Não é egoísmo atender primeiro suas necessidades!

Não é egoísmo atender primeiro suas necessidades!

Assim como qualquer outra atividade prazerosa, a escrita é uma terapia para mim. Por meio dela, consigo compartilhar com vocês meu ponto de vista sobre diversos assuntos. O prazer não está apenas em escrever, mas no retorno que tenho de vocês, leitores, que acompanham meu trabalho. E hoje vamos falar sobre uma situação que provavelmente já aconteceu com vocês: Ter que dizer “não”.

Quando queremos nos livrar de algum compromisso, por exemplo, ficamos com medo de falar “não” para a pessoa que nos convidou, e, consequentemente, chateá-la.

Semana passada, um colega da faculdade me chamou para fazermos uma pesquisa sobre um determinado assunto. Ele propôs que chegássemos mais cedo na faculdade para utilizarmos o laboratório de informática, entretanto, no dia em que ele fez o convite, faríamos o último exame da semana de provas. Fui sincera com ele e disse que sentia a necessidade de revisar mais uma vez a matéria, e que seria inviável chegar mais cedo aquele dia.

Meu colega compreendeu e ficou tudo bem.

Algumas situações são mais complicadas, contudo, não é egoísmo atendermos primeiro nossas necessidades. Independente do assunto, nossas necessidades sempre terão que ser atendidas antes de qualquer coisa.

Ser sincero não é ruim, pelo contrário, mostra que você é uma pessoa digna de confiança.

Você não é obrigado a fazer algo que não quer. Ninguém é. Então, quando alguém te disser “não”, leve numa boa. Lembre-se que você fez sua parte. Seja convidar alguém para algo, seja em entender quando recebe um “não”, o importante é seguir teu coração, e compreender as pessoas quando elas apresentam uma posição não esperada.

O “não” faz parte da vida de qualquer ser humano. Ele aparece em diversas situações, no entanto, recebê-lo tranquilamente, sempre será a melhor escolha.

Imagem de capa: Iryna Inshyna/shutterstock

12 citações de Mark Manson que te farão literalmente ligar o f*da-se

12 citações de Mark Manson que te farão literalmente ligar o f*da-se

Quando bati os olhos no livro “a sutil arte de ligar o f*da-se”, com sua capa chamativa e título idem, achei que me depararia com algum tipo de glossário repleto de filosofias de bar.

No entanto, ao começar a leitura, notei que o autor, Mark Manson, apesar de usar uma linguagem despojada, passou bem longe das famosas fórmulas prontas para uma felicidade instantânea e fugaz.

Amei a leitura e tomei a liberdade de separar para vocês 12 citações do livro para refletirmos um pouco juntos com Mark acerca de nossas escolhas e decisões. Mas se você quer ganhar dinheiro acesse bet winner .

Certamente, depois desse artigo, muitos de vocês ficarão com um gostinho de quero mais na boca e, em se tratando de Mark, realmente, ele tem muito mais a dizer em seu delicioso livro laranja.

1. Evitar o sofrimento é uma forma de sofrimento. Evitar dificuldades é uma dificuldade. Negar o fracasso é fracassar. Esconder o que é vergonhoso é, em si, causa de vergonha. (Mark Manson)

Certa vez Carl Gustav Jung disse: O que negas, te submete. O que aceitas, te transforma. Mark Manson acabou tendo nesse trecho, uma percepção parecida, senão idêntica: a negação gosta de alimentar monstros.

2. Se você estiver sempre dando importância demais para tudo quanto é coisinha, é bem possível que você não tenha nada legítimo com que se importar. Esse é seu verdadeiro problema. (Mark Manson)

Existe uma citação que diz que nunca chegaremos ao nosso destino se pararmos para atirar pedras em cada cão que late. Os cães aqui podem ser lidos como pequenos problemas. Se nos preocuparmos mais com eles que com o nosso caminho, vide, propósito, não chegaremos a lugar algum.

3. Estamos enfrentando uma epidemia de cegueira psicológica que faz as pessoas não enxergarem que é normal as coisas darem errado de vez em quando. (Mark Manson)

Se não tivéssemos caído milhares de vezes, quando bebês, não estaríamos de pé hoje. Bebês não sentem o peso do fracasso. Eles têm um propósito: ficar de pé e andar. O nosso hoje ainda deveria ser esse. Levantar e caminhar, para frente de preferência.

4. Se você acha que em algum momento terá permissão para parar, infelizmente não entendeu nada. Porque a alegria está na subida. (Mark Manson)

Essa citação me lembra a história “A Senhora Holle” dos Irmãos Grimm. Nela uma moça faz tudo com amor e recebe uma chuva de ouro em retribuição. Uma outra faz tudo por interesse, ignorando os meios para atingir um fim (o ouro), e acaba se dando muito mal. A felicidade está no caminho.

5. Se o que valorizamos é inútil. Se o que escolhemos considerar sucesso ou fracasso é equivocado, qualquer coisa baseada nesses valores será equivocada também. (Mark Manson)

Adote valores superficiais e veja sua vida mudar de boa para ruim, e vice versa, em um piscar de olhos. O supérfluo não dura e não sacia.

6. Não espere por uma vida sem problemas. Isso não existe. Em vez disso torça por uma vida cheia de problemas pequenos. (Mark Manson)

Com quais dores você pode lidar? Essa seria a pergunta que deveríamos no fazer ao tomar decisões. A felicidade perpétua não existe. Problemas menores quase sempre podem ser solucionados e como o próprio Mark afirma, a felicidade consiste em resolver problemas.

7. A culpa é passado. A responsabilidade é presente. A culpa aponta para escolhas já feitas. A responsabilidade aponta para escolhas sendo feitas agora. (Mark Manson)

Esse capítulo do livro é um dos meus favoritos. Ele conta que nem sempre somos culpados por nossos problemas, mas somos responsáveis em decidir o que faremos com eles.

8. Nós já escolhemos, a cada momento de cada dia, as coisas com as quais nos importamos. Então, para mudar, basta escolher nos importarmos com outras coisas. (Mark Manson)

Nossas prioridades dizem muito sobre a vida que levamos. Mudar de prioridades é mudar de vida, mas como o próprio Mark diz, isso exige bastante empenho.

9. Pessoas más nunca acreditam que são más; elas acreditam que todos os outros são maus. (Mark Manson)

Aqui Mark lança um exemplo prático, se não me engano citado em “o Pequeno Príncipe”, de que quase sempre fazemos uma ideia, generalizada, do outro usando a nós mesmos e nossas vivências como parâmetro.

10. Só podemos atingir a excelência em algo se estivermos dispostos a falhar. (Mark Manson)

Parece redundante dizer, mas aquilo que fazemos bem, quase sempre, é o resultado de horas de empenho e dedicação amorosa.

11. O amor não saudável é o que une duas pessoas que estão usando aquele sentimento como meio de escapar de seus problemas. (Mark Manson)

Um sentimento amoroso que nasça por qualquer interesse que não pelo próprio amor, não vencerá o primeiro problema comum que aparecer pelo caminho. E certamente um punhado deles surgirá em qualquer relação.

12. Meu conselho: Não seja especial. Não seja único. Redefina-se de acordo com medidas mais comuns e abrangentes. (Mark Manson)

A essência das coisas não mora no extraordinário. Pelo contrário, é na simplicidade e naquilo que é cotidiano que podemos alcançar nossos tesouros. Carl Gustav Jung já dizia: “ao tocar uma alma humana, seja apenas outra alma humana”.

Acompanhe a autora no Facebook pela sua comunidade Vanelli Doratioto – Alcova Moderna.

Atribuição da imagem: pixabay.com – CC0 Public Domain

O que um amor bom é

O que um amor bom é

Amor bom é aquele que funciona na base do encanto. Não basta a gente só amar alguém, o coração precisa sentir sede pelo outro inteiro. E o encanto é a única coisa que sacia e ao mesmo tempo transborda o seguir do amor. Sem ele, secamos. É importante quando encontrarmos alguém que proporciona respeitos, carinhos e gentilezas. Na falta dessa chama de admiração e interesse, o amor perde o sentido. Perde o gosto, a saudade, o quero agora, o vamos ficar juntos.

Mas talvez essa seja a graça do amor. O não saber se vai dar certo. É sobre correr riscos e não ter medo de encará-los porque você sabe que do outro lado existe alguém com disposição para o mesmo. Amor bom não tem freio de mão, não tem daqui a pouco. E tudo isso tem sempre a ver com o encanto que você sente pela pessoa que escolheu embarcar nesse presente a dois. Amor bom não vira posse, não desconfia e nem deixa de estar em constante movimento. Porque ele sabe da serenidade que precisa para respirar. Os amores que não reconhecem a paz de espírito que é poder conversar sobre qualquer assunto – e em qualquer dia ou hora, pouco entendem de um amor bom.

Porque não faz sentido se machuca. Porque ninguém merece disputar espaço e tempo num relacionamento. Quando o amor é bom, ele apenas existe. Ele te encontra sem que você precise pedir – seja num tom de súplica ou no lamento de um por favor. Amor bom simplesmente preenche.

Os contrariados dizem que amor bom é sonho. Que é uma daquelas histórias que a gente acredita ser verdade mas que, no fundo, não passa de uma expectativa impossível de ser cumprida. Talvez esses corações tenham sofrido demais. Talvez esperar por novos encontros e por novas batidas dentro do peito deixo-os apreensivos. Dá até para entender quem não quer reviver um amor frustrado. Estranho seria se alguém quisesse.

Mas, quando falo de amor bom, não estou no aguardo de que ele tropece na minha direção. O meu coração não é ingênuo – tudo bem que a cabeça, de vez em quando, tem das suas panes. Faz parte.

De qualquer forma, amor bom é um entrelace e uma sorte, onde todos os envolvidos devem praticar entregas. É quando todas as partes enxergam e assumem a cumplicidade de querer coexistir na felicidade da outra pessoa. Soma. Isso é amor bom. Amor bom. Isso é soma.

Imagem de capa: Bogdan Sonjachnyj, Shutterstock

Tem gente que vai embora, para que possa viver sua mentira em paz

Tem gente que vai embora, para que possa viver sua mentira em paz

Tem gente que vai embora porque não há mais interesse, amor ou afetividade. Tem gente que a vida nos tira à força, dolorosamente. Alguns, no entanto, saem porque preferem continuar a ser o que sempre foram, sem mudar o que nos incomoda, sem abrir mão de nada por nós.

Nem todo mundo fará parte das nossas vidas e nem todos que chegam ali ficarão para sempre. Nossa jornada é feita de encontros e desencontros, uns gratificantes, outros nem tanto. Porém, todo dia é momento de aprender, tanto com as alegrias quanto com as dores. Quem permanece deve ser valorizado e quem vai embora ao menos que deixe lições, ensinamentos e clareza quanto ao tipo de gente que devemos evitar.

O amor, às vezes, acaba, bem do outro lado, enquanto aqui dentro ainda existe sentimento de sobra. Seremos, então, aquele que será largado, passado para trás, preterido, evitado. Não será fácil lidar com as negativas alheias, mas teremos que continuar. Faltando um pedaço que seja, mas sempre em frente, porque há pessoas que não desistem de nós e é junto delas que encontraremos repouso consolador e força motivadora, para que não nos demoremos nas escuridões de nossos fantasmas por tempo demasiado.

Muitas pessoas se tornarão “ex”: ex-amigo, ex-parceiro, ex-colega de trabalho, simplesmente porque o tempo passa e leva consigo muito daquilo que tolamente imaginávamos ser nosso. Na verdade, não temos é nada, além do aqui e agora, pois tudo pode mudar, em um átimo de segundo. Uma doença, a morte, o desemprego, uma traição, não existe o que não possa nos alcançar, assim, de repente. Nesses momentos, o que nos restará serão os poucos que não saem de perto, além das doces lembranças de tudo o que vivemos verdadeiramente.

Precisamos perceber que muita gente que sai de nossas vidas promove uma melhora incrível em nossa jornada, mesmo que, de início, não percebamos. Certos indivíduos não conseguem dividir, conceder, ou enxergar além do próprio ego, não suportando enfrentar as próprias mentiras, não tendo coragem para serem confrontados pelas verdades alheias e que não são suas. Assim, covardemente preferem se afastar daquilo que requer maturidade e dor, levando consigo o falso conforto das mentiras ilusórias que tão fragilmente os protegem, inclusive de si próprios.

Tem gente que vai embora porque não há mais interesse, amor ou afetividade. Tem gente que a vida nos tira à força, dolorosamente. Alguns, no entanto, saem porque preferem continuar a ser o que sempre foram, sem mudar o que nos incomoda, sem abrir mão de nada por nós. Que vá pela sombra quem for embora por comodismo, porque ninguém merece perder tempo com quem não ouve ninguém além de si próprio, com quem não sabe o que é amor ou amizade de fato. Fiquemos com quem dá as mãos com verdade, todos os dias. É assim que a gente segue.

*O título deste artigo baseia-se em uma citação de Walcyr Carrasco

Imagem de capa: Zoom Team/shutterstock

Antes de maltratar um atendente de telemarketing, saiba tudo o que não te contaram sobre a rotina de trabalho de um call center

Antes de maltratar um atendente de telemarketing, saiba tudo o que não te contaram sobre a rotina de trabalho de um call center

 

Você, com certeza, já perdeu a paciência com alguma ligação do pessoal do telemarketing ao longo dessa semana. E eu não te julgo, é irritante mesmo. Às vezes são várias ligações por dia em que a linha fica muda e depois cai. E o pior, quando a ligação não cai, o atendente te enche de perguntas com aquela voz robótica e depois te deixa esperando na linha por longos minutos enquanto ele procura qualquer coisa no sistema – quase sempre inoperante. Sim, eu também me irrito quase todos os dias com o telemarketing, porém, antes de ofender o atendente e as próximas três gerações da sua família, eu me lembro de que já estive no lugar dele e sei o quão nocivo pode ser o ambiente de trabalho em um Call Center. Se ainda não te contaram o que acontece do outro lado da linha nessas ligações telefônicas que infernizam tanta gente todos os dias, me acompanhe neste relato.

contioutra.com - Antes de maltratar um atendente de telemarketing, saiba tudo o que não te contaram sobre a rotina de trabalho de um call center

Comecei a trabalhar no Call Center em 2010. Eu vinha de uma cidade do interior de São Paulo e tinha acabado de sair do Ensino Médio, então imagine a minha surpresa ao esbarrar, logo no meu primeiro dia de trabalho, com uma moça que foi trabalhar usando, com muita segurança e propriedade, uma espalhafatosa fantasia de demônio. O Call Center é um ambiente bastante democrático; boa parte das pessoas que trabalham ali são aquelas que, de alguma forma, estão à margem da sociedade, gays, lésbicas, travestis, pessoas com visuais considerados pouco convencionais, e até ex-presidiários. Lembro-me de pensar no meu primeiro dia, “Estou em uma festa rave!”. A impressão de festa rave, porém, se dissipou logo nos primeiros momentos do treinamento. Fui apresentado a uma infinidade inacreditável de telas pretas, teclas de atalho, sistemas e mecanismos com que eu trabalharia nos próximos meses. Era tudo tão novo e, à primeira vista, tão complicado, que eu quase surtei. Me apresentaram também a um script de uma página inteira de perguntas, frases e jargões que eu obrigatoriamente teria que usar em todos os meus contatos telefônicos no Call Center. Ah, e me disseram para que eu não perdesse muito tempo em uma única ligação. Eu teria que ser rápido e assertivo. E esse treinamento para me ensinar a ser um robô durou apenas dois dias. Sim, dois dias!

Depois do treinamento me levaram para a operação – um mar de pessoas com headphones falando ao mesmo tempo aquele script engessado; uns gritando, outros tentando argumentar qualquer coisa com seus clientes irritados; e, transitando entre os atendentes, uns dois ou três supervisores gritando a plenos pulmões;“Vamos bater a meta, gente! Falta pouco!”

“Vamos bater a meta, gente! Falta pouco!”

– É claro que fiquei em pânico, mas como não sou de ceder aos meus medos, sentei-me na minha PA – uma mesa com um computador e um headphone – e puxei a primeira ligação. Logo na primeira, um cliente se irritou com a minha falta de prática e, sem nenhum constrangimento, me mandou ir pro inferno. Foi grande a tentação, mas não dei a resposta que eu queria, “Vá você primeiro!”.

E o dia a dia na operação era muito mais frenético do que eu tinha imaginado. O sistema usado na maioria dos Call Centers faz várias ligações simultâneas e aleatoriamente, sem que ninguém precise discar o número de telefone das pessoas, aí a ligação cai para o primeiro atendente que estiver com a linha desocupada. Com certa frequência, o sistema lança ligações e nenhum atendente está disponível, então a pessoa do outro lado da linha atende o telefone e ele fica mudo por uns três segundos, depois a ligação cai. Cerca de dez ou vinte minutos depois, o sistema liga de novo para essa pessoa. Então muitas vezes a ligação caía pra mim e o cliente já atendia berrando palavrões terríveis, pois já tinha recebido umas cinco ligações mudas nas últimas horas. E imagine a reação daquele cliente ao me ouvir perguntando seu CPF, seu endereço, o nome da sua mãe, o seu e-mail e, depois de tudo isso, cobrando que ele efetuasse o pagamento de uma dívida que já estava prestes a caducar.

“Não leve as ofensas para o lado pessoal!”, disse a moça no treinamento. Mas às vezes era difícil não levar para o lado pessoal. Muitos clientes debocham do tom de voz do atendente, do seu sotaque, do seu vocabulário; isso quando os clientes não partem para a humilhação, dizendo coisas pesadas, como “tenho pena de você, porque você é um coitado ignorante que nunca vai chegar a lugar nenhum longe do Call Center!”. Era ultrajante, às vezes era doído, mas éramos orientados, em casos como esse, a dizer apenas: “Por falta de comunicação encerro a ligação.”, como um robô pré-programado que não tem emoções e só diz o que está no script. Se eu não usasse o script, perderia pontos na monitoria – uma espécie de avaliação de atendimento, feita três vezes por mês – , receberia um longo feedback do meu supervisor e entraria para o hall dos funcionários problemáticos. É claro que eu entrei várias vezes para o hall dos funcionários problemáticos.

Em um dia de trabalho atendíamos em média 100 ligações. Eu tinha a impressão de estar estancando uma sangria interminável.

O sistema lançava uma ligação atrás da outra. Eu encerrava um contato com um cliente furioso e, em uma fração de segundos outro cliente furioso já estava na linha. Em um dia de trabalho atendíamos em média 100 ligações. Eu tinha a impressão de estar estancando uma sangria interminável. Nunca tinha fim. E enquanto falava o “Alô, bom dia!” ao cliente, eu já tinha que estar puxando as informações pessoais dele em 8 diferentes telas pretas, acionadas por teclas de atalho que eu quase sempre confundia, pois eram muitas. Se eu bobeasse por um segundo, não teria as informações para confirmar com o cliente, ele acharia estranho e desligaria na minha cara. E se o cliente desligasse na minha cara, era uma chance desperdiçada de fazer um acordo de pagamento e bater a minha meta. Ah, a meta! Uma lousa pregada à parede da operação informava todos os dias qual era a meta de acordos de pagamento. A meta era praticamente inalcançável, mas a supervisora, cheia de frases motivacionais tiradas do google, tentava nos convencer de que, se nos esforçássemos, conseguiríamos. Se as frases motivacionais não funcionassem, ela pegava uma panela ou qualquer objeto que provocasse um barulho ensurdecedor e saía gritando pelos corredores: “Vamos gente! Falta pouco! Vai que dá! Vai que dá!”. Isso tudo acontecia enquanto estávamos em atendimento. Certo dia a algazarra provocada pela supervisora era tanta que o cliente me perguntou, “Você tá ligando do presídio?”, e eu respondi; “De um lugar pior!”.

Se as frases motivacionais não funcionassem, ela pegava uma panela ou qualquer objeto que provocasse um barulho ensurdecedor e saía gritando pelos corredores: “Vamos gente! Falta pouco! Vai que dá! Vai que dá!”.

Tínhamos direito a três pausas diárias no trabalho, uma de vinte minutos para comer e duas de dez minutos para ir ao banheiro. Em tese, a pausa de vinte minutos serviria para que os funcionários aliviassem um pouco o stress provocado pela rotina da operação, mas na prática não era isso o que acontecia. O Call Center em que eu trabalhava tinha uma grande praça de alimentação e um restaurante cheio de coisas que o nosso salário e o nosso vale-alimentação restrito não poderiam pagar, então quase todo mundo levava uma marmita de casa e deixava em uma geladeira que exalava um odor insuportável de comida estragada. No momento da pausa, saíamos correndo da operação, pois a praça de alimentação ficava distante, pegávamos a comida na geladeira e entrávamos em uma longa fila para esquentar a comida no microondas. Quando conseguíamos esquentar a comida, a engolíamos com pressa, lavávamos os recipientes em uma pia quase sempre congestionada, corríamos para o banheiro para fazer as necessidades fisiológicas, afinal a última pausa de dez minutos só poderia acontecer uma hora depois da pausa de 20, e voltávamos para operação. Se usássemos cinco minutos a mais de pausa, ao chegar à operação o supervisor já nos esperava para questionar o motivo do estouro do tempo. Certa vez estourei 10 minutos a minha pausa de 20, pois tinha demorado demais no banheiro. Ao ser questionado, na frente de todos os meus colegas, o motivo do atraso, tive que dizer, “Estou com diarréia. Da próxima vez, venho trabalhar usando uma fralda geriátrica!”.

“Estou com diarréia. Da próxima vez, venho trabalhar usando uma fralda geriátrica!”.

Depois de trabalhar na equipe de cobrança, trabalhei na equipe de reversão. O trabalho consistia em tentar convencer clientes insatisfeitos a desistirem de cancelar o contrato com a empresa. O fato é que tínhamos uma meta muito agressiva para bater todos os dias e nem a oferta de atraentes descontos na mensalidade do cliente faziam ele desistir do cancelamento de contrato, afinal o produto que a empresa oferecia era realmente muito ruim. Então como iríamos bater a meta de clientes revertidos? Omitindo informações e enganando os clientes, obviamente. Você deve ter se chocado agora. Mas me permita explicar como chegamos a esse ponto. O Call Center estimula entre os funcionários um clima de extrema competição. Mensalmente o desempenho dos funcionários é avaliado por meio de um cálculo que engloba a produtividade – a famigerada meta – , a assiduidade e a nota dada ao atendimento. Em Call Centers que prestam serviço a uma empresa jovem no mercado, como o que eu trabalhava, não importa muito a qualidade no atendimento, eles querem mesmo é que a empresa não perca clientes. Então, se eu conseguia fazer muitos clientes desistirem do cancelamento de contrato, não importavam os meus métodos. Os meus eventuais deslizes no atendimento, como informações omitidas e pequenas mentiras contadas aos clientes, eram quase sempre relevados ou até ignorados.

Uma produtividade alta no Call Center é geralmente premiada com dias de folga, promessas quase sempre não cumpridas de um cargo melhor, ou até brindes simples, como uma caneta, ou um mouse pad, que fazem brilhar os olhos dos mais competitivos, como eu. Então é assim que se estabelece uma cultura de vencedores e fracassados. Ninguém quer estar no time dos fracassados, então os funcionários começam, lentamente, a passar por cima dos seus princípios. Uma mentirinha aqui, outra ali, uma indução de resposta, uma promessa feita ao cliente de algo que a empresa não pode oferecer. Logo você não se importa mais. Chega um momento em que você não enxerga mais aqueles clientes como pessoas, mas como números. O cliente é só uma adição na meta do dia. Se o cliente ameaça tomar o seu tempo relatando sua história de vida triste, você o transfere automaticamente para o setor de reclamações. Esse não quer cancelar o contrato, só quer um amigo. Como era o mesmo o nome dele? Quem se importa? Próximo!

Chega um momento em que você não enxerga mais aqueles clientes como pessoas, mas como números.

Eu várias vezes passei por cima dos meus princípios para ganhar uma folga no sábado, um bombom, um cordão de crachá, uma caneta, um abraço da supervisora – Sim, isso aconteceu – . Até que um dia caiu para mim a ligação de uma senhora de bastante idade, aposentada, uma pessoa muito simples, que tinha adquirido o produto da empresa por meio de muitas promessas falsas feitas pelo vendedor. O produto era muito ruim e ela logo percebeu isso, então ligou pedindo o cancelamento, mas a pessoa que a atendeu fez mais um monte de promessas falsas, e ela acreditou. Quando percebeu que tinha sido enganada outra vez, ela ligou novamente para cancelar o produto, mas a pessoa que a atendeu registrou no sistema que ela tinha desistido do cancelamento – fraudes no sistema são muito comuns nesse setor – . Então ela ligou de novo para cancelar o contrato, já cansada e se sentindo muito enganada, e eu a atendi. Ouvi a sua história sem muita paciência e já me preparava para lançar a minha argumentação para fazê-la desistir do cancelamento – Eu era ótimo na argumentação – , mas aí ela falou alguma coisa, deixando escapar um leve sotaque do interior de São Paulo, e eu imediatamente me lembrei da minha mãe, das minhas tias, de tanta gente simples que eu conheço. Olhei para a caneta que a supervisora agitava para o alto, como se fosse uma imensa barra de ouro, e caí em mim. Eu estava vendendo meus princípios por uma caneta, pela ilusão de ter o meu trabalho reconhecido, pela ilusão de um cargo melhor dentro da empresa, para me sentir um vencedor, para estar entre o espertos; ou seja, por nada.

Eu estava vendendo meus princípios por uma caneta, pela ilusão de ter o meu trabalho reconhecido, pela ilusão de um cargo melhor dentro da empresa, para me sentir um vencedor, para estar entre o espertos; ou seja, por nada.

É claro que empatia e personalidade, características das quais me orgulho, não são bem aceitas no Call Center e eu logo despenquei do time dos vencedores para o time dos fracassados. E não foi fácil. A insatisfação e a falta de perspectivas ficaram latentes. E eu não era o único. A insatisfação em um call center é tão generalizada que, certa vez, a empresa fez um comunicado, informando que tinha feito um caríssimo trabalho para desentupir a rede de esgoto do prédio, e pedindo encarecidamente que os funcionários não jogassem mais papel no vaso sanitário. E no mesmo dia foram espalhados inúmeros cartazes por todos os lados, dizendo, “NÃO JOGUE PAPEL NO VASO SANITÁRIO!”. Um mês se passou e a rede de esgoto entupiu novamente e os profissionais responsáveis pela rede de esgoto foram mais uma vez acionados. Desta vez não era apenas papel higiênico que obstruía o escoamento da água dos vasos sanitários. Foram encontradas no encanamento do prédio uma infinidade de coisas, desde bitucas de cigarro a crachás da empresa, roupas íntimas, meias e até um aparelho celular. Eu entendi aquilo como um recado, por mais que se queira transformar pessoas em robôs, pessoas ainda são pessoas, e elas se vingam.

Eu entendi aquilo como um recado, por mais que se queira transformar pessoas em robôs, pessoas ainda são pessoas, e elas se vingam.

Eu obviamente fui expulso do Call Center porque definitivamente não me encaixava na proposta. Mas da experiência fica o entendimento de que os meus princípios e a minha essência me fazem especial, e, por isso eu devo preservá-los acima de qualquer coisa. E fica também a minha empatia por esses profissionais de tão má fama que estão expostos a um ambiente muitas vezes tóxico, propenso a abusos psicológicos, e altamente estressante.

Imagem de capa:sirtravelalot/shutterstock

O primeiro a perdoar é o mais forte, mas o primeiro a esquecer é o mais feliz

O primeiro a perdoar é o mais forte, mas o primeiro a esquecer é o mais feliz

Vamos ser sinceros: existem muitas pessoas maldosas por aí, fofoqueiras, querendo ferrar com a vida do outro gratuitamente, apenas para ver o circo pegar fogo por sua causa, embora nunca esse tipo de pessoa assuma sua parcela de culpa em nada. O mundo é difícil, é penoso, a vida vem e derruba do nada cada um de nós e tem gente que simplesmente não se aguenta e destrói com tudo.

Haverá sempre alguém puxando tapetes, espalhando boataria infundada, cercando a vida do outro ardilosamente, pronto para dar o golpe. Haverá sempre quem se acha um nada, quem se odeia, quem se sente incapaz de ser feliz e acaba por desejar que a infelicidade de seu coração contamine todo e qualquer ambiente. Ninguém está a salvo das trovoadas lá de cima e das tempestades aqui de baixo.

Por conta disso, a gente tem que usar o perdão sem parar, quase todos os dias, tentando entender que a maldade do outro faz parte da doença dele. Não podemos, de jeito algum, entrar em tempestades que não são nossas, em escuridões que não fazem parte de nossa jornada, ou enlouquecemos. O perdão, hoje, é uma das melhores estratégias de sobrevivência que existem, porque a gente se decepciona, a gente se machuca demais nesta vida.

Perdoar nos fortalece, porque ele leva embora de nós o que não é nosso e nos deixa mais leves. Perdoar significa entender que cada um somente oferece aquilo que tem dentro de si e, muitas vezes, acabamos esperando muito, mas muito além do que a pessoa pode ofertar. E esse entendimento nos torna mais aptos a perdoar o mal que nos fazem, porque, no fim das contas, o mal que não é nosso acaba saindo de nós, mas fica impregnado irremediavelmente em quem o pratica.

Perdoar, perdoar e esquecer, é assim que nossa lida se torna menos densa, menos pesada. A gente só consegue esquecer de vez o mal quando a gente perdoa. E então a gente deixa para trás aquilo que feriu, que magoou, que foi amargo. E então a gente esquece de vez e abre espaço, aqui dentro, para que novos momentos, novas surpresas, novas pessoas possam nos tornar melhores e mais felizes.

Imagem de capa: Antonio Guillem/shutterstock

Cada escolha uma renúncia

Cada escolha uma renúncia

Um dos grandes aprendizados da vida e que nos traz amadurecimento e evolução é saber que em cada escolha, em cada decisão, sempre haverá ganhos e perdas, e que isso é algo natural!

Esses são os chamados RISCOS da vida. Viver é arriscado sabia? Quem busca uma vida que não tenha riscos de nenhuma natureza na realidade ainda nem aprendeu a viver, porque tentar viver assim gera um gasto de energia tão grande, mas tão grande, que a pessoa se cansa!

Tenho percebido isso ao longo da minha vida e das minhas experiências. Um dos homens que mais me ensinou essa perspectiva foi o místico oriental Osho. Ele sempre falava que a nossa vida é como um rio, que flui suas águas em direção ao mar, e sempre que passa por obstáculos, apenas os contorna, sem grandes esforços, sem enormes gastos de energia!

Gosto de fazer essa comparação. As pessoas que aprendem a viver fluem como um rio e gastam menos energia por estarem À FAVOR DA CORRENTEZA. Já as pessoas que buscam à todo custo a SEGURANÇA, gastam muito mais energia, pois estão remando contra a maré da vida.

Elas remam, remam, remam e não saem do lugar ou quase não saem.

Que tal refletir com carinho sobre isso e buscar ter uma vida que envolva mais riscos? Você tem medo? Não se preocupe! É normal ter medo. Todo mundo tem!

Antes de continuar a reflexão deixo uma sugestão de leitura na qual eu falei sobre a importância de se correr riscos! Vale muito a pena a sua leitura. Segue o link abaixo.

A importância de correr riscos

O que me inspirou a escrever esse texto foi uma das músicas da banda Charlie Brown Jr. que gosto muito chamada “Lutar pelo que é meu”, que deixarei ao final para ser ouvida! Além de um pequeno texto de um amigo meu falando sobre os riscos da vida! Confira…

“Viver é correr riscos… Já saquei que não vou sair dessa ileso às dores, alegrias, decepções, risos, fracassos e vitórias… A cada risco uma perda e um ganho, uma lágrima e um sorriso. Então não faz sentido levar uma vida cheia de temores. Convém, e convém muito arriscar, pagar pra ver e assumir as consequências de cabeça erguida, afinal de contas uma vida não se constrói na base do ‘se’. Escolhas e ações constroem uma vida… Então seja lá o que for que eu tiver que decidir, não vou adiar por excesso de medo… O fruto pode passar do tempo e apodrecer”

Hugo Ribas

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Esse texto dele traz umas reflexões bem interessantes! Muitas vezes a gente deixa de ter grandes experiências na vida por puro MEDO. E como você certamente já ouviu. O MEDO NOS PARALISA.

E se ele nos paralisa, nos deixa nas nossas conhecidas ZONAS DE CONFORTO.

Dá muito medo sair de uma zona de conforto. Veja só! O próprio nome diz: zona de conforto. Ao sair dela, você obrigatoriamente sentirá algum desconforto, mas esse desconforto é necessário para o seu crescimento como ser humano!

Toda evolução só acontece através de desconfortos. Até mesmo o nosso corpo. Quando estamos crescendo, os ossos fazer os músculos literalmente serem rasgados, e novos tecidos são gerados, maiores e mais resistentes.

Nesse processo sentimos dores, principalmente ao acordar pela manhã! Não é interessante? Até escrevi outro texto falando mais sobre isso. Crescer dói! E quanto mais cedo você compreender isso, melhor! Segue o link abaixo.

Crescer dói

E para concluir, vem a mensagem da música. Cada escolha na vida sempre vem acompanhada de uma RENÚNCIA. À medida que vamos amadurecendo, as renúncias vão sendo melhor compreendidas e internalizadas.

Gosto sempre de comentar aqui e com meus amigos que o grande termômetro para saber se você lida bem com as renúncias é o sentimento de PAZ e SERENIDADE. Se você consegue estar sereno diante das perdas naturais da vida, isso mostra que certamente existe uma boa dose de inteligência emocional no seu interior!

Muitas pessoas reagem com raiva, com tristezas excessivas e longas, com mágoas, remorsos, culpas e por aí vai ao tomarem decisões importantes na vida.

Esse tipo de reação revela que elas ainda precisam amadurecer mais para compreender que as perdas são inevitáveis para a chegada de qualquer coisa nova.

Já repeti diversas vezes aqui que para chegar o novo é preciso se desprender do velho. É preciso se DESAPEGAR.

Essa é outra palavra extremamente terapêutica. Quanto mais você aprende a ser desapegado, mais recursos internos você tem de se tornar um ser humano bastante equilibrado e feliz. É fácil aprender a se desapegar? Nenhum pouco! É bem complicado, mas estou aqui para lhe encorajar a aprender junto comigo. Vamos?

Enfim! Espero que tenha gostado dessa pequena reflexão e busque aos pouquinhos compreender e por em prática na vida esses ensinamentos. Eles são transformadores quando acolhidos no coração.

Paz e luz.

Imagem de capa:ESB Professional/shutterstock

Eu não sou uma vagabunda, pai

Eu não sou uma vagabunda, pai

Oi pai, eu queria te contar, por escrito, o que não tenho coragem de contar pessoalmente.

Eu me lembro de quando eu nasci e você me carregou no colo, tão gentil e carinhoso, e fez tudo por mim. Dou valor à cada centavo gasto com a minha educação, que foi acima da média pro meu aprendizado e que requisitou, com certeza, muitos anos do seu esforço extra para completar as contas.

Eu te agradeço por sempre ajudar a gente (eu e meu irmão) com seu exemplo de garra, determinação, caráter e honestidade. Contigo aprendemos que é possível vencer, com muito suor e dedicação, mas também com transparência.

Mas sabe, pai, seus rótulos me magoam muito. Você se lembra quando eu tinha quinze anos lá na casa da praia, eu te pedi dinheiro para ir ao Mcdonald’s com meus amigos, e você gritou na frente de todos eles que eu era gorda demais para ir comer um lanche? Eu me lembro, pai, eu ainda me lembro. Por causa desse dia, perdi 40 quilos e virei uma das mulheres mais bonitas que existe por ai. Obrigada por ter me empurrado pra minha maior mudança pessoal e para o descobrimento da minha força de vontade.

Você se lembra, pai, de quando eu trabalhava de madrugada no aeroporto e a Varig faliu? Eu fazia horas extras em cima de horas extras tentando re-acomodar todos aqueles passageiros e, quando chegava em casa depois das 04 da manhã, você me dizia que aquilo não era hora de mulher decente chegar em casa, mesmo que fosse do trabalho. Eu pedi as contas daquele emprego pouco depois, porque seu olhar de reprovação me dizia que eu estava fazendo algo errado. Logo depois, consegui uma vaga que mudaria minha vida para sempre. Obrigada por ter me feito sair do primeiro trabalho que amei para encontrar o primeiro emprego que realmente me qualificaria em minha vida profissional.

E quando eu me separei, pai… Nossa, que dia duro! Eu coloquei minhas malas no carro e vim bater aqui na porta. O senhor abriu, me viu tirando as roupas do porta-malas e me perguntou o que eu tinha feito. Eu disse que queria ser feliz e que meu casamento não respondia aos meus anseios. Dormi no sofá aquela noite, e não no meu antigo quarto, porque o senhor pediu. No dia seguinte, quando abri a porta da sala e o cachorro latiu, ouvi o senhor dizer “Você não vai dar certo aqui em casa, acho melhor procurar outra coisa”. Eu parei um segundo a mais processando aquela negativa. Eu queria não ter entendido direito, mas quando mais precisei de colo, o senhor me mandou embora. Eu voltei pro meu marido aquele dia, expliquei a situação que ele já conhecia, e ele me deixou ficar na nossa casa mais uns dias até que eu pudesse alugar meu próprio apartamento. No dia da mudança, meu marido me ajudou a colocar as coisas no carro e ele foi o único que teve o meu novo endereço, porque o senhor nunca nem me perguntou. Obrigada, pai, por ter me obrigado a viver a minha independência financeira, da qual nunca mais sai.

Você se lembra quando armaram pra mim e me demitiram do emprego que era a minha vida? Eu decidi ir pro navio e o senhor não disse nada, ficou feliz por eu ter saído daquele emprego em festas de madrugada, ou aquele “emprego de vagabundo”, nas suas palavras. Quando podia ter visita no porto, era sempre a mamãe que ia, porque você não precisava nem me ver e nem acompanhá-la. Você foi apenas no meu último porto brasileiro, mas não chorou ao se despedir de mim. Me desejou boa sorte e me deu as costas. Obrigada por ter ido, de qualquer forma, fiquei feliz em vê-lo e em receber seu abraço segundos antes de me despedir do meu país.

E teve aquele dia que eu quis ir no banco, no meio do verão, de camiseta e shorts, e você me viu saindo pela porta, não sem antes perguntar “Onde você vai vestida assim?”. Com fúria nos olhos, respondi o nome do banco e tive que ouvir “Isso é jeito de mulher se vestir, por acaso?”. Eu fui do mesmo jeito, vestida do mesmo jeito, e fui atendida como todos os outros. Mas obrigada pela sua opinião sobre mim e sobre todas as mulheres.

Eu vi muita coisa da vida, sabe, pai. Vi muitos lugares, conversei com muitas pessoas, fui generosa e honesta como o senhor nos ensinou e, graças à Deus, também recebi muito em troca. Há lugares onde não nos julgam por sermos divorciadas, desempregadas, gordas, magras, loiras, por estarmos de vestido ou simplesmente por sairmos para nos divertir. Há pessoas que não nos colocam na parede por nada disso, porque uma ofensa que vem da boca de alguém que nós amamos tem um peso muito grande, infelizmente.

Eu não tenho culpa de ter nascido em uma família com um pai machista, que fala o que quer, e que faz o que quer, sem se importar com os outros. Um pai que lava a louça e cozinha, mas é incapaz de dar uma carona até o bairro vizinho porque “não quer pegar trânsito e de metrô é mais rápido”. Sou grata pela educação, pela casa, pela comida, pelos instantes de felicidade. E sou imensamente feliz por ter uma personalidade que você chama de forte e durona, mas que eu prefiro chamar de íntegra.

Eu recebi todas as suas pedras durante a vida. Não sei quais delas eu mereci ou não. Mas graças a todos os seus desafetos eu sempre fui adiante e comecei a construir o meu castelo. E sempre pude discernir quais dos seus exemplos eu poderia seguir, e quais dos seus defeitos eu deveria aprender e superar. Eu queria ter mais coragem de bater boca contigo e mostrar que existem outras opiniões, mas você não me ouviria. Ia fazer que nem faz com a mamãe: você fala e ela escuta, mas quando ela vai falar, você diz que não tem tempo ou não é importante, e sai batendo porta em direção à tv. Quando chega na sala, ainda grita “Hey, alguém traz a minha cerveja!”.

Partiram meu coração, sabe pai, e tá doendo de verdade. Eu queria ficar em casa um tempo, dormindo na cama que me pertenceu na infância, e deixar que a cicatrização começasse antes que eu pudesse seguir adiante. Só que ai você vem até o meu quarto, me vê chorando e diz que sou burra e estúpida, que eu deveria seguir com a minha vida e deixar isso pra lá. Tenho 32 anos, pai, eu sei que preciso seguir. Infelizmente, sei também que terei que me curar e me encontrar bem longe de casa porque, apesar de ser filha, eu nem sempre senti que tive um pai.

Imagem de capa: Eleonora Grunge/shutterstock

Consertar vale a pena?

Consertar vale a pena?

Temos que aceitar que algumas coisas não têm reparo, não tem restauro, não vão ter conserto nunca mesmo. Mas é preciso investir, até que a certeza de que não vale a pena seja plena.

Hoje em dia, quando uma coisa quebra ninguém mais quer consertar. Ninguém pensa se ainda tem ou não tem conserto. Querem trocar. Substituir. Silenciar. Jogar fora. Quando algo quebra, o destino mais provável é o lixo, o abandono. Quando algo dá trabalho, o melhor é esquecer. E por mais triste que pareça, muitos querem impor esse comportamento, também, a suas relações de vida: Amizades, amores, namoros, trabalho, etc. Ninguém quer mais perder tempo: Quebrou? Joga fora. Deu trabalho? Não me serve.

É certo que ninguém é obrigado a suportar aquilo que não deseja. Todos têm o direito de ficar em dúvida quando não se sabe o que fazer em algumas situações. Por outro lado, uma das maiores características do ser humano é se acostumar a qualquer coisa. A gente se acostuma com o bom. A gente se acostuma com o ruim. A gente se acostuma a ser bom. A gente também se acostuma a ser ruim. Nos acostumamos a tanta coisa, a tanto sentimento vago, a tanta emoção vazia, que se desapegar tornou uma tarefa difícil, na maioria das vezes, até impossível.

Sendo assim, devemos ter muito cuidado para não transformar essa rotina de descartar tudo que incomoda ou aceitar e permanecer com o que não gostamos por medo da mudança e hábito, em monstros que devoram nossos dias, nossos sonhos e o valioso pouco tempo que ainda nos resta.

Sair da zona de conforto não é nada fácil. Se habituar com o que é pouco ou com os excessos acaba sendo uma cruel consequência. Resta jogar tudo para o alto e cair fora conforme a regra? Ou tentar consertar e arriscando repetir o erro?

De tanto parar para pensar, a gente acaba aceitando algumas coisas, só por não saber como consertar. Só por não ter coragem de agir. Por não saber sequer por onde, nem como dar início ao que se pretende. Só por não querer jogar o que não serve mais no lixo. Por não ter coragem o suficiente ao menos para abrir a porta e deixar ir.

Temos que aceitar que algumas coisas não têm reparo, não tem restauro, não vão ter conserto nunca mesmo. Mas é preciso investir, até que a certeza de que não vale a pena seja plena. Daí não tem mais volta, o melhor é abrir a gaiola e voar ou abrir a gaiola e deixar sair. Ninguém precisa brigar por felicidade. Precisa simplesmente ter autoestima e muito amor-próprio.

Concordo que alguns sentimentos precisam de conserto, precisam de quem os ajude a fluir, precisam de alguém que não meça esforços e renúncias para fazê-lo surgir. Alguns sentimentos valem todo o custo para mantê-los vivos. Algumas pessoas valem todo o custo para mantê-las por perto. Se ser feliz é a meta, então não meça energias para conseguir, para conquistar. Elimine o orgulho que existe dentro de você. Às vezes é difícil, a gente falha, mas não ligue para o que vão dizer, siga em frente, porque a gente deve confiar e ser otimista, sabendo que o importante é entender que os momentos difíceis, de dúvidas e fracassos, podem fazer surgir uma vida plena de belezas e alegrias, sem que haja a necessidade de se jogar nada fora ou desistir de algo ou alguém. Consertar, muitas vezes, vale a pena, vale a outra chance.

Administrar a vida é uma arte e a gente não pode se esconder para sempre atrás das portas e no escuro com os olhos fechados para o espelho. Precisamos ter uma alma grande, não uma alma mesquinha que se submete aos caprichos alheios para satisfazer outros egos, depreciando a nossa própria imagem no espelho. Só vale a luta e o apego, se sentirmos que existe o amor. Sempre é de verdade quando há reciprocidade.

Se esforce ao máximo para ficar do lado de alguém te faz bem, mas dê maior valor as atitudes que saem do coração, às palavras que saem da boca. Não somos obrigados a aceitar tudo, a sorrir sempre, a agradar a todos e a permanecer calados.

Não adianta sonhar em consertar o mundo, se a gente não consegue arrumar nem a nossa vida. Nós não somos obrigados a ser o que não queremos ser. A ter o que não precisamos ter. A manter o que não é essencial. Não somos obrigados a consertar o que está sempre quebrando. Não somos.

Nossa única obrigação é tentar ser feliz. E quem deseja estar junto, que faça por merecer e venha com aquele sentimento que não precisa restaurar, não carece de remendos. Que venha com aquele sentimento inteiro, integro e verdadeiro. Que venha sabendo conjugar, perfeitamente, o verbo amar!

Imagem de capa: Cindy Hughes/shutterstock

10 frases geniais que te motivarão quando você se sentir sem forças para continuar

10 frases geniais que te motivarão quando você se sentir sem forças para continuar

Eu gosto de pensar que algumas palavras possuem o tempo exato para tocar nossos corações. É como se fossem uma pluma levada pelo vento ou aquela joaninha que, sem que você espere, pousa em sua roupa e te abre um sorriso.

Abaixo, separamos 10 dessas frases especiais. A sabedoria encontrada em suas palavras é capaz de motivar aqueles que estão sem forças para continua.

1- “Não é o mais forte que sobrevive, nem o mais inteligente. Quem sobrevive é o mais disposto à mudança.” – Charles Darwin

2- “Um homem de sucesso é aquele que cria uma parede com os tijolos que jogaram nele.” – David Brinkley

3- “Há dois tipos de pessoa que vão te dizer que você não pode fazer a diferença neste mundo: as que têm medo de tentar e as que têm medo de que você se dê bem.” – Ray Goforth

4- “Todo progresso acontece fora da zona de conforto.” – Michael John Bobak

5-“Daqui a vinte anos, você não terá arrependimento das coisas que fez, mas das que deixou de fazer. Por isso, veleje longe do seu porto seguro. Pegue os ventos. Explore. Sonhe. Descubra.” – Mark Twain

6-“Coragem é a resistência ao medo, o domínio do medo – não a ausência do medo.” – Mark Twain

7-“Apenas deixe para amanhã o que você está disposto a morrer tendo deixado de fazer.” – Pablo Picasso

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8-“Se você não tiver seu próprio plano de vida, é provável que caia no plano de alguma outra pessoa. E adivinha o que eles planejaram para você? Não muito.” – Jim Rohn

9-“Se você procura sua realização nos outros, você nunca será realizado. Se sua felicidade depende de dinheiro, você nunca será feliz consigo mesmo. Se contente com o que você tem; fique feliz com a maneira como as coisas são. Quando você perceber que não está faltando nada, o mundo pertence a você.” – Lao Tzu

10-“Nós evitamos as coisas das quais temos medo porque pensamos que haverão consequências desastrosas se as confrontarmos. Mas a verdadeira consequência desastrosa em nossas vidas vem de evitar coisas sobre as quais nós precisamos aprender ou descobrir.” – Shakti Gawain

Editorial CONTI outra. Imagens meramente ilustrativas: cenas do filme LIVRE.

Conheça as misteriosas semelhanças psicológicas entre o Ken Humano e Michael Jackson

Conheça as misteriosas semelhanças psicológicas entre o Ken Humano e Michael Jackson

São pessoas diferentes, datas diferentes, mas algo em suas vidas levou a traços de comportamento semelhantes.

Em primeiro lugar quero que acompanhe o meu pensamento e entenda que nada do que estou escrevendo aqui é uma crítica e sim um conjunto de constatações que podem estar certas ou não, mas que dizem respeito aos extremos de comportamento que algumas pessoas podem alcançar (e os motivos que levam a eles). Por isso eu quero e preciso da sua opinião sincera.

Em segundo lugar, eu gostaria que VOCÊ, querido leitor da CONTI outra, percebesse algumas semelhanças entre:

Michael Jackson, cantou pop americano, falecido em 2009 aos 50 anos, depois de uma vida de excessos e uma busca ininterrupta por um ideal de perfeição estético. Os tabloídes, inclusive, diziam que já no fim de sua vida, Michael usava uma prótese no local do nariz que ele tinha perdido como consequência dos inúmeros procedimentos. Falava-se, ainda, da mudança na cor de sua pele, compras descomunais e dívidas impagáveis, mesmo tendo sido um dos cantores mais famosos e bem pagos do mundo. Sua morte também, segundo divulgado, teria sido fruto de excessos, tendo sido associada a uma parada cardíaca decorrente de medicação para dor usada além de sua tolerância física.

Ainda em vida, Michael sonhava estrelar o filme Peter Pan, pois identificava-se com uma criança que não queria crescer. Em homenagem a esse mundo dos sonhos inatingíveis, Michael Jackson batizou seu famoso rancho como Neverland, local que abrigava um parque de diversões e onde levava crianças com frequência. Também foi acusado por supostos abusos contra crianças, além de ter tido casamentos controversos.

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Imagem reprodução

 

Rodrigo Alves, brasileiro de 35 anos, estudou Relações Públicas na Faculdade de Comunicação de Londres. É fluente em seis idiomas: português, inglês, espanhol, francês, alemão e japonês. Residente no exterior e mundialmente conhecido como Ken Humano. De uns anos para cá sempre tem sido destaque na mídia por causa de sua aparência, pelos milhões gastos em cirurgias plásticas e pela busca da perfeição a qualquer preço. Teriam sido mais de 60 plásticas, senso que, só nariz, teriam sido cerca de 10 cirurgias. Dessas cirurgias, 3 teriam sido feitas em um único ano e, como Michael, o risco de perder o nariz se tornou uma realidade. Em julho de 2017, Rodrigo mal conseguia respirar e, novamente, teria que passar por mais operações. Nas últimas notícias, foi destaque por ter removido algumas costelas e por definir-se de uma maneira andrógena. Também costuma dizer que não aceita o envelhecimento.

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imagem reprodução

Michael Jackson, nós sabemos, teve uma infância traumática e abreviada, tendo sido muito exigido pelo pai para trabalhar desde muito cedo. Já sobre a infância de Rodrigo Alves não temos muitas informações, mas há notícias em que ele declara ter sofrido bullying por ser diferente.

São pessoas diferentes, datas diferentes, mas algo em suas vidas levou a traços de comportamento semelhantes:

Em psicologia nós sabemos que uma criança que não se sente amada e aceita pode desenvolver inúmeros recursos para tentar suprir esse sentimento de falta sendo que a tentativa exagerada de ser aceita socialmente é uma delas, pois, quando as pessoas dizem que a pessoa está bem, que é bonita, bem sucedida e famosa, isso causa uma sensação de bem estar. O problema acontece, logo em seguida, pois essa sensação de adequação dura um tempo muito curto e, pouco depois, a sensação de que não se é suficientemente bom volta com muita força, gera ansiedade e desencadeia comportamentos para levar a diminuição desse mal estar. Se essas pessoas possuírem dinheiro, como no caso de Michael e Rodrigo, essa ansiedade pode ser canalizada para a mudança corporal.

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Imagem reprodução

Como falamos antes, não se pode afirmar que o que aconteceu com Michael e com Rodrigo foi isso, mas as imagens, o número de cirurgias e alguns relatos nos levam a pensar sobre essa perda de limites que pode ser tão perigosa a ponto de, em algum momento, levar a morte.

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imagem de Rodrigo Alves após retirada de costelas

Conseguiram me acompanhar até aqui? Então vamos continuar.

Também é interessante comentar com você que uma das maneiras das pessoas suprirem um sentimento de inadequação é dizer exatamente o contrário do que pensam. Logo, muitas pessoas que se acham inferiores e feias são as que mais se esforçam para passar uma imagem de sucesso, beleza e realização. No fundo tudo isso é um teatro que visa o reconhecimento e a aceitação pública. Triste, né?

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Só para encerrar, e ESPERANDO ANSIOSA PELA OPINIÃO DE VOCÊS, quero apresentar um trasntorno psicológico que pode estar relacionado aos exemplos dos quais falamos, que é o Dismorfismo.

O Dismorfismo é um transtorno psicológico caracterizado pela preocupação obsessiva com algum defeito inexistente. Sendo assim, a pessoa tem uma opinião sobre si totalmente diferente da opinião das pessoas ao redor e, por pensar diferente e ver-se de forma diferente, ela não aceita argumentações contrárias.

AS PERGUNTAS PARA OS LEITORES SÃO:

1-Vocês acham que Michael Jackson e Rodrigo Alves possuem um problema mental grave?

2- Será que Michael Jackson foi e Rodrigo é apenas uma muito vaidosa, que possui muito dinheiro e todos esses gastos se justificam pela fama e sentimento, mesmo que passageiro,  de estar melhor?

3- Ou, ainda, será que eles Michael foi e Rodrigo é portador de um quadro de dismorfismo?

4- Até que ponto é saudável chegar pela vaidade?

Estou aqui esperando e lerei tudo. Grande abraço

Editorial CONTI outra.

Ela demoliu sua velha estrutura. É tempo de reconstrução.

Ela demoliu sua velha estrutura. É tempo de reconstrução.

Ao que parece, ela despertou, algum alarme ecoou dentro de sua alma, junto com um recado: “tá tudo errado, você vai precisar se desfazer de muita coisa que carregou até agora”. Ela se deu conta de que é tempo de reconstrução. A cada dia, ela amanhece com uma nova percepção acerca do mundo à sua volta e sobre si mesma. Tantas “verdades” que lhe empurraram goela abaixo, sem que ela tivesse ao menos a oportunidade de questioná-las. Ensinamentos que nunca a interessaram, regras alheias, receitas prontas vindas de pessoas que sequer tinham afeto por aquela mulher.

Ela tem consciência de que essa desconstrução não será um processo tão simples assim. Ela tem noção da complexidade envolvida em se tratando de ressignificar a própria visão de mundo. Mas ela está decidida, e, inclusive, já sabe por onde começar. Ela priorizou o campo afetivo, a forma como ela percebia o amor e os relacionamentos. Nesse quesito, ela se deu conta de que vai ter que derrubar toda a construção anterior, visto que não vai ter como aproveitar praticamente nada.

Sem ressentimento e com muita disposição para se perdoar pelos tropeços, ela se deu conta de que, em se tratando de relacionamentos, colocou em prática as receitas dos outros, e sempre ignorou a bússola da própria alma. Tanto conselho torpe que ela levou a sério, vocês não fazem noção. Ela tem consciência de que, por trás das fórmulas de amor que lhe ensinaram, havia, sim, pessoas bem intencionadas, mas isso não ameniza em nada o estrago feito em sua vida. Estrago é maneira de dizer, ela poderia dizer, desacertos, perda de tempo ou desperdício de vida.

Ensinaram a ela que, num relacionamento, a mulher não precisa gostar tanto do parceiro. Ancorando-se nessa premissa, ela foi capaz de se casar sem sentir amor pelo parceiro. Casou-se porque o rapaz era bom moço, e, aparentemente, bem intencionado. Nossa, olha como isso é grave, compartilhar a vida com alguém sem sentir admiração, sem frio na barriga, sem borboletas no estômago, sem aquela ânsia de que ele chegasse logo em casa, sem cumplicidade, sem reciprocidade…sem nada. Mas, ela caiu em si e saiu dessa arapuca, ela não deu conta de prosseguir, palmas para ela.

Outra coisa que ela recebeu, fruto do seu contexto religioso, é que a mulher é sempre a responsável pelo relacionamento, ou seja, ela tem o poder de, praticamente, fazer milagres. Isso inclui: fazer um homem abandonar os vícios, transformar um homem violento num gentleman, fazer um homem preguiçoso e desorganizado financeiramente dar uma guinada na vida, e, por aí vai. E, caso, ela não conseguisse fazer tais milagres, a culpa seria dela. Sim, ela seria a culpada por não ser suficientemente sábia e submissa. Seria culpada por não orar o suficiente pela transformação daquele homem e por não dar um bom testemunho dentro do próprio lar.

Abandonar essa bagagem foi conflituosa demais para ela. Havia, nesse contexto, muita coisa envolvida, coisa sagrada, sua própria fé. Desse conflito todo, a fé permaneceu, mas ela dialoga com Deus e deixa claro que não quer o fardo e a responsabilidade de transformar ninguém. Se é falta de sabedoria conforme sua religião prega, tudo bem, ela aceita ser chamada de tola. Sobre mudar alguém, ela já desistiu dessa ideia faz tempo, agora ela está empenhada nas próprias mudanças, nessas, sim, ela enxerga possibilidades de êxito.

Aquela mulher se deu conta das incontáveis oportunidades que ela perdeu de ser ela mesma. Ela já disse tantos “sins” querendo dizer “não”. E, já disse tantos “nãos” com os olhos famintos querendo dizer “sim”. Ela se deu conta de que não é possível ser feliz e viver com autenticidade baseando-se nas verdades alheias. Logo ela que tem uma alma pulsante, que ás vezes, parece não caber dentro de si. Tudo o que ela deseja daqui para frente é viver aquilo que acredita, sem medo e sem receios de julgamentos. Ela não está nem um pouco interessada nas receitas dos outros, ela prefere elaborar as delas, com os ingredientes que bem lhe interessar. Ela entendeu que a vida é curta demais para esconder de si mesma. É isso, ela decidiu assumir as rédeas da própria vida.

Imagem de capa:Photographee.eu/shutterstock

Nairóbi, rainha, cuida bem do meu like!

Nairóbi, rainha, cuida bem do meu like!

Nairóbi é mãe e todos sabemos que mães são fortalezas, sendo que ela, mais do que tudo, necessitava de todas as forças para recuperar seu filho. Seu matriarcado durou pouco, mas o bastante para nos apaixonarmos por ela para sempre.

“La casa de Papel” é uma série de televisão espanhola, criada por Álex Pina, cuja primeira temporada chegou ao catálogo da Netflix em dezembro de 2017. Em pouco tempo, arregimentou uma legião de fãs por todo o país. A trama gira em torno de um homem misterioso (Professor), o qual recruta oito pessoas que já cometeram crimes, cada uma com uma habilidade específica, para assaltarem a Casa da Moeda e roubarem milhares de dólares.

Cada um deles recebe um codinome, para que não saibam a verdadeira identidade uns dos outros. Assim, temos, além do Professor, as personagens de Tókyo, Rio, Berlin, Moscou, Denver, Helsinque, Oslo e Nairóbi. Elas passam meses planejando e estudando a empreitada em uma mansão abandonada, para que o plano saia perfeito. Mas não existe crime perfeito – não de todo -, e os incidentes vão acontecendo, durante os dias em que o assalto se realiza.

Tókyo se apaixona pelo comparsa Rio, Denver se apaixona por uma refém e o Professor acaba se apaixonando pela investigadora Raquel. Os reféns não se comportam todos da maneira esperada, tampouco os próprios assaltantes. Embora o professor tivesse antecipado muitas formas de agir, conforme surgissem os imprevistos, estes se avolumam a um nível que ele não conseguira imaginar.

Interessante perceber que os telespectadores vão se afeiçoando às personagens do lado de fora da lei, torcendo por eles, ao longo dos episódios. Em flashbacks, são apresentadas passagens da vida pregressa de cada um deles, humanizando-os, aos poucos, a ponto de pairarem dúvidas quanto a quem realmente é vilão ou mocinho na história. E, claramente, uma das personagens mais empáticas vem a ser Nairóbi.

Nairóbi engravidou de seu namorado adolescente, que a abandonou, deixando-a só, com o filho. Sem perspectivas, entrou no mundo do crime para sustentá-lo, mas acabou presa e sem a guarda do pequeno. Sua personalidade é forte, decidida, sendo uma das que não hesitam, não se entregam ao desespero, não deixando de continuar a gerenciar a impressão do dinheiro. Sua habilidade é a falsificação de tudo o que se possa imaginar, com maestria.

Em um momento de desespero e tensão entre os assaltantes, ela corajosamente toma a direção, tirando o comando – temporariamente – das mãos de Berlin, pois, ali, ela já era a única que mantinha o foco e o equilíbrio intactos. Nairóbi é mãe e todos sabemos que mães são fortalezas, sendo que ela, mais do que tudo, necessitava de todas as forças para recuperar seu filho. Seu matriarcado durou pouco, mas o bastante para nos apaixonarmos por ela para sempre.

A vida imita a arte e vice-versa. No caso de “La casa de papel”, o que fica mais forte é a linha tênue que separa os bandidos dos mocinhos, numa realidade em que oportunidades não são as mesmas para todos ou para qualquer um. Também urge, ao longo da história, a força do amor, da esperança e da liberdade. Sem paixão verdadeira, sem um motivo especial, quase não saímos do lugar, porque, como Guimarães Rosa diz, o que a vida quer de nós é coragem. E Nairóbi é coragem da cabeça aos pés, ansiando pelo reencontro com seu filho amado, reunindo toda esperança e coragem de vida dentro de si.

Nairóbi, rainha, cuida bem do menino. Cuida bem do meu like.

Imagem de capa: Reprodução

12 frases que arrepiam as pessoas que encontraram o sentido de suas próprias vidas

12 frases que arrepiam as pessoas que encontraram o sentido de suas próprias vidas

Eu acredito que o verdadeiro sentido da vida é encontrar nela um sentido. Assim o fazem as pessoas que descrevem-se como mais felizes e realizadas.

Abaixo, uma seleção de 12 frases que arrepiam as pessoas que encontraram o sentido de suas próprias vidas.

1- “Se alguém varre as ruas para viver, deve varrê-las como Michelângelo pintava, como Beethoven compunha, como Shakespeare escrevia.”
Martin Luther King

2- “Um homem verdadeiro faz o que quer, não o que deve.”
George R. R. Martin

3- “O homem que não está disposto a morrer por uma causa não é digno de viver.”
Martin Luther King

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4- “O sentido da vida é estar vivo. É tão claro, tão óbvio e tão simples. Mesmo assim, todo mundo não para de correr em pânico, como se fosse necessário conseguir alguma coisa além de si próprio.”
Alan Watts

5- “É loucura jogar fora todas as chances de ser feliz porque uma tentativa não deu certo.”
O Pequeno Príncipe

6- Georgette: “A vida é bela, apesar de tudo.”
O Fabuloso Destino de Amélie Poulain

7-“Só os que se arriscam a ir longe demais são capazes de descobrir o quão longe se pode ir.”
T. S. Eliot

8- “Viver é a coisa mais rara do mundo. A maioria das pessoas apenas existe.”
Oscar Wilde

9- “Não iremos a parte alguma se não formos capazes de correr o risco de fracassar. Logo então percebemos que o sucesso dependerá em grande parte da nossa persistência diante de questões que nos parecem muito difíceis. Aqueles que forem mais determinados e não desistirem com tanta facilidade ante os obstáculos da vida terão maiores chances de ser os mais bem-sucedidos na atividade a que se dedicarem.”
Flávio Gikovate

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10- “Não gosto da vida em banho-maria, gosto de fogo, pimenta, alho, ervas. Por um triz não sou uma bruxa.”
Martha Medeiros

11- “Sua tarefa é descobrir o seu trabalho e, então, com todo o coração, dedicar-se a ele.”
Buda

12- “Se você já construiu castelos no ar, não tenha vergonha deles. Estão onde devem estar. Agora, dê-lhes alicerces.”
Henry David Thoreau

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