Ao ouvir “o problema sou eu, não você”, acredite. O problema, provavelmente, é o outro mesmo.

Ao ouvir “o problema sou eu, não você”, acredite. O problema, provavelmente, é o outro mesmo.

Não basta o telefone cair na caixa postal três vezes ao dia, a mensagem ser visualizada não respondida e o “nós combinamos alguma coisa qualquer dia desses”. Há pessoas que simplesmente ignoram os sinais mais explícitos de rejeição.

Todos já escutamos as mais diversas desculpas para justificar um término de relacionamento. São desculpas tão criativas que quase parecem verdades: “ainda não estou preparado”, “estamos nos conhecendo”, “vamos ser amigos” e a melhor de todas, “o problema não é você, sou eu”.

Acredito que essas desculpas poderiam até ser evitadas caso as pessoas entendessem os sinais de rejeição, antes do ato propriamente feito. É comprovado que a paixão cega e, talvez por esse motivo, muitos não percebem quando o outro não quer nada sério com elas. Pior: mesmo com todos os sinais escancarados de rejeição, acreditam que, a qualquer momento, o outro irá perceber que eles se completam e se amam.

Nunca foi você, nem algo que você falou ou fez, a história não fluiu porque um dos dois não estava disposto a amar. É preciso entender que, a não ser que a pessoa sofra de um pavor psicológico de relacionamentos, devido a traumas de relacionamentos anteriores, as desculpas servem para uma coisa: deixar explícito que o outro não está a fim de você e, não importa o quanto você esteja inteiro, quando um dos dois não quer, não há história. Simples assim.

Nem todo relacionamento tem o final que esperávamos e isso não quer dizer que não é um final feliz. Muitas vezes, perder o que amamos é uma baita sorte. Insistir em dizer eu te amo para quem não quer ouvir é loucura. Uma loucura cansativa que, um dia, fará você sentir vergonha de ter cometido. Não espere esgotar todas as possibilidades para ver o óbvio. Entender que não precisamos passar por certas situações é criar uma autodefesa para a alma.

Shakespeare dizia que “as paixões ensinaram a razão aos homens” e eu concordo em gênero, número e grau. Essa história de sempre ouvir o coração, nem sempre dá certo. Há um bom motivo para ele estar localizado abaixo (e longe) do cérebro.

Imagem de capa: Jacob Lund/shutterstock

Não existe criança difícil, difícil é ser criança em um mundo de pessoas cansadas

Não existe criança difícil, difícil é ser criança em um mundo de pessoas cansadas

Por Raquel Brito

Não existe criança difícil, o difícil é ser criança em um mundo de pessoas cansadas, ocupadas, sem paciência e com pressa. Existem pais, professores e tutores que se esquecem de um dos compromissos mais importantes da educação de uma criança: o de oferecer aventuras infantis.

Este é um problema tão real que, por vezes, podemos ficar preocupados pelo simples fato de uma criança ser inquieta, barulhenta, alegre, emotiva e enérgica. Há pais e profissionais que não querem crianças, querem robôs.

O normal é que uma criança corra, voe, grite, experimente, e faça do seu ambiente um parque de diversões. O normal é que uma criança, pelo menos nas idades prematuras, se mostre como ela é, e não como os adultos querem que ela seja.

Mas para conseguir isso, é importante entender duas coisas fundamentais:

  • A agitação não é uma doença: queremos um autocontrole que nem a a natureza nem a sociedade fomenta.
  • Fazemos uma favor às crianças se as deixarmos ficar aborrecidas e evitarmos a superestimulação.

Doenças? Medicação para as crianças? Por quê?

Mesmo estando muito na moda no setor de saúde e escolar, a verdadeira existência do Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade (TDAH) é muito questionável, pelo menos da forma exata como está concebido. Atualmente considera-se que este transtorno é uma caixa onde se amontoam casos diversos, que vão desde problemas neurológicos até problemas de comportamento ou de falta de recursos e habilidades para encarar o dia a dia.

As estatísticas são esmagadoras. Segundo dados do Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais IV- TR (DSM-IV TR), a prevalência do TDAH nas crianças é de 3 a 7 casos por cada 100 meninos e meninas. O que preocupa é que a hipótese biológica subjacente a isto é simplesmente isso, uma hipótese que é comprovada por ensaio e erro com raciocínios que começam por “parece que isto ocorre porque…“.

Enquanto isso, estamos supermedicando as crianças que vivem conosco porque elas mostram comportamentos perturbadores, porque não nos mostram atenção e porque parecem não pensar quando realizam as suas tarefas. É um tema delicado, por isso temos que ser devidamente cautelosos e responsáveis, consultando bons psiquiatras e psicólogos infantis. 

Partindo desta base, devemos destacar que não existe um exame clínico nem psicológico que determine de forma objetiva a existência do TDAH. Sem dúvida os exames são realizados com base em impressões e realização de provas distintas. O diagnóstico é determinado com base no momento em que são realizadas e na impressão subjetiva destas provas. Inquietante, não é?

Não podemos esquecer que estamos medicando as crianças com anfetaminas, antipsicóticos e ansiolíticos, os quais podem causar consequências nefastas no desenvolvimento neurológico delas. Não sabemos qual vai ser a repercussão deste medicamento e muito menos do uso excessivo do mesmo. Um medicamento que apenas vai reduzir a sintomatologia, mas que não reverte de forma alguma o problema.

Parece uma selvageria, mas… Por que isso continua? Provavelmente um dos motivos é o financeiro, pois a indústria farmacêutica move bilhões graças ao tratamento farmacológico administrado às crianças. Por outro lado está a filosofia do “melhor isto do que nada”. O autoengano da pílula da felicidade é um fator comum em muitas patologias.

Deixando de lado rótulos e diagnósticos que, na proporção em que se dão, tornam-se questionáveis, devemos colocar os freios e ter consciência de que muitas vezes os que estão doentes são os adultos, e que o principal sintoma é a má gestão das políticas educativas e das escolas.

Cada vez mais especialistas estão tomando consciência disto e procuram impor restrições a pais e a profissionais que sentem a necessidade de colocar a etiqueta de TDAH em problemas que, muitas vezes, provêm principalmente do meio familiar e da falta de oportunidades dadas à criança para desenvolver as suas capacidades.

Como afirma Marino Pérez Álvarez, especialista em Psicologia Clínica e professor de Psicopatologia e Técnicas de Intervenção na Universidade de Oviedo, o TDAH nada mais é que um rótulo para comportamentos problemáticos de crianças que não têm uma base científica neurológica sólida como é regularmente apresentada. Ele existe como um rótulo infeliz que engloba problemas ou aspetos incômodos que efetivamente estão dentro da normalidade.

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“Não existe. O TDAH é um diagnóstico que carece de identidade clínica, e a medicação, longe de ser propriamente um tratamento, é na realidade doping”, afirma Marino. Generalizou-se a ideia de que o desequilíbrio neurológico é a causa de vários problemas, mas não há certeza de que ele seja causa ou consequência. Isto é, os desequilíbrios neuroquímicos também podem ser gerados na relação com o que rodeia a criança.
Ou seja, a pergunta adequada é a seguinte: o TDAH é ciência ou ideologia? Convém sermos críticos e olharmos para um mundo que fomenta o cerebrocentrismo e que procura as causas materiais de tudo sem parar para pensar sobre o que é a causa e o que é a consequência.
Partindo desta base, deveríamos pensar em quais são as necessidades e quais são os pontos fortes de cada criança e de cada adulto suscetível a ser diagnosticado. Abordar isto de maneira individual proporcionará mais saúde e bem-estar, tanto dos pequenos como da sociedade em geral. Então, a primeira coisa que devemos fazer é uma análise crítica de nós mesmos.

TEXTO ORIGINAL DE A MENTE É MARAVILHOSA

Não tenho medo de compromisso e sim de estar perdendo o meu tempo

Não tenho medo de compromisso e sim de estar perdendo o meu tempo

Quantas e quantas vezes nos entregamos de corpo e alma, com tudo, a um relacionamento e, com o passar do tempo, vamos nos vendo enterrados em uma relação sofrida e que pende somente para o nosso lado? Quantas e quantas vezes não conseguimos ter de volta nem metade do tanto que oferecemos, que nos doamos, que amamos com inteireza e dedicação sincera?

Aqueles que foram feitos para amar com intensidade e compartilhar nada menos do que tudo costumam se abrir a quem, muitas vezes, não vem com certezas, nem devolve na mesma medida a carga afetiva partilhada. É assim que se perde tempo, que se mergulha no vazio, que se colhem decepções. É assim que muita gente passa a desacreditar do amor, da possibilidade de encontrar reciprocidade completa junto a alguém.

Sempre existirá quem não devolve completude, quem não se doa por inteiro, quem se acostumou a receber sem precisar oferecer nada em troca, quem não enxerga ninguém além de si mesmo. Seja por conta das decepções acumuladas, do medo de ser usado, exposto, seja por conta do egoísmo por si só, a verdade é que cada vez menos pessoas parecem dispostas à entrega máxima e transbordante que o amor requer.

Relacionamentos que não deram certo porque os desencontros acabaram por distanciar os parceiros, embora tivessem ambos tentado não soltarem as mãos, deixam marcas doídas, mas que acabam nos fortalecendo quanto ao que realmente queremos. Por outro lado, os relacionamentos que mal começam e já parecem fadados ao fracasso, devido ao não comprometimento de uma das partes, enfraquecem nossas certezas.

Nem todos os relacionamentos terão finais felizes, nem todo amor será correspondido, nem todo mundo sai com a dignidade intacta após um rompimento doloroso. Porque algumas pessoas simplesmente não se doam, não se entregam, não se devolvem nem o mínimo que seja, acuadas que se encontram pelas amarras da insegurança e da desconfiança. Não se permitem amar de verdade.

Não tema o que possa vir a dar errado, ou jamais conseguirá se encontrar e encontrar alguém que dividirá a vida com você sem vírgulas. Muitas vezes, as coisas dão certo, sim, e, quando isso acontece com a gente, a sensação de tudo ter valido a pena compensa cada lágrima do que tenhamos sofrido até então. É a vida.

Imagem de capa: Maksim Toome/shutterstock

Às vezes, aquilo que queremos está bem diante de nossos olhos

Às vezes, aquilo que queremos está bem diante de nossos olhos

Eu estava na biblioteca com uma amiga, procurando um livro de que eu precisava muito. Olhamos todas as prateleiras, cuidadosamente, para ver se o encontrávamos, mas nada. Verificamos o papel com a sequência anotada, onde deveríamos encontrá-lo, e nada, ele não estava lá.

Nós estávamos no lugar certo e nada de achá-lo. Eu já estava desistindo e indo embora, até que minha amiga olhou para mim e disse: “Tha, olha aqui embaixo, ele está aqui”. E não é que ele estava lá mesmo!

Mas de que isso importa? Sabe, às vezes, as coisas estão diante dos nossos olhos, mas estamos tão focados em algo, que nos esquecemos de olhar ao nosso redor. Olhamos para o passado, para os nossos tombos e fracassos e não olhamos para o que está bem diante de nós. Eu fixei meus olhos em apenas uma prateleira e me esqueci de olhar bem embaixo do meu nariz.

Sabe, esse lance de esperar a pessoa certa é muito parecido com o exemplo do livro. Tem dias em que a gente se questiona se ela realmente existe. Não sei você, que está lendo esse texto, mas eu já idealizei muito e sempre ouvia isso: “Você escolhe demais, cuidado, vai acabar sendo escolhida”, e sim, eu fui escolhida, mas não por ser a última opção de alguém, mas por ser a primeira.

Fui escolhida por Deus para alguém e Deus o escolheu para mim, para me amar. Mas isso só aconteceu quando eu permiti e me desfiz de toda a bagagem do passado, quando eu esqueci os meus padrões e ideias fantasiosas. Quando eu vi que o que eu achava ser o melhor era pequeno demais comparado ao que Deus preparou para a minha vida.

Algumas pessoas se entregam para qualquer um, por medo de ficar sozinhas; outras não se entregam, por medo de fazerem a escolha errada. Acontece que ambos os casos estão completamente equivocados. Primeiramente, amor não é uma questão de tentativas incessantes por medo de nunca o encontrar. E, segundo, o amor não é previsível, não é algo que bate à sua porta, você olha e diz: “Ah, é esse mesmo, pode entrar”.

Esse lance de pessoa certa está longe de ser a pessoa idealizada, está mais perto de ser a pessoa inusitada e imprevisível. Está em nos vestirmos da nossa beleza mais bonita, a que vem do interior, de abrir nosso coração para o novo.

Às vezes, estamos tão machucados, calejados, que a tal “pessoa certa” acaba pagando o preço disso. Sim, porque nos fechamos e bloqueamos qualquer possibilidade de ela ser a pessoa que tanto esperávamos, porque qualquer coisa se torna motivo para descartá-la.

Quando você conseguir enxergar para além do seu mundo e estiver disposta a conhecer as coisas ao seu redor, quando você entender que não é metade de ninguém, mas que é inteira, quando entender que não precisa de alguém para ser feliz, porque você é feliz, aí sim, você poderá encontrar alguém especial para somar, multiplicar, transbordar. E não dividir.

O que quero dizer é: por que tanta pressa em ter alguém, se você não consegue se olhar no espelho e enxergar a pessoa maravilhosa que você é? Por que tanta pressa em ter alguém, se você não consegue, ao menos, se amar do jeito que deveria? Por que querer tanto ser a metade de alguém, se você pode ser inteira?
Já reparou que tem gente elogiando o seu sorriso e você não dá valor nisso porque está esperando alguém vir e fazê-la sorrir? Já reparou que tem gente reparando na sua roupa nova e você querendo mudar de visual para agradar? Já reparou que pede por alguém especial, mas não deixa ninguém mostrar o quanto é especial para você?

Pois bem, eu estava desistindo do livro, estava indo embora, mesmo precisando muito dele. Mas eu precisei de alguém que batesse em meus ombros e dissesse: “Você olhou aqui embaixo? Ele está aqui”.

Será que você não está precisando disso? De alguém que diga: “Ei, mude o foco, mude a direção, veja por outro ângulo, está aqui”. Às vezes, não encontramos alguém que estávamos procurando, mas alguém que estava procurando por nós.

Imagem de capa: baranq/shutterstock

Existem pessoas lindas por trás das fofocas que fazem sobre elas

Existem pessoas lindas por trás das fofocas que fazem sobre elas

 

Perdemos muitas oportunidades ao longo de nossas vidas, tanto no ramo profissional, quanto no pessoal. Às vezes, algo está ali bem na nossa frente e deixamos passar. Daí, já foi, já era. Dentre tantos vacilos, um dos mais recorrentes vem a ser o que diz respeito às pessoas que ignoramos, sem nem mesmo as conhecer direito, por conta de impressões que outros tiveram e que não são nossas de fato.

Infelizmente, deixamo-nos impressionar, muitas vezes, pelo que os outros vêm nos dizer, tanto de bom quanto de ruim, sobre alguém. Embora cada um tenha seus próprios afetos e desafetos, por motivos que geralmente se relacionam tão somente a razões pessoais, muitas pessoas costumam expor suas opiniões sobre os outros a quem lhe der ouvidos e isso atrapalha o discernimento de quem ainda não conhece de perto o foco das fofocas em pauta.

Na verdade, ninguém consegue explicar direito o porquê de gostarmos ou não de algumas pessoas, pois sentimentos são subjetivos e muitos deles indecifráveis. Algumas pessoas queremos bem longe porque nos fizeram algum mal, porém, sempre existem aquelas com quem não simpatizamos de jeito nenhum, mesmo que nada nos tenham feito. Sobretudo, devemos evitar criar expectativas sobre um indivíduo, a partir do que alguém nos diz sobre ele.

É necessário percebermos que aquilo que desagrada alguém pode não nos desagradar, ou seja, os motivos que levam uma pessoa a não gostar de outra não são motivos que todos possuem. O que é desagradável a uns pode ser prazeroso para outros. Por isso, deixarmos de aprofundar o relacionamento com quem já nos foi descrito de maneira negativa por um terceiro pode nos levar a perder um maravilhoso encontro. E a gente perde muito quando deixa de conhecer certas pessoas.

É bom ouvir conselhos alheios, em certos momentos, porém, existirão situações que deveremos experimentar, vivenciar de perto, ali dentro, para que tiremos nossas próprias conclusões, ou nossa vida sempre ficará à mercê da vida dos outros. Enfim, tente conhecer as pessoas sem dar ouvidos ao que dizem a respeito delas. Existem seres humanos lindos por trás das fofocas que fazem sobre eles.

Imagem de capa: Dean Drobot/shutterstock

Sofomaníaco: indivíduo estúpido que se acha extremamente inteligente

Sofomaníaco: indivíduo estúpido que se acha extremamente inteligente

Há dias, deparei-me com esse conceito, que eu desconhecia. De início, refleti sobre mim mesmo, para ver se eu não me encaixava como exemplo, mas percebi que tento conhecer bem minhas limitações intelectuais. Então, comecei a procurar exemplos de sofomaníacos por aí e, obviamente, constatei que as redes sociais estão lotadas deles.

A palavra “estúpido” possui muitos significados, mas, nesse caso, conclui-se o mais adequado é tomá-la como sinônimo de “ignorante”, referindo-se a indivíduos que não têm o conhecimento necessário para opinar com propriedade sobre um fato e, mesmo assim, opinam. E o fazem se baseando em juízos de valor, em achismos, sem se aprofundarem sobre aquilo que se discute.

Hoje, assistimos a muitos embates entre grupos com ideologias diferentes, nas redes sociais principalmente, no que diz respeito a assuntos vários, relacionados à política, à religião, à sexualidade, aos governos, a relacionamentos, entre tantos outros. Qualquer questão minimamente crítica inicia uma avalanche de comentários e de postagens, muitas vezes agressivas, pois cada lado quer que seu ponto de vista vença, mesmo que por meio de argumentos pífios.

Comum, nesse contexto, proliferarem as notícias falsas – fake news -, que, muitas vezes, denigrem a imagem de alguém que esteja na berlinda naquele momento, através de inverdades, de fatos mentirosos, de calúnia e difamação. Isso porque a internet parece uma terra de ninguém, ou melhor, parecia, porque, recentemente, muitos processos estão sendo movidos e causas vêm sendo ganhas, em favor de quem vê sua reputação manchada por fofocas infundáveis. No entanto, calúnias virtuais não estão mais circulando livremente impunes.

Cada um tem o direito de pensar o que quiser, porém, quando os pensamentos vão parar em registros virtuais, há necessidade de moderação e um mínimo de educação. Da mesma forma, não cabem, em pleno novo milênio, posturas extremistas, preconceituosas, que incitam ao retrocesso, após tanta luta para a conquista dos avanços que já se firmaram. Ninguém é obrigado a gostar, a concordar, mas respeito é fundamental, sim, e imprescindível. Caso a pessoa exponha opiniões publicamente, terá que saber assistir a muita gente contrariando suas ideias, pensando exatamente o contrário, e isso não deve levá-la a agredir estupidamente, em vez de argumentar.

É preciso ter a consciência de que nada apaga o que se posta na internet, ou seja, assim como se deve proceder na vida, é necessário debater muita cautela, pesar bem as palavras antes de digitar em frente ao computador. Ou isso, ou encarar gente esbravejando, ou até mesmo abrindo processos judiciais. Tudo indica, ultimamente, que não haverá mais impunidade para os arrogantes que disseminam ódio e difamação pelas redes sociais. E isso é bom demais da conta.

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Artigo originalmente publicado em Prof Marcel Camargo

Ajuste as velas do seu barco

Ajuste as velas do seu barco

Todos nós passamos por inúmeras mudanças durante a vida. Nossa vida é dinâmica, é um constante processo de mutação e evolução. Cada vez mais eu entendo que estas mudanças são absolutamente necessárias para que a nossa vida tenha um sentido pleno. Se nunca nos questionássemos, se passássemos a vida inteira apenas fazendo exatamente a mesma coisa todos os dias, chegaríamos ao fim dos nossos dias com uma sensação terrível de não ter vivido, e não existe sensação pior do que essa. Quero hoje lhe levar a refletir um pouco sobre isso, a partir de uma belíssima frase do pensador e filósofo chinês Confúcio.

“Você não pode mudar o vento, mas pode ajustar as velas do barco para chegar onde quer”
Confúcio

Essa frase é de uma profundidade incrível. Ela está nos dizendo que durante a nossa vida nós temos muitas rotas, mas apenas um único caminho, um único destino, que é a nossa felicidade e realização pessoal. No fim das contas, todas as nossas experiências nos levam a esse caminho em busca da realização. É comum haver desvios durante esse caminho, e precisamos estar sempre atentos para ajustar as nossas velas para que o destino final não seja comprometido pela força do vento. O que seria esse vento? Esse vento são as adversidades, os problemas, os medos, as tristezas, os receios, tudo aquilo que nos desvia do nosso maior objetivo. Ter essa consciência de que o vento sempre estará soprando e pronto para nos desviar nos ajuda nessa atenção.

Tomo a minha própria experiência. Eu já tive e continuo tendo muitas mudanças na vida, mas em todas elas, eu tenho procurado me manter bem atento, principalmente com relação ao meu comportamento e sentimentos. Sou um rapaz bastante intuitivo e percebo em mim de forma relativamente rápida quando algo não está indo bem ou na direção que deveria ser. Nessas horas eu faço o que recomendo a todos e a você que me lê agora, eu paro, respiro fundo, me aquieto, passo a olhar com mais atenção as pequenas coisas que me rodeiam, a natureza, o céu, lembro os caminhos que trilhei até o momento presente, lembro as pessoas que me ajudaram para que tudo desse certo, lembro as dificuldades que tive até chegar onde estou etc etc. A grande questão é estar em paz consigo mesmo. Essa tranquilidade nos faz refletir e tomar uma decisão mais acertada, ou seja, esse tempo de parar para refletir é o tempo mais que necessário para o ajuste das nossas velas, entende?

Passado esse tempo, o vento continua a soprar e soprar forte, mas se estivermos atentos, ele vai estar nos direcionando para onde realmente devemos ir. Assim, tudo se torna mais simples, mais sereno. Porém, sempre devemos estar alertas, pois, como sabemos bem, o mar pode tornar a se agitar e os ventos podem nos empurrar para fora do nosso destino, mais uma vez é preciso parar, silenciar, para ajustar as velas novamente, num processo que nunca para, pois essa é a dinâmica da vida.

Que você reflita sobre essas poucas palavras e se mantenha sempre atento, para que as velas do seu barco estejam ajustadas na direção que lhe levará à sua realização pessoal, à sua felicidade, à sua plenitude. Paz e luz…

Imagem de capa: Kate Kultsevych/shutterstock

Homens, vocês são lindos quando choram!

Homens, vocês são lindos quando choram!

Eu sempre achei crudelíssima a frase: “homem não chora”. Eu me angustiava quando via o meu pai reprimindo os meus irmãos e pedindo para que eles engolissem o choro sob a justificativa “chorar é coisa de mulher”. Meu pai era um grande ser humano, mas reproduzia essa maldita herança machista.

Eu percebi que meus irmãos praticamente não choraram quando perdemos os nossos pais. Não que eles não estivessem em profundo sofrimento, contudo, era nítido o esforço que eles faziam para conterem as lágrimas. O oposto de mim, que, como sempre fui autorizada a chorar, fiz isso com toda a intensidade que me é peculiar.

Felizmente, não assimilei essa percepção desumana de que os homens não podem chorar. Mesmo tendo nascido num ambiente cheio de homens e fazendo parte de uma instituição historicamente masculina, sempre dei carta branca para que eles chorassem perto de mim ou para mim.

Eu adoraria que esse texto tivesse algum poder transformador, especialmente, para os homens. Eu o escrevo nutrindo a esperança de que alguns deles leiam e que sintam-se livres para exercer o direito de chorar. Eu queria que eles soubessem que eles são lindos e incríveis quando choram, e, que, nós, mulheres, não nos importamos quando eles mostram as suas fragilidades.

Quer coisa mais linda do que um homem chorando? Eu me encanto, sim. E pouco me importa o motivo do choro dele. Chore de emoção, chore de saudades, chore de dor, chore de medo, chore de angústia, chore de frustração, chore de gratidão, chore de contentamento, chore de euforia, chore de raiva, chore pelas razões que quiser.

Um dia desses, eu e minha turma do sétimo semestre de Psicologia tivemos o privilégio de assistir um grande homem se emocionando. O nosso professor Gilvan Gomes, Doutor em Sociologia, chegou na sala de aula, e, como era o dia internacional da mulher, ele dirigiu às mulheres da turma algumas palavras de homenagem. Ao final ele disse algo mais ou menos assim: se cheguei até aqui foi porque tive minha mãe e minhas irmãs me apoiando enquanto eu estudava. Elas cozinhavam para mim e cuidavam das minhas roupas, acho que eu as escravizei, afinal, elas deixaram de cuidar dos interesses delas para se dedicarem a mim. Ele ficou visivelmente emocionado e não foi capaz de concluir a mensagem por ter ficado com a voz embargada. Ali estava, um homem expressando gratidão e reconhecimento de uma forma tão linda que me inspirou esse texto. Obrigada, mestre!

Homem, chore à vontade, esqueça essa bobagem de que isso é demonstração de fraqueza. E, ainda que seja, qual o problema em mostrar-se fraco? Você é humano, tão humano quanto o direito de chorar.

Imagem de capa: Tracy Spohn/shutterstock

As vezes, não é a falta de amor que separa as pessoas, mas sim a preguiça

As vezes, não é a falta de amor que separa as pessoas, mas sim a preguiça

Existem pessoas que se amam, mas não estão juntas. É verdade que o amor pode acabar, por inúmeras razões, porém, outras vezes, é a paciência que termina, porque fazer papel de bobo cansa. Chega uma hora em que nossa dignidade grita, pedindo clemência, quando, então, tomamos a sábia decisão de ir embora, ou de mandar o outro passear. Daí já era.

Uma das fortes razões que distancia de vez as pessoas vem a ser a decepção. Quando nos decepcionamos dia após dia, após vermos as promessas sendo quebradas, o silêncio substituindo o diálogo, a imaturidade vencendo a capacidade de crescer. A gente inevitavelmente cria expectativas e, no andar da carruagem, não raro acaba por perceber que se baseou apenas na máscara que o parceiro usou de início, para nos atrair.

Mesmo assim, ninguém desiste rapidamente do outro, porque nosso instinto inicial é tentar preservar o que lutamos para conquistar. A gente quer que o tanto de investimento e de tempo demandados na construção do relacionamento não tenham sido em vão. Então, um dia a gente acorda e percebe que jogou fora o nosso melhor, ao compartilharmos nossas vidas com quem não queria abrir mão de nada, a quem nunca olhou além do próprio umbigo.

O que mais vemos, nesses momentos, são desculpas e mais desculpas. É o trabalho que consome a energia, são as preocupações diárias, a falta de grana, a tristeza frente aos sonhos desconstruídos. É fato que o cotidiano e as atribulações pessoais nos desanimam e achatam o nosso ânimo, mas é impossível não achar um espacinho, em meio a isso tudo, para ao menos desejar uma boa noite ao se deitar. O amor tem que ser mais forte do que qualquer desculpa.

Como se vê, às vezes, não é a falta de amor que separa as pessoas, mas sim a preguiça. Preguiça de dizer “bom dia”, de olhar nos olhos, de dar as mãos. Preguiça de se lembrar das lutas e das superações. Preguiça de se importar, de se desculpar, de regar. E fim.

Imagem de capa: Billion Photos/shutterstock

AUDREY HEPBURN foi uma grande leitora. Sabia que cercar-se de livros te deixa mais humilde?

AUDREY HEPBURN foi uma grande leitora. Sabia que cercar-se de livros te deixa mais humilde?
Audrey Hepburn foi uma das atrizes mais famosas do cinema. Atuou como par romântico dos principais atores americanos, entre eles William Holden, Humphrey Bogart, Gregory Peck, Fred Astaire, Gary Cooper, Cary Grant, Rex Harrison e Sean Connery. Em sua biografia e segundo relatos de quem a conheceu, entretanto, as suas maiores características foram sua elegância e suavidade. Outra característica humanizadora de Audrey foi a leitura.
Saiba mais sobre os benefícios de viver cercado por livros:

A leitura, sem dúvida nenhuma, é a melhor maneira de conquistar conhecimento. Mesmo que frequentemos palestras, cursemos vídeo-aulas, conversemos com pessoas que são referências, anotemos, e revisemos, nada substitui uma leitura completa, calma e minuciosa. Muitos empresários, entre eles, os mais inteligentes e bem sucedidos do mundo, sabem que a melhor maneira de se manter atualizado, competitivo e antenado é lendo! E nós, que também já sabemos disso, acabamos apaixonados por livros e adquirimos muito mais do que conseguimos ler, não é mesmo? E aí vem a CULPA…

Mas, por outro lado, se você tem muitos livros e não consegue ler todos, não se preocupe mais,  pois isso demonstra sua sede de saber, e só de tê-los ali por perto, só isso, já faz com que você se sinta inspirado e motivado a sempre estar aprendendo algo novo.

Outro dia me peguei olhando os meus livros e minha biblioteca particular e pensei: tenho que doar alguns, muitos eu nem li e nem lerei em toda a minha vida. Mas, logo depois que pensei isso, vagando na internet achei uma matéria sobre a incrível biblioteca do escritor Umberto Eco, que em seu acervo pessoal possui 30 mil volumes e comecei a pensar:  “Poxa, e eu achando que tinha muitos, será mesmo que Eco leu todos esses livros?”. E, logo a baixo no texto, veio a explicação: Claro que ele não leu todos, mas o ambiente de sua biblioteca lotada o mantinha faminto pelo conhecimento! Eureka! É isso mesmo que meus livros dizem para mim, mesmo eu não lendo todos, eles me mantém dedicada ao conhecimento e ao prazer de aprender.

Ou seja, quanto mais livros você tem, mais você quer ter, e eles não servem apenas para uma leitura completa, eles podem ser meios de consulta e pesquisa. Eu mesma possuo livros que são meus companheiros de vida, sempre recorro a eles para me lembrar de aprendizados que, às vezes, guardo em uma caixinha da memória e quando percebo, lá estou eu, tendo que revisitá-los.

Quanto mais livros não lidos temos em casa, mais a sua mente te lembra sobre o tanto que você ainda não sabe sobre as coisas e o tanto precisa permanecer humilde. Audrey Hepburn e Umberto Eco, mesmo que inconscientemente, sabiam disso!

Editorial CONTI outra baseado na argumentação do autor e estatístico Nassim Nicholas Taleb sobre as antibibliotecas.

Imagem de capa: reprodução

Não estou fazendo joguinho. É que realmente cansei

Não estou fazendo joguinho. É que realmente cansei

Quando me ensinaram sobre o amor ninguém comentou nada sobre existir semelhança entre amar e jogar. Ninguém comentou sobre amor e poker da mesma forma, mas percebo hoje que muita gente ama assim. Muita gente ama jogando com a emoção dos outros.

Então, quem é sincero acaba levando certa desvantagem emocional, costuma cair e ralar os joelhos sentimentais, até notar que está em um jogo.

Não existe nada mais broxante que perceber que estamos amando enquanto o outro, no caminho oposto, está jogando com a nossa sinceridade e fazendo pirraça do nosso sentimento. Falando por mim, assim que essa percepção me vem, eu perco o interesse mesmo.

É que gente do bem insiste, tenta, vira, volta, dá chance, liga, mas quando percebe que o outro está tripudiando, vai embora mesmo, vai embora pra nunca mais. Gente boa é gente boa, não tem jeito, mas gente boa não é gente besta, tola ou tapada. Gente boa entende melhor que ninguém de amor porque ama desmedido e sincero. Ama diariamente e do mesmo jeitinho. Ama a vida, a casa, a rua, a amiga, o amigo e aquele que faz o coração bater mais forte.

E se o bendito que acelera o nosso coração entender de amor, vai ser bonito de ver, ouvir e sentir. Vai ser pra vida inteira, mesmo que esse fulano more longe, mesmo que chova torrencialmente, mesmo que as áreas de interesse não se cruzem, mesmo que o mapa astral for retrógrado, mesmo que o mundo acabe.

Mas se o bendito escolhido for um jogador, daí é hora de contar pro coração que ele merece muito mais do que está sendo ofertado, que ele merece ser feliz se lambuzando com uma farta ceia amorosa. Que migalhas de amor não alimentam. Que o amor mora na confiança e sinceridade.

Aquele que ama de verdade sabe que quem joga no amor já perdeu. Gente que ama de verdade não aceita esse jogo não. Não aceita cair nessa armadilha tola de levar horas pra responder uma mensagem. De deixar o telefone tocar sem atender. De reagir friamente a uma declaração de amor. Gente que ama de verdade cai fora quando o assunto é fingir amor. Gente que ama de verdade adora se atirar no que é recíproco e não faz joguinhos quando afirma que acabou.

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Atribuição da imagem: pixabay.com – CC0 Public Domain

“Eu ensino o meu filho a cozinhar e a fazer as tarefas do lar”. E você?

“Eu ensino o meu filho a cozinhar e a fazer as tarefas do lar”. E você?

É muito comum nos depararmos, quando entramos em uma casa qualquer de brasileiros, com aquela mãe toda descabelada, andando pra lá e pra cá, lavando, passando, cozinhando, verificando a agenda e a tarefa de casa do filho, estudando para a prova, levando e buscando nas atividades extracurriculares e chegando no final do dia estafada, morta-viva, literalmente, destruída.

Indo na contramão dessa cena horripilante, uma mãe resolveu se manifestar e dizer o que deve ser feito dentro de casa, e o quanto é importante ensinar os filhos enquanto crianças a serem participativos e cooperarem com a rotina do local onde vivem.

Baseada nessa necessidade, Nikkole Paulun, moradora de Monroe Michigan, EUA, desde cedo já ensina seu filho mais velho a assumir responsabilidades pelo cuidado da casa. Ela é solteira e mãe de duas crianças. Possui muitos compromissos e responsabilidades por ser mãe solteira, e não quer que seu filho chegue a idade adulta sem saber cuidar e sem ter o compromisso com o seu lar e por isso pede que, em alguns momentos, ele também ajude.

Para incentivar outras mães a fazerem o mesmo, ela escreveu a seguinte declaração para um site norte-americano:

“Eu ensino o meu filho a cozinhar e a fazer as tarefas do lar. Por quê? Porque as tarefas do lar não são apenas para as mulheres. Porque um dia talvez ele seja um homem solteiro, vivendo por conta própria, e que vai saber lavar a roupa e não vai pedir comida toda noite. Porque um dia ele pode querer impressionar alguém com uma comida que ele mesmo preparou. Porque um dia, quando ele tiver filhos e uma esposa, ele vai ter que fazer a parte dele em casa. Porque eu vivo em uma geração de pessoas que reclamam que a escola não nos ensinou a cozinhar, lavar a roupa, dar nó em uma gravata, ou fazer imposto de renda. Porque ensinar o meu filho a fazer essas coisas e ser um membro produtivo da sociedade tanto na rua quanto em casa, começa COMIGO. Porque não tem problema deixar o seu filho ser uma criança, mas ainda assim ensiná-lo uma lição ao longo do caminho. Meu filho nunca vai ser “macho demais” para cozinhar e fazer as tarefas. Ele vai ser o tipo de homem que pode entrar em casa depois de trocar um pneu e ver como está o assado no forno. Alguém que consegue separar a roupa e também aparar a grama. Lembrem-se pais, um homem que acredita que não deva cozinhar ou fazer as tarefas já foi um menino que nunca foi ensinado”, finaliza brilhantemente.

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Se todas as mães pensassem assim, não existiriam homens machistas nesse mundo! O fato é que muitas mães ficam acuadas em ensinar essas tarefas para os filhos por conta do marido machista que toma a frente na hora que ela tenta impor essas decisões. Quando a mulher fica sozinha, na maioria das vezes, ela consegue colocar para os filhos que meninos e meninas possuem a mesma responsabilidade dentro de um lar. Mas não são todos os homens que são machistas, existem alguns que dão ótimas lições de cuidados com a casa e com a esposa, então não podemos generalizar.

Parabéns Nikkole, seu filho vai ser um homem incrível! E, como toda criança, agora merece sua folga!

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Editorial CONTI outra. Imagens Nikkole Paulun

Trair é uma decisão, não um deslize…

Trair é uma decisão, não um deslize…

Somos condicionados socialmente a sermos fiéis e, quando o assunto é relacionamentos, existe uma secreta constituição que rege todos os casais da terra: não trair em hipótese alguma.

A traição, em seu sentido mais amplo, não se limita à infidelidade entre casais. A traição pode ser também de social, familiar, profissional ou até mesmo em relação aos nossos próprios ideais. Indiferente do estilo em que se apresenta, as marcas deixadas por ela são profundas e eternas.

Na literatura temos exemplos de infidelidade que “justificam-se” por motivos clássicos: carência, vingança ou fraqueza. Otelo de William Shakespeare (1603), Madame Bovary de Gustave Flaubert (1857), O Primo Basílio de Eça de Queirós (1878), Memórias Póstumas de Brás Cubas – Machado de Assis (1881), São Bernardo de Graciliano Ramos (1934), Hollywood de Charles Bukowski (1989) são alguns desses exemplos. E, na vida real não seria muito diferente.

Os traidores não precisam de motivos para trair. Precisam de oportunidades. Quem trai se preocupa mais com as desculpas que dará ao erro do que com as conseqüências do ato (e olhe que, na categoria drama, o traidor deveria ser indicado ao Oscar).

Trair é toda e qualquer forma de ferir quem, um dia, confiou em você. Traímos de tantas formas que, muitas vezes, em temos consciência disso. Traímos quando esquecemos as pequenas gentilezas; traímos quando fingimos que tudo está bem, quando, na verdade, não está. Traímos quando negligenciamos nossas próprias vontades para agradar outras pessoas. Traímos quando deixamos de sermos protagonista da própria vida, deixando os outros ditarem as regras. Traímos pelos mais diversos motivos, mas como dizia Nietzsche “quem, em prol da sua boa reputação, não se sacrificou já uma vez – a si próprio?”

Trair não é um deslize diário, é uma opção. É preciso entender que ninguém trai por acaso. Da mesma forma que você escolhe ser fiel, a traição nada mais é do que uma opção voluntária. A infidelidade não acontece por falta de amor, mas por falta de respeito. “Quem é homem de bem não trai o amor que lhe quer seu bem. Quem diz muito que vai, não vai, assim como não vai, não vem… Quem de dentro de si não sai, vai morrer sem amar ninguém.” (Vinicius de Moraes) Por isso, aceitar uma traição é o mesmo que assinar um termo abrindo mão do próprio respeito e da própria dignidade. Florbela Espanca em Correspondência (1912) também mostrava sua indignação perante a traição: “Eu julgo que a mulher verdadeiramente digna é aquela a quem repugna uma traição, seja ela de que natureza for. ”

A dor proveniente da traição é intensa porque nunca vem de um estranho. Vem de quem amamos e de quem permitimos total acesso aos nossos sentimentos. Por isso é mais fácil conviver com inimigos, pois são verdadeiros na raiva: “vivam os meus inimigos! Eles, ao menos, não me podem trair.” (Henry de Montherlant)

Entenda, meu caro, que onde há traição não pode haver amor. As relações são feitas pra melhorar a vida e não para preencher vazios existenciais. Cada indivíduo é livre pra se amar e, alimentar relações fúteis, é tão necessário como comer sem ter fome.

Imagem de capa: Fabiana Ponzi/shutterstock

Não é o que você disse, mas a forma como disse

Não é o que você disse, mas a forma como disse

Ela tinha saudades. Ele queria encontrá-la logo. Ela disse hoje. Ele disse amanhã. Dois sentimentos comuns, mas atrapalhados por uma sentença descompassada. Num jogo sobre quem cedia primeiro, o momento dele prevaleceu. Por fim, tomaram caminhos distintos. Cada um seguiu adiante sem que o querer fosse consumado.

Quantos relacionamentos já não foram maltratados por essa confusão verbal? Nem sempre o que sentimos acompanha de mãos dadas o que dizemos. Talvez seja ausência. Talvez seja ingenuidade. Mas só talvez. De repente, o problema não é sobre o que é dito, mas a forma na qual é dito. Mensurar palavras é um gesto árduo para quem sente demais e vivemos sob relações das quais sentir de menos é o caminho mais seguro. Lamentos depois traduzidos em adjetivos e substantivos que não comportam o tamanho do coração. Amores se perdem. Laços interrompidos sem porquês. Abandonamos o olhar sereno e o discurso brando quando temos a oportunidade de solidificar os nossos desejos.

Não sabemos de onde surgiram tamanha impaciência para se dizer o que se sente da forma que sentimos. É medo demais? Ou, quem sabe, desconhecimento do próprio sentimento? O tempo é questão de entrega e relacionamentos, também. Ninguém precisa fingir ou mesmo amenizar os sentidos das coisas. Mas, deparando-nos com a enorme responsabilidade de demonstrar afeto, muitas vezes, desistimos.

Mais adiante, percebemos a lacuna que fica. O pesar da pausa fora de hora, da partida sem destino e da cicatriz insistente no futuro. Ela deveria dizer. Ele deveria fazer. Independente do lado a tomar iniciativa, não podem existir normas regidas por um freamento daquilo que é crescente no coração. Aceitar isso é dar consequentes rasteiras numa felicidade a ser compartilhada. Conversar não é ceder os pontos. Expressar-se não é estar de joelhos para o outro. Não é o que você diz, mas a forma como diz.

Imagem de capa:siam.pukkato/shutterstock

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