Uma reflexão psicológica da animação Frozen

Uma reflexão psicológica da animação Frozen

Por Viviane Lajter Segal

Do original: Frozen uma lição de vida

As histórias infantis são repletas de mensagens interessantes sobre a vida, as relações afetivas e familiares. Por esse motivo costumam ser tão encantadoras não somente para as crianças, mas também para os adultos. O filme Frozen é um bom exemplo disso. Possui inúmeras situações e dilemas pessoais e familiares que valem a pena ser analisados mais profundamente.

O filme conta a história de duas irmãs Elsa e Ana que vivem em um castelo com seus pais. Elas são muito amigas quando crianças. Elsa, a mais velha, tem o poder de transformar tudo o que toca em gelo e produzir neve. Isso era motivo para muitas brincadeiras entre elas. Até que um dia ocorre um acidente e Elsa quase mata Ana. Apartir daí seus pais resolvem isolar Elsa até que ela consiga controlar seus poderes e fecham os portões do castelo, para que ninguém saiba dos poderes da filha.  Apagam a memória de Ana sobre os poderes da irmã e não explicam para Ana o motivo do isolamento. Para complicar ainda mais seus pais morrem em um passeio de barco e as irmãs ficam sozinhas e isoladas dentro do castelo.

Relacionamento entre pais e filhos

Um primeiro ponto a ser analisado no filme é a relação familiar. Os pais, movidos pelo medo de Ana se machucar, decidem separar as irmãs sem conversar com elas e explicar seus motivos e intenções. Isso é muito comum nas famílias, os pais tomarem decisões importantes sobre os filhos e não compartilharem com eles. As crianças são bastante sensíveis aos acontecimentos e ao clima do ambiente em que vivem. Apesar de não terem um entendimento completo e profundo como o dos adultos, conseguem entender o suficiente para elas. Por isso, precisam que seus pais expliquem o que está ocorrendo em suas vidas. É uma forma de aproximar as relações, de incluir a criança na família e, principalmente, dessa criança não se sentir desamparada ou esquecida pelos pais.

O que foi exatamente que acabou ocorrendo com Ana. Cresceu solitária, conversando com os personagens dos quadros e gerando uma necessidade enorme por contato com o outro, o que a leva a procurar um romance com o primeiro “príncipe” que surge na história.

“Encobrir, não sentir, nunca saberão”

Outro ponto muito interessante do filme é o de pensarmos de que forma lidamos com as diferenças. É mais fácil esconder e isolar o diferente do que aprender a lidar com ele e aceitá-lo do jeito que ele é? A primeira reação, e a mais fácil, é sempre negar o problema. O pai da Elsa a orienta a encobrir e a não sentir, pois assim nunca saberão da sua diferença. Mas, como isso poderia dar certo? Quando temos alguma característica diferente precisamos primeiramente nos aceitar como somos, entender essa diferença e aprender a conviver com ela. Esconder não vai fazer com que deixemos de ser como somos e, pelo contrário, só vai gerar mais sofrimento. Não é uma tarefa fácil e requer muito autoconhecimento e, muitas vezes, ajuda profissional. Como Elsa não teve nenhuma dessas opções quando pequena cresceu sentindo-se cada vez mais assustada com ela mesma e, consequentemente, tendo os seus poderes mais descontrolados.

Em um determinado momento do filme todos descobrem o poder de Elsa. Ela, apesar de amedrontada, sente-se liberta! Apesar de sozinha, percebe que não precisará mais se esconder. É nesse momento, já adulta, que ela começa a testar os seus limites e a se descobrir.

“Um ato de amor verdadeiro”

Outra parte interessante dessa história é que Ana só conseguiria sobreviver ao congelamento do seu coração através de “um ato de amor verdadeiro” que todos pensam ser um beijo do príncipe como geralmente encontramos nos contos de fadas.

Mas, na verdade Ana é a responsável por sua própria salvação ao ter um ato de amor verdadeiro pela sua irmã e tentar salvá-la da morte. É bastante comum verificarmos esse tipo de atitude quando nos deparamos com algum dilema ou decisão importante a ser tomada. Temos a tendência de esperar que outra pessoa nos salve ou nos mostre o caminho certo para resolução dos nossos problemas. Esperamos ou até mesmo pedimos que alguém decida e a resolva por nós! Mas, será que essa é uma boa tática?

Essa é uma estratégia de fuga, já que o medo nos paralisa e não permite que tomemos uma decisão. Com isso, é mais fácil responsabilizar o outro por algo que não deu certo do que a nós mesmos. O problema é que essa atitude reforça a insegurança que já existia dentro de nós, além de gerar muita frustração, pois quando o medo acaba conseguimos perceber a nossa fraqueza. Portanto, como o filme nos mostra, somos nós que temos a chave para a solução dos nossos problemas.

Esse filme, apesar de infantil, é muito intenso e repleto de lições de vida. Recomendo àqueles que ainda não tiveram a oportunidade de assisti-lo que o façam pelo menos uma vez. É um belo filme. Vale a pena!

Fonte: Frozen: Uma aventura congelante. 2013, Walt Disney Animation Studios.

“É tempo de viver sem medo”, Eduardo Galeano

“É tempo de viver sem medo”, Eduardo Galeano

Por Nara Rúbia Ribeiro

Em 2011 ocorreu, em Estoril, uma Conferência cujo tema era “Segurança”. Nessa ocasião, o escritor Mia Couto proferiu um festejado discurso, intitulado: “Murar o medo”.

Afirmou Mia Couto, dentre outras tantas verdades:
“Há muros que separam nações, há muros que dividem pobres e ricos. Mas não há hoje no mundo muro que separe os que têm medo dos que não têm medo.”

Ao encerrar sua fala, o escritor menciona palavras de Galeano:
“Os que trabalham têm medo de perder o trabalho. Os que não trabalho têm medo de nunca encontrar trabalho. Quando não têm medo da fome, tem medo da comida. Os civis têm medo dos militares e os militares têm medo da falta de armas e as armas têm medo da falta de guerras.”

E encerrou: “E se calhar, acrescento eu. Há quem tenha medo que o medo acabe.”

Vale, aqui, conhecermos integralmente as palavras citadas por Eduardo Galeano, na fala citada por Mia Couto.

Dicas para mudar nosso jeito de pensar – Flávio Gikovate

Dicas para mudar nosso jeito de pensar – Flávio Gikovate

As pessoas parecem ser governadas por uma série de crenças, ideias pré-moldadas que ocupam um espaço enorme na subjetividade.

Curiosamente elas se apegam a esses modos de pensar como se fossem verdades mesmo quando os frutos são negativos…

Por que as pessoas não aprendem a buscar novas soluções para velhos problemas?

Esse blog possui a autorização de Flávio Gikovate para reprodução desse material.

Para mais informações sobre Flávio Gikovate
Site: www.flaviogikovate.com.br
Facebook: www.facebook.com/FGikovate
Twitter: www.twitter.com/flavio_gikovate
Livros: www.gikovatelojavirtual.com.br

Uma visão otimista sobre as redes sociais

Uma visão otimista sobre as redes sociais

Por Marcela Picanço

Estamos todos conectados. De uma forma física, eu quero dizer. A internet possibilitou encurtar tempo e espaço que conhecíamos como “real”. Algo que você diz aqui no Brasil pode ser lido por alguém no Japão, no segundo em que algum conteúdo foi postado online. Isso todo mundo já está cansado de saber, mas, mesmo assim, insistem em falar mal das redes sociais e afirmar como a vida era melhor antes do Facebook. Casais se separam por causa do Whatsapp, a inveja da vida alheia começa a parecer algo comum e a ideia de que não estamos vivendo algo real nos apavora. E adivinha? Ainda assim, continuamos postando nossas fotos no Instagram, com um filtro legal, para dizer onde estávamos.

Falar mal dessas redes sociais é uma forma de não saber lidar com essa nova maneira de se comunicar. Achar que uma realidade virtual é menos real do que a fora do mundo online pode ser uma ilusão, porque não é como um sonho em que você vive certas coisas e depois elas não existem mais. Nas redes sociais, a vida continua bem viva e é possível trocar ideias, manter contato com velhos amigos e se apaixonar perdidamente. Se isso é irreal, então não sei o que é real. Vivem nos dizendo que temos que aproveitar mais a nossa vida off-line, mas acho que a gente já aproveita a nossa vida off-line quando estiver a fim. Às vezes, a discussão no Facebook está realmente mais interessante do que o papo furado da mesa. Vai saber.

As redes sociais são apenas novas formas de comunicação, que, claro, estão transformando o mundo e nossas relações. Mas nós as criamos. Nós é que temos a capacidade e o poder de decidir quando podemos ficar online. Nossos smartphones são realmente uma forma de dividir esse tempo, mas eu não considero isso uma coisa ruim. E alguns vão dizer: “a parte ruim é que a pessoa está lá, mas ao mesmo não está lá. Ela está conversando com outra pessoa pelo whatsapp e não com quem está à sua frente”. De fato isso acontece, mas cabe a ela saber o momento de dividir a atenção. Ela pode estar com você e compartilhando esse momento com outra pessoa, fazendo com que a outra pessoa também faça parte do momento. E isso é mágico. É como se a gente tivesse superado os limites da distância. Essa comunicação à distância nunca vai ser o necessário para matar a saudade, mas ajuda bastante. É uma bobagem achar que a gente vai se acostumar com isso e que as relações vão ficar mais frias. Nós é que devemos criar os limites, porque somos nós que nos comunicamos e nós é que usamos todas essas ferramentas online.

Talvez a gente esteja só com medo do que essa nova forma de comunicação pode nos causar. É um novo espaço para nos comunicarmos e criamos ideias a partir daí. Estamos apenas facilitando as coisas. Não há nada de irreal na vida online, por mais que afirmem que todo mundo posta só coisas boas, que querem passar a ideia de uma falsa vida e que ninguém é tão feliz assim. Mas, por que as pessoas vão postar sobre as coisas ruins? Talvez uma pessoa querendo mostrar uma vida incrível pelas redes sociais tenha realmente uma vida incrível, ou pode estar com a auto-estima tão baixa, que precise de atenção constantemente. Mas ela daria um jeito de conseguir isso mesmo fora do Instagram. Talvez fulaninho não esteja postando uma foto para mostrar que a vida dele é melhor do que a sua, mas para simplesmente compartilhar um momento com os amigos, para que, de certa forma, todos estejam conectados. Agora, você tem a capacidade de saber onde as pessoas que você conhece estão, ou o que fazem. A gente pode não falar com uma pessoa há séculos, mas sabe que ela teve neném recentemente e está feliz. Descobre que o outro amigo foi promovido, que o outro encontrou o amor da vida. Às vezes, a gente nem conhece a pessoa direito, mas curte um monte de coisas engraçadas que ela posta. Você se sente mais perto de todo mundo. Agora, é possível ter uma visão geral do que está acontecendo. E algumas pessoas vão dizer que isso é ruim, porque a gente deveria estar vivendo a própria vida. Mas, sabe, uma coisa não exclui a outra. O fato de você saber o que fulaninho está fazendo não deveria interferir na sua vida de uma forma ruim. Se interfere, a culpa não é das mídias sociais.

Essa nova forma de comunicação é apenas uma expansão dos nossos conhecimentos e da nossa vivência. É um novo jeito de compartilhar tudo isso e receber mais informação em troca. A gente ainda está meio perdido, mas muita gente já criou várias coisas bacanas por causa dessa troca que a Internet nos proporciona. A gente deve encontrar formas de encaixar essa vida virtual na nossa vida off-line e construir ideias que vão além disso. Devemos olhar para as mídias sociais como uma ferramenta e não como algo que nos aliena do mundo real ou que nos distancia das pessoas. É justamente o contrário. Precisamos agregar. Nunca, na história da humanidade, tivemos tantas oportunidades escancaradas à nossa frente. Isso assusta, mas ao mesmo tempo é o que temos de mais valioso na nossa geração. Vamos olhar para essas novas formas de comunicação como uma opção e não como um fardo da humanidade egoísta e mesquinha. Tudo que você postar ali vai começar a fazer parte da história do mundo. Cada um usa a ferramenta da forma que lhe convém. Faça bom uso das redes sociais.

Preconceito e estereótipo

Preconceito e estereótipo

“Muitas pessoas pensam que estão a pensar quando estão apenas a re-arrumar os seus preconceitos.”

William James

No youtube existe um canal chamado Minutos Psíquicos onde podemos encontrar diversos vídeos ilustrados de poucos minutos falando sobre temáticas da área da Psicologia.

Você sabe qual é a diferença entre preconceito, estereótipo e discriminação? E você sabia que é possível possuir preconceito contra um grupo sem ter consciência desse preconceito?

Abaixo, em 4 minutos, uma explanação sobre o assunto.

As ilustrações são de Pedro Francisco, vídeo/edição de Pedro Costa e voz e texto de André Rabelo.

Espero que seja útil!

Você achou esse conteúdo relevante? Compartilhe!

Você é linda. Obrigada. Eu te amo.

Você é linda. Obrigada. Eu te amo.

Por Tatiana Nicz

Alguns anos atrás, para ser mais precisa oito, minha mãe começou a agir de maneira estranha e confusa. Minha irmã, que convivia mais com ela, foi a primeira a notar. Com o tempo também comecei a reparar que minha mãe andava muito confusa. Esse foi o começo de uma longa dura jornada ao desconhecido mundo da neurociência. Eu digo desconhecido porque o que aprendi nesse tempo é que, apesar de tantos estudos envolvendo o funcionamento do cérebro humano, ele ainda é território misterioso. Claro, tivemos muitos avanços, mas muita coisa permanece ainda inexplicável e isso torna qualquer doença nessa área mais complicada.

A primeira dificuldade já veio de cara em encontrar um diagnóstico convincente. Levamos minha mãe em muitos psicólogos, psiquiatras e neurologistas, todos admitiam que o comportamento dela era anormal, mas nenhum soube diagnosticar o que acontecia. Afinal ela tinha 55 anos e uma saúde física impecável sem nenhum histórico aparente de doenças neurológicas na família. Como ela continuava confusa, continuamos fazendo exames. Até que nos indicaram um médico conceituado que só atendia via particular, após alguns exames de cintilografia o médico renomado sem nos decepcionar, deu o diagnóstico: demência no lobo fronto temporal, mais conhecida como demência frontotemporal e usou a palavra degenerativa.

Eu lembro que sai do médico bem atordoada, parecia que tinha levado uma pancada na cabeça. Não lembro exatamente se minha mãe, que estava comigo, se deu conta. A verdade é que eu não tinha entendido a magnitude do que exatamente isso implicaria na sua vida e na minha e pelo visto, os médicos também não. Quando você recebe uma notícia dessas passa mil coisas pela cabeça, na verdade vai um bom tempo para digeri-la, para falar a verdade, dez anos se passaram e acho que até hoje ainda não digeri tudo.

Uma rápida pesquisa na internet e descobri que a demência frontotemporal tem causas desconhecidas e sintomas muito parecidos com Alzheimer, é também uma doença degenerativa que afeta a memória, entre outras coisas, por isso o tratamento é o mesmo. Eu nunca convivi com pacientes de Alzheimer, mas pelo pouco que sei, apesar de ser parecida é diferente e acho que deveria ser melhor estudada e entendida. De lá para cá trocamos de médicos muitas vezes, o coquetel de remédios não parece fazer muito efeito, mas segundo o médico se ela não tomar a doença terá progressão mais rápida ainda e eu não quero fazer esse teste. Então sigo à risca o que os médicos falam.

Existe muita, mas muita desinformação nessa área e informação “torta”, existe também, no meu leigo entendimento, um certo comodismo da medicina e dos médicos, eles dizem é esse o tratamento e pronto. “Não há o que fazer”, dizem eles em unanimidade. E há dez anos seguimos o mesmo tratamento. E ninguém tenta nada diferente e ninguém dá soluções práticas para te ajudar no dia-a-dia. Então tive que me virar sozinha.  Porque isso eu aprendi, dar nome para doença não quer dizer que você vai receber também uma cartilha de como lidar com ela. O que sei, aprendi no dia-a-dia, na base de (muito) erro e acerto. O problema é que fazer isso com a tua própria vida até dá para encarar, fazer isso com a vida da sua mãe é um pouco mais difícil.

Então se não havia o que fazer me concentrei em fazer com que ela tivesse qualidade de vida. E graças ao trabalho duro do meu avô, na medida do possível, nós podemos proporcionar isso à ela. Nesse momento eu penso  e sinto pelas famílias e pacientes economicamente menos favorecidos, sim porque doença é igual para o pobre e para o rico. O governo dá um dos remédios que é caro para Alzheimer. Todos os outros, também caros, nós compramos. Equipe de cuidadores, tudo isso tem um custo alto.

Eu escrevo esse relato porque tudo que aprendi, aprendi sozinha sem muita orientação. O que os médicos não souberam explicar nem orientar eu fui fazendo por instinto. Porque todos nós temos esse instinto de cuidar do outro. E sei que nem sempre acertei. Então quem sabe minha história (e meus erros) ajude quem também está passando por isso, segue alguns sinceros conselhos:

1. Não subestime a doença:

Qualquer doença que acomete a mente é difícil de entender, mas deve ser levada a sério. A gente se engana com uma aparência saudável. Então tome as devidas providências para evitar acidentes. Um dos meus erros foi ter sido reativa, tomar atitudes só quando a “água batia na bunda” e tentar sempre escutar e respeitar a vontade da minha mãe. Ela morava sozinha, eu sabia que não era bom, mas ela não queria ninguém e eu não soube insistir. O problema é que ela já não tinha total consciência do que era bom ou não. Um dia me ligaram do hospital dizendo que minha mãe havia sido atropelada. Do caminho de casa até o hospital eu sofri muito, eu senti culpa, muita culpa. Esse erro poderia ter lhe custado a vida, felizmente foi apenas um braço quebrado e mais alguns arranhões. A partir desse dia ela nunca mais ficou sozinha. Então não espere para sentir culpa por algo que você poderia ter antecipado e feito, quando achar que tem que fazer, não procrastine, não titubeie, apenas  faça.

 

2. Você vai sentir raiva, tudo bem, sinta raiva.

Você sentirá raiva e se você é capaz de sentir empatia, você também sentirá culpa, muita culpa. Aprenda a conviver pacificamente com elas (acho que quem é mãe entende melhor isso). Viva isso porque faz parte. Se conseguir, seja mais gentil consigo mesmo, perdoe-se. Tente ser paciente, a falta de paciência gera mais culpa. Eu me arrependo de não ter tido mais paciência com minha mãe quando ela esquecia as coisas, quando ela demorava para contar algo e trocava tudo, enfim, em vários momentos. Mas eu sentia raiva, raiva de Deus, raiva dela, raiva de mim porque não conseguia ser melhor e mais paciente com ela. E daí com a raiva vinha a culpa. Enquanto eu lutava contra a raiva e a culpa, elas ganhavam mais força e era uma bola de neve, porque quanto mais raiva eu sentia, menos paciência eu tinha. Então permita-se sentir raiva, sentir culpa e entenda de onde elas vêm. Quando nos permitimos sentir qualquer sentimento mesmo que “ruins”, os sentimentos perdem força. Tome cuidado para não descontar em ninguém e para que esses sentimentos não tomem conta de você. Se fizer, ou melhor, quando fizer, perdoe-se e peça perdão. Respire. Espere. Com o tempo a raiva não passa, mas ela diminui até o ponto de ficar bem mais fácil de conviver com ela e controlá-la.

3. Viva a sua vida.

Essa parte é difícil, porque as pessoas julgam e muito. Porque você se julga, muito. Um paciente com demência não conhece mais limites. E a impressão que tenho é que quanto mais você dá, mais você precisa dar e esse espiral não tem fim. As pessoas olham de fora e pensam que talvez algumas atitudes tuas são egoístas ou injustas. Seja egoísta. Coloque sua vida em primeiro lugar. A pergunta que eu me faço é longa, porém simples: quem está vivendo a minha vida por mim enquanto eu preencho a minha vida com a vida da minha mãe? Então na medida do possível e com amor, coloque limites. E esses limites machucam, mas são necessários. Saiba assumir suas fraquezas e conhecer seus limites, ninguém é super-herói. Aprenda a perder batalhas pelo outro em seu prol. Também aprenda a delegar. Eu levei tempo para fazer isso, com isso sofri mais do que devia, passei mais tempo com raiva do que devia. Quando aprendi, resolvi encerrar essa jornada com minha mãe, por agora. Então minha irmã vai cuidar dela. Quando consegui assumir que cheguei no meu limite sem me sentir derrotada, pude finalizar essa etapa com o coração tranquilo. E quando você não conseguir fazer algo que a “sociedade” acha certo fazer, não se sinta tão culpado, sempre vai ter alguém para apontar seus atos falhos, mas a verdade é que ninguém sabe exatamente o que se passa no seu coração.

contioutra.com - Você é linda. Obrigada. Eu te amo.

4. Para todos e para a vida: não julgue uma batalha que você não está lutando.

Muita gente acha cruel que eu tenha pensado em um lar para minha mãe. Ou que eu não vá visitá-la todos os dias. Moro perto, ligo sempre, vou quando posso. Hoje sei que o maior presente que posso dar para ela é viver minha vida e ser feliz, só assim também valerá a pena o sofrimento dela. Tenho uma consciência tranquila de que fiz o melhor que pude com os recursos que tinha. Algumas vezes não era muita coisa, mas foi o que consegui fazer. Hoje não julgo ninguém que tenha que deixar um parente em um lar. Porque não é uma decisão fácil. Mas independente de idade e em qual momento da vida alguém está, ninguém deve ser privado de viver sua própria vida. E cuidar de alguém com demência toma tempo e dedicação, além de muita paciência. E requer amor, muito amor, um amor incondicional diariamente, coisa que nem sempre estamos bem e somos capazes de dar.

 5. As pessoas se vão. Poucos são os que ficam. Não julgue.

Muita gente não sabe lidar com a dor do outro. O que me faz não contar sobre a minha mãe para muita gente é o olhar de pena dos outros. Ninguém sabe validar a dor do outro nem como agir diante de momentos difíceis, o que sabemos é sentir pena e a pena não constrói ninguém, nem quem sente, nem por quem é sentida. Eu falo isso porque comprei esse “papo” e também tive pena de mim, até que entendi que me fazer de vítima não ia curar minha mãe e nem me fazer feliz, porque felicidade é um propósito de vida, é uma escolha que fazemos todos os dias, independente do que está acontecendo em nossas vidas. Então aceite o que a vida lhe traz e na medida do possível viva bem com isso. Não dá para entender o sentido de tudo racionalmente. É triste? Sim. Como muitas outras histórias também são. O que é, é. E o melhor que podemos fazer quando nos deparamos com a dor de outro é dizer: “não posso fazer muito para diminuir sua dor, mas obrigada por compartilhar isso comigo, estou aqui”. O amor deve ser espontâneo e mora nos pequenos gestos, como em um abraço ou no silêncio. O que aprendi com minha mãe é que a maior prova de amor que damos é conseguir amar alguém que não pode lhe dar nada (ou quase nada) em troca. E apesar de parecer que não existe troca hoje, um dia ela existiu. Entre muitas outras coisas, a minha mãe me deu a vida.

 6. Cuide de você e viva sua vida com amor.

O Budismo fala muito sobre a impermanência da vida. Aprenda a enxergar a beleza nisso e a aceitar o que lhe é ofertado. É clichê, mas a gente esquece. Não sabemos o dia de amanhã, nem quando um médico vai te dar um diagnóstico que mudará sua vida, nem a vida de quem você ama. Esteja presente e aceite o presente que é a vida. Cuide bem de sua saúde e de sua cabeça. Eu levei tempo para aprender isso.

 

 7. Guarde e conte as boas histórias.

 “Malba Tahan conta que dois amigos, Salim e Fahid, viajavam numa caravana para a Pérsia.  Ao cruzarem um rio, Salim foi pego na correnteza, e teria morrido se o amigo não o ajudasse. Agradecido, pediu que seus empregados gravassem numa rocha que ficava na margem do rio: “Aqui, Fahid salvou a vida de seu amigo”. Quando voltavam da Pérsia, depois de atravessarem o mesmo rio, uma discussão tola fez com que os dois brigassem.  Fahid puxou uma espada, e quase mata o amigo a quem havia salvo meses antes.  Depois que os ânimos serenaram, Salim chamou de novo seus empregados e pediu que escrevessem na areia: “Aqui, Fahid tentou matar seu amigo”. “Quando o salvei, você gravou meu gesto numa rocha.  Agora, que quase o matei, você escreve na areia.  Não vê que o vento logo apagará?”, perguntou Fahid. “Esta é a sabedoria”, respondeu Salim,  “Escrever as boas coisas na rocha, e as coisas negativas na areia”.

Como na história, tente guardar os bons feitos e qualidades. Esforce-se para esquecer as historias ruins. Minha mãe nem sempre foi boa para mim, reclamei disso por muito tempo. Hoje nem sempre consigo ser uma boa filha para ela. Porque ser bom o tempo todo é difícil mesmo. Então nós precisamos aprender a guardar as coisas boas e com o tempo isso vai acontecendo naturalmente, hoje lembro com muita clareza de como ela era bela e valente, vaidosa, honesta e de como gostava de fazer caridade.

 8. Cada paciente é diferente.

Com o tempo aprendi a entender os médicos, realmente não existe uma receita pronta que vai te ajudar a lidar com a doença. É puro instinto e bom senso. Porque mesmo que a doença seja uma ela se manifesta de algumas maneiras diferentes de acordo com o paciente. Minha mãe apresenta sintomas que os médicos não sabem explicar. Por exemplo, mesmo em estágio mais avançado da doença, ela se alimenta bem, faz tudo sozinha (claro, com orientação) e é extremamente carinhosa, não tem nenhum traço de agressividade.

 9. Conte com a ajuda de profissionais.

Se você tiver condições financeiras contrate profissionais para te ajudar. Os familiares têm uma relação diferente com o paciente e carregam uma carga emocional muito grande. Cuidadores profissionais podem ter paciência e calma que nem sempre nós familiares temos. E o paciente precisa de pessoas pacientes e calmas. Eu tive muita sorte com todas as cuidadoras e só tenho boas histórias. Elas amam minha mãe e cuidam com muito cuidado dela.

 10. Aprenda o valor das palavras “mágicas” e use-as.

Palavras que aprendemos desde criança e que fazem diferença em nosso dia-a-dia. Não as esqueça, pois minha mãe não as esqueceu. Hoje ela não fala mais nada com coerência, ou melhor, quase nada. Existem três frases que ela usa com muita coerência: todos os dias que ela me vê ela me olha e repete “Você é linda. Obrigada. Eu te amo”.

Mãe: você é linda. Obrigada. Eu te amo.

Maria Augusta Ribeiro: a poetisa de outonais poentes

Maria Augusta Ribeiro: a poetisa de outonais poentes

Por Nara Rúbia Ribeiro

Maria Augusta Ribeiro, poetisa portuguesa, impressiona-nos por sua singular sabedoria. Esse saber inerente a uma profunda reflexão cotidiana e a um apurado senso estético transparece serenamente em seus poemas.

Selecionamos, aqui, alguns poemas e excertos encontrados em seu blog Litoral do Sonho. Para adornar os textos (embora nem necessitem de adorno), telas de Jacob Camille Pissarro (1930 a 1903), pintor francês. Um dos marcos do impressionismo.

Levanta-te Portugal
Mete o teu mal na cadeia
Volta a ser o Portugal
Que confia e semeia
Deixa lá o que se diz
Vamos juntos a Belém
Onde há uma mãe feliz
Que tu fizeste rainha
E ela disso não esquece.
Levanta-te pátria minha
Porque amor, amor merece!

contioutra.com - Maria Augusta Ribeiro: a poetisa de outonais poentes
Jacob Camille Pissarro

De tanto pensar, perdida
Começo a ficar confusa:

Sou eu quem usa a vida
Ou a vida é que me usa?

contioutra.com - Maria Augusta Ribeiro: a poetisa de outonais poentes
Jacob Camille Pissarro

Não te vejo…não te sinto
Não te imagino sequer
Hoje sou um ser faminto
Com perfume de mulher…

Entretanto a tarde ri
Talvez de mim ou de ti…

contioutra.com - Maria Augusta Ribeiro: a poetisa de outonais poentes
Jacob Camille Pissarro

Limbo

Naquele lugar
Onde á noite se deitara
Cara gelada
Duplamente fria
Sobre o chão da cidade
Que ele amara
Um português morria…
Ao seu lado
Um triste cão uivando
Naquela noite quando
Nem Portugal havia!

contioutra.com - Maria Augusta Ribeiro: a poetisa de outonais poentes
Jacob Camille Pissarro

OUTONO

Alguém já reparou que o no outono
O sol parece ter sono?
Escorre pelas ladeira
Como um manto de cambraia
E nos telhados as telhas
Pintam de vermelho a saia?

Pelos fios estão pousados
Uns pássaros arrepiados
Que soltam gritos pagãos.
Enquanto as águas do rio
Assustadas pelo frio
Escondem o rosto nas mãos.

Retóricas roseiras

Parecem ser as primeiras
A despedir-se de nós
Estática e em surdina
A terra sempre menina
Lembra os ecos dos avós.

O horizonte calado
Deitado, sempre deitado,
Colhe os restos do verão,
Enquanto de madrugada
Se deixa beijar no chão.

Enfim, quando a noite desce
O ar já que já arrefece
Vai instalando verdade
Fica o torpor da saudade
Em quem ainda acredita
Que é em silêncio que se grita.

contioutra.com - Maria Augusta Ribeiro: a poetisa de outonais poentes
Jacob Camille Pissarro

Se tu fosses ferro
Moldava-te ao lume
Se tu fosses onda
Fazia-te cais
Se tu fosses ouro
Não tinha ciúme
Se fosses pátria
Amava-te mais
Se tu fosses gente
Só por ti orava
Se tu fosses vida
Dava-te valor
Se fosses enfermo
Curava-te a dor
Se fosses impuro
Eu te protegia
Se tu fosses noite
Abria-te os braços
Abria-te o dia
Assim, como és sonho,
Faço-te em pedaços
E, com toda a calma,
Lanço-te na vala
Do lixo da alma.

contioutra.com - Maria Augusta Ribeiro: a poetisa de outonais poentes
Jacob Camille Pissarro

Falam de ti as lúbricas escolhas
Teu doce lábio beijarei jamais
Enquanto voam decepadas folhas
Da minha alma se despedem ais

Penso que a vida aos poucos me abandona
De ti me afastam brumas outonais
São trepadoras como a beladona
Perfumam só momentos ideais

Guardo de ti a expressão e o ardor
Gravada tua imagem no meu peito
Não voltaremos a falar de amor

Ninguém se gabe nunca do efeito
De um sentimento que á vida dá valor
Pois que sendo amor seja perfeito

contioutra.com - Maria Augusta Ribeiro: a poetisa de outonais poentes
Jacob Camille Pissarro

Porque sou de outonais poentes
e venho de todas as margens.
É que nos meus lábios ausentes
os beijos são viagens.

contioutra.com - Maria Augusta Ribeiro: a poetisa de outonais poentes
Jacob Camille Pissarro

Sem abrigo

Ficou ali
Debaixo de uma escada
Tirou dos sacos uma manta usada
Que estendeu no chão
Fez um ninho de cão
Com palha e farrapada
Cobriu-se com jornais
(Que até falavam dele
E outros tais
Pois cada vez há mais!)
Fez um docel
Com uma velha pele
Rafada
Encomendou-se ao Nada
E dormiu

A cidade, passando açodada
Não via nada
E a familia
Fingia que não o conhecia…

Ali ficou até anoitecer
Viriam as senhoras a oferecer
Sopinha quente e uma maçã
Só para confortar

E ele irá guardar
Em cada mão
Um pão
Para comer de manhã
Se acordar…

+ Maria Augusta Ribeiro

_________________________________________

Nara Rúbia Ribeiro: colunista CONTI outra

contioutra.com - Maria Augusta Ribeiro: a poetisa de outonais poentes

Escritora, advogada e professora universitária.
Administradora da página oficial do escritor moçambicano Mia Couto.
No Facebook: Escritos de Nara Rúbia Ribeiro
Mia Couto oficial

Você achou esse conteúdo relevante? Compartilhe!

REFLEXÕES SOBRE O HOMEM MODERNO

REFLEXÕES SOBRE O HOMEM MODERNO

Buscando enganar a sua realidade mediante a própria fantasia, o homem moderno procura a projeção da imagem sem o apoio da consciência. Evita a reflexão  esclarecedora, que pode desalgemar dos problemas, e permanece em contínuas tentativas de negar­se, mascarando a sua individualidade. O ego exerce predominância no seu comportamento e estereotipa fantasias que projeta no espelho  da imaginação.

Irrealizado, porque fugindo do enfrentamento com o seu eu, transfere­se de aspirações e cuidados a cada novidade que depara pelo caminho. Não dispõe de decisão para desmascarar o ego, por temer  petrificar­se de horror, qual se aquele fosse uma nova Medusa, que Perseu, e apenas ele, venceu, somente porque a fez contemplar­se no escudo espelhado que lhe dera Atena.

Obviamente, esse espelho representa a consciência lúcida, que descobre e separa objetivamente o que é real daquilo que apenas parece. Nesse sentido, o ego  que vive e reincide nos conteúdos inconscientes, necessita de conscientizar­se, desidentificando­se dos seus resíduos emergentes. O homem vive na área das percepções concretas e, ao mesmo tempo, das abstratas.

A cultura da arte faz que ele se porte, ora como observador, ora como  observado e ainda o observador que se observa, a fim de poder transformar  os complexos ou conflitos inconscientes em conhecimentos que possa conduzir, senhor  da sua realidade, dos seus atos.

Sua meta é poder sair da agitação, na qual se desgoverna, para observar­se, a distância, evitando o sofrimento macerador.

A este ato chamaremos a separação necessária entre o sujeito e o objeto, através da qual se observam os acontecimentos sem os sofrer de forma dilacerante, modificando o estado de ânimo angustiante para uma simples expressão do  conhecimento, mediante a transferência da realidade que jaz no  espírito para o  exterior das formas e da emoção.

A reflexão constitui um admirável instrumento para o logro, apoiando­se na cultura e na realização artística, social, solidária, que desvela os mananciais desentimento e de consciência humanos. Jogado em um mundo exterior agressivo, no qual predominam a luta pela sobrevivência do corpo e a manutenção do status, o homem acumula conteúdos psíquicos não descartáveis nem digeríveis, avançando, apressado, para o stress, as neuroses, as alienações.

Acumula coisas e valores que não pode usar e teme perder, ampliando o  campo do querer, mais pelo receio de possuir de forma insuficiente, sem dar­se conta da necessidade de viver bem consigo mesmo, com a família e os amigos, participando das maravilhosas concessões da vida que lhe estão ao alcance.

Comedir­se, agir com sensatez e tranqüilidade, confiar nos próprios valores e nas possibilidades latentes são regras que vão ficando esquecidas, a prejuízo da harmonia pessoal dos indivíduos.

Os interesses competitivos postos em jogo, a aflição por vencer os outros, o  sobrepor­se às demais pessoas desarticularam as propostas da vitória do homem sobre si mesmo, da sua realização interior, da sua harmonia diante dos problemas que enfrenta. As linhas do comportamento alteradas, induzindo ao exterior, devem agora ser revisadas, sugerindo a conduta para o conhecimento dos valores reais, a redescoberta do sentido ético da existência, a busca da sua imortalidade.

Quando o homem moderno passar a considerar a própria imortalidade em face da experiência fugaz do soma, empreenderá a viagem plenificadora de trabalhar  pelos projetos duradouros em detrimento das ilusões temporárias, observando o  futuro e vivendo­o desde já, empenhado no programa da sua conscientização  espiritual. Nele se insculpirá , então, o modelo da realização em um ser integral, destituído do medo da vida e da morte, da sombra e da luz, do transitório  e do  permanente, da aparência e da realidade.

De Joanna de Angelis, escrito por Divaldo Franco

No livro “O homem integral”

contioutra.com - REFLEXÕES SOBRE O HOMEM MODERNO

Você achou esse conteúdo relevante? Compartilhe!

Vídeo ilustrativo de 4 minutos dá uma verdadeira aula sobre depressão

Vídeo ilustrativo de 4 minutos dá uma verdadeira aula sobre depressão

No youtube existe um canal chamado Minutos Psíquicos onde podemos encontrar diversos vídeos ilustrados de poucos minutos falando sobre temáticas da área da Psicologia.

Além de indicar o canal, selecionei para você um vídeo em especial que, em 4 minutos, dá uma verdadeira aula sobre o que é Depressão, além de orientações gerais para lidar com a doença.

As ilustrações são de Pedro Francisco, vídeo/edição de Pedro Costa e voz e texto de André Rabelo.

Espero que seja útil!

A magia do baobá na obra de Saint Exupéry e Mia Couto

A magia do baobá na obra de Saint Exupéry e Mia Couto

Por Nara Rúbia Ribeiro

O baobá, também chamado de embondeiro, ou imbondeiro, talvez seja a árvore em torno da qual mais existam lendas, em todo o mundo. Árvore de idade incerta, posto que a sua madeira não possui anéis de crescimento, sua imponência, sua força, a fantasia que a envolve desafiam a imaginação humana. Cada um vê nessa árvore um diferente mistério. Uma magia peculiar.

Com espécies nativas da África, de Madagascar e do Senegal, foi um baobá nascido em solo brasileiro (Natal, Rio Grande do Norte) que inspirou Saint Exupéry ao escrever “O pequeno príncipe” e no desenho das aquarelas. Neste livro, o baobá é visto como um iminente perigo ao minúsculo asteroide do protagonista, e razão pela qual ele necessita, urgentemente, de um carneiro que possa comer os baobás assim que brotarem do chão.

contioutra.com - A magia do baobá na obra de Saint Exupéry e Mia Couto
Baobá que inspirou Saint Exupéry-  Natal, Rio Grande do Norte

Há uma outra história de que gosto muito, narrada por Mia Couto no livro “Cada homem é uma raça”. Concebida pelo escritor à sombra de embondeiro, ou, quem sabe, apenas à sombra de sua lembrança, trata-se do conto “O embondeiro que sonhava pássaros”.

É a história de um passarinheiro negro que morava num embondeiro e que visitava, com recorrência, um bairro de brancos, despertando o encantamento das crianças e a desconfiança dos adultos.

O homem puxava de uma muska (Muska – nome que, em chissena, se dá à gaita-de-beiços.) e harmonicava sonâmbulas melodias. O mundo inteiro se fabulava. Por trás das cortinas, os colonos reprovavam aqueles abusos. Ensinavam suspeitas aos seus pequenos filhos – aquele preto quem era? Alguém conhecia recomendações dele? Quem autorizara aqueles pés descalços a sujarem o bairro? Não, não e não. O negro que voltasse ao seu devido lugar.”

E assim o passarinheiro ganhou fama e passou a ser objeto de comentários de todo o bairro, despertando diferentes reações em cada um.

Um preto ganhar fama não era algo aceitável, posto que nem mesmo a convivência era ali tolerada. Assim, os moradores do bairro trataram de denegrir a sua imagem. De desumanizá-lo, de sorte a poderem melhor discriminá-lo. Quiçá prendê-lo. Ou matá-lo.

Mas logo se aprontavam a diminuir-lhe os méritos: o tipo dormia nas árvores, em plena passarada. Eles se igualam aos bichos silvestres, concluíam.”contioutra.com - A magia do baobá na obra de Saint Exupéry e Mia Couto

Diante do encantamento das crianças, especialmente de um menino chamado Tiago, o passarinheiro lhes transmitia lendas acerca da grande árvore:

 “(…) aquela era uma árvore muito sagrada, Deus a plantara de cabeça para baixo.

“Aquela árvore é capaz de grandes tristezas. Os mais velhos dizem que o embondeiro, em desespero, se suicida por via das chamas. Sem ninguém pôr fogo.”

Mia Couto se vale, no conto, de sua poesia ímpar e das crenças africanas acerca do embondeiro. Ele discorre sobre a alma preconceituosa e medrosa dos homens, sobre a fantasia das crianças, e ainda sobre as desigualdades de um mundo em que a cor de um homem pode servir de fulcro  para a sua condenação cabal.

Assim, o embondeiro é, tanto no conto quanto na vida, uma fonte de magia a cada um que de perto observar a sua imagem, trazendo-a ao coração. Ele nos mostra a grandeza da Natureza que nos cerca e do quanto a nossa mente ainda necessita expandir para bem compreende-la e integrar-se a ela.

E, talvez, nas palavras de Mia Couto, quem sabe em breve tempo a humanidade já consiga assimilar o que, do embondeiro, o menino Tiago viu em sonho:

“Dentro, o menino desatara um sonho: seus cabelos se figuravam pequenitas folhas, pernas e braços se madeiravam. Os dedos, lenhosos, minhocavam a terra. O menino transitava de reino: arvorejado, em estado de consentida impossibilidade. E do sonâmbulo embondeiro subiam as mãos do passarinheiro. Tocavam as flores, as corolas se envolucravam: nasciam espantosos pássaros e soltavam-se, petalados, sobre a crista das chamas.”

Talvez ainda possamos enxergar os sonhos do embondeiro. Afinal, afirma Mia, que o embondeiro sonha pássaros. Sonhemos também!

contioutra.com - A magia do baobá na obra de Saint Exupéry e Mia Couto

Nara Rúbia Ribeiro: colunista CONTI outra

contioutra.com - A magia do baobá na obra de Saint Exupéry e Mia Couto

Escritora, advogada e professora universitária.
Administradora da página oficial do escritor moçambicano Mia Couto.
No Facebook: Escritos de Nara Rúbia Ribeiro
Mia Couto oficial

Você achou esse conteúdo relevante? Compartilhe!

Ajudar não é tão simples quanto parece. Conheça 7 dicas para ajudar corretamente.

Ajudar não é tão simples quanto parece. Conheça 7 dicas para ajudar corretamente.
7 dicas para ajudar corretamente

Ajudar outra pessoa é sem dúvida algo muito bom, mas, como em tudo na vida, aqui também há dois lados. Ajudar também é perigoso, podendo prejudicar tanto quem ajuda como quem é ajudado. Por isso, é necessário ter cuidado para ajudar corretamente, evitando tal prejuízo.

Quem já viajou de avião conhece esta cena: alguém da tripulação em pé, no meio do corredor, antes do avião decolar, gesticulando e demonstrando ao vivo as regras de segurança, explicando como se comportar em caso de acidente, onde se encontram as saídas de emergência, etc. A cena é tão corriqueira que fica fácil reconhecer quem está voando pela primeira vez, já que esses são normalmente os únicos que prestam atenção nas pantomimas da tripulação da aeronave. Mas seria importante prestar atenção, sempre de novo, já que as regras apresentadas podem salvar vidas. E uma dessas regras vai até além disso, valendo, na verdade, como uma regra para a vida: quando é demonstrada a queda das máscaras de oxigênio do teto em caso de perda de pressão no avião, sempre se repete que “se deve colocar primeiro a própria máscara antes de ajudar alguém a colocar a sua”. Sim, isso não vale somente para a máscara de oxigênio no avião, mas em toda e qualquer situação, sempre que você queira ou tenha que ajudar alguém. E aqui temos nossa primeira dica para quem quer ajudar corretamente:

1. Antes de ajudar outra pessoa, pense em si mesmo!

É como querer salvar a vida de quem está se afogando: não pule na água e tente socorrer se você mesmo não sabe nadar bem o suficiente para sair novamente da água, pois, ao invés de ajudar a evitar uma vítima de afogamento, você contribuirá para que haja duas, o que não faria sentido.

É claro que ajudar é um gesto nobre e a solidariedade com o próximo é uma grande virtude, e é claro que uma ajuda é muitas vezes ligada a um certo sacrifício, mas esse sacrifício jamais pode ser tão grande ao ponto de prejudicar seriamente quem está ajudando. Ajude o outro, mas respeite a si mesmo, respeite seus próprios limites e nunca permita que a ajuda prestada prejudique sua existência. Por exemplo: se você tem um único pão e encontra alguém com fome, você pode sim fazer um sacrifício, partir o pão no meio e dar a metade para a pessoa faminta. Chamamos isso de partilha, de solidariedade. Mas não faria qualquer sentido dar todo o pão para pessoa e você mesmo passar fome mais tarde. Basta se recordar do que disse Jesus Cristo: que devemos amar o próximo como a nós mesmos. Sim, como nós mesmos. Mas nunca mais que a nós mesmos!

Isso vale especialmente para aquelas ajudas que temos que prestar sem ter escolha, como cuidar de um parente que se encontra enfermo, por exemplo. É claro que aqui a ajuda é extremamente importante, muitas vezes 24 horas por dia e não se pode simplesmente dizer “vou cuidar de mim agora!”, mas ainda assim: tente encontrar outras pessoas que lhe auxiliem, tente ter tempo livre para você mesmo de vez em quando, para sair de perto da situação, para descansar, para recarregar as baterias, para repor as forças, pois, caso contrário, você poderá terminar cuidando de um enfermo e ficar doente no final.

Então, tanto faz quem precisa de sua ajuda: cuide primeiro de você mesmo. Se você, por exemplo, se sente cansado(a), exausto(a), literalmente estafado(a) e seus filhos (ou quem quer que seja!) precisam de você, tente descansar primeiro, mesmo porque sua ajuda será muito mais eficaz depois do descanso.

2. Ao ajudar, deixe-se guiar pela compaixão e pela generosidade, jamais pela vaidade!

Recordo-me de uma situação de quando ainda era jovem. Eu estava sentado em uma praça, numa pequena cidade do interior, e li no banco uma placa que dizia: “Este banco foi doado com grande generosidade por FULANA DE TAL”. Informei-me, querendo saber quem era a “fulana de tal” tão generosa. Fiquei sabendo que se tratava de uma mulher riquíssima, viúva de um dos maiores fazendeiros da região, dona de milhares de cabeças de gado e (!) muito religiosa. Em sua religiosidade, ela tentava ajudar aqui e acolá, mandou reformar a igreja, colocou bancos na praça e até mandou construir uma quadra de esportes para os mais jovens. Até aqui tudo bem. O problema é que ela fazia questão de rotular sua ajuda sempre, com placas que a indicavam como pessoa generosa. Então, com o passar do tempo, lia-se o nome da mulher por toda cidade e lia-se também sobre o tamanho de sua generosidade. Ela frisava tanto que era generosa que isso deixou claro o que realmente se escondia por trás de sua ajuda: uma enorme vaidade!

Mesmo que não percebamos, muitas vezes ajudamos por pura vaidade, por acreditarmos que solidariedade é uma virtude e por nos acharmos pessoas dignas de receber o reconhecimento alheio pelo que fizemos. Não é que seja errado sentir orgulho dos próprios atos e querer mostrar ao mundo o quanto se é uma pessoa boa, mas aqui seria necessário ser sincero consigo mesmo: quem ajuda e cobra reconhecimento para alimentar sua vaidade não faz o que faz para o outro, mas sim para si mesmo. E isso nada tem a ver com compaixão e generosidade.

3. Ao ajudar, não espere nada em troca!

Ajudar alguém esperando receber algo por isso não é realmente uma ajuda. É uma troca, é um negócio, no qual eu faço algo e espero uma remuneração. Quem realmente quer simplesmente ajudar, ajuda. Ele faz o que deve ser feito, dá algo ao outro e não espera nenhum retorno, no máximo, o retorno garantido pela vida, que devolve tudo um dia, seja bom ou ruim, mas nunca qualquer forma de “pagamento” por parte da pessoa ajudada.

4. Tenha certeza de que o outro quer ser ajudado!

Vem-me à cabeça uma propaganda na televisão. Uma mulher idosa parada no meio-fio, em uma rua extremamente movimentada. Um homem vem, a segura pelo braço e a ajuda a atravessar a rua. Só que a mulher não queria atravessar a rua, ela esperava pelo ônibus. No final, o homem vai embora todo feliz por ter ajudado alguém e a mulher fica lá totalmente irritada, pois nesse meio tempo, o ônibus chegou e partiu sem ela.

Esse exemplo mostra bem um grande problema que podemos enfrentar quando tentamos ajudar alguém: sem querer, impomos nossa ajuda sem nem perguntar se o outro realmente a quer. E terminamos nos intrometendo em sua vida, tentando até convencê-lo de que ele precisa de algo (=ajuda) de qualquer jeito e forçando-o a aceitar um apoio que ele não quer e nem solicitou.

Então, antes de ajudar alguém, confira primeiro se ele quer realmente sua ajuda. Ao invés de “segurar a senhora pelo braço e atravessar a rua com ela”, pergunte primeiro se é isso que ela quer.

5. Tenha certeza de que o outro precisa ser ajudado!

Na semana passada, apareceu uma conhecida em minha casa, querendo falar comigo com urgência. Ela precisava de ajuda financeira, pois tinha dívidas a pagar e o saldo no banco estava baixo. Não era uma quantia irrisória, mas, mesmo assim, pensei em ajudar, pois se tratava de alguém de quem gosto muito. Mas pedi um tempo para pensar. Ainda no mesmo dia, vi que a mulher postou no Facebook fotos de sua última viagem (há somente uma semana atrás!), fazendo questão de mostrar o luxo do hotel onde havia ficado hospedada. Fiquei meio pasmo e dei uma olhada mais minuciosa em seu perfil e vi que a mulher só se preocupava em gastar dinheiro, com viagens, com roupas, com futilidades. Por um lado, não é de minha conta como ela vive ou deixa de viver. Ela é livre para isso. Mas também sou livre para constatar que seu problema não era falta de dinheiro, mas sim uma definição errada de suas prioridades. Percebi que essa pessoaqueria ajuda, mas realmente não precisava. A ajuda que ela precisava não era dinheiro, mas sim aprender urgentemente a lidar com o dinheiro que tinha, estabelecendo as prioridades corretamente. Mas essa não era a ajuda ela queria.

Então, antes de fazer algum sacrifício para ajudar alguém, certifique-se de que essa pessoa realmente precisa dessa ajuda. Caso não, guarde sua energia, seu tempo e mesmo dinheiro para ajudar alguém que realmente precise.

6. Diferencie o tipo de ajuda prestada!

Existem, em minha opinião, dois tipos de ajuda: a ajuda caritativa e a ajuda para autoajuda.

A ajuda caritativa deveria ser uma ajuda incondicional. É aquele tipo de ajuda que praticamos na rua, quando alguém nos pede, por exemplo, dinheiro para comer. Ou é aquela ajuda que damos a refugiados de guerra ou de catástrofes, aqueles alimentos que doamos, aquelas roupas que cedemos a quem se encontra em situação de desespero e de luta pela sobrevivência. Aqui não deveríamos impor quaisquer condições. É bobagem dar um dinheiro a um homem que pede no metrô, mas querer impor a ele que compre comida com o dinheiro, ao invés de usá-lo para beber ou fumar. É bobagem porque você jamais poderá controlar isso. E é bobagem porque não é realmente importante saber. Aqui faz mais sentido não dar nada ou dar e esquecer imediatamente que deu.

Já a ajuda para autoajuda só funciona se for ligada a certas condições. Do que adiantaria, por exemplo, pagar uma escola para alguém finalmente aprender uma profissão se esse alguém nunca for para a aula? Aqui é claro: a ajuda tem que ser condicionada pela assiduidade do aluno na escola e talvez também por boas notas. Lembro-me de uma parenta, que estava desempregada e queria montar um negócio próprio. Ela me pediu ajuda para isso. Ajudei-a a montar uma pequena lanchonete e prontifiquei-me a apoiá-la financeiramente no início, até que o negócio caminhasse por conta própria. Claro que impus a ela condições para minha ajuda, sendo a principal o seu esforço para fazer o negócio vingar. A coisa correu bem por duas semanas. Depois ela começou a trabalhar menos, abrindo a lanchonete somente algumas horas por dia, normalmente no final da tarde, alegando que estava tendo muito pouco tempo livre, para lazer. Ela preferia fazer mil outras coisas (assistir televisão, passear, bater papo com vizinhos…) a trabalhar na própria lanchonete. Depois de adverti-la algumas vezes, sem que ela me levasse a sério, cortei toda e qualquer ajuda. A lanchonete não vingou e a mulher vive hoje do mesmo jeito que vivia antes.

Se eu tivesse prosseguido com minha ajuda financeira, eu não a teria realmente ajudado. A intenção foi a de proporcioná-la uma forma de manter a própria vida, sem depender de outras pessoas. Foi essa a proposta e ela concordou com as condições que impus no início. No momento em que bateu preguiça e comodismo na mulher, a proposta inicial perdeu a validade e com isso também perdi a disposição de ajudar, já que prosseguir dando dinheiro só serviria para uma coisa: para criar dependência.

Portanto, verifique que tipo de ajuda você está prestando. Se for uma ajuda caritativa, ajude e pronto, sem condições e sem apurar nada. Mas se for uma ajuda para autoajuda, controle sempre de novo se o objetivo da ajuda realmente está sendo atingido.

7. Solidariedade não é uma via de mão única!

Este ponto parece uma contradição ao ponto “3. Ao ajudar, não espere nada em troca!”, mas não é. Realmente não devemos esperar nada em troca quando ajudamos, mas devemos ter consciência de que solidariedade só funciona quando há um equilíbrio. Isso não significa que quem dá deve esperar um retorno, mas é necessário que haja um retorno quando se dá, mesmo que não seja no mesmo momento, mesmo que não seja da mesma pessoa. A falta de equilíbrio ocorre quando alguém só quer receber dos outros sem nunca querer dar nada, mas também quando alguém dá sem ser crítico e sem vigiar essa falta de equilíbrio. Sim, você deve dar sem esperar nada em troca, mas você deveria questionar sua ajuda quando perceber que a pessoa que a recebe nunca se mostra disposta a dar também algo de si, seja lá a quem for. Ajudar pessoas assim constantemente é contribuir para o desequilíbrio entre o dar e o receber, e esse desequilíbrio não faz bem a ninguém, já que reforça a ideia da solidariedade como via de mão única, prejudicando a sociedade como um todo.

10 dicas para melhorar a comunicação com um doente de Alzheimer

10 dicas para melhorar a comunicação com um doente de Alzheimer

Por Carole Larkin

Será que seu ente querido está apenas te ignorando ou existe uma outra maneira de melhorar a comunicação que possa aproximar vocês?

Experimente aplicar em sua rotina algumas das dicas listadas abaixo e avalie se consegue alcançar melhoras na comunicação.

As dicas são indicadas para doentes que encontram-se classificados em estágios médios (declínio cognitivo mediano) ou superiores da doença.

  • Faça contato visual. Sempre que precise falar com uma pessoa que tenha a doença de Alzheimer, faça-o  cara a cara e mantenha o contato visual. Use também o nome da pessoa, pois isso pode ajudá-la a melhor orientar sua atenção para você. Se a pessoa estiver bem consciente de sua presença e você conseguir manter sua atenção ao falar, é bem mais provável que ela entenda a mensagem que você quer transmitir. Também é importante que você sempre se aproxime de frente. Abordar a pessoa chegando lateralmente ou por trás pode assustá-la e dificultar a comunicação.
  • Converse no mesmo nível. Posicione-se para que sua cabeça fique no mesmo nível da pessoa com quem quer conversar. Flexione os joelhos ou sente-se para ficar melhor posicionado. Não se levante de maneira repentina ou faça movimentos bruscos perto da pessoa- isso pode ser intimidante e assustador. O doente de Alzheimer não conseguirá prestar atenção em você se estiver assustado.
  • Diga-lhes o que você vai fazer antes de fazê-lo. Especialmente se você for tocá-los. Eles precisam saber o que acontecerá, de modo que eles não pensem que você vai agredi-los ou mesmo invadir um espaço pessoal.
  • Fale com calma. Sempre fale de uma forma calma e com um tom otimista na voz, mesmo que  você não se senta assim naquele momento. Se você soar irritado ou agitado, muitas vezes eles vão espelhar esse sentimento de volta para você e isso, sempre que possível, deve ser evitado.
  • Fale devagar. Fale  na metade da sua velocidade normal quando falar com eles. Respire entre cada frase. Eles não podem processar palavras tão rápido quanto as pessoas não doentes podem. Dê-lhes a chance de recuperar o atraso de entendimento falando lentamente.
  • Procure usar frases curtas. Use frases diretas e curtas com apenas uma ideia para cada sentença. Normalmente, eles só podem se concentrar em uma ideia de cada vez.
  • Só faça uma pergunta de cada vez. E deixe-os responder antes de fazer outra pergunta. Você pode perguntar a quem, o quê, onde e quando, mas não por que. “Por quê?” é muito complicado. Eles vão tentar responder, falhar e ficar frustrados. Se puder, evite.
  • Não diga “lembra?”. Muitas vezes, eles não serão capazes de fazê-lo, e você estará apenas apontando-lhes as suas deficiências. Isso pode ser entendido como um insulto, e pode causar raiva e / ou constrangimento.
  • Inverta frases negativas tornando-as positivas. Por exemplo, diga “Vamos por aqui” em vez de “Não vá lá”. Também é necessário cuidado para não tratá-los como crianças. Respeite o fato de que eles são  adultos e trate-os como tal.
  • Não discuta com eles. Discussões não levam a lugar algum. Em vez disso, reconheça seus sentimentos, dizendo: “Eu entendo que você está com raiva (triste, chateado, etc…). Reconhecer esses sentimentos permite que eles saibam que eles não estão sozinhos e, em seguida, possam ser redirecionados para outro pensamento. Por exemplo, “Parece que você perdeu a sua mãe (marido, pai, etc …). Você os amou muito, não é? Conte-me sobre o tempo… “Em seguida, peça para que conte uma das suas histórias favoritas sobre essa pessoa).

Por Carole Larkin

Do original: 10 Tips for Communicating with an Alzheimer’s Patient

Traduzido e adaptado por Josie Conti

Para melhor conhecer as pessoas – Flávio Gikovate

Para melhor conhecer as pessoas – Flávio Gikovate

Devemos tomar alguns cuidados para melhor conhecer a maneira de ser e pensar das pessoas.

O modo mais adequado de entendermos o que se passa com o outro não é se colocar no lugar dele usando a si como referência. Devemos olhar para o outro com realismo, objetividade, assumindo uma postura que leve em conta que os fatos devem falar mais alto que as ideias.

Esse blog possui a autorização de Flávio Gikovate para reprodução desse material.

Para mais informações sobre Flávio Gikovate
Site: www.flaviogikovate.com.br
Facebook: www.facebook.com/FGikovate
Twitter: www.twitter.com/flavio_gikovate
Livros: www.gikovatelojavirtual.com.br

Blogueiro brasileiro residente na Holanda explica origens da violência a partir da desigualdade social

Blogueiro brasileiro residente na Holanda explica origens da violência a partir da desigualdade social

Do Blog de Daniel Duclos

Do original: Da relação direta entre ter de limpar seu banheiro você mesmo e poder abrir sem medo um Mac Book no ônibus

UPDATE: Muita gente tem lido este post como uma idealização da Holanda como um lugar paradisíaco. Nada mais longe da verdade. A Holanda não é nenhum paraíso e tem diversos problemas, muitos dos quais eu sinto na pele diariamente. O que pretendo fazer aqui é dizer duas coisas: a origem da violência no Brasil é a desigualdade social e 2, apesar da violência que gera, muita gente gosta dessa desigualdade e fica infeliz quando ela diminui, porque dela se beneficia e não enxerga a ligação desigualdade-violência. Por fim: esse post não é sobre a Holanda. A Holanda estar aqui é casual. Esse post é sobre o Brasil, minha pátria mãe.

A sociedade holandesa tem dois pilares muito claros: liberdade de expressão e igualdade. Claro, quando a teoria entra em prática, vários problemas acontecem, e há censura, e há desigualdade, em alguma medida, mas esses ideais servem como norte na bússola social holandesa.

Um porteiro aqui na Holanda não se acha inferior a um gerente. Um instalador de cortinas tem tanto valor quanto um professor doutor. Todos trabalham, levam suas vidas, e uma profissão é tão digna quanto outra. Fora do expediente, nada impede de sentarem-se todos no mesmo bar e tomarem suas Heinekens juntos. Ninguém olha pra baixo e ninguém olha por cima. A profissão não define o valor da pessoa – trabalho honesto e duro é trabalho honesto e duro, seja cavando fossas na rua, seja digitando numa planilha em um escritório com ar condicionado. Um precisa do outro e todos dependem de todos. Claro que profissões mais especializadas pagam mais. A questão não é essa. A questão é “você ganhar mais porque tem uma profissão especializada não te torna melhor que ninguém”.

Profissões especializadas pagam mais, mas não muito mais. Igualdade social significa menor distância social: todos se encontram no meio. Não há muito baixo, mas também não há muito alto. Um lixeiro não ganha muito menos do que um analista de sistemas. O salário mínimo é de 1300 euros/mês. Um bom salário de profissão especializada, é uns 3500, 4000 euros/mês. E ganhar mais do que alguém não torna o alguém teu subalterno: o porteiro não toma ordens de você só porque você é gerente de RH. Aliás, ordens são muito mal vistas. Chegar dando ordens abreviará seu comando. Todos ali estão em um time, do qual você faz parte tanto quanto os outros (mesmo que seu trabalho dentro do time seja de tomar decisões).

Esses conceitos são basicamente inversos aos conceitos da sociedade brasileira, fundada na profunda desigualdade. Entre brasileiros que aqui vêm para trabalhar e morar é comum – há exceções –  estranharem serem olhados no nível dos olhos por todos – chefe não te olha de cima, o garçom não te olha de baixo. Quando dão ordens ou ignoram socialmente quem tem profissão menos especializadas do que a sua, ficam confusos ao encontrar de volta hostilidade em vez de subserviência. Ficam ainda mais confusos quando o chefe não dá ordens – o que fazer, agora?

Os salários pagos para profissão especializada no Brasil conseguem tranquilamente contratar ao menos uma faxineira diarista, quando não uma empregada full time. Os salários pagos à mesma profissão aqui não são suficientes pra esse luxo, e é preciso limpar o banheiro sem ajuda – e mesmo que pague (bem mais do que pagaria no Brasil) a um ajudante, ele não ficará o dia todo a te seguir limpando cada poerinha sua, servindo cafézinho. Eles vêm, dão uma ajeitada e vão-se a cuidar de suas vidas fora do trabalho, tanto quanto você. De repente, a ficha do que realmente significa igualdade cai: todos se encontram no meio, e pra quem estava no Brasil na parte de cima, encontrar-se no meio quer dizer descer de um pedestal que julgavam direito inquestionável (seja porque “estudaram mais” ou “meu pai trabalhou duro e saiu do nada” ou qualquer outra justificativa pra desigualdade).

Porém, a igualdade social holandesa tem um outro efeito que é muito atraente pra quem vem da sociedade profundamente desigual do Brasil: a relativa segurança. É inquestionável que a sociedade holandesa é menos violenta do que a brasileira. Claro que aqui há violência – pessoas são assassinadas, há roubos. Estou fazendo uma comparação, e menos violenta não quer dizer “não violenta”.

O curioso é que aqueles brasileiros que queixam-se amargamente de limpar o próprio banheiro, elogiam incansavelmente a possibilidade de andar à noite sem medo pelas ruas, sem enxergar a relação entre as duas coisas. Violência social não é fruto de pobreza. Violência social é fruto de desigualdade social. A sociedade holandesa é relativamente pacífica não porque é rica, não porque é “primeiro mundo”, não porque os holandeses tenham alguma superioridade moral, cultural ou genética sobre os brasileiros, mas porque a sociedade deles tem pouca desigualdade. Há uma relação direta entre a classe média holandesa limpar seu próprio banheiro e poder abrir um Mac Book de 1400 euros no ônibus sem medo.

Eu, pessoalmente, acho excelente os dois efeitos. Primeiro porque acredito firmemente que a profissão de alguém não têm qualquer relação com o valor pessoal. O fato de ter “estudado mais”, ter doutorado, ou gerenciar uma equipe não te torna pessoalmente melhor que ninguém, sinto muito. Não enxergo a superioridade moral de um trabalho honesto sobre outro, não importa qual seja. Por trabalho honesto não quero dizer “dentro da lei” –  não considero honesto matar, roubar, espalhar veneno, explorar ingenuidade alheia, espalhar ódio e mentira, não me importa se seja legalizado ou não. O quanto você estudou pode te dar direito a um salário maior – mas não te torna superior a quem não tenha estudado (por opção, ou por falta dela). Quem seu pai é ou foi não quer dizer nada sobre quem você é. E nada, meu amigo, nada te dá o direito de ser cuzão. Um doutor que é arrogante e desonesto tem menos valor do que qualquer garçom que trata direito as pessoas e não trapaceia ninguém. Profissão não tem relação com valor pessoal.

Não gosto mais do que qualquer um de limpar banheiro. Ninguém gosta – nem as faxineiras no Brasil, obviamente. Também não gosto de ir ao médico fazer exames. Mas é parte da vida, e um preço que pago pela saúde. Limpar o banheiro é um preço a pagar pela saúde social. E um preço que acho bastante barato, na verdade.

PS. Ultimamente vem surgindo na sociedade holandesa um certo tipo particular de desigualdade, e esse crescimento de desigualdade tem sido acompanhado, previsivelmente, de um aumento respectivo e equivalente de violência social. A questão dos imigrantes islâmicos e seus descendentes é complexa, e ainda estou estudando sobre o assunto.

Nota CONTIoutra: Conheca mais sobre Daniel Duclos e seu trabalho acessando o blog http://www.ducsamsterdam.net

INDICADOS