Prometa-se o melhor

Prometa-se o melhor

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Declare-se apaixonadamente. Ame intensamente suas virtudes. Seja paciente com seus defeitos.

Quando feliz, irradie alegria, abra os braços, dê risadas sonoras, e, na tristeza, se cuide com carinho, um chocolatinho, um chá, um livro, bons amigos.

Prometa não se afastar da boa saúde, nem se entregar a qualquer doença sem lutar. Seja um sentinela a postos em favor do seu bem estar.

Desfrute das boas companhias até não poder mais. Delicie-se, aconchegue-se, peça colo, ofereça o seu também.

Não entregue suas fragilidades sob qualquer juramento ou promessas. Seja de confiança, confie nos seus julgamentos. Aposte nos seus palpites, defenda o seu bom senso.

Não permita que violem seu caráter nem seus critérios a não ser por sua vontade. Não se venda, não se liquide, não ponha preço, não pague qualquer preço para ser quem você não é. Ame-se de graça e com gosto!

Ignore julgamentos e críticas maliciosas. O mundo está cheio de juízes e conselheiros que não valem uma réplica. Devolva as ingratidões para o lugar de onde elas vieram, as espertezas, as vantagens aos que não vivem sem elas. Proteja-se das ilusões e principalmente dos ilusionistas.

Permita-se todos os dias um pequeno agrado. Uns minutos a mais no banho quente, uma mensagem para alguém bacana, um doce, uma passadinha na papelaria, um cinema no meio do dia.

Trabalhe de forma que o resultado seja admirável e o descanso, proveitoso.

Se convide para passear, para rodar o mundo, ainda que seja uma volta no quarteirão. Viva por inteiro, guarde o suficiente para realizar seus sonhos, não pague o preço do tédio nem da preguiça.

Não se afaste de si, jamais queira ser outra pessoa ou ter ao lado alguém para fazer as juras que você ainda não fez a si.

Não dispense afetos verdadeiros, mas não dê a eles a sua responsabilidade de ser feliz com o que tem no dia de hoje.

Faça juras de amor a si e torne legítima a sua relação de amor com a vida. A troca de alianças com o mundo lá fora será mais leve e fácil de escolher e entender.

Não fique contando com o que ainda nem aconteceu

Não fique contando com o que ainda nem aconteceu

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Nem sempre o chefe poderá dar o aumento prometido. Nem sempre o parceiro conseguirá mudar de atitudes. Nem sempre o dinheiro guardado para aquela sonhada viagem estará disponível. Nem nós próprios, inclusive, seremos os mesmos ao longo do tempo, pois ninguém consegue prever os imprevistos que aparecem pelo caminho.

Que todos precisamos de esperança, de sonhos, mantendo uma mente positiva e uma atitude otimista, ninguém nega. No entanto, é preciso cautela ao depositarmos expectativas demasiadas no que ainda não aconteceu de fato, no que ainda se encontra no nível das ideias, das palavras, das promessas, ou estaremos sujeitos a consecutivas decepções e frustrações, uma vez que quase nada é certo nesta vida.

Se as coisas dependessem somente de nós mesmos, seria diferente, mas não é assim que o mundo gira. Dependemos, em muitos aspectos, de que outras pessoas também façam a sua parte, cumpram o prometido, honrem as próprias palavras. Infelizmente, muita gente costuma dizer o que lhes vem à cabeça, de forma descompromissada e sem analisar o impacto do que dizem na vida dos outros.

Nem sempre o chefe poderá dar o aumento prometido. Nem sempre o parceiro conseguirá mudar de atitudes. Nem sempre o dinheiro guardado para aquela sonhada viagem estará disponível. Nem nós próprios, inclusive, seremos os mesmos ao longo do tempo, pois ninguém consegue prever os imprevistos que aparecem pelo caminho. Há muitas surpresas boas na vida, entretanto, como tão bem disse Forrest Gump, merdas acontecem.

Gastos inesperados, crise econômica, problemas de saúde, mudança de mentalidade, enfim, muitas coisas podem se colocar entre nós e nossos planos, eis uma verdade sofrida. Por mais que soe a pessimismo, manter os sonhos acesos, de forma ponderada e realista, sem fantasiar um mundo reto e previsível, acabará nos poupando de frustrações excessivas. Não se trata de esperar pelo pior, mas tão somente de esperar pelo palpável, pelo mais próximo ao previsível – isso é maturidade.

Lutemos, haja o que houver, mesmo que tudo concorra contra a realização de nossos sonhos, pois teremos de mantê-los vivos dentro de nós, de forma realista, sem fantasias, mesmo que adormecidos pelo tempo que a vida pedir, enquanto buscamos novas formas de chegar até eles. A gente cai, leva porrada, chora, a gente se quebra, mas aquilo que tiver de ser, encontrará um jeito de chegar, de nos encontrar. Ainda que demore, que se alongue por uma vida, mesmo que tivermos de aparar a dimensão do que queremos, para tornar os planos mais palpáveis, seremos felizes de fato, pois então teremos conquistado exatamente o que era para ser nosso.

Perto é muito longe

Perto é muito longe

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A primeira vez que viajei para a Europa, eu tinha 39 anos. Minha cabeça, como se dizia na época, estava feita. O que foi uma pena. Gostaria que a inspirada estética europeia – de seus parques, museus, casarios, histórias – tivesse influenciado meus anos de formação.

Mas outro pedaço do mundo cumpriu essa função. Foi na Colômbia, aos 20 e poucos anos, que inaugurei minha saída ao exterior. Logo depois, mochila nas costas, foi a vez da Bolívia, Equador e do maravilhoso Peru – com os encantadores Cusco e Machu Picchu.

Para todos esses lugares, retornei. Mas nunca senti o impacto da primeira visita. É claro, isso faz parte da natureza humana. Por isso a memória valoriza os primeiros: beijo, carro, palco, anestesia geral, passeata, sexo bom. O contrário sucede com o rotineiro.

Trilhar sempre o mesmo caminho pode nos dar conforto, segurança, mas também instaura o tédio. Daí a inquietante ambivalência em optar pelo sabido ou pelo desconhecido. Escolher entre o embarque doméstico e o internacional.

Para mim, o filé mignon de viajar para o exterior é a oportunidade de enxergar melhor como vivemos dentro. Por exemplo, descobrir o Brasil fora do Brasil. Parecido com a metáfora de deixar a casca do ovo para refletir com mais amplitude e perspectiva.

Foi num salão de salsa em Bogotá que descobri que dançar e festejar não eram talentos só dos brasileiros. Em Veneza, com seu caleidoscópio de canais e becos, tive a comprovação que mapas e guias nem sempre dizem a verdade.

É fato que viajar não é a única maneira de conhecer. Dizem que o carioca Machado de Assis (1839-1908) viajou, no máximo, para Niterói. Ou seja, apenas atravessou a baía de Guanabara. Mas ele percebeu o país de forma aguda e ímpar como demonstram seus vários livros.

Da mesma forma existem pessoas que nunca saíram de seus grotões, mas conhecem o regime das marés, as fases da lua e o que dizem nuvens e estrelas. Gente que viaja sem sair do lugar. Gente que pressente caminhos sem mover um dedo do pé.

O tempo, cicerone absoluto, vai nos mostrando a nascente e a foz dos rios de dentro, das paisagens da alma. Essas que dispensam filas de aeroporto, estações de trem, rodovias. Essas que ignoram fronteiras e viajam sem passaporte. Os rios interiores fazem, com os cinco sentidos, mares escancarados.

Toda vez que você insiste em quem não merece, desiste um pouco de si

Toda vez que você insiste em quem não merece, desiste um pouco de si

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O relacionamento está insustentável, as brigas são constantes e vocês discutem mais do que candidatos à Presidência. Não são raras as vezes que você engoliu a seco as desculpinhas para justificar os atrasos, a falta de respeito e as agressões psicológicas, mas, como te ensinaram que o verdadeiro amor tudo suporta, você permanece firme, acreditando que é esse tipo de relação que merece.

Se essa história parece familiar você precisa rever sua teoria sobre relacionamento. É preciso entender que relacionamento não é sinônimo de prisão. Você não deveria achar normal ter que trocar a cor do batom, nem não ser “autorizada” a ter amizades masculinas, nem aprender a falar mais baixo. Da mesma forma que não deveria proibir o futebol de domingo, a cervejinha do final da tarde, nem ligar trinta vezes por dia para saber onde ele está. Onde não há confiança, não há amor.

Sabe, o amor não aprisiona, não aperta, não machuca. Simone de Beauvoir dizia que “quando se respeita alguém não queremos forçar a sua alma sem o seu consentimento” e isso inclui a própria. Se as brincadeiras das rodas de amigos não te servem, saia fora. Se as situações te constrangem, não admita. Se as palavras te ofendem, não as receba. Não aceite nada menor que suas expectativas. Essa história de que “o amor tudo suporta” é bonito na teoria e inadmissível na vida real.

Insistir em um relacionamento tóxico é o mesmo que mutilar a próprio coração.

Insista em ter um bom emprego, em aprender um novo idioma ou em cursar a faculdade dos seus sonhos, mas nunca em um relacionamento abusivo. Toda vez que você insiste em pessoas erradas, você está deixando um pedaço seu morrer, além de correr o risco de perder a própria identidade e destruir a própria vida.

Não importa o motivo que te acorrente a esse relacionamento, você precisa quebrar as algemas. Talvez por medo, insegurança ou dependência emocional, você tenha permitido que a dor se tornasse rotineira e se convenceu que esse é o amor que merece, mas amar é muito diferente disso. Lembre-se sempre que o verdadeiro amor começa pelo próprio, depois parte para o recíproco.

O grande psiquiatra Flávio Gikovate fez uma crítica sobre o sentimento que deveria virar mantra: “amor é palavra usada e abusada. É dita por quem tem alguma ideia acerca do seu significado e também por aqueles que a repetem apenas por imitação. Usa-se mais a palavra amor do que vive-se o sentimento. E quantas são as pessoas que se sentem felizes no amor? Pouquíssimas. E quem é capaz de definir o que seja o amor? Quase ninguém. E como podemos pretender nos dar bem nesse campo se não sabemos nem mesmo como conceituar o sentimento?”

Quando a pessoa que diz nos amar nos define como alguém incapacitado, insignificante e nos humilha frequentemente, mesmo que de forma “sutil”, é hora de partir.

Jogue a toalha, chute o balde, abandone o barco. Lembre-se que quem mendiga amor, recebe-o como esmola.

Quanto menos a gente se arma, mais a gente se ama.

Quanto menos a gente se arma, mais a gente se ama.

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Hoje eu acendi uma velinha pra você. Fechei os olhos, apertei as mãos, pedi a Deus pra soprar o calor dessa chama até onde vai meu pensamento. Sei que Ele há de levar meu recado até aí.

Por aqui vai tudo assim-assim. O asfalto ainda envelhece como quando você andava por estas ruas. Vira e mexe nasce uma plantinha na rachadura do chão e eu corro para perto da sua lembrança. Pudera. É que eu me acostumei a ver você como a natureza insistente, rompendo a dureza das coisas sólidas com a leveza dos anjos, como um quintal de jabuticabas, passarinhos, cachorros, um paraíso manso cravado entre os prédios sisudos de uma cidade grande. Como a esperança firme, o trabalho honesto, o jeito que a vida sempre dá.

Toda essa gente armada até os dentes, desconfiada da própria sombra, brigando com quem encontra, correndo atrás do próprio rabo, também me faz lembrar você, do seu jeito de sorrir bonito, como quem escancara a porta para uma visita esperada e merecida. Então eu sigo confirmando que quanto menos a gente se arma, mais a gente se ama.

A saudade de você resiste feito tudo que há de bom no mundo. Essas coisas que sobrevivem a qualquer maldade. Quanto mais as atacam, mais fortes se tornam. Não há bomba que derrube os sonhos nem barulho que emudeça a alegria cantando infinita no coração da gente.

Andei mudando uma coisa e outra aqui embaixo desde que você se foi. Troquei de emprego, cortei o cabelo, comprei um sofá azul. Mas é um azul chamativo, escandaloso. Quem sabe você o enxergue aí de cima qualquer dia desses. É daqui que eu tenho assistido à tardinha que me faz lembrar você. Tem coisa que nunca vai mudar mesmo.

João não para de crescer. É um menino lindo, esperto, feliz, cheio de amor. Ontem me pediu pra comprar um presente que ele vai entregar “à menina mais bonita da escola”. Coisa simples, um potinho cheio de chocolate. Dei a maior força. Disse a ele pra escrever uma cartinha também. Está ali agora, empenhado, o coração feliz, a alma leve, derramando ternura no papel sobre o nosso sofá azul.

Não sei o que o João está escrevendo. Ele não quer que eu leia e eu respeito. Mas eu imagino que a cartinha dele seja cheia de esperança. Como a minha segue cheia de saudade.

Sua velinha queima tranquila como a sua lembrança. Clara e honesta como a sua presença ausente. Quente e viva qual a sua alegria que me marcou para sempre.

Hoje eu acendi uma velinha pra você. Tomara que o calor de sua chama a encontre em paz, vestida de luz e de sol, sorrindo para sua gente aqui embaixo. Essa gente que a leva no coração para sempre.

Pessoas mais seletivas evitam aborrecimentos futuros

Pessoas mais seletivas evitam aborrecimentos futuros

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É preciso selecionar as amizades a serem mantidas, os sentimentos a serem guardados, os ambientes onde nos demorarmos, as lutas que valem a pena serem travadas, os amores que merecem ser nutridos. Selecione, porque ninguém poderá fazer isso por você.

Quanto mais o tempo passa, quanto mais maturidade tivermos, estaremos menos dispostos a deixar por perto pessoas e coisas inúteis. Temos mania de carregar conosco, por tempo demais, bagagens que não são nossas. Temos certa tendência a aturar, além da conta, gente que não soma em nada, não acrescenta, não gosta e nem ama. É preciso selecionar.

É preciso selecionar as amizades. Podemos até ser cordiais com as pessoas, mas isso não deve significar que todas elas poderão caminhar junto conosco. Tem gente que emperra, não avança, nem possui a mínima noção de coleguismo. Por que, afinal, manter por perto quem nem se lembra de que existimos, quem não é capaz de perceber quando estamos bem ou não, quem não olha além de si mesmo?

É preciso selecionar os sentimentos. Não poderemos nos furtar de vir a sentir tristeza, culpa, solidão, desânimo, uma vez que somos mesmo gangorras emocionais por natureza. Porém, será nosso dever lutar contra a demora exagerada em terrenos dolorosos, em que só se patina, sem avanço, sem aprendizado, sem força para mudar, para melhorar.

É preciso selecionar os ambientes. Embora não consigamos evitar de frequentar lugares chatos e sem vida, por conta de obrigações pessoais, sempre estaremos aptos a escolher onde repousaremos nossa lida e fortaleceremos o nosso amor, com gente verdadeira, com sorrisos sinceros, com sentimentos recíprocos. Ninguém é obrigado a permanecer onde o ar parece rarefeito, onde não se respira com tranquilidade, onde o coração se cala.

É preciso selecionar as lutas. Ao longo de nossa jornada, teremos de enfrentar várias batalhas, com familiares, com desafetos, com nós mesmos que seja. Por essa razão, deveremos saber quais os embates que valerão a pena serem travados, ou esgotaremos energia inutilmente, explicando-nos para quem não quer ouvir, doando-nos para quem não sabe o que é gratidão, procurando quem nunca nos procura, mesmo sabendo onde estamos.

É preciso selecionar o tipo de amor que nutrimos. Não podemos aceitar amores rasos, pela metade, que não nos procuram, não nos devolvem, não nos reciclam. Aceitarmos amor que fere, que dói, que faz chorar, que traz equívocos, angústia e solidão significa conformar-se com o incompleto, com o que nunca foi, nunca é, nem nunca será amor de verdade, aquele que todos merecemos viver em sua plenitude.

Não se trata de exigências exageradas, de frescura ou de utopia, mas sim de saber o devido valor que temos dentro de nós, o qual não deve jamais ser posto à prova, por conta de carência e autoestima em frangalhos. Amar-se sempre será nosso maior escudo contra tudo e todos que tentarem fazer com que nos sintamos diminuídos, com que desistamos da nossa felicidade. Selecione, porque ninguém poderá fazer isso por você.

A doçura do mel não vale a picada da abelha

A doçura do mel não vale a picada da abelha

Me dá até um arrepio na nuca essa gente que fala manso demais, olha manso demais, parece mansa demais. Fico sempre com impressão que de uma hora para outra, a tal doçura em forma de gente vai começar a revirar os olhos e sofrer uma metamorfose bem ali na minha frente.

Esse tom de voz monocórdio é estratégia de marketing para pegar trouxa, isso sim! Eu, para ser bem honesta, reconheço a espécie só pelo faro. Deve ser por causa das incontáveis vezes em que tomei rasteira de “excelentes pessoas” e ouvi palavras destruidoras em voz de veludo.

E cá entre nós, há uma coisinha que eu mesma preciso confessar: sei lá por que cargas d’água, mas… quanto mais brava eu estiver, mais baixo eu falo. Pois é… esse fenômeno, em verdade, tem uma explicação bastante razoável: o timbre da minha voz é um pouco infantil; então, se eu aumentar o tom, fica parecendo criança fazendo birra, sabe como é? Melhor evitar.

Por outro lado, é bem verdade que eu devo ter entrado na fila da paciência umas vinte e cinco mil vezes. Sou dotada de uma paciência que beira o infinito. E isso vale tanto para experiências de vida, quanto para pessoas que cruzem o meu caminho.

Talvez tenha sido por isso a minha escolha profissional. Me encantam as pessoas com jeitos peculiares de ver e interpretar o mundo. Sobretudo, as crianças especiais me fascinam. E neste caso, no trato com os pequenos e também com os adolescentes, eu diria que não se trata de ter paciência, eu curto mesmo. Sou apaixonada pelo universo intrincado das mentes que subvertem a lógica, que não cabem nos espaços escolares, que extrapolam a capacidade de compreensão da educação formal.

No entanto, além da paixão pelo diferente, é preciso que eu reconheça que há habilidades correlatas à paciência que se fazem indispensáveis ao processo de aproximação desses indivíduos às esferas da aprendizagem. A tolerância é filha da paciência. A flexibilidade é filha da paciência. As mentes abertas são irmãs da paciência. O desejo de acolher e compreender a dor do outro é a alma gêmea da paciência.

E a doçura, quando genuína, é dessas coisas raras que só as pessoas raras são capazes de enxergar e oferecer. A doçura verdadeira é dessas coisas que a gente não aprende, nem ensina de propósito. Ela é da esfera das aprendizagens espontâneas, aquelas que moldam a gente de um jeito bonito; de um jeito que nos torna aptos para absorver o amor em sua essência pura.

A doçura do mel, no entanto, não vale a picada da abelha. E essa é uma reflexão extremamente poderosa e transformadora, porque nos convida a estar dos dois lados de um impasse simbólico tão antigo quanto a nossa existência nesse planeta. Tirar o mel, pode significar invadir o espaço alheio, naquilo que ele tem de mais íntimo e indevassável, subtrair do outro algo que foi construído à custa de muito esforço. E na face reversa, a picada da abelha nos remete à incapacidade de compartilhar afeto, a rejeição inesperada que ferroa o peito numa dor que nos pega de surpresa, e pode persistir para todo o sempre, caso a gente se apegue ao ferrão.

Então, que sejamos capazes de oferecer e receber doçura, apenas e unicamente quando ela vier daquele lugar lá dentro da gente, onde nascem os sentimentos puros e incorruptíveis. Caso contrário, o que sobrará do encontro com o falso doce será apenas a dor da picada, e nada mais.

Imagem de capa meramente ilustrativa: cena do filme “A vida secreta das abelhas

Sente-se e pegue um café. Precisamos conversar sobre pistantrofobia

Sente-se e pegue um café. Precisamos conversar sobre pistantrofobia

Imagem de capa:  pathdoc/shutterstock

Por definição, pistantrofobia consiste no medo exagerado de confiar nas pessoas, devido a experiências negativas do passado. Na prática é a atitude responsável por acabar com qualquer possibilidade de relacionamento.

Pistantrofobia é assunto sério, já que corresponda a um medo exagerado de tentar novos relacionamentos e não um medo sutil de envolver-se. Porém, há cura e é sobre isso que precisamos conversar.

Todos nós já fizemos escolhas erradas na vida, principalmente na vida sentimental. Convivemos com pessoas más o tempo todo: na academia, na fila do banco, na padaria, na família, no trabalho, no namoro e, muitas vezes, não nos damos conta do tamanho da maldade alheia. E por quê? Simplesmente porque as pessoas não trazem na testa uma placa dizendo “sou má, afaste-se!”.

Pessoas maldosas são tóxicas, pesadas e venenosas. Como não conseguem alcançar o próprio sucesso e serem felizes no amor, encaram a felicidade alheia como uma afronta ao seu fracasso e, muitas vezes, utilizam-se da frase “a maldade está nos olhos de quem vê”, para jogar no outro a maldade que fazem.

Somos humanos e, como tal, nossa natureza não é de toda boa. O bem incondicional, idealizado, sacro e perfeito que as religiões pregam é muito difícil de ser alcançado, mas não impossível. Chegar o mais perto que podemos da integridade, da bondade e do amor ao próximo é atitude de pessoas boas e racionais.

O problema é que há pessoas que alimentam suas almas com o fracasso e com a dor alheia. O relacionamento não deu certo, deseja que o outro sofra. Foi despedido do trabalho, deseja que a empresa entre em falência. Engordou, começa a denegrir a imagem dos outros para se sentir melhor. A verdade é uma só: as pessoas más precisam de tratamento psicológico e não de um romance.

O lado bom da vida é que para cada pessoa má, existem milhões de pessoas boas e, são nelas, que devemos focar. Ninguém é igual a ninguém e seu amor atual não tem culpa do que os anteriores fizeram. Acredite que dessa vez valerá a pena, que será diferente e que você será feliz. Entenda que para começar uma nova história é necessário deixar o passado para trás.

Nietzche dizia que “não poderia haver felicidade, jovialidade, esperança, orgulho, presente, sem o esquecimento”.

Diante de uma decepção amorosa, é normal que se cultive a dor por um tempo e que se continue a evitar novas histórias. Até aí, tudo bem. O problema está no fato de assimilarem o término com o fim de todas as outras coisas: fim dos sonhos, das expectativas e do casamento feliz.

Esqueça a traição que marcou sua vida, as palavras mentirosas que disseram sobre seu corpo e a rejeição que te fez recuar para um novo relacionamento. Pare de aceitar o que vier, selecione seus amores, suas amizades, seus afetos e entenda que querer viver um grande amor é uma coisa. Amar qualquer pessoa é outra bem diferente.

A sua felicidade nunca estará no passado, nem nas mãos de ninguém. Como dizia C.S Lewis: “existem coisas melhores adiante do que qualquer outra que deixamos para trás.”

10 filmes absurdamente apaixonantes gravados na Itália

10 filmes absurdamente apaixonantes gravados na Itália

A Itália é um país fascinante por suas belezas naturais, história, culinária e forma apaixonada de tocar a vida . Existe uma aura especial que cerca as terras italianas, como se nelas fosse mais fácil descobrir quem realmente somos. Os filmes selecionados a seguir falam, de uma forma geral, de amores e descobertas. Muitos dizem de mudanças que subvertem a forma de ver e viver a vida. Assistindo-os fica claro que quando nos encontramos, quando nos deixamos inundar pelo amor-próprio, fica muito mais fácil deixar-se envolver pela beleza da vida. Espero que gostem da lista! Alguns filmes estão disponíveis na Netflix e outros na internet.

1- Beleza Roubada / De: Bernardo Bertolucci, Reino Unido, França e Itália, 1996

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O filme Beleza Roubada do diretor Bernardo Bertolucci é uma obra belíssima e cativante, seja por seu cenário magnífico, a Toscana na Itália, que serve de inspiração para qualquer um, quanto por seus personagens marcantes. Após o suicídio de sua mãe, uma jovem de 19 anos (Liv Tyler) viaja para a Itália com o propósito aparente de reencontrar alguns amigos e ter o seu retrato pintado, mas na verdade ela quer rever o jovem em quem ela dera o seu primeiro beijo, quatro anos antes. Simultaneamente, ela pretende decifrar um enigma encontrado no diário da sua mãe. Um filme que fala de forma bonita sobre a perda da virgindade, assim como da juventude e sua delicada forma de enxergar a vida

2- Pão e Tulipas / De: Silvio Soldini, Itália – França, 2000

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Rosalba, uma dona de casa de Pescara na Itália, viaja numa excursão de ônibus com sua família. Ao parar em um restaurante de beira de estrada, ela é esquecida pelo marido e pelos filhos. Uma situação propícia para ela fazer o que sempre quis: conhecer Veneza, a cidade dos seus sonhos. Promovendo diversas reflexões, a trama nos convida a pensar sobre como interagimos com o mundo, em como por vezes nos acomodamos, em nossos sonhos esquecidos, em nossa necessidade ambígua de “voar em segurança”. O filme fala, de uma forma delicada, daquela necessidade de mudança que nos causa medo. Eu diria que a autodescoberta é o ponto forte do filme. Nele até mesmo Veneza é retratada bem diferente do que vemos nos cartões postais.

3 – Malena / De: Giuseppe Tornatore, Itália – EUA, 2001

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Em 1941, em plena Segunda Guerra Mundial, nada acontece na sonolenta Castelcuto, um vilarejo da costa siciliana. Ali vive Renato (Giuseppe Sulfaro), um garoto de 13 anos que de repente tem sua vida transformada radicalmente por uma descoberta que irá marcá-lo para sempre: uma avassaladora paixão por Malena (Monica Bellucci). Recém chegada no local e sem o marido, supostamente morto na guerra, cada passeio seu se transforma num espetáculo à parte. Um filme inesquecível que conta com a guerra como plano de fundo para um primeiro amor.

4 – Sob o Sol da Toscana / De: Audrey Wells, EUA – Itália, 2004

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Frances Mayes, interpretada por Diane Lane, é uma escritora que vive em São Francisco até se divorciar. Ela recebe como presente de amigas um pacote turístico para a Itália. Durante a excursão, Frances passa pela Toscana e num momento mágico resolve comprar uma casa com mais de 300 anos. Enquanto ela cuida de sua nova casa acaba conhecendo muitas pessoas, aprende a viver à moda italiana e se apaixona pela vida. O filme foi inspirado no livro “Sob o Sol da Toscana – Em casa na Itália” escrito por Frances.

5 – De encontro com o amor / De: Brad Mirman, França, Reino Unido, Itália, 2005

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Um aspirante a escritor decide trilhar um caminho em busca de seu ídolo e inspiração. Para tanto, Jeremy (Joshua Jackson) vai parar na Itália, em um refúgio rural onde vive o escritor Weldon Parish (Harvey Keitel) e suas filhas. No local, o jovem começa a ver que nem tudo que o escritor faz está de acordo com o que ele diz, e passa a conhecer um outro lado do seu ídolo. De quebra, Jeremy se apaixona por Isabella (Claire Forlani), filha de seu mestre. Um filme delicado, com muito romance e paisagens lindíssimas principalmente da pequena cidade de Chiusi, na província de Siena, na Toscana italiana.

6- O Turista / De: Florian Henckel von Donnersmarck, EUA – França, 2010

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Com dois nomes de peso no elenco (Angelina Jolie e Johnny Depp) esse filme tem sua segunda parte rodada completamente em Veneza, apresentando ângulos que, além de engrandecerem as cores da cidade, transportam o espectador para dentro dela. Na trama, Jolie faz uma criminosa perseguida pela polícia francesa que acaba usando um professor universitário, vivido por Deep, como disfarce para sua fuga até Veneza. Filme disponível na Netflix.

7- Comer, Rezar, Amar / De: Ryan Murphy, EUA, 2010

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Julia Roberts está espetacular nesse filme interpretando a escritora norte-americana Elisabeth Gilbert que resolve se divorciar e largar tudo, seguindo para a Itália, Índia e Bali. Em sua última parada conhece um brasileiro que faz seu coração bater mais forte. O filme é uma biografia encantadora da escritora e dentre outras locações mostra a Itália de um jeito carinhoso, como uma mãe que recebe a todos com muita espontaneidade e boa comida. É em Roma que Elisabeth aprende o “dolce far niente”, ou “o prazer de não fazer nada”. Esse filme foi inspirado no livro de mesmo título escrito por Elizabeth.

8 – Cartas para Julieta / De: Gary Winick, EUA, 2010

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Sophie (Amanda Seyfried) é uma aspirante a escritora que viaja para a Itália ao lado do noivo, Victor, (Gael García Bernal), que sonha em ter seu próprio restaurante. Em Verona, onde se passou a história de Romeu e Julieta, Sophie descobre uma antiga carta de amor e junta-se a um grupo de voluntárias que responde estas missivas amorosas. Uma comédia romântica que conquista também pelas belas paisagens da Província de Verona e da cidade de Siena. E, incrivelmente, existe na Itália um grupo que responde voluntariamente cartas endereçadas à Julieta. Quem quiser conselhos pode escrever uma carta ou um e-mail endereçado às ajudantes de Julieta. Veja como aqui. Os voluntários encaminham a resposta na língua natal do remetente. O livro de mesmo título do filme, escrito por Lise Friedman e Ceil Friedman conta tudo sobre as cartas e vale muito a pena também. Filme disponível na Netflix.

9 – Cópia Fiel / De: Abbas Kiarostami, Bélgica – Itália – França, 2011

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James Miller é um filósofo inglês que vai a uma pequena cidade da Toscana apresentar seu livro sobre o valor da cópia na arte. Chegando lá, encontra Elle, uma francesa que é dona de uma galeria de arte. Entre as paisagens românticas, o verde particular e as cidadelas medievais, os atores William Shimell e Juliette Binoche, que formam um casal bastante incomum, propõem o repensar do amor, das relações e de como desejamos realmente que as nossas vidas sejam (originais ou cópias). Um filme o qual podemos ver várias vezes, acumulando em cada uma delas mais perguntas do que respostas. Direção impecável do iraniano Abbas Kiarostami.

10 – Um Sonho de Amor / De: Luca Guadagnino, Itália, 2011

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Emma Recchi (Tilda Swinton) deixou a Rússia para seguir Tancredi (Pippo Delbono), que a pediu em casamento. Com o passar dos anos ela se torna mãe de três filhos e se acostuma à vida repleta de luxo, mas com pouca paixão. Um dia, em meio a uma festa, ela conhece Antônio, com quem posteriormente inicia um romance. Um Sonho de Amor tem a Itália atual como ambiente, mas o cenário é o de uma aldeia global. O filme trata de um tema universal, a libertação feminina. Fala da sexualidade da mulher e do domínio dela sobre seu corpo e mente. Fala da possibilidade de seguir por caminhos que levem à felicidade. Disponível na Netflix.

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Querida mãe,

Querida mãe,

Imagem de capa:  Brainsil/shutterstock

Amanhã é seu aniversário e meu presente será a saudade.
A mágica do tempo leva embora o luto e deixa as lembranças que identificam nossos papéis na vida.

Não foi fácil a nossa vida, não é mesmo? Você, de tudo o que passou, pouco ainda acreditava na felicidade. Eu, cheia de vontade de ser feliz, por muito tempo não tive capacidade de entender como doíam suas cicatrizes e o quanto você foi cortada e intimidada.

Você me deu o seu melhor, ainda que acompanhado de uma enorme rudeza, na estratégia de me preparar para as decepções da vida.

Tivemos momentos felizes. Breves. Eternos.
Sofremos de uma constante incompatibilidade de visões. Nadamos juntas no oceano da vida, ainda que jogando água no rosto uma da outra.

Uma mulher de um metro e meio, uma enorme e corajosa mulher. Enfrentou tudo o que se pôs no caminho, até mesmo os inimigos imaginários, frutos da história de dor e abandono.
Confiança era uma palavra difícil de assimilar. Ninguém é de confiança, você dizia.

Que mundo amargo e inimigo que você teve que desbravar! E me proteger, como sua missão.
Chegamos ao ponto de romper mil vezes, mas nunca o fizemos. Ainda bem.

Na doença, a vida nos deu a chance de nos perdoar mutuamente. A mim, me deu o tempo que eu precisava para te reconhecer, entender sua fragilidade e seu enorme medo de enfrentar as próprias emoções.

Sinto saudades de você. Sinto alívio por agora sermos mãe e filha que não se estranham mais. Sinto alegria por ter lembranças de todos os tipos. Sinto orgulho por ser quem sou e saber de onde venho. Sinto que tudo foi exatamente como deveria ter sido.

Somos uma família de mulheres que buscaram caminhos diferentes para desbravar a vida. Você, na força. Eu, na palavra. Sua neta, essa se parece bem com você, mas com o mágico toque da evolução da espécie.

Hoje, meu sentimento é de missões cumpridas. Ambas.
Comemorarei seu aniversário te contrariando, com muita alegria e nenhuma desconfiança por me sentir bem.

Te amo, mãe.

O maior presente que um pai pode dar a seu filho é amar a sua mãe

O maior presente que um pai pode dar a seu filho é amar a sua mãe

Ninguém é obrigado a ficar junto de quem não ama mais, nem ninguém merece manter um relacionamento fracassado por conta de aparências e por ter de prestar contas à sociedade. É impossível ser e fazer alguém feliz quando se permanece onde amor não há. Sendo assim, quando se opta por ficar e permanecer junto, há necessidade de amar em palavras, atitudes, olhares e gestos. Amar com verdade e reciprocidade, que torna tudo ainda mais gostoso e bonito.

Infelizmente, muitas vezes, em nome dos filhos, certas pessoas continuam arrastando um casamento que já terminou, supondo que a separação iria trazer muitos danos a quem ali está envolvido diretamente. Não raro, por medo de que os filhos sofram muito, por exemplo, há pessoas que não conseguem se libertar de um relacionamento que nada lhes provoca além de dor, tristeza e desesperança. Escolhem não viver, porque assim acalmam seu sentimento de culpa por terem fracassado no amor.

No entanto, caso mantenhamos um casamento falido, às custas de nossos sorrisos e brilho no olhar, será impossível conseguirmos disfarçar nossa infelicidade a quem quer que seja, principalmente aos filhos. Achar que eles não perceberão a realidade do que se passa com os pais significa lhes subestimar o mínimo de bom senso e inteligência. Filhos são fortes e capazes de entender nossas escolhas, por mais que demore, pois querem também a felicidade dos pais.

Sim, é inegável que preferimos ver nossos pais juntos, mas juntos e felizes. O lar é onde repousamos nossos medos, onde descansamos nossas tempestades, onde repomos nossas energias. Nada melhor do que ter um lar para voltar ao fim do dia, onde o amor se instale de maneira natural e verdadeira. Nossos pais são exemplos para nós e vê-los juntos de fato nos faz acreditar na mágica do amor, na cura e no alívio que esse sentimento carrega em seus domínios.

Porém, esse exemplo também pode ser dado quando os pais se mostram corajosos o bastante para perceberem que não mais poderão viver juntos e que terão de se separar. Um rompimento maduro e consciente, afinal, transmite aos filhos lições importantes, como a necessidade de se buscar incansavelmente a própria felicidade, porque, sem ela, ninguém conseguirá se manter inteiro e a capacidade de o ser humano recomeçar, enquanto houver um amanhã. Porque amar também pode significar deixar o outro ir, para ser feliz, mesmo que lá longe. Isso envolve amor, sim, principalmente o próprio.

Da mesma forma que o amor dos pais juntos é benéfico, tudo o que esse amor construiu e o respeito entre pai e mãe, ainda que se separem, sempre será um exemplo de vida aos filhos. O amor é o exemplo, mas amor com verdade e respeito, amor que respeita o espaço do outro, amor que se importa, amor que dá frutos. Até mesmo o carinho que fica quando o amor acaba, mas permanece dentro de cada um, como lembrança de que jamais deveremos desistir de amar.

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*O título deste artigo é uma citação atribuída a J. Kemp.

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Para o outro lado do abismo

Para o outro lado do abismo

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Eu sei, tanto quanto não gostaria de saber e imagino que você também já saiba, dessa forma insuportavelmente consciente, que todos nós temos os nossos abismos.

Caminhamos entre eles vendo os outros de longe, carregando o inevitável paradoxo de não podermos simplesmente ignorar, que temos um abismo só nosso que é também um abismo de um outro, que é um abismo só dele e, assim, tentamos nos comunicar. Há modos infinitos dentro de um limite restrito, multiplicado por peculiaridades muito sutis.

Eu tenho observado, dessa forma insuportavelmente consciente, como imagino que você também faça já há algum tempo. Depois de encarar o abismo, não há raciocínio que resista a uma profundidade imensurável para chegar ao outro lado. Desistir é sensato. Buscamos outras saídas. Aqueles modos infinitos dentro de um limite restrito, multiplicado por peculiaridades sutis.

Muitos gritam tentando se comunicar e se alegram ao serem ouvidos, mas não escutam bem e não sabem, também, o quanto, do outro lado, podem lhe escutar. Continuam, ainda assim, berrando entre si, encomendando atenção para não sucumbir ao desespero de mergulhar, novamente, na profundidade densa, entre um e outro, abismo.

Existem os que dispõem também de gestos dramáticos, cômicos ou metódicos. É verdade, desenvolvem seus métodos mímicos para se fazerem entender, mas não enxergam bem e não sabem, também, o quanto, do outro lado, podem lhe enxergar. Continuam, contudo, convictos a se gesticularem, alimentando com a sua dança solitária a fantasia de conexão, para não sucumbir à solidão sóbria de assumir a profundidade densa, entre um e outro, abismo.

Há os que constroem castelos, montam bancas, ornamentam o corpo com ideais imaginários para se fazerem distinguir, mas não distinguem muito bem e não sabem, também, o quanto, do outro lado, são distintos. Acumulam, de qualquer forma, infantarias estéticas para prevenir o vazio profundamente denso, entre um e outro, abismo.

Inúmeros levantam bandeiras, marcam territórios ideológicos, atacam, revidam e se fazem, a seu ver, referência .Mas não assumem outros limites que não sejam os seus e não sabem, também, o quanto são, do outro lado, limitados. Persistem, todavia, em seus duros enquadramentos, cultivando a ingenuidade para atenuar a fatalidade da profundidade densa, entre um e outro, abismo.

Como antes eu disse, mas imagino que você já sabia, dentro de um limite restrito, há modos infinitos. O paradoxo é inevitável. O corpo contornando uma individualidade irremissível, que só se delineia única porque outros corpos se contornam distintos, do outro lado daqueles abismos que compartilhamos, mas que é só nosso.

Desprovidos de utopias, como suportaríamos? Há vários, de tão frágeis quase invisíveis, que se jogam no vão, entre um abismo e outro, confrontando a profundidade densa com um mergulho de cabeça. Um mergulho infinito. Desses, os olhos embaçados já não permitiam ver o outro lado, nada que não fosse, abismo.

Acidentados, existem, ainda, aqueles que tentaram fazer ponte e, tornaram-se ponte, pois não tiveram quem os levasse para o outro lado. Se cansam cedo, esticados, esgotados, pisoteados diariamente entre um abismo e outro, com vista privilegiada para a profundidade densa, abismo.

Eu sempre soube, como imagino que você também sabia desde o início, que ignorar é a salvação. Só o que não consegui descobrir é salvação de quê. Poderíamos viver de tentar encontrar uma saída – uma forma de alcançar o outro lado, de tocar com os sentidos, de falar sem ser no grito, de ouvir no pé do ouvido –, sem corrermos o risco de escorregar e desabar na profundidade densa do abismo, exatamente como vivemos no esforço ignorá-lo.

Poderíamos, como fazem os raros, melhor diria, lendários, nos isolarmos em nossa própria profundidade densa e nos descobrirmos abismo em harmonia com todos os outros abismos. Poderíamos muito, podendo tão pouco, como podemos agora. Mas eu ando em tormento com essa consciência insuportável, sem querer ignorar, sucumbir, me isolar ou me perder nos labirintos da razão.

Não tenho respostas nem objetivo. Diante de mim é lúcido, esse cenário quase onírico de que,semelhante ao que acontece com todos os outros, há um abismo entre eu e você. Não encontrei meios de contorná-lo, pois eu sei, como imagino que você também já saiba, que desses meios não dispomos de verdade.

No tormento dessa consciência insuportável, ao contrário do que imaginam os que me veem de longe, mas não enxergam muito bem, não sofro de desespero e, por isso, não me saem os gritos dessa tempestade tranquila, eles não nasceram. Você não escutaria bem. No fértil paradoxo inevitável cresce o silêncio que pode ser ouvido inteiro.

Dos gestos, disponho do necessário, deixando-os para a dança do encontro – essa utopia de sustentação que me mantém aqui, de pés firmes, desse meu lado do abismo. De qualquer forma, você não enxergaria bem. Abro espaços à contemplação que melhor se demora na suavidade espontânea do que nos dramas forjados.

Deixei, também, as bandeiras de lado, arruinei castelos e ornamentos, para não me cegar com distrações e, quem sabe, seguir de um abismo a outro, sempre que tiver a chance. Pois eu sei, como imagino que você também já saiba, que entre os tremores e imprevistos, passagens fugazes se revelam entre os limites profundos e densos dos abismos.

Mas eu não tenho respostas, objetivo ou salvação. É que eu descobri mais cedo, como imagino que você também já tenha descoberto antes, que existir é mesmo meio sem sentido. Então, fiquei em paz ao te ver do outro lado, tão distinto em toda a sua ausência.

Pensei: pode ser, quando vierem os tremores e acidentes… Foi quando uma folha pródiga me tocou na lembrança da leveza e da intenção transformada em carta avião ou pássaro. E não há abismo que resista à profundidade densa dos espaços, entre uma palavra e outra, escrita.

Apetite não é paladar. Apego não é amor.

Apetite não é paladar. Apego não é amor.

Imagem de capa: Antonio Guillem/shutterstock

O tempero da comida é a fome…

Não será que a privação, o desespero pela saciedade possa mascarar inclusive o gosto da conquista?
Matar a fome é imperativo. Sentir prazer, apreciar a comida, escolher o que mais agrada, aí já outra experiência.

Na urgência de nos apegarmos a alguém, confundimos apetite com paladar. Queremos rápido, correndo, para ontem. E, nessa urgência, achamos que o que estiver disponível servirá. Já com as necessidades imediatas garantidas, então queremos qualidade, personalidade, exclusividade. E não será na bandeja rápida do lanche da esquina que teremos tudo isso.

A fome é urgente. O paladar, escolhe e espera para ter o que deseja. No apego, a carência morre de fome. No amor, a liberdade é o tempero mais forte.

Quanto mais tempo passa, mais a fome aumenta. Mas não é porque ela aumenta, que qualquer coisa vai servir, ou, que se deve comer mais do que a conta. Como nas relações, o apego não pode abocanhar nenhuma individualidade. Mesmo que a fome seja intensa.

Querer tudo e querer depressa já demonstra uma desorganização que certamente irá comprometer qualquer equilíbrio que queira se instalar. Apego que se fantasia de amor é sentimento faminto louco para devorar o outro. E sem restrições, critérios ou culpa.

Se conhecer, entender e aprimorar as preferências. Ir mais fundo no que se aprecia, buscar pares e simpatias. Isso é conhecer o paladar. Para comer e para amar.

Lembre-se de quando estiver com muita fome e acreditar que qualquer coisa será um alívio.

É possível que depois da saciedade, venha uma tremenda indigestão.

Nos encontros da vida, também.

Sou apaixonado por pessoas interessantes

Sou apaixonado por pessoas interessantes

Imagem de capa: Rawpixel.com/shutterstock

A vida costuma nos presentear com pessoas especiais, aquelas que nos mostram que sinceridade e sentimentos verdadeiros são o maior tesouro que podemos possuir. Pessoas interessantes são exemplos de doação, de empatia, de amor descompromissado e de amor-próprio, regados na medida certa.

Em meio a tanta gente fútil e vazia de conteúdo, a vida costuma nos presentear com pessoas especiais, que trazem luz e alegria para nossas vidas, tornando-nos melhores, fazendo-nos acreditar na esperança de um mundo melhor. Olhar à nossa volta muitas vezes desanima, pois veem-se quadros pouco inspiradores, recheados de violência e miséria; porém, ainda existe, sim, gente que faz a diferença.

Não é fácil manter o bom humor e o otimismo no dia-a-dia a que nos misturamos mecanicamente, repetindo ações, forçando sorrisos e correndo contra o tempo. Somos bombardeados por imagens em que a felicidade se atrela a corpos perfeitos, dentes brancos, cabelos impecáveis e consumo desenfreado. Nesse contexto, é quase impossível ser feliz com o pouco que se tem, comparado às ostentações que abundam pelos veículos midiáticos.

Muitos de nós, por isso mesmo, acabamos nos perdendo de nossa essência mais humana, achatando nossa carga afetiva, robotizando-nos junto aos objetivos de vida que tão somente visam à aquisição de bens materiais. É como se a perfumaria francesa fosse capaz de camuflar a ausência de odores da alma; como se uma casa de vinte cômodos fosse suficiente para aninhar um lar de amor e cumplicidade. Esquece-se de que amor vem de dentro, ou seja, não dá para encontrá-lo nas vitrines das grandes magazines.

Então, como que para nos resgatar desse abismo vazio e fútil, somos surpreendidos pelos encontros com as pessoas interessantes, que nada mais têm a oferecer do que aquilo que carregam dentro de si. Elas nos mostram que sinceridade e sentimentos verdadeiros são o maior tesouro que podemos possuir. São exemplos de doação, de empatia, de amor descompromissado e de amor-próprio, regados na medida certa.

Pessoas interessantes são também apaixonantes, porque conseguem irradiar luz e esperança em meio a tempestades e vendavais, sorrindo, acolhendo, motivando e mostrando sempre que o mundo e a vida têm jeito, para muito além da desesperança. Não são, ao contrário do que se possa pensar, utópicos lunáticos, porque agem e se comportam de forma a espantar a tristeza onde e com quem estiverem.

Não conseguiremos manter a alegria e o bom humor o tempo todo, mas saber que existe alguém que está pronto a nos receber com disposição e afetividade sincera fará toda a diferença em nossas vidas, sempre que precisarmos de um ombro amigo. Por isso é que sou apaixonado por pessoas interessantes. Elas merecem.

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