Pare ou pire!

Pare ou pire!

Imagem de capa: mavo/shutterstock

Quantas vezes ficamos angustiados e aflitos sem nem sabermos direito pelo quê?! “Por tudo, ora!”: cobranças das mais variadas ordens chovem por cima de nós todos os dias.

O namorado/marido quer atenção. Os filhos nos exigem tempo e dedicação. O trabalho, constante aperfeiçoamento e o melhor desempenho possível. A sociedade, então, quer tantas coisas para nós, que não dá nem para enumerar, mas passa por estudar (o máximo possível), trabalhar (e ganhar muito bem), ter uma família e, acima de tudo, SER FELIZ! Te vira, então!

O problema nem é tudo isso, não. O problema é o que nós fizemos com todas essas cobranças. O problema é o que nós estamos nos cobramos. O problema é o que levamos a sério dessa loucura toda.

Tudo bem querer crescer, evoluir, ser uma pessoa melhor em vários aspectos. Super certo querer encontrar e desenvolver sua missão, o que lhe realize, o que faz o seu coração vibrar. Mas para conseguir tudo isso, não podemos estar pirados! Para concretizar o mais importante, temos que estar bem. E ficar bem, nesse contexto, passa por dar uma “freiadinha” vez ou outra. Dar um passo para trás. Olhar a situação de fora.

Viver criando expectativas para o futuro só gera “pré-ocupação” em vão. Passar nossos dias cogitando hipóteses do que pode vir a acontecer “se” isso ou “se” aquilo, é um gasto de energia completamente desnecessário. Gastar nosso precioso tempo concentrados em tudo o que não se tem, no que poderia ter sido feito diferente e/ou em tudo o que deveria ser mudado, nos impede de fazermos o mais importante: vivermos o PRESENTE.

Quando vemos, então, não sabemos nem como estamos vivendo efetivamente, pois a nossa mente está muito ocupada com o passado ou com o futuro, com as cobranças dos outros, ou com as nossas próprias cobranças. Tudo num mundo imaginário onde nada acontece efetivamente. É preciso dar um basta à nossa mente irrequieta. É preciso parar. É preciso deixar a vida acontecer, simplesmente.

Observar a vida fluindo… Curtir cada momento do dia, estando concentrado apenas e tão somente nele, por mais singelo e insignificante que pareça. Tal como comer sentindo o sabor da comida, por mais óbvio que isso pareça, mas, muitas vezes, não acontece. Ou escutar uma música sentindo a sua melodia.

Talvez precisamos, efetivamente, redescobrir o mundo. Fazer de conta que nascemos agora e estamos nos deslumbrando com toda essa realidade…

Deixar acontecer. Observar. Ir no ritmo da vida que se apresenta, dançar a sua música. Respirar. Se entregar.

Viver, de fato…

Um mundo de passado

Um mundo de passado

Imagem de capa: Ditty_about_summer/shutterstock

Os jovens costumam se referir aos velhos como os contadores de histórias. Eles, os jovens, têm razão. A maioria de nós – passadinhos dos 60 – não perdemos a oportunidade de aproveitar o presente para assaltar o baú de lembranças. Muitas vezes não vem só uma história, mas um cardume delas.

Aconteceu comigo, mês passado, ao cruzar a Ipiranga com a São Luís. Estava na companhia adorável do meu sobrinho Caio. Ele que está com seus trinta e poucos tem mais familiaridade com a Avenida Paulista e suas cercanias.

Foi uma festa mostrar o Edifício Itália, o Copam, a Escola Caetano de Campos, inaugurada em 1894 (hoje sede da Secretaria de Estado da Educação). Mais do que mostrar foi bom contar. Não tudo. Uma coisa ou outra. Por exemplo, eu fugindo da cavalaria da PM em 1977. Era uma passeata de estudantes.

Lembro que morrendo de medo busquei me esconder nos corredores do Copam. Também narrei para o meu sobrinho a noite em que jovens feministas, eu entre elas, subimos no restaurante do Terraço Itália e tentamos consumir sem pagar a conta. Conseguiram?, ele perguntou. Pois é, não lembro mais.

Essa é outra coisa que acontece. Lembrar a história por partes: ora o começo, ora o meio. Nem sempre o fim. No caso do Terraço Itália a aventura foi entrar em grupo, com cartazes escritos Tomemos a Noite. Foi a intenção e não o resultado da história o que teve relevância.

Penso que o cérebro, com o passar de tanto tempo, vai selecionando: Isso fica, isso sai. Isso eu guardo, aquilo eu jogo fora. Pois da mesma maneira que o fígado não aguenta o álcool de toda uma vida, o cérebro não comporta galões e galões cheios de memórias.

Talvez essa seleção explique porque duas pessoas trazem memórias diferentes de um mesmo evento. Outro dia eu e meu irmão, Júlio, ao recordamos do enterro da nossa avó Affonsina há 46 anos, quase nos altercamos por discordamos de alguns detalhes. Foi assim, eu dizia. De jeito nenhum, ele retrucava. Qual memória estará certa? As duas. Ou, quem sabe, nenhuma.

Arapucas. Quanto mais antiga a lembrança, mais fluida. Mas há memórias gravadas a fogo. Toda vez que eu vejo um vídeo ou foto do Museu de Arte Contemporânea de Niterói – o MAC – volto a 1970. Onde está o museu – que Oscar Niemeyer imaginou uma flor, mas o povo vê um disco voador – havia um terreno baldio. Terreno alto dando para uma paisagem de deslumbre.

O mirante da Boa Viagem era frequentado, à noite, por casais de namorados que encostavam os carros na beiradinha do precipício. Eles se pegavam, se beijavam tendo a Baía de Guanabara como cenário.

Durante os finais de semana, de dia, famílias também iam espiar a Praia das Flechas aos pés. Ao longe o Pão de Açúcar e o Cristo Redentor.

Nessa época, eu morava com meus pais e irmãos em Niterói, na rua Joaquim Távora, em Icaraí. O edifício chamava-se Moema. Dele guardo memórias boas. A padaria em frente que vendia o mais gostoso Mil Folhas do planeta. O começo da minha biblioteca com a coleção Imortais da Literatura Universal, da Abril. O prédio inteiro sacudindo com a acachapante campanha do Brasil na Copa de 70.

Também guardo uma memória de choque. Na escadaria de entrada do Moema, uma vizinha com o rosto desfigurado pela dor. Era uma manhã de domingo ensolarado. O marido, a mãe e um dos filhos da vizinha foram dar uma volta no Mirante da Boa Viagem. Sabe-se lá o porquê, o carro em que estavam mergulhou no precipício. Todos morreram.

Então toda vez que alguém menciona o MAC de Niterói, conto a história trágica da vizinha do Edifício Moema. É inevitável. Suspeito que se o ouvinte é jovem – não faz ideia do terreno antes do museu – deve comentar com seus botões: Esta senhora é uma inventora de histórias.

Pessoas boas também fazem escolhas erradas

Pessoas boas também fazem escolhas erradas

Imagem de capa:  puhhha/shutterstock

Muitos de nós insistimos em crer na bondade alheia, na verdade, na capacidade de o ser humano se redimir, arrependendo-se e melhorando com o tempo. Infelizmente, algumas coisas e determinadas pessoas não mudam, jamais mudarão.

Ninguém há de passar por essa vida sem errar, sem fazer as piores escolhas, sem amar a pessoa errada, sem falar a palavra menos apropriada, enfim, erramos todos, uns mais, outros menos. O que importa é aprender a partir de cada equívoco, para que se evolua dia após dia. Da mesma forma, optar pelo menos correto não quer necessariamente dizer que a pessoa seja má, mas apenas humana, gente de carne e osso.

Nosso raciocínio costuma cair nas armadilhas que os sentimentos, vez ou outra, teimam em nos criar. Não deveria ser assim, mas parece que o coração e o cérebro não dialogam entre si, como se fossem duas instâncias antagônicas e incomunicáveis. Lemos teorias, refletimos na prática, ponderamos com discernimento, no entanto, muitas vezes cai por terra nossa capacidade de análise frente a certas situações que agem diretamente sobre nossos sentimentos afetivos. E, então, o emocional acaba vencendo o racional.

É assim quando, mesmo tendo quebrado a cara repetidamente, acabamos dando novas chances à pessoa. Quando, no fundo, já sabendo que o outro era uma roubada, a gente se entrega com tudo. Quando, por mais falsas que as lágrimas alheias sejam, a gente se comove e perdoa, uma, duas, incontáveis vezes. Quando investimos num sonho furado, numa pessoa vazia, num amor que não pende só para o nosso lado. Quantas vezes a gente parece sofrer de amnésia, não é mesmo?

Fato é que ninguém consegue prever o futuro, por mais que se tente, por mais experiência que se tenha. Além disso, muitos de nós insistimos em crer na bondade alheia, na verdade, na capacidade de o ser humano se redimir, arrependendo-se e melhorando com o tempo. Infelizmente, algumas coisas e determinadas pessoas não mudam, jamais mudarão, porque a vida ensina somente quem estiver disposto a aprender. E tem gente que se nega a assumir erros, ou seja, nega-se ao aprendizado que todo dia lhe bate à porta.

Não estaremos isentos de andar pelos caminhos que deveríamos evitar, junto a quem não teria razão de estar conosco, porque, muitas vezes, as aparências enganam e por muito tempo. Felizmente, nunca será tarde para que possamos voltar às trilhas serenas e trazer para perto as pessoas sinceras e apaixonantes. Nunca será tarde para ser feliz, enquanto vida houver, enquanto nosso coração vibrar com os sonhos que construímos em nosso caminhar.

A sua realidade não é a do outro

A sua realidade não é a do outro

Imagem de capa: George Rudy/shutterstock

Tem vezes que temos absoluta certeza que estamos certos, que temos razão, que o nosso lado da história é o que faz sentido de verdade.

Estamos convictos, estamos presos a nossa própria percepção sobre aquilo que aconteceu. E quando nos sentimos donos da verdade, não retrocedemos, não pedimos desculpas, não levantamos a bandeira branca de jeito nenhum.

O problema é quando os dois lados se sentem assim, acham que estão certos, chegamos a um impasse e nada se resolve, são dois burros numa ponte, porque ninguém sai do lugar, ninguém dá o braço a torcer.

Na maioria da vezes, por causa de um mal entendido, as pessoas param de se falar. Por falta de diálogo, por falta de entendimento de ambas as partes, por falta de interpretação de texto, as pessoas se afastam umas das outras.

As pessoas falam, mas não se comunicam, ouvem, mas não escutam o que o outro tem a dizer de verdade, já ficam pensando no que irão responder, qual será a réplica, como irão se justificar.

Ficamos tão na defensiva, quando nos sentimos acusados de algo ou quando nos damos conta de que estamos errados e ao invés de simplesmente assumirmos nossa parcela de culpa, e admitirmos que estamos errados e retrocedermos, continuamos procurando culpados e apontando dedos ao nosso redor, por causa do nosso orgulho, para não darmos o braço a torcer.

Quando seria tão melhor buscarmos resolver, optamos pelo caminho mais fácil, que é nos afastar, pararmos de falar, nos distanciamos do problema e da situação.

E quase sempre o caminho que parece mais simples, menos tortuoso, que é mais conveniente pra nós, não significa que seja o melhor, o mais acertado.

Precisamos de tempos em tempos fazer aquilo que nos incomoda, aquilo que nos tira da nossa conveniência, aquilo que nos tira do lugar que já conhecemos, seguir pela porta mais estreita.
Quando damos um passo atrás em relação ao problema, observamos que o outro também tem seus motivos para estar chateado, que o outro tem suas próprias justificativas pra achar que está com a razão.

Quando colocamos o nosso orgulho de lado, quando nos desarmamos e nos colocamos no lugar do outro, podemos ver as coisas mais claramente, de forma cristalina.

Conseguimos nos dar conta que não existe uma verdade absoluta, o que existe são versões do mesmo fato, perspectiva diferentes de vida, visões antagônicas de um mesmo acontecido.

E quando baixamos a guarda e nos permitirmos ouvir o lado do outro, o que o outro lado tem a dizer, podemos nos surpreender e perceber que podemos ter agido errado também, que machucamos o outro sem querer e que o outro tem um fundo de verdade para estar aborrecido.

Quando caímos na real e entendemos que não estamos sempre certos, que não somos perfeitos, que podemos agir mal também sem termos a intenção de sê-lo, abrimos a guarda e deixamos o outro entrar, o outro voltar e damos a chance de começarmos de novo.

Aquilo que você compartilha te define?

Aquilo que você compartilha te define?

De repente todo mundo vira PHD em política. Políticas públicas, política interna, política externa, politicamente correto, atitude política. Você abre a tela das redes sociais e se depara com um ringue virtual.

E sobra desaforo para tudo quanto é lado. É “gente de direita” ameaçando “gente de esquerda”. É gente de esquerda desacatando gente de direita. Os ânimos se exaltam, a educação precária revela o triste quadro de um povo que escancara na Web sua falta de capacidade para o diálogo, sua intolerância diante de qualquer opinião que seja divergente da sua.

A questão central, no entanto, é que enquanto as pessoas se digladiam, arranjam inimizades, desfazem amizades por conta de defender partidos X, Y, Z; ou tomar as dores de celebridades políticas iminentes, aqueles que detém o poder amealhado nas urnas, ou por meio de cargos de confiança, estão pouco se lixando para nós.

A corrupção é tão antiga quanto é antiga a nossa história de gente colonizada. O comportamento desonesto e antiético prevalece nas relações políticas e de poder, pelo simples fato de que também são regra – e não, exceção – nas relações pessoais.

Embora seja pouco passível de reflexão, aqueles pequenos jeitinhos que a gente dá para ter alguma vantagem numa coisinha aqui, outra ali… explicitam em nossas condutas o quanto somos vulneráveis a ceder, quando o que está em jogo é a nossa pele.

Difícil! Dificílimo manter a retidão e a sanidade no meio do caos. Dificílimo conservar o pensamento generoso, quando rogamos a algum deus que nos escute e nos conceda o milagre de um emprego estável, quando a maior parte das empresas lança mão do questionável artifício de demitir funcionários antigos com vistas a contratar “gente nova” por um preço menor.

Quase impossível acreditar naquilo que se houve, nas notícias veiculadas pela mídia, já que a mídia tem todos seus rabinhos presos e amarrados às elites políticas, estando elas no poder do momento ou não. Não há opinião isenta, essa é que é a triste e redundante verdade.

E é exatamente por isso, porque não passamos de público, eleitores e trouxas à serviço daqueles que “governam por nós”, só que agem estritamente em causa própria, que não devemos nos oferecer para passar adiante qualquer tipo de bobagem que os meios de comunicação achem por bem nos enfiar pelos olhos, ouvidos e mentes.

Mais do que nunca, precisamos entender que enquanto estivermos assim, polarizados, somos frágeis e fáceis de derrubar. E é por isso, que eu faço essa pergunta: “O que você compartilha te define?”; ou você anda apenas reproduzindo falas e bandeiras alheias sem parar para refletir sobre qual é o seu papel nisso tudo.

Mais do que nunca, é preciso entender que a informação é o bem mais precioso, quando aliada à verdade dos fatos. Mais do que nunca, é preciso ir atrás de compreender que quem faz a história somos nós, e que estamos escolhendo um caminho muito perigoso, quando abrimos mão de pensar e nos tornamos apenas porta-vozes daqueles, cujo único objetivo é manter-se no poder.

Imagem de capa meramente ilustrativa: cena da série “House of Cards”.

Às vezes a nossa estranheza encanta alguém

Às vezes a nossa estranheza encanta alguém

Imagem de capa: YuriyZhuravov/shutterstock

“Buscamos, no outro, não a sabedoria do conselho, mas o silêncio da escuta; não a solidez do músculo, mas o colo que acolhe. Só podemos amar as pessoas que se parecem com o céu, onde podemos fazer voar nossas fantasias como se fossem pipas.” – Rubem Alves.

É extremamente difícil encontrar alguém que consiga se abrir para o nosso ser na sua completude. Nem todos possuem a capacidade de escutar os nossos silêncios, assim como, nem todos conseguem nos enxergar de dentro para fora. Por esse motivo, na maioria das vezes, sentimos aquela sensação de estar só, mesmo estando em meio a outras pessoas, já que quando o outro é incapaz de nos enxergar com todas as peculiaridades que nos forma, dificilmente nos sentiremos em companhia de outra alma.

Como disse Drummond: “Todo ser humano é um estranho ímpar”. Sendo assim, todos possuímos características próprias, trejeitos, maneirismos, esquisitices que nos caracterizam enquanto seres únicos e insubstituíveis. São as idiossincrasias que trazem essência ao nosso ser, que nos dão charme e nos tornam verdadeiramente atraentes aos olhos daqueles que se permitem ver e enxergar. O grande problema, contudo, está nisso: quantos de nós possuem olhos capazes de interpretar as “estranhezas” do outro como algo essencial a sua pessoa?

A bem da verdade, boa parte de nós sente dificuldade, seja em observar, demonstrar e absorver esse terreno de coisas peculiares que forma o que somos. E no meio desse problema cognitivo das lâmpadas da alma, sentimo-nos como que perdidos no meio de “tudo”. Sim, porque a gente se relaciona, está cercado de pessoas quase que o tempo inteiro, mas dessas, quantas de fato nos mostramos? E quantas nos dão guarida, sobretudo, no campo das nossas estranhezas?

O resultado disso se reverbera em relacionamentos inexpressivos e mecânicos, mergulhando sempre nas águas rasas da mesmice. Se a intimidade é o último refúgio, conhecemo-la muito pouca, embora acreditemos ter com ela muitas vezes. Entretanto, isso não ocorre como queríamos, uma vez que isso dependeria de um olhar mais abrangente para o outro, a fim de que dentro de nós os seus delírios encontrassem acolhida. Afinal – “É isto que amamos nos outros: o lugar vazio que eles abrem para que ali floresçam as nossas fantasias” – lembrando Rubem Alves.

E nesse espaço que se abre – não do lado de fora, mas na interioridade de alguém, e somente nele – que nos sentimos livres para nos despir de qualquer subterfúgio que utilizamos para encarar as banalidades do existir. Aliás, neste momento as próprias trivialidades mudam de sentido, porque tudo que fazemos, por mais simples que seja, revela as bases sólidas do nosso ser. Existe liberdade para ser e sensibilidade para sentir, porque o corpo está desperto, a alma se contorce em cócegas e a boca sussurra o gozo.

E, desse modo, encontramos o refúgio da intimidade, de almas que entendem que só é possível estar e sentir verdadeiramente alguém permitindo que ele seja o seu eu por completo, sem fugas ou restrições. Com todas as loucuras, esquisitices e sonhos, já que sem eles somos tão somente a penumbra da vida.

Não vale a pena, assim, se esconder em padrões para agradar quem não aprecia as suas idiossincrasias, sabemos que isso só traz mais vazio. É necessário estar desperto para ouvir aqueles que entendem das melodias da alma, já que são nestas que as nossas estranhezas mostram o seu encanto. Precisamos de pessoas que saibam interpretá-las.

Foi o tempo que dedicaste! Uma carta sobre o tempo e uma amizade

Foi o tempo que dedicaste! Uma carta sobre o tempo e uma amizade

Imagem de capa:  Elena Shkerdina/shutterstock

Outro dia eu te observava outra vez aguar as plantas e tu reclamaste, frustrado:”Elas demoram tanto para crescer!”

Pois é, meu querido amigo, as árvores crescem muito lentamente; as flores, às vezes, demoram para florescer; nós demoramos para amadurecer, tomamos muito tempo para entender certas situações, tardamos para descobrir como lidar com as pessoas, e assim por diante. Tudo é um processo com um consequente desprendimento de tempo – essa moeda de troca tão valiosa.

A Raposa tenta explicar isso no Pequeno Príncipe: “Foi o tempo que dedicaste a tua rosa que a fez tão importante”. Foi o tempo que dedicaste às tuas plantinhas que as fez tão importantes, amigo. Foram aquelas várias temporadas de trabalho e estudo árduos que te deram o conhecimento e sabedoria que tens hoje. Foram as semanas que dedicaste à exploração do mundo e de você mesmo que o fizeram amadurecer. São os dias que tu tens gastado caminhando por essa estrada tão sinuosa que vão fazer com que o ponto de chegada seja tão bonito.

Na amizade, esse processo é via de mão dupla, tem um efeito tanto verso quanto inverso, se é que tu me entendes. Foram todas as horas, minutos e segundos que dedicamos à nossa amizade que a fizeram tão importante para mim, para você.

Agora, imagine se o tempo não fosse personagem nessa peça. Nada valorizaríamos. Não precisaríamos optar entre esse ou aquele sentido de vida, não precisaríamos escolher entre um caminho ou outro, esta ou aquela pessoa, nada perderíamos, tudo seria opção e, assim sendo, nada teria real valor. Morreríamos por dentro, não achas?

Nesse sentido, a vida é comerciante, caro amigo, pois sempre nos cobra algo em troca de amor, felicidade, aprendizado, crescimento. A diferença é que, em vez de dinheiro, pede-nos nosso tempo. Obrigada por me ceder teu tempo (moeda tão preciosa).

O que uma viagem pode fazer por você

O que uma viagem pode fazer por você

Pode ser para muito longe ou logo ali. Pode durar meses, ou um final de semana. Ser viagem cinco estrelas, executiva ou mochilão. Para conhecer um novo lugar, esquecer uma história, comemorar, descansar, trabalhar…

Sair do lugar comum, literalmente, e ir para um lugar incomum, desconhecido, desafiador. Desarrumar a rotina, tentar adivinhar o que será, colocar os pertences dentro de um armário com rodinhas, e ir viver outros ares, pelo tempo que conseguir.

As viagens nos levam a lugares, sensações e estados de consciência que jamais reparamos. Uma vez longe de casa, nos transformamos. Nos damos conta do quanto somos adaptáveis ou não, sociáveis ou não, parceiros ou não. Uma situação que nos tira da zona de conforto, e, ao mesmo tempo, nos coloca na terra das novidades.

Nos enxergamos melhor usando espelhos diferentes. Uma viagem nos apresenta paisagens, pessoas, comidas, costumes. De tudo que vemos, é impossível não fazer comparações, não perceber identificações, não se modificar ao menos um pouco.

Fazemos de totais desconhecidos, amigos. Muitas vezes para toda a vida. Elegemos lugares impensados, como preferidos. Lembramos de pessoas queridas. Desejamos que estivessem conosco. Ficamos nostálgicos.

Experimentamos sabores e costumes diferentes. Observamos o fluxo de gente. Como se cumprimentam, as expressões nos rostos, o que comem, como se divertem. E entendemos que somos todos iguais, no final.

Viajar é dar um sossega leão no fluxo da vida. Reprogramar, aliviar, repensar.
Viajar é ficar longe para sentir saudade necessária.
Viajar é se sentir bem o suficiente para ir e voltar, e saber que o mundo funcionará muito bem na nossa ausência.
Viajar é fechar a mala e abrir os braços para o mundo. E voltar melhor do que partimos.

Havendo oportunidade, boa viagem!

“Eu sou assim e não vou mudar”. Como quiser, tudo bem, adeus

“Eu sou assim e não vou mudar”. Como quiser, tudo bem, adeus

Imagem de capa: Vikulin, Shutterstock

Não vai mudar? Deveria. Faz um bem daqueles trocar de opinião, sentimento e atitude. Mudar não é hipocrisia. Mudar exige coragem e coração. Mas faça como quiser, tudo bem. Permaneça assim, desse jeito. Só não vou ficar, tá? Adeus.

Cadê o respeito pelo diferente, você pergunta. A despedida é justamente por respeito, só não é o que você esperava. Primeiro, preciso entender do que sinto e penso. Alguns chamam de amadurecimento, entende? E olha que bacana, sabe como acontece? Mudando. Então, diga-me, é bom continuar sendo mais do mesmo?

Ainda em tempo, claro, você não pode deixar barato. Irá retrucar que não é tão simples, que é mais fácil falar e etc. De repente, até apelará para os astros, quem sabe? Não pretendo desdenhar das suas crenças e argumentos esotéricos mas, conforme expliquei anteriormente, estou de partida. Não quero ficar. Nesse caso, “eu sou assim e não vou mudar”? Talvez.

Talvez tenhamos uma arrogância definida pela leitura de querer que o outro mude. Enquanto isso, achamos que estamos nos aproximando de um comportamento evoluído. Mas nesse jogo de querer e não querer, quem não sabe, quem não se identifica, padece.

Hoje em dia, mudar é caso de urgência. Porque faz um bem daqueles continuar, mesmo sabendo que um adeus aqui e ali serão necessários para encontrar novos eus e novos vocês.

Um dia, o amor passa do ponto. Não foi o suficiente querer ficar

Um dia, o amor passa do ponto. Não foi o suficiente querer ficar

A realidade pode ser dura, algumas vezes. Nem sempre, querer ficar é o suficiente. Um dia, o amor passa do ponto. E tentar encontrar explicações que intercedam na separação, não torna o seu sentimento mais sincero do que o da outra pessoa.

Porque se você olhar de perto, o tempo ensina que cenários ideais são superestimados. Ter sorte no amor não contempla intensidades e, o que mais fazemos, é especular sobre elas. Mesmo soando natural e inofensivo, no fundo, estamos escravizando uma entrega que deveria encaixar por altruísmo, por liberdade. Mudar de ideia não é o problema do amor. Não poder sê-lo, naquele exato momento, é.

Você queria poder ter o controle de mudar as coisas. Queria, de alguma forma, manipular os eventos atravessados que estancaram esse bem que só fazia transbordar. Infelizmente, não é assim. Não combina com o amor transformar solidão em companhia, como num passe de mágica.

Agora, o que resta é continuar. É despejar aflições e faltas no travesseiro. É percorrer, um dia de cada vez, cicatrizes e promessas que não foram cumpridas. E vai doer, aprisionar e colocar os pés sobre o seu coração. Mas se o amor passa do ponto, a dor também passa. Daí percebe, o suficiente é você. E fica, mais uma vez.

Imagem de capa: Minha Noite Com Ela (1969) – Dir. Eric Rohmer

Relacionamento não é cura para a solidão, não é fórmula para ser feliz.

Relacionamento não é cura para a solidão, não é fórmula para ser feliz.

Imagem de capa: bedya/shutterstock

“Não é ansiando por coisas prontas, completas e concluídas que o amor encontra o seu significado, mas no estimulo a participar da gênese dessas coisas”. Zygmunt Bauman

Vivemos em uma era de pessoas resolvidas, independentes e que pregam, aos quatro cantos do mundo, o quanto são livres e o quanto anseiam por liberdade. Ok, mas o que vejo mesmo é uma sociedade imediatista que quer tudo para hoje, para já. Pessoas que substituem as escadas pelo elevador, o café de casa por um expresso comprado a caminho do trabalho, um cafuné por uma conversa virtual, cartas por mensagens nas redes sociais etc. Troca e agilidade permeiam as relações nos tempos atuais.

Só se pensa no sucesso profissional, nas teses de doutorado, no carro novo e nas viagens internacionais. Não que ansiar por isso seja errado, o problema está no tempo que investimos em todas essas coisas.

As pessoas anseiam por amores prontos, essa é a verdade. Infelizmente, não existe mais a ideia de participar da vida do outro, compartilhar coisas, sonhos e momentos. O que se vêem são pessoas em busca de “aventuras”, paixões rápidas, enfim, nada que seja duradouro, nada que as prenda ou mude os seus planos.

Não, relacionamento não é fácil e não é sinônimo de prisão – como é entendido. Não, relacionamento não vai fazer de você uma pessoa feliz, se você for uma pessoa triste, assim como não vai trazer felicidade. A regra é simples: ser feliz e encontrar alguém que transborde; nada de metades ou de tentativas de preencher vazios, pois essa certamente não é a função de um relacionamento. Uma coisa é certa: relacionamento está bem longe de ser essas coisas clichês que todo mundo diz; está longe dos mitos e das fantasias espalhadas por ai.

Relacionamento é algo que faz crescer, que faz com que você queira compartilhar com o outro os seus sonhos, os seus planos; que faz com que você o inclua neles, sem pensar duas vezes. Relacionamento, assim como tudo nesta vida, tem seus altos e baixos, mas com jeitinho, com paciência, você consegue lidar com as diferenças, com os medos, e aprende a domá-los.

O mal de muita gente é viver um relacionamento apenas quando ele lhe proporciona coisas boas, apenas quando as diferenças não falam tão alto e quando as coisas vão bem. O erro é não saber olhar para a dor do outro, de acalentar e saber acolher. Vejo muita gente desejando encontrar no outro a felicidade, sem saber que ninguém tem a obrigação de fazer o outro feliz.

O equívoco de muita gente é procurar um relacionamento pra curar problema, para ser apenas companhia, como forma de escapar da solidão. E, com isso, muita gente acredita que o outro precisa ser uma cópia exata do que almejamos, sem saber apreciar o novo.
Infelizmente, vivemos uma era em que perder tempo é custoso demais; as tecnologias comprovam o imediatismo das coisas. Vivemos calculando nosso tempo, nossos planos, vivemos colocando metas e controlando o tempo, para que possamos atingi-lo mais rapidamente.

Nessa correria doida, nessa necessidade de aproveitar o máximo das 24 horas que temos a cada dia e de querer exprimir tudo o que for possível, de dar conta dos trabalhos da faculdade, do barzinho com os amigos, de assistir àquela série, de trabalhar para comprar um carro novo, fazer uma viagem, é que se relacionar e assumir um compromisso tem perdido o seu lugar. Não há tempo para isso.

Não há tempo para incluir um outro alguém em nossa vida, nos nossos sonhos; não há tempo para remodelar nossos planos, para mudar o destino da viagem, se for preciso, ou trocar o fast-food por um jantar a dois. Queremos pessoas prontas, resolvidas, porque nos vemos assim. Mas, na verdade, é um grande engano. Temos muito o que aprender com o outro, temos muito o que mudar com e pelo outro. A verdade é que temos muito a crescer, a melhorar e, também, a ensinar.

Muitas pessoas estão sozinhas porque conseguiram expulsar todo mundo da sua vida

Muitas pessoas estão sozinhas porque conseguiram expulsar todo mundo da sua vida

Imagem de capa: Masson/shutterstock

Conseguiremos conviver somente se estivermos dispostos a abrir mão de algo, a analisar nossa parcela de responsabilidade no que acontece, a ouvir alguém que não seja nós mesmos. Relacionamentos requerem compartilhamento, entrega, empatia e altruísmo, ou sempre haverá um lado da balança pesando demais.

Estar sozinho pode ser uma opção, pois existem pessoas que não sentem solidão e conseguem lidar muito bem com uma vida solitária, inclusive nem procuram alguém. Por outro lado, há aqueles que não se sentem confortáveis não tendo ninguém ao seu lado e, por isso, não perdem a esperança em encontrar um parceiro de vida. Porém, algumas pessoas simplesmente conseguiram espantar qualquer alma viva de seu convívio, sendo a solidão o seu castigo.

Certos indivíduos não conseguem se relacionar, minimamente, haja vista sua personalidade difícil, sua relutância em abrir concessões de quaisquer tipos, sua língua afiada. Não é fácil relacionar-se com alguém, ainda mais hoje, quando o egoísmo parece ser a tônica dominante. Não muitos estão dispostos a abrir-se ao outro, a ouvir uma opinião diversa, a refletir sobre as próprias atitudes.

Conseguiremos conviver somente se estivermos dispostos a abrir mão de algo, a analisar nossa parcela de responsabilidade no que acontece, a ouvir alguém que não seja nós mesmos. Relacionamentos requerem compartilhamento, entrega, empatia e altruísmo, ou sempre haverá um lado da balança pesando demais. Isso tudo implica a consciência de que o raio de nossas ações vai muito além de nossos próprios jardins, ou seja, teremos que saber que não poderemos agir como bem quisermos o tempo todo, muito pelo contrário.

Por isso é que muitas pessoas passam a vida sozinhas, sem ninguém com quem possam contar de verdade. Viveram sempre desconfiadas de tudo e de todos, fechadas em si mesmas, querendo apenas agir de acordo com o que pensavam, sem abrir mão de nada por ninguém. Não iam às festas, porque não podiam perder a novela; não recebiam crianças de forma agradável, porque elas tiravam as coisas do lugar; não gostavam da prima, do cunhado, da vizinha, de ninguém enfim.

Obviamente, teremos que ter paciência com as pessoas, entendendo que há muitos comportamentos que podem ser mudados, quando nos dispusermos a ajudar, a chegar junto com carinho e sinceridade. Da mesma forma, muitos comportamentos podem ser tratados com ajuda de profissional competente. Mesmo assim, muitas pessoas não querem ser ajudadas, simplesmente porque acham que os outros é que devem mudar e não elas. Por isso é que permanecem sozinhas por toda uma vida, apesar de toda tentativa externa de levá-las para longe da solidão.

Nos ensinaram desde criança: para cicatrizar uma ferida, basta não mexer

Nos ensinaram desde criança: para cicatrizar uma ferida, basta não mexer

Imagem de capa: Soloviova Liudmyla/shutterstock

O ensinamento é certeiro. A teimosia em não obedecê-lo também e o motivo é simples: sofrer por amor é bonito. Amor sofrido transforma-se em arte, em música, em literatura e isso, talvez, explique porque tantos prefiram sofrer por amor em vez de buscar a cura.

Muitas vezes, o amor assiste à própria morte, em outras acaba devagar, dilacerando a alma dos envolvidos e, mesmo que ainda haja sentimentos, o relacionamento não deixa possibilidades de continuar. Rubem Alves, em toda a sua sabedoria, comparava o amor à liberdade: “amar é ter um pássaro pousado no dedo. Quem tem um pássaro pousado no dedo sabe que, a qualquer momento, ele pode voar”.

Somos livres, por direito e por vontade. Por isso, não podemos obrigar ninguém a permanecer ao nosso lado (ainda bem). As pessoas são livres para amarem, ficarem ou partirem. O problema está em saber lidar com isso.

Quando um amor acaba, perde-se o rumo: da vida, das coisas, do tempo. Os sentimentos parecem aflorar e a dor da saudade vem para nocautear qualquer vontade de recomeço.

Há tantas formas de um amor morrer. Há quem acredite em predestinação, outros em culpados. Para Carpinejar, por exemplo, o amor nunca morre de morte natural: “Morre porque o matamos ou o deixamos morrer. Morre envenenado pela angústia. Morre enforcado pelo abraço. Morre esfaqueado pelas costas. Morre eletrocutado pela sinceridade. Morre atropelado pela grosseria. Morre sufocado pela desavença. (…)Morre com um beijo dado sem ênfase. Um dia morno. Uma indiferença. Uma conversa surda. Morre porque queremos que morra. Decidimos que ele está morto. Facilitamos seu estremecimento.”

Toda história, boa ou ruim, deixa feridas. Por aprendizado, por traumas ou por (ainda) amor, mas deixa. E, até cicatrizar, toda ferida dói e dói muito. Às vezes, a cura está no silêncio, na quietude, não autocontrole. É necessário deixar o sangue sair, fazer um curativo e “esquecer” do corte. Pode ser que a cura demore mais do que você imagina, mas, quando menos se espera, cicatriza.

Fim de amor é como uma cicatriz. Quando um corte é cicatrizado, conseguimos ver que o fim de um amor, não é o fim da vida.. É só o final de um caminho, de uma escolha. Sempre haverá outros amores, outras oportunidades, outros sorrisos. Não deixamos de acreditar no amor como um malandro que vende ilusões. Amor é amor e sempre encontrará os dispostos.

Então, apenas não se precipite e não aceite menos do que você merece. Encare suas cicatrizes como um privilégio, afinal, elas estão ali para te lembrarem que você superou todas as dificuldades até hoje. E, se durante o processo de cicatrização, a dor for maior que a força, lembre-se do que disse Caio Fernando Abreu: “existe tanta coisa mais importante nessa vida que sofrer por amor”.

Nem tudo será perfeito mas a gente dá um jeito.

Nem tudo será perfeito mas a gente dá um jeito.

Imagem de capa: Svitlana Sokolova/shutterstock

Aqui do meu canto, olhando o sol à tardinha, penso em você que inda não veio. Você que por aí há de ver o mesmo céu alaranjado que eu. Que estremece quando acorda na solidão da madrugada, que chora com a esperança, a beleza e as canções que fazem a gente sonhar alto e cantar baixinho.

Daqui, penso em nosso amor tranquilo, forte, imperturbável, atento a suas próprias coisas, indiferente às questões alheias. Amor seguro, corajoso, destemido feito os velhos marinheiros, generoso como toda pessoa boa.

Como os cachorros que apontam os focinhos para o vento, adivinhando sinais distantes, imagino nossa calma dos domingos, nossa cama arrumada a quatro mãos, nosso dia depois do outro, nossos planos de vida inteira.

É tão certo o nosso encontro que eu já bem sinto saudade. Essa saudade alta, viçosa que nem mato crescendo na chuva. Saudade, esse bicho manso que chora baixinho, à espera.

Eu, que não sou de esperar muito, vou caminhando até você. Logo, logo eu chego. Ao redor do nosso encontro há de haver uma cidade bela, povoada de pessoas boas cuidando umas das outras. Um céu azul descarado lá em cima e uma moça linda, de cabelos soltos e alma livre, ouvindo divertida a nossa conversa aqui embaixo.

Você e eu contando nossas coisas, lembrando um parente ausente e uma sorveteria que fechou. E o sol se pondo como sempre. E a noite e a manhã seguinte esperando para nascer. E uma gente em paz seguindo em frente. Nem tudo vai ser perfeito mas a gente dá um jeito. Esse dia ainda chega. Esse dia chega, sim.

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