O que as mandalas tibetanas nos ensinam sobre a arte do desapego

O que as mandalas tibetanas nos ensinam sobre a arte do desapego

Por Marcella Starling

No meio de um templo budista tibetano, um barulho se destaca: o som de um tubo de metal sendo constantemente raspado por um pequeno bastão. O barulho não é algo que incomode, mas não é de longe é algo que passa despercebido naquele santuário do silêncio. São alguns monges que através de um trabalho constante e disciplinado, cuidadosamente acomodam em seus devidos lugares, milhões de grãos coloridos de areia, para a expressão sagrada da arte e da fé.

Mas diferente da arte feita por Da Vinci e Van Gogh, que venceram o elemento tempo e até hoje nos espantam por sua beleza e mistério, as mandalas dos devotos já possuem data de validade – no momento que ela estiver completa e for capaz de tirar o fôlego do mais incrédulo, ela será destruída, e suas cinzas serão devolvidas ao universo.

Na primeira vez que li sobre o assunto, inconformada com a livre decisão de se destruir algo fruto de uma dedicação tão sincera e exclusiva, me perguntei ‘por quê?’

Hoje, consigo entender.

Apesar de ser estonteante, o ritual das mandalas não nos espanta pela sua perfeição e beleza. Muito menos pelo mistério que o ronda, afinal não é mistério a lição que os metódicos devotos nos passam: as maravilhas da destruição, enquanto reconstruir é uma possibilidade constante e necessária. Nos ensinam melhor do que qualquer bazar beneficente, a arte do desapego.

Pois bem, me dediquei por 24 anos a depositar minhas ‘pedras’ de areia emocionais nos lugares … errados! E uma vez, erroneamente entendida como pronta, a mandala gritava comigo. Me chamando atenção para aquela figura, que eu mesma construí, feia e assimétrica. Aquilo não poderia ser nunca chamado de arte, menos ainda de fé.

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Monges tibetanos iniciando a criação de uma nova mandala

E por mais que o contra senso seja evidente, quanto mais eu olhava para a minha imagem percebida, menos eu queria mudá-la. Não é que o feio não me incomodasse, mas é que eu não acreditava um dia ser capaz de nada melhor. Passando o feio ser o meu bonito, dada as limitações impostas por mim… a mim mesma.

Ademais, imagina o trabalho?!! não achava que destruir fosse difícil, mas construir, gastar todos aqueles anos, para nada? Melhor ficar no que pelo menos já tinha ‘acabado’.

Mas a surpresa é que não estava acabado. E entender isso foi o primeiro passo.

O que antes gritava comigo, começou a me bater, tornando a situação intolerável. Eu sentia no ar o cheiro de ‘algo precisa mudar’. Acredito que todos grandes guerreiros sentiram o mesmo cheiro antes de se lançarem nos campos de batalha em busca de honra, justiça ou glória. Não que eu seja uma grande guerreira, muito menos estava a procura de qualquer mudança socialmente desejável. Mas fato é que aquele cheiro me fez criar coragem de ir para o campo de batalha com meu pior inimigo – a minha própria mente.

Nesta guerra, descobri que muito mais difícil do que construir, é destruir. As ‘pedras’ de areia já estavam tão pesadas e arraigadas que era necessário muita força de vontade e persistência para movê-las ou até mesmo destruí-las. Ao contrário da construção que eu quase nem percebia quando um grão caía em seu lugar, na destruição eu vi e senti todos os grãos ali dispostos.

Quando finalmente a destruição foi aceita, enxerguei que além de mais difícil, ela era mais bonita. Ela se tornou tão natural quanto necessária. E quando o ‘nada’ ali restou, fiquei parada diante daquele vazio, que agora me solicitava, com ternura, a contemplá-lo. e como se um grande mestre ali o tivesse colocado, estava um espelho, refletindo a minha imagem real.

Foi o espaço dado pela destruição que me ensinou o valor do vazio.

 

Antes não havia espaço antes para o espelho. Minhas ‘pedras’ de areia, ocupavam todo o lugar. Foi o espaço dado pela destruição que me ensinou o valor do vazio. passei a celebrar o vazio como um convite ao novo. Uma oportunidade de construção. E como nada mais gritava comigo, consegui me escutar. Escutar que ter meu vazio significava espaço para caber o meu mundo.

E pela primeira vez fui invadida pela fé, pela gratidão e pelo amor. E naquele momento tive certeza de que eu era capaz de fazer com que a minha próxima mandala fosse linda. Mas que mesmo assim, eu não me deixasse enganar, porque mesmo linda ela não estaria pronta, e teria que ser novamente destruída e oferecida ao universo, para que então eu novamente iniciasse o processo artístico do autoconhecimento.

Entender que ela nunca estará pronta, foi o penúltimo passo, de muitos últimos passos que eu já dei.

E assim como um dente-de-leão que chega ao seu esplendor antes de ser soprado e devolvido ao universo, é a minha compreensão da efemeridade da vida.

Agora pare! E vá escutar cada grão que cai em sua mandala…

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Karsha monestary, near Padum, Ladakh.
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Destruição de uma mandala de areia. Fotografia de Jessica Foote.

Texto reproduzido com a autorização da autora.

 

contioutra.com - O que as mandalas tibetanas nos ensinam sobre a arte do desapegoMarcella Starling

É mineira e paulista de coração. É advogada e estudante de economia. Está tentando ser aquela pedra jogada ao rio, que gera pequenas ondas ao redor.

Leia mais textos da autora em seu blog The Shrinking Pants 

Não estou fechada para balanço, mas também não tenho pressa de amar

Não estou fechada para balanço, mas também não tenho pressa de amar

As pessoas andam apressadas demais. Eu, não. Gosto de ver a vida com a paciência de quem já visitou os primórdios do mundo. Peço licença ao silêncio e cantarolo, vez ou outra, alguma canção de Caymi. É incrível como toda pressa se esconde diante da mansidão de Caymi, envergonhada: “Minha jangada vai sair pro mar”… E ela sai, mesmo que o mar seja de utopias, de incertezas, mesmo que ninguém me acompanhe. A propósito, esclareço que iniciei esta crônica para dizer que não tenho pressa de amar.

Na espera de que algo aconteça, perdemos, despercebidos, o acontecido. Eu aprendi a fazer amor com o tempo. A enamorar-me dos ponteiros do relógio. Aprendi com Drummond que amor é verbo intransitivo e amo sem precisar de um outro específico, sem projetar nele as minhas frustrações e carências, sem exigir carícias, sem mendigar atenção. E estou pronta e viva a tudo o que do Universo recebo e diante dele eu me curso, em gratidão.

Eis algumas razões da minha ausência de pressa…

1 – A minha solidão nunca está sozinha.
Tenho muitos eus. Estar sozinha comigo mesma faz com que seja possível esse diálogo entre as várias partes de mim, de sorte que eu venha a compreender-me de modo total e perene.

2 – A única história de amor que nos complementa é o amor próprio.
Ninguém se complementa no outro. Não raro, o que fazemos é nele projetar as nossas lacunas, fazendo-o escravo das nossas dores e álibi da nossa fraqueza, culpando-o por nossa carência infinita. Estar com o outro para dele algo receber é desconhecer as bases da afetividade mútua.
É necessário que nos amemos a ponto de cortejarmos, secretamente, a nossa própria companhia, enamorados de nós mesmos.

3 – Não é que eu tenha medo de amar. O que temo são desamores disfarçados de afeição.
As pessoas querem demasiadamente um amor. Mas poucos estão preparados para ver, no outro, a beleza do seu sorriso, a força de suas marcas de expressão, a grandeza das entrelinhas daquilo que ele fala.
O que se quer é a desesperada companhia, o prazer carnal, é ver-se aceito no outro. Raros são os que percebem que esse querer, em regra, faz do outro um objeto para a nossa pessoal realização, prova maior do nosso egoísmo.

4 – Passei por metamorfoses e amo como se “metamorfosse
Já passei por muitas crises existenciais. Diversas tiveram por gatilho amores não correspondidos, relacionamentos desfeitos, términos mal alinhavados, coração retalhado, vastidões de vazios. Mas, após passar por tantas metamorfoses, a minha alma ama como se o amor fosse um fim em si mesmo. Como se eu me enamorasse de amar. Como se o meu mar de sentimentos metamorfosse.

E a minha jangada sempre sai pro mar… Esse é o trabalho da minha alma e, como dizia Caymi, “um peixe bom” todos os dias “eu vou trazer”, afinal, a vida só tem propósito para  aquele  que não espera por outro para arquitetar o próprio viver.

10 razões pelas quais as pessoas sarcásticas são mais espertas do que você pensa

10 razões pelas quais as pessoas sarcásticas são mais espertas do que você pensa

Por Margielyn Musser

Algumas pessoas optam pelo sarcasmo como forma de agressão não direta. Outras dizem que ele é uma ferramenta emocional que protege nossos sentimentos. Outras, ainda, dizem que ele é uma forma de insultar e responder à hipocrisia social vigente.

Estudos  mostram que as pessoas sarcásticas são mais espertas do que você pensa. Então, reunimos 10 sólidas razões por que as pessoas sarcásticas são realmente muito inteligentes.

Confira!

1. Elas podem ver através de você

De acordo com Dr. Shaman-Tsoory, que é um psicólogo da Universidade de Haifa, “a compreensão do estado de espírito e das emoções de outras pessoas está relacionada com nossa capacidade de entender o sarcasmo.”

Eles podem ler muito facilmente as pessoas e captar mensagens subliminares em uma conversa e em nossas mensagens corporais.

2. Elas têm cérebros com mais clareza de compreensão

Em um artigo que escreveu Richard Chin para o Smithsonian, ele explicou que o cérebro humano tem que trabalhar mais para entender o sarcasmo. Isso significa que as pessoas que usam sarcasmo, muitas vezes, utilizam mais seus cérebros que você. Compreender o sarcasmo envolve a decodificação de nuances de entonação e contexto da mensagem, a mensagem não é óbvia.

3. Elas são grandes solucionadoras de problemas

Em um artigo muito similar, Richard Chin afirma que o sarcasmo também nos ajuda com nossas habilidades de resolução de problemas criativos.

4. Elas são equipadas com habilidades sociais fundamentais para a sociedade de hoje

É dito por John Haiman, um linguista da Macalaster College, que o sarcasmo é praticamente o principal idioma na sociedade de hoje. Normalmente as pessoas sarcásticas vão se manter na conversa, fazer comentários que nem todos entendem, enquanto aparentam rir do que os outros riem… Mas a verdade está longe de ser essa.

5. Elas não só têm grandes mentes, eles também são calejadas!

Pessoas sarcásticas são inteligentes o suficiente para não levar tudo a sério. Isso significa que elas não explodem em lágrimas quando você as provoca  depois de umas cervejas. Elas podem bater, bem como apanhar, mas você raramente vai encontrá-las se fazendo de vítimas da situação. A pessoa sarcástica sabe bem que ninguém gosta de vítimas.

6. Elas têm cérebros mais saudáveis

De acordo com pesquisadores da Universidade da Califórnia, em San Francisco, na fala da neurocientista Katherine Rankin, a falta de capacidade de captar o sarcasmo pode ser um sinal de alerta precoce de danos cerebrais. Esse dado foi encontrado em um estudo em que indivíduos com demência fronto-temporal tiveram dificuldade em entender sarcasmo.

7. Elas fazem de seus amigos, e outras pessoas próximas, seres também mais inteligentes

Devido à sua maneira constante de comunicação, as pessoas sarcásticas afetam os cérebros de pessoas ao seu redor. Existem três fases que nossos cérebros precisam ultrapassar para entender a ironia. Se você tem um amigo usando de sarcasmo enquanto assiste TV, dirige, ou mesmo faz compras, você certamente terá seu cérebro mais estimulado. Eles estão te fazendo um favor, então não se esqueça de lhes agradecer. 😉

8. Elas nunca se enrolam em uma conversa

Elas são excelentes em “guerras emocionais”. Se você já esteve em uma discussão com uma pessoa sarcástica, há provavelmente uma cicatriz costurada em seu coração por causa do que ela disse. A capacidade de identificar muito dos sentimentos do outro fornece à pessoa sarcástica grandes armas de agressão em momentos delicados e, se não houver contenção, em uma discussão , algumas cicatrizes podem ser criadas.

9. Eles podem te insultar e ainda te fazer rir

Elas podem fazer alguém rir em voz alta de uma observação e essa pessoa só perceber que foi insultada depois . Se você ainda não experimentou isso, preste mais atenção.

10. Elas têm amigos que realmente as amam

Elas sabem que seus amigos são realmente seus amigos, porque só amigos afins lidam com tais sarcasmos diariamente sem perder a compostura. Mais do que isso, provavelmente todos eles possuem traços de personalidade sarcásticos trocando comentários em bandejas de prata. É um passatempo divertido para eles, como jogar beisebol.

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Photo credit: Nerd- Νick Perrone via flickr.com

“Eu quero descansar no teu peito o cansaço dessa vida…”

“Eu quero descansar no teu peito o cansaço dessa vida…”

Por Patrícia Pinheiro

Tem um trecho de uma música da Canto Dos Malditos Na Terra Do Nunca que diz: “Eu quero descansar no teu peito o cansaço dessa vida e o peso de ter que ser alguém.”E não é isso que todos procuramos em um relacionamento? Além, é claro, de buscarmos alguém que seja nosso parceiro para enfrentar as durezas do dia a dia, que seja cúmplice e felicidade dobrada nos momentos de alegria, não estamos, na maioria das vezes, sedentos por uma fonte de acalento; por um peito que seja abrigo para o extravaso das dores que já não couberem no nosso?

Não é que a gente vá criar uma espécie de dependência e fazer do outro nossa única fonte de felicidade e calmaria: é preciso que saibamos que estas vêm, antes de tudo, de nós mesmos. Aqueles que caminham ao nosso lado assistem, auxiliam, bagunçam, potencializam, mas ninguém além de nós mesmos deveria ser o protagonista da nossa própria felicidade.

Porém, todos precisamos, em algum momento, de um lugar pra descansar. Todos precisamos de alguém que nos ajude a organizar mentalmente os pedacinhos dos nossos sonhos quando eles forem, mais uma vez, triturados pelo mundo. Todos precisamos de alguém que assuma o controle enquanto estivermos ocupados descobrindo como recuperar o nosso. Todos precisamos de uma presença que, ainda que silenciosa, nos distraia e alivie um pouco do sufoco que é ser alguém.

Somos todos cansados, macerados, sobrecarregados e precisamos, vez ou outra, abandonar a postura – e a certa frieza – que adotamos para sobreviver e fazer alguém cúmplice das nossas fraquezas. A gente para de se esforçar e deixa todo o cansaço da mesmice, a revolta com as injustiças, as saudades colecionadas e sufocadas, o medo do fracasso e o peso das responsabilidades vir à tona para depois seguir em frente, mais leves ou não, mas com a sanidade preservada pela vasão daquilo que nos afoga aos poucos.

Em um mundo que constantemente nos exaure das mais diversas formas, felizes daqueles capazes de manter cumplicidade e devoção suficientes para se fazerem fonte de abrigo e serenidade um do outro; felizes daqueles que encontraram seu descanso.

7 coisas que você deve parar de esperar com relação aos outros

7 coisas que você deve parar de esperar com relação aos outros

Por MARC CHERNOFF

As maiores decepções que sofremos são frequentemente o resultado de um direcionamento inapropriado de expectativas. Isso é especialmente verdadeiro, quando o assunto são os nossos relacionamentos e interações pessoais.
Quando percebemos melhor o quanto de expectativas infundadas costumam preencher nossas rotinas, podemos diminuir significativamente sentimentos negativos desnecessários como a frustração.
O que significa que é hora de …

1. Parar de esperar que as pessoas concordem com você.

Não deixe que a opinião dos outros faça com que você se esqueça do que existe de mais importante em sua vida. Não estamos neste mundo para viver de acordo com as expectativas dos outros, e você também não deve esperar que os outros vivam de acordo com as suas expectativas. Na verdade, quanto mais você assumir e aprovar as suas próprias escolhas, menos precisará da aprovação dos outros.

Não se compare aos outros. Não desanime por observar o progresso ou sucesso de pessoas de fora. É preciso seguir o seu próprio caminho e permanecer fiel ao seu propósito. Ter sucesso nada mais é do que administrar a sua vida ao seu modo, sendo feliz a sua maneira, e percebendo seus próprios avanços.

2. Parar de esperar que os outros o respeitem mais do que você mesmo se respeita

A verdadeira força está na alma, não nos músculos. É preciso ter ciência e acreditar naquilo que você verdadeiramente é, e agir de modo condizente com esse entendimento.

É necessário olhar-se no espelho e dizer: “Eu me quero bem e de agora em diante eu vou tratar-me com amor.” É importante ser gentil com os outros, mas, é ainda mais importante ser bom para si mesmo. Quando você tem autoestima e se respeita, você dá a si mesmo a oportunidade de ser feliz. Quando você está feliz, você se torna um amigo melhor, um melhor membro da família: uma pessoa melhor.

3. Parar de esperar (e de necessitar) que os outros gostem de você.

Você pode se sentir indesejado e indigno de uma pessoa, ,lembre-se de que você é inestimável para diversas outras. Nunca se esqueça do seu valor. Passe algum tempo com aqueles que você valoriza. Não importa o quanto você é bom para as pessoas, sempre haverá uma pessoa negativa que fará de tudo para destruir sua autoestima. A melhor coisa a fazer é ignorar e seguir adiante.

Nesse mundo insano em que vivemos, a batalha mais difícil é aquela que você trava cotidianamente consigo mesmo. Ser original e ser autêntico tem o seu preço, e nem todos vão gostar de você. Talvez alguns digam que você é “diferente”. Nisso não existe lógica alguma. Muitos o odiarão e tantos outros te amarão pelos mesmos motivos.

4. Parar de esperar que as pessoas sejam como você imaginou que elas fossem

Amar e respeitar os outros significa permitir que elas sejam eles mesmos. Quando você parar de esperar que as pessoas sejam de uma certa maneira, você pode começar a apreciá-las.
Pouco realmente sabemos da maioria das pessoas e, desse pouco, certamente grande parte ainda é parte do nosso imaginário e não propriamente daquilo que elas de fato são.
Todo humano tem algo notável e infinitamente belo, e você só tem um par precário de olhos para enxergá-lo. Conhecer o outro leva, tempo… Quanto mais você conhecer alguém, quanto mais você será capaz de olhar além de sua aparência e ver a sua verdadeira beleza.

 

5 – Parar de esperar que eles saibam o que você está pensando

As pessoas não podem ler mentes. Eles nunca vão saber como você se sente, a menos que você diga a elas. Seu chefe? Sim, ele não sabe que você está esperando por uma promoção, porque você não lhe disse nada. E aquele bonito rapaz ou moça com quem você não falou em razão da sua timidez? A outra pessoa vai adivinhar a sua admiração e o seu encantamento? Obviamente, não.
Na vida, você tem que se comunicar com os outros regularmente e de forma eficaz. E, muitas vezes, você tem que tomar a iniciativa e falar as primeiras palavras. Você tem que dizer às pessoas o que você está pensando.

6. Parar de esperar que o outro mude

Se há um comportamento específico por parte de alguém de quem gosta, e que você espera que isso mude ao longo do tempo, saiba que provavelmente nada mudará. Se você realmente necessita dessa mudança, é necessário ser honesto e colocar todas as cartas na mesa para que o outro tenha conhecimento do que está acontecendo.
Na maior parte das vezes, porém, você não pode e nem deve tentar mudar as pessoas. Ou você aceita cada qual como ele é, ou terá que aprender a viver sem eles. Isso pode parecer duro, mas não é. Quando você tenta mudar as pessoas, muitas vezes, elas permanecem as mesmas, mas quando você não tenta mudá-las – quando você as apoia e lhe dá a liberdade de serem como elas são – a mudança, se vier, será gradual e ainda mais bonita.

7. Parar de esperar que eles estejam sempre bem.

Uma dica: seja mais amável do que necessário, pois, todas as pessoas que você encontra pela vida estão passando por algum tipo de batalha interior, assim como você. Cada sorriso ou sinal de força do outro, talvez oculte uma luta interior tão complexa e extraordinária como a que você hoje vivencia.
Apoiar e ajudar outras pessoas é uma das maiores recompensas da vida. Isso acontece naturalmente, porque todos nós compartilhamos sonhos, necessidades e lutas muito parecidos. Uma vez que aceitamos isso, o mundo passa a ser um lugar onde podemos olhar alguém nos olhos e dizer: “Eu me sinto perdido no momento,” e eles podem acenar com a cabeça e dizer: “Eu também”, e isso será normal. Por que não estar bem o tempo todo é algo perfeitamente humano.

Para finalizar

As pessoas raramente se comportarão exatamente do jeito que você previu. O melhor a fazer é nutrir esperança pelo melhor, mas estar preparado para toda e qualquer acontecimento. Afinal, a magnitude de sua felicidade é diretamente proporcional aos seus pensamentos, e é você quem deve escolher o quê e como pensar sobre todas as coisas. Mesmo que uma situação ou relacionamento não seja exatamente como você esperava, não se esqueça de que tudo o que vivemos nos faz sentir algo novo e nos ensina, sempre, novas verdades.

Do original: 7 Things You Should Stop Expecting from Others

Traduzido e adaptado exclusivamente para a Conti outra.

Educação de hoje adia fim da adolescência

Educação de hoje adia fim da adolescência

Por Rosely Sayão

Há pouco tempo, recebi uma mensagem que me provocou uma boa reflexão. O interessante é que não foi o conteúdo dela que fisgou minha atenção, e sim sua primeira linha, em que os remetentes se identificavam. Para ser bem clara, vou reproduzi-la: “Somos dois adolescentes, com 21 e 23 anos…”

Minha primeira reação foi sorrir: agora, os jovens acreditam que a adolescência se estende até, pelo menos, os 23 anos?! Mas, em seguida, eu me dei conta do mais importante dessa história: a criança pode ser criança quando é tratada como tal, e o mesmo acontece com o adolescente. E, se dois jovens adultos se vêem como adolescentes, é porque, de alguma maneira, contribuímos para tanto.

A adolescência tinha época certa para começar até um tempo atrás, ou seja, com a puberdade, época das grandes mudanças físicas. E terminar também: era quando o adolescente, finalmente, assumia total responsabilidade sobre sua vida e tornava-se adulto. Agora, as crianças já começam a se comportar e a se sentir como adolescentes muito tempo antes de a puberdade se manifestar e, pelo jeito, continuam se comportando e vivendo assim por muito mais tempo. Qual a parcela de responsabilidade dos adultos e educadores?

Pais e professores, quando educam, visam à conquista da autonomia e não podem perder de vista esse objetivo. Assim, ensinar uma criança pequena a se calçar sozinha, por exemplo, é apenas uma parte do processo educativo que supõe que, assim que possível, ela caminhe com seus próprios passos. É claro que isso não acontece de uma hora para outra, mas em etapas. Mas há de chegar o dia em que ela vai escolher os sapatos que vai calçar, quem sabe comprá-los com dinheiro fruto de seu trabalho, vai usá-los para andar por onde quiser e vai ter de se responsabilizar por suas escolhas. Isso é ser adulto.

Qual a diferença em relação ao adolescente? Justamente essa: o adolescente ainda está a caminho de ter autonomia sobre sua vida. Os pais, mesmo que à distância e discretamente, ainda tutelam os passos do filho adolescente -e não sem razão. É que, para os adolescentes, ainda é prioritário e natural pensar primeiro no tempo presente, no prazer, na diversão e só depois- às vezes, tarde demais- nas consequências que suas atitudes e comportamentos podem provocar.

É difícil tornar-se responsável por tudo? Sem dúvida é, e os adultos sabem muito bem disso. Mas há ganhos, pelo menos em relação à vida dos adolescentes: o da liberdade possível e o da independência, por exemplo. E, certamente, um adulto que se considera adolescente aos 23 anos não deve sentir-se responsável por sua vida. O que ele talvez não saiba é que isso o impede de ser independente.

Hoje, por conta de diversos fatores, muitos pais agem de modo confuso, mas sempre em nome da educação para a autonomia. Garotas e garotos de 12 a 15 anos são liberados para frequentar festas noturnas quase sem limites de horário e sem adultos por perto, mas, em compensação, não têm autonomia para administrar sozinhos a vida escolar, porque os pais esperam determinados resultados e, para tanto, precisam verificar se o filho cumpre o que desejam. Professores universitários tratam seus alunos como adolescentes incapazes de discernir direitos de deveres e, depois, reclamam da falta de interesse deles pelo conhecimento.

Exemplos desses não faltam numa sociedade que trata seus cidadãos de modo infantilizado e os faz acreditar -e muitos acreditam- que isso é feito pelo bem-estar deles. Por isso é bom que os pais e educadores pensem com carinho na educação que praticam. Para que crianças e adolescentes atinjam a vida adulta, é preciso que sejam tratados de modo coerente e sejam responsabilizados, pouco a pouco, por aquilo com que são capazes de arcar. Afinal, a adolescência tem de terminar.

Rosely Sayão (psicóloga e consultora em Educação), in Folha de São Paulo

“Amor”, uma crônica de Rachel de Queiroz

“Amor”, uma crônica de Rachel de Queiroz

Por Rachel de Queiroz

Outro dia liguei o rádio e ouvi que faziam um concurso entre os ouvintes procurando uma definição para amor. As respostas eram muito ruins, até dava para se pensar que nem ouvintes nem locutores entendiam nada de amor realmente; o lugar-comum é mesmo o refúgio universal, que livra de pensar e dá, a quem o usa, a impressão de que mergulha a colher na gamela da sabedoria coletiva e comunga das verdades eternas. O que aliás pode ser verdade.

Mas a ideia de definição me ficou na cabeça e resolvi perguntar por minha conta. Tive muitas respostas. A impressão geral que me ficou do inquérito é que de amor entendem mais os velhos do que os moços, ao contrário do que seria de imaginar. E menos os profissionais que os amadores __digo os amadores da arte de viver, propriamente, e os profissionais do ensino da vida. Vamos ver:

Dona Alda, que já fez bodas de ouro, diz que o amor é principalmente paciência. Indaguei: e tolerância? Ela disse que tolerância é apenas paciência com um pouco de antipatia. E diz que amor é também companhia e amizade. E saudade? […] Não. Afinal, o amor não vai embora. Apenas envelhece, como a gente.

A jovem recém-casada me diz que o amor é principalmente materialismo. Todos os sonhos das meninas estão errados. Aquelas coisas que se leem nos livros da Coleção das Moças, aqueles devaneios e idealismos e renúncias e purezas, está tudo errado. Quando a gente casa, é que vê que o amor não passa de materialismo. […]

Um senhor quarentão, bem casado, pai de filhos: “Amor, como se entende em geral, é coisa da juventude. Depois de uma certa idade, amor é mais costume. É verdade que tem a paixão com seus perigos. Mas você falou em amor e não em paixão, não foi?”
__ E de paixão, que me diz? __ Aí ele se fecha em copas. “Deixo isso para os jovens. Velhote apaixonado é fogo. E eu não passo de um pai de família.”

A mãe da família desse senhor: “Amor? Bem, tem amor de noiva, que é quase só castelos e tolices. Tem o de jovem casada, que é também muita tolice __ mas sem castelos. Complicado com ciúme, etc., mas já inclui algum elemento mais sério. E tem o amor do casamento, que é a realidade da vida puxada a dois. Agora, o amor de mãe… Você perguntou também o amor de mãe?”

Respondi energicamente que não: amor de mãe, não. Quero saber só de amor de homem com mulher, amor propriamente dito.
Diz o solteiro, quase solteirão, que se imagina irresistível e incansável: “Amor é perigo. Só é bom com mulher sem compromissos. […] O melhor é amor forte e curto, que embriaga enquanto dura e não tem tempo para se complicar. Aquela história de marinheiro com um amor em cada porto tem o seu brilho, tem o seu brilho”.

O pastor protestante diz que o amor é sublimar a atração entre os dois seres, é atingir a mais alta e pura das emoções. Não confundir amor com sexo! […]

Já o padre católico não elimina o sexo do amor. Explica que, pelo contrário, o sexo, no amor, é tão importante como os seus demais componentes __ o altruísmo, a fidelidade, a capacidade de sacrifício, a ausência do egoísmo. E é tão importante que, para santificar o amor sexual __ o amor conjugal __, a Igreja o põe sob a guarda de um sacramento, o santo matrimônio. E ante a pergunta: se tudo é assim tão santo, por que os padres não casam? O padre velho não se importa com a impertinência, sorri: “Nós nos demos a um amor mais alto. Casamento, para nós, seria pior que bigamia…”

E por último tem a matrona sossegada que explica: “Amor? Amor é uma coisa que dói dentro do peito. Dói devagarinho, quentinho, confortável. É a mão que vem da cama vizinha, de noite, e segura na sua, adormecida. E você prefere ficar com o braço gelado e dormente a puxar a sua mão e cortar aquele contato. Tão precioso ele é. Amor é ter medo __ medo de quase tudo __ da morte, da doença, do desencontro, da fadiga, do costume, das novidades. Amor pode ser uma rosa e pode ser um bife, um beijo, uma colher de xarope. Mas o que o amor é, principalmente, são duas pessoas neste mundo”.

(De “Cenas brasileiras”, in Coleção Para gostar de ler. São Paulo, Ática, 1995)

Um sonho de liberdade

Um sonho de liberdade

Por Tatiana Nicz

Na roda de ontem minha amiga e colega de contação trouxe uma história sobre um mestre budista que coloca uma venda nos olhos, pega um arco e flecha e tentar acertar no alvo. Ele erra. Então ele diz para seu discípulo que não existe a possibilidade de acertar sem estar com os olhos abertos para enxergar o alvo. Essa história me trouxe muito para a questão dos relacionamentos modernos. Constantemente tenho pensado na maneira como nos relacionamos hoje em dia. O que sinto é que estamos todos muito confusos e perdidos. Com os olhos vendados.

Ontem, após um longo período de “reclusão”, resolvi sair para dançar. A noite certamente é um ambiente que te faz perder a fé no amor e nas pessoas. Hoje em dia, para mim, é um ambiente hostil, completamente desprovido de amor. Nesse período de reclusão, aprendi muita coisa sobre mim e ao olhar com mais cuidado para a maneira como nos relacionamos, escutando nossos discursos com mais atenção, descobri muita escassez. Falta amor, falta cuidado, falta verdade, falta diálogo.

É triste que nossas grandes decepções venham justamente de nosso lado mais bonito que é essa capacidade e vontade de amarmos e sermos amados. Mas, entendi que estamos fazendo isso de maneira equivocada. Sim, cada um aceita o amor que acha que merece, portanto sei que não posso mudar isso no outro, mas tenho 100% de responsabilidade perante a maneira como escolho me relacionar, o que dou e o que aceito.

Os discursos são todos muito parecidos, as histórias também. Onde falta amor e cuidado para com si e para com o outro, sobra muita incoerência. Sobram também rótulos. As mulheres discursam sobre os “babacas” e “cafajestes” e os homens sobre “vagabundas” esquecendo que ninguém é babaca sozinho. Entristece-me ver a quantidade de migalhas que damos e que aceitamos.

A verdade é que, todo mundo já foi babaca com alguém ou sofreu por alguém. E ao olhar para tantos corações partidos, e para o meu próprio coração que também já foi partido, me dei conta de que estava me fazendo as perguntas erradas. Se pensarmos bem dá para substituir o “por que ele é babaca comigo e me faz sofrer?” por “por que coloco na mão do outro tanto poder e principalmente o poder de me fazer feliz?”. Não dá para achar que a felicidade é algo tão simples assim que possa vir de fora. Não dá para superdinamizar os relacionamentos e viver achando que a felicidade mora no outro.

É um grande erro dizer “não faça com os outros o que você não gostaria que fizessem com você”. Nós não temos controle sobre como o outro vai agir ou nos tratar, então não dá para agir sempre pautado pelo que o outro faria e viver esperando que o outro faça por você algo que só você mesmo pode fazer por você. Colocamos no outro uma responsabilidade que é tão somente nossa. A felicidade é uma escolha consciente que deve ser feita todos os dias. E se o outro faz algo que pode te fazer sofrer, você ainda tem escolha de como se sente em relação à isso.

Houve um tempo em que as escolhas eram muito limitadas ou quase nulas. A regra era casar e ter filhos. Hoje nos foi dado poder de escolha, é difícil falar nesse assunto sem parecer conservadora. Mas eu vejo que papéis foram invertidos, que estamos perdidos, e principalmente que ter muita opção é quase igual a não ter escolha alguma. Então é preciso parar e retomar alguns valores que foram perdidos. É preciso mais cuidado para consigo mesmo e para com o outro. Se engana quem acha que liberdade tem a ver com estar solteiro. O que vejo é o contrário, vejo um monte de gente solteira que está atada, presa à rótulos e fragmentos, com os olhos vendados e tentando acertar o alvo, como o monge daquela história.

A liberdade não tem a ver com status de relacionamento, ela tem a ver com saber viver sozinho e mesmo assim escolher alguém para estar ao seu lado, com poder sair e se divertir sem esperar algo do outro, com você aprender que é responsável pela sua felicidade, que pode ser feliz sozinho, e também não dá para confundir estar solteiro com estar bem sozinho.

E tem gente que vê alegria em tudo isso. Para mim, não existe alegria em tratar pessoas como se fossem descartáveis, muito menos em se fazer descartável. Não tem nada de alegre em viver constantemente viciado na busca e não no encontro, não existe alegria em palavras rasas, sem olho no olho, sem propósito, em promessas vazias. Somos uma geração que vive de raspas e restos e confunde isso com liberdade, sem enxergar que a verdadeira liberdade está mesmo na escolha de sermos inteiros para nós, para o outro, para o mundo.

Descubra onde essa mãe encontrou forças para vencer o câncer

Descubra onde essa mãe encontrou forças para vencer o câncer

Muitas vezes, a alegria do nosso viver se esvai. Desilusões, dores, doenças…Um turbilhão de situações que nos drenam a vida.

Mas, num repente, você se lembra da alegria singela e gratuita, da felicidade pronta do seu filho quando a vê e, a partir de então, tudo muda e a vida volta a fazer sentido de novo.

Veja a alegria desse filho ao rever a mãe que esteve fora por algumas semanas, em tratamento quimioterápico.

As cenas gravadas por sua irmã mostram Laura Martancik, uma americana que luta contra o câncer desde 2013, de joelhos ao chegar em casa e seu filhinho pulando em seu colo repetidamente.

Ela diz para ele “O que eu disse a você? Mamãe sempre volta! Estou de volta do médico!”

O meu pai tem Alzheimer

O meu pai tem Alzheimer

Por Sónia Bigodes

O meu pai, nascido há 86 anos no Alentejo, tem Alzheimer.

Aos 20 anos conheceu o amor da sua vida. Na Avenida da Liberdade, num dia de chuva, quando os respectivos guarda-chuvas ficaram presos um ao outro em plena estrada. Até que a morte os separasse. Assim foi. 58 anos casados, António e Lurdes. Duas filhas: Helena e Sónia, irmãs com dezoito anos de diferença.

Na sua vida, cheia de trabalho, dedicou-se ao desenho técnico e foi Chefe do Departamento de Obras da Fundação Gulbenkian. Mais que um trabalho, uma paixão que o fazia apelidar a Gulbenkian como a sua segunda casa. Homem educado, cavalheiro, tímido e lisonjeiro, nunca deixou de trazer no olhar a malandrice que o fazia desde pequeno ser apelidado de “Totó, o pai da ronha”. “Lolita” para as filhas, porto seguro das vidas de cada uma de nós, colo quente dos netos, homem de família, de honestidade sem par. Homem feliz, realizado pessoal e profissionalmente, trabalhou até aos 74 anos. Traiu-o a perda da mulher, e simultaneamente a terrível doença que lhe rouba a memória todos os dias.

Visitamos o meu pai, como quem vai ver os miúdos na creche. Porém, tudo é o oposto da creche: ao invés de vida, há sobrevivência, em vez de gritos há gemidos, em vez de sonhos há esperas, murmúrios, desabafos, lágrimas. Um lar com doentes de Alzheimer é uma espécie de vivência de vidas passadas. Há senhoras que passeiam nenucos, há os que teimam em ir trabalhar, há os que passam o tempo a carpir os mortos que já partiram na sua infância, há os que chamam pela mãe, há os que embalam os filhos que já são pais. E há filhos, como nós, que perdidos no cenário do lar, a cada visita, perdem um pouco mais daqueles que ali um dia deixaram. Não ousem censurar quem deixa um pai ou uma mãe doente de Alzheimer num lar. A evolução da doença leva todos ao limite, roça todos os sentimentos e chega a colocar em causa alguns afectos. A perda de dignidade é obscenamente evolutiva e depressa chega ao ponto da ruptura. O internamento é tão inevitável quanto doloroso, tão necessário quanto adiado ao limite.

Fui visitar o meu pai. Estava na mesma, com o olhar pousado nas árvores, a manta sobre as pernas, as mãos com as veias visíveis, zangadas, cansadas. Perdeu o brilho do olhar. E é nos olhos que percebo a vida, lá longe, numa memória que trai e se revela em retalhos espaçados, plenos de hiatos. É no mesmo olhar que o vou perdendo, por já não saber quem sou, por ser órfã sem o ser. A mãe, meu pai, a saudade que tenho da mãe, a saudade que também não sabes o que é. Sou eu, a gordinha que ousava sonhar ser bailarina. No teu olhar, meu pai, vou-te perdendo aos poucos. Deve ser isto a dor. Certamente é isto o Alzheimer.

Fonte indicada: Maria Capaz
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Não despreze as palavras

Não despreze as palavras

Por Alan Lima

Se você pretende um objetivo, não despreze as palavras. É mais fácil falar? Talvez. Porém tudo começa quando tocamos no assunto. Necessárias são as discussões, os debates, pois são os ensaios da ação. Como um time de futebol não joga bem sem treinar, quem deseja um futuro melhor precisa discursar.

Imagine um professor que resolve ignorar as palavras. Mesmo sendo uma aula de matemática, como explicaria aos seus alunos o conteúdo?!  Como demonstrar uma equação sem usar o termo “igual”? Os verbos, substantivos, adjetivos nos induzem ao conhecimento do mundo.

Podemos mencionar as pessoas que descumprem suas promessas. Bem lembrado. Mas estas nos geram decepção porque um dia falaram algo. Caso nunca tivessem prometido com palavras, pouco nos importaria. Não menospreze ideias expressadas pelo outro. Se estão certas ou não, apenas conversando entenderemos.  Aquilo que se fala é parte inseparável daquilo que se faz.

Sem troca de pensamentos os sentimentos ficam murchos. Por isso, os impossibilitados de emitirem sons pela boca, criam palavras com as mãos. Conhecem, intuitivamente, o belo poder humano da comunicação.

Seres humanos não podem voar, nem cuspir fogo. O que no torna mais fantásticos do que dragões, é a capacidade de dizer.

Ignorar as verbalizações de alguém é matar. Cemitérios não são silenciosos à toa. A vida abundante e forte acontece entre nossos papos. Não ignorem a poesia. Não virem as costas para os livros. Por favor, não desprezem as palavras.  Ficaremos confusos. Porque até para menosprezá-las é preciso que as usem.

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12 coisas você nunca deveria fazer a uma mãe

12 coisas você nunca deveria fazer a uma mãe

Por Caroline Canazart

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As mulheres têm uma tendência de tentar ser pessoas melhores depois que os filhos nascem e, em vários aspectos da vida. Tentam ser mais calmas, disciplinadas, dormir mais cedo, alimentar-se melhor ou ser otimista. Tudo para ser um bom exemplo para os filhos. Tem mães que param de trabalhar para cuidar deles ou aquelas que trabalham ainda mais também por causa dos filhos.

Por conta de todo esse esforço, existem atitudes que doem mais quando você se torna mãe, principalmente se vir de um filho.

1. Demorar para atender o celular

Você tem ideia de quantas tragédias podem passar na cabeça de uma mãe naqueles segundos em que você está pensando em atender ou não a ligação dela?

2. Reclamar que a comida está ruim

Ela pode ter tido um dia péssimo. E também não é sempre que tudo sai queimado ou salgado, não é mesmo?

3. Rir dela

Num momento de nervosismo, rir ou debochar da sua mãe para tentar amenizar as coisas, só piora, acredite.

4. Falar que a odeia

Jamais, nem pense nisso. Porque, possivelmente, isso nem seja verdade e é algo que magoa profundamente, não importa a idade do filho. Todas as mães já moveram montanhas pelos filhos em algum momento da vida. Seja grato(a) por ela.

5. Esquecer o aniversário ou Dia das Mães

Um cartão, uma flor ou uma caixinha de chocolate juntos com uma boa tarde de conversa não custa nada e enche o coração de uma mãe de satisfação.

6. Não dar atenção

Deixar de ir num cinema, passeio, mercado ou qualquer outro lugar com a sua mãe por um motivo banal. Mesmo que você seja adolescente ou adulto, chegará uma hora na vida que pensará “eu poderia ter sido um filho melhor e ter passado mais tempo com ela”.

7. Remoer o passado

Em qualquer relacionamento falar do passado traz de volta lembranças e discussões que levam a mais mágoas e tristezas. Melhor mesmo é pôr uma pedra em assuntos delicados e exercitar o perdão.

8. Ficar muito tempo sem visitá-la

A correria do dia a dia não deixa barato para ninguém. E os dias, semanas e até meses vão se passando e então eu pergunto: quando foi a última vez que você foi na casa da sua mãe?

9. Deixá-la sem comunicação com os netos

Fatalmente uma mãe vai se tornar uma avó. Mesmo que vocês morem longe um do outro, hoje em dia a tecnologia está aí para ajudar a diminuir esse problema. De qualquer forma, carta e fotos impressas não saíram totalmente de moda e podem ser um recurso para diminuir as fronteiras.

10. Culpá-la por suas escolhas

Claro que as mães influenciam muito em nossas decisões. Porém, quem as toma somos nós. Encontrar um culpado que não seja você mesmo não vai tornar as coisas melhores.

11. Gritar

Levantar a voz para qualquer pessoa é desrespeitoso. Se for com a mãe parece ser muito pior.

12. Deixá-la envelhecer sozinha

Depois de uma boa parte da vida dedicada aos filhos, muitas mães acabam sozinhas e sem a assistência dos filhos.

Nem sempre é fácil. Às vezes é preciso ter paciência, pois, nem sempre nossa mãe vai fazer o que desejamos. Mas, por ela ser mãe, sempre estará um degrau acima do nosso.

Para mãe de 96 anos, sentido da vida é que os filhos e netos se queiram bem

Para mãe de 96 anos, sentido da vida é que os filhos e netos se queiram bem

Por Gabriela Gasparin

Aos 96 anos, Rosa Maluf Milan ainda andava de salto alto. Era um saltinho pequenininho, de uns dois centímetros, mas era salto alto.

E foi em cima do salto que a elegante empresária, que teve a sorte de ter nascido numa família rica, conseguiu se equilibrar para chegar aos quase 100 anos praticamente sem dores e com uma memória de quem consegue lembrar a história de toda a sua vida, sem interrupções. “Não sinto nada, nem dor de cabeça.”

O maior “tropeço” aconteceu 50 anos antes, quando ela perdeu o grande amor de sua vida, por quem seria apaixonada para sempre. Seu ex-marido, o médico Rachid Milan, morreu vítima de leucemia, aos 49 anos. Ela tinha 47. “Foi a coisa mais triste da minha vida. Não teve coisa mais triste.”
Cinco décadas após a morte do amado, Dona Rosa ainda se lembrava dele todos os dias, acordava de madrugada para rever fotografias e tinha de cor as 50 cartas de amor que trocaram quando ainda eram namorados. “Sinto muitas saudades. Ele era lindo. Eu adorava ele, tinha loucura por ele.”

Eu conheci a história da cordial senhora após assistir um curta-metragem sobre a vida dela, chamado justamente “Dona Rosa”. Gostei tanto do filme que a procurei para falar sobre o sentido da vida.

Ela me recebeu educadamente em seu espaçoso apartamento na Bela Vista, na capital paulista, numa ensolarada tarde.

Com uma voz tranquila característica de quem já viveu tantos anos, e um probleminha de audição que me obrigava a refazer algumas perguntas, a empresária não só me contou toda sua história como fez questão de me mostrar a requintada mobília de cada cômodo.

Entre delicadas louças, quadros de artistas renomados e tapetes persas, contudo, o bem de maior valor para ela eram, sem dúvida, as inúmeras fotos de Rachid e da família, que apontava orgulhosa e com um brilho no olhar.

“Eu tive muita energia na vida, eu nunca tive medo de nada. Muita tristeza eu tenho, eu sinto muita saudades dele, muitas saudades”, e logo em seguida soltava um “veja como ele era lindo”, apontando para a fotografia em preto e branco.

Após a morte do amado, Dona Rosa encontrou no trabalho as forças para superar a dor. A missão foi dada a ela pelo próprio marido, pouco antes de partir:  “se eu morrer hoje, comece a trabalhar amanhã.”

Dona Rosa cumpriu à risca a determinação. “Ele morreu no domingo, na segunda-feira foi enterrado, e na terça-feira eu já estava no banco. Foi muito bom começar a trabalhar. Foi muito bom porque eu me curei da ausência dele trabalhando.”
Enfrentou certo machismo por ser mulher e estar à frente dos negócios na época, mas não ligava e se atirava nos trabalhos. “Não foi tão fácil. Eu tinha um pouco de medo. Mas foi lindo, aprendi, tudo eu aprendi. Aprendi com o mundo, parando e ouvindo.”

Dedicou a vida toda para cuidar das três filhas. “Fiquei viúva há 50 anos e só cuidei de uma coisa, delas, o tempo todo. Todas estudaram no exterior, elas têm muita cultura.” A mais velha é médica, psicanalista e escritora. A do meio é arquiteta. A mais nova estudou economia, mas não seguiu a profissão e “faz monumentos pelo mundo”, descreveu, orgulhosamente.

Entre outros momentos difíceis da vida, citou a morte do primeiro filho, aos nove meses de gestação, e a morte de um irmão, aos 26 anos. “Mas tudo passa, nada fica. Eu vejo que as coisas acontecem, se eu quiser ou não quiser. Acontecem. Eu tenho que aceitar.”

E com todos esses anos de experiência, diz que tudo é resolvido: “Não tem mais nada difícil para mim, tudo é fácil. Tudo se resolve, com bom senso.”

Vida no palácio

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Casamento de Dona Rosa e Rachid

Mais velha de seis irmãos, Dona Rosa nasceu no dia 30 de dezembro de 1917. Filha de imigrantes libaneses, cresceu em um luxuoso palácio construído por seu pai na cidade de São Paulo. Estudou até a oitava série em um colégio de freiras. Cresceu em meio a festas e bailes no salão do palácio.

Casou-se com Rachid aos 24 anos. Recorda detalhadamente o dia em que o conheceu, em Capivari, no interior de São Paulo, dez anos antes do casamento. “Lembro bem. Quando cheguei lá, a primeira pessoa que a gente viu foi um homem de farda verde. Lindo, moreno, tinha 16 anos. E aí começamos a nos gostar.”
O primeiro beijo ela só foi dar 15 dias antes de se casar. “Eu tremia, imagina se eu tinha coragem de dar um beijo em alguém? Ele era um moço muito bonito, moreno de olhos verdes, e muito cobiçado, a mulherada caía em cima dele.”

Consciente de que a morte pode vir a qualquer momento, diz estar preparada. “A hora que vir está bom. Só não quero sofrer.” Certa vez ela perguntou ao médico do que morreria. “Eu não sei do que eu vou morrer, porque eu não tenho doença nenhuma. Nem dor de cabeça, nada. De velhice, ele falou. Mas quando vence a velhice? Estava na hora…”
E com quase tanto anos vividos, numa primeira tentativa ela respondeu que ainda não tinha descoberto o sentido da vida. “Não tem sentido, eu não entendo por que a gente vive, por que a gente morre, eu não entendo. Por que Deus fez assim? Viver e morrer, você entende? Eu também não entendo.”

Ao repensar, sugeriu: “É passar bem, conseguir que todo mundo se queira bem, é muito importante não brigar com as pessoas. A pessoa educada não briga com ninguém, chega a uma conclusão, a um sentido. Não é fácil, mas a gente consegue, sempre, tudo o que você quiser na vida você consegue, é só querer.” Sentia-se vitoriosa nesse aspecto: conseguiu fazer com que as três filhas e os cinco netos se queiram bem.

Perguntei se esperava chegar aos 100 anos, mas Dona Rosa nem pensava nisso, preocupava-se apenas com cada dia. “Quando a gente acaba bem tá bom. Você vê, estou com 96 anos e bem, não tenho rugas. Se eu viver até os 100 anos bem, senão, paciência, ‘Après moi, le déluge’. Conhece francês? ‘Depois de mim, o dilúvio'”, traduziu.

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Sou poeira de estrela

Sou poeira de estrela

Por Nara Rúbia Ribeiro

Perdoa-me a indelicadeza de desnudar-me a ti. Talvez eu perceba que poucos me compreendam e saiba que podes compreender-me mais que todos os demais. Ademais, preciso revelar-te que já nos conhecemos.

Eu não sou destas paragens e estou neste planeta por breve passagem. Há muito soube que estrelas se desintegram. Soube ainda, ao ler os lábios de um anjo, que sou feita da poeira de uma estrela muito antiga e, em face de tal revelação, pude compreender o mundo e compreender-me em meu mundo.

Desprezo, sem pensar, tudo aquilo que me prende à matéria, ao chão, ao desejo de ter aquilo que vejo. Aprendi muito cedo que os sentidos não nos dão a perfeita dimensão das coisas e nada valoro que esteja ao alcance da mão. É que, feita de matéria etérea, eu sou o meu próprio castelo de ilusões intangíveis e emoções inventadas. Sou poesia que apronta, encantando, um verso que iluminará o dia que por certo nunca chegará, mas não se cansa (eu não me canso) de aprontar.

Os “nãos” que as vidas das minha vida, em suas idas e vindas, disseram, nem mesmo chegaram a machucar-me a alma. Sou a suficiência plena da simplicidade e da calma. Minha alma é leve e releva a gravitação da gravidade do mundo.
Ser poeira de estrela é ser pouco, rarefeita, imperfeita reestruturação de moléculas. Mas concedi à minha imperfeição a feição de obra prima e decidi amar-me acima da poesia de todas as coisas.

Saiba, é segredo, mas toda noite visito o firmamento, minha antiga morada, e ali consigo nutrir-me de alegria. Trata-se de um sítio sagrado, solo enluarado que pode ser cultivado sem sol e arado de sonho. Foi nesse outro mundo, (sei que não te lembras) que te conheci.

Do livro “Pazes”, no prelo.

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