Naquele tempo, quando não existia WhatsApp

Naquele tempo, quando não existia WhatsApp

Naquele tempo, quando ainda não existia o whastapp, a gente mandava bilhetinho quando tava afim. Mandava pela amiga que enviava paro o amigo até chegar nas mãos de quem a gente queria. A gente quase não dormia a noite pensando se viria uma resposta e quando vinha, era como se fosse o papel mais precioso do mundo, que chegava a se rasgar de tanto abrir e fechar.

Naquele tempo, a gente mandava cartas com canetas de glitter coloridas e cheia de adesivos tirados da primeira página do caderno. Escrevia sobre sentimentos com desenhos de coração ao lado, e tinha até envelope de cor . A gente ia nos Correios e esperava o carteiro! A gente passou a ter o carteiro como aliado.

Naquele tempo, quando ainda não existia o Facebook, a gente inventava uns questionários malucos com perguntas absurdas pra saber mais da vida do outro. Naquele tempo, quando não tinha foto digital disponível pra ficar olhando o tempo todo, a gente pegava aquela amiga cúmplice e passava na frente da casa da pessoa esperando que ela aparecesse na janela só para trocar uns olhares. A gente passava de novo e de novo e essa esperança nunca terminava.

Naquela época, marcar de beijar era o maior evento do ano. Tinha que ser tudo armado e tinha sempre os amigos para fechamento. Depois de um tempo, quando chegou o sms, nós não tínhamos a confirmação de leitura da mensagem, mas tinha aquele um toque de chamada que queria dizer ” estou pensando em você”!

As coisas mudaram mas uma coisa ainda ficou: o frio na barriga do primeiro beijo, a expectativa dos encontros, e os medos que envolvem em se apaixonar. Modernidades à parte, ainda somos movidos a paixões, atualizando constantemente as formas de comunicar os nossos sentimentos. E que eles jamais se percam no meio dessa velocidade e praticidade de comunicação.

Imagem de capa: MRProduction/shutterstock

Tire o pé. Até a alma que é eterna não vive sem férias.

Tire o pé. Até a alma que é eterna não vive sem férias.

Procuro casa na praia para merecido remanso. Não precisa ser grande, não. Quarto, sala, uma cozinha no jeito, um banheirinho. Perfeito. Carece mais nada. Vou sozinho. Quer dizer, vou com esta alma cansada. Mas ela não conta, não quebra torneira, não suja nada. Ninguém a vê. Não ocupa outro espaço senão aqui dentro. Não quer outra coisa senão descansar, sossegada, pertinho do mar.

Ali no arredor, se tiver uma quitanda, melhor. Minha alma aprecia cheirinho de fruta. Sendo ao lado, a gente caminha até lá, cedinho, comprar abacaxi descascado, laranja, banana, mamão, maçã, lichia. Essas coisas pra comer de manhã, todo dia.

Vizinhança se for tranquila, a gente agradece. Nada contra o barulho da juventude, as festas de madrugada. Mas minh’alma anda esgotada, carecida de quietude. Não por nada, a gente prefere lugar recatado. Um predinho de aposentado, uma vila escondida, com síndica velhinha e guarida.

De frente pro mar é exagero. Decerto seria um encanto, mas a grana não dá para tanto. Se da janela se avistar o poente, pronto. Já tá bom pra gente.

Perto da praia, sim. Pra ir a pé de manhã, pensando na vida, sem hora, sem pressa, sem culpa de nada, sem medo de tudo, e voltar só de tardinha, descalço, cansado, o corpo pesado, os chinelos nas mãos, e a alma aqui dentro dormindo levinha, feito criança no banco de trás, benzida de sal e de sol, de céu e de mar. Em paz.

Em casa nada há de ser mais urgente que banho e jantar. Nosso macarrão com sardinha espirrando no pijama até o sono, enfim, nos levar para a cama.

Em meu sonho, minha alma e eu voltaremos à infância brincar na areia, correr das ondas, fazer castelo, caçar conchinha. Sentir alegria. E amanhã, logo de manhãzinha, vai ser outro dia.

Assim será em breve. Só um tempo na praia tornará esta alma leve. Princesa que vive só, e sozinha será até o fim, trancada numa torre, dentro de mim.

Imagem de capa: crazymedia/shutterstock

Amor é laço, não nó

Amor é laço, não nó

Sou a favor dos relacionamentos laços, daqueles que existe parceira, muito envolvimento, confiança e liberdade. Sim, liberdade! Do parceiro ir e vir, ter suas coisas, sua vida em paralelo com a sua. Ninguém pertence a ninguém. Casal é soma, não subtração.

Li recentemente um artigo de uma garota dizendo que não namora porque ama a sua liberdade. Ora, se relacionamento é usurpar a liberdade então fiquemos solteiros para sempre! Ninguém quer perder seus movimentos porque está preferindo alguém na vida. Respeitar o espaço do outro, deixar este ser humano ser, e ter isso em troca une ainda mais duas pessoas afins.

Do contrário, vira uma relação de posse, dependência, cárcere e de um jogo emocional que anda na contramão do amor. Não há necessidade de privar o parceiro de suas atividades, dos seus hobbys e paixões. Casal que se ama e vive bem, se apoia, incentiva e não limita. Acho triste aqueles casais que só saem juntos, não fazem nada separado, que vivem de obrigações e permissões. Isso não é parceria, é medo, é dependência emocional. É preciso bom senso e tolerância.

Dos amores laço que devem viver os relacionamentos. Se apertar muito, vira nó! E nó em cima de nó vira um emaranhado difícil de desatar, sendo necessário arrebentar para não mais sufocar. Conhecer o tamanho da linha, aprender a desatar e saber como enlaçar faz toda a diferença.

Sempre que escolhemos estar com alguém, esta vontade parte de uma livre escolha, portanto, é deste princípio que a relação deve ser guiada, dentro do respeito e cumplicidade. Relação é união e não fusão e além disso não há necessidade de se acorrentar almas.

A individualidade é o nosso bem precioso, perder isso é abrir mão de quem somos. Desta forma não há encontro, não há reconhecimento do ser. Perde-se a espontaneidade, as paixões e no fim, ficam dois estranhos numa relação, se estranhando. Respeitar o outro ser humano é fundamental.

Isso significa amor incondicional. Amar um ser livre, sem posse, sem dependência que estão juntos pelos laços que os unem. Quanto mais liberdade na relação, mais preso a ela ficamos, por livre e espontânea vontade.

Imagem de capa: Sjale/shutterstock

“Cada final de amor é uma pequena morte”

“Cada final de amor é uma pequena morte”

Ontem, assistindo à série Grey’s Anatomy, me deparei com um episódio em que uma recém nascida tinha que ser operada de um tumor no coração. Após a retirada do tumor, seu coração começou a falhar, e enquanto os médicos assistentes se preparavam para a reanimação, a chefe da cardiologia disse: “Meu plano é dar um minuto a ela. Ela acabou de perder algo enorme que estava com ela desde o começo. O coração precisa aprender a bater sem a carga extra. Ela só precisa de um tempo para se adaptar.” 

Ok, a série é uma ficção muito bem escrita, mas o fato é que precisamos encarar o fim do amor como uma pequena morte, uma perda que deve ser sentida e vivida como um pequeno luto. Temos que viver nosso “um minuto” de tempo para nos adaptarmos a uma outra forma de vida, completamente nova. E se não encararmos a dor do fim do amor como uma despedida definitiva em vida, não seguimos em frente como deveríamos.

Há muitos anos, após um rompimento que me fez sofrer muito, recebi a visita de uma grande amiga e fomos ao cinema assistir ao drama “Lado a Lado”. Pra quem não sabe, o filme é triste e melancólico, e arranca lágrimas com facilidade. Pois bem. Eu estava sofrendo pelo fim do meu namoro, chorando escondida no chão frio do banheiro, mas não me permiti derramar uma lágrima sequer durante a exibição do filme para não “dar o braço a torcer” para minha amiga (e quem quer que fosse) que eu estava mal. Eu não queria demonstrar que também enfrentava um luto.

Existe uma censura muito grande que não nos permite demonstrar nosso sofrimento pela despedida do amor tal qual a despedida provocada pela morte. Porém, em ambos os casos, é preciso admitir que dói, que restou um vazio, que perdemos algo que amávamos. É claro que não precisamos anunciar nossa aflição por aí, mas talvez ajudasse sermos honestos com nossos sentimentos, reconhecendo que de vez em quando é preciso dar trégua ao discurso do pensamento positivo e simplesmente expressar nossa tristeza, nossa indignação, nosso abandono e abatimento.

A literatura está cheia de estatísticas a respeito do tempo de recuperação de um coração partido. Porém, tenho aprendido que para as dores do coração, cada um tem seu próprio tempo de recuperação. E ela depende de inúmeras variáveis, mesmo porque a dor da perda pode estar misturada à dor da rejeição, à raiva da traição, ao desmoronamento dos sonhos e planos. Seguir em frente depois da desistência do amor é entender que não se “cura” o fim de uma relação importante. O que acontece é que a gente aprende a conviver com as perdas, a não enrijecer com as tristezas, a ter fé de que pouco a pouco tudo se ajeita, dentro e fora de nós.

Dure o tempo que durar, entenda que vai passar. Só não tenha pressa. Não saia por aí reanimando um coração que ainda não está pronto para acelerar. Tenha paciência e espere seu tempo de recuperação. A vida não é uma corrida para ver quem supera mais rápido ou disfarça melhor.

Dizem que a dor do amor é semelhante ou ainda maior que uma dor física. Porém, ela vai permanecer o tempo que você permitir. E uma hora você terá que autorizar que ela vá embora. Terá que estar disposto a abrir mão daquilo que lhe integrava e não integra mais. Terá que aprender a desapegar, a se despedir, a transformar a dor da perda numa saudade bonita, que poderá lhe acompanhar indefinidamente, mas com certeza não lhe fará mais mal.

Para comprar meu novo livro “Felicidade Distraída”, clique aqui.

Imagem de capa:  Axel Bueckert/ Shutterstock

A solidão e o orgulho: uma relação bem íntima.

A solidão e o orgulho: uma relação bem íntima.

Diga o que disserem, o mal do século é a solidão, canta a extinta banda Legião Urbana, em sua canção “Esperando por mim”. O tema solidão tem servido de inspiração para inúmeros compositores, poetas, escritores, etc. Esse sentimento tão assolador  faz-se presente nos mais variados estilos literários e musicais. Particularmente, acho a solidão tão paradoxal nos nossos dias.

É algo que vai na contramão, visto que o mundo está cada vez mais populoso. É tão estranho isso, as cidades superlotadas, os condomínios cheios de moradores e, as pessoas cada vez mais sozinhas. Alguém concorda comigo? É complicado compreender que o que separa você do vizinho ao lado seja apenas uma parede, e no entanto, vocês não se conhecem, não sabem o nome um do outro e mal se cumprimentam com um “bom dia” robotizado dentro do elevador.

Tanta gente ao nosso redor e não podemos contar com ninguém. Ninguém para tomar uma xícara de café, ninguém para bater na sua porta e oferecer um chazinho caso te escute tossindo muito, ninguém para propor um revezamento para levarem as crianças à escola, já que são vizinhas e estudam na mesma sala. Nos dias atuais, a autossuficiência tem sido cada vez mais buscada. Parece que o que as pessoas mais temem é a possibilidade  de precisarem de alguém, de um vizinho ou de um familiar.

Não precisar de ninguém é o que uma pessoa tem de mais admirável, parece. Tudo bem, ser independente e não precisar de ninguém pode até ter um lado bem positivo, talvez a tranquilidade e a sensação de não incomodar, entretanto, há um ônus nisso. Quando nos garantimos em nossa autossuficiência, perdemos a oportunidade de construirmos vínculos significativos. Quando nos mostramos na condição de necessitados de um auxílio, estamos dando ao outro a oportunidade de nos servir e isso cria uma atmosfera de gratidão para quem é ajudado, bem como um sentimento de utilidade  àquele que ajudou.

Então teremos aí dois ingredientes perfeitos, indispensáveis ao estabelecimento de um vínculo de amizade. Considerando algumas exceções, acredito que a solidão anda de mãos dadas com o orgulho. Sim, o orgulhoso percebe como humilhante a ideia de precisar de alguém, e vai se isolando cada vez mais, na tentativa de transmitir uma imagem de superioridade, afinal, para ele, precisar de alguém é contrair uma dívida impagável.

Percebem que nos contextos sociais mais pobres, as pessoas são mais próximas? Um vizinho tem a liberdade de viajar e pedir para o outro vigiar sua casa, algo impraticável em contextos sociais mais elitizados. Vejo como preocupante esse cenário, tanta gente se esbarrando e ninguém se tocando, ninguém se olhando, ninguém interagindo. Um monte de seres encapuzados de orgulho, se escondendo uns dos outros.

Tanta máscara…tanto vazio. A realidade de cada um, só quem conhece é o travesseiro, encharcado pelas lágrimas quando um corpo se despe das máscaras sociais e se deita ao final de um dia.

Imagem de capa: Kalamurzing/shutterstock

Odeio quem me rouba a solidão sem em troca me oferecer verdadeira companhia

Odeio quem me rouba a solidão sem em troca me oferecer verdadeira companhia

Odeio quem me rouba a solidão sem em troca me oferecer verdadeira companhia, sem estar verdadeiramente comigo, sem prestar atenção no que falo, sem se importar com o que sinto, sem sensibilidade para perceber quando quero chorar e sem graça para rir junto comigo.

Odeio quem me rouba a solidão sem em troca me oferecer um abraço, daqueles bem apertados que estralam os ossos e nos deixam seguros. Odeio ter conversas rasas com pessoas que falam sempre as mesmas coisas, que não conseguem ser profundas e têm medo de expor as suas dores.

Odeio quem me rouba a solidão sem em troca me oferecer um olhar sincero, daqueles tipo isca no anzol da alma. Odeio ter que estar com pessoas que não conseguem olhar nos meus olhos e ficam sempre a procurar um outro horizonte, como se o que eu dissesse não fizesse o menor sentido.

Odeio quem me rouba a solidão sem em troca me oferecer inquietação, sem provocar a minha curiosidade, a minha fome em saber mais, o meu desejo de devorar tudo de forma antropofágica.

Odeio quem me rouba a solidão sem em troca me oferecer sua nudez, suas dores mais profundas, escondidas nos cantos longínquos da alma, as frustrações que angustiam e esmagam o peito, as feridas das quedas que teve tentando subir a montanha.

Odeio quem me rouba a solidão sem em troca me oferecer sua loucura, suas alegrias mais simples, seus desejos mais profundos, seus sonhos impossíveis, seus pequenos pecados, seus segredos mais ocultos, seus momentos de maior felicidade, suas piadas menos engraçadas.

Odeio quem me rouba a solidão sem em troca me oferecer uma canção espontânea, sem me oferecer uma boa dose de existencialismo para que possamos divagar sobre o tempo, sobre o sentido da vida, sobre os homens, sobre o amor, sobre Deus.

Odeio quem me rouba a solidão sem em troca me oferecer seu ouvido para que eu saiba que existe alguém disposto a me escutar, disposto a me entender, disposto a sentir a minha dor e gozar a minha alegria.

Odeio quem me rouba a solidão sem em troca me oferecer até logo para que eu sinta saudade e nunca perca a vontade de estar junto. Odeio quem chega à minha vida e logo se vai, por vontade própria, como se eu fosse apenas uma ponte para se chegar a um lugar.

Odeio quem me rouba a solidão sem em troca me oferecer a verdade. A verdade que às vezes assusta e outras tantas machuca. A verdade que precisa ser dita, ainda que se chore. A verdade corajosa que quer ser sincera e não gosta de falar desviando os olhos. Odeio relações de mentira, porque a verdade, mesmo quando dói, é una.

Odeio quem me rouba a solidão sem em troca me oferecer profundidade, para que eu possa mergulhar sem medo de me esbarrar em alguma pedra, para que eu possa dançar na chuva sem medo de pegar um resfriado, para que eu possa sentir a vulnerabilidade inesgotavelmente valente de quem não quer lutar, mas vencer junto.

Odeio quem me rouba a solidão sem em troca me oferecer verdadeira companhia, sem me fazer sonhador querendo ludibriar o tempo, para que possa esconder memórias tão belas onde Cronos não possa acessar. Quando isso acontece, amo quem me rouba a solidão, que se transforma em unidade, um pássaro encantado, que corta o céu e, sob a sombra serena de uma árvore, busca repousar.

Imagem de capa: Masson/shutterstock

Desconfie de quem nunca sai do sério

Desconfie de quem nunca sai do sério

 

Não é preciso ter formação em Psicologia para saber que todos temos nossos momentos de desequilíbrio, seja sozinhos ou na frente de quem for, quando explodimos incontrolavelmente, soltando o verbo. Por mais que seja necessário evitar destemperos em frente a quem não tem nada a ver com isso, existem momentos em que nada mais é capaz de conter tudo aquilo que precisa sair de dentro de nós.

É fato que devemos sempre tentar manter a calma diante das atribulações, não descontando nossos problemas nos outros, rindo de nós mesmos, porém, muitas vezes nos vemos em meio a situações que nos testam os limites da paciência de uma forma tão intensa, que qualquer resquício de racionalidade acaba caindo por terra. Cada um se desequilibra com mais ou menos intensidade, mas todos – ou quase isso – iremos explodir, mais dia, menos dia.

Parece que os rumos que as sociedades vêm tomando contribuem ainda mais com o desequilíbrio emocional de todos. Assistimos, de tempos para cá, à crescente intolerância para com o diferente, à sobrevivência do racismo, à cultura do status, do egoísmo, ao esvaziamento ideológico, à corrupção que cresce junto com a crise financeira. Assistirmos ao noticiários tornou-se um exercício de paciência, diante de tantas injustiças e misérias contidas em cada reportagem.

No plano da convivência social, está cada vez mais difícil às pessoas manter o respeito e o entendimento, para um convívio harmônico. Isso, em grande parte, é consequência dessa dificuldade de muitos em aceitar que nem todo mundo vai agir conforme querem, pois as verdades de cada um são de cada um e não da maioria, tampouco podem ser tidas como absolutas. E então a elevação da voz e a agressividade substituem a argumentação ponderada. 

No entanto, mesmo que não seja o desejável, existirão momentos em que teremos de deixar extravasar, gritar, enfrentar o outro, chutar o balde, dizendo o que está entalado na garganta, doa a quem doer. Muitas pessoas não têm senso de limite e teremos de deixar bem claro a elas qual é o nosso. Por essa razão é que causa estranhamento encontrarmos alguém que nunca sai do sério, nunca se desequilibra, nunca eleva a voz, mesmo em meio a uma discussão acalorada. Uma pessoa tão fleumática, em toda e qualquer situação, acaba passando a imagem de alguém sem sentimentos e frio, embora isso nem sempre corresponda à realidade.

Por isso, quando necessário, dê-se a oportunidade de gritar por seus limites, de bradar pelos seus direitos, de externar seu descontentamento com veemência, de indignar-se contra atitudes aviltantes, de lutar por suas verdades, pois, às vezes, é só assim que espantamos de nossas vidas tudo aquilo que nos faz mal. Às vezes, é só assim que não nos sufocamos por dentro e respiramos aliviados enquanto caminhamos rumo à realização de nossos sonhos.

Imagem de capa: Reprodução

Que delícia usar o silêncio quando o outro espera que você grite

Que delícia usar o silêncio quando o outro espera que você grite

Enquanto vivermos, estaremos sujeitos a sermos contrariados por pessoas, por acontecimentos, imprevistos, pela vida. É assim e sempre será, desde que nascemos, até nosso último suspiro. Somos várias pessoas nos encontrando e nos desencontrando em ambientes variados, cada uma com seus pensamentos, objetivos e visões sobre o mundo. Inevitável, portanto, trombarmos com quem em nada concordará conosco, ou até mesmo com quem adore azucrinar a paciência alheia.

Infelizmente, existe muita gente cuidando da vida do outro. Seremos questionados sobre o porquê de não namorarmos, de ainda não termos nos casado, de não termos filhos ou de termos determinada quantidade dos mesmos, sobre o porquê do porquê do porquê, e, pior, por pessoas que mal nos conhecem. Ou seja, muitos nem interesse sincero terão por nossas vidas, estarão apenas curiosos mesmo.

Da mesma forma, muitas pessoas farão observações desagradáveis e incômodas sobre nós, deixando-nos desconfortáveis. Haverá quem dirá que engordamos, que envelhecemos; haverá quem nos censurará e nos julgará pelo modo de vida que escolhermos; haverá quem nos repreenderá por alguma atitude que tomarmos. Incrivelmente, mesmo que nosso comportamento não lhes afete de maneira alguma.

Seremos testados, em vários momentos, por pessoas destemperadas, seja em relacionamentos, no serviço, em casa, na escola, seja na vida. Muitos criam tempestades e, em vez de tentarem sair delas, desejam trazer para debaixo de seus raios e trovões quem estiver por perto. Não se percebem, jamais se responsabilizam pelo que eles próprios provocaram, culpando o mundo, vitimizando-se e espalhando discórdia por onde estiverem.

Caberá a nós manter o controle, o equilíbrio, para que não nos permitamos adentrar a doença do outro, para que não nos molhemos sob tempestades que não são nossas. Teremos que tentar ajudar quem estiver pronto a ouvir, porém, o silêncio será sempre a melhor resposta a quem espera e aguarda pelo nosso destempero, pois assim é que neutralizamos todo o mal que nos rodeia. Isso é maturidade e autopreservação. É sobrevivência.

Imagem de capa:  Tananyaa Pithi/shutterstock

A felicidade só é possível para quem acredita nela.

A felicidade só é possível para quem acredita nela.

Há dois ditados populares muito comuns, acredito que todos já tenham ouvido pelo menos uma vez na vida, são eles: “Ah, isso é muito bom para ser verdade” e ” Quando a esmola é grande, o santo desconfia”. Essas frases tão carregadas de crença são verbalizadas por muitas pessoas ao se perceberem diante de um acontecimento feliz. Ou seja, muitas pessoas, ao serem abençoadas, ao invés de encherem-se de gratidão e agradecerem, elas nutrem o sentimento de que aquelas bênçãos chegaram em suas vidas de forma acidental. Em síntese, elas simplesmente recusam a felicidade. Tenho visto isso nos mais variados contextos. Pessoas que conseguem pagar suas dívidas dizendo: “não acredito que agora terei meu salário integral”. Outras que conseguem uma promoção no trabalho, dizem: “isso não é possível, esse santo quer reza”…e tantas outras atitudes semelhantes. Embora eu não possua embasamento científico para tratar disso, eu acredito que por trás dessas crenças limitantes expressas nesses ditados populares, exista uma espécie de temor da felicidade, talvez associando-a a algo pecaminoso. É delicado tratar disso, mas é muito comum percebermos nas falas de algumas pessoas a crença de que só quem sofre recebe a misericórdia de Deus. Provavelmente a raiz dessa percepção esteja vinculada à religião. Sabe aquela história de voto de pobreza? Enfim, não quero me aprofundar na temática religiosa. O que aprendi com muita clareza, após desconstruir uma série de crenças limitantes, é que a gratidão atrai prosperidade, e a prosperidade a que me refiro aqui não é somente aquela relacionada às condições financeiras e materiais. Refiro-me à prosperidade como um todo. É vivermos com qualidade e sem culpas por estar tudo fluindo bem em nossa vida. É entender que merecemos um amor que encha o nosso estômago de borboletas ao invés de encher nossa cabeça de grilos…(risos). Precisamos aprender a atrair a felicidade para as nossas vidas e uma das formas é expressando gratidão a cada momento que algo bom nos acontece. A felicidade precisa ver em nós pessoas que a querem por perto, somente dessa forma, ela ficará à vontade para ser nossa aliada. Parece estranho, mas existem pessoas que se sentem culpadas por estarem bem. É como se isso fosse errado, sabe? São pessoas que não sabem lidar com o próprio bem estar, sentindo um profundo desconforto quando os problemas dão uma trégua. Apesar de ser muito difícil compreender, é uma realidade, muitas pessoas sentem-se mais “felizes” quando estão mergulhadas em problemas, pois elas acabam atraindo a piedade alheia. Sim, para muitos, serem vistos como “o coitado” é algo acolhedor, algo próximo de uma ostentação. São aquelas pessoas que adoram falar sobre doenças reais ou imaginárias nas filas dos bancos e das padarias, por exemplo. Pessoas assim acabam obstruindo o canal do bem estar e da felicidade em suas vidas. Possivelmente elas pensam: “se estiver tudo bem comigo, quem vai sentir pena de mim?” Então, querido(a) leitor(a), caso você deseje ser feliz e próspero e, ao mesmo tempo, tem esse comportamento de “achar estranho quando algo bom te acontece”, sugiro que desconstrua essas crenças bloqueadoras e tome posse de tudo de bom que possa receber de Deus, da vida, do universo, das circunstâncias, enfim. Para tomarmos posse de uma bênção em nossa vida, é indispensável que nos vejamos como merecedores dela, do contrário, essa bênção irá buscar as vidas que a busquem com convicção. A dica é simples: quando algo bom chegar em suas mãos, festeje com a alma, com toda a intensidade e mais bênçãos chegarão. Seja feliz, querido(a) leitor(a).

Imagem de capa: WAYHOME studio/shutterstock

“Senta aqui e vamos falar de nós”

“Senta aqui e vamos falar de nós”

Sentimentos deveriam ser mais às claras, da gente saber o que se passa, e ter certeza do que sente, sem firula. Mas nem sempre é assim. Se relacionar pode parecer um pouco ousado quando os sentimentos são colocados à prova num território desconhecido . Nesse caso, é bom pedir um mapa.

Adivinhar o que o outro pensa e tirar as próprias conclusões pode ser um caminho bastante perigosos se você não é vidente ou não tem uma boa de cristal. Cada ser humano é um universo, e estamos aqui para nos relacionar e aprender um com outro.

Pedir um mapa é pedir para que o outro te guie por meio do diálogo. Quando iniciamos uma relação com alguém, várias dessas questões surgem a todo o momento. Estamos conhecendo mais profundamente o outro ser humano, buscando entender suas motivações, reações, expectativas em relação aos dois e a tudo.

Buscamos nos encaixar nesse universo de imperfeições querendo ambos uma harmonia. E pra que dois se entendam é preciso mais que química.

“Senta aqui e vamos falar de nós”. Essa temática deveria existir sempre na vida do casal. Se não sempre que precisar, a cada 7 dias, por exemplo, para deixar tudo entendido, sem achismos.

É mais provável que assim os caminhos se encurtem e as coisas se ajeitem. Nada como um bom diálogo a dois para deixar duas cabeças mais próximas.
Mas, receio que não é muito disso que acontece de fato… O que acontece mesmo são as ações tomando lugar das palavras, abrindo brechas para o subtexto, sub entendimento no sub onde reside a paranoia.

As atitudes sem palavras agem de forma solta, abrangente, dizem muito sobre tudo e não são especificas em nada. Elas abrem para muitas interpretações, demonstram um turbilhão de pensamentos, emitem ruído e por isso muitas vezes podem não ser compreendidas pelo receptor.

É importante dialogar. Afinal estamos falando de dois territórios humanos desconhecidos – quer algo mais complexo que isso? – Saber o que o outro está sentido e buscar compreender suas motivações emocionais é maturidade emocional. É escolher entre ignorar ou comprar uma briga, gritar ou melhorar os argumentos, é buscar a melhor saída para aquilo que muitas vezes foge do nosso controle. Resolver dilemas e dificuldade reconhecendo suas forças e fraquezas, sendo competente para lidar com seus sentimentos e com do outro buscando dessa forma eliminar qualquer dificuldade emocional. Veja, é controlar, entender, codificar e não reprimir.

Quando somos tomados por sentimentos fortes como raiva, ciúmes, ficamos burros emocionalmente… falamos coisas que realmente não sentimos, agimos com imaturidade, descarregamos uma carga de emoção desnecessária a alguém muitas vezes gostamos muito. Depois de ter passado o tsunami emocional, bate a uma ressaca emocional que dá mesmo dor de cabeça e te deixa num ambiente bastante bagunçado.

Não é fácil controlar emoção. Mas acredito que o diálogo é a chave mestra para evitar desentendimentos. Quando duas pessoas gritam uma com a outra é porque os corações estão distantes, elas não estão se ouvindo. Por isso o diálogo consiste em vozes baixas, quase ao pé do ouvido, deixando os corações falarem, se ouvirem.

Abrir-se para o diálogo não só fortalece relações como nos dá clareza, nos traz conhecimento, aprimora relações e amplia nosso entendimento. É pra isso que estamos aqui nessa existência, para aprender a nos relacionar!

Por isso, ganhe tempo, ganhe vida. Sentimentos não resolvidos gastam energia desnecessária, deixam a mente cansada, não abre espaço para coisas boas fluírem livremente. Elas realmente ocupam espaço. Elimine o que atormenta por meio do diálogo. Qualidade de vida também é aquela que cultivamos na nossa mente. Uma mente livre e em paz transforma a vida. Mais vale a compreensão a dois que um dilema desnecessário por falta de diálogo.

Imagem de capa: YuryKo/shutterstock

Escolha suas companhias – prefira gente do bem!

Escolha suas companhias – prefira gente do bem!

Preserve com você pessoas de bem com a vida, que são boas de papo, de riso solto, de olhar amigável. Fique junto de quem fala com verdade, e quando fala, olha nos olhos e não te medem de cima a baixo.

Pessoas dessas são joias da vida. Tem atitudes de amor, sabem se expressar com elegância e gentileza, e tem beleza interior. Se por acaso encontrar uma pessoa dessa, por favor, deixa-a ficar. Permaneça com ela e deixe-se afetar.

A gente precisa mesmo cultivar gente que tem verão no sorriso, tem paz no espírito e sabe como viver bem, se resolvem na vida sem passar por cima de ninguém. A gente aprende muito com elas. São sinceras mas não são rudes, e carregam consigo uma bagagem de humildade e bondade.

Não, elas não são bobas, elas sabem como lidar com adversidades e pessoas com maldade. Elas não andam por aí enganchadas, elas sabem como se preservar. Reconhecem quem é de verdade e é luz para os que não são. Passam deixando marcas e levam sempre o que há de bom. Elas sabem respeitar o espaço alheio e não há invasão nem imposição. Existe uma liberdade em estar perto delas.

Do contrário, não perca seu tempo com quem não é assim. Pessoas negativas, que usam palavras agressivas, só reclamam da vida e não sentem gratidão não acrescentam, sugam. Estas vivem numa prisão que elas mesmas construíram, muro por muro. Não sabem ser pontes. E dessas tem de monte…

Pessoas que falam demais e não sabem o que dizem, não trazem humildade, elas não olham nos olhos, elas medem com o olhar. E é assim que a gente reconhece esse tipo de pessoa, o olhar as entrega. Elas não trazem verdade.

Pessoas assim, podem estar muito próximas de nós, podem ser nossos parentes, colegas de trabalho e mesmo assim você não precisa ser leal por pura conveniência, afaste-se. Seja no máximo referência mas não cultive laço. Não irá te fazer bem e você poderá sentir uma exaustão física e mental além do normal. Você tem direito de escolher as pessoas que deseja se relacionar.

Para esses casos, vibre amor. O que faz mal ao nosso corpo e mente não deve ser alimentado, deve ser remediado. Deseje o bem e não se deixe afetar pela reação que ela irá tomar pela sua distância. Cuide de você. Escolha bem suas companhias.

Como uma lâmpada acesa, gente do bem atrai todo tipo de pessoa – aquelas de energias afins e aqueles hipnotizadas pela luz. Quem é esse tipo “lâmpada”, é importante saber se manter luz, sempre, para ajudar e guiar; Peça proteção e não se perca nas influências.

Gente que é do bem se sente de longe, não precisa nem perguntar. Almas bonitas criam logo empatia. E se você encontrar alguém que te coloca pra cima e te faz feliz, deixe essa pessoa entrar na sua vida; É com essa que você deve andar! No mais, seja luz e deixe o mundo se contagiar.

Imagem de capa: Dima Aslanian/shutterstock

Sobre fins do mundo…

Sobre fins do mundo…

Mal a gente começa uma história, já vai instalando dentro da gente aquela coceirinha para saber, prever, intuir ou controlar o que vem depois. A gente vive brincando de mago, adivinho ou vidente da própria sorte. Ansiosos. Somos ansiosos.

Ansiamos pela próxima página, mesmo antes de termos aberto completamente o livro. Ansiamos por acordar enroscado nos braços de um amor, mesmo antes de saber se é tão bom quanto parece, adormecer em sua companhia. Ansiamos por aquilo que não temos e que, por alguma razão tola ou desconhecida, nos parece ser definitivamente indispensável.

Colocamos valores exagerados na conta das perdas que tivemos, das dores que nos fizeram encolher à noite na cama, dos fracassos que nos roubaram o fogo da fé em nossa própria capacidade. E assinamos recibos pesadíssimos sobre essas contas, numa manobra arriscada de apostar contra a nossa própria felicidade e a favor do nosso apego à perfeição que escraviza.

O medo do fim nos envolve tanto, que os começos passam em velocidades estonteantes, os meios se dissolvem em águas turvas e revoltas dos pensamentos acelerados e os pontos finais caem qual meteoritos desgovernados em rota de colisão com os nossos sonhos.

Teimamos em tecer teorias de aniquilação material para esse mundo que nos rodeia e abriga, como se esse lugar bendito de moradia fosse um organismo, cuja vida se desenrola numa dimensão paralela, fora de nós.

Como somos tolos. O universo inteiro é um organismo vivo e pulsa, palpita e respira no mesmo ritmo que cada uma de nossas células dança dentro de nós. Cada mínima gota de vida contida em toda água do oceano, carrega em si mesma a nossa ancestral luta para fugir da sina de apenas sobreviver.

Buscamos entender a luz, a escuridão, o frio que corta, o fogo que aquece. Descobrimos que há luzes que cegam mais poderosamente do que a mais retinta das escuridões; que há escuridões que são pausas benditas e bem-vindas a nos embalar no colo e fazer adormecer; há friezas que nos atingem com a indiscutível e transformadora missão de nos incomodar, de nos tirar da calmaria morna da mediocridade; e há chamas que, de tão intensas, nos reduzem a cinzas, e transmutam nossa matéria original em sumo bruto, caldo de vida para que um outro embrião seja gerado e nutrido.

Insistimos nessa visão fantasiosa e infantil de que seremos atingidos por uma bola de fogo redentora, uma reação venal da natureza que chegará para nos igualar a todos, e de tal forma, que não haverá nenhum de nós destinado a sobreviver.

Mas… sabe… o fim do mundo somos nós… a cada vez que trocamos um abraço de corpo inteiro por algo que possa ser possuído; a cada vez que desistimos de um sonho porque é cômodo e menos trabalhoso apenas reclamar; a cada vez que ignoramos um olhar aflito do outro, porque enfiamos na cabeça que precisamos nos proteger e isolar.

E, de verdade, é preciso mesmo que esses mundos acabem. O mundo da posse, da desesperança e da indiferença. Que acabem de forma avassaladora, a ponto de não restar uma única poeirinha dessa ladainha rançosa e triste. E que venha um mundo inédito, onde seremos mais aptos, enfim, para pararmos de enfiar pregos em nossa própria cruz.

Imagem de capa: hikrcn/shutterstock

Aceita que dói menos

Aceita que dói menos

É difícil aceitar algumas verdades. Elas doem, sangram e machucam a gente. É difícil enxergar aquilo que não queremos ver. É difícil viver situações exaustivas, mas abrir os olhos para a realidade pode nos salvar.

Comumente a gente idealiza a vida como uma festa bonita, com música, alegrias, amigos, amores e felicidade. Mas é só a gente passar pela porta para perceber que as coisas não são bem assim.

Não quero dizer que não vai ter felicidade, dança, apoio, companheirismo, amor. Não, nada disso, só estou dizendo que em alguns momentos as coisas vão ficar bem longe disso.

Continuar dançando quando a banda parou, viver na negação, fechando os olhos para aquilo que está ali, bem na frente da sua cara, nunca será a melhor opção.

Pergunte a qualquer um qual é o seu infortúnio e você vai ver que todos estão passando por situações complicadas. A diferença está na forma como cada um age diante das dificuldades.

Se a grama do vizinho é mais bem cuidada, certamente, é porque ele está atento às ervas daninhas que, vez ou outra, tentam criar raízes por lá também. A grama do vizinho não é mais especial que a minha ou que a sua. A grama do vizinho é o resultado de como ele lida com as oportunidades e adversidades da vida.

Aceitar é o primeiro passo para mudar, para transmutar a dor em algo que possa servir de lição e consolo. Aceitar não quer dizer que você vai se entregar e engolir um monte de sapos. Não, nada disso, aceitar é tomar consciência da situação para agir diante dela com assertividade.

Uma pessoa assertiva, psicologicamente falando, apresenta um comportamento equilibrado diante das situações, não agindo com submissão ou agressividade.

Apenas lembrando que podemos agir de quatro formas distintas diante do que nos surge: podemos ser passivos, agressivos, passivos-agressivos ou assertivos.

De acordo com a psicologia, agir de modo seguro e confiante é ser assertivo e pessoas assertivas sabem identificar quais ações são mais apropriadas para determinados momentos.

A boa nova é que eu posso ser assertiva e você pode ser assertivo, basta querer. Mas para trilhar esse caminho antes precisamos aceitar nossa condição, por mais arrasadora que nos pareça e buscar um novo ponto de vista, uma nova solução ou forma de agir.

Precisamos nesse ponto ser meio “Dráuzios Varellas”. Eu explico. Quando alguém estaciona muito próximo ao carro do médico ele não pensa duas vezes em dar a volta e entrar pela outra porta. Algo que é sim desconfortável, afinal há um freio de mão no meio do caminho, mas que resolve mais do que reclamar, xingar ou ter um ataque de fúria, coisa que só traria mais dor de cabeça.

As razões e culpas pelo que nos acontece, podem ser concretas, mas não resolvem as coisas. O ideal é que a gente enxergue o inevitável com bons olhos e se poupe daquilo que é irremediável.

Acompanhe a autora no Facebook pela sua comunidade Vanelli Doratioto – Alcova Moderna.

Atribuição da imagem: pexels.com – CC0 Public Domain.

A diferença entre vontade de amor e amor por vontade

A diferença entre vontade de amor e amor por vontade

A vontade de amor é produto da sensibilidade pura que move o ser para um objetivo consciente, de acordo com sua personalidade – está na égide do empoderado afetivo que oferece sem precisar pedir. O amor por vontade é consequência da insensibilidade, incerteza emocional e superficialidade – está na égide do miserável afetivo que só mendiga e não sabe doar. Um se tem; pelo outro se é tido.

O “Eu te amo” do miserável esconde um “Por favor”, um vazio desesperado para ser preenchido. O “Eu te amo” do empoderado revela um “Obrigado”, uma gratidão essencial que o mantém feliz e protege.

Amar a vontade significa ser controlado por ela, enquanto a vontade de amor estabelece uma força que não encontra resistências.

Em sua obra metafísica conceitual Ethics, Benedict de Spinoza afirma que a essência de amar é uma “potência de agir”. O frágil admite-se como tal pela verdade da sensibilidade que busca, sinal de que não a encontrou em absoluto e está no caminho certo, dado que seu encontro final marcaria o início de um declínio de potência. Quanto mais ressonância com o mundo, mais amor se sente, porque a razão se torna ela mesma e a liberdade dos sentidos está sendo direcionada. Em vida, a redução e aumento da energia sensível se dá em processo ininterrupto que pode ser ilustrado por um pêndulo – ele oscila para lá e para cá, sem nunca chegar a uma extremidade.

Em cada ser há uma reserva energética de vontade que suplanta o próprio amor verdadeiro, mas essa reserva não é como um gerador que se usa em casos de pane geral no sistema, mas um ideal da imaginação, produto da inteligência humana.

É tranquilo administrar o poder de amar quando as coisas estão indo bem – em casa, no trabalho, nos estudos e no lazer. Mas a validez do amor também se mede no caos, na doença, no infortúnio, na desgraça, na possibilidade de ruptura. Porque alguém com legítima vontade de amar preza a reciprocidade, mas, substancialmente, não depende da boa vontade alheia e se esforça para adaptar-se a seu vazio, de forma que, mesmo se perturbado, não ousa duvidar de seu amor, sabendo que a vida às vezes lhe derrubará independente de como se aproveita dela.

Muita gente julga que a necessidade de poder no ato de amar remete a egoísmo. Mas isso se deve à concepção narcísica de poder. Todos sabem como termina Narciso, o eterno contemplador de si. O poder, no sentido de potência, é um efeito claríssimo do amor, como não?

Quem tem vontade de amor simplesmente não precisa caçá-la, porque o amor por vontade relaciona-se com o desejo e, se o desejo dita os termos da relação, está no controle, o que é um gravíssimo problema, pois gera seres possessivos de amor, efetivamente o oposto de amar. Se o homem se comporta como um caçador de emoções, não sente; e, se está sentindo, elas voluntariamente lhe vieram.

As pessoas pensam que são livres para desejar, mas é a vontade de desejo que as governa e apenas suas escolhas conscientes dão-se à liberdade; desconhecem as causas de seus instintos. Portanto, amar o desejo é uma forma de se aprisionar, e a vontade de amor (subsidiada por ações livres à sua realização) caracteriza um ser preparado para amar, não para ser livre.

O desejo de estar com alguém, por si só, não é suficiente; precisa haver respeito, mas o respeito considerado um fim em si mesmo, imune a tentações opostas de toda espécie, até mesmo à privação do desejo. Não sendo um fim, inexiste a base sólida de amor e, se este declina, o sujeito está propenso a se considerar vítima das circunstâncias.

O mito de Orfeu e Eurídice ilustra bem como o desejo incontrolável é capaz de arruinar um homem. Conta-se que Orfeu era o compositor predileto dos gregos. Sua música fazia o velho mais insensível chorar rios de lágrimas, a criança mais entediada bradar em êxtase e a mulher mais odiosa ajoelhar a seus pés suplicando para ele nunca mais interromper suas melodias. Orfeu devotava-se à arte, sem ela não existiria, mas sua maior razão de viver era a esposa Eurídice. Contudo, o destino haveria de decepcioná-lo: uma serpente venenosa e letal a picou e ela foi encaminhada para o reino de Hades, onde perambulam as almas dos mortos. Desolado, mas com esperanças, Orfeu pega sua harpa e desce até o submundo para reaver a amada. Chegando ao rio Estige, Caronte, o barqueiro que vigia a passagem, tentou barrá-lo, mas foi imediatamente hipnotizado pela canção que Orfeu lhe apresentou. Tendo ultrapassado as margens do rio, deparou-se com Cérbero, o terrífico cão protetor do inferno, mas toda a ferocidade do animal foi amansada tão logo Orfeu dedilhou sua harpa.

Quando se apresentou à Hades, o deus maligno que até então não conhecia o significado de misericórdia, Orfeu colocou em prática a música que compôs assim que soube da morte da esposa. Ela soava tão triste e melancólica que Hades, senhor dos mortos, não pôde negar que o amor naquele homem era muito mais forte do que todo seu ódio acumulado. Emocionado como nunca, concordou em libertar Eurídice do submundo, mas sob uma condição: até chegar lá em cima, à luz do sol, Orfeu não deveria olhar para a face de sua esposa. Durante o caminho de volta, Eurídice ia recuperando as forças vitais enquanto seu marido tocava a harpa, à sua frente. No entanto, o desejo de olhar no rosto da amada foi maior que a prudência em honrar o acordo com Hades. Ao chegar à superfície, Orfeu olhou para trás e, por um segundo, vislumbrou a imagem de Eurídice tal como lhe surgia nos seus sonhos mais lindos, até que uma força invisível puxou-a de volta às profundezas e de lá ela nunca mais saiu. O desejo apaixonado dominou Orfeu e, em vida, sua arte perdeu o sentido.

É uma história trágica, nada irreal. Spinoza chega a questionar: “Por que os homens lutam por sua servidão tão teimosos como se fosse sua salvação?”. Talvez por suspeitarem que as próprias forças do coração agem por livre-arbítrio e indiferentes a um condicionamento externo. Não é tarefa de um mortal resolver esse mistério.

A substância do amor por vontade, que se chama de paixão, uma vez manifestada neste mundo – com todas suas alegrias, tristezas e confusões – só pode ser resolvida neste mundo, então qualquer solução trágica não adianta, porque nesse caso vai-se embora o portador da substância, ainda que permaneça o eco de suas forças apaixonadas. A frustração mortal resulta da manutenção entrópica da irracionalidade.

O risco de perder o amor já está presente desde que ele começou; negar essa possibilidade é investir num ideal de perfeição amorosa que faz sofrer infinitamente mais do que o descaso que acarretaria a obtenção de uma garantia de qualidade afetiva ininterrupta.

Um artista plástico, para fazer uma pintura, tem que estar próximo dela. À distância eles não se conversam, não se olham, não há reconhecimento nem empatia. Toda sua intuição de nada vale se a obra estiver fora de alcance. As habilidades sensíveis esfriam conforme ele se afasta demais do fruto de sua invenção. O pintor dedica sua paixão à obra e sem ela não sabe mais quem é. Essa obsessão é positiva na arte, pois demonstra o alto nível de compatibilidade entre criador e criatura. Em um relacionamento conjugal, entretanto, a obsessão gera o efeito totalmente contrário: ódio. Porque um considera o outro como se fosse matéria de sua predileção, como coisa que vale tanto quanto tornada utilitária, como objeto de sua construção, enquanto as pessoas são todas obras inacabadas.

Ao defenderem a necessidade de controle, muitos distorcem o amor. Esse tipo de poder não é positivo, mas letárgico e ainda acusa impotência. Os impotentes, por inclinação, querem dominar, pois estão passivos de si mesmos e com medo de ser dominados. Potência é requisito da liberdade, algo que os moralistas tradicionais abominam com medo de ela ser usada para todos os fins que não o de potência.

Quanto maior o desejo de controle, menor será a percepção de união. Só que as pessoas, em sua maioria, enxergam isso como falta de firmeza, atitude dos ingênuos. Por quê? Provavelmente pela associação de que permitir a liberdade do outro significa não se importar que as coisas saiam do normal. A liberdade existirá enquanto houver regras. Todo relacionamento é uma espécie de contrato, diferindo cada um em rigor de execução. O problema é que os possessivos apelam para a chantagem emocional sobre as consequências da insubordinação, o que reflete sua desconfiança.

Dar liberdade é respeitar o fato de que cada um tem seu próprio tempo e espaço; há várias formas de fazer jus à palavra e seguir as normas de um relacionamento sem que para isso se falte com a dignidade. Nem todos merecem a liberdade que têm, e, no fim, alguns merecedores saem perdendo, mas não terá sido culpa sua.

Spinoza assevera:

“Se alguém imagina que uma coisa que ele ama é unida por outra por um vínculo de amizade tão próximo ou mais próximo que aquele com o qual ele mesmo, sozinho, possui a coisa, será afetado com ódio sobre o que ama e invejará o outro.”

O vínculo de reconhecimento afetivo concernente ao amor próprio não se compara, porque uma pessoa que se dá a transcender o afeto por outrem do de si mesmo não quer seu amado por admiração, mas deseja possui-lo para se libertar do ódio insuportável de si mesmo. É o fenômeno que acontece no homem apaixonado e com ciúme: vacilação sobre a amada somada com o ódio de um possível inimigo. A paixão o faz escravo e ele está muito feliz de sê-lo enquanto não houver outro que a possua além dele; havendo, mostra todo seu lado colérico.

Ódio, aponta Spinoza, pode ser destruído pelo amor, e uma vez que é totalmente destruído pelo amor será, então, maior do que se não tivesse sido precedido de ódio.

A mulher não consegue doar ao homem ciumento a mesma ternura do que faz quando ele não gasta tempo útil lutando contra ameaças externas do romance mas, em vez disso, valoriza-a aqui e agora. O que é muito difícil para um homem apaixonado entender é que, se ele diz que luta contra inimigos (por ciúme) para proteger a sua amada, de fato quer proteger-se da própria insegurança, partindo do pensamento de que ela não tem força e autonomia para se defender por si mesma. Isso ofende a mulher. Estando ela convicta da relação, lutará para se desvencilhar dos que pretendem prejudicá-la; não estando, ele saberá.

Se o ciúme tem motivo real, o homem tomará as devidas providências ao descobrir, não antes. Ocorre que muita paranoia ronda quem precisa apossar-se da amada para fugir do espectro da solidão e do ódio.

Nada dura para sempre, inclusive o desejo. Mas por que quem ama de verdade parece sentir a sua eternidade e não quer largá-la?

Em 1901, Bertrand Russell, honorável escritor britânico, vinha de um casamento de sete anos com Alys Smith, seu primeiro amor. Em um dia gélido de outono, ele escreveu em seu bloco de notas:

“Saí para andar de bicicleta em uma tarde e, de repente, enquanto pedalava por uma estrada rural, percebi que não mais amava minha esposa Alys. Até aquele momento, não tinha ideia de que meu amor por ela estava enfraquecendo. O problema apresentado por esta descoberta foi muito grave. Desde o início do nosso casamento, convivemos na mais próxima intimidade possível. Sempre compartilhamos uma cama e nenhum de nós precisou dormir em um quarto separado. Conversamos abertamente sobre tudo que nos aconteceu… Eu sabia que ela ainda estava devotada a mim. Eu não desejava ser indecente, mas acreditava, naqueles dias, que nas relações íntimas é preciso falar a verdade.”

A verdade que abateu Russell naquela tarde não lhe era nada conveniente, mas o britânico não conseguiu escondê-la; dizia muito sobre sua vontade de amor. Alys era extremamente ciumenta e controladora. Manipulava os amigos e familiares mais próximos de Russell para tê-lo em tempo integral. Embora alimentasse a discórdia com sua insegurança, dizia amá-lo profundamente. Eles ficaram juntos mais alguns anos, até que o casamento atingiu um ponto insustentável. Russell se apaixonara por outra pessoa e, como não era propenso a trair, disse à ex-mulher que precisava ir embora, dessa vez sem volta.

Tempos depois, Alys se casou com outro homem. Num surto de sinceridade, lúcida e visivelmente desapegada daquele ciúme, escreveu mensagem para uma amiga:

“Bertie era um companheiro ideal, ele me ensinou mais do que eu jamais poderei pagar. Nunca fui inteligente o bastante para ele, e talvez ele fosse muito sofisticado para mim. Eu estive idealmente feliz por vários anos, quase delirantemente feliz, até que uma brusca mudança de sentimentos tornou nossa vida mútua muito difícil. Uma separação final levou ao divórcio, quando ele se casou novamente. Mas isso foi realizado sem amargura, brigas ou recriminações. Minha vida foi completamente alterada e nunca mais consegui encontrá-lo novamente por medo da renovação da minha terrível miséria.”

Muitos casais vivem anos e anos em um relacionamento possessivo simplesmente porque não imaginam uma vida sem o outro. Estão tão apegados à outra pele e insensíveis às injustiças entre si que suas manifestações de desamor acabam despercebidas e, pior, justificadas pelo desejo de posse. Um dito de Russell aborda o dilema crítico entre esconder uma mentira para não ferir o outro e dizer a verdade para manter a dignidade na relação:

“De todas as formas de cautela, a de amor é, talvez, a mais fatal para a felicidade verdadeira.”

A perspectiva do abandono é tão terrivelmente evitada e, devido às condições instáveis no mundo atual, agigantada, que a genuinidade na comunicação de sentimentos se tornou quase que uma ameaça à apropriação da felicidade, e por isso os casais mais felizes costumam dizer que o silêncio de um é ouvido pelo outro e não há segredos que, compartilhados, causariam mais estragos do que a sua omissão.

Não adianta ter vontade de amar se ela não for aplicada do modo correto, e isso exige o entendimento de que as pessoas não serão exatamente as mesmas amanhã do que foram ontem. Amar uma pessoa significa compreendê-la, e isso requer aprendizado constante. Quem age com preguiça sobre o amado pode desaprender-se dele, colocando o próprio amor em risco, e depois não terá direito de reclamar. A melhor forma de nutrir a relação é gostando de aprender, e, com a devida experiência, aprender a gostar: amor.

Muitas pessoas caem no erro de julgar como péssimo um relacionamento antigo que, enquanto durou, foi maravilhoso – simplesmente porque teve fim. Pior ainda se acabou sem uma razão convincente: pensam que não devia ter acabado. Assim, elas trocam a lembrança de todos os pequenos eventos positivos que lhes permitiram ficar juntos (saudade) pela cicatriz de não mais vivê-los (melancolia). Por outro lado, se o relacionamento era tóxico e terminou, mesmo que de forma violenta, vê-se isso com alívio. Um relacionamento ótimo terminado sem motivo é intolerável, deixa mágoa; um relacionamento abusivo terminado de forma consciente deixa as pessoas livres para amar novamente, pois permitiram a resiliência ao aceitar o perdão.

Há os que dizem “Segue o baile”. Mas não existe paranormalidade. A música não tocará sozinha, alguém deve se predispor a organizar o ambiente para que se dance nele. A importância de um bom planejamento é subestimada. “Deixe fluir”. Deixar fluir é uma coisa, não fazer nada e esperar acontecer é outra.

O discurso de abandonar a filosofia do carpe diem (viva o presente) para adotar o senso visionário (crie o amanhã) somente é óbvio para quem considera que o tempo de amadurecimento é o mesmo para todos. Não é. Esse moralismo até ajuda a tomar partido do que realmente importa para sustentar afetos, mas a troco de muita ofensa e hipocrisia.

Há quem adore nadar na liquidez e superficialidade. Não é uma lei da vida que se deva substituir o descompromisso libertário pela relação privada e segura. Porém, existe uma tendência inevitável de, com o passar dos anos, a pessoa ir trocando liberdade por segurança, por dois motivos principais: medo da solidão e percepção da finitude da vida.

As melhores coisas na vida acontecem naturalmente, com base em espontaneidade, a qual produz o ser feliz. Dizem que para tudo há uma primeira vez. Besteira. O mundo não corresponde a todos os anseios do homem, é responsabilidade deste significar o mundo; forjar as suas respostas, em vez de aguardá-las.

Muito se confunde o ato de cuidar e ensinar responsabilidades (próprio dos educadores) com controlar e tolher a individualidade do outro (próprio dos doutrinadores). Muitos responsáveis dizem que controlam para proteger. Às vezes, suas intervenções são realmente necessárias. Mas há casos em que interferem indevidamente. A perpetração inflexível da disciplina transforma vigilância em hábito e seus dependentes estarão sendo treinados para acreditar que a divergência de opiniões é um entrave à sua formação, que atitudes destoantes da tradição cultural são estranhos e perigosos à ordem, e o resultado são mais fantoches pertencentes à massa de manobra.

Muitos pais obrigam os filhos a adotar comportamentos idênticos aos seus apenas para dizer aos outros como se sentem portentosos pelo que se tornaram e causar inveja naqueles que estão sob sua má consideração. Que honra há nisso? Ser homogêneo é a coisa mais fácil que existe.

O jardim do vizinho só é considerado mais verde se faltou carinho e dedicação da parte do invejoso. Nada a ver com diferença de talento. Não é a beleza das plantas que chama a atenção, mas o esforço em criá-las; não o senso de competição, mas a necessidade de buscar referências para o próprio desenvolvimento.

Legiões de crianças praticam a atividade do livre pensamento, mas a maioria dos educadores as reprova por esse hábito, já que, segundo seu modelo pedagógico de mundo, não há nada de novo sob o sol e as tentativas de questionamento da obediência são sujeitas à patologização. Como resultado, essas crianças crescem sem personalidade, achando que um mundo estranho as cerca e que devem ter um parafuso a menos na cabeça, não se identificando em lugar nenhum. O respeito colocado como um fim libera a tentação de castrar a autenticidade do outro, tudo por causa de um amor que não é.

Não é fácil assumir toda a responsabilidade pelos ideais defendidos sem uma sensação ambígua de desamparo e arrependimento – facilmente usada como motivo de submissão aos poderes tutelares. Há, pois, certa abstenção da liberdade de pensamento para ensinar o que se quiser, em prol de uma obrigação ideológica de silenciar aquilo que não deve ser aprendido, de acordo com a segurança das massas.

A vontade de criar seres à própria imagem mostra que a cópia é preferível ao original, afinal, custa menos, mas também diminui o orgulho da criação. Ser original é um ideal que vai muito além da capacidade de aceitar seus perigos. A exclusão é um risco de ser autêntico. Talvez isso explique o fato de que, à medida que se fica mais velho e, obviamente, mais seletivo, aumenta-se o grau de invisibilidade.

O homem preocupado com o amor genuíno alia três elementos interconectados: o da razão em vias de orientar seus impulsos e desejos, o da dignidade moral através do respeito humano, e o da inteligência na busca do conhecimento.

Os homens são seres de desejo, daí a necessidade de ética. E a ética, como estratégia social de sobrevivência, não se sustenta por desejo, mas impreterivelmente pela razão que o economiza ou gasta quando precisa.

Uma das falácias mais proferidas pelo senso comum é que um ser muito racional automaticamente sente menos, que a administração das emoções é bem feita quando se deixa a razão de lado, e que quem pensa muito racionalmente carece de sentimentos espontâneos. O engano está em colocar razão e sensibilidade como inimigas. Ignorando-se o conhecimento de uma emoção, nada sobra a não ser intuições vazias. Outra falácia popular está em dar as expressões “Ter razão” e “Estar certo” como sinônimas. A verdade nem sempre está com razão.

O entendimento só existe em comunhão com a sensibilidade, porém, nem todas as emoções são inteligíveis, e ainda bem, porque, se fossem, os psicólogos cessariam suas pesquisas e morreriam de tédio.

Razão depende da sensibilidade; esta oferece as informações, aquela decide como utilizá-las. Um homem sem percepção não é capaz de fazer quaisquer julgamentos, tampouco sentir.

Certas pessoas, ao serem questionadas sobre seus sentimentos, logo respondem: “Não sei, só sinto”. Como elas podem sentir algo sem entender? O coração as informa e não precisam de mais nada? Prosa poética sem fundamento. As emoções só sobrevivem em um ser dotado de razão; recursos emocionais nas mãos de um mau senhor o fazem para o abismo. O que se demonstra mesmo é preguiça de pensar, embora o amor não tolere preguiçosos.

Pregar amorosidade é muito fácil, por isso todos o fazem, sinal de que deve ser simples. Ninguém é inteiramente bom e, se fosse, seria péssimo para o amor, pois, como arte, sua intuição só se percebe na superação do erro, com treinamento.

Os frustrados de amor são levados a pensar – por ressentimento ou depressão – que a sua vontade de amar é uma armadilha: a fuga da infelicidade que sentem. Mas, na verdade, eles temem o amor e não o estado infeliz; seu sofrimento é mal justificado. Agem como os cadáveres que temem o amor, idealizando uma vida sem sofrimento, aquela que é exclusiva dos mortos.

Charles Bukowski acreditava que o amor é tudo aquilo que não se diz sobre ele. Sim, o amor foge de todas suas definições e, enquanto se o vive subjetivamente, conforme a oportunidade, destaca-se como o mais objetivo dos sentimentos. Os livros de autoajuda continuarão vendendo que nem água porque as pessoas tendem a procurar uma alquimia infalível do amor, um atalho que facilite sua experiência. O dinheiro que gastam com esses livros roda apenas a economia e não o amor.

Dois seres humanos estão namorando. Eles têm química, combinam-se harmonicamente e o clima está favorável. Mas, se um deles perde a casa, o carro, o emprego, a saúde e as finanças zeram, o outro, em vez de ficar, foge desesperadamente para longe como se o espírito do Diabo estivesse prestes a apossá-lo. Trata-se do sentimento capitalista que Maquiavel denunciou no seu O Príncipe e Franz Kafka na sua Metamorfose: fique com a pessoa enquanto ela lhe proporciona bens materiais, conforto e prazer, mas não hesite em ir embora e desprezá-la se perceber que não terá mais essas vantagens. Amor por vontade – boa parte dos relacionamentos é assim.

A vontade de amor é o que mantém casais juntos por cinquenta, sessenta, setenta anos e, melhor, felizes, apesar das várias limitações orgânicas e desgastes no percurso. Duas pessoas idosíssimas não terão o mesmo desejo que compartilhavam em outrora, e não é por falta de querer. Mas elas não reclamam da abstinência de paixão, seria inútil. Se pudessem, gozariam dela regular e intensamente como provavelmente faziam, mas sabem que existem coisas mais importantes do que o prazer para viabilizar a longevidade de uma parceria.

INDICADOS