Síndrome de Burnout: E quando o profissional adoece?

Síndrome de Burnout: E quando o profissional adoece?

Trabalhar diretamente com pessoas exige uma série de habilidades e capacidades, seja qual for a profissão em que estamos envolvidos.

Muitas vezes, a carga emocional presente nos relacionamentos no ambiente trabalho são tantas que, em algum momento, o profissional se vê diante de uma sobrecarga que não mais suporta. Em decorrência, acaba exausto emocionalmente, distanciado afetivamente das pessoas com quem trabalha e perde a satisfação que antes encontrava na atividade laboral.

Essas alterações fazem parte de um quadro específico que tem sido alvo de muitos estudos recentes: A Síndrome de Burnout.

Definição

A Síndrome de Burnout é definida como uma síndrome psicossocial surgida como uma resposta crônica aos estressores interpessoais ocorridos na situação de trabalho.

É um problema complexo, afetando a saúde física e psíquica de muitos profissionais que lidam diretamente com pessoas, como por exemplo: profissionais da saúde, professores, policiais, atendentes de telemarketing, profissionais do judiciário, executivos, entre outros.

Tem desenvolvimento lento e gradual e quando os profissionais procuram ajuda o desgaste é muito intenso e a saúde física e mental já se encontra comprometida.

Desenvolvimento

O quadro desenvolve-se a partir de três dimensões características: a exaustão emocional, a despersonalização e a baixa realização pessoal.

A exaustão emocional é o traço inicial da síndrome e está relacionada ao esgotamento dos recursos emocionais do indivíduo; a falta ou carência de energia e entusiasmo; aos sentimentos de frustração e tensão, sendo que o profissional não se sente mais capaz de dispensar a mesma energia de antes.

A exaustão é consequência da sobrecarga emocional e do conflito pessoal nas relações no trabalho.

A despersonalização, aparece como consequência da exaustão emocional. Por não mais conseguir lidar com os sentimentos vividos nas relações interpessoais no trabalho, o profissional, desenvolve uma insensibilidade emocional, sendo que o mesmo passa a tratar seus clientes/alunos/pacientes e colegas de trabalho como objetos e de forma fria, impessoal e massificada.

Surge uma dificuldade para lidar com os sentimentos e emoções e uma diminuição dos contatos pessoais para evitar a angústia.

O desenrolar desta difícil situação faz com que o profissional diminua seu desempenho e eficácia no trabalho. Com isso, há o desenvolvimento da terceira dimensão da síndrome: a baixa realização pessoal.

Passa a existir um declínio dos sentimentos de competência e êxito e da capacidade de interagir satisfatoriamente com as pessoas, que cede lugar a sentimentos de incompetência e frustração. O profissional passa a ter uma auto-avaliação negativa associada à insatisfação e infelicidade com o trabalho.

Sintomas, Fatores desencadeantes e Consequências

Os sintomas da síndrome são os mais variados, compondo sintomatologia física, psíquica e comportamental.

Entre eles podemos destacar: fadiga, cefaleias, distúrbios gastrointestinais e cardiovasculares, humor deprimido, irritabilidade, isolamento, ansiedade, baixa auto-estima, impaciência, negativismo, rigidez e consumo de álcool e substancias psicoativas em geral.

Está relacionada a diferentes fatores desencadeantes, sejam eles internos ou pessoais (como personalidade, crenças, aspectos sócio-demográficos, história de vida, presença de recursos de enfrentamento, etc) ou externos ou organizacionais (como condições de trabalho, características da organização, etc).

Influência na qualidade de vida do profissional que a desenvolve, aumentando o risco de episódios depressivos, abuso de substâncias e tentativas de suicídio. Interfere negativamente na qualidade dos relacionamentos com pacientes/clientes/alunos e equipe e afeta a qualidade dos serviços prestados. Aumentam as taxas de absenteísmo e de abandono do trabalho.

Superando a Síndrome de Burnout

Se você se identificou com a descrição feita até aqui, o primeiro passo para a superação do problema é buscar ajuda profissional!

Neste caso, a procura com profissionais especializados (médico e psicólogo) é o mais indicado.

A Psicoterapia ajudará a identificar as raízes do problema e a encontrar os recursos necessários para lidar de maneira mais saudável e equilibrada com as demandas laborais e relacionais.

O uso de técnicas de abordagem corporal e/ou expressivas aliadas a psicoterapia podem ser de grande valia.

Outra dica importante é a melhora dos hábitos de saúde e qualidade de vida.

Busque atividades prazerosas e de relaxamento para diminuir a tensão.

Procure ter uma vida social e afetiva mais rica e evite centrar sua vida somente no trabalho.

Buscar supervisão com profissionais mais experientes, grupos de apoio e suporte emocional também podem ajudar. Eles te tiram da solidão e isolamento, despotencializam a ansiedade e podem ampliar sua visão do problema.

A capacitação profissional também é importante neste caso. Voltar a estudar amplia os conhecimentos técnicos e pode te ajudar a ter novos recursos para lidar com as situações no trabalho.

Quanto mais preparado você for, mais hábil para lidar com os desafios laborais e relacionais você estará!

Envelhecer é tornar-se múltiplo

Envelhecer é tornar-se múltiplo

Temos o costume de pensar que envelhecer é um caminhar para o fim, é um definhar, murchar, envergar. Quando jovens, a nossa visão mais à frente na vida, o nosso marco de chegada é o topo da montanha (as conquistas que este mundo ainda nos reserva). Quando velhos, a nossa visão mais à frente, o nosso marco de chegada (ou partida) é o vale, a desconhecida planície para onde não queremos caminhar, mas que a gravidade e o tempo se incumbem de nos empurrar, e que representa o fim das aventuras.

Pensamos que, depois do ápice adulto da vida, o caminhar da velhice é um declive, o corpo vai se curvando, a pele enrugando, o pensamento falhando, a importância diminuindo, a vida esvaecendo.

Mas eu gosto de pensar no ato de envelhecer não como o caminhar na montanha, com subida, ápice e descida. Gosto de pensar no envelhecer como o amadurecer de uma árvore, que se fortalece com o tempo, solidifica, e através das sábias curvas de seus galhos que souberam perseguir a luz do sol, acabou aprendendo a chegar mais perto do céu.

Gosto de pensar na velhice não como perda, mas como soma. Me parece que, pelo menos para quem gosta mesmo da vida, envelhecer não é perder a juventude, mas é um somar de personalidades, traços, fases, tempos, eus…

Envelhecer é um agregar, é possuir nesse mesmo corpo gasto, todos os seres que aqui habitaram um dia: a criança, a jovem, a adulta. É lembrar-se de cada uma dessas fases e senti-las ainda presentes aqui dentro.

Envelhecer não é um descartar fases que passaram com o tempo e me transformaram em um outro ser, mais frágil, atrasado e sem esperanças. Envelhecer é possuir nesse corpo curvado a robustez de todas as mulheres que fui, a amplidão de uma vida que foi vivida.

Envelhecer é tornar-se múltiplo. Como a árvore antiga e persistente que se constitui, em matéria e essência, dos anéis de outras épocas. E essa casca enrugada, aparentemente frágil, é força que soube resistir às intemperes do mundo e possui a sabedoria de preservar dentro de si, correndo vivos, rios de seivas e sentimentos.

Malévola: Reflexões compartilhadas no Cine Sedes Jung e Corpo

Malévola: Reflexões compartilhadas no Cine Sedes Jung e Corpo

Malévola não é exatamente um conto de fadas ou uma produção mítica a priori, mas como qualquer produção artística e cinematográfica, ela pode ser considerada um produto da psique pessoal e coletiva, dada a sensibilidade das pessoas que captam os conteúdos do inconsciente e os representam na forma de imagens.

Os contos de fadas traduzem a realidade psíquica e falam sobre o que está acontecendo numa comunidade em uma determinada época, transmitindo quais os valores que precisam ser integrados na consciência. É com este olhar que precisaremos refletir sobre Malévola e sua trama: uma história que nitidamente trata da questão do Feminino em tempos de dominância Patriarcal.

A narrativa enfoca um ponto até então deixado de lado na história da Bela Adormecida: quem era a fada má que lança o feitiço na pequena filha do rei durante seu batizado.

Malevóla e Aurora são as protagonistas da história e o que a acontecerá com ambas mudará o destino dos dois reinos para sempre.

Num mundo dividido entre masculino e feminino, consciente e inconsciente, “Reino dos Homens” e “Reino dos Moors” (pântanos), o encontro entre duas crianças inicia a trajetória rumo a individuação ou a loucura.

Ainda na infância, Stefan adentra o mundo dos Moors e de lá tenta roubar uma joia preciosa. É barrado pelas entidades que lá vivem até a chegada da guardiã do reino, a pequena Malévola. O encontro marca o início do que seria, a princípio, uma grande amizade.

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Moors simboliza o Reino da natureza inconsciente, matriarcal e feminina. Mundo mágico cujo simbolismo da lama se faz presente, indicando que se trata de uma terra fecunda, cujo princípio receptivo é dinâmico e gerador de evolução. Mas que, pela mistura da terra com a água, pode também caminhar para a involução e estagnação. Assim, se aquilo que está no inconsciente não for ativado e estimulado, a transformação e o processo de amadurecimento não poderão acontecer.

Essa possibilidade se faz com a chegada de Stefan (entrada do masculino) no Reino mágico, da amizade entre eles, do processo de apaixonamento de Malévola e de todo o posterior desenrolar da trama. Até a vinda Stefan, a vida de Malévola caminhava sem mudanças, sem conflitos e protegida do reino dos Homens. Ela fica curiosa e quer se aproximar do menino e assim, se entrega à experiência. Sem conflito não há crescimento, e se a história não tivesse enveredado pelos caminhos do destino, a possibilidade de integração da qual fala o filme não ocorreria.

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Em relação a figura da Malévola podemos fazer muitas ampliações. A personagem é caracterizada com dois atributos supranaturais que nos chamam a atenção: os chifres e as asas.

Suas asas simbolizam a possibilidade de alçar voos, a liberdade, a autonomia, a leveza, a elevação e seu aspecto divino.

Os chifres, que remetem as figuras míticas de Dioníso (gregos e romanos), Isís (egípcios) e ao Diabo (cristão), dão a ela uma postura eminente e elevada. Símbolo de poder, força e agressividade. Em seu aspecto positivo atem-se à fecundidade, à força vital e à vida inesgotável. Em seu lado negativo simboliza a defesa, a destrutividade, o combate e o mal. Símbolo ambivalente que integra as forças do masculino e do feminino, seja por sua capacidade de penetração ou por sua abertura em forma de receptáculo. Assim, os chifres de Malévola se tornam o símbolo da necessidade da união e integração desses dois princípios para a formação da personalidade e para o alcance do equilíbrio e da harmonia.

Seu nome por si só já remete àquela que faz o mal. O que também enfatiza o modo como as formas da natureza e do feminino são tratadas dentro do modelo patriarcal negativo. Porém, o único mal que Malévola comete de maneira destrutiva e não defensiva é o feitiço que coloca em Aurora.

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Malévola e Stefan crescem. Os mundos continuam divididos e após o primeiro beijo entre Malévola e Stefan, as próximas cenas mostram o afastamento do rapaz. Stefan trabalha dentro do castelo e com o passar do tempo, segue dominado pelas forças de seu próprio mundo.

O Rei quer destruir o reino de Malévola e se apossar dos Moors. A guerra é travada e ele perde pois as forças da Guardiã e de seu reino são brutalmente maiores do que as dos homens. Tal fato remete à força do inconsciente e à impossibilidade do ego de querer tomar posse do controle da psique como um todo.

Após o conflito, no mundo dos Homens, o Rei, ferido por Malévola,  está adoecendo, o que mostra o enfraquecimento do domínio das forças patriarcais vigentes. Ele nega a natureza do Inconsciente, com quem luta e tenta destruir. Neste reino as mulheres não tinham lugar, o que denota um reinado unilateral, cindido e em que as forças do feminino eram reprimidas e não encontravam vias criativas de expressão.

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O Rei quer a morte de Malévola e promete o reino àquele que conseguir realizar tal tarefa. Stefan ouve tudo e tomado pela possibilidade de poder planeja o atentado contra ela. Ele a chama, seduz, e com o uso de uma poção narcótica, a faz dormir, mas não consegue mata-la.

Malévola acorda com suas asas cortadas. Sente a dor da liberdade ceifada justamente por aquele em que ela confiou. Podemos aqui fazer a relação com as mulheres que confiam cegamente nas figuras masculinas que depois às decepcionam brutalmente.

Como cita Leda Seixas, “quem confia cegamente não enxerga nada e pode perder suas asas!”

Ceifar as asas significa podar o aspecto divino e com isso, sua força e seu poder. Lembramos aqui de Lúcifer, o anjo caído que assume características sombrias e se torna a personificação do mal e da destrutividade.

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Malévola se sente traída. Os conteúdos que queriam se aproximar e serem integrados na consciência, são cortados, podados E isso desperta nela terríveis sentimentos, que vão da depressão à fúria e à necessidade de vingança. O matriarcal positivo, que nutre e cuida do reino, transforma-se na sua pior versão. Desperta o lado negativo da Grande-Mãe, e com isso, o anterior potencial de transformação do feminino através do amor romântico, agora reprimido, passa a ser fixado na Sombra, assumindo a forma defensiva e negativa do arquétipo.

Na sua nova condição Malévola, agora fadada a ter que caminhar pelas vias terrestres, transforma um galho em um cetro, o qual funciona como uma extensão dos braços, simbolizando o novo poder, a nova força e a autoridade, agora sombrias. Todo o Reino dos Moors escurece e perde a vitalidade de outrora, reagindo sintonicamente ao estado de humor da sua guardiã.

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Ela elege o Corvo para ser sua “nova asa”. O corvo ganhou simbologia negativa por ser a ave que planava sobre os campos de batalha na Europa após os combates de guerra. No seu aspecto positivo este pássaro é tido como mensageiro divino, símbolo de triunfo e perspicácia. No Gênesis, por exemplo, o corvo é o primeiro animal que retorna anunciando que havia terra à vista após o dilúvio. Nas lendas celtas ele tem papel profético e na Grécia ele é consagrado a Apolo e tem o papel de mensageiro dos deuses.

Assim, o corvo simboliza a ponte entre Malévola e o mundo dos Homens, aquele que penetra na sombra sem se perder. Ele permanece com sua consciência organizada e não se envolve diretamente nos sentimentos de Malévola. Ele a auxilia por ter prometido servi-la após ter sido salvo, é seu informante e se torna seus olhos, seus ouvidos e suas asas no mundo dos homens. Acompanha a guardiã em sua jornada, aconselha-a, e mais para frente, cuida da pequena Aurora no que diz respeito às funções maternas práticas que as pequenas fadas não conseguem desempenhar.

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Diaval (o corvo) chega com a notícia que Stefan se tornou o Rei e então Malévola descobre porque ele cortou suas asas. Enfurece-se e decide se vingar quando ele tem sua primeira filha: Aurora.

O padrão de comportamento expressado por Malévola revela que ela não tem os recursos necessários para elaborar e digerir sua frustração e perda, sem conseguir assumir que fora ingênua ao confiar em Stefan. E, por isso, precisa lançar de uma vingança contra aquele que a decepcionou profundamente. Sua forma de fazer justiça é a punição. E por isso ela atinge Aurora. Ela saberia que atingiria Stefan justamente no ponto em que foi traída: no amor!

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Aurora vai ser batizada! Momento que indica a transição, símbolo da cristianização, e da entrada no modelo patriarcal vigente no Reino dos Homens.

O feitiço é lançado para que a menina entre em sono profundo aos 16 anos, na mesma idade em que Malevóla foi beijada por Stefan pela primeira vez e em que achava ter encontrado o amor verdadeiro mas, foi enganada. Assim, acredita que seu feitiço é indestrutível por não mais confiar nesse sentimento.

Mas, quando lança o feitiço em Aurora, Malévola já se compromete, pois ao mesmo tempo que roga a praga mortal, diz que todos que conhecerem a princesa, a amarão. Neste momento, a guardiã enfurecida, já se enterneceu pela bela menina.

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Stefan, preso ao desespero e a ambição, entrega Aurora às três pequenas e desastradas fadas, na tentativa de impedir a realização do feitiço lançado contra ela. Segundo Chevalier, “costuma-se recorrer as fadas e às suas operações mágicas na medida em que não se romperam os laços das ambições desmedidas”.

As fadinhas da trama são imaturas, atrapalhadas, seres elementares integrados à natureza. Símbolos do inconsciente, que não conseguem se estruturar sem uma força que lhes digam o que fazer.

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Deste modo, Aurora nasce numa família disfuncional e cresce sob os cuidados dos aspectos da Sombra (Malévola e Diaval), com os quais entra em contato desde menina. Há de se ter resiliência!

Enquanto isso, Malévola e Stefan usam os mesmos recursos para atacar e se defender: um escudo de espinhos.

Mas, ao acompanhar o crescimento da pequena princesa, Malévola, embora sem admitir,  não consegue impedir seu amor pela pricesinha. A menina cresce e, curiosa, quer saber o que existe por trás do muro de espinhos próximo a sua casa. Elas se um dia se encontram, e a Aurora é apresentada ao Reino dos Moors, com o qual se encanta.

Malévola revive com Aurora o afeto e arrepende-se de ter lançado a praga sobre a menina. Porém ela não consegue desfazer o feitiço, porque tanta energia não pode ser retirada, só transformada.

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Aurora não fica morando com Malévola, o que simbolizaria a imersão no mundo do inconsciente e a impossibilidade de transformação. Assim, com 16 anos a menina segue ao encontro do seu destino. Descobre sua história e também quem é realmente Malévola. No caminho de volta para o Reino dos Homens conhece Felipe, príncipe de um reino vizinho, conhece seu pai e espeta o dedo na Roca de fiar.

A roca de fiar é mais um símbolo que integra aspectos do feminino e do masculino. A roda, remete ao feminino e já o fuso é um elemento masculino, que penetra e fura. A roca também remete à roda da fortuna, do tempo e às três moiras, conhecidas por tecer o fio da vida da humanidade. Senhoras do destino, da vida e da morte. Tudo aquilo que corta, perfura e penetra é também símbolo de discriminação que possibilita a transformação.

Quando Aurora descobre esse poder e poderia então ser mais assertiva em relação ao mundo, ela cai no sono profundo do feitiço.

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Malévola se vê impelida a entrar no castelo para salvar Aurora. Acredita que o jovem príncipe possa ser a solução. Mas, o beijo do jovem mostra que o amor romântico faz parte mas, não precisa ser o final feliz.  Há outras possibilidades de transformação.

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E assim, Malévola descobre o amor verdadeiro através da jovem Aurora. Felizes elas tentam sair do castelo, mas a emboscada já estava armada por Stefan. O ferro, elemento venenoso para a fadas, já estava sendo fundido há tempos para destruí-la.

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Ferro simboliza a robustez, a dureza, a obstinação e inflexibilidade. Em sua ambivalência, ao mesmo tempo que protege contra as consideradas más influências e é instrumento dessas mesmas influências destrutivas, levando à guerra e à morte.

Para não ser aniquilada pelos homens, Malévola transforma o Diaval (o corvo) em Dragão, aspecto que revela mais uma vez sua natureza, soltando sua fúria contra o masculino repressor. Resumidamente, o dragão, possui simbolismo semelhante ao da serpente, é o guardião dos tesouros ocultos em muitos mitos e representa a força primordial da natureza. Associado ao elemento fogo, tem também simbologia ligada à renovação e à transformação, ao mesmo tempo que pode ser mortal e destrutivo.

É por amor que Málevola liberta Aurora, e é o amor da jovem que devolve as Asas para sua mãe-madrasta-fada madrinha!

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Ao recuperar suas asas Malévola pode se elevar novamente e finalmente se desvencilhar do conflito ao qual estava enredada. Isso só pôde ocorrer após Malévola enfrentar diretamente o conflito, entrar no mundo dos homens para salvar Aurora e ser transformada pelo amor verdadeiro.

Ela vê voltar suas forças e recupera o aspecto positivo de sua divindade. Arrasta Stefan com ela. Insiste que para ela o conflito chegou ao fim. Mas para ele não! Tomado pelo ódio e pela loucura Stefan morre.

Stefan fica enredado na vingança contra as forças da natureza feminina de Malévola, obcecado por sua posição unilateral, esquecesse de tudo, enlouquece, sua personalidade se torna delirante e paranoica. Na primeira e na última vez que Stefan entra no reino do Moors é para retirar algo e não para ser transformado pelo reino mágico e alcançar uma nova integração da consciência. Fica perdido nas forças do inconsciente. A impossibilidade de integração o leva a morte, a aniquilação. Na psique, a morte de Stefan, remete a morte do Ego inflado, doentio e que acreditava ser o centro da personalidade. O Ego não é o Rei e o Castelo não é o Centro!

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Aurora simboliza o novo dia, a nova vida e a nova consciência. A possibilidade de unificação do que antes era indiferenciado, cindido e inconsciente. E quando um arquétipo emerge do inconsciente para a consciência isso se faz para homens e mulheres.  Ela é também é símbolo da criança divina, representante de todo o potencial a ser integrado na consciência e que segundo, C. G. Jung “trata-se de uma representação do “sopro divino”, de uma integração com a natureza, de um saber direto, intuitivo”.

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O amor verdadeiro entre Malévola e Aurora permite a reintegração do feminino. Recuperam-se as asas da liberdade, da autonomia, da leveza e da alegria. Malévola agora transformada e amadurecida pode, juntamente com Aurora unir os dois reinos.

O mundo dos Moors volta à vida e a guardiã elege Aurora para reinar sobre ele, simbolizando o início de um novo padrão de consciência relacionado a integração das forças do feminino e a alteridade como novo modelo de relação.
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Toda essa estória nos faz pensar que nossa cultura e sociedade também está precisando dessa transformação! E como aponta Leda Seixas: “cada um tem que cuidar do seu próprio desenvolvimento. O único jeito de transformarmos o mundo é transformando a nós mesmos! “

Por Marcela Alice Bianco

Comissão Organizadora Cine Sedes Jung e Corpo

Este texto foi produzido pela Comissão Organizadora do Cine Sedes Jung e Corpo com base nas reflexões realizadas durante o evento realizado em Junho de 2015, com os comentários da Professora Leda P. Seixas e das PsicólogasBruna Arakaki e Mariana Farinas.

O Cine Sedes Jung e Corpo é uma atividade extracurricular do curso Jung e Corpo: Especialização em Psicoterapia Analítica e Abordagem Corporal do Instituto Sedes Sapientiae de São Paulo.

É um evento gratuito e aberto ao público geral organizado pelos professores do curso em conjunto com ex-alunos e ocorre todas as últimas sextas-feiras dos meses letivos do curso.

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Material reproduzido no CONTI outra com autorização dos responsáveis.

De sorrisos marotos e piscadelas maliciosas são formados nossos afetos

De sorrisos marotos e piscadelas maliciosas são formados nossos afetos

Eu sempre me questionei sobre como a intensidade afetiva que um dia direcionamos a momentos do nosso passado pode simplesmente se perder. Cidades, gostos, paixões e os trabalhos que já tivemos são voláteis e, após o polimento acarretado pelos anos que contam a nossa história, parecem cada vez mais distantes de nossas lembranças e sentimentos. Meses de choro por um amor perdido, algumas primaveras depois, podem não representar mais do que uma piscadela maliciosa em nossa atenção. O que pareceu, em outras épocas, um caso de vida ou morte pode ser representado, hoje, apenas em um sorriso maroto, cúmplice da aparente insignificância que o tempo dá a determinadas experiências.

Outros fatos, com importância real como a morte de alguém querido e familiar, alteram-se também após a troca das lentes com que os vemos. O tempo consola nossas dores enquanto nos mostra que a luz pode ser direcionada para momentos e lembranças boas ao invés de iluminar apenas o fim e a separação.

Se mudanças já acontecem no dia a dia, como em uma cena de ciúmes ou vaidade de ontem que, após uma noite de sono, mostra-se tola, desnecessária e fora de propósito, para onde vão as histórias e sentimentos de meses e anos que já vivemos?

Há na biologia de alguns animais um período chamado “muda”. Nele, quando o corpo torna-se grande demais para sua estrutura, acontece o processo de libertação da antiga morada. Isso acontece com alguns crustáceos, em alguns répteis que trocam de pele, com a cigarra… Você se lembra daquela história que a cigarra canta até explodir? Pois é, nós também passamos por “mudas”, temos nossos limites, crescemos além do que algumas fases podem suportar e transformamo-nos, trocamos de pele, iniciamos novos ciclos de existência. Abandonamos carcaças que já não nos pertencem mais.

Percebemos também, aos poucos, que memória afetiva é coisa seletiva e que guarda só o que nos é mais importante. Ela não é necessariamente dependente da intensidade emocional com que vivemos o que nos aconteceu no passado ou do tempo que demoramos para perceber algumas verdades.

Passamos por ciclos de vida, temos contatos próximos e até íntimos com diversas pessoas e, alguns anos depois, aquilo parece tão distante, é imagem presa em fotografia, lembrança desafiando as imperfeições da memória.

A neuropsicologia afirma que lembranças do passado, mesmo quando evocadas em épocas diferentes, são capazes de ativar regiões afetivas de nossa mente e nos fazer sentir coisas com intensidade similar à epoca do acontecido. Isso vale tanto para os sentimentos profundos de afeto e vínculos reais como para eventos traumáticos. Mas, e se elas não forem mais tão importantes? Quantos de nós estamos prontos para admitir que determinadas coisas não nos encantam como antes? Que o amor e admiração acabaram no casamento ou que aquele emprego um dia tão sonhado hoje só trás sofrimento? Quantas juras de amor antigas já não dizem mais nada? Quantas vezes nós somos realmente capazes de admitir e reconhecer a força das trancas que fecham ciclos anteriores, daqueles momentos que se foram e estão onde não mais se pode voltar?

É preciso reconhecer que a beleza alaranjada do outono só surge após a morte das folhas. É necessário entender que virão novas folhas, mas, embora parecidas, elas serão protagonistas e cúmplices de outras histórias, nunca mais das histórias anteriores.

Nossos ciclos de vida permitem a visão de um mesmo cenário sob diferentes ângulos. Permitem o foco em variáveis diferentes.  E, se ontem as rosas eram amarelas e  hoje são vermelhas, quem saberá de suas cores no futuro?

É fato que nunca mais teremos os olhos de uma criança, mas podemos buscar a  pureza de um olhar infantil que ficou dentro de nós. Nunca mais viveremos um primeiro amor, mas podemos revisitar os sentimentos da construção e do encantamento em novas relações.

Nossas vidas são feitas de desenhos na areia que, apesar de seu valor momentâneo, podem ser apagados pela passagem do mar. Outros, com formas mais sólidas, quando levados, mergulham em profundezas e são tesouro escondido que pode um dia, no acaso ou em expedições planejadas, ser redescoberto.

A maturidade consiste em aceitar os fins e as mudanças do processo sem perder o encanto pela jornada. É estarmos dispostos a fechar cada ciclo e, com novas roupas, vislumbrarmos as possibilidades vindouras. É guardar na memória a essência do que foi mais importante enquanto se percebe que o sentido da vida é seguir, mas sem nunca poupar os sorrisos marotos e as piscadelas maliciosas que formam a pessoa que hoje somos e que, amanhã, será diferente.

Não bata de frente. Vive mais quem aprende a deixar de lado e seguir adiante

Não bata de frente. Vive mais quem aprende a deixar de lado e seguir adiante

Ahh… essa vida é tão cheia de coisas inevitáveis! Você sabe, aquelas coisas das quais não se pode escapar. Tem as boas. O amor, por exemplo, do qual até o mais cretino dos vilões é merecedor. Tem a paçoquinha, as festas de aniversário, feriado prolongado, os reencontros de toda sorte – do dinheiro esquecido no bolso da calça ao velho amigo que reaparece do nada. E tem as más. As incômodas e obrigatórias coisas ruins de toda vida.

Gripe, caco de vidro, barata, cochilo em hora imprópria, fofoca, chuveiro queimado, falta d’água, blecaute, assalto, rejeição, laranja azeda, comida fria, saudade, choque elétrico, pernilongo, decepção e todo tipo de injustiça são só as primeiras.

Contra uma e outra a gente se rebela, reage, enfrenta. Compulsoriamente, a gente combate o que nos incomoda, agride, violenta. A gente briga, discute, toma remédio, vai ao médico, ao psiquiatra, à polícia, procura os amigos. A gente faz qualquer coisa. Faz por defesa, indignação, instinto de sobrevivência, vergonha na cara. Mas faz. Agora, tem coisas inevitáveis que é melhor esperar passar.

Acredite. Agora mesmo há de haver um pateta com sangue nos olhos e veneno no coração babando inveja do que você tem, do que você é. Contra esses, a melhor defesa é sair da frente, passar de lado e seguir adiante.

Pode esperar. Logo ali há mais uma besta esperando para despejar em você todo o lixo que há dentro dela. E a vida é muito curta para perder tempo batendo de frente com um bicho raivoso e inútil.

Fazer o quê? Decerto é um javali rancoroso, um mal agradecido, um coitado roedor de osso que criou sua própria ilusão de controle. Inventou de julgar a Deus e ao mundo para disfarçar sua própria cretinice. Se puder, ele vai machucar você para se sentir melhor. Então desvie.

Saia da frente do touro. Deixe-o correr atrás do próprio rabo até espetar a veia femoral e esvair-se em sangue e ódio.

É triste, mas tem gente nesse mundo que não vale as calças que veste. “Não vale aquilo que o gato enterra”, dizia a minha avozinha. Tem gente que não vale um só segundo de argumentação. Deixe-as passar e desaparecer.

Relaxe. O que há de ser consertado será. Tudo tem jeito, tem volta. Exceto o que não é para ser. Incontornáveis mesmo só a morte, a lei da gravidade e olhe lá! Porque eu ainda faço fé que um dia seremos livres para sair voando por aí. E quer saber? A morte de pessoas queridas não é desculpa para esquecê-las ou nunca mais vê-las por perto. Eu mesmo vivo encontrando gente que já partiu dessa para, faz bem acreditar, melhor.

Se há coisas inevitáveis e obrigatórias nesse mundo, deixemos o melhor de nós mesmos para as boas. O amor, as paçoquinhas, os reencontros e até os feriados prolongados. As outras, a vida que leve embora tal como as trouxe. Do nada, para nada.

A solitária do cais

A solitária do cais

Sento ao fundo do quarto, já pousando a mão aflita na escrivaninha quase abandonada, empoeirada e refletindo o último ato. Que criação virá dessa luz meio estridente que vai rumando dentro de mim como um cais abandonado?

Aguardo o que me vem, completamente absorvida por essa luz que adquire a cor amarelada que tanto gosto, no exato momento de uma inquietação dolorida – o que se pode chamar de um furor antiquado e em horas impróprias. Não se assemelha a nada dessa época.

Tempo meu, uníssono e desconhecido. Passam os minutos pausadamente, sem pressa. É hora de criar a ficção do abandono e o mergulho na solidão que recolhe os olhos marejados da realidade sem graça.

Tudo pronto, coisas tão irresponsavelmente gastas, farsantes, de uma organização selvagem e medíocre dentro do meu corpo.  Insanas e originais. Engatinhando como um filhote independente dos irmãos – ele, que não soubera desde cedo o pesar do outro em seus ombros.

Decidida a ser livre, como ele, sem ainda ser.  Quisera.

Não sou, nem desejo tamanha organização de pecados como a expulsa do paraíso, ali onde se falou de um suculento fruto proibido que fizera da nossa causa uma luta miserável. Não quero morrer por esse fruto, quero dele o sabor, o toque, a posse.

Da organização do mundo é o que falo. Esse novelo de cores misturadas, confundindo o pecado com o perdão; o que não se ajuíza; desmonta cabeças e as junta num encontro de realidades.

O infinito ousando se entender.

Gritos espraiam soltos no ar. Compreendem tudo com agudeza de sentimento esparso e findo, de quem já morreu ou esboçou um sorriso pela última vez na vida.

É o recomeço! – Gritam com ânsia de vida.  Estão perdidos na marginal e compreendem o incompreendido por um dia. Almas emaranhadas no sentido da coisa rarefeita.

Ouvem, lá de baixo, o grito do absurdo que solto aqui de cima como fogos de réveillon: coloridos do inusitado. É a fornalha de dentro dos ossos e dos suspiros.

O intervalo que se cria no canto do olho.

Meus deuses, o que é o grau dessa loucura? Peço socorro. A socorrida.

Dá-me, dessas mãos escorregadias, o minúsculo entendimento de mim, do que sou, por quem vivo, para ser mais exata diante de ti.  Desmorono com tanta facilidade por conta desse tal entendimento que busco.

Rogo.

O que pensara gora, que já me vejo lúcida e com uma luz que ataca profundamente meus olhos de tons quentes e marrons? Serei cega para todo o resto, mas ainda consigo chegar a alguém que também se esbarra no não entendimento de toda a coisa pulando tão viva.

Ataca os desprevenidos e desajustados para o cotidiano.

Um rolo de filme anda e se forma para o legado interminável dos atos. Ė o tempo inescapável e irrecusável que urge. A sentinela da ficção foi escrita. Eis a crueldade de se guardar o inescrupuloso instante na palma da mão e movediço na cabeça.

A engrenagem do poema? Uma noveleta? A ficção! Que se faça agora, mas diga o necessário entre os dentes, condensando o ar morno que se respira pesadamente.

Essa novela depois de estruturada de vida de gente, com meios, inícios e fins ou já iniciada de um fim será a vida caindo da ponte dos desejos? Que se ajustem aos meus ossos então.

Quero saltar do alto, no colapso de uma realidade entendida.

Embuste! Frio e torto continua meu lábio trêmulo.  Escárnio e malícia na cara, são suficientes para me acalmar.  Estou tão viva e ainda não morri por nada. Tudo tão estampado em minha pele viva, como tatuagens finalizadas agora.

Venho de uma desordem tempestiva.  Ouça.  Grunhidos pesados e altos saem desse ser. Gemidos para todos e por todos. Perdição? Pudera.  Não.  O encontro mais impossível e real.

Dois mundos. O escrito e o não escrito. A ficção e o tato.

O que morre é a sensação, o que deixa de ser. O eu desassistido e sem proteção.

Eles – todos eles -, precisam saber que existo para essa necessidade. Tenho tanta urgência como a tinta fresca que se borra em busca da forma disfarçada e esfumaçada entrecortando o ambiente novo. Sou tão nova e inventada agora como essa pintura. Mas me vejo borrada num recorte de tempo em que existo e não sei bem ao certo me dar um nome e dizer quem sou, quando me perguntarem algo com interesse em alguma descoberta de vida íntima.

Ah, ele quer saber, insiste que eu o diga, que da minha boca morna saiam palavras desajustadas e faladas diretamente de mim, pronunciadas, verborrágicas. Ditas.

Tão desprotegida estou. Envergonhada de tudo o que me assemelha. Entortilhada.

Deixa ele saber quem sou. É melhor assim para os dois lados. Há o temor sentido e o ruído criado.  Constantes. Aéreos no espaço-tempo.

Conheça mais sobre a autora em seu livro Intimidades de uma escritora

E no Blog Divulga Escritor: Entrevista com Patrícia Dantas 

Bertrand Russell deixa dois conselhos à Humanidade

Bertrand Russell deixa dois conselhos à Humanidade

Bertrand Russell, nasceu em 1872 e é considerado um dos mais influentes matemáticos, filósofos e lógicos que viveram no século XX. Em vários momentos na sua vida, ele se considerou um liberal, um socialista e um pacifista.

Em 1959, ele concede uma entrevista à BBC, de Londres, na qual deixa dois conselho, um moral e outro intelectual à Humanidade. Vale muito conferir.

Francisco Brennand fala sobre o sentido da vida (Imperdível)

Francisco Brennand fala sobre o sentido da vida (Imperdível)

Não foi por um acaso que eu e minha amiga Vanessa resolvemos usar uma das manhãs de nossas férias para visitar a oficina do escultor e artista plástico pernambucano Francisco Brennand.

Não fosse pela sugestão dela, contudo, eu teria ficado a ver o mar e jamais passaria um dos momentos mais prazerosos da minha viagem – eu planejava ir correr na praia, mas tive medo de ela ir, ser muito legal, e eu ficar de fora.

O artista não só estava na oficina (depois soubemos que ele costuma por lá estar), como, do alto dos seus respeitosos 86 anos e inúmeras obras espalhadas pelo Recife, Brasil e mundo, falou com a gente sobre o sentido da vida. E enquanto ele respondia a pergunta, a Vanessa aproveitou para gravar um vídeo (veja o vídeo e leia a transcrição no texto abaixo).

“Foi por um acaso”, começou Brennand, “ontem, lendo um escritor e poeta excelente aqui de Recife, chamado Marcus Accioly, ele estava exatamente falando sobre isso.”

Abriu seu caderno de anotações (ele havia nos convidado para conversar em sua sala):

“Eu anotei aqui, pelo menos começar a quinta-feira com alguma coisa que denote inteligência. Lendo o artigo de Marcus Accioly, quando ele nos adverte: ‘para curtir o outro mundo não é preciso esperar muito’. Isso ele queria certamente se referir à morte, depois ele cita Goethe: ‘nós fomos feitos para viver a vida, não para entendê-la.”

E após a citação, concluiu: “dá certinho para o que você está perguntando, mas não é uma frase minha. Mas nós não precisamos descobrir frase nenhuma quando alguém já disse uma coisa excelente como essa. Nós não precisamos entender a vida, fomos feito para viver a vida, não para entendê-la”.

Se foi coincidência ou não, só Deus para saber. Aliás, foi o universo que conspirou ao nosso favor. Ou eu estava apenas no lugar certo, na hora certa?

Na opinião de Brennand, parecia ser de tudo um pouco. Nos aproximadamente 30 minutos que falou com a gente, disse acreditar em Deus, falou da necessidade de nos conciliarmos com o universo, mas acrescentou que, com a idade que chegou, conforta-se em dizer: “a vida é um mistério.”

O artista completava uma ideia atrás da outra, com a serenidade e experiência de quem já tem as respostas para todas as suas questões. Dessa forma,  resolvi transcrever a entrevista tal como foi feita: só com ele falando. Seguem os trechos:

Fórmulas
-Não há nada mais estranho do que uma pessoa dizer que tem uma fórmula qualquer a respeito da vida, ou dizer que tem razão em alguma coisa. É muito mais certo você viver a vida e se conciliar com os astros, o universo. Porque não há diferença nenhuma, todo ser vivo é igual, você olhando uma foca, um animal, um pinguim, uma ave, um cavalo, um boi, ser humano, ou uma bactéria, um vírus. São seres vivos, vegetais, etc. Animados ou inanimados.

contioutra.com - Francisco Brennand fala sobre o sentido da vida (Imperdível)Deus
-Mesmo os minerais têm uma historia a contar. Você diz, são rochas inertes. Mas a composição delas tem compostos que existem na nossa composição corpórea. O homem não é estranho nem ao planeta nem tampouco ao universo. Somos feitos do mesmo material das estrelas, portanto, não estamos sós. Esse é o nosso grande espírito, o nosso grande legado, porque nós pertencemos ao universo, e o universo é o enigma, e o enigma é Deus.

O senhor é religioso?
– É uma coisa tão ridícula não acreditar em Deus. Como não acreditar em Deus se a própria natureza, o próprio ser humano, a própria vida…  O mistério da vida, da existência, da fala, o silêncio. Os bichos não falam, matam-se entre si. Mas o bicho mata e esquece. Não existe crime. Ele mata para comer. Para sobreviver. Nós matamos para comer e para sobreviver. E alegremente. Na hora do almoço quando chega um bom pedaço de carne, quem está se lembrando que aquele bichinho foi assassinado, em proveito da nossa alimentação? E a vida, a palavra certa, com a idade que cheguei, e isso me conforta, com a idade que eu cheguei, é dizer: é um mistério, é um enigma, e os mistérios são irreconhecíveis, não há como descobrir, se não, não haveria mistério.

contioutra.com - Francisco Brennand fala sobre o sentido da vida (Imperdível)Felicidade
– Felicidade é simplesmente viver, com todos os atrapalhos que a gente tem. E encontrar dificuldade, não há como evitá-las. E todo o tipo você encontra. Mas isso não quer dizer que seja infelicidade. As doenças são outros tantos mistérios, porque nós adoecemos de doenças que são ligadas também à natureza. Ou seja, para que haja uma doença, tem que haver uma degenerescência qualquer onde há entrada de vírus ou bactérias comuns na natureza, com as quais convivemos e elas estão ali no seu papel, no seu local.

Excessos
– Outro dia vi na televisão que a mão deve ser lavada, como higiene. Quantas vezes você puder. Mas tome cuidado, o excesso também é prejudicial. Se lavar excessivamente, você prejudica seu cabelo, prejudica sua pele. Existe na nossa pele elementos que são vitais, que são fabricados pelo próprio corpo. Se você mete sabão em cima, você arranca com esses elementos. Você usa shampoo demais no seu cabelo, você destrói o seu cabelo. A mulher brasileira toma banho demais, por isso esta faltando água em São Paulo!

Inteligência humana
– É muita estranha a vida, e sem querer nós homens, como somos dotados de uma extrema habilidade e uma versatilidade muito grande através da inteligência, da memória, a gente tem facilitado a nossa vida. Essas descobertas são todas notáveis, mas muitas vezes, nós sabemos que tem o aquecimento global, não é invenção de cientista, cientista não tem razão nenhuma para mentir, que um politico minta, mas um cientista, com que finalidade? A não ser que ele esteja feliz com o governo.

Gabriel Garcia Márquez
– Além de dizer a frase de Goethe, Accioly aproveita o Gabriel Garcia Marquez. E ele diz, o Gabriel Garcia Márquez, já que o outro diz que a vida é para ser vivida, para vive-la,. Vivê-la para contá-la. (…) Não é uma maravilha? Porque todos esperam que a gente conte. Porque as pessoas que não pintam estão esperando ver pintura. Todos são pintores também, apenas não pintam, mas querem ver pintura, e por isso pintor pinta. Não é que ele seja melhor, ele é apenas o veículo daquilo que todos estão esperando ver.

Juventude
– Todo jovem quer viver da mágica, da palavra. Todo jovem acha que representa, vocês representam a novidade. A nova geração. E vocês são a eternidade. Porque vocês se acham eternos. Eu já fui eterno, hoje não penso que sou eterno, mas já fui eterno e compreendo aqueles que acham que são eternos. Compreendo aqueles que por serem muito jovem sempre acham que estão com a razão e que a geração de vocês tem sempre razão. Porque os novos tem sempre que ter essa razão para que haja  um impulso para que a vida seja mais confortável através do pensamento. Você não pode pensar que está vindo errado, não há esse caminho.

Velhice
Há muitos anos atrás existia uma música que dizia: desconfie dos homens de mais de 30 anos. Passou os 30 já é para desconfiar. Não é que a pessoa ficasse velha, mas é que a velhice pode se transformar em velhacaria, o que é uma coisa perigosa. Você pode envelhecer e simplesmente ser um velho, mas pode ser um velhaco também, usar a velhice para enganar os outros.

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Frase em um dos muros da Oficina Brennand, no Recife

O senhor não pensa que é eterno, por conta de sua obra?
Eu vou dizer o seguinte, eu já acreditei que fosse assim, eu acho que o tempo não vai fazer justiça a ninguém, tudo é uma questão de casualidade. A permanência da obra de um artista é sempre uma incógnita,
E depois de dar todas suas respostas antes de eu conseguir fazer qualquer pergunta sobre a vida, esse simpático senhor de longas barbas brancas, uma fala sincera e sotaque pernambucano, conclui:

“Espero que, em vez de ter-lhe confundido, eu tenha contribuído com alguma coisa, porque eu  falei tanto e posso não ter dito nada.”

Sem mais, caro leitor.

Conheça mais sobre o artista em http://www.brennand.com.br/

A busca da Felicidade ou do Sofrimento, Albert Camus

A busca da Felicidade ou do Sofrimento, Albert Camus

O homem recusa o mundo tal como ele é, sem aceitar o eximir-se a esse mesmo mundo. Efetivamente os homens gostam do mundo e, na sua imensa maioria, não querem abandoná-lo. Longe de quererem esquecê-lo, sofrem, sempre, pelo contrário, por não poderem possuí-lo suficientemente, estranhos cidadãos do mundo que são, exilados na sua própria pátria. Exceto nos momentos fulgurantes da plenitude, toda a realidade é para eles imperfeita. Os seus atos escapam-lhes noutros atos; voltam a julgá-los assumindo feições inesperadas; fogem, como a água de Tântalo, para um estuário ainda desconhecido. Conhecer o estuário, dominar o curso do rio, possuir enfim a vida como destino, eis a sua verdadeira nostalgia, no ponto mais fechado da sua pátria. Mas essa visão que, ao menos no conhecimento, finalmente os reconciliaria consigo próprios, não pode surgir; se tal acontecer, será nesse momento fugitivo que é a morte; tudo nela termina. Para se ser uma vez no mundo, é preciso deixar de ser para sempre.

Neste ponto nasce essa desgraçada inveja que tantos homens sentem da vida dos outros. Apercebendo-se exteriormente dessas existências, emprestam-lhes uma coerência e uma unidade que elas não podem ter, na verdade, mas que ao observador parecem evidentes. Este não vê mais que a linha mais elevada dessas vidas, sem adquirir consciência do pormenor que as vai minando. Então fazemos arte sobre essas existências. Romanceamo-las de maneira elementar. Cada um, nesse sentido, procura fazer da sua vida uma obra de arte. Desejamos que o amor perdure e sabemos que tal não acontece; e ainda que, por milagre, ele pudesse durar uma vida inteira, seria ainda assim um amor imperfeito. Talvez que, nesta insaciável necessidade de subsistir, nós compreendêssemos melhor o sofrimento terrestre, se o soubéssemos eterno. Parece que, por vezes, as grandes almas se sentem menos apavoradas pelo sofrimento do que pelo fato de este não durar. À falta de uma felicidade incansável, um longo sofrimento ao menos constituiria um destino. Mas não; as nossas piores torturas terão um dia de acabar. Certa manhã, após tantos desesperos, uma irreprimível vontade de viver virá anunciar-nos que tudo acabou e que o sofrimento não possui mais sentido do que a felicidade.

Albert Camus, in “O Homem Revoltado”

5 coisas que você não sabia sobre sonhos lúcidos

5 coisas que você não sabia sobre sonhos lúcidos

premissa de um sonho lúcido é simples e, ao mesmo tempo, misteriosa: um sonho lúcido é aquele em que você sabe em que está sonhando. A maioria de nós acorda ou tem o sonho imediatamente interrompido quando descobre, no meio dele, que está sonhando. O susto parece trazer nossa consciência de volta do mundo onírico. Mas o que talvez você não saiba é que tem gente que consegue ter sonhos lúcidos com bastante frequência e inclusive permanecer neles, mas alerta. E isso significa ser capaz de fazer tudo o que você faz acordado, mas em sonho.

Os primeiros registros de sonhos lúcidos na história são egípcios

contioutra.com - 5 coisas que você não sabia sobre sonhos lúcidosAlguns pesquisadores acreditam que Ba, a representação egípcia para a alma, era o ‘eu’ presente em sonhos lúcidos e projeções astrais, por exemplo. Ba era comumente demonstrado como um pássaro com cabeça de humano que flutuava acima do corpo humano. Robert Waggoner, autor de Lucid Dreaming: Gateway to the Inner Self, fala no mesmo livro que Ba pode ser o primeiro registro histórico de uma consciência itinerante, que sai do corpo mas conserva as características do corpo e da mente comuns, ou seja, nós mesmos quando estamos dentro de um sonho lúcido.

Sonhos lúcidos podem ser identificados como um outro estado de consciência

De acordo com a autora do livro Consciousness: A Very Short Introduction, Susan Blackmore, sonhos lúcidos podem ser um estado de consciência distinto daqueles que já conhecemos e alguns cientistas até acreditam que possamos, eventualmente, identificá-lo desse maneira. Ela iguala o estado de ‘sonho lúcido’ a alteração de consciência de experiências com algumas drogas como maconha e LSD, paralisia do sono, meditação e experiências de projeção astral.

Uma em cada 5 pessoas tem pelo menos um sonho lúcido por mês

Um estudo de 1988 descobriu que 20% das pessoas afirmam ter sonhos lúcidos todo mês, enquanto outros 50% disse já ter tido um sonho assim pelo menos uma vez. O estudo também mostrou que a lucidez em sonhos é ainda mais comum para crianças – desconfia-se que seja porque crianças têm mais pesadelos e são mais vulneráveis a eles, e pesadelos frequentemente despertam a parte do cérebro responsável pela lucidez no sonho, para que o sonhador possa se dar conta que está em uma narrativa irreal e possa então transformá-la em algo diferente e menos assustador.

Alguns alimentos podem aumentar suas chances de ter sonhos lúcidos

Anota aí: um estudo de 2006 identificou que participantes que tomaram, diariamente, 250mg de vitamina B6, disseram ter sonhos mais vivos, emocionantes, com cores mais vivas e histórias mais mirabolantes. O problema é que a quantidade diária recomendada pela OMS de vitamina B6 é 100mg. O que acontece se você tomar vitamina B6 demais? Bom, registros científicos anteriores dão conta de gente que tomou de 500mg a 1000mg por dia durante meses e teve neuropatia sensorial, que é dormência e perda de sensibilidade na extremidade. Ou seja, não é uma boa ideia.

Mas você pode garantir que seu consumo diária de vitamina B6 fique dentro do recomendado e isso já vai ajudar: você a encontra em alimentos como batata, banana, pães e arroz integral, alho, abacate, gema de ovo, limão, leite e aveia, por exemplo.

Há um gadget que, supostamente, induz sonhos lúcidos

A Aurora é uma máscara facial que pisca cores em um padrão específico que, de acordo com o fabricante, induz sonhos lúcidos mais facilmente. O projeto foi financiado no Kickstarter e a Aurora já está em pré-venda por 200 dólares.

Por Ana Freitas, via Revista Galileu

Manter-se inteiro é também aceitar-se vazio

Manter-se inteiro é também aceitar-se vazio

Ouço muito por aí: ‘não vá deixar a peteca cair!’

‘Nessa vida tem que ter jogo de cintura, não pode perder o rebolado, nem descer do salto.’
Não deu certo (um namoro, um emprego, um alvo) parta pra outra, rapidinho!
Se deu mal num caminho, nem pense, vá logo buscar outro. Afinal, a vida é muito curta para estar parado, mal amado, solitário e desempregado.

Arranja logo um ‘substituto’, o quanto antes, ponha logo na mira o plano B. Aliás, tenha sempre um plano B! (que muitas vezes é muito parecido com o A, mas mudam-se os protagonistas, os coadjuvantes e o cenário. Ás vezes o plano B é simplesmente viver a mesma vida em outra cidade, país, terreno. Se você for o mesmo, seu plano B é apenas um plano A disfarçado).

Mas não importa! A ideia é não parar, nessa vida a gente não pode parar! Para ser feliz e importante, tem que estar ativo. Por isso mantenha-se ligado, mantenha-se amado e amável, mantenha-se amando, querendo, desejando, mantenha a postura, o gingado e o nariz levantado.

É o que dizem por aí. Mas aí a vida diz corra, e lá no fundo do seu coração há um pulsar mais fraco, de velhinha querendo cama, mesmo que solitária. Há uma respiração frouxa, um cansaço desse andar desenfreado, há um ritmo que descompassou e pede quietude. Há uma vontade, bem lá no fundo, de não resolver nada agora, nessa hora de desencontros, derrotas e abandonos. Há uma vontade de sair da dança para pegar um pouco de fôlego nas margens da vida.

Acabou a energia pulsante, não há lágrimas e nem vontades. Os sentimentos estão desérticos, a alma não quer renascer agora, esta alma que já teve algumas primaveras este ano. Agora está hibernando. Deixe ela quieta! Parar não é morrer, não é vegetar, muitas vezes é apenas meditar, respirar fundo, entender para voltar feito borboleta: voando leve e mais colorida ainda.

Não deixar a peteca cair, emendar um voo no outro, desdobrar o plano B antes mesmo que o A tenha se findado, pode significar uma queda mais vertical no final. Pode significar que nasça uma borboleta de uma asa só. Há um tempo de maturação entre um final e um começo.

Por isso, deixe sim a peteca cair, descompasse, fique na cama no sábado à noite, não faça as malas ainda. Pode ficar um tempo fechado para balanço, organizando o estoque dos sentimentos ou apenas respirando, sentado na encruzilhada de um mundo absurdo que não para te pedir tudo quando você já não pode oferecer nada. Não ainda.

9 táticas para deixar de ver o lado negativo de tudo

9 táticas para deixar de ver o lado negativo de tudo

Cada ser humano tem a sua forma de sentir e demonstrar suas emoções, o professor de psicologia e psiquiatria Richard J. Davidson chama isso de “impressão digital emocional”. E o termo é mesmo muito interessante, pois expressa bem a nossa individualidade. Assim também, algumas pessoas lidam melhor com suas emoções negativas, enquanto outras apresentam maior dificuldade.

A boa notícia é que mudar o comportamento emocional é possível através de exercícios mentais que promovem o que a pessoa precisa para mudar a forma de encarar as situações da vida de forma positiva.

Observe estes exercícios baseados nas sugestões do Dr. Davidson na matéria:

1. Anote características positivas

Escreva numa agenda uma característica positiva sua e de mais duas pessoas que convivem com você, pode ser um familiar e um colega de trabalho, por exemplo. Mas é importante que você observe sinceramente e anote com segurança. Repita isso três vezes ao dia e procure levantar características diferentes.

2. Expresse gratidão

Ainda usando sua agenda escreva no final do dia pelo menos um momento em que você demonstrou estar grato. Para cultivar esse sentimento olhe nos olhos das pessoas e agradeça com sentimento e não apenas diga “obrigado”. Observar a natureza, a família e tudo o que há de bom na própria vida é também essencial.

3. Elogie alguém regularmente

Mantenha-se atento nas circunstâncias propícias em que alguém aja de forma admirável e aproveite para elogiar. Faça isso pelo menos uma vez por dia, olhando nos olhos da pessoa para desenvolver uma conexão positiva com ela. Melhor será o efeito se você anotar esse momento em sua agenda.

4. Faça exercícios respiratórios

De preferência duas vezes ao dia procure privacidade, sente-se de forma confortável, feche os olhos e respire pausadamente. Procure se concentrar na sua respiração e no movimento de seu corpo ao inspirar e expirar.

5. Desenvolva a compaixão

Pensar no sofrimento de outra pessoa e no que pode ser feito no sentido de provocar alívio melhora muito sua percepção da própria vida. Uma boa ideia é começar com os familiares. Conforme escrevi no artigo 4 passos para desenvolver maior afeto pelos pais na vida adulta: A afetividade tem tudo a ver com compaixão.

6. Saia da zona de combate

Diante de conflitos procure equilibrar os ânimos antes de continuar a conversa, assim é mais fácil de manter as emoções em alta e harmonizar a situação.

7. Encare suas dificuldades

Escolha um momento propício e pondere calmamente sobre o que faz suas emoções negativas se tornarem incontroláveis. Faça uma lista e reflita em cada item, procurando entender porque aquilo afeta tanto você. Faça exercício respiratório e perceba que você consegue enfrentar a situação com calma.

8. Preste atenção nas reações de seu corpo

É importante tomar consciência do que acontece com seu organismo quando você se envolve em emoções negativas. Isso ajudará ao controle necessário de sua mente para que os efeitos desagradáveis desapareçam.

9. Observe o que provoca o seu bem-estar

Concentre-se em buscar atividades que elevem sua autoestima e, consequentemente, provoquem o seu bem-estar. Substitua estímulos dolorosos por pensamentos agradáveis e se contamine com eles. A mudança começa sempre no pensamento.

A sua vida é fruto de suas escolhas, assim também é o seu ânimo emocional: você pode optar por seguir de mau humor na vida ou identificar suas dificuldades e mudar suas emoções de forma a ser uma pessoa mais positiva e feliz.

Fonte: Família.com

Manifesto contra os manuais de instruções

Manifesto contra os manuais de instruções

Pretensas fórmulas, manuais, bulas, estatísticas, dentre outras tentativas de enquadrar e categorizar a vida, os comportamentos e as pessoas, de modo a elencar determinadas formas de fazer algo, ou interpretar uma ação, ou ainda rotular alguém, não é algo estritamente contemporâneo. Entretanto, talvez pela facilidade de veiculação de informações, ou pelas características predominantes inerentes à nossa época. Creio que nunca se viu tantas propostas para “esquematizar” as experiências quanto encontramos hoje. Testes de personalidade (não necessariamente sérios e muito menos científicos), padrões estéticos e comportamentais contribuem para patologizar as diferentes formas de existir a reveria, engordando os livros dos CIDs e DSMs. Livros da auto ajuda (que na verdade não tem nada de “auto”) são vendidos como Best Sellers, técnicas de comportamento são veiculadas em textos, vídeos e palestras, como se as mesmas coisas funcionassem da mesma forma para qualquer um. Crônicas trocam o humor sarcástico pela lição de moral. Enfim, lembro-me do vídeo clip  da música “Another Brike in the Wall” do Pink Floyd, em que os alunos de uma escola aparecem uniformizados, com mascaras deformadas que escondem suas faces, caminhando de forma heterogênea e sem vida para caírem em um máquina de moer carne. Lembro-me dos treinamentos dos exércitos militares, em que todos devem marchar de forma igual, e fazer tudo igual, sem questionar, para engolirem a ideia indigesta de morrer por uma pátria se for necessário. Essas pátrias as quais se deve servir gentilmente, mas que não servem a ninguém.

Essa tendência a hegemonização global desvirtua até mesmo a diferença, transformando atitudes, estilos e estereótipos que em um tempo foram marginalizados e revolucionários em tendências da moda, figuras do marketing e por aí vai. Estes resíduos da cultura capitalista, em que a quantidade supera a qualidade, em que a essência é ignorada em detrimento da aparência, potencializam a chaga civilizatória que prega a massificação, afinal, isso facilita a dominação e o controle sobre o ser humano. Não critico as tradições, e muito menos afirmo que não possamos aceitar conselhos, expressar nossas experiências e a percepção que temos delas, compartilhar nossas opiniões e defendê-las, nos alegrarmos quando encontramos pessoas afins, ou mesmo gostar de uma proposta estética e querer adotá-la em nosso cotidiano. No entanto, o rumo dessa produção em massa de manual de instruções para todas as finalidades é muito mais complicado e perverso do que parece.

Se em outras épocas a imposição de padrões era explícita e rígida, como podemos recuperar na memória histórica do funcionamento das instituições de educação, das famílias e outras formas coletivas organizadas, atualmente essa imposição é global, sutil e mascarada de liberdade. Absorve-se às vezes essa substância pastosa do “como deve ser” sem que se perceba, e seus efeitos colaterais se reproduzem e infectam como vírus as ações e percepções que deveriam ser pessoais. Algumas situações em particular me levaram a refletir seriamente sobre isso. Como quando em uma conversa de boteco que, até então, para mim era descontraída, a interlocutora me pediu estatísticas que comprovassem o que eu estava falando. Sério? Então são estatísticas que resumem a natureza de um assunto? Se fosse tão simples, estaríamos vivendo em um paraíso, pois o que não falta por aí são estatísticas. E outra, pedir alguém para comprovar estatisticamente sua opinião holística, como era o caso, em um bar, é muita apelação. Na mesma linha, por vezes me encontro com perguntas sobre o que e em que grau alguém precisa ter para me atrair, ou vejo outras pessoas se orgulhando de serem questionadas sobre isso, provavelmente por se sentirem desejadas. Isso me deixa perplexa. Só falta começarem a abrir editais de processo seletivo para potenciais amores e amizades…

O absurdo dessa lógica que quantifica e padroniza é que ela propõe que nos moldemos para nos oferecer a algo ou a alguém. Tornamo-nos mercadorias e vendedores de nós mesmos. Isso acontece a todo o momento, e em algumas situações não há escapatória, como é o caso das entrevistas de emprego, por exemplo. No entanto, onde isto nos leva? Inequivocamente, para algum lugar tão longe de nossa própria existência, que perdidos de nós, convertemo-nos em um objeto sem vida e fácil de manipular. Lygia Fagundes descreve de forma muito clara esse perder-se do ser em seu conto “Eu era mudo e só” (no livro “Antes do Baile Verde”):

“Depois, com o passar do tempo, a metamorfose na maquinazinha social azeitada pelo hábito de rir sem vontade, de chorar sem vontade, de falar sem vontade, de fazer amor sem vontade… O homem adaptável, ideal. Quanto mais for se apoltronando, mais há de convir aos outros, tão cômodo, tão portátil. Comunicação total, mimetismo: entra numa sala azul fica azul, numa vermelha, vermelho. Um dia se olha no espelho, de que cor eu sou? Tarde demais para sair porta afora”.

Neste conto, a autora que narra a partir da voz de um homem político aposentado discorrendo sobre a sua própria vida, confunde a percepção do leitor, que não sabe se este homem está metaforizando sua vida com um cartão postal, ou se está louco achando que vive dentro de um cartão postal.

O grande triunfo dessa lógica cultural e social é fazer com que as pessoas pensem que, se elas não conseguirem se adaptar a algo e não forem bem sucedidas, elas são fracassadas e exclusivamente culpadas por suas dores. Quem foge a regra do camaleão, recorrentemente joga cartas com a solidão. Ou dá conta e se diverte com isso, ou se rende e perde suas cores e metamorfoses espontâneas. É claro que temos nosso papel em cada coisa acontece, mas que papel é esse, que é nosso, se não existir alguém para ser? Por vezes, as pessoas se tornam apenas o papel, vivem o papel, e quando esse papel perde o sentido, elas perdem o sentido de viver. Isso explica pessoas que odeiam seus trabalhos, mas se recusam a aposentar, ou casais que não se suportam, mas não se separam. Ou ainda, pessoas que adorariam viver uma experiência diferente (estas, ainda com uma centelha de vida, pois não perderam a capacidade de sonhar e desejar), mas se encontram tão aprisionadas à rotina que não arriscam sequer sair pelo portão.

É que existir é imanente à surpresa, ao imprevisível, ao novo, ao mutável, e diante disso é inútil buscar por uma fórmula mágica que ofereça uma solução precedente ao confronto com problema. Assumir a vida às vezes é mergulhar no problema, como um físico que busca provar sua teoria absurda. Provar a vida que é oferecida. Arriscar desagradar, errar, falir, sofrer, ser desprezado, excluído, mal visto, machucar-se, morrer. E é a consciência de que estamos vivendo simplesmente para em algum momento tudo acabar (mesmo que exista outra vida, ela não seria a mesma de agora), que às vezes faz com que as pessoas repensem sua travessia pela existência, e percebam que “provar a vida” oferece também o risco de se alegrar, de amar, de receber, de sentir-se especial, descobrir prazeres, conhecer, se encantar, viver a paz e o êxtase intensamente.

Quando a emoção está acorrentada à dor, a lágrima é liberdade

Quando a emoção está acorrentada à dor, a lágrima é liberdade

A jovem, estreante nos caminhos do amor,  aproximou-se cabisbaixa da mãe:

– O que acontece quando uma represa vai guardando tanta água que arrebenta com as comportas?

– Filha, a água sai com muita força e acaba inventando outros caminhos, além do antigo curso do rio. Por que a pergunta?

– É que tenho uma represa no fundo dos olhos, mãe.  Se ela romper as comportas do rosto e da alma, eu me derramo inteira, como se toda a minha existência fosse um choro imenso, e preciso saber em que mar eu irei desaguar.

A dor, quando quer externar-se, ela reveste os olhos de tristeza. Olheiras, é sabido, são lágrimas represadas. Avolumam-se nos dias mais tristes e tornam-se escuras devido à força do salubre líquido que bate forte contra as suas paredes. Se não há suficiente vazão, fingem-se semi luas, disfarçam-se de noite.

A menina ainda não saiba que o amor exige mais que a entrega, mais que sensível doação de afeto, de ternura; que o amor exige mais que a veneração e a eleição do ser amado. O amor exige, acima de tudo, o respeito.

Respeito às escolhas dos outro. Exige respeito à individualidade do outro, ao desejo, ao pensamento, ao sentimento do outro. O verdadeiro amor é um exercício de compreensão e alteridade. É quando, ao respeitar integralmente o amado, alcançamos um novo patamar de autorrespeito e autoaceitação.

Até a compreensão chegar, cabe-nos administrar a tristeza, dando vazão, pelas lágrimas, à dor que os nossos olhos represam. Cabe enamorarmo-nos de nossas olheiras e ver, no rosto abatido mirado no espelho, na face avermelhada de choro, o encantamento de um humano que cresce. Saber que a dor que os nossos olhos represam é proporcional ao afeto que de nosso peito transborda.

Então a mãe olha a filha de olhos já marejados e diz:

– Recosta no ombro da mãe, filha.. E chora. Porque a lágrima é a única sagrada moeda com que um coração pode comprar a liberdade de si mesmo. E não se preocupe com o fluxo das águas. Elas sempre encontrarão o caminho do mar.

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