Amar alguém- Fábio de Melo

Amar alguém- Fábio de Melo

Na vida, a gente só sabe que ama alguém, a gente só tem o direito de dizer a alguém que a amamos depois de ter dito infinitas vezes a esse mesmo alguém a frase: eu perdoo você.

Porque na verdade a gente só sabe que ama, depois de ter tido a necessidade de perdoar. Antes do perdão a gente pode ter admiração por alguém, mas admirar alguém ainda não é amar, porque admiração não nos leva a dar a vida pelo outro.

Admiração é um sentimento, uma situação superficial, eu admiro aquela pessoa, mas eu sei que amo depois de ter olhado nos olhos, saber que errou, que não fez nada certo e ainda sim eu continuar dizendo que “eu não sei viver sem você”, “apesar de ter errado tanto continuas sendo tão especial para mim”.

A gente sabe que ama as pessoas assim, depois de ter feito o exercício de olhar nos olhos no momento que ela não merece ser olhada e descobrir ainda ali uma chance, ainda não acabou.

Coisa boa na vida é a gente encontrar gente que nos trate assim com esse nível de verdade, gente que nos conhece de verdade, que já foi capaz de conhecer todas as nossas qualidades, mas também todos os nossos defeitos, porque eu não sou só qualidades, eu tenho um monte de defeitos, e só me sinto amado no dia que o outro sabe dos meus defeitos e mesmo assim continua acreditando em mim, muitas vezes nosso amor não é assim, a gente ama o outro pelo que ele faz de certo ou de bom pra nós, e as vezes até elegemos o outro assim “ele é bom demais pra mim”.

E o dia que deixa de ser? Deixou de ser amigo? No dia que falhou, que errou, que esqueceu, no dia que não conseguiu acertar, continua tendo valor pra você? Ou você só ama aqueles que conseguem lhe fazer o bem? Jesus disse que não tinha mérito nenhum em amar aqueles que nos amam, que o mérito está em amar o outro mesmo quando ele não merece ser amado, eu sei que é um desafio, mas essa é tua religião.

Eu creio que não há descanso maior para o nosso coração do que encontrar alguém que nos ama assim, e eu gostaria que você levasse pra sua vida somente as pessoas que te amam assim, com essa capacidade de olhar nos teus olhos quando você não consegue fazer nada de certo, e mesmo assim continua sendo teu amigo e continua acreditando em você. Deixe entrar na sua vida, somente as pessoas que querem te fazer melhor, porque gente que nos diminui nós já estamos cheios.

Amigos de verdade são aqueles que nos desafiam, são aqueles que nos momentos que estamos na lama, nos olham nos olham e dizem ‘você não foi feito pra isso’. Amigo de verdade é aquele que olha nos olhos e nos coloca para sermos mais. Namorado de verdade é aquele que olha nos teus olhos e te respeita como mulher, que te acha linda, mas que te respeita como mulher porque sabe que tu és um coração que muito mais do que necessitado de ser abraçado e de ser tocado, é um coração que merece ser amado, e o amor vem antes do toque.

Quem foi que disse que beijar na boca é declaração de amor? Pode até ser uma das demonstrações, mas eu tenho certeza que seu coração se sente muito mais amado no momento que você é olhado de um jeito certo, do que beijado de qualquer jeito! Antes de você entrar na vida de uma menina, olhe bem nos olhos dela e tente fazer com que ela descubra que você ama só olhando pra ela, olhe de um jeito que ela se sinta amada, e se você olhar do jeito certo, você não precisa ter ciúme, porque a mulher que for olhada de um jeito certo, nunca mais vai querer encontrar outro olhar.O homem que for olhado de um jeito certo, nunca mais vai querer outro olhar.

Você ainda pode mudar o seu jeito de amar, você ainda pode mudar o seu jeito de viver, você ainda pode mudar o seu jeito de sorrir, você ainda pode perdoar aquele que você não quer perdoar, você ainda pode tratar bem aquele que você desprezou tanto, porque a vida ainda te dar a oportunidade de você se tornar muito melhor do que você é.

Fábio de Melo

Imagem de capa: Reprodução

Quem está satisfeito com as próprias escolhas não se mete nas escolhas alheias.

Quem está satisfeito com as próprias escolhas não se mete nas escolhas alheias.

Seria pedir demais que cada pessoa vivesse a sua realidade e suas escolhas e respeitasse as escolhas das demais? Sinceramente, quando a gente pensa que a humanidade está evoluindo, percebemos um grande retrocesso, nunca a temática diversidade foi tão defendida e debatida, entretanto, na prática, a realidade é outra. Em pleno 2017, ainda existem pessoas que atribuem o caráter de uma pessoa ao estado civil dela, dessa forma, uma pessoa divorciada é vista como alguém irresponsável, egoísta e sem valores morais.

Ninguém quer saber, ao certo, o motivo que está por trás da ruptura de um matrimônio, mas muitos estarão ávidos por julgar e discriminar os envolvidos nela. E o que dizer das pessoas que são discriminadas por serem solteiras? Será que a hipocrisia chegou ao nível master de querer nos empurrar goela abaixo que todos os casados são felizes? E o casal que optou por não tem filhos? Ah, esse é visto como anormal e, no melhor, das hipóteses, muito egoísta.

Daí vem uma pergunta: será que todos os casais que colocaram filhos no mundo estão fazendo o seu melhor por eles? Será que tiveram filhos por um desejo real ou por receio de serem pressionados pela sociedade? É justo colocar uma vida no mundo sem a devida motivação de dedicar-se a ela? Hipocrisia à parte, penso que seria melhor evitar a maternidade/paternidade a colocar uma criança no mundo para sofrer, dentre outros abandonos, o abandono afetivo. Vivemos numa sociedade onde, no geral, as pessoas estão muito focadas na vida alheia, muitos, presunçosamente, querendo impor o seu modo de viver como a referência do que seja o ideal.

Eu não sei de onde surgiu a crença de que uma pessoa solteira é infeliz, bem como não sei a origem da premissa de que, uma vez casada, tomará posse da felicidade, automaticamente. Existem tantos casamentos de fachada, no qual os envolvidos enxergam um ao outro alguém para descarregar o que tem de pior dentro de si. Mas, são essas pessoas, as primeiras a se incomodarem com alguém que tem a coragem de sair de um casamento infeliz e falido.

Seria uma frustração ao notar que alguém ainda é capaz de tomar uma atitude em prol da própria felicidade enquanto elas ficam lá acovardadas vivendo uma casamento miserável? Por que será que é tão difícil para algumas pessoas respeitarem as opções dos outros? Seria tão bacana um mundo onde os solteiros vivessem em paz, sem aquelas perguntas e insinuações tão inconvenientes do tipo: ” o tempo está passando”, “daqui a pouco não vai poder ter filho”…e daí? Especialmente sobre a cobrança às solteiras: quem disse que o sonho de consumo de toda mulher é casar e ter filhos? Outra coisa: pode ser que exista, sim, a solteira que queira se casar e ser mãe, mas ainda não deu certo de ela encontrar a pessoa e a coisa acontecer, nesse caso, é bom ter o bom senso de respeitar também, certamente essa pessoa já está lidando com as próprias cobranças e angústias, então seria sensato poupá-la das cobranças externas, não é mesmo? Uma coisa é fato: uma pessoa que esteja, de fato, feliz com a vida que leva não teria razões para se incomodar com a vida do outro. Basta pensar: que prejuízo terei pelo fato de alguém ser solteiro, divorciado, casado ou amigado? Então, não há razões para ninguém se incomodar, não é mesmo?

Relatei as interferências e preconceitos referentes ao estado civil, mas isso é perfeitamente aplicável às demais escolhas das pessoas: religião, opção sexual, modo de criar os filhos, etc. Que cada um de nós possa contribuir para uma sociedade onde prevaleça o respeito às diferenças, acho que isso não é querer demais e é plenamente possível.

Imagem de capa: Eugenio Marongiu/shutterstock

Nossa família está onde está o nosso coração

Nossa família está onde está o nosso coração

Acredito que grande parte de nós, ao percorrer os caminhos da vida, é como o adorável “patinho feio” do dinamarquês Hans Christian Andersen.

Nesse conto infantil, escrito em 1843, um filhote de cisne é chocado por uma pata e ao nascer percebe-se diferente dos demais filhotes. Dessa forma, cansado de não ser aceito pelos mais próximos, o patinho feio “cai no mundo” em busca de identidade e de pertencimento. Ele anseia por descobrir quem é, por encontrar outros que o aceitem, compreendam e compartilhem ideais, sonhos e projetos com ele.

O patinho caminha rumo ao seu crescimento, algo que se dá de forma gradativa, longe daqueles que não aceitam suas características individuais, características tão especiais.

No final da estória ele reconhece sua grandeza ao encontrar aqueles que se afinam consigo. Algo traduzido no texto através de animais de sua mesma linhagem. Assim, ao olhar para os que carregam uma essência tão próxima da sua, o patinho se volta para seu interior, reconhecendo nele e nos que lhe são comuns princípios próprios para a formação de uma família real, fundamentada no carinho, aceitação e principalmente amor e amizade.

Muitas vezes nossa família de sangue não compreende bem nossa busca pela individualidade e nesse caminho, a princípio solitário, nos afastamos dos que têm o nosso mesmo sobrenome e encontramos amigos caminhantes assim como nós. Alguns deles ficam por um tempo e depois partem rumo a um destino diferente do nosso. A distância aumenta, mas o carinho perdura para sempre; outros ficam por um longo tempo e acompanham nosso crescimento bem de perto.

Sozinho nenhum de nós pode se enxergar de forma plena. O caminho pelo conhecimento, pela busca da nossa felicidade, pela descoberta de quem somos e o que realmente queremos, é um caminho que quase sempre começa com uma angústia solitária, mas que comumente termina no amparo coletivo.

Essa jornada começa com a impossibilidade de ficarmos onde estamos, de compartilharmos impressões propriamente nossas com os que estão no entorno e nos são familiares. Esse caminho de individualização começa com o mergulho em nossa natureza, para que, uma vez conscientes de nossos valores, possamos encontrar outros assim como nós.

Ao tocarmos nossas reais aspirações, algo que não é compulsório, mas fruto de muita reflexão, estamos por fim preparados para reconhecermos os amigos do peito, ou melhor, amigos cisnes em nosso caminho.

Amigos cisnes são a família que fazemos. São aqueles com os quais temos intimidade e que, sem julgamentos, nos acolhem em dias frios, nos acalentam com palavras carinhosas, nos emprestam os ombros para que choremos nossas dores. Amigos cisnes sabem quem realmente somos, nos aceitam assim e estão ao nosso lado nas horas boas e nas não tão boas. Amigos cisnes veem de longe quando nos equivocamos e nos orientam acerca do nosso valor e da importância do amor próprio. Amigos cisnes nos levantam quando caímos e não nos deixam desistir de nossos sonhos. Amigos cisnes são aqueles que propositalmente escolhemos para estar ao nosso lado.

Na vida, um mesmo ninho ou melhor, um mesmo sobrenome, pode não dizer muita coisa. Comumente precisamos sair de perto de pessoas com as quais temos algum parentesco para verdadeiramente crescermos. Uma família existe onde há laços duradouros de amor; onde há laços profundos e verdadeiros de amizade. Uma família muitas vezes se faz através de nossa iniciativa de nos aproximarmos de pessoas que compartilham conosco de uma mesma essência.

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Cuidado: o seu maior inimigo pode estar dentro de você

Cuidado: o seu maior inimigo pode estar dentro de você

Imagem:  manop/shutterstock

Cuidado: o seu maior inimigo pode estar dentro de você

Quantas vezes temos uma ideia e, logo depois, dizemos que ela não irá dar certo? Quantas vezes falamos algo em público e uma voz interna nos critica? Quantas vezes nos olhamos no espelho e dizemos algo de ruim sobre a nossa aparência? Quantas vezes pensamos em projetos e nos sabotamos, dizendo que não conseguiremos? Quantas vezes planejamos e, após certo tempo, pensamos em desistir?

Muitas vezes, o nosso maior inimigo está escondido dentro de nós mesmos: a autocrítica negativa. É aquela voz interna que nos diz: “isso não vai dar certo”, “você ainda não está pronto”, “você não sabe fazer isso”, “todos vão rir”, “essa espinha está horrível”, “essa roupa está terrível em você”, “seu corpo é esquisito”, “ele(a) não vai gostar disso que eu fiz”, “com certeza vai dizer não”, “você não vai conseguir”, “isso não vai ficar bom”.

Só de ler esses exemplos, você já visualizou sobre o que eu estou falando e deve ter sentido algo de ruim, não é? Com que frequência você se faz essas criticas?

Vamos melhorar isso?

Imagine que você vai a uma exposição de obras de arte de um artista famoso. Ao passar por uma sala, você vê um quadro lindo e faz um baita elogio por sua tamanha beleza. Todo o crédito desse quadro vai para o pintor, não é? Perceba que todos os elogios vão, no final, para quem fez a obra e não para a obra em si. Sendo que tudo, antes, era só um quadro em branco, o qual não possuía valor.

Agora, se você vê um quadro com o qual não se identifica muito, o que você faz? Em geral criticamos, não é isso? Falamos que o quadro é feio, mal pintado, esquisito e, muitas vezes, que não gostaríamos de tê-lo nem de graça. Nesse caso, para quem vai essa crítica negativa?

Ainda para o pintor, não é verdade?

Perceba quem recebe o crédito quando criticamos negativamente a nós mesmos ou aos outros.

Se você acredita em uma inteligência maior, um criador, um arquiteto do universo, então, a crítica negativa a uma de suas obras atinge a Ele. Eu, nesse momento que critico, diminuo a Sua importância. Estamos dizendo que Ele criou algo ruim ou imperfeito. Essa crítica, no final, recai, também, sobre nós mesmos, pois, se o Criador é capaz de criar pessoas com “defeitos”, logo nós também estamos juntos nesse grupo.

Perceba, então, que a crítica negativa ao outro, sem uma intenção de melhoria ou de ajudá-lo a progredir, nada mais é do que a reclamação sobre um trabalho do Divino.

Uma reclamação é uma critica negativa apenas por criticar, sem interesse no aprendizado e na melhoria do outro. Ela decorre da mera comparação com os outros e com “padrões” de comportamento.

Se essa crítica negativa se torna frequente e está direcionada a si mesmo, estamos literalmente vivendo com o nosso próprio inimigo, aquele lado do nosso próprio ego que nos diminui.

Perceba que não existe crítica pior do que a autocrítica, que não existe raiva pior do que a que guardamos e que não existe prisão pior do que aquela em que nós mesmo nos trancamos.

Como diminuir a minha autocrítica?

O primeiro passo de toda mudança é estar consciente do que precisa ser mudado. Então, esteja consciente dessa voz interior que o critica e que critica os outros. Aquela voz que mede e compara tudo e que tende a dizer que você está sempre por baixo. Reconheça-a nas situações do dia-a-dia.

O segundo passo é aceitá-la. Aceite que ela existe e que ela está ai agora. Não é necessário concordar, julgar, culpar, ter raiva ou qualquer outra coisa. Se fizer isso, estará gerando mais autocrítica negativa. É dar mais meios para o ego brincar com você, mais enredo para aquela ilusão, mais alimentos aos seus fantasmas.

O terceiro passo é amar. Poderia aqui descrever uma série de técnicas, mentalizações e palavras para se expressar, mas, no final de tudo isso, resume-se a uma coisa só: o amor. Primeiro, o amor em você (o amor próprio) e, depois, o amor no outro –  ver o outro COMpaixão.

Perceba que amar o próximo se começa amando a si mesmo. É ver o amor em você para poder ver no outro.

Percebendo-se amor, nós nos reconhecemos amor e vemos o amor no outro. No fundo, tudo se trata disso: amor e pertencimento. Enxergar amor no outro é nos reconhecer no outro. Isso é pertencer.

Ame a si mesmo incondicionalmente, ou seja, sem condições, sem pré-requisitos, sem pré conceitos e sem barreiras.

Não se identifique com esses pensamentos, sentimentos e emoções de autocrítica. Perceba que essa autocrítica negativa está na mente, no intelecto, na memória, no ego, e que isso tudo não é você, é só uma parte da sua existência. Você é algo antes disso, algo mais profundo, algo mais sutil.

Para entender isso, pergunte-se:

O que ou quem eu sou?

Sabe, sinta amor, mas não se apegue a ele. Não tente sentir amor pelos outros. O amor é um presente. Se estiver lá, estará lá; se não estiver lá, não estará lá. Você não pode se forçar a amar alguém. Você pode impor amor? Se você impõe, será o contrário do que o é. Apenas fique relaxado e vá fundo no conhecimento, que, de repente, um dia, você descobrirá “tudo é parte de mim e todos são um”. Então, o amor não é um verbo, ele não é uma ação. Você não tem que amar alguém, você é amor, você compreenderá que o amor é um substantivo. Você simplesmente esta lá em forma de amor cintilante. E é isso. Sim, obviamente, não é o amor da concessão mútua de que você está falando. Você ama alguém e lhe deram algo – Sri Sri Ravi Shankar

Você hoje é diferente do que foi ontem e amanhã será diferente do que é hoje. Reconheça a crítica, aceite-a como uma parte em você e tenha um amor sem limitações; assim, ela não terá mais espaço na sua mente. Você verá como esses pensamentos vão diminuir – agora você transborda amor.

Que Assim seja e assim é.

O que fazer com a dor do fim

O que fazer com a dor do fim

Há pessoas que têm a incompreensível capacidade de morrer aos nossos olhos, mas continuar vivendo dentro de nós. E, não apenas vivem. Acomodam-se confortavelmente nas aconchegantes curvas das nossas lembranças, relaxando preguiçosamente sobre os escombros que deixaram para trás. E ficarão morando aí, indefinidamente. Até que tenhamos a coragem necessária para expedir uma inegociável e definitiva ordem de despejo.

Infelizmente não existe nenhuma lei universal que determine que todo amor deve nascer e morrer ao mesmo tempo. Caso isso fosse algo factível, não haveria dor de amor. E, a bem da verdade, não seria amor, posto que esse sentimento tão complexo, misterioso e sobre o qual sabemos tão pouco, alimenta-se das ondulações de nossos quereres, necessidades e desejos.

É difícil assumir isso, mas ainda não aprendemos o que é amor. Nenhum de nós aprendeu. O que conhecemos desse insondável senhor é a nossa pequena parte envolvida. Sabemos dos comichões na alma, provocados pela existência de um outro alguém em nosso campo de visão, ilusão ou toque. Sabemos da urgência provocada pelo desejo de querer estar perto, junto, dentro. Sabemos da felicidade que a reciprocidade de um amor confesso faz brotar no peito e espalhar-se pelo resto do corpo, em cada um dos mais íntimos cantinhos. Sabemos do que nos parece necessário para nos manter à salvo da solidão, de estar apenas em nossa própria companhia. Sabemos sobre depender, condicionar, relacionar nossa paz interior à certeza de sermos correspondidos.

Esse estado de torpor, letargia e alienação a todo o resto, bem poderia durar para sempre. Bem poderia vir com garantias de validade eterna. Bem poderia nos manter em segurança para o resto da vida. Mas, é preciso saber: amor não é fonte de alegria inesgotável, não tem selo de garantia, nem é feito para nos guardar do perigo.

Amor é um arriscar-se para fora de nós mesmos e saltar para um vale profundo, belíssimo e intocado, sem corda de segurança. Amor é para quem não tem juízo, medo de se descobrir outra pessoa ou apego excessivo a situações de conforto. Amor é bicho selvagem, não se consegue domesticar. E, não, não é de paixão que eu estou falando. É de amor mesmo! Essa invenção maravilhosa das mentes humanas que só se manifesta se houver um compromisso legítimo de alma, corpo e coração.

Não há como considerar tempo de vida os dias que optamos ou aceitamos viver sem amor. Na ausência dele, murchamos, azedamos, perecemos. E no fim dele, queremos encolher, encolher e encolher. Até nos tornarmos do tamanho exato para grudar na pele daquele que nos recusa, descarta, repele. O fim do amor é dor de carne viva. Só vai parar de doer aos poucos. Com o passar do tempo. Com a chegada de outro amor. Então, que tenhamos a coragem de entender que o fim do sofrimento não está nas mãos do outro. O outro foi embora. As mãos que temos são as nossas próprias. Parar de sofrer é, talvez, uma das decisões mais corajosas, fortes e bonitas que podemos tomar. Uma dessas avalanches de lágrimas há de ser a última. Cuidemos para não nos acostumarmos com a dor, a ponto de acharmos que doer e amar é a mesma coisa. Não é! Não é mesmo! De jeito nenhum!

Imagem de capa: Peerayot/shutterstock

Sobre Relacionamentos e Muletas

Sobre Relacionamentos e Muletas

Tive que usar muletas algumas vezes em minha vida e sempre tive medo de perdê-las. Não que eu gostasse delas. Muito pelo contrário. Mas, portadora da síndrome de luxação recidivante da patela, eu sempre tinha ao meu dispor as minhas companheiras para o caso de um dia eu precisar…

Passei muito tempo com aquelas duas muletas ali, ao pé da minha cama, quando eu ainda morava em Brasília. O fato de eu morar sozinha, só fazia com que eu mais necessitasse delas caso a patela decidisse dançar.

Até que eu voltei para Minas, as patelas deram trégua e as muletas sumiram…

Foi muito tempo depois que fui analisar a minha vida através daqueles momentos… Eu havia terminado um namoro e não escondia de absolutamente ninguém que eu queria reatar aquele “romance”. Fui atrás, liguei, chorei. Não recebia um não mas também nunca recebia um sim. Eu estava, em outras palavras, sendo cozinhada em banho-maria. Até que um dia, após dez meses, a vida me apresentou uma nova pessoa, e eu decidi dar essa chance ao coração…

Foi neste momento que o namorado do passado reapareceu. Veio atrás de mim e o expulsei com belíssimos xingamentos. Mas ele, por incrível que pareça, insistiu. Veio até a minha casa e num gesto inesperado, pediu-me uma chance. Disse que havia visto que me amava, que me queria novamente como a sua namorada e que queria comunicar a toda família dele que havíamos reatado. Surpresa? Bota surpresa nisso. Eu jamais esperava tal atitude dele. Então o fato de ver que eu poderia me envolver com outra pessoa fez finalmente aquele cara cair em si…

Naquele momento eu achei que ele realmente me amava. Na verdade, até ele mesmo achava isso. Só tempos depois fui perceber que o fato de ele temer me perder para outro era muitíssimo diferente do fato de realmente me amar, e que ele confundia orgulho com amor. E aí logo me lembrei das minhas muletas. Eu temia perdê-las, mas não as amava. E então eu enxerguei que naquele momento, para aquele cara, eu também era uma muleta…

Ter medo de perder é diferente de querer ter ao lado. E quantas vezes fomos muletas na vida de alguém? E quantas muletas temos em nossas vidas? Não só no amor, mas na carreira, nos círculos de amizade… Ter uma muleta é ter medo de ficar sozinho em nossa própria companhia, é ter medo de enfrentar os riscos de uma nova caminhada após ficar tanto tempo “engessado”. Ter uma muleta é aceitar e se convencer de que o comodismo é o melhor a se fazer. Ser uma muleta é ainda pior, é abaixar a cabeça e esquecer o seu próprio valor…

Permita-me, meu Deus, que eu não seja mais muleta na vida de ninguém. Permita-me, meu Deus, que eu não tenha mais muletas. Permita-me, meu Deus, que eu continue acreditando que posso andar sozinha. Minhas patelas agradecem. Meu coração também.

Imagem de capa: lassedesignen/shutterstock

A ingratidão adoece o coração

A ingratidão adoece o coração

“Os infelizes são ingratos; isso faz parte da infelicidade deles.” (Victor Hugo)

Não importa se os dias estão corridos e céleres, se não temos mais tempo de nada, assoberbados que estamos com as atribulações que nos preenchem os pensamentos. Não importa se é quase impossível conseguirmos arranjar espaço em nossa agenda para conversar com os amigos, mesmo que seja mandando uma mensagem. Demonstrar gratidão e dizer “muito obrigado” sempre fará bem a todos os envolvidos. Sempre.

Da mesma forma que nos sentimos bem quando podemos ajudar as pessoas, demonstrar ao outro todo o apreço que sentimos, o quanto ele fez e faz a diferença em nossas vidas, agigantará as benesses daquela ação, trazendo contentamento a ambas as partes. Ninguém precisa ficar sabendo das ajudas que promovemos e obtemos, mas tanto a quem as oferta, quanto a quem as recebe, é importante manter a certeza da relevância daquela troca. O mundo precisa de bondade se espalhando.

Na verdade, a caridade e a ajuda ao próximo devem ser praticadas incondicionalmente, sem cobranças de quaisquer tipos, uma vez que estaremos nos sentindo bem sempre que nos dispusermos a sair de nós mesmos, para enxergar o outro com empatia e generosidade. Ninguém precisa saber do que estamos fazendo para que nos sintamos em paz e realizados. Trata-se de uma alegria que preencherá a nós mesmos e bastará por si mesma.

Além disso, estaremos sujeitos, com frequência, a nos depararmos com a ingratidão de uma forma muitas vezes cruel e injusta. Muitas pessoas vão distorcer o que fizemos ou dissemos com sinceridade e disposição, de maneira a fazer aquilo tudo parecer desprovido de valor. Outras vezes, seremos cobrados cada vez mais e, nos momentos em que não pudermos colaborar, tudo aquilo que já fizemos será esquecido, como se tivesse sido em vão.

O importante é mantermos a certeza de que aquilo que fizemos de bom jamais se apagará, principalmente dentro de nossos corações, a despeito de toda ingratidão que recebermos em troca. A realização de estarmos em paz e satisfeitos é o que permanece dentro de nós, tornando-nos mais felizes e completos. Já o coração de quem se recusa a ser grato se tornará cada vez mais frágil e carente.

Como diz o poeta, ninguém é uma ilha, ninguém vive somente por si só, pois as ações de cada ser humano se propagam e atingem os demais, seja de maneira positiva ou negativa. Sejamos, então, parte daquele grupo de pessoas que se dispõem a tornar a vida do próximo menos densa, acreditando no ser humano, apesar de tudo. Tornar alguém feliz, afinal, já é um grande passo em direção à nossa própria felicidade. E quem não quer ser feliz?

Imagem de capa: Sasa Prudkov/shutterstock

Quem fala dos outros para você, também fala de você para os outros.

Quem fala dos outros para você, também fala de você para os outros.

“Precisamos estar atentos aos tipos de pessoas que convivem ao nosso lado, tendo a consciência de que aqueles que gostam de fofocar exageradamente irão nos colocar, uma hora ou outra, como personagem de alguma história maldosa, uma vez que é isso o que os fofoqueiros fazem e têm para dar, é disso que eles vivem e se alimentam.”

Um dos maiores prazeres de certas pessoas vem a ser falar das vidas alheias. A fofoca remonta a tempos imemoriais, sendo encontrada em narrativas bíblicas, autobiográficas e ficcionais, hoje presente nos enredos das novelas e nos bastidores do mundo artístico. Já foi estopim de conflitos entre povos, derrubou governos e assolou a vida de famosos. Ela está em todo lugar, o tempo inteiro e atinge a todos, com maior ou menor intensidade.

Infelizmente, a fofoca se vale do que possa diminuir o outro, tornando-o pior aos olhos das pessoas, uma vez que busca não mais do que o escândalo. Talvez nem exista quem não goste de tomar conhecimento de algum aspecto negativo do outro, no entanto, há quem faça disso um modo de vida, há quem não consiga deixar o outro em paz, ou seja, há quem não consiga cuidar da própria vida.

Com o advento da internet e dos aplicativos nos celulares, as notícias correm cada vez mais céleres, alcançando milhares de pessoas em questão de minutos. Vídeos pessoais, falas particulares, fotos, entre outros, acabam viralizando virtualmente, tornando qualquer um de nós vulnerável a cair em armadilhas capazes de manchar nossa imagem de uma forma intensa e cruel. Reerguer-se, então, poderá levar muito tempo, mas jamais seremos os mesmos após essa devassa.

É preciso muito cuidado ao comentarmos sobre as vidas alheias, principalmente tendo cautela com a pessoa com quem conversamos. Ninguém consegue passar a vida sem que chegue alguma fofoca a seus ouvidos, o que será inevitável, e talvez por isso o problema maior nem resida tanto em quem vem comentar as coisas conosco, mas sim na forma como agimos quando isso ocorre. Caso não alimentemos ou instiguemos ainda mais os comentários, eles morrerão ali – e isso faz toda a diferença.

Precisamos estar atentos aos tipos de pessoas que convivem ao nosso lado, tendo a consciência de que aqueles que gostam de fofocar exageradamente irão nos colocar, uma hora ou outra, como personagem de alguma história maldosa, uma vez que é isso o que os fofoqueiros fazem e têm para dar, é disso que eles vivem e se alimentam. Cabe a nós não dar ouvidos ou não passar nada daquilo adiante, caso contrário, fatalmente acabaremos em maus lençóis.

Já teremos tantas dificuldades e dissabores a serem enfrentados nessa vida, que não vale a pena trazermos para junto de nós ainda mais problemas, por conta de uma companhia que sente prazer em maldizer quem quer que seja. Escolher com sabedoria e tenacidade as pessoas a quem abriremos os nossos corações será essencial para que possamos enfrentar o mundo com mais chances de não cair demoradamente.

Cuidarmos essencialmente da nossa própria vida, nesse percurso, poderá nos livrar de muitas armadilhas e de gente dispensável e inútil. E é assim que sorriremos mais vezes, como deve ser.

Imagem de capa:Jacob Lund/shutterstock

Chega de príncipes encantados. A vida precisa é de sapos encantadores

Chega de príncipes encantados. A vida precisa é de sapos encantadores

Se não há príncipes encantados, sejamos sapos encantadores.

Desista, moça. Conforme-se, amigo. Não existe príncipe encantado. Pelo menos não aqui, do lado de fora dos contos de fada, longe das novelas de TV, para além dos filmes de amor. Eu sei que você já desconfiava, mas não custa repetir, assim, por precaução. Só para o caso de a gente achar que tropeçou, caiu num portal mágico e virou herói de ficção.

Entre nós não há príncipes ou princesas impecáveis. Somos os sapos e as borralheiras de uma história sem fim. Criaturas falhas e imperfeitas. Nada mais que isso. Agora, aqui pra nós, isso não nos impede de fazer uma forcinha e tentar ser sapos e borralheiras melhores, ué!

Não há neste mundo criaturas intocáveis, garantidas, imunes ao erro. Nenhuma decisão está livre de se tornar um equívoco. Toda escolha traz o risco de ferir a nós mesmos e aos outros. É assim que é. Viver é manejar uma faca afiada. Mesmo com todo cuidado, a maior atenção e a mais absoluta consciência, uma hora a faca escorrega da mão da gente e, dependendo do nosso preparo, ela nos machuca ou nos mata.

Somos jogadores tacanhos, aprendendo o jogo no erro. Cada engano é o que nos salva e todo acerto é relativo, perigoso, porque traz a ilusão de que um dia a perfeição nos chegará num cavalo branco. Ela não vai chegar. E quanto mais nos acreditamos princesas e príncipes, mais nos desencantamos.

Assumamos, pois. Jamais seremos da realeza infalível. Sejamos gente melhor, então! Gente que namora o impossível, ama o que tem e faz tudo o que cabe a bons sapos e belas borralheiras.

Sejamos os príncipes e as princesas da vida possível. Sejamos pessoas. Não mais que isso: gente que ama a vida e trabalha duro para viver bem. Façamos com empenho o melhor que pudermos, sejamos bons, justos, livres. Sigamos adiante e sigamos juntos!

Só assim seremos mais que vagas e impossíveis criaturas encantadas. Seremos gente de carne, osso e sonhos, vivendo honestamente uma vida encantadora.

Imagem de capa: Reprodução

Em 2017 entendi o sentido da frase “A felicidade está dentro da gente”

Em 2017 entendi o sentido da frase “A felicidade está dentro da gente”

Sobre 2017, foi nesse ano que, finalmente, entendi aquela frase tão enigmática e que eu sempre encarei como utopia: ” a felicidade vem de dentro da gente, não a busque fora”. Essa frase me irritava, para ser sincera. Isso porque eu entendia e fui ensinada a vincular a felicidade ao fato de ter alguém comigo (namorado/marido). Então, vivi até 2016 acreditando que toda felicidade tinha que, necessariamente, estar atrelada aos relacionamentos afetivos.

Eis que, em 2017, tudo se fez novo. Finalmente, entrei em contato com o meu tesouro interno. Pude perceber e viver, de forma intensa, uma felicidade que vem de dentro de mim. Eu vivo um amor, aliás, uma paixão. Essa paixão é para o resto da vida, é para sempre. É amor verdadeiro, recíproco e visceral. Estou falando do meu caso de amor com a escrita. Estou falando sobre escrever e alcançar vidas. Escrever e atrair pessoas incríveis para perto de mim. É sobre escrever e falar aos corações despedaçados por aí. É sobre escrever e ouvir de alguém: “meu Deus, é isso que eu sinto e não sabia expressar”. É sobre escrever e criar laços que enfeitam a minha vida. É sobre escrever e experimentar a sensação de ter me encontrado na vida. É sobre escrever e viver a minha missão nessa terra. É sobre escrever e me libertar de três medicamentos controlados prescritos para tratamento de depressão.

Em 2017, não foi possível sentir tristeza, pois eu passei, quase o tempo todo, mergulhada na minha paixão, que é escrever. Tudo o que surgiu, de bom ou ruim, eu transformei em textos, dessa forma, os sentimentos negativos não se alojaram dentro de mim. Eu os dissolvia, no teclado ou na caneta. É que, não há espaço para frustração dentro de uma alma apaixonada.

Produzi, neste ano, 204 textos. Todos feitos com a alma. Minhas mãos apenas os digitaram. Alguns, fiz aos prantos, outros, fiz sorrindo. Alguns, foram desabafos meus; outros, inspirados em desabafos de pessoas quem me confiaram a partilha das suas dores, dos seus constrangimentos… dos seus sagrados. Eu não me lembro de ter me sentido tão plena. Eu não conhecia esse contentamento. E, minha alma grita eufórica ao se dar conta de que poderei escrever enquanto tiver vida e lucidez. Sou tão abençoada que meu dom não depende de vigor físico para ser exercido.

Em suma, aprendi a ser feliz com o que carrego na alma. Eu não sinto mais aquele vazio que sentia antes, quando eu vivia buscando minha felicidade nos outros. Era uma busca que atraía pessoas que não tinham nada para me ofertar e, que, para piorar, ainda apagava o pouco de brilho que me restava. Sigo, acreditando no amor. Contudo, nunca mais entrarei num relacionamento esperando que essa pessoa me faça feliz. Obviamente, fiquei mais exigente também. Nunca mais vou aceitar migalhas de ninguém.

Para finalizar, agradeço à cada vida que cruzou o meu caminho em 2017 e que me acrescentou algo de positivo. Agradeço a cada pessoa que leu os meus textos, que curtiu e que compartilhou. Agradeço a cada um que procurou por mim, através dos meus textos em outros sites e passou a me seguir. Obrigada a quem está me apoiando na minha página Portal Resiliência. Obrigada a quem me incentiva e torce por mim. Obrigada por cada manifestação de carinho que recebi nesse ano incrível.

Desejo à cada um, em 2018, todo o amor que houver nessa vida. Desejo paz, prosperidade, saúde e amigos. Desejo a convicção de que tudo é possível se você estiver, de fato, motivado. Que Deus nos abençoe e nos ilumine.

OBRIGADA,2017!

SEJA BEM VINDO, 2018!

Imagem de capa:  Romanova Anna/shutterstock

Por que pobre que deixa de ser pobre gosta de pisar em pobre?

Por que pobre que deixa de ser pobre gosta de pisar em pobre?

Uma coisa que eu, infelizmente, observo muito: pessoas que melhoram sua situação financeira e sobem um ou alguns degraus da escada social parecem esquecer rapidamente que há pouco tempo também eram pobres e sofreram o mesmo desprezo que agora estão dispensando a quem é mais pobre que elas.

Já vi gente que saiu da favela e falava mal dos favelados e motorista de primeiro carro novo comprado em sessenta prestações rindo de quem esperava na chuva pelo ônibus, o mesmo ônibus que ele pegava para ir trabalhar, em um passado não muito remoto.

Tem gente frustrada em seu emprego por ser maltratada pelos patrões, mas que não perde a oportunidade de esnobar ela mesma outras pessoas, assim que se vê do outro lado (do lado “mais forte), tratando mal vendedores em lojas, zeladores em prédios ou pedintes na rua.

Já é incompreensível ver gente rica de muito tempo tratando pobre como gente de segunda categoria, numa desumanidade que assusta. Isso já é difícil de entender, mas, agora, ver gente que conheceu a pobreza se vestindo de arrogância e prepotência para se achar melhor que outros que (ainda) não conseguiram sair da pobreza é que não dá para entender mesmo.

Parece que isso está enraizado na cabeça de nosso povo, essa mentalidade arcaica de que quem tem mais é mais, como se ter e ser fossem a mesma coisa. E quem quer ser mais necessita de alguém que seja menos, já que quem se compara precisa de uma referência e seria meio amargo alguém se comparar com quem tem mais que ele. Assim, a consequência lógica é rebaixar quem tem menos para se sentir mais elevado, enfeitando um pouco sua pobre existência.

Tem a história do Dr. Armando, que era advogado, mas não era doutor coisa nenhuma, porém, ele fazia questão de ser chamado assim. Um rapaz pobre do interior da Bahia, que foi para Salvador para estudar e que, para se formar, comeu o pão que o chifrudo amassou, limpou fossa e foi ajudante de pedreiro, serviu comilões no Habib’s na Praia de Piatã, foi placa de anúncio ambulante para os novos condomínios na Avenida Paralela e até picolé na praia ele vendeu.

Pois bem, esforçado ele foi, pisoteado também, e se formou em Direito aos troncos e barrancos. Com o canudo na mão, o Armandinho voltou para sua terra natal como Dr. Armando, o advogado, que, como dito, não era doutor, pois não tinha doutorado, mas que era cheio de doutorice e exigia que todos abaixo dele na hierarquia o tratassem dessa forma. Até de certos clientes ele exigia isso, numa arrogância sem fim. Agora, com um diploma que ele escondia na gaveta, pois suas notas não foram tão boas e ele se envergonhava disso, e um escritoriozinho perto do centro de uma cidade média de interior, ele se via flutuando numa nuvem, por cima dos mortais. Somente perante o juiz, o delegado ou os poderosos do lugar ele baixava a crista e parecia um menino nervoso que tinha feito algo errado.

O pior de tudo é que ele era colérico e tratava muito mal seus empregados, principalmente os domésticos, gritando com eles, os classificando de burros e preguiçosos e supondo que iriam morrer pobres, pois burrice e preguiça não levariam ninguém a lugar algum. E vivia dizendo que detestava pobreza.

Assustadora também era a passividade dos subalternos, que, calados, aceitavam as insultas do patrão. Por um lado, claro, eles eram dependentes, alguns até moravam em sua propriedade. Mas, por outro, seria bom ter mais coragem e impor limites ao novo rico que se comportava como um coronel de segunda categoria.

Mas nem precisamos de exemplos extremos como esse. Esse fenômeno acontece muitas vezes no dia-a-dia, quase despercebido, como aquele sujeito pobre que recebe um dinheiro extra, resolve ir jantar com a namorada num restaurante chique, com tudo que se tem direito, mas achando que tem o direito também de já entrar no restaurante tratando mal os garçons, sentindo-se rico por um momento e acreditando que “ser rico” implicaria também em tratar mal quem o serve.

Acredito que muita gente se comporta assim por não conhecer diferente. Quando ainda pobres, por terem sido explorados e maltratados e experimentado de perto a exclusão e os preconceitos contra a pobreza, aprenderam que é desse modo que a sociedade funciona: quem está em cima, pisa em quem está em baixo. E, agora, que conseguiram subir um pouco, eles também têm vontade de pisar. Se levo isso em consideração, até acho tal comportamento plausível. Mas plausível não quer dizer que seja bom.

Acho estranho e repudio qualquer ato que suponha a superioridade ou a inferioridade de quem quer que seja, mas, ao mesmo tempo, sei que todo efeito tem uma causa e que isso aí é efeito de alguma coisa. Não seria o efeito de um endurecimento de nossa sociedade, de uma mentalidade de consumo e de identificação social pelo que se possui, de dignidade comprada, onde quem tem pouco automaticamente vale menos?  Não costumamos definir o sucesso de alguém pela riqueza que acumula? E ainda não fazemos a bobagem de aceitar essa ideia absurda como normalidade?

Este documentário sobre um grupo de manifestantes sem-teto que, em agosto de 2000, foi de ônibus ao shopping Rio Sul, em Botafogo, zona sul do Rio, para protestar contra a desigualdade social, mostra bem como é a relação de nossa sociedade com a pobreza:

Documentário Hiato – “Eu só quero conhecer o Shopping” e o “Rolezinho” hoje

Penso que é essa distorção de valores, que afeta a sociedade como um todo, que faz com que também um pobre que emerge queira também pisar em outros para se sentir alguém.

Se queremos mudar isso, então seria essencial mudar exatamente essa mentalidade, essa forma estranha de convivência social que inventamos, mas que só serve para descaracterizar o lado humano de nossa sociedade.

Os pobres deixarão de tratar mal outros mais pobres no dia em que todos pararmos para perceber que é preciso bem mais que ter para ser e que poder material não torna ninguém melhor que ninguém. Os pobres aprenderão a respeitar outros mais pobres no dia em que eles mesmos perceberem que se é respeitado por ser quem é (um ser humano que tem uma dignidade inviolável!) e não pelo que se tem, já que ninguém aprende a respeitar se ele nunca foi respeitado.

Precisamos é retomar nossos valores e recuperar nossa humanidade, entendendo que a verdadeira superioridade não pode ser comprada e não se adquire através de riqueza material. A verdadeira superioridade nasce é dentro de nós. Uma pessoa verdadeiramente superior não é aquela que se acha melhor, mas sim que a entende que esse negócio de gente melhor ou pior não existe, tanto faz se rica ou pobre.

Imagem de capa: Por Ollyy/shutterstock

“Borbolete-se”! O mundo anda necessitado de lindas metamorfoses!

“Borbolete-se”! O mundo anda necessitado de lindas metamorfoses!

Todos nós temos algum tipo, nível ou grau de carência afetiva. A maioria de nós traz essa fome de afeto de experiências de não-amor vividas na infância. Atenção negada, abraços adiados, beijos censurados, silêncios opressores… cada um de nós sabe exatamente as feridas emocionais que carrega; ou pensa saber.

O que nos diferencia uns dos outros nessa questão dos buracos afetivos, é que alguns de nós têm consciência disso; outros, não se reconhecem nesse lugar; outros, negarão até a morte; e os casos mais graves: aqueles que vivem a bradar por aí que isso tudo não passa de uma enorme bobagem.

Se é coisa da cabeça ou de outro lugar menos conturbado de nós, eu não sei. O que eu sei é que a nossa maneira de estar no mundo e de nos relacionarmos com o outro é o que vai mudando o ritmo, a letra e a melodia da nossa música interna. Aquela música chiclete que não para de tocar em nossa frequência modulada emocional. E essa música foi composta, nota por nota, antes mesmo de virmos ao mundo.

E se tem uma coisa que é verdade, é que a gente dança conforme a música. Uns de forma mais desinibida, dando show na pista da vida; outros só no balancinho do corpo ou da cabeça, outros apenas ensaiam uma coreografia interna e não revelada… mas dançamos todos. Às vezes no sentido figurado, isso também é bem verdade.

Acontece que nesse vai e vem de nossas almas e corpos pela vida afora, de vez em quando a gente cria coragem e esfrega bem essa casca de carências sobre acumuladas e deixa a pele respirar, deixa a alma à vontade para ensaiar uma dança diferente, menos engessada e pesada de expectativas, no encontro com outros pares.

E esses encontros são tão raros e lindos que, muitas vezes, a gente corre o sério risco de acreditar que não temos direito a eles, que não os merecemos; que, no final das contas, pode ser que a gente não leve mesmo jeito para esse tal de amor. Que pena… que pena…
Porque na ânsia de sermos amados e de fazermos as pazes com todas as nossas pendências amorosas, acabamos por negligenciar afeto e acolhimento a quem jamais deveríamos abandonar: nós mesmos!

Porque baseados em crenças que nos sabotam o direito a um peito livre para receber afeto, vamos tecendo casulos de proteção… e nos apegamos tanto a esses casulos que abrimos mão do processo doloroso – porém libertador -, das inúmeras metamorfoses a que temos direito.

Abrir as asas recém tecidas e tímidas, bem devagarinho… com ternura e aceitação. Com respeito à sua transitória imperfeição. Encantar-se com as novas asas e ganhar o espaço desconhecido. Provar outros néctares, conhecer outros jardins. Até que seja a hora de nos misturarmos com outro alguém que ouse voar ao nosso lado, mesmo sabendo que o voo possa ser breve… ou simplesmente por acreditar que há voos que são para sempre, dentro de um “sempre” onde caibam os medos e as coragens de dois seres que, de tudo nessa vida, aprenderam que a única ´permanência real é a eterna transformação.

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Imagem: Pixabay

Acredite nos seus sonhos. Ninguém fará isso por você!

Acredite nos seus sonhos. Ninguém fará isso por você!

Quando eu era pequena, fui uma criança extremamente tímida. Sempre fui discreta. Nunca fiz questão de chamar atenção. Se eu chamava atenção das pessoas, eram por conta de alguns atributos. Por onde eu passava, as pessoas me elogiavam para minha mãe. Falavam que eu era uma moça extremamente educada. Modéstia a parte, sempre fui muito simples. Onde chego, comprimento a todos.

Cresci dessa forma. Quando saia com as pessoas, ficava na minha. Quando estudava, sentada no meu cantinho. Até nas reuniões de família, mal falava. Conforme fui crescendo, isso foi me incomodando. Queria ser igual as outras crianças, mas tinha vergonha das pessoas. Muitas coisas que gostaria de ter falado, guardei para mim. Então comecei a escrever.

A escrita começou a ser uma espécie de terapia. Tudo que estava guardado em meu coração, escrevia na esperança de que uma folha pudesse ajudar a expressar tudo que ficava guardado.

Quando completei 16 anos, dizia as pessoas que queria ser radialista. Sim, radialista.

Comecei a ouvir rádio muito cedo. Lembro-me com 10 anos, ouvindo Eli Correa na rádio Capital AM 1040 junto a minha vó. Ouvíamos todas as tardes a carta da saudade. Aliás. Ouço até hoje. Então quando cheguei nessa idade, coloquei em minha cabeça que queria que minha voz saísse da caixinha preta que sai som, assim como aquele locutor.

Fui estudar. Como foi difícil. Enfrentei muitas dificuldades. A cada aula, um desafio a ser superado. Gelava quando o professor nos dava um texto para lermos.

Após 8 meses de muita luta, me formei. Tirei DRT. Estudei operação de mesa. E realizei meu sonho. Com 18 para 19 anos virei locutora e passei a comandar um programa que durou 2 anos e meio.

Depois, entrei na faculdade de jornalismo. Não sou jornalista ainda, apenas estudante. Entretanto, encontrei minha paixão.

É um caminho árduo, mas quem disse que seria fácil?

Assim como qualquer sonho, requer muita força de vontade. Tive que superar algo que me acompanhou durante toda a infância. Parte da minha família, me julgou pela escolha. Com certeza, chama atenção uma moça tímida declarar que quer estudar comunicação, mas era meu sonho.

Hoje as pessoas que mais duvidaram de minha capacidade, me apoiam. Falo pelos cotovelos (risos).

Querido (a) leitor (a), nunca deixe ninguém te dizer que não é capaz. As pessoas falam por não terem a mesma coragem que você teve de arriscar. Você encontrará obstáculos, mas essas pedras, farão de você audaz.

Quando as coisas ficarem difíceis, repita consigo mesmo “Eu quero, eu posso, e eu consigo”.

Como cantou Renato Russo “Nunca deixe que lhe digam que não vale a pena acreditar no nosso que se tem”

Quem acredita sempre alcança.

Imagem de capa: ESB Professional/shutterstock

Fim de ano: feche este ciclo e prepare-se para as novidades do próximo.

Fim de ano: feche este ciclo e prepare-se para as novidades do próximo.

Sei que a vontade é de dizer que este ano não foi feito de flores. Que teve muita decepção, preocupação e um pouco de lágrimas. Nem tudo deu certo. Aliás, alguns planos saíram bem ao contrário do que se esperava. Algumas metas também ficaram pelo caminho.

Algumas pessoas partiram com um até breve, deixando no ar um “a gente se encontra por aí”, mas algumas se foram para sempre, deixando para trás a dor de um coração que jamais voltará a ser o mesmo.

Mas mesmo assim, entenda que este ano não foi de todo mau. Tudo o que aconteceu contribuiu para seu crescimento pessoal, apesar de algumas coisas não terem sido planejadas.

O fato é que realmente não se pode sair ileso de 365 dias de vida, sobre os quais pouco (ou nenhum) controle se pode exercer. Quando menos se espera, eles parecem ganhar vida própria e surpreendem os planos que fizemos no dia anterior, virando tudo de ponta-cabeça. É por isso mesmo, porque não se enfrenta trezentos e tantos dias sem se tornar uma pessoa diferente, que este é o momento certo para agradecer.

Este é o momento perfeito para reconhecer que os revezes da vida não chegam de mãos abanando e trazem aquela maturidade indispensável para se enxergar a vida como ela realmente é. E por ter vivido, ensinado e aprendido, é que se precisa reconhecer que nem tudo era flor, mas que os espinhos não trouxeram apenas sofrimento.

Abra-se a este momento de despedida do ano velho e erga a cabeça para dizer: “nem tudo foi como eu gostaria, mas ainda assim valeu à pena!”.

Porque valeu mesmo. Você não é mais a mesma pessoa do começo desse ano. Aprendeu a ser mais forte, a resistir e até perdeu alguns medos que te limitavam. Pode ser que agora você esteja se perguntando de onde veio tamanha coragem. Mas o que importa é que ela veio, e que saiu de dentro de você.

E graças a isso, você quer tentar coisas novas no próximo ano. Quer viver experiências inéditas porque descobriu o maravilhoso gosto de se aventurar. Percebeu o quanto é proveitoso provar das surpresas da vida, e que ela não tem limites em te surpreender.

Então, antes de partir para este admirável ciclo novo que está prestes a se abrir, agradeça! Só agradeça. Pelo que veio, pelo que passou e pelo que ficou. Agradeça a este ano que termina as mudanças profundas que ele provocou em você. E feche esta etapa. O que aconteceu não será esquecido, porque se tornou parte do que você é agora. Mas prepare-se para receber o que virá.

Seja inteligente ao estabelecer suas próximas metas. Seja gentil com você e trace planos que contemplem, sobretudo, as suas vontades. Pense em onde quer chegar e use bem seus 365 dias novinhos em folha.

E quando eles findarem novamente, que você possa comemorar com a tranquilidade de quem fez o melhor que podia.

Feliz ciclo novo para você!

Imagem de capa: Deer worawut/shutterstock

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