10 lições para as relações no século XXI

10 lições para as relações no século XXI

A contemporaneidade é cheia de armadilhas. Estar em um relacionamento com alguém é, antes de tudo, aprender a se desvencilhar delas. Em uma relação, assim como numa estrada, são muitos os desvios e as curvas perigosas onde acidentes podem ser evitados pelo uso da atenção e do cuidado. Quando estes dois elementos faltam, aquilo que deveria ser uma proveitosa viagem acaba se tornando um pesadelo do qual é difícil de acordar.

Seja para os mais experientes ou para os principiantes, espero que estas 10 lições possam ajudar a encarar ou solucionar alguns problemas que possam rondar a vida a dois.

1 – Aprender a amar e respeitar o silêncio. A gente não sabe amar o silêncio, principalmente o do outro. Queremos sempre barulho e fogos de artifício, mas esquecemos que a vida não é feita apenas de luzes e gritaria. A conversa é fundamental para o bom relacionamento, mas de vez em quando é preciso distinguir o momento daquela pausa produtiva. Ouvir é essencial, mesmo quando o outro se cala.

2 – Não deixe que coisas pequenas se transformem em gigantes devoradores de gente. Com o tempo, alimentar os problemas miúdos pode acabar transformando-os em monstros implacáveis. Quando deixamos pra lá aquele pequeno incômodo, damos oportunidade para que ele cresça mais do que podemos dar conta. Converse, aborde. Se inteire sobre o que anda afligindo os pensamentos dele ou dela. Cuide para que uma gota de orvalho não vire tempestade a ser colhida na próxima estação.

3 – Partilhe. Seja alegria ou tristeza, partilhe. Não caía no velho golpe de que só se deve ou que só vale a pena compartilhar o que for bom. Comunicação é importante nas duas vias. Só assim é possível saber os motivos de uma cara emburrada ou de um muxoxo. Não dá para exigir que seu parceiro ou parceira adivinhe o que se passa na sua cabeça. Deixe essa coisa de telepatia para os heróis da televisão, ok?

4 – Os detalhes importam. Até os menores deles. Um detalhe ínfimo pode fazer toda a diferença na compreensão de algo maior. Embora a passagem do tempo venha a influenciar pequenas, médias ou grandes mudanças, atentar para estas mudanças ajuda a compreender o momento particular de cada um. Sente falta de um toque específico, de uma palavra anteriormente recorrente, de um jeito de contar algo? Pergunte. Peça. Da mesma maneira, observe se deixou de fazer alguma dessas coisas e converse com seu parceiro ou parceira para que não existam mal-entendidos. Relação não é apenas conquista, é também manutenção.

5 – Seja paciente, o mundo não foi feito em um dia. Na bíblia, Deus fez o mundo em seis dias. Para a ciência, o processo durou um pouco mais (cerca de 100 milhões de anos, segundo as pesquisas mais recentes). Tanto faz se você é religioso ou ateu, o fato é que nem tudo é pra já. Às vezes temos tempos diferentes. Não querer e obrigar o outro a correr quando ele prefere andar, da mesma forma que o mesmo não deve ser feito com você. Entender e aceitar essa diferença de ritmo é fundamental. Falamos muito sobre respeitar espaço, mas pouco sobre como isso também deveria valer para o tempo.

6 – Aproveite mais, projete menos. Freud dizia que no começo da relação, nos apaixonamos pela projeção que fazemos da outra pessoa. Com o passar do tempo, vamos descobrindo que as coisas não são bem assim. No fim, avaliamos se o que sobrou daquela projeção inicial é o suficiente para nós. Não projetar é algo extremamente complicado. Desde sempre foi. Chegamos ao relacionamento cheios de anseios, de expectativas e vontades, jogando nos ombros de outra pessoa a responsabilidade de ser aquilo que queremos e esperamos que ela seja. Estamos errados, redondamente errados. O esforço para quebrar esse círculo vicioso é grande, talvez seja mesmo uma missão impossível, mas o esforço pode valer a pena. Isso nos leva diretamente para a próxima lição.

7 – Muito provavelmente você já escutou ou já ouviu falar da famosa canção People Are Strange (pessoas são estranhas), da banda norte-americana The Doors. E isso aí mesmo. Todos nós somos estranhos. Se não para nós mesmos, para outra pessoa. Isso também se chama diferença e é ótimo que ela exista. Não dá para exigir que as pessoas sejam iguais a nós, que pensem iguais a nós em exatamente tudo. Aceitar o outro como ele é se configura um verdadeiro teste para nosso ego. Por isso, não se frustre tentando mudar seu companheiro ou companheira. No lugar disso, trabalhem em conjunto. Talvez assim vocês descubram como lidar melhor com as próprias lacunas.

8 – Cuidado com as pequenas mentiras. Às vezes, a linha entre uma mentira grande ou pequena é muito tênue. Geralmente, onde você vê um gnomo, o outro pode enxergar um ciclope ameaçador. É melhor prevenir essas estranhas metamorfoses, pois nunca se sabe a dimensão que uma pequena mentira terá para a outra pessoa. Abra o jogo, franqueza não é sinônimo de fraqueza.

9 – Esteja aberto para o novo. Não force, mas se esforce – pelo menos um pouco. Pode não parecer, mas são coisas completamente diferentes. Experimente coisas novas, permita-se novas experiências. Elas criam laços e reforçam aqueles já existentes. Não precisa ser nada descomunal. Um passo por vez, uma pequena coisa por vez. Viver é movimento.

10 – Por último e não menos importante: sexo é essencial, sim. Se nenhum dos dois estiver passando por problemas e estiver faltando intimidade na relação, algo não está certo. Claro que devemos levar em conta as condições de cada um. Tem gente que não gosta muito de sexo e outras que gostam menos ainda. Mas, se antes costumava haver desejo e vontade e depois a coisa começou a decair sem explicação plausível, temos aí um problema. É comum que queiramos nos sentirmos desejados por nossos companheiros e precisamos entender que muito provavelmente eles também se sentem dessa forma. Se o ritmo sexual mudou, melhor sondar e ver se tudo está mesmo nos conformes. Sexo não é a cereja do bolo, ele é boa parte do recheio.

Um dia vai dar certo.

Um dia vai dar certo.

Eu sei que parece a coisa mais injusta do mundo saber disso, mas não é. Não é porque, para dar certo, muitos sentimentos precisam estar alinhados. E antes de você entendê-los inteiramente, você vai levar alguns tombos, você vai se enganar, você vai achar que tinha o melhor em suas mãos. Você vai ter expectativas quebradas com quem nunca pensou que teria, você vai mergulhar num mar de confusão e, às vezes, até de lágrimas por quem não merecia sequer uma saudade da sua reciprocidade.

Mas um dia vai dar certo. Vai mesmo. Mas é necessário que até esse dia chegar, você esteja em sintonia com os seus desencontros. Pois aceitá-los é compreender que eles foram importantes para que mudasse de perspectiva, para que visse o compromisso que significa morar no coração de alguém sem exigir nada em troca. Você vai finalmente entender que o amor não é aquilo que pintam nos romances, nas novelas, nos filmes. Quando você ouvir de alguém por quem se apaixonou dizer adeus, deixando nada além de perguntas, você vai perceber o quanto é ilusória toda essa estória de felizes para sempre.

Ainda assim, um dia vai dar certo. O seu dedo não é podre e nem o seu cupido precisa de óculos. E o seu coração, o seu coração não tem nada de errado. Você vai seguir em frente, não se preocupe. Você vai aprender a valorizar a própria companhia e vai experimentar o abrigo mais honesto que alguém poderia te oferecer: a solidão. E essa solidão vai te ensinar muitas coisas. Coisas que você nunca tinha parado para pensar, sentir e viver.

Até que, um dia, em um lugar aleatório, você vai conhecer alguém. Alguém que passou pelas mesmas decepções, mas com cicatrizes diferentes das suas. Alguém que vai ouvir sobre as dores que você já teve e vai respeitá-las. Alguém que vai rir com você dos porquês de ter demorado tanto tempo para dar certo. Daí, no meio do encontro mais improvável do mundo, você vai agradecer pelos desamores que teve de passar. Afinal, eles ajudaram o hoje a deixar de ser um dia.

Toda pessoa é competente se faz aquilo que ama

Toda pessoa é competente se faz aquilo que ama

Definitivamente, rotular as pessoas é uma grande injustiça, especialmente no que se refere as suas habilidades profissionais. Avaliar uma pessoa como incompetente, nada mais é do que reduzir todo o potencial dela àquilo que ela está exercendo. Poucas pessoas param para pensar sobre o que pode estar por trás do baixo desempenho daquele profissional.

Acredito que cada um de nós temos, no mínimo, uma aptidão. É aquilo que nasce conosco, aquela afinidade com alguma atividade. Acredito que nascemos com uma espécie de carimbo na alma, uma bússola que nos sinaliza sobre o que realmente nos fará feliz e realizado no campo das habilidades.

Seja dançar, escrever, cantar, cozinhar, falar, pintar…etc. Entretanto, nem todos têm a sorte grande de estar exercendo aquilo que, de fato, tem aptidão. As razões para esse desencontro são várias, cito duas delas aqui: muitas pessoas ainda não descobriram a sua verdadeira vocação, outras até sabem, mas por algum motivo não estão exercendo aquilo que gostam.

Em geral, as pessoas associam a prosperidade às aquisições financeiras e materiais, ao passo que, a prosperidade verdadeira é aquela que faz a alma sorrir, é assim que defino.

Meu conceito de pessoa próspera é uma pessoa que se conectou com a sua verdade interior.

Não estou fazendo apologia à pobreza, tampouco, negando a importância do dinheiro, não é isso. Inclusive, houve uma fase na minha vida em que eu achava impossível um rico ser infeliz, daí acabei desfazendo essa crença e reformulando minhas percepções. Me dei conta de que minhas melhores vivências e lembranças não tem nenhuma relação com o dinheiro ou conforto.

Bem, voltando à questão do rótulo de incompetente, creio que a grande verdade seja esta: no mundo não existiria nenhum incompetente se todos estivessem exercendo aquilo que realmente gostam. Gente, não é possível enganar a nossa alma. Como uma pessoa cuja aptidão é dançar, será feliz e competente trabalhando em um escritório, em serviço burocrático? Ela pode até se sair bem, mas ela não estará dando o seu melhor. Ela sempre terá uma criança interior chorando dentro de si mesma, fazendo birra e dizendo: “não é isso que eu quero fazer”…”me tira daqui”…”já é segunda-feira de novo”? Entendem?

Detalhe: ela poderá trabalhar a vida inteira naquilo, ter um bom salário, mas nunca será realizada. Ela sempre irá se arrepiar ao ver um espetáculo de dança, enquanto sua criança interior estará sapateando dentro dela dizendo: “é disso que eu gosto!”…”eu quero fazer isso”!

Imagine que maravilha, se, no planeta inteiro, cada pessoa estivesse empenhada naquilo que faz a alma saltitar de alegria. Imagine a produtividade dessas pessoas!

Elas não teriam pressa para chegar à sexta-feira e chegariam em casa, bem humoradas, sempre. Agora que leu esse texto, responda para si mesmo: você é feliz no que faz? Se não, o que gostaria de fazer? Eu estou aqui escrevendo após um dia exaustivo simplesmente por paixão, não estou ganhando nenhum centavo por isso, em contrapartida, me sinto a mais próspera e feliz das criaturas.

Foto de Ellyot no Unsplash

Aqueles que choram vendo filmes são psicologicamente mais fortes

Aqueles que choram vendo filmes são psicologicamente mais fortes

Por Jennifer Delgado Suárez, psicóloga

Há pessoas que choram facilmente com filmes, outras tem vergonha de mostrar as emoções, especialmente os homens, porque eles pensam que as lágrimas os enfraquecem, uma bobagem machista sem nenhum fundamento. No entanto, a verdade é que chorar vendo um filme não é um sinal de fraqueza, muito pelo contrário, indica que a pessoa é psicologicamente mais forte.

Chorar não é motivo de vergonha. É sinal de humanidade que indica uma emoção, pode ser tristeza, felicidade, raiva, nostalgia, acima de tudo, sintoma de empatia. E pessoas assim tendem a ser socialmente mais bem-sucedidas.

Choramos com filmes porque somos empáticos

Quando os personagens de um filme são bem representados, somos levados a nos colocar em sua pele, ver a realidade através de seus olhos. Todos, em variados níveis, buscamos a identificação no cinema. Estudos feitos utilizando neuroimagem funcional revelaram que o nosso cérebro quase se conecta com o personagem com quem nos identificamos, na medida em que ativamos as mesmas áreas do cérebro, relacionados ao que o personagem está fazendo, as mesmas áreas que ele está utilizando para executar as tarefas, como caminhar, saltar ou bater palmas, por exemplo.

Esse recurso também permite compreender sua situação e seu ponto de vista, bem como experimentar os mesmos estados emocionais. Obviamente, a empatia está intimamente ligada à maneira como nosso cérebro está estruturado, especialmente com os neurônios-espelho, que são os principais responsáveis ​​no ato de nos colocar no lugar dos outros.

Por outro lado, quando vemos filmes com um alto conteúdo emocional, nosso cérebro também libera ocitocina, um neurotransmissor poderoso que nos ajuda a conectar com os outros e nos permite ser mais compreensivos, amáveis, confiáveis e desinteressados. Um estudo realizado na Claremont Graduate School deixou isso bem claro.

contioutra.com - Aqueles que choram vendo filmes são psicologicamente mais fortes

 

Neste experimento, os psicólogos pediram aos participantes que assistissem um vídeo do Hospital Infantil St. Jude. Metade das pessoas viu um segmento do vídeo que mostrava um pai falando sobre o câncer terminal de seu filho. A outra metade viu um segmento em que a criança e o pai visitavam o zoológico e nenhuma menção da doença foi feita.

Como esperado, o segmento em que apareceu o pai falando sobre o câncer do filho gerou uma resposta emocional mais intensa: os participantes mostraram um aumento de 47% dos seus níveis de oxitocina no sangue.

Em seguida, cada participante teve que tomar uma série de decisões relacionadas com dinheiro e outras pessoas. Os resultados mostraram que aqueles que assistiram o vídeo de conteúdo mais emocional foram mais generosos com estranhos e mais propensos a doar dinheiro para caridade. Aqueles que doaram dinheiro também relataram estarem se sentindo mais felizes.

Isto mostra que a empatia, e as atitudes despertadas por ela, como chorar quando nos identificamos com algum personagem de um filme, na verdade, não é uma fraqueza, pelo contrário, é uma habilidade que nos permite conectar com outras pessoas e que, em última análise, nos torna pessoas mais fortes e mais felizes.

A empatia é um dos caminhos que nos conduzem à resiliência. Quando somos capazes de compreender os outros, o nosso universo emocional se expande. De certa forma, viver essas experiências através de outrem nos ajuda a ficar mais forte emocionalmente e nos prepara para quando temos que passar por momentos semelhantes.

A incapacidade de tomar o lugar de outrem é uma desvantagem social, enquanto a sensibilidade emocional, a capacidade de compreender os outros e experimentar as suas emoções, o que nos permite expandir o nosso horizonte emocional, revela que somos pessoas mais fortes.

Chorar também melhora o estado de espírito

Se você precisar de mais razões para não reprimir o choro durante um filme, aqui vai outro estudo, desta vez desenvolvido por psicólogos da Universidade de Tilburg, onde observou-se que filmes tristes podem realmente melhorar o nosso humor, mas somente se você for levado às lágrimas.

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Texto originalmente publicado na Rincón de la Psicología, traduzido e livremente adaptado pela Revista Bem Mais Mulher.

Imagens: cenas do filem “Cine Paradiso”

Seu coração está sangrando? Não use ninguém como curativo, por favor.

Seu coração está sangrando? Não use ninguém como curativo, por favor.

Eu já achei essa afirmação bem poética, nos tempos em que eu não tinha o devido senso crítico. Entretanto, hoje, com o meu repertório de vivências, tanto minhas, quanto de pessoas próximas a mim, comecei a perceber essa declaração numa perspectiva diferente. Obviamente que não vou generalizar, contudo, há casos em que essa a tentativa de substituir alguém no coração, a qualquer custo, é algo que que pode ser classificado como uma grande irresponsabilidade.

É natural que uma pessoa que esteja com as emoções destroçadas por conta de uma ruptura de um relacionamento queira se livrar, o quanto antes, desse aprisionamento emocional. Esse sofrimento é real e perturbador na vida de quem gosta de alguém e que, por alguma razão, teve que dizer adeus. A dor de dizer adeus querendo ficar, eu já vivenciei, e, em muitos momentos, tive a sensação de ter duas mãos apertando a minha garganta. A dor saía da esfera emocional e migrava para o meu corpo físico.

A sensação que temos nesses momentos é a de que nunca vamos superar aquele luto. Não importa o quanto ouvimos que aquilo vai passar, que é uma questão de tempo. Podemos ler a respeito, ouvir depoimentos, nada disso serve de acalento. É como se aquela pessoa fosse a única no mundo, e, portanto, insubstituível.

Ocorre que cada pessoa possui os próprios mecanismos para lidar com os desconfortos de uma ruptura amorosa. Há aquelas que optam por viver o luto, respeitando o tempo necessário para ficarem inteiras novamente. Elas possuem lucidez e maturidade emocionais suficientes para compreenderem que não é sensato iniciar uma nova relação, por mais que apareçam pessoas interessantes com essa proposta. Elas se conhecem o suficiente, ao ponto de compreender que não têm condições de oferecer nada a alguém, pois elas estão machucadas demais para isso. Elas têm consciência de que não estão inteiras, elas entendem que não é justo usar alguém como muleta na tentativa de sepultar um passado.

Em contrapartida, há também um perfil de pessoas que não sabem lidar com esse luto. Elas querem, de qualquer jeito, preencher a lacuna que alguém deixou. São pessoas que não percebem graça na vida se não tiver alguém ao lado. É como se as suas existências precisassem, sempre, de um relacionamento para serem validadas. Então, mesmo num luto intenso e com o coração conectado a outra pessoa, elas vão em busca de alguém, na tentativa de anestesiar essa dor.

No geral, se machucam mais ainda, pois, dependendo da situação, se esforçam para sustentar um relacionamento no qual não se sentem felizes e motivados. Isso, por si só, já configura uma tortura. Sem contar que o novo parceiro estará se alimentando de migalhas, visto que alguém que acaba de romper um relacionamento contra a vontade não tem nenhuma condição de somar na vida do outro.

Eu conheço casos assim, a pessoa perdidamente é apaixonada por alguém do passado, mas, se relaciona com outra sem a menor empolgação, como se essa fosse uma espécie de quebra-galho. A pessoa se doa por completo, porém, o que recebe está bem aquém do que merece. É uma balança muito injusta, entende? No fundo, essa pessoa percebe que algo está errado, mas, vai tentando administrar essa equação que não fecha, por falta de uma variável fundamental: a reciprocidade.

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Photo by Anthony Tran on Unsplash

A gente tem que deixar ir quem nunca soube ficar

A gente tem que deixar ir quem nunca soube ficar

Não, ele não quis saber da mensagem que você mandou pra ele há dois dias. Lembra? Aquela em que você falava da sobremesa que tinha preparado. O bendito doce está intacto na geladeira até agora. A mensagem, o doce, você e sua atenção carinhosa, tudo isso foi propositalmente ignorado por ele. Se ele não for um E.T, e tiver dado um pulinho em Marte, certamente está fazendo pouco caso de você.

Não, ele não está tão ocupado. Os áudios que tem mandado enquanto dirige dizendo que está pra cá e pra lá atrás de emprego não justificam as distâncias que só tem aumentado entre vocês. Ele propositalmente está dirigindo para longe de você.

Não, ele não pretende arrumar a vida para te colocar nela. Ela quer arrumar a vida para fazer caber o maior número de mulheres por lá e você vai ser só mais uma no final da lista de prioridades dele. É por isso que ele esquece de te convidar para as festas de família, para o encontro com os amigos, para os lugares que diz serem especiais para ele. É que você sempre está pronta para o amor. É que você sempre está vestida, trocada, depilada e perfumada para qualquer tantinho de amor que venha dele.

Você não reparou? Ele gosta de balançar a cabeça para parecer gentil, mas ele não se aprofunda em nada e você mergulhou nele de cabeça. Agora a dor que você está sentindo aí é dilacerante.

Sabe aquele filme “Grandes Olhos”? Pois é, assim como a mocinha que se apaixonou por um cara que pintava vazios, esse tipo de homem gosta de encher a nossa vida de vazios. De expectativas. De silêncios. De perguntas sem respostas. Esse tipo de homem finge ser homem, mas é moleque em matéria de amar.

Pare de procurar respostas. Esquece isso de se culpar. Desde o começo ele não tinha intenção de ficar. Se você pudesse esticar o pescoço veria atrás dele uma fila de mulheres decepcionadas. No fundo ele é um equívoco que beija gostoso. E só.

Você quer mesmo gastar com esse cara uma parcela preciosa do seu tempo? Pense bem. Ele é o caminho errado. Aquele que nos aparece em alguma encruzilhada cheia de neblina. Ele é o vampiro que quer te sugar todo sangue em troca de um pouco de lascívia. Ele é como aquelas porcarias que matam nossa fome, mas que depois nos causam vertigens e mal-estar.

Pare. Respire. Acorde, mulher. Saia dessa. Tem que ser muito forte para amar de verdade e essa força você tem de sobra aí. Você tem feito muito esforço pelo homem errado. Só isso. Deixe o celular de canto. Deixe os lugares onde ele sabe que vai te encontrar e vá pra piscina, pra livraria, pra ciclovia. Vá pra vida assim de cara lavada. Enfrente esse medo estarrecedor de ser só você. Vá conhecer o mundo de fora e de dentro. Pendure uma placa de “fechada pra balanço” na porta do quarto e da vida. Vá se apaixonar por outras coisas, por outras pessoas, por outras formas de fazer e viver o mundo.

Tome banho de chuva, banho de cachoeira, banho de amor próprio. Chega de ficar em banho-maria. Durma pelada. Veja filme antigo na TV. Ame essa mulher aí que é linda e corajosa.

Eu sei, na ânsia de amar e admirar a gente acaba amando sapo e admirando porcaria. A gente ouve qualquer coisa tocada por aí e sai falando que encontrou uma oitava sinfonia. Nada disso. Nada de se iludir à toa. Nada de ignorar os sinais. Nada de achar que encontrou o cara da sua vida e dar de cara com a parede.

O segredo de quem ama e se ama é que lá no começo essa gente fecha algumas portas. É que lá no começo essa gente quebra o dedo de quem quer botar o pé e a mão na porta pra não sair. É que essa gente não fica de papinho com quem aparece só quando convém. O segredo do amor que dá certo está na escolha. Se a escolha for certa, então vai ser gostoso demais. Se não for, é hora de deixar ir, sem pesares, quem nunca soube ficar.

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Acompanhe a autora no Facebook pela sua comunidade Vanelli Doratioto – Alcova Moderna.

Atribuição da imagem: pixabay.com – CC0 Public Domain

Quanto mais fraco você se mostra, mais forte o outro fica

Quanto mais fraco você se mostra, mais forte o outro fica

Não é nada fácil enfrentar o fim de um relacionamento, tanto para quem não quer o término, quanto para quem toma a inciativa de romper. Falhar traz dor e decepção, em todo e qualquer setor de nossas vidas, porque a gente quer, sobretudo, dar certo. E queremos dar certo logo, na primeira vez, mas raramente será desse jeito.

Fato é que, quando um relacionamento se rompe, sempre haverá a possibilidade de um dos parceiros ainda amar o outro, ainda manter esperanças de que encontrará alguma maneira de se consertar o que se quebrou. Nem sempre ambos desistem ao mesmo tempo e, por isso mesmo, as forças de um e de outro se distanciam em intensidade. A tendência de quem não queria se separar é se enfraquecer e se diminuir.

Por essa razão, quem continua amando quem já não ama mais acaba neutralizando toda e qualquer esperança de ser feliz, a não ser junto a quem não está mais ali. Não consegue sequer imaginar a vida sem a presença do outro, como se lhe faltasse o ar, como se sufocasse por dentro, como se nada mais fizesse sentido algum. Para ele, só o outro importa, nada nem ninguém além do outro.

E, então, não raro, muitos começam a mendigar por atenção, lotando a caixa de mensagens e o whatsapp do ex, tentando encontrá-lo, convencê-lo, contentando-se com quaisquer migalhas que lhes forem jogadas. Enquanto isso, o outro se fortalece cada vez mais, porque a ele está sendo dado um poder incrível, como se a vida de alguém estivesse em suas mãos. Esse poder traz força e, muitas vezes, desinteresse pelo outro.

Na maioria das vezes, é assim que acontece, porque, quanto mais fracos e vulneráveis nos mostramos, mais o outro se fortalece. Ninguém se interessa por uma pessoa que não se dá a mínima importância, por alguém que se humilha. Quando estivermos nos humilhando e implorando por sentimentos, será quando ficaremos menos interessantes para o outro. Será quando o outro nem terá motivos para sequer repensar a atitude que tomou.

Não dá para ser muito racional quando a gente se vê numa situação como essa, que envolve afeto e sentimento, pois parece que agir por impulso torna-se mais forte do que pensar sobre qualquer coisa. No entanto, se conseguirmos nos concentrar e nos agarrar ao mínimo de lucidez que nos restar aqui dentro, em meio ao redemoinho lá de fora, conseguiremos evitar rompantes de atitudes descabidas. Não se perca de si mesmo, não se esqueça de se olhar no espelho, de se valorizar, mesmo quando estiver se sentindo um nada.

Você não se interessaria por alguém sem amor próprio, sem noção de limites, por alguém que não tivesse a oferecer nada forte e seguro. Então, não seja você essa pessoa. Chore, fique triste e desanimado, mas não na frente de quem já não te ama mais. Quem provoca nossas lágrimas não merece vê-las. Caso ainda haja amor no outro, pode até demorar, mas um dia se dará o reencontro. E, então, você já será alguém inteiro, interessante e pronto para continuar, ou mesmo para não querer mais. Levanta essa cabeça!

Photo by Daniel Garcia on Unsplash

Superar rejeição amorosa equivale a vencer um vício, diz estudo

Superar rejeição amorosa equivale a vencer um vício, diz estudo

Pessoas que sofrem muito por um amor não correspondido ou uma relação que chegou ao fim podem se apegar agora a uma explicação biológica. Uma nova pesquisa feita pela Rutgers University, em Nova Jersey, nos Estados Unidos, sugere que a rejeição de uma amante pode ser semelhante a ter de se livrar de um vício. O estudo, publicado na edição de julho do Journal of Neurophysiology, é um dos primeiros a examinar o cérebro de pessoas que tiveram o “coração partido” recentemente e que têm dificuldade para superar o seu relacionamento.

Os pesquisadores estudaram o cérebro de 15 voluntários (10 mulheres e 5 homens) com idade universitária e que tinham terminado um relacionamento, mas que ainda amavam a pessoa que os havia rejeitado. A duração média das relações era de cerca de dois anos, sendo que dois meses haviam se passado, em média, desde o rompimento dos relacionamentos. Todos os participantes tiveram altas pontuações em um questionário que psicólogos utilizam para medir a intensidade dos sentimentos românticos. Os participantes também disseram ter gasto mais de 85% de suas horas acordados pensando em quem os rejeitou.

Após a varredura, os cientistas descobriram que, enquanto olham para as fotografias dos antigos parceiros, homens e mulheres com o coração partido têm ativadas as regiões cerebrais associadas com recompensa, ânsia do vício, controle das emoções e sentimentos de apego, dor física e angústia.

Esses resultados fornecem respostas sobre os motivos pelos quais pode ser muito difícil para alguns superar uma ruptura e porque, em alguns casos, as pessoas são levadas a cometer atos extremos, como perseguições e homicídios, depois de perder o amor.

“O amor romântico é um vício”, disse a autora da pesquisa Helen E. Fisher, antropóloga biológica. “É um vício muito poderoso e maravilhoso, quando as coisas estão indo bem e um vício horrível quando as coisas estão indo mal”, disse ela.

Os pesquisadores desconfiam que a resposta do cérebro à rejeição romântica possa ter uma base evolutiva. “Provavelmente os circuitos do cérebro para o amor romântico desenvolveram-se há milhões de anos para permitir que os nossos antepassados concentrassem sua energia de acoplamento em apenas uma pessoa por um tempo e iniciar o processo de acasalamento”, acredita a pesquisadora. “E quando você é rejeitado no amor, é como se perdesse o maior prêmio da vida, ou seja, um parceiro para o acasalamento”. Segunda Fisher, este sistema do cérebro é ativado para ajudar ao rejeitado a tentar conquistar a pessoa de volta, para que se concentre nela e tente recuperá-la.

TEXTO ORIGINAL DE MINHA VIDA

Para o seu próprio amor, você vai precisar se afastar de algumas pessoas.

Para o seu próprio amor, você vai precisar se afastar de algumas pessoas.

Vai precisar encerrar ciclos, substituir reticências por pontos finais em certas relações, trocar sentimentos que te sugam o equilíbrio que você merece e, mesmo respeitando o tempo de cada um, vai precisar também se afastar algumas de pessoas. Porque por mais que você ame e importe-se com muitas delas, você vai precisar de um espaço só seu para que o seu amor permaneça saudável e em condições de continuar evoluindo.

Não será fácil cortar laços tão marcantes da sua vida, assim como também não será da noite para o dia que você criará essa consciência emocional. Até você chegar nessa maturidade, até você aceitar o quanto é essencial o desprendimento de relacionamentos que não te trazem bem algum, muito vai te incomodar. Vai doer bastante até que você supere, até que você aprenda. Todos os dias você vai pensar se tomou a decisão correta, se foi justo com você e com a outra pessoa. Às vezes você vai querer voltar atrás e desfazer tudo, sabe? Mas nada disso é estúpido. As lágrimas, as incertezas, o nó na garganta.

Quando tudo parecer afundar diante do seu coração, lembre-se dos motivos que te levaram a praticar esse distanciamento: a sua saúde, a sua estabilidade mental. Porque nenhum coração funciona isento da razão. Ele precisa de uns conselhos vez ou outra para não mergulhar em quem não reconhece o melhor da gente.

Portanto, não encare o seu desistir, o seu ir embora da vida de algumas pessoas como descaso ou menos amor. O que nunca te faltou foi amor. Se afastar de algumas pessoas não é fracassar. Se afastar de algumas pessoas é entender, respeitar e valorizar quem você é. Qualquer relacionamento precisa ter o autoconhecimento sendo pilar. Para o seu próprio amor, apenas vá. Às vezes é necessário.

Não tenha medo de mudar os rumos da sua vida

Não tenha medo de mudar os rumos da sua vida

É muito bom o conforto que sentimos quando tudo caminha num ritmo constante, quando parece que as coisas estão andando nos trilhos, em seus devidos conformes. Quando nosso emprego está indo bem, quando filhos estão encaminhados, quando podemos tomar uma cerveja em paz no final de semana.

Pura ilusão. Quase nada podemos controlar o tempo todo, todo dia, toda hora, o tempo inteiro. Tudo pode mudar num segundo, num piscar de olhos e, quando percebermos, nada mais terá chance de ser como antes. Um acidente, um incidente, um problema financeiro, de saúde, a morte, o fim do amor – a gente cai e é obrigado a sair de onde estiver. Não há zona de conforto que seja intocável.

O mundo anda tão célere e imprevisível, que tentamos manter certa constância onde pudermos, para, ao menos, abrandar um pouco nossa ansiedade. Tudo bem manter a rotina em certos aspectos da vida, para que nossos sentidos possam se reorganizar aqui dentro, em meio aos imprevistos que chegam. O ruim é tentar controlar o mundo e resistir a todo e qualquer tipo de mudança.

Tem gente que não consegue mudar um abajur de lugar, não compra produto que não tenha determinada marca, não come se não for no restaurante X, nem bebe se não tiver a bebida Y. Não muda o tipo de blusa, de calça, de corte de cabelo. Passa as férias na mesma praia, na pousada de sempre, impreterivelmente na segunda quinzena. Fidelidade é admirável, no tocante a sentimentos, mas, no correr da vida, há que se ter variedade, mudança, avanços.

Ouse, de vez em quando. Faz tão bem. Mude a cor do cabelo, a altura do salto, o comprimento da saia. Mude o roteiro da estrada, as músicas da playlist, o livro de cabeceira. Mude por fora, mude por dentro. Prove novos sabores, assista a seriados mexicanos. Experimente novas praias, roteiros inusitados. Não tema mudar, não tenha medo do novo. Se nada é previsível, seja um pouco imprevisível também.

Acredite: surpresas libertadoras aguardam aqueles que ousam ultrapassar os limites ilusórios de sua zona de conforto.

“Não deixe eu me arrepender de um dia ter te amado”

“Não deixe eu me arrepender de um dia ter te amado”

Na música “Amuleto”, Tiê pedia para João cuidar de seu coração. Pedia para ele pendurá-la em seu pescoço feito um amuleto para que ela não se arrependesse de um dia tê-lo amado. A música é linda, uma das minhas preferidas, mas é claro que João não conseguiria sanar todas as dores e necessidades da mocinha. Porém, João poderia ser cuidadoso. João poderia ser gentil com o fim. João poderia levar em consideração o afeto que um dia sentiu, e não sair por aí expondo em praça pública a rapidez com que superou, e mais ainda, a pressa com que a fila andou.

A questão que se instala é como lidamos com a dor do outro quando uma relação termina e só a gente quis que ela terminasse. A gente não pode prever quanto tempo o outro ainda vai carregar a gente dentro dele, e se algum dia existiu amor, ou pelo menos consideração, os vínculos ainda existem, e não é porque vivemos tempos líquidos que podemos sair desprezando, torcendo o nariz, tratando como um incômodo alguém que já fez parte de nossas vidas e de alguma forma compartilhou nossa história.

Ana sabia que não devia, mas tinha acabado de sair do show do Gil, e pareceu tão certo depois de ouvir “Drão” ligar para João que não achou que pudesse se arrepender depois. Mesmo após Catarina adverti-la sobre os riscos de combinar night x bebida x celular = ressaca moral no dia seguinte, ainda assim achou que valeria a pena matar aquela saudade. Tinham sido namorados por dois anos, e mesmo tendo rompido há cerca de um mês, uma parte dela ainda acreditava que haveria consideração, principalmente quando ela contasse que tinha ouvido “Drão”. Num impulso, clicou no contato conhecido. Dois toques, Ana, coração na mão, arriscou um rápido: “Oi João!”. Ele, desperto, perguntou se era a “Fer”. Ana, um misto de curiosidade, surpresa e indignação (quem seria “Fer”?) se identificou: “Sou eu, a Ana!” e João, sem disfarçar a consternação, resmungou: “Ah… é você? Affffffffff” , claramente torcendo o nariz. Ana emudeceu, corou, desligou. E no ombro de Catarina confessou: Sentir o desprezo dele havia doído muito mais que ser confundida com “Fer”. Ela sabia, a fila andava, os ciclos se fechavam, a vida continuava. Mas aquele “Ah… é você? Affffffff” era claramente uma aversão, e por isso ecoaria em seu coração muito mais tempo, como uma lembrança ruim, “um arrependimento por um dia ter te amado, João”. Talvez faltasse a João a gentileza do fim. A capacidade de ser tolerante com a dor do outro quando esse outro já foi tão importante pra nós.

Vivemos uma época de vínculos frágeis, em que uma relação só é válida se tem algo bom a oferecer. O tempo urge, a fila anda, e o que passou, passou. Desapegar é a palavra da vez, e esquecer também. De repente olhar para trás ficou obsoleto, e seguir declamando “não espere gratidão nem perfeição” é vanguardista e contemporâneo.

Fechar ciclos é necessário, e esquecer algumas pessoas, também. Porém, é preciso respeito e cuidado quando desejamos afrouxar os laços com alguém. É preciso respeitar o tempo da dor, da assimilação do fim, e ser gentil com o coração do outro, principalmente quando esse outro já esteve firmemente atado a nós.

A gente se arrepende de um dia ter amado algumas pessoas. Não pelo que elas foram durante a relação, mas pelo que se tornaram depois que a relação acabou.

Não sabemos o que esperar das relações, e muito menos dos términos. As pessoas se machucam, se destroem, causam feridas e mágoas profundas umas nas outras, simplesmente porque não conseguem se vincular e se desvincular com o mínimo de respeito e cuidado. Falta coragem e disposição para encarar o que é essencial e tem valor. Falta nobreza para suportar a dor do outro, ser tolerante com aquilo que não é perfeito, e tratar com humanidade as questões de quem precisa se desligar de nós contra a própria vontade.

A fila tem andado depressa e estamos impacientes. Consumimos e descartamos relações, visando apenas as satisfações que podemos obter das pessoas. Tenho visto isso acontecer em relações familiares, de amizade e amorosas. Sem o menor cuidado no “descarte”, objetificamos as pessoas e depois, sem a menor cerimônia ou respeito, rasgamos a folha e partimos para a próxima página. Falta memória e gratidão.

Mas João era jovem. Com a maturidade, aprendeu que uma relação pode acabar dignamente, com consideração e apreço pelo que foi vivido. Aprendeu que mesmo que as relações sejam passageiras, é importante dar um desfecho aceitável, com respeito e delicadeza. Ele compreendeu que é nobre ser gentil mesmo quando se almeja desvincular-se de alguém, e que a vida se encarregará de nos tratar da mesma forma que tratamos os outros. Que a importância de alguém muitas vezes não é sentida no momento em que nos desligamos dela, mas sim lá na frente, quando o tempo e a distância trouxerem entendimento. E, às vezes, arrependimento…

Corrija o ambiente e não a criança

Corrija o ambiente e não a criança

Texto de Gabriel Salomão, do blog Lar Montessori.

A criança tem uma relação com seu ambiente que é diferente da nossa… a criança o absorve. As coisas que ela vê não são só lembradas, elas formam parte de sua alma. Ela encarna, em si, tudo aquilo que seus olhos vêem e seus ouvidos escutam no ambiente. (Maria Montessori, Mente Absorvente)

Observo crianças e adultos há anos. Quase toda a comunicação entre adultos e crianças é baseada em ordens e negações. Falamos com as crianças mandando ou impedindo que façam alguma coisa. Montessori mostrou que existe uma forma de corrigir situações complicadas sem corrigir a criança, e de mudar comportamentos sem diminuir nossa comunicação inteira a uma constante tirania.

A criança se constrói a partir dos elementos disponíveis no seu ambiente. Por isso, modificando o ambiente, ajudamos a criança a se construir diferente e agir melhor.

O que significa, exatamente, modificar o ambiente? Quer dizer que observando a interação de nossos filhos com o ambiente, não corrigimos nossos filhos, mas o espaço onde eles estão, e a transformação ocorre por isso.

Pense, por exemplo, em uma criança que quebra copos de vidro o tempo todo. Você sabe que em Montessori sugerimos o uso do vidro com as crianças, e por isso não quer passar a usar plástico. Mas também não quer todos os seus copos quebrados. Observando o ambiente, percebe que os copos ficam numa prateleira um pouco baixa demais, e que por isso seu filho pega os copos por cima, e não pela lateral, como deveria. Então, segura os copos de forma frágil e por isso os quebra com frequência. Mudando a altura da prateleira, sem dizer nada à criança, você resolve o problema. Corrigiu o ambiente, não corrigiu a criança, e modificou a situação complicada.

O primeiro passo para corrigir o ambiente é ter um problema.

Isso parece fácil, porque achamos que temos muitos problemas. Mas nem sempre enxergamos os problemas com clareza, e isso nos impede de resolver. Se, em vez de pensar que seu filho quebra muitos copos, pensar que ele é desastrado, estará olhando para o problema errado, e aí é difícil resolver. Ele quebra copos. Isso pode ser resolvido. Encontre um problema que possa ser definido com clareza.

O segundo passo para corrigir o ambiente é saber o que há de bom na criança.

É frequente  que crianças mais velhas, de cinco ou seis anos, sigam menos rotinas rígidas – coisa que as de dois anos adoram – e prefiram criar novidades com frequência. Porque elas argumentam muito bem, é às vezes difícil direcioná-las para a rotina necessária. E é bem fácil perder a calma, e corrigir a criança. Em vez disso, nós podemos seguir um dos princípios de Montessori para o adulto, que diz:

Concentre-se em fortalecer e ajudar o desenvolvimento daquilo que é bom na criança, para que sua presença deixe cada vez menos espaço para o que é ruim.

Uma criança de cinco ou seis anos tem uma capacidade intelectual invejável. Elas gostam de pensar. Se puderem pensar e organizar seus pensamentos, tudo em sua vida fica mais fácil. Sabendo disso, você pode fazer uma tabela para a rotina do seu filho. Se ele puder participar dessa confecção, e a tabela ficar presa à parede em uma altura que ele possa enxergar, você não precisará disputar com argumentos a obediência à rotina. Bastará se referir à tabela e pedir que a criança mesma encontre o próximo passo do dia. Se nós soubermos em que a criança é boa fica muito mais fácil achar soluções sem correção.

Um passo permanente para corrigir o ambiente é observar a criança

O ambiente montessorianos nunca fica pronto. Montessori nos dizia para tomar cuidado constante e ser meticulosos com ele. O ambiente, como o adulto, segue a criança. Porque a criança é viva, e está em constante transformação, o ambiente é vivo e se transforma também. Para manter o ambiente adequado à criança, e para conseguir que, através do ambiente, os erros da criança se corrijam sozinhos, é indispensável observar a criança continuamente.

Observar a criança significa parar e olhar profundamente. Para isso, é necessário tirar um tempo exclusivo para a observação. Respirar duas, três vezes, ter um bloquinho e uma caneta, anotar o que parecer interessante. Perceber o que está dando certo e o que não parece bem. Enxergar em que nossas crianças têm sucesso e quais desafios ainda é necessário superar. A partir da observação, que deve acontecer com a maior frequência possível, é possível entender a criança, e da compreensão vem a transformação.

Erro, grande amigo

Nós partimos sempre do princípio de que o erro é ruim, e porque é ruim deve ser eliminado. Não é verdade. O erro é um companheiro de jornada, e deve ser superado porque nos tornamos mais perfeitos. Não é um inimigo, mas um inseparável colega daquele que busca melhorar a cada dia. A correção da criança transforma o erro em uma ameaça e uma humilhação. A correção do ambiente transforma o erro em uma etapa do aprendizado e do desenvolvimento. Sem o medo do erro, o aprendizado fica muito mais próximo, e pelo reconhecimento do erro como companheiro de jornada, caminhamos em paz.

Foto de Alexander Dummer em Unsplash

Não se demore nas tristezas. A vida pede mais que isso!

Não se demore nas tristezas. A vida pede mais que isso!

Perca pouco de seu tempo parado na tristeza. Fique somente o tempo necessário para que cicatrizar e poder avançar. Espere somente o tempo para assimilá-la. Mais nada. Assim, você poderá sair dela com amadurecimento e armadura bem-feita. Se ficar tempo demais, suas energias são consumidas. A tristeza deixa de te ensinar e  te faz refém. Ela te sequestrará se você não for capaz de largá-la no tempo certo.

Também não replique notícias tristes como quem perde um coração a cada uma delas. Isso não é prova de sensibilidade. Ao contrário, é uma demonstração de fraqueza, e isso não é bom. Sofra só o que for necessário. Nem mais nem menos. Dedique-se o suficiente para que você tenha forças para erguer uma prece. Ou para que sua mente seja capaz de canalizar esperança e seguir em frente.

A tristeza só te ensina se você tiver disponibilidade para aprender. Nem todos sabem sofrer. Noites em claro e jejum forçado são péssimas companhias. E o desespero não tem capacidade para apontar caminho algum. É de calma e mansidão que se precisa. Pra recobrar o ânimo e colar os cacos. O autocontrole precisa estar presente.

Tristeza não deve ser bagagem constante para essa longa viagem que é a vida. Deve ser, no máximo, uma companheira de viagem que encontramos pelo caminho mas que não fica conosco por todo o tempo. É esperado que ela desça no próximo ponto, quando o ânimo embarcar. Aceite esta separação e faça questão de que ela aconteça. Não se apegue. Aprenda as lições que o sofrimento veio ensinar e despeça-se! A vida segue seu curso, e na próxima curva, se descerrarão novidades capazes de te fazer recomeçar. Se não for impossível apagar as memórias dolorosas, crie um espaço e deixe-as ali, guardadas. Mas não precisa ficar revolvendo de tempos em tempos. O que aconteceu foi inevitável, mas precisa ser superado.

Levantar e sacudir a poeira deve ser um lema de vida. O que lhe causou sofrimento esteve em seu passado, mas não há necessidade alguma de arrastá-lo para o futuro. Para o amanhã, coisas boas devem surgir e elas servirão de esteio para o ânimo. A força para se levantar da queda está dentro de cada um. Mantenha a fé e a serenidade e transmita essa mensagem por onde passar. Não se deve deixar que a claridade do olhar seja substituída pela nebulosidade que a tristeza pode causar.

Coragem! É o incontestável segredo da superação. Confiar de novo, sorrir e recomeçar. Falar dos problemas apenas com quem se confia. Colocar sonhos em pauta, escrever novas linhas na página fantástica e imprevisível que é a vida. Ninguém vai sofrer eternamente. Nenhuma vida é feita só de coisas ruins. Nuvens escuras não duram para sempre.

E a vida é formada por gotas fecundas de alegrias, que renovam nosso chão. Não deixe que os infortúnios ressequem o solo do seu coração. Seja forte e acredite. Dias melhores virão!

Foto por Casper Nichols em Unsplash

Humilhar os outros não te faz forte, te “mostra” infeliz

Humilhar os outros não te faz forte, te “mostra” infeliz

Título original: Humilhar os outros não te faz forte, te faz infeliz

Como é de esperar, na vida nos deparamos com tudo, vivenciamos de tudo e aprendemos constantemente, isso é viver. Nas nossas relações durante a vida, nós iremos interagir com pessoas amáveis, generosas, que nos farão evoluir como seres humanos, mas, em contrapartida, nos depararemos também com pessoas amargas que, por se sentirem inseguras, ferem os outros.

Geralmente essas pessoas têm um complexo de inferioridade, consciente ou inconsciente, e por isso abusam de alguma posição entendida como privilegiada para descontar sua frustração em cima das outras, principalmente quando a vítima está em posição vulnerável.

Quando uma pessoa tenta humilhar outra de propósito, significa que:

1 – Ela tem um complexo de inferioridade em relação a quem ela tenta humilhar.

2 – Ela mesma é totalmente insegura sobre si mesma e em relação as realizações de quem ela tenta humilhar. Constranger e humilhar a outra pessoa é uma forma dela satisfazer seu complexo, criando uma falsa sensação de que seja superior.

3 – Sente-se ameaçada perante o potencial da suposta vítima e agir assim é uma forma de “botar o outro no seu devido lugar”.

Submeter outra pessoa a uma situação de humilhação não é um indicador de superioridade, mas o contrário é válido. A imagem que você vai conseguir passar de si mesmo é apenas a de uma pessoa fraca, frustrada e talvez com muito medo da outra pessoa a qual você esteja destratando.

Avalie-se e veja se o desdém, o descaso e o nojo que você coloca no seu tratamento em relação a uma pessoa de posição hierarquica inferior, não é apenas um modo de “marcar território”, um modo de mostrar quem manda, quando na verdade só está incoscientemente procurando se auto-afirmar perante si mesmo.

Humilhar outra pessoa não vai te blindar, não vai criar uma armadura impenetrável onde você possa se proteger de seus próprios demônios. Fazendo isso você apenas estará escancarando sua personalidade frágil, mostrando aos outros o quanto é infeliz e que precisa pisar em alguém para se sentir um pouco melhor.

O certo é que você jamais terá o respeito daqueles a quem você constrange; talvez, no máximo, consiga despertar medo e, com certeza, muito ódio e desprezo daqueles a quem você humilha. Mas, se causar esse tipo de sentimento dos outros em relação a você é o que te apraz, deve ser porque, com certeza, você é uma pessoa com sérios problemas e deveria procurar ajuda.

Quem já esteve em situação de ser humilhado sabe que a “vítima” nunca enxerga aquele a quem lhe humilha como superior, portanto, tentar se impor por essas vias com o propósito de se afirmar sobre a outra, é apenas uma forma de mostrar sua fraqueza diante dela, que não reage por outros motivos que implicam em perdas e prejuízos a si ou a outrem a quem queira preservar e proteger, jamais pelo respeito que, evidentemente, não tem mesmo pelo humilhador.

Fonte indicada: Pensar Contemporâneo.

Arte de capa: kellyvivanco

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