“As consequências da avalanche” – por Martha Medeiros

“As consequências da avalanche” – por Martha Medeiros

Trazido do jornal O Globo

É um premiado filme sueco de 2015, chama-se “Força Maior”. Uma família (pai, mãe e um casal de crianças) tira seis dias de férias para esquiar nos Alpes. Na manhã do segundo dia, estão almoçando ao ar livre, no deck do hotel, cercados por outros hóspedes, quando, nas montanhas ao fundo, um filete de neve começa a escorrer. Não parece perigoso. Minutos depois, aquele deslizamento sem importância cresce em dimensão. Avalanches controladas são comuns, mas aquela demonstra estar ligeiramente descontrolada. Até que, de forma súbita, a neve fica prestes a invadir o deck. Pânico. Algumas pessoas gritam e muitas correm, incluindo o pai da família, que dispara sozinho a fim de se abrigar, deixando para trás a mulher e os dois filhos.

Poderia ter sido um acidente com mortos e feridos, mas não: apenas uma névoa seca cobriu o ambiente e, assim que se dissipou, os que correram retornaram aos seus lugares, inclusive o pai. A família prossegue com o lanche, mas dali em diante nada mais será igual. Descobriu-se que aquele homem, ao se desesperar, segue impulsos egoístas e se desgoverna.

Neste domingo se encerra uma avalanche. Nas últimas semanas, fomos soterrados por textos, vídeos, áudios, fotos, fake news, ofensas e postagens absurdas que invadiram as redes. Desejo, depois da esquizofrenia toda, que o que parece uma tragédia demonstre ser apenas uma névoa seca que não deixe mortos e feridos pelo caminho. Se o presidente eleito tiver um mínimo de responsabilidade, será diplomático a fim de reunir todos no mesmo deck de novo, e a vida seguirá com suas avalanches controladas, e não fatais.

Mas será que nossas relações pessoais sobreviverão sem sequelas? No filme, a atitude inesperada e covarde do pai transfigura os laços e, dali por diante, inaugura um distanciamento difícil de transpor. Será que nós, que passamos os últimos dias trocando farpas com amigos e familiares por causa de nossos antagonismos, conseguiremos restituir 100% o afeto que havia antes?

Neste domingo se encerra uma avalanche. Nas últimas semanas, fomos soterrados por textos, vídeos, áudios, fotos, fake news, ofensas e postagens absurdas que invadiram as redes. Desejo, depois da esquizofrenia toda, que o que parece uma tragédia demonstre ser apenas uma névoa seca que não deixe mortos e feridos pelo caminho. Se o presidente eleito tiver um mínimo de responsabilidade, será diplomático a fim de reunir todos no mesmo deck de novo, e a vida seguirá com suas avalanches controladas, e não fatais.

Mas será que nossas relações pessoais sobreviverão sem sequelas? No filme, a atitude inesperada e covarde do pai transfigura os laços e, dali por diante, inaugura um distanciamento difícil de transpor. Será que nós, que passamos os últimos dias trocando farpas com amigos e familiares por causa de nossos antagonismos, conseguiremos restituir 100% o afeto que havia antes?

A amizade dobra as alegrias e divide a angústia ao meio

A amizade dobra as alegrias e divide a angústia ao meio

A amizade é um elemento protetor da nossa saúde psicológica e física. Evidencia-se que o isolamento tem uma grande incidência na mortalidade; De fato, há estudos que afirmam que a falta de apoio psicológico pode equiparar seus efeitos nocivos à nossa saúde ao tabagismo, hipertensão arterial, níveis elevados de colesterol, obesidade ou falta de exercício físico.

Nesse sentido, podemos afirmar que os laços estreitos que criamos com os outros duplicam nosso bem-estar e dividem a angústia ao meio. Porque criar relações emocionais estreitas nos fortalece, disso não há dúvida.

É verdade que não é fácil conseguir uma proximidade psicológica satisfatória com as pessoas à nossa volta, porque as decepções muitas vezes nos fazem preferir a solidão. No entanto, enquanto essa solidão não se tornar um isolamento, nossa saúde não precisa ser prejudicada.

Amizade, a formação de laços afetivos

Estar rodeado de pessoas que nos amam nos torna psicologicamente fortes e evita dificuldades emocionais derivadas de diversos assuntos, como um divórcio, um obstáculo econômico ou uma doença.

Ou seja, ter amigos nos ajuda a dividir o estresse . É maravilhoso ter um confidente, uma pessoa que possa oferecer ajuda, conselhos ou um ombro para chorar. A mera presença de pessoas amadas em nossas vidas diminui o impacto dos contratempos vitais com os quais temos de lidar.

Assim, a qualidade e a frequência de nossos relacionamentos amigáveis ​​parecem ser fundamentais para reduzir o desconforto e a angústia que às vezes nos incomodam. Nas palavras de Robin em “The Intrepid Adventures of Robin Hoad” :

“Fale livremente e revele suas preocupações. O fluxo de palavras pacifica o coração daquele que sofre; é como abrir as comportas quando o reservatório ameaça transbordar “.

O psicólogo e pesquisador James Pennebaker demonstrou experimentalmente que falar sobre os problemas que mais nos preocupam tem um efeito benéfico para nós, física e psicologicamente. Então, conversar com nossos amigos é benéfico para a nossa saúde.

Fortalecendo nossas habilidades emocionais

Quando falamos de habilidades emocionais, nos referimos à nossa capacidade de reconhecimento, canalização e dominação de nossos próprios sentimentos, empatia e sentimentos que aparecem nas relações sociais.

Portanto, não é de admirar que, quando temos bons amigos por perto, possamos fortalecer nossas habilidades emocionais. Isso, por sua vez, nos permite ter uma melhor disposição para os outros se aproximarem de nós (e vice-versa), então teremos mais opções para criar relacionamentos significativos.

Essa sensação maravilhosa de ter um cordão de segurança emocional que nos protege não pode ser comparada com nada. Sentir que nos querem bem não é apenas encorajador, mas reforçador e revitalizante.

Estar ciente de que querem te ver, falar com você e se interessar em como você está, nos dá um status emocional que nos resgata do abismo em inúmeras ocasiões. É por isso que podemos ter certeza de que as pessoas que amamos são uma parte importante da nossa vida.

Neste sentido, é bom captar aqui uma passagem do romance “O Palácio da Lua”, de Paul Auster, que reflete magnificamente o que temos discutido aqui.

“Naquela época eu não sabia, claro, mas sabendo o que sei agora, não posso ignorar esses dias sem sentir uma onda de nostalgia por meus amigos. Em certo sentido, isso altera a realidade do que experimentei.

Eu tinha saltado da beira do penhasco e quando eu estava prestes a chegar ao fundo, um evento extraordinário ocorreu: eu aprendi que havia pessoas que me amavam. Um querer desses muda tudo.

Isso não diminui o terror da queda, mas dá uma nova perspectiva sobre o significado desse terror. Eu pulei da borda e, no último momento, algo me pegou no ar. Esse algo é o que eu defino como amor.

É a única coisa que pode impedir a queda de um homem, a única coisa poderosa para invalidar as leis da gravidade “.

Raquel Aldana – do site La Mente es Maravillosa, via Pensar Contemporâneo

Os dispostos combinam mais do que os opostos

Os dispostos combinam mais do que os opostos

Os opostos se atraem, mas não duram. Não duram porque é jogar com o acaso que duas pessoas completamente diferentes consigam ter a mesma sintonia para resolverem os próprios sentimentos e ainda assim permanecerem juntas. É querer demais do amor que ele dê certo com tantos pontos distintos. Por que não estar ao lado de alguém que se pareça com você?

Infelizmente, e de uns tempos pra cá, o amor tem sido banalizado. Achamos em certa medida que é impraticável ou é sem graça se o amor for cultivado por inteiros que tenham afinidades – o que é completamente estranho de se pensar, pois o amor tem a tendência para crescer mais quando ele é somado por pessoas que, além de gostos parecidos, tenham também visões semelhantes sobre o mundo.

Existe esse falso de julgamento de que o amor precisa daquela chama da diferença, que ele necessita do conflito entre as partes para ter um sabor especial. Mas até o diferente no coração deve contar com um equilíbrio. É óbvio que ninguém, por mais parecido que seja, pensa exatamente o mesmo do que o outro. E não é sobre completar frases da outra parte ou sobre saber quais manias boas e ruins a incomodam. Ainda assim, pense bem: o amor não flui melhor se a disposição e o conteúdo forem mais casados?

O amor dá liga quando ele só compete contra a vida. No que diz respeito ao relacionamento a dois, o amor é mais leve quando tem disponibilidade e interesse dos dois lados. Não é só curtir a mesma banda, a mesma viagem, o mesmo filme ou mesma comida. O amor que combina é aquele proporcionado por sentimentos que visam consequências de delicadeza no mundo particular que está sendo lapidado: é ter a mesma clareza sobre família, o mesmo sentido sobre o futuro, o mesmo respeito sobre qualquer assunto levantado.

Os opostos se atraem mas, eventualmente, eles desistem, eles se desligam. Já os dispostos, os entregues nos mesmos sorrisos, eles resistem. Eles vão até o amor secar em comum acordo, ou até que ele, o mútuo amor, transborde indefinidamente.

“Até que eu encontre o caminho certo, meu nome será recomeço.”

“Até que eu encontre o caminho certo, meu nome será recomeço.”

Raul Seixas não foi o único a preferir ser uma metamorfose ambulante. O fato é que essa tal metamorfose faz parte do comportamento humano, embora muitas pessoas abram mão do direito e até da necessidade desse processo de transformação e do recomeço que ele encerra em si, por temerem as durezas e as consequências que essa mudança pode gerar.

Considerando-se que essas metamorfoses podem acontecer sem quantidades definidas, os recomeços não precisam ser limitados. Mas não se deve fazer de qualquer jeito, apenas por impulso, pois isso seria energia gasta em vão.

Recomeço é propriedade particular e cabe apenas a quem decidir executá-lo, saber de suas motivações. É preciso ter uma coragem absurda pra encarar as mudanças assim, bem de frente e sem querer voltar ao que se era antes, porque toda mudança de rumo tem um preço e ele pode ser bem alto em alguns (ou mesmo na maioria) dos casos.

É interessante notar que, por vezes, nem se chega a saber quando a vontade de mudar começou. Os fatos que desencadearam essa necessidade nem foram percebidos como tais. E embora, em muitos casos, os motivos possam ter ficado claros, quando se toma consciência, a fase inicial da mudança já está instalada, como uma semente prestes a germinar. A partir daí pode não haver mais volta.

Chico Xavier escreveu: “novas folhas, novas flores, na infinita benção do recomeço.”

E o recomeço é mesmo uma benção que recai sobre nós quando a vida parece estagnada. Pode até parecer que não, ou não querermos assumir, mas é comum chegarmos a um ponto que parece ser o final. É como se a vida não soubesse mais para onde ir, um fim de linha prematuro bem no meio dos nossos planos.

Justamente nesse ponto é exigido que se tenha sabedoria. Sabedoria e a famosa coragem, claro. Para dar um basta na mesmice ou na falta de perspectivas, pra abandonar o que ou a quem tenha nos tirado o viço, pra voltar a sentir a vida ativa, pulsando nas veias.

Recomeço é isso: é seguir em frente, mas em um caminho novo, diferente do anterior, onde o caminhar pode até ser incerto, mas o prazer de ter feito essa escolha é garantido. Aqui, abandonar o que fez a vida parar torna-se essencial. Trata-se de aceitar bem o que já passou, perdoar-se pelos erros e retirar o máximo de aprendizado das escolhas feitas no decorrer do caminho anterior.

É fundamental ter em mente que a vida não nos oferece, nem nunca oferecerá, nenhuma garantia de ter tudo conforme o planejado. E por isso mesmo ela nos oferece a oportunidade de recomeçar. Há de se entender também que essa transformação não é para que tenhamos uma vida melhor em si, mas para que sejamos melhores enquanto pessoas e a partir daí passar a ver a vida com olhos novos, mais otimistas e satisfeitos.

Recomeçar requer mudança de atitude, de estado de espírito, de ponto de vista; exige força de vontade e determinação. É ainda ser a mesma pessoa, mas com interesses diferentes e energia renovada. Os obstáculos não podem parar a semente da mudança quando ela se dispõe a germinar.

Nenhuma vida pode ficar parada enquanto houver caminho a ser percorrido. Recomeçar é essencial. E embora todo recomeço seja um tanto complexo, é em atitudes do cotidiano que ele se revela. Para quem ainda busca descobrir os segredos, Cora Carolina deixou uma dica preciosa:

“Recomece sua vida, sempre, sempre. Remova pedras, plante flores, faça doces. Recomece.”

Por um mundo com mais gente “doida” e menos gente maldosa

Por um mundo com mais gente “doida” e menos gente maldosa

Por Priscila Mattos

Gente “doida” é gente feliz, alegre, que tem sempre uma palavra de otimismo e uma boa gargalhada a oferecer, mesmo em situações que geram preocupação e pessimismo.

São pessoas espontâneas e autênticas, que não têm medo de expor o que sentem, nem expor limites e pontos de vista. São pessoas que não estão preocupadas em tentar agradar a todos, embora exalem carisma e gentileza.

Gente “doida” é gente divertida, que está sempre de bem com a vida. Mesmo nos momentos de tristeza, elas se agarram ao otimismo dentro de si, pois sabem que tudo passa.

Gente “doida” é gente que vive, que não espera uma data específica para beber um bom vinho ou usar a roupa mais bonita do guarda-roupa. Elas não esperam as ocasiões especiais, elas fazem de todas as ocasiões especiais.

Gente “doida” é gente que saboreia a comida, mesmo em um almoço de 15 minutos, e que consegue parar para sentir o aroma do café ao invés de apenas ingerir cafeína para manter-se de pé.

Gente “doida” conversa sozinha, em silêncio ou em voz alta e está sempre rindo de si mesma. É gente que não se importa com defeitos nem com decepções, apenas com os aprendizados retirados de todas as experiências. Pois troca a reclamação pela gratidão por tudo o que há na vida.

Gente “doida” é gente sincera, em quem podemos confiar e confidenciar o que há de mais íntimo, pois temos certeza que elas não farão a “doideira” de espalhar por aí.

Gente “doida” não é perversa, como muitos costumam confundir. Gente perversa é gente maldosa, incapaz de sentir empatia, e que se faz de doida para, na verdade, causar transtornos psicológicos aos que estão ao seu redor.

Gente “doida” é gente do bem, mesmo quando a doideira se trata de alguma patologia. Mas se for uma doideira saudável, de pessoas que apenas fogem de uma sociedade doente de pessoas “normais” e egocêntricas, nada melhor do que sermos os estranhos que conseguem pensar e agir “fora da caixa”.

Gente “doida” é gente leve. Sou eu e é você que me lê, quando conseguimos relaxar e viver o momento, principalmente com aqueles que nos amam e a quem amamos, sem nos preocupar com o que não podemos controlar.

Por um mundo com mais gente “doida” e menos gente maldosa!

***

Gostou desse texto? Acompanhe a autora em seu blog oficial!

 

Tão juntos e tão sozinhos. Que tipo de solidão é essa?

Tão juntos e tão sozinhos. Que tipo de solidão é essa?

O futuro chegou de repente, e temos vivido tempos de solidão compartilhada. Tempos em que não toleramos apenas nossa própria companhia, e nos sentimos ansiosos com a falta de respostas, já que o tempo das esperas se transformou no tempo das urgências; e se não corremos nessa velocidade, temos a sensação permanente de insatisfação.

Esses dias assisti a um documentário brasileiro interessantíssimo no Netflix, chamado “Quanto tempo o tempo tem”, de Adriana L. Dutra e Walter Carvalho, repleto de convidados especiais, como o físico Marcelo Gleiser e a monja Coen. O documentário nos leva a refletir sobre a vida que levamos, sobre o uso das redes sociais e o aproveitamento do nosso tempo. E não pude deixar de me aprofundar no raciocínio de que não estamos sabendo lidar com as ausências. Não suportamos a ideia de que nosso tempo seja preenchido com o “nada”. Não toleramos as pausas, e o tão precioso “ócio criativo” está deixando de existir. Padecemos com a falta de conexão, com a falta de wifi, com o silêncio, com a ausência de sinais. Estamos desaprendendo a ser só. Estamos desaprendendo a suportar nossa própria companhia, nossa solitude.

A solidão compartilhada afasta quem está perto e aproxima quem está longe, dando a falsa impressão de que estamos vivendo uma interação saudável, quando na realidade estamos nos desligando das verdadeiras conexões para assumir vínculos baseados na urgência, na aceleração do pensamento, na ansiedade. Numa mesma casa, cada um em seu quarto, teclando sem parar, tornamo-nos seres solitários cercados de telas.

Se não curtimos 120 fotos e respondemos a 150 mensagens por dia, somos classificados como mal-educados. E nessa ansiedade de dar conta de tudo, acabamos não dando conta do essencial: usufruir nosso tempo ao lado daqueles que amamos.

E me lembrei do filme “Her”, ganhador do Oscar de melhor roteiro original em 2014, que retrata de forma brilhante a solidão na era da hiperconectividade. No filme, nos deparamos com o grande paradoxo de nosso tempo: imaginamos que estamos incluídos, hiperconectados, que todas as nossas relações cabem na tela do nosso celular, como uma extensão de nossos braços, e ao mesmo tempo nos sentimos cada vez mais infelizes e sozinhos. Isso acontece porque esse tipo de conexão tecnológica não é real.

No entanto, o individualismo retratado no filme é cada vez mais presente na nossa sociedade contemporânea. E esse individualismo, aliado à tecnologia, leva ao isolamento. As pessoas imaginam que se bastam, e acabam perdendo a capacidade de formar vínculos reais, humanos.

A solidão, quando bem aproveitada, é muito benéfica. Viver com intensidade, apreciando a vida, é algo muito precioso e cada vez mais raro. É preciso um grande esforço para que possamos apreciar a vida no tempo da contemplação, e não no tempo da conectividade. É preciso empenho para absorver a eternidade do momento presente, mesmo que o mundo continue acelerado.

“Não desligar nunca” não nos torna mais completos ou felizes. Ao contrário, subtrai de nós a capacidade de nos conectarmos verdadeiramente com nossa alma, de escuta-la, de reconhecer seus desejos e intenções. Somente quando nos desconectamos do mundo externo – meditando, orando, tomando um banho quente, ouvindo uma música tranquila- entramos em contato com nossa essência, com nossa sabedoria interior, com nossa verdade. E descobrimos enfim que “estar junto” não nos livra da solidão, e “estar sozinho” não nos condena a uma vida infeliz.

* Compre meu livro “Felicidade Distraída” aqui: https://amzn.to/2CC5Mmx

* Assista ao primeiro vídeo do meu canal e se inscreva!

Entenda a Psicologia das Massas

Entenda a Psicologia das Massas

Sigmund Freud tem uma obra especial datada de 1921 chamada “Psicologia das massas e análise do eu”. Nela ele explica como se dá o poder que provem das grandes massas na sociedade.

Destaquei um trecho bastante elucidativo que me inspirou a escrever esse texto. Leia com bastante atenção!

*******

“A massa é extraordinariamente influenciável e crédula, é acrítica, o improvável não existe para ela. Pensa em imagens que evocam umas às outras associativamente, como no indivíduo em estado de livre devaneio, e que não têm sua coincidência com a realidade medida por uma instância razoável. Os sentimentos da massa são sempre muito simples e muito exaltados. Ela não conhece dúvida nem incerteza. Ela vai prontamente a extremos; a suspeita exteriorizada se transforma de imediato em certeza indiscutível, um germe de antipatia se torna um ódio selvagem. Quem quiser influir sobre ela, não necessita medir logicamente os argumentos; deve pintar com imagens mais fortes, exagerar e sempre repetir a mesma fala.

Como a massa não tem dúvidas quanto ao que é verdadeiro ou falso, e tem consciência da sua enorme força, ela é, ao mesmo tempo, intolerante e crente na autoridade. Ela respeita a força, e deixa-se influenciar apenas moderadamente pela bondade, que para ela é uma espécie de fraqueza. O que exige de seus heróis é fortaleza, até mesmo violência. Quer ser dominada e oprimida, quer temer os seus senhores. No fundo, inteiramente conservadora, tem profunda aversão a todos os progressos e inovações, e ilimitada reverência pela tradição.”

Sigmund Freud

*********

Achei perfeita sua colocação. Inclusive quase 100 anos atrás ele já anteviu as famosas fake news. As massas pensam em imagens e de forma muito simplória, sem averiguar as informações, sem consultar as fontes mais confiáveis etc.

Tenho a impressão de que as pessoas especializadas em fake news estudaram a mente humana profundamente, porque elas fazem com que as massas fiquem ensandecidas com suas informações falaciosas.

Infelizmente, foi isso o que vimos por todos os lados durante a campanha política de 2018. Quero deixar claro que esse texto é mais psicológico, não vou me focar na questão política até porque sei que pela data na qual o estou publicando, todos já sabem muito bem em quem vão votar (26/10/18), afinal, as eleições são no dia 28/10/18.

Meu objetivo é ensinar um pouco como funciona a Psicologia das Massas, assunto que considero interessantíssimo.

Freud destaca diversos pontos, como a INTOLERÂNCIA. As massas vão sempre para os EXTREMOS, ou é uma coisa ou é outra, nunca existe o caminho do meio. Só isso já explica boa parte do nosso sofrimento, porque Buda já falou há 2600 que o caminho da cessação do sofrimento se dá pelo famoso caminho óctuplo, que em resumo é O CAMINHO DO MEIO.

Nossa sociedade está sofrendo, está adoecida porque insiste em continuar indo para os extremos. Deixo clara a minha posição inspirada nesse grande mestre, o Buda Gautama. Um dia chegaremos a esse caminho do meio, vai demorar muito, mas tenho fé de que chegaremos lá…

Outro ponto interessante é o final da citação, na qual ele diz que a massa precisa de um líder autoritário. Não canso de repetir nos meus textos que autoridade é absolutamente diferente de autoritarismo. A palavra autoridade pela etimologia é muito linda, ela quer dizer “tornar-se autor da própria jornada”. Quem verdadeiramente tem autoridade ajuda o outro a si tornar autor da sua própria vida, sem precisar se escorar em ninguém, sem precisar ser dependente de ninguém! Já o autoritarismo é ditar regras que ou são obedecidas ou se não forem, os que desobedecerem serão punidos de alguma forma.

A sociedade brasileira parece que tem um fascínio pelo autoritarismo. Já ouvi diversas vezes nos mais diversos lugares a seguinte frase: “Alguém precisa botar ordem na casa…”.Confesso que tenho dificuldade de entender o que realmente quer dizer isso.

Em minha opinião, “colocar ordem na casa” é pensar em todos, é diminuir as imensas desigualdades sociais que se evidenciam cada vez mais.

Perceba como isso é interessante! Uma estante organizada ou uma sala organizada é aquela que possui de forma mais ou menos uniforme a divisão dos livros ou dos objetos. Uniformidade implica igualdade, e implica que não pode haver mais de um lado e menos do outro. Agora leve isso para o campo social! É a mesma coisa.

Na nossa bandeira está escrito “Ordem e Progresso”. Estamos exatamente seguindo o caminho oposto, “Desordem e Retrocesso”.

Ordem e progresso se dão nos países onde as desigualdades sociais são minimizadas, os países de 1º mundo. Desordem e retrocesso se dão nos países onde reina as desigualdades, que são os de 3º mundo.

Você sabe bem que o Brasil está mergulhado há anos numa crise, e o poder de compra do nosso povo caiu absurdamente. Os índices de pobreza são assustadores e de desemprego mais ainda. Estávamos superando muita coisa, o Brasil já chegou a ser a 6ª economia do mundo. Hoje, porém, tenho pouca esperança de que ele volte a esse patamar.

Estávamos entre os países de 2º mundo ou emergentes, mas estamos caminhando a passos largos mais uma vez de volta ao 3º mundo.

O cantor e compositor Humberto Gessinger tem uma música lindíssima conhecida por poucas pessoas, está no primeiro LP da banda “Longe demais das capitais” de 1986, e a música tem o mesmo título.

Numa das frases ele diz: “Eu sempre quis viver no velho mundo, na velha forma de viver. O 3º sexo, a 3ª guerra e o 3º mundo. São tão difíceis de entender…”.

Esse 3º mundo está se evidenciando cada vez mais e nosso povo está de vento em popa voltando para esse velho mundo!

Gostaria que estivéssemos indo todos juntos para um novo mundo, com mais amor, menos privilégios, com mais compreensão e zero autoritarismo, mas eu não tenho poder sobre as massas. Quem sou eu para não dar o devido crédito a Freud não é mesmo? Afinal, quem nunca ouviu a frase “Freud explica”?

Freud explica muito bem a realidade brasileira! Estamos mergulhados no velho mundo…

A era da burrice

A era da burrice

Por Eduardo Szklarz e Bruno Garattoni  para Revista Superinteressante

Discussões inúteis, intermináveis, agressivas. Gente defendendo as maiores asneiras, e se orgulhando disso. Pessoas perseguindo e ameaçando as outras. Um tsunami infinito de informações falsas. Reuniões, projetos, esforços que dão em nada. Decisões erradas. Líderes políticos imbecis. De uns tempos para cá, parece que o mundo está mergulhando na burrice. Você já teve essa sensação? Talvez não seja só uma sensação. Estudos realizados com dezenas de milhares de pessoas, em vários países, revelam algo inédito e assustador: aparentemente, a inteligência humana começou a cair.

Os primeiros sinais vieram da Dinamarca. Lá, todos os homens que se alistam no serviço militar são obrigados a se submeter a um teste de inteligência: o famoso, e ao mesmo tempo misterioso, teste de QI (mais sobre ele daqui a pouco). Os dados revelaram que, depois de crescer sem parar durante todo o século 20, o quociente de inteligência dos dinamarqueses virou o fio, e em 1998 iniciou uma queda contínua: está descendo 2,7 pontos a cada década. A mesma coisa acontece na Holanda (onde tem sido observada queda de 1,35 ponto por década), na Inglaterra (2,5 a 3,4 pontos de QI a menos por década, dependendo da faixa etária analisada), e na França (3,8 pontos perdidos por década). Noruega, Suécia e Finlândia – bem como Alemanha e Portugal, onde foram realizados estudos menores – detectaram efeito similar.

“Há um declínio contínuo na pontuação de QI ao longo do tempo. E é um fenômeno real, não um simples desvio”, diz o antropólogo inglês Edward Dutton, autor de uma revisão analítica(1) das principais pesquisas já feitas a respeito. A regressão pode parecer lenta; mas, sob perspectiva histórica, definitivamente não é. No atual ritmo de queda, alguns países poderiam regredir para QI médio de 80 pontos, patamar definido como “baixa inteligência”, já na próxima geração de adultos.

Não há dados a respeito no Brasil, mas nossos indicadores são terríveis. Um estudo realizado este ano pelo Ibope Inteligência com 2 mil pessoas revelou que 29% da população adulta é analfabeta funcional, ou seja, não consegue ler sequer um cartaz ou um bilhete. E o número de analfabetos absolutos, que não conseguem ler nada, cresceu de 4% para 8% nos últimos três anos (no limite da margem de erro da pesquisa, 4%).   

Nos países desenvolvidos, o QI da população tem caído até 3,8 pontos por década.

No caso brasileiro, a piora pode ser atribuída à queda nos investimentos em educação, que já são baixos (o País gasta US$ 3.800 anuais com cada aluno do ensino básico, menos da metade da média das nações da OCDE) e têm caído nos últimos anos. Mas como explicar a aparente proliferação de burrice mesmo entre quem foi à escola? E a queda do QI nos países desenvolvidos? O primeiro passo é entender a base da questão: o que é, e como se mede, inteligência.

O primeiro teste de QI (quociente de inteligência) foi elaborado em 1905 pelos psicólogos franceses Alfred Binet e Théodore Simon, para identificar crianças com algum tipo de deficiência mental. Em 1916, o americano Lewis Terman, da Universidade Stanford, aperfeiçoou o exame, que acabou sendo adaptado e usado pelos EUA, na 1a Guerra Mundial, para avaliar os soldados.

Mas o questionário tinha vários problemas – a começar pelo fato de que ele havia sido desenvolvido para aferir deficiência mental em crianças, não medir a inteligência de adultos. Inconformado com isso, o psicólogo romeno-americano David Wechsler resolveu começar do zero. E, em 1955, publicou o WAIS: Wechsler Adult Intelligence Scale, exame que se tornou o teste de QI mais aceito entre psicólogos, psiquiatras e demais pesquisadores da cognição humana (só neste ano, foi utilizado ou citado em mais de 900 estudos sobre o tema).     

Ele leva em média 1h30, e deve ser aplicado por um psiquiatra ou psicólogo. Consiste numa bateria de perguntas e testes que avaliam 15 tipos de capacidade intelectual, divididos em quatro eixos: compreensão verbal, raciocínio, memória e velocidade de processamento. Isso inclui testes de linguagem (o psicólogo diz, por exemplo: “defina o termo abstrato”, e aí avalia a rapidez e a complexidade da sua resposta), conhecimentos gerais, aritmética, reconhecimento de padrões (você vê uma sequência de símbolos, tem de entender a relação entre eles e indicar o próximo), memorização avançada, visualização espacial – reproduzir formas 3D usando blocos de madeira – e outros exercícios.

O grau de dificuldade do exame é cuidadosamente calibrado para que a média das pessoas marque de 90 a 110 pontos. Esse é o nível que significa inteligência normal, média. Se você fizer mais de 130 pontos, é enquadrado na categoria mais alta, de inteligência “muito superior” (a pontuação máxima é 160).

Mas é preciso encarar esses números em sua devida perspectiva. O teste de QI não diz se uma pessoa vai ter sucesso na vida, nem determina seu valor como indivíduo. Não diz se você é sensato, arguto ou criativo, entre outras dezenas de habilidades intelectuais que um ser humano pode ter. O que ele faz é medir a cognição básica, ou seja, a sua capacidade de executar operações mentais elementares, que formam a base de todas as outras. É um mínimo denominador comum. E, por isso mesmo, pode ajudar a enxergar a evolução (ou involução) da inteligência.

Ao longo do século 20, o QI aumentou consistentemente no mundo todo – foram três pontos a mais por década, em média. É o chamado “efeito Flynn”, em alusão ao psicólogo americano James Flynn, que o identificou e documentou. Não é difícil entender essa evolução. Melhore a saúde, a nutrição e a educação das pessoas, e elas naturalmente se sairão melhor em qualquer teste de inteligência. O QI da população japonesa, por exemplo, chegou a crescer 7,7 pontos por década após a 2a Guerra Mundial; uma consequência direta da melhora nas condições de vida por lá. Os cientistas se referem ao efeito atual, de queda na inteligência, como “efeito Flynn reverso”. Como explicá-lo?

Involução natural 

A primeira hipótese é a mais simples, e a mais polêmica também. “A capacidade cognitiva é fortemente influenciada pela genética. E as pessoas com altos níveis dela vêm tendo menos filhos”, afirma o psicólogo Michael Woodley, da Universidade de Umeå, na Suécia. Há décadas a ciência sabe que boa parte da inteligência (a maioria dos estudos fala em 50%) é hereditária. E levantamentos realizados em mais de cem países, ao longo do século 20, constataram que há uma relação inversa entre QI e taxa de natalidade. Quanto mais inteligente uma pessoa é, menos filhos ela acaba tendo, em média.

Some uma coisa à outra e você concluirá que, com o tempo, isso tende a reduzir a proporção de pessoas altamente inteligentes na sociedade. Trata-se de uma teoria controversa, e com razão. No passado, ela levou à eugenia, uma pseudociência que buscava o aprimoramento da raça humana por meio de reprodução seletiva e esterilização de indivíduos julgados incapazes. Esses horrores ficaram para trás. Hoje ninguém proporia tentar “melhorar” a sociedade obrigando os mais inteligentes a ter mais filhos – ou impedindo as demais pessoas de ter.

Mas isso não significa que a matemática das gerações não possa estar levando a algum tipo de declínio na inteligência básica. Inclusive pela própria evolução da sociedade, que tornou a vida mais fácil. “Um caçador-coletor que não pensasse numa solução para conseguir comida e abrigo provavelmente morreria, assim como seus descendentes”, escreveu o biólogo Gerald Crabtree, da Universidade Stanford, em um artigo recente. “Já um executivo de Wall Street que cometesse um erro similar poderia até receber um bônus.”

Crabtree é um radical. Ele acha que a capacidade cognitiva pura, ou seja, o poder que temos de enfrentar um problema desconhecido e superá-lo, atingiu o ápice há milhares de anos e de lá para cá só caiu – isso teria sido mascarado pela evolução tecnológica, em que as inovações são realizadas por enormes grupos de pessoas, não gênios solitários. Outros pesquisadores, como Michael Woodley, endossam essa tese: dizem que o auge da inteligência individual ocorreu há cerca de cem anos.

Os fatos até parecem confirmar essa tese (Einstein escreveu a Relatividade sozinho; já o iPhone é projetado por milhares de pessoas, sendo 800 engenheiros trabalhando só na câmera), mas ela tem algo de falacioso. A humanidade cria e produz coisas cada vez mais complexas – e é por essa complexidade, não por uma suposta queda de inteligência individual, que as grandes invenções envolvem o trabalho de mais gente. Da mesma forma, as sociedades modernas permitem que cada pessoa abrace uma profissão e se especialize nela, deixando as demais tarefas para outros profissionais, ou a cargo de máquinas.

E não há nada de errado nisso. Mas há quem diga que o salto tecnológico dos últimos 20 anos, que transformou nosso cotidiano, possa ter começado a afetar a inteligência humana. Talvez aí esteja a explicação para o “efeito Flynn reverso” – que começou justamente nesse período, e se manifesta em países desenvolvidos onde o padrão de vida é mais igualitário e estável (sem diferenças ou oscilações que possam mascarar a redução de QI).

“Hoje, crianças de 7 ou 8 anos já crescem com o celular”, diz Mark Bauerlein, professor da Universidade Emory, nos EUA, e autor do livro The Dumbest Generation (“A Geração Mais Burra”, não lançado em português). “É nessa idade que as crianças deveriam consolidar o hábito da leitura, para adquirir vocabulário.” Pode parecer papo de ludita, mas há indícios de que o uso de smartphones e tablets na infância já esteja causando efeitos negativos. Na Inglaterra, por exemplo, 28% das crianças da pré-escola (4 e 5 anos) não sabem se comunicar utilizando frases completas, no nível que seria normal para essa idade. Segundo educadores, isso se deve ao tempo que elas ficam na frente de TVs, tablets e smartphones.

28% das crianças britânicas não sabem falar corretamente

O problema é considerado tão grave que o governo anunciou um plano para reduzir esse índice pela metade até 2028 – e o banimento de smartphones nas escolas é uma das medidas em discussão. O efeito também já é observado em adolescentes. Nos dois principais exames que os americanos fazem para entrar na faculdade, o SAT e o ACT, o desempenho médio vem caindo. Em 2016, a nota na prova de interpretação de texto do SAT foi a mais baixa em 40 anos.

As pessoas nunca leram e escreveram tanto; mas estão lendo e escrevendo coisas curtíssimas, em seus smartphones. Um levantamento feito pela Nokia constatou que os americanos checam o celular em média 150 vezes por dia. Dá uma vez a cada seis minutos, ou seja, é como se fosse um fumante emendando um cigarro no outro. E esse dado é de 2013; hoje, é provável que o uso seja ainda maior. A onda já preocupa até a Apple e o Google, que estão incluíndo medidores de uso nas novas versões do iOS e do Android – para que você possa saber quantas vezes pega o seu smartphone,
e quanto tempo gasta com ele, a cada dia.

A mera presença do celular, mesmo desligado, afeta  nossa capacidade de raciocinar. Adrian Ward, professor da Universidade do Texas, constatou isso ao avaliar o desempenho de 548 estudantes(3) em três situações: com o celular na mesa, virado para baixo; com o aparelho no bolso ou na bolsa; e com o celular em outra sala. Em todos os casos, o celular ficou desligado. Mas quanto mais perto ele estava da pessoa, pior o desempenho dela. “Você não está pensando no celular. Mas ele consome parte dos recursos cognitivos. É como um dreno cerebral”, conclui Ward.

Cada brasileiro gasta 3h39 min por dia nas redes sociais

Outra hipótese é que o uso intensivo das redes sociais, que são projetadas para consumo rápido (passamos poucos segundos lendo cada post) e consomem boa parte do tempo (cada brasileiro gasta 3h39 min por dia nelas, segundo pesquisa feita pela empresa GlobalWebIndex), esteja corroendo nossa capacidade de prestar atenção às coisas. Você já deve ter sentido isso: parece cada vez mais difícil ler um texto, ou até mesmo ver um vídeo do YouTube, até o final. E quando assistimos a algo mais longo, como um filme ou uma série do Netflix, geralmente nos esquecemos logo. São duas faces da mesma moeda. Levar no bolso a internet, com seu conteúdo infinito, baniu o tédio da vida humana. Mas, justamente por isso, também pode ter nos tornado mais impacientes, menos capazes de manter o foco.

Se prestamos menos atenção às coisas, elas obrigatoriamente têm de ser mais simples. E esse efeito se manifesta nos campos mais distintos, da música aos pronunciamentos políticos. Cientistas do Instituto de Pesquisa em Inteligência Artificial (IIIA), na Espanha, analisaram  em computador 460 mil faixas lançadas nos últimos 50 anos, e concluíram(4)  que a música está se tornando menos complexa e mais homogênea. Houve uma redução de 60% na quantidade de timbres (com menor variedade de instrumentos e técnicas de gravação), e de 50% na faixa dinâmica (variação de volume entre as partes mais baixas e mais altas de cada música). Tudo soa mais parecido – e mais simples.    

Essa simplificação também é visível no discurso político. Um estudo da Universidade Carnegie Mellon, nos EUA, constatou que os políticos americanos falam como crianças(5). A pesquisa analisou o vocabulário e a sintaxe de cinco candidatos à última eleição presidencial (Donald Trump, Hillary Clinton, Ted Cruz, Marco Rubio e Bernie Sanders), e constatou que seus pronunciamentos têm o nível verbal de uma criança de 11 a 13 anos. Os pesquisadores também analisaram os discursos de ex-presidentes americanos, e encontraram um declínio constante. Abraham Lincoln se expressava no mesmo nível de um adolescente de 16 anos. Ronald Reagan, 14. Obama e Clinton, 13. Trump, 11. (O lanterna é George W. Bush, com vocabulário de criança de 10 anos.)

Isso não significa que os músicos sejam incompetentes e os políticos sejam burros. Eles estão sendo pragmáticos, e adaptando suas mensagens ao que seu público consegue entender – e, principalmente, está disposto a ouvir. Inclusive porque esse é outro pilar da burrice moderna: viver dentro de uma bolha que confirma as próprias crenças, e nunca mudar de opinião. Trata-se de um comportamento irracional, claro. Mas, como veremos a seguir, talvez a própria razão não seja assim tão racional.

Quer ler mais matérias como essa? Assine a Revista Superinteressante.

Os limites da razão

Você certamente já discutiu com uma pessoa irracional, que manteve a própria opinião mesmo diante dos argumentos mais irrefutáveis. É um fenômeno normal, que os psicólogos chamam de “viés de confirmação”: a tendência que a mente humana tem de abraçar informações que apoiam suas crenças, e rejeitar dados que as contradizem.

Isso ficou claro num estudo famoso, e meio macabro, realizado em 1975 na Universidade Stanford. Cada participante recebeu 25 bilhetes suicidas (que as pessoas deixam antes de se matar), e tinha que descobrir quais deles eram verdadeiros e quais eram falsos. Alguns voluntários logo identificavam os bilhetes de mentirinha, forjados pelos cientistas. Outros quase sempre se deixavam enganar. Então os pesquisadores dividiram os participantes em dois grupos: um só com as pessoas que haviam acertado muito, e outro só com os que tinham acertado pouco.

Só que era tudo uma pegadinha. Os cientistas haviam mentido sobre a pontuação de cada pessoa. Eles abriram o jogo sobre isso, e então pediram que cada voluntário avaliasse o próprio desempenho. Aí aconteceu o seguinte. Quem havia sido colocado no “grupo dos bons” continuou achando que tinha ido bem (mesmo nos casos em que, na verdade, havia ido mal); já os do outro grupo se deram notas baixas, fosse qual fosse sua nota real. Conclusão: a primeira opinião que formamos sobre uma coisa é muito difícil de derrubar – mesmo com dados concretos.

Esse instinto de “mula empacada” afeta até os cientistas, como observou o psicólogo Kevin Dunbar, também de Stanford. Ao acompanhar a rotina de um laboratório de microbiologia durante um ano, ele viu que os cientistas iniciam suas pesquisas com uma tese e depois fazem testes para comprová-la, desconsiderando outras hipóteses. “Pelo menos 50% dos dados encontrados em pesquisas são inconsistentes com a tese inicial. Quando isso acontece, os cientistas refazem o experimento mudando detalhes, como a temperatura, esperando que o dado estranho desapareça”, diz Dunbar. Só uma minoria investiga resultados inesperados (justamente o caminho que muitas vezes leva a grandes descobertas).

O cérebro luta para manter nossas opiniões – mesmo que isso signifique ignorar os fatos.

Quanto mais comprometido você está com uma teoria, mais tende a ignorar evidências contrárias. “Há informações demais à nossa volta, e os neurônios precisam filtrá-las”, afirma Dunbar. Há até uma região cerebral, o córtex pré-frontal dorsolateral, cuja função é suprimir informações que a mente considere “indesejadas”. Tem mais: nosso cérebro libera uma descarga de dopamina, neurotransmissor ligado à sensação de prazer, quando recebemos informações que confirmam nossas crenças. Somos programados para não mudar de opinião. Mesmo que isso signifique acreditar em coisas que não são verdade.

Nosso cérebro é tão propenso à irracionalidade que há quem acredite que a própria razão como a conhecemos (o ato de pensar fria e objetivamente, para encontrar a verdade e resolver problemas) simplesmente não exista.  “A razão tem duas funções: produzir motivos para justificar a si mesmo e gerar argumentos para convencer os demais”, dizem os cientistas cognitivos Hugo Mercier e Dan Sperber, da Universidade Harvard, no livro The Enigma of Reason (“O Enigma da Razão”, não lançado em português). Eles dizem que a razão é relativa, altera-se conforme o contexto, e sua grande utilidade é construir acordos sociais – custe o que custar.

Na pré-história, isso fazia todo o sentido. Nossos ancestrais tinham de criar soluções para problemas básicos de sobrevivência, como predadores e falta de alimento, mas também precisavam lidar com os conflitos inerentes à vida em bando (se eles não se mantivessem juntos, seria difícil sobreviver). Só que o mundo de hoje, em que as pessoas opinam sobre todos os assuntos nas redes sociais, deu um nó nesse instrumento. “Os ambientes modernos distorcem a nossa habilidade de prever desacordos entre indivíduos. É um dos muitos casos em que o ambiente mudou rápido demais para que a seleção natural pudesse acompanhar”, dizem Mercier e Sperber.

Para piorar, a evolução nos pregou outra peça, ainda mais traiçoeira: quase toda pessoa se acha mais inteligente que as outras. Acha que toma as melhores decisões e sabe mais sobre rigorosamente todos os assuntos, de política a nutrição. É o chamado efeito Dunning-Kruger, em alusão aos psicólogos americanos David Dunning e Justin Kruger, autores dos estudos que o comprovaram. Num deles, 88% dos entrevistados disseram dirigir melhor que a média. Em outro, 32% dos engenheiros de uma empresa afirmaram estar no grupo dos 5% mais competentes.

Pesquisas posteriores revelaram que, quanto mais ignorante você é sobre um tema, mais tende a acreditar que o domina. No tempo das savanas, isso podia até ser bom. “A curto prazo, dá mais autoconfiança”, afirma Dunning. Agora aplique essa lógica ao mundo de hoje, e o resultado será o mar de conflitos que tomou conta do dia a dia. A era da cizânia – e da burrice.

Ela pode ser desesperadora. Mas nada indica que seja um caminho sem volta. Nos 300 mil anos da história do Homo sapiens, estamos apenas no mais recente – e brevíssimo – capítulo. Tudo pode mudar; e, como a história ensina, muda. Inclusive porque a inteligência humana ainda não desapareceu.
Ela continua viva e pronta, exatamente no mesmo lugar: dentro das nossas cabeças.

 

Fontes:

(1) The negative Flynn Effect: A systematic literature review. Edward Dutton e outros, Ulster Institute for Social Research, 2016.

(2) IQ and fertility: A cross-national study. Steven M. Shatz, Hofstra University, 2007.

(3) Brain Drain: The Mere Presence of One’s Own Smartphone Reduces Available Cognitive Capacity. Adrian F. Ward e outros, Universidade do Texas, 2017

(4) Measuring the Evolution of Contemporary Western Popular Music. Joan Serrà e outros, Spanish National Research Council, 2012

(5) A Readability Analysis of Campaign Speeches from the 2016 US Presidential Campaign. Elliot Schumacher e Maxine Eskenazi, Carnegie Mellon University, 2016.

***

Quer ler mais matérias como essa? Assine a Revista Superinteressante.

Diversão na Internet: dicas de jogos on-line de navegador

Diversão na Internet: dicas de jogos on-line de navegador

Em alguns momentos, precisamos usar o universo enorme da Internet simplesmente para nos divertir e relaxar, não é verdade? E nem sempre conseguimos fazer isso nas redes sociais, que muitas vezes acabam nos deixando ansiosos e afetando negativamente a nossa auto-estima.

Porém, a web felizmente é um local com muitas opções de entretenimento e pode ser que alguma delas seja exatamente o que você está buscando. Veja a seleção que fizemos de jogos online que podem ser jogados diretamente no navegador, ou seja, sem precisar de download. Uma lista que vai desde jogos de tabuleiro e de cassino até à famosa “cobrinha da Nokia”. Confira a seguir!

Jogos de tabuleiro

Sim, muitos jogos de tabuleiro podem ser encontrados online e grande parte deles pode ser jogada gratuitamente! O xadrez, o gamão, o jogo de damas, o dominó e outros clássicos estão presentes em vários sites de jogos online. Em alguns deles, há até mesmo competições com prêmios em dinheiro.

Alguns outros jogos famosos que estão disponíveis na Internet são o Banco Imobiliário, o Rummikub e o War, todos eles ótimas formas de entretenimento, que não apenas divertem, mas também são bons para exercitar o cérebro!

Jogos de cassino

A grande moda do momento são os jogos de cassino. Você provavelmente conhece os mais populares deles, como o pôquer, o vinte e um e a roleta, além dos famosos caça-níqueis.

Atualmente, há tanta concorrência entre os vários sites de cassino que uma grande parte deles começou a oferecer um bônus de boas-vindas para os usuários se registrarem, ou seja, uma porcentagem do valor depositado inicialmente pelo jogador. Existem até mesmo comparativos entre as ofertas de cada site, para que você possa escolher o cassino com bônus de registro mais vantajoso

contioutra.com - Diversão na Internet: dicas de jogos on-line de navegador

RGP

No “role-playing game”, ou RPG, as pessoas assumem papéis de personagens e, juntas, criam o jogo à medida que ele se desenrola. Embora exista há décadas, o RPG foi revolucionado pelo surgimento da Internet, que permitiu que milhares de pessoas jogassem juntas e com inúmeros recursos novos. Atualmente, algumas opções interessantes de jogos RPG que podem ser jogados no navegador são o RuneScape e o Drakensang Online.

Jogos leves

Às vezes, em vez de um jogo de estratégia ou que teste nossos conhecimentos, queremos apenas uma diversão leve, que não exija muito do nosso cérebro. Nesse caso, a Internet é o lugar certo. Existem inúmeros jogos muito divertidos e que são excelentes para desestressar.

Você ainda deve se lembrar do “jogo da cobrinha”, ou “Snake”, que era uma parte quase essencial dos antigos celulares da Nokia, nos anos 1990. Pois bem, agora há uma série de novas versões da cobrinha, inclusive no Facebook, para você matar as saudades. Outros jogos leves que têm feito muito sucesso são:

Com a imensidão da Internet, poderíamos apresentar ainda muitas alternativas de jogos online de navegador que vale a pena testar. Contudo, é melhor limitar as opções para evitar que você gaste mais tempo tentando se decidir entre tantos jogos maravilhosos do que de fato jogando, não é? Então, seja um jogo de cassino ou o “jogo da cobrinha”, faça logo a sua escolha e boa diversão!

Acho bonito quem pede desculpa, em vez de arrumar pretexto para ter razão

Acho bonito quem pede desculpa, em vez de arrumar pretexto para ter razão

Talvez a dificuldade em se desculpar com alguém seja uma das características mais comuns a várias pessoas. E, ultimamente, em meio a esse contexto de contendas virtuais, em que muita gente se sente dona da razão, reconhecer o próprio erro torna-se artigo de luxo.

Estamos nos afastando demais uns dos outros, cada vez com menos tempo para cultivar os relacionamentos humanos, assoberbados que estamos com tarefas mecânicas e com trabalhos acumulados. Para que possamos consumir pelo menos alguns itens da lista material que nos cerca, sobra-nos quase que nenhum segundo para conversar com o amigo, com o parceiro, para olhar as tarefas escolares dos filhos, para assistir ao seriado favorito.

Enquanto, lá fora, nós nos distanciamos do que é humano, também aqui dentro tudo vai ficando menos humano, menos sentido, menos gente. É preciso estar com gente para que sejamos mais essência do que aparência, mais sentimento do que ostentação. Porque o tanto de coisas que adquirimos parece que vai coisificando a gente, tornando nosso íntimo mais frio, assim como todas as quinquilharias que nos cercam.

Centrados paulatinamente em nós mesmos, achamos que nosso mundinho é a única verdade que existe. Queremos ter razão, queremos ser melhores, queremos prevalecer sobre os demais. Queremos que nossas vontades sejam satisfeitas, temos pressa em comprar, em ter, somos impacientes. No entanto, relacionar-se com alguém requer demora, desprendimento, concessão e troca. E isso necessariamente necessita de que nos coloquemos no lugar do outro.

Somente quando conseguimos nos enxergar com os olhos do outro é que seremos capazes de perceber os nossos erros. Somente saindo do nosso eu é que conseguiremos perceber o alcance do que fazemos e falamos, compreendendo que nem sempre estaremos cobertos de razão. Por isso é raro quem pede desculpas, enquanto há muitos arranjando pretextos para manter a falsa ideia que possuem de si mesmos. Bonito é gente que se enxerga. Bonito é gente que nos enxerga.

É! A gente não tem jeito de babaca… É! A gente quer viver todo respeito…

É! A gente não tem jeito de babaca… É! A gente quer viver todo respeito…

O termo babaca está relacionado ao comportamento idiota de um homem ou mulher, que gosta de dizer babaquices e de estragar as coisas ao seu redor. E tudo indica que estamos cercados por eles. No entanto, o que precisamos é saber lidar e entender a mente dos babacas, que surgem em nosso cotidiano.

Para a psicanálise os indivíduos babacas são percebidos como perversos, pois têm orgulho extremado de si mesmos e de suas atitudes. Geralmente são paranóicos, apresentam delírios de grandeza e mentiras patológicas. Eles não têm senso de ridículo e bom senso. Aliás, lhes falta empatia, e por isso “azedam” e “minam” as relações humanas.

No sentido literal, os babacas são imbecis e desalmados que expõem sua fraqueza moral. É como bem disse o escritor irlandês, Oscar Wilde: “Os loucos às vezes se curam, os imbecis nunca. ”

Os babacas mais populares sofrem de “egomania”, ou seja, uma preocupação obsessiva com si mesmos, e são irredutíveis aos comportamentos solidários e cooperativos. Adoram ser tratados com bajulação. Além disso, trazem uma visão distorcida dos seres humanos, uma vez acreditam que podem tudo, e que os demais que se “danem”.

O filósofo Platão arguiu que um tirano, por mais poderoso que seja, sofre no final por corromper sua própria alma. Hoje é possível utilizar esse parâmetro filosófico para perfilar os babacas, inclusive em proporções menores, já que transformam a vida das pessoas e das comunidades em um “inferno”.

Catalogamos dez tipos principais de babacas, que cometem imbecilidades em função da prática da desonestidade e da maldade: 1) babacas sádicos; 2) babacas violentos; 3) babacas psicopatas; 4) babacas sociopatas; 5) babacas narcisistas; 6) babacas bajuladores; 7) babacas preconceituosos; 8) babacas sexistas; 9) babacas elitistas; 10) babacas racistas. E tantos outros, que são escandalosamente visíveis, sobretudo, nas redes sociais.

Portanto, as palavras e ações dos babacas têm um efeito corrosivo sobre as pessoas, deixando-as exauridas e desenergizadas. O livro dos Provérbios bíblicos de Salomão já previa isso: “O caráter do perverso é maligno. Caminha de um lado para o outro murmurando atrocidades.”

Os babacas via de regra “se dão mal” por se acharem espertos. Porém, ao toparmos com babacas a melhor saída é ignorá-los, bloqueá-los nas redes sociais e se forem apresentadores de programas de televisão ou rádio é só trocar de canal, visto que os babacas necessitam de audiência ou público para dar os seus “shows” de manipulação e insultos.

As pessoas com autoestima, autocontrole emocional e conduta inteligente enchem a paciência dos babacas e por esses motivos eles acabam desistindo das artimanhas, que levam alguém ao engano, porque como diz os refrões da canção do nosso querido cantor e compositor Gonzaguinha:

É!
A gente não tem cara de panaca
A gente não tem jeito de babaca (…)

É!
A gente quer viver pleno direito
A gente quer viver todo respeito (…)

Alguns têm um relacionamento, outros têm um amor

Alguns têm um relacionamento, outros têm um amor

Um relacionamento deveria coexistir junto com o amor, mas o amor nem sempre faz parte de uma relação. Isto acontece porque nos criaram com a ideia de que estar em uma relação por si só, traria felicidade.

É por este motivo que muitas pessoas casam, na busca da tal felicidade, e acabam se frustrando por perceber que a felicidade não estava no ato do casamento em si, pois essa felicidade deveria ter vindo há muito tempo.

Alguns têm um relacionamento, dão bom dia de manhã, almoçam juntos, dizem “te amo”, vão para o cinema, para jantar, vão nos aniversários dos amigos, alguns têm filhos e enfim, passam a vida nessa eterna companhia. Tudo protocolado.

O amor está além de um status no Facebook. O amor requer esforços maiores do que fazer parte dos dias, envolve o esforço emocional da outra pessoa para estar aí, inclusive quando não está – e isso faz toda a diferença. Isto significa conseguir criar um vínculo tão grande que a pessoa se sinta totalmente segura e próxima da outra pessoa, em qualquer circunstância da vida ou distância.

O amor envolve admiração, respeito e compreensão. É saber que o outro pode desabar em algum momento e estar pronto para segurá-la firme quando este momento chegar, ou seja, amor é cuidar de si para poder cuidar do outro também, é uma questão de amor próprio, principalmente.

O amor é ajudar o outro a crescer sempre. A admiração é uma parte essencial, pois apenas quando admiramos o outro, podemos enxergar aquilo de melhor que ela tem, inclusive no seu pior momento. E este tipo de apoio emocional é o que as pessoas buscam em uma relação. Todos entram em uma relação para fortalecer-se emocionalmente, porém, a maioria acaba se desgastando ainda mais e tornando-se mais vulnerável.

Ter um amor é fazer planos juntos, sempre respeitando a felicidade de cada um e se preocupando como cada ação pode atingir o outro. É deixar de falar coisas ou fazer coisas que podem machucar a outra pessoa. É colocar-se no lugar dela, mas não apenas isto, senão preocupar-se em entender exatamente como a outra pessoa entendeu alguma situação.

O amor não é apenas ver o por do sol juntos, compartilhar um chocolate, fazer maratona de filme nos finais de semana e viajar de vez em quando, isto é uma relação. Alguém para dormir nas noites frias, para postar fotos no Facebook, para brigar quando os ânimos se alteram, também é uma relação.

O amor é isto e mais um pouco. O amor é quando você encontra alguém que luta para que dê certo, que é o seu fã número um, que apoia, que busca entender, que prefere o carinho do que a briga. Alguém que o tempo todo te ensina a amar.

É alguém que te torna forte, que nunca te deixa cair, que nunca te abandona, que tenta te acalmar, que tenta te animar, que tenta te transcrever dentro dela mesma, que busca compreender a sua alma. É alguém que te dá tanto, mas tanto amor, que chega a ser impossível duvidar dele.

E a única coisa que te resta quando a encontra, é retribuir.

Ele quem mesmo? — Crônica de Martha Medeiros

Ele quem mesmo? — Crônica de Martha Medeiros

Depois de um bom tempo dizendo que eu era a mulher da vida dele, um belo dia eu recebo um e-mail dizendo: “olha, não dá mais”. Tá certo que a gente tava quase se matando e que o namoro já tinha acabado mesmo, mas não se termina nenhuma história de amor (e eu ainda o amava muito) com um e-mail, não é mesmo? Liguei pra tentar conversar e terminar tudo decentemente e ele respondeu: “mas agora eu to comendo um lanche com amigos”. Enfim, fiquei pra morrer algumas semanas até que decidi que precisava ser uma mulher melhor para ele. Quem sabe eu ficando mais bonita, mais equilibrada ou mais inteligente, ele não volta pra mim?

Foi assim que me matriculei simultaneamente numa academia de ginástica, num centro budista e em um curso de cinema. Nos meses que se seguiram eu me tornei dos seres mais malhados, calmos, espiritualizados e cinéfilos do planeta. E sabe o que aconteceu? Nada, absolutamente nada, ele continuou não lembrando que eu existia. Aí achei que isso não podia ficar assim, de jeito nenhum, eu precisava ser ainda melhor pra ele. Sim, ele tinha que voltar pra mim de qualquer jeito!

Pra isso, larguei de vez a propaganda, que eu não suportava mais, e resolvi me empenhar na carreira de escritora. Participei de vários livros, terminei meu próprio livro, ganhei novas colunas em revistas, quintupliquei o número de leitores do meu site e nada aconteceu. Mas eu sou taurina com ascendente em Áries, lua em gêmeos, filha única! Eu não desisto fácil assim de um amor, e então resolvi tinha que ser uma super ultra mulher para ele, só assim ele voltaria pra mim.

Foi então que passei 35 dias na Europa, exclusivamente em minha companhia, conhecendo lugares geniais, controlando meu pânico em estar sozinha e longe de casa, me tornando mais culta e vivida. Voltei de viagem e tchân, tchân, tchân, tchân: nem sinal de vida.

Comecei um documentário com um grande amigo, aprendi a fazer strip, cortei meu cabelo 145 vezes, aumentei a terapia, li mais uns 30 livros, ajudei os pobres, rezei pra Santo Antonio umas 1.000 vezes, torrei no sol, fiz milhares de cursos de roteiro, astrologia e história, aprendi a nadar, me apaixonei por praia, comprei todas as roupas mais lindas de Paris. Como última cartada para ser a melhor mulher do planeta, eu resolvi ir morar sozinha. Aluguei um apartamento charmoso, decorei tudo brilhantemente, chamei amigos para a inauguração, servi bom vinho e comidinhas feitas, claro, por mim, que também finalmente aprendi a cozinhar. Resultado disso tudo: silêncio absoluto.

O tempo passou, eu continuei acordando e indo dormir todos os dias querendo ser mais feliz para ele, mais bonita para ele, mais mulher para ele.

Até que algo sensacional aconteceu …

Um belo dia eu acordei tão bonita, tão feliz, tão realizada, tão mulher, que eu acabei me tornando mulher DEMAIS para ele.

Ele quem mesmo?

– Martha Medeiros.

Há bondade em todas as pequenas coisas do dia a dia

Há bondade em todas as pequenas coisas do dia a dia

Há um bom tempo venho pensando a respeito da bondade humana refletida nas pequenas atitudes do dia a dia, mas até o momento ainda não tinha vindo a devida inspiração para escrever sobre isso, que surgiu a partir de um pequeno texto muito bonito do escritor Gustavo Gitti.

********

É só parar e relaxar um pouquinho que a bondade do mundo inteiro aparece.

Quando uma pessoa vem falar algo, quase sempre ela não está nos enganando. É incrível! Ela poderia nos enganar, o mundo poderia nos enganar o tempo todo, mas não. Ela está realmente ali, frágil, viva, aberta, olhando para você, correndo o risco de ser enganada. Não importa o conteúdo da fala, tem uma bondade infinita ali que leva a pessoa a fazer contato. Parece bobo, mas sinto que raramente a gente reconhece isso.

Se essa bondade não fosse nossa natureza, as ruas, os táxis, as cadeiras, os computadores, as hortas, as palavras, os emails, tudo seria feito para dificultar nossa vida. Mas tudo opera a nosso favor, tudo nos sustenta, ainda que com problemas. Mesmo quando opera contra, alguém fez aquilo achando que ia ser melhor, sem clareza do que seria mesmo melhor. Não dá nem para ficar com raiva, so dá para sorrir: “Como é que alguém como eu achou que essa papelada seria uma boa coisa? Onde estava a mente dessa pessoa quando ela teve essa ideia? E onde estavam as mentes das pessoas ao redor quando concordaram?”

Não tem como a confusão vir de uma pessoa inerentemente maldosa. Ela só pode vir de um coletivo não reconhecimento dessa condição natural — livre, relaxada, generosa, ampla, benéfica. O fechamento não é alguma coisa, é só espaço não reconhecido.

Reconhecer essa bondade nos protege de cair em autocentramento. E isso não precisa ser romantizado, como se o mundo relativo fosse bonzinho, como se não houvesse aflição, injustiça, mentira, absurdos no governo, algoritmos e contratos não humanos regendo vidas humanas, propaganda, ideologias… Reconhecer nossa bondade natural é justamente o que nos dá a confiança de se aproximar e trabalhar com a negatividade em nós, nos outros e nas organizações em geral.

Gustavo Gitti

**********

O que ele fala nessas poucas palavras é que se buscarmos nutrir nossa mente e atitudes com amor, tudo ao nosso redor refletirá isso. Essa é uma das leis universais, aquilo que eu dou, recebo de volta.

É porque nós somos tão distraídos que nem sequer percebemos e agradecemos o quanto estamos repletos de bençãos por todos os lados e que nunca passam pela nossa cabeça. Vou elencar algumas dessas pequenas coisas.

  • Você compra um pão na padaria confiando que o padeiro fez uma massa sem componentes que farão mal à sua saúde;
  • Você compra comidas e produtos nos supermercados confiando que estes foram produzidos com critérios e poderão ser ingeridos sem preocupação e não lhe causarão doenças;
  • Quando você pega um ônibus, confia que o motorista esteja sóbrio e que lhe levará ao seu local de destino em segurança;
  • Quando você faz uma amizade, não acredita que essa pessoa seja alguém que vai matar você em um momento que esteja distraído (Já pensou que loucura? Rsrsrsrs)
  • Ao comprar um remédio ou tomar um chá medicinal, você acredita que nele estão os componentes que vão favorecer a sua cura;
  • Quando você está no trânsito dirigindo, sabe que as pessoas ao redor estão obedecendo às mesmas leis de trânsito que você e que ninguém vai, de maneira proposital e intencional, jogar um carro por cima de você.

São tantos exemplos e tantas pequenas coisas! Você pode pensar que estou exagerando, mas não estou. Todos os exemplos que eu dei parecem absurdos, concorda? Mas por que parecem absurdos? Porque nós NÃO FAZEMOS ISSO de forma consciente e intencional.

O ser humano tem em sua interioridade a predisposição para o bem e para a harmonia. O mundo está desequilibrado porque as pessoas deixaram de se conectar à sua essência e os sentimentos mais grosseiros começaram a tomar de conta.

Porém, trata-se de uma percepção e perspectiva. Se você busca fazer o bem em todas as suas atividades. Se você busca, em consciência, amar e ser um cidadão ético. Tudo ao seu redor refletirá isso. Acredite! É assim comigo em meu dia a dia e seria hipocrisia minha escrever aqui algo que eu mesmo não experiencie.

Repito as lindas palavras do Gustavo Gitti: “É só parar e relaxar um pouquinho que a bondade do mundo inteiro aparece…”.

Veja a bondade que está em toda parte! Concentre todas as suas energias no bem e essa mudança de perspectiva vai levantar uma onda de amor tão grande que dentro de não muito tempo atingirá a todos em todas as esferas. Você acredita nisso? EU ACREDITO, e estou fazendo a minha parte nessa mudança, vamos juntos?

INDICADOS