega os pontos? Joga nos braços do outro como quem não quer fazer o menor esforço para ficar?

Eu desmoronei, mas não morri; eu deixei de acreditar, mas é por pouco tempo, eu sei. A gente demora para se recompor dos versos, das cartas, das mensagens e das histórias que criamos a dois. Eu não vou esbanjar felicidade e sair por ai postando fotos como quem está feliz, mas também não vou me esconder e deixar de viver. Por mais que seja difícil, a gente não pode entregar os pontos por alguém que não quis ficar.

Eu só queria dizer que sinto muito, não por mim, por você. Mas eu entendo que nem todo mundo consegue segurar um coração inteiro com as duas mãos. Nem todo mundo consegue não deixar escapar pelos dedos quando ele pulsa. Nem todo mundo consegue não quebrá-lo e entregá-lo ao outro em pedaços.

Eu compreendo que nem todo mundo consegue ver o que tem em suas mãos e, por bobeira, deixa escapar, achando ser sem valor. Por um tempo, eu acreditei que você cuidaria do meu coração; por um tempo, achei que nunca o devolveria em pedaços; por um tempo, eu lhe entreguei. Quando você se foi, eu percebi o quanto sou forte, o quanto eu mereço alguém que cuide do meu coração, assim como eu tentei cuidar do seu, e que, ao invés de me dizer que mereço uma pessoa melhor, faça de tudo para ser esse alguém.

Não quero e nem preciso de alguém que me entregue nos braços de outro e ainda diga que isso é amor. Se eu pudesse lhe dar um conselho hoje, seria exatamente assim: “Não brinque com um coração que lhe seria dado por inteiro sem pensar duas vezes; não brinque com um coração que dispara feito um atleta em plena corrida, apenas por ver o seu sorriso.”

Hoje, eu vejo que você segurou um coração inteiro com apenas uma mão e, não podendo conter suas pulsões, esmagou-o, na tentativa de segurá-lo. Típico de um amador. Típico de quem não sabe amar.

A prece é amiga da imperfeição. Oremos, pois.

A prece é amiga da imperfeição. Oremos, pois.

Imagem de capa: palidachan/shutterstock

Hoje eu dei de rezar por nós. Por você, por mim e por todo mundo. É que de tão convencidos das nossas qualidades, andamos esquecidos de nossa imperfeição. Feito mulas cegas de desespero e aflição, estamos nos pisoteando uns aos outros sem sequer nos darmos conta. Nesse caso, só rezando.

Eu rezo. Quem sabe a vida nos lembre de que é preciso parar e respirar, olhar o céu, ajustar o foco e começar de novo. Que tenhamos cuidado e apreço conosco e com o outro. Que o amor seja mais, muito mais que uma palavra bela. Que faça de nós amantes da gentileza e dos gestos francos, defensores corajosos do trabalho honesto, operários do respeito e construtores da beleza que nem sempre os olhos veem.

E que tão logo façamos a nossa parte, o universo nos responda com sol e chuva para a festa das lavouras, e as paixões avassaladoras apareçam de manhã nas sacolas dos carteiros, estendidas em frente às portas como cachorros tomando sol. Que a esperança encha as caixas de entrada dos e-mails e a saudade dos velhos amores extintos renasça em novos encontros, com novas gentes, em outras possibilidades.

Que instantes de absoluto desprendimento nos joguem na cara o quanto são ridículos os nossos interesses rasteiros. Que notemos num susto que o mundo vai carente de afeto e nós precisamos não de movas diligências para que os ricos continuem ricos e os pobres se mantenham pobres, mas de pequenas desobediências que desencadeiem imensas loucuras. E que estourem em todo canto, como pipocas, milhares de milagres capazes de enormes mudanças.

Que em cada casa do planeta brote uma nascente de água poderosa capaz de curar toda e qualquer doença. E que a saúde não seja mais um mercado cruel, liderado por gente vil decidindo as mazelas que nos acometerão, ocupada sobretudo com quanto dinheiro há de ganhar com isso.

Que os sete bilhões de seres humanos e outros inúmeros espécimes vivos sobre a Terra acordem num dia qualquer e descubram que o inimigo se tornou amigo. Que o credor decidiu facilitar a dívida e todo malfeitor desistiu de fazer mal ao outro, em qualquer instância, em toda escala.

Que o mundo seja invadido por bons sentimentos, pela vontade de ajudar, a liberdade de ser só ou viver em família, ser solteiro ou ser casado, ser amante ou ser amado, ser homem ou ser mulher.

Que amanhã de manhã saiamos às ruas e encontremos guardas de trânsito orientando os carros entre passos de dança cheios de graça. Que todas as pessoas ganhem o direito sublime de se comunicar cantando e a vida se transforme num antigo musical de cinema. E que em cada família se contem e cantem histórias sobre a criação do mundo, os gestos simples dos grandes seres e a grandeza das pequenas coisas.

Que os velhinhos e as crianças, habitantes extremos das duas pontas da vida, sejam verdadeiramente ouvidos e celebrados por aqueles que estão no meio do caminho.

Que todo ser vivo seja tomado de uma vontade incontrolável de trabalhar e construir, criar e dividir. Que floresça em cada um de nós um desejo de ajudar e a gratidão a quem nos ajude.

E que as ruas ganhem novas árvores, muitas árvores espalhadas por lá e cá, com pencas de amores novos do tamanho de jacas nascendo de seus galhos.

Que Deus esteja entre nós no sorriso de nossos filhos, na presença das pessoas queridas, na chegada e na partida, no calor do sol e no barulhinho da chuva, no vento que assovia, na dor que chegue e passe, na lua que vigia, no dia que nasce, na planta que cresce, na alegria que vem sem aviso, na prece que renova e agradece, no amor da gente, no mundo em paz e na vida que em todo canto acontece, a toda hora, por todos nós e para sempre.

Hoje eu dei de rezar por você, por mim e por todo mundo. É que eu tenho a impressão de que nós andamos precisados.

Que a prece então seja amiga de nossa imperfeição e nos ajude a seguir em frente, com os olhos atentos em nossos erros e os braços abertos para o perdão. Amém!

Os sete pecados capitais e as hipócritas verdades individuais

Os sete pecados capitais e as hipócritas verdades individuais

Imaginemos uma pessoa hipotética. Essa pessoa, no caso, seria alguém especial, superior a mim e a você. Superior a todo o resto da humanidade. Ao contrário de nós, reles mortais, a tal pessoa não possui telhados de vidro. O SEU telhado é blindado; seguro, forte, inviolável. E na segurança de sua suposta superioridade, este ser elevado acredita – sem nenhuma dúvida -, que pode nos julgar a todos.

Não se trata de alguém sem pecados, posto que isso não existe. Trata-se de alguém cuja crença não admite erros em si mesma. Ou, na melhor das hipóteses, tem absoluta certeza de que seus erros são pequenos deslizes; ao passo que os erros alheios são indubitavelmente imperdoáveis.

Pecado é uma palavra originada do latim; seu significado mais antigo tinha relação com “tropeçar”. De acordo com a língua hebraica, pecar é algo como “mudar de direção”. Para os gregos antigos, pecar refletia a ideia de “errar o alvo”. Mas foram os romanos convertidos ao cristianismo que agregaram ao pecado o sentido mais carregado de culpa; foi a partir de então que pecado passou a ser algo de cunho religioso, “a violação das leis de Deus”. Foi neste ponto que o pecado passou a ser usado pelos seres humanos para infringir ao outro o sentimento de dolo por seus atos.

Ocorre que nem tudo se enquadra na categoria “pecado”. O que não deixa de ser extremamente curioso. Em verdade, OS SETE PECADOS CAPITAIS – que já foram utilizados como tema de um excelente e perturbador filme estrelado por Brad Pitt e Morgan Freeman -, são tão difíceis de se lembrar quanto o nome dos sete anões ou as sete cores do arco-íris.

Sendo assim, vai aqui uma forcinha. Figuram na lista dos sete pecados capitais: a ira, a gula, a luxúria, a preguiça, a avareza, a soberba e a inveja. Olhando assim, um de cada vez, parecem tão inofensivos, não é mesmo? Ou será que não?

O fato é que os tais SETE PECADOS CAPITAIS, são uma criação da Igreja Católica – mais precisamente do Papa Gregório I, com o intuito de determinar a origem de todos os outros vícios a que estamos sujeitos.

E o outro fato é que a tal lista não faz nenhum sentido, posto que não há um único de nós que tenha a mínima chance de passar por essa vida sem cometê-los todos, inúmeras vezes. Eu, de fato, me arriscaria a dizer que a mãe de todas as nossas mazelas é a hipocrisia; e o pai… bem, o pai pode ser qualquer um, porque com uma mãe dessas não há a menor chance de se dar à luz qualquer coisa que preste.

Façamos, pois, um favor às nossas gerações futuras: deixemos de ser hipócritas! Comecemos por admitir que errar é inerente à nossa constituição embrionária e que a nossa luta para sermos bons é diária e intransferível. Quem sabe, então, não precisemos mais de tantas listas, placas, multas ou ameaças para nos manter na linha… na linha imaginária que nasce em cada um de nós, e que constitui a fibra que há de nos ligar uns aos outros, juntos, na intenção de sermos um pouco mais decentes do que temos sido até hoje.

Imagem de capa meramente ilustrativa: cena do filme “Pecado Original”

Você é feliz, ou finge ser?

Você é feliz, ou finge ser?

A felicidade é negligenciada.

Não, não estou falando que as pessoas não queiram ser felizes, é óbvio que elas querem. Todo mundo quer ser feliz, mas ninguém mais sabe COMO fazer isso.

A gente confunde felicidade com dinheiro, com carro do ano, com apartamento no Jardins. A gente acha que vai ser mais feliz com mais seguidores nas redes sociais, com mais gente elogiando a nossa foto nova, com um emprego que fascine as pessoas. A gente acha que vai ser mais feliz porque foi contratado pelo Itaú, enquanto os nossos conhecidos trabalham em empresas menores.

A gente se sente superior, e acha que isso é ser feliz.

Eu vejo toda hora gente falando de como a felicidade é sobre ser e não sobre ter, mas vejo pouquíssimas pessoas realmente vivendo isso.

Eu passei um mês no interior da Índia entrevistando refugiados tibetanos. Pessoas que perderam toda a sua família, pessoas que foram presas e torturadas, pessoas que perderam membros do corpo atravessando a fria fronteira do Tibete a pé. E eu te digo com toda a certeza do mundo: essas pessoas são infinitamente mais felizes do que as que eu convivo diariamente em São Paulo.

Elas são mais felizes porque elas são mais simples. Felicidade é sobre simplicidade.

Não estou dizendo que – necessariamente – quanto mais objetos materiais você tiver, menos feliz você vai ser; não é isso. 

Mas eu acredito que, quanto mais objetos materiais você PRECISA ter, mais isso mostra quem você é.

Todo excesso esconde uma falta.

Muitos querem se sentir importantes, poucos querem realmente fazer algo importante. 

Muitos querem ser respeitados, poucos querem dar respeito.

Muitos querem ser olhados, pouquíssimos olham pra si mesmos.

Muitos querem criticar, poucos fazem questão de elogiar.

Muitos querem ser ajudados, poucos querem ajudar.

É isso, ta aí algo que ninguém quer: ajudar. 

Dalai-lama falou certa vez que “Procurar a felicidade e ficar indiferente ao sofrimento dos outros é um erro trágico”, e eu não poderia concordar mais. Quando você ajuda alguém, você não se sente bem? Ajudar as pessoas faz bem não só pra quem está sendo ajudado, como pra quem está ajudando. Mas, mesmo sabendo disso, quantas pessoas você conhece que realmente fazem questão de ajudar? Quantas pessoas você conhece que fazem trabalho voluntário? Que doam seus pertences? Que levantam a bunda do sofá pra fazer algo por alguém?

Eu, sinceramente, conheço pouquíssimas.

A gente está sempre muito centrado no EU. As pessoas são extremamente individualistas, egoístas; estão sempre pensando nelas mesmas. 

Como você quer ser feliz quando não faz a mínima questão de causar felicidade em outros?

contioutra.com - Você é feliz, ou finge ser?
Chiang Mai, Tailândia

Acho que já está na hora de entendermos que a felicidade não depende de condições externas, e sim de condições internas; e que não adianta de nada saber disso mas não colocar em prática.

Se você é uma pessoa feliz quando está viajando e se divertindo com os amigos mas se sente depressivo quando está no escritório trabalhando, tenho uma coisa pra te dizer: você não é genuinamente feliz.

A gente vive numa sociedade que não dá a devida importância à saúde mental quanto ela dá ao sucesso financeiro, ou ao status. 

Sabe o que os refugiados tibetanos fazem, além de serem pessoas simples? Eles meditam. 

Já foi comprovado – por estudos ocidentais – que a meditação altera fatores químicos no cérebro que deixam as pessoas mais felizes. Mas ninguém medita, ninguém exercita o cérebro, ninguém faz terapia, ninguém nem lê. 

(A gente exercita o corpo – mas na grande maioria das vezes por uma questão estética e não de saúde. Ta aí de novo: o ter, e não o ser).

Nossa saúde mental é deixada de lado o tempo inteiro. Não é a toa que a gente é a geração com maior número de depressivos da história, com maior número de gente com crises de ansiedade, com maior número de suicídios. Não é a toa que as pessoas se matam em brigas de trânsito. Não é a toa que jogos como A Baleia Azul existam – e façam sucesso. 

 A gente não É, a gente só TEM. E esse é o nosso maior problema.

contioutra.com - Você é feliz, ou finge ser?
Chapada Diamantina, Bahia

Todas as imagens: acervo pessoal da autora

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“13 REASONS WHY”: você estaria na fita de alguém?

“13 REASONS WHY”: você estaria na fita de alguém?

“13 reasons why” é a nova febre da Netflix e vem arregimentando cada vez mais fãs, tamanha é a força de sua história. Utilizando o suspense e o elemento surpresa, a série prende a atenção desde o início, num crescente desenrolar de fatos e de personagens. O mote principal é o bullying, mas são incontáveis as reflexões que cada capítulo suscita em cada um de nós.

Uma das temáticas mais fortes que permeia a narrativa vem a ser o remorso, a culpa, aquela que nos acompanha enquanto vivemos e vamos nos perguntando por que agimos de determinada maneira e não de outra; por que deixamos passar momentos e pessoas; por que engolimos o que deveria ter sido gritado ou por que dissemos o que deveria ter sido calado. E, quando uma morte ocorre, essa dor da culpa vem a se juntar de forma pungente ao vazio que se instala.

Se pudéssemos prever as consequências, se tivéssemos como evitar certas atitudes e dizeres que machucarão os outros, mas não. E tem que ser assim, porque, muitas vezes, sofrendo a colheita de nossas escolhas é que conseguimos refletir e mudar, tornando-nos melhores. Infelizmente, muitos só valorizam depois que perdem, só entendem quando já não há mais volta, só aprendem na dor, batendo a cara contra o muro. O amor também ensina, mas poucos conseguem aprender por aí.

Não podemos é achar que temos de viver como bem entendermos, que nossos desejos devem ser saciados, que o que importa é fazer o que se quiser, o que se gosta. Quando se perde o outro de vista, algo dá sempre errado. O que fazemos não fica só em nós, pois existe gente à nossa volta. O raio de nossas ações é infinito, tanto quando acertamos, como quando erramos. Somos responsáveis por nós e por quem vive conosco, isso é fato.

Pior ainda é agir deliberadamente de forma maldosa, julgando, condenando, plantando discórdia e disseminando fofoca. Hannah enredou-se num círculo de maldades sucessivas, iniciadas pelos colegas de escola, simplesmente porque estes não conseguiram assumir o que eram e lidar com os próprios fantasmas. Plantar sementes daninhas, por menores que sejam, acabará por semear consequências negativas e imprevisíveis, às vezes muito piores do que se imaginava.

Dentre tantas reflexões que o enredo carrega, talvez uma das mais urgentes seja a necessidade constante da autoanálise, no sentido de revermos, em nós, a forma como vimos agindo, ao comportamento que vimos tendo, ao que e como dizemos. Qual é a nossa versão que os outros estão vendo? O que de nós eles vêm recebendo? Enxergar-se com os olhos do outro é um ótimo exercício de empatia e pode nos ajudar a perceber que nem sempre estamos sendo o nosso melhor.

Não conseguiremos ser amáveis o tempo todo com todo mundo, tampouco gostaremos de todo mundo com quem convivemos. Mesmo assim, não temos o direito de machucar ninguém, de maldizer e de destratar quem quer que seja, porque, da mesma forma que um sorriso pode mudar positivamente o dia de alguém, a rispidez pode machucar quem não merece, para sempre, de forma covarde e injusta. Não seja perfeito, mas tente ser melhor do que ontem. Dia após dia.

O amor que dá certo sabe que dias não tão bons acontecem

O amor que dá certo sabe que dias não tão bons acontecem

Imagem de capa: bondart, Shutterstock

Por mais que a gente sempre queira ver o lado do bom do amor, é preciso entender que nem todos os dias ele é perfeito. Em alguns momentos, estar com alguém significa dar as mãos para momentos difíceis, para instantes e problemas alheios ao próprio amor. Faz parte da vida encarar obstáculos e o quanto antes percebermos isso, mais chances temos de fazer o nosso amor dar certo.

É importante não camuflar tristezas e angústias. Quando as colocamos para dentro ao invés de para fora, o amor fica em ruídos. Uma das melhores partes de um relacionamento é entender que, sozinhos, a reciprocidade não chega a lugar algum. Reciprocidade se trata de dividir, sem medo, pensamentos e preocupações que possam estar nos impedindo de somar o nosso querer. Mesmo com a confiança não sendo a entrega mais fácil do mundo, a sinceridade deve ser a primeira escolha entre um abraço e outro. Porque não basta apenas esperar que o amor seja passeios, viagens e gentilezas prazerosas de dois. Ainda que possa ser tudo isso, do amor também é esperado dias ruins. E são neles que reconhecemos a sua cumplicidade e verdadeira essência.

Temos tempo para dizermos e, principalmente, escutarmos o que a outra pessoa sente. Talvez deixar pra lá ou depois não seja lá uma boa estratégia. Quem sabe, dedicar novas permissões e liberdades não traga uma troca serena, disposta e, por que não, amiga? Porque o amor é preenchimento da amizade. Quando adicionamos tamanho respeito pela nossa história, temos em comum motivos além das costumeiras regras e comportamentos amorosos que uma maioria insiste em pregar.

O amor que dá certo sabe que dias não tão bons acontecem. Porque ele busca, com coragem, aproximar-se do afeto que foi incumbido. Porque ele simplesmente não desiste de passar por cada proteção do coração que criamos no passado. O amor que dá certo não é teimoso ou chato, mas sim receptivo, empático e resistente. Com esses ingredientes, o amor é certo em qualquer instância, em qualquer dia.

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