Nos ensinaram desde criança: para cicatrizar uma ferida, basta não mexer

Imagem de capa: Soloviova Liudmyla/shutterstock

O ensinamento é certeiro. A teimosia em não obedecê-lo também e o motivo é simples: sofrer por amor é bonito. Amor sofrido transforma-se em arte, em música, em literatura e isso, talvez, explique porque tantos prefiram sofrer por amor em vez de buscar a cura.

Muitas vezes, o amor assiste à própria morte, em outras acaba devagar, dilacerando a alma dos envolvidos e, mesmo que ainda haja sentimentos, o relacionamento não deixa possibilidades de continuar. Rubem Alves, em toda a sua sabedoria, comparava o amor à liberdade: “amar é ter um pássaro pousado no dedo. Quem tem um pássaro pousado no dedo sabe que, a qualquer momento, ele pode voar”.

Somos livres, por direito e por vontade. Por isso, não podemos obrigar ninguém a permanecer ao nosso lado (ainda bem). As pessoas são livres para amarem, ficarem ou partirem. O problema está em saber lidar com isso.

Quando um amor acaba, perde-se o rumo: da vida, das coisas, do tempo. Os sentimentos parecem aflorar e a dor da saudade vem para nocautear qualquer vontade de recomeço.

Há tantas formas de um amor morrer. Há quem acredite em predestinação, outros em culpados. Para Carpinejar, por exemplo, o amor nunca morre de morte natural: “Morre porque o matamos ou o deixamos morrer. Morre envenenado pela angústia. Morre enforcado pelo abraço. Morre esfaqueado pelas costas. Morre eletrocutado pela sinceridade. Morre atropelado pela grosseria. Morre sufocado pela desavença. (…)Morre com um beijo dado sem ênfase. Um dia morno. Uma indiferença. Uma conversa surda. Morre porque queremos que morra. Decidimos que ele está morto. Facilitamos seu estremecimento.”

Toda história, boa ou ruim, deixa feridas. Por aprendizado, por traumas ou por (ainda) amor, mas deixa. E, até cicatrizar, toda ferida dói e dói muito. Às vezes, a cura está no silêncio, na quietude, não autocontrole. É necessário deixar o sangue sair, fazer um curativo e “esquecer” do corte. Pode ser que a cura demore mais do que você imagina, mas, quando menos se espera, cicatriza.

Fim de amor é como uma cicatriz. Quando um corte é cicatrizado, conseguimos ver que o fim de um amor, não é o fim da vida.. É só o final de um caminho, de uma escolha. Sempre haverá outros amores, outras oportunidades, outros sorrisos. Não deixamos de acreditar no amor como um malandro que vende ilusões. Amor é amor e sempre encontrará os dispostos.

Então, apenas não se precipite e não aceite menos do que você merece. Encare suas cicatrizes como um privilégio, afinal, elas estão ali para te lembrarem que você superou todas as dificuldades até hoje. E, se durante o processo de cicatrização, a dor for maior que a força, lembre-se do que disse Caio Fernando Abreu: “existe tanta coisa mais importante nessa vida que sofrer por amor”.







A literatura vista por vários ângulos e apresentada de forma bem diferente.