A EDUCAÇÃO DO SER POÉTICO, por Carlos Drummond de Andrade

A EDUCAÇÃO DO SER POÉTICO, por Carlos Drummond de Andrade

Por que motivo as crianças, de modo geral, são poetas e, com o tempo, deixam de sê-lo?

Será a poesia um estado de infância relacionada com a necessidade de jogo, a ausência de conhecimento livresco, a despreocupação com os mandamentos práticos de viver – estado de pureza da mente, em suma?

Acho que é um pouco de tudo isso, se ela encontra expressão cândida na meninice, pode expandir-se pelo tempo afora, conciliada com a experiência, o senso crítico, a consciência estética dos que compõem ou absorvem poesia.

Mas, se o adulto, na maioria dos casos, perde essa comunhão com a poesia, não estará na escola, mais do que em qualquer outra instituição social, o elemento corrosivo do instinto poético da infância, que vai fenecendo, à proporção que o estudo Sistemático se desenvolve, ate desaparecer no homem feito e preparado supostamente para a vida?

Receio que sim.

A escola enche o menino de matemática, de geografia, de linguagem, sem, via de regra, fazê-lo através da poesia da matemática, da geografia, da linguagem.

A escola não repara em seu ser poético, não o atende em sua capacidade de viver poeticamente o conhecimento e o mundo.
Sei que se consome poesia nas salas de aula, que se decoram versos e se estimulam pequenas declamadoras, mas será isso cultivar o núcleo poético da pessoa humana?

Oh, afastem, por favor, a suspeita de que estou acalentando a intenção criminosa de formar milhões de poetinhas nos bancos da escola maternal e do curso primário.

Não pretendo nada disto, e acho mesmo que o uso da escrita poética na idade adulta costuma degenerar em abuso que nada tem a ver com a poesia.

Fazem-se demasiados versos vazios daquela centelha que distingue uma linha de poesia, de uma linha de prosa, ambas preenchidas com palavras da mesma língua, da mesma época, do mesmo grupo cultural, mas tão diferentes.

Se há inflação de poetas significantes, faltam amadores de poesia – e amar a poesia é forma de praticá-la, recriando-a.

O que eu pediria à escola, se não me faltassem luzes pedagógicas, era considerar a poesia como primeira visão direta das coisas e, depois, como veículo de informação prática e teórica, preservando em cada aluno o fundo mágico, lúdico, intuitivo e criativo, que se identifica basicamente com a sensibilidade poética.

Não seria talvez despropositado cuidar de uma extensão poética das escolinhas de arte, esta ideia maravilhosa que Augusto Rodrigues tirou de sua formação humana de artista para a realidade brasileira. Longe de ser uma fábrica alarmante de versejadores infantis, essa extensão, curso ou atividade autônoma, ou que nome lhe coubesse, daria à criança condições de expressar sua maneira de ver e curtir a relação poética entre o ser e as coisas. Projeto de educação para a poesia (fala-se hoje em educação artística no ensino médio, quando o mais razoável seria dizer educação pela arte).

A vocação poética teria aí uma largada franca, as experiências criativas gozariam de clima favorável sem que tal importasse na obrigação de alcançar resultados concretos mensuráveis em nível escolar.

Sei de casos em que um engenheiro, por exemplo, aos 30, 40 anos, descobre a existência da poesia…

Não poderia tê-la descoberto mais cedo, encontrando-a em si mesmo, quando ela se manifestava em brinquedos, improvisações aparentemente absurdas, rabiscos, achados verbais, exclamações, gestos gratuitos?

Alguma coisa que se bolasse nesse sentido, no campo da Educação, valeria como corretivo prévio da aridez com que se costuma transcrever os destinos profissionais, murados na especialização, na ignorância do prazer estético, na tristeza de encarar a vida como dever pontilhado de tédio.

E a arte, como a educação e tudo o mais, que fim mais alto pode ter em mira senão este, de contribuir para a educação do ser humano à vida, o que, numa palavra, se chama felicidade?

(Transcrito do Jornal do Brasil, Rio de Janeiro – RJ, 20.07.74)

7 maneiras de transformar energia negativa em positiva

7 maneiras de transformar energia negativa em positiva

A negatividade é algo que afeta tanto a nós mesmos como às pessoas que estão ao nosso redor. Ela limita a criatividade e restringe o nosso potencial de crescimento. Afeta o nosso humor e até mesmo a nossa saúde.

Pessoas que alimentam sentimentos e energias negativas estão mais sujeitas ao estresse, ficam mais doentes e têm menos oportunidades ao longo de suas vidas do que aquelas que optam por viver de forma mais positiva.

Quando nos orientamos por olhares e abordagens mais positivas somos brindados pela vida com situações e pessoas que olham para a realidade por ângulos similares, por visões mais amenas e otimistas.

A energia negativa não encontra morada permanente em locais onde reinam experiências positivas. É um efeito bola de neve.

Embora os pensamentos negativos e positivos sempre existam e façam parte do viver, a chave para tornarmo-nos mais positivos é limitar a quantidade de negatividade que experimentamos.

Aqui estão algumas maneiras para nos livrarmos da negatividade e assumirmos atitudes mais positivas:

1- Torne-se grato por tudo

Quando pensamos que o mundo gira ao nosso redor é fácil acreditamos que simplesmente merecemos tudo o que temos e queremos. Quando nos colocamos no centro do universo criamos expectavivas irrealistas de que os outros devem nos servir, suprir nossas necessidades e desejos o tempo todo. Quando nos mantemos nessa posição de falso direito tornamo-nos facilmente insatisfeitos  e cheios de negatividade.

As pessoas que não apreciam as nuances e entendem as oscilações de suas vidas vivem em constante estado de falta e é realmente difícil viver uma vida positiva desta forma.

Quando entendemos o sentido da gratidão em nossas vidas e percebemos que coisas simples como ter a capacidade de chegar nos lugares que queremos (seja andando, de carro, de bicileta), mudamos nossa atitude do egoísmo  para a apreciação.

Esse estado de apreciação é notado pelos outros e o aumento da positividade cria um sentimento de harmonia que dá novas formas aos nossos relacionamentos. Quando somos gratos começamos a receber mais do que esperamos. Isso acontece porque abrimos mão da ideia de receber. Logo, quando algo surge, é uma bela surpresa.

2- Ria mais, especialmente para si mesmo

Passamos nossos dias demasiadamente ocupados. A rotina de trabalho e relacionamentos com agendas lotadas e tão poucas folgas faz com que percamos parte de nossa sensibilidade para com o próximo.

Permanecer o tempo todo “correndo atrás do prejuízo” e tentando atingir metas de desempenho estipuladas pelos outros e por nós mesmos pode enrigecer pensamentos negativos orientados para a falta e para a incompletude. Tornar-se positivo significa levar a vida menos a sério e abandonar as âncoras que nos afundam.

Você tem dificuldade para rir de piadas?

Normalmente as pessoas que estão estressadas e/ou excessivamente tensas sentem-se ofendidas com um pouco de sarcasmo ou humor relacionados ao que estão fazendo. Se pudermos aprender a rir de nós mesmos e de nossos erros a vida se tornará mais leve e teremos mais chances de descobrir o que nos faz felizes. Encontrar a felicidade significa encontrar a positividade.

3- Ajude outras pessoas

A negatividade anda de mãos dadas com o egoísmo. As pessoas que vivem só para si mesmas não têm um propósito maior em suas vidas.

Se o foco de uma pessoa é só cuidar de si mesma e de mais ninguém, o caminho para uma realização de longo prazo pode ser mais longo do que ela jamais imaginará.

A positividade caminha ao lado da finalidade.

A maneira mais básica para criar finalidade e positividade em nossas vidas é começar a fazer coisas para os outros. Comece com pequenos atos; segure a porta para a pessoa na sua frente em uma agência bancária ou pergunte para as pessoas sobre como foi o dia delas sem ter que imediatamente fazer o próprio relato pessoal. Ajudar aos outros lhe dará um sentimento intangível de valor que se traduzirá em positividade.

4- Mude o seu pensamento

Podemos ser nossos maiores incentivadores ou nossos maiores inimigos. A posição que assumimos com relação a nossas vidas parte de nós mesmos.

Se você quer se tornar mais positivo, altere os seus pensamentos. Nós somos a parte mais difícil de nós mesmos e uma corrente de pensamentos negativos é corrosiva para uma vida positiva.

A próxima vez que você tiver um pensamento negativo anote-o e reformulle-o para um resultado positivo. Por exemplo, mude um pensamento como, “Eu não posso acreditar que eu fui tão mal nesse teste. Nunca vou conseguir” para “Eu não fui tão bem quanto esperava neste teste, mas eu sei que sou capaz e farei melhor da próxima vez. “

Mudar os nossos próprios pensamentos é uma ferramenta poderosa.

5- Cerque-se de pessoas positivas

Tornamo-nos parecidos com as pessoas que nos cercam. Se o nosso grupo de amigos está cheio de “sugadores de energia” e “rainhas do drama”, tendemos a imitar esse comportamento e tornarmo-nos como eles. É muito difícil ser positivo quando as pessoas ao nosso redor não suportam ou demonstram qualquer comportamento positivo.

A mudança é algo assustador, mas afastar-se de pessoas negativas é um grande passo para melhoras no humor e para adquirir pensamentos mais construtivos. Pessoas positivas refletem boas energias e expectativas de crescimento para quem está ao redor. A positividade é um processo a ser alcançado passo-a-passo quando você está sozinho, mas quando você está inserido em grupo positivo de amigos as mudanças podem acontecer em ritmo acelerado.

6- Entre em ação

Os pensamentos negativos podem ser realmente esmagadores. A negatividade é geralmente acompanhada pela tendência a desistir e ceder, especialmente quando está vinculada a relacionamentos e a planos para o futuro.

Transforme o momento negativo em ação positiva. Na próxima vez em que você estiver em uma dessas situações tente fazer uma pausa. Com os olhos fechados, faça algumas respirações profundas. Uma vez que você esteja calmo, aborde a situação ou problema com uma caneta e um bloco de papel em mãos. Escreva quatro ou cinco ações ou soluções para começar a dissolver o problema. Se você conseguir mudar o foco do negativo para a busca de soluções, você retornará à racionalidade e poderá ampliar olhares.

7- Assuma plena responsabilidade sobre suas ações; deixe de ser “a vítima”

Pessoas que sempre acreditam que as coisas acontecem para prejudicá-las possuem uma mentalidade de vítima. Esse é um padrão de pensamento negativo sutil e enganador. Frases como “Eu tenho que trabalhar” ou “Eu não posso acreditar que ele fez isso comigo” são indicadores de uma mentalidade de vítima. Culpar circunstâncias e buscar culpados só prejudica a nossa decisão de mudar de algo negativo para algo positivo.

Se você assumir a responsabilidade por sua vida, por seus pensamentos e por suas ações você estará no caminho certo para a criação de uma vida mais positiva. Temos um potencial ilimitado para criar e transformar a nossa própria realidade. Quando começamos a realmente internalizar coisas boas, descobrimos que ninguém pode nos induzir a sentir ou fazer qualquer coisa que não queiramos. Nós escolhemos a nossa resposta emocional e comportamental para lidar com pessoas e circunstâncias…o tempo todo.

“Cuidado com seus pensamentos: eles se transformam em palavras.
Cuidado com as palavras: elas se transformam em ações.
Cuidado com suas ações: elas se transformam em hábitos.
Cuidado com seus hábitos: eles moldam o seu caráter.
Cuidado com seu caráter: ele decidirá o seu destino.” 

Por CHRIS TALAMBAS, via Lifehack

Traduzido e ADAPTADO exclusivamente para a publicação na CONTI outra

Não sabemos lidar com divergências

Não sabemos lidar com divergências

Uma das contradições mais graves que carregamos é esta: gostamos de ser únicos e originais, mas esperamos que todos pensem como nós e até que sintam o que sentimos. Nossa imagem de liberais e democratas vai por água abaixo assim que enfrentamos uma opinião divergente sobre os temas mais banais – um filme que amamos ou uma música que detestamos. De futebol à religião, expressamos essa intolerância: queremos que as pessoas não só creiam no mesmo deus, mas que o concebam da mesma forma.

Do ângulo da razão, desconfiamos dos que se mostram diferentes, de todos aqueles com quem não nos identificamos e das coisas que não compreendemos. Do ponto de vista emocional, não toleramos as diferenças porque nos fazem sentir sozinhos, desamparados. Uma simples divergência sobre um assunto irrelevante pode causar a separação de duas pessoas, especialmente se elas acreditam sinceramente nos seus pontos de vista e têm a convicção de que estão certas.

As relações só sobrevivem quando percebemos o lado rico dessa convivência com pensamentos diversificados. Todo mundo se diz tolerante e compreensivo em relação a posições divergentes, mas na verdade são poucos os que não se sentem de alguma forma ofendidos pelas diferenças. E elas são a raiz dos preconceitos, que não passam de generalizações precipitadas e negativas que brotam com facilidade em nossa alma. Talvez nenhum de nós esteja livre – e consciente – da condição de preconceituoso. Quando nos referimos de maneira irônica ou humilhante àquela pessoa cuja diferença nos incomoda, revelamos nosso preconceito – seja racial, religioso, social, político ou intelectual. Esta reação de aparente desprezo, na verdade, encobre o que realmente o alimenta: a inveja. Usamos esse disfarce sempre que nos julgamos inferiores.

Nossa tendência arraigada de atribuir valor às pessoas e de compará-las nos leva inevitavelmente a julgar umas melhores do que as outras. Nem sequer cogitamos a hipótese de que sejam apenas diferentes. Como consideramos nossa própria escala de valores, tampouco estamos dispostos a entender o outro ou os critérios dele – o que implicaria em reavaliar os nossos. Enquanto insistirmos em pensar desse modo equivocado, continuaremos a cometer os erros de sempre: orgulho, quando julgamos nosso modo de ser invejável; inveja, quando ocorre o inverso.

Esse eterno círculo vicioso provoca desdobramentos gravíssimos. O maior exemplo é o da guerra entre os sexos. Homens e mulheres têm diferenças marcantes – da anatomia à maneira de pensar. Desde que os homens se declararam superiores às mulheres a partir da sua escala de valores, eles gastam uma enorme energia tentando provar a inferioridade delas – o que não seria necessário caso estivessem, mesmo, convictos de sua supremacia. As lutas femininas em defesa da tese igualitária não diminuíram nossa dificuldade de pensar com liberdade, sem a urgência de avaliar quem é maior ou melhor. As mulheres não são inferiores nem iguais aos homens. São diferentes. E, como já vimos, diferenças não precisam gerar reflexões amarradas a juízos de valor, que rendem vereditos hierárquicos. Precisam apenas ser respeitadas.

Texto de Flávio Gikovate

Medo de envelhecer

Medo de envelhecer

Uma homenagem aos meus pais e a todos que já sentem o peso do tempo.

Porque ele é implacável e passa pra todos nós…

Eu não tenho medo de envelhecer…

De perder o viço da pele, a firmeza do andar, a disposição de viver.

Eu não tenho medo de envelhecer…

De me cansar antes do tempo, de me resfriar a qualquer vento, de acordar ao amanhecer.

Eu não tenho medo de envelhecer…

De esquecer nomes e rostos, de falar dos meus desgostos, de sentar ao lado da solidão.

Eu não tenho medo de envelhecer..

De esperar de onde já não vem, de falar mesmo sem ter com quem, de fazer planos, alguns em vão.

Eu não tenho medo de envelhecer…

Da risada frouxa e sem motivo, da palavra que me foi esquecida, de me despedir, dia após dia, da vida.

O que me apavora é ter o sorriso vazio, o caminho escuro e frio e sentir nele a falta da mão do meu filho.

Me amedronta  não mais sonhar, não ter a quem acarinhar, perder o brilho no olhar.

O medo que me consome, a mim e acho que a todo homem, não tem a ver com despedida.

O pavor é não ter pra onde correr e não mais me reconhecer, enquanto ainda houver a vida.

Todo filho quer dar uma casa para o pai

Todo filho quer dar uma casa para o pai

A imagem que temos sobre determinadas pessoas pode não retratar, nem de longe, quem elas são ou como elas se comportam na intimidade.

Angry Drandpa´s, por exemplo, é um senhor muito conhecido no Youtube por seu gênio forte, por suas explosões de humor e por sua teimosia.

Por aqui ele não é muito conhecido, mas nos EUA seus vídeos são assistidos por milhões de internautas.

Abaixo, confira o momento em que seu filho Michael aparece para mudar a vida de seu pai e realizar seu sonho. Para isso, ele e sua namorada fingem que estão comprando uma casa para si, mas na verdade a casa é um presente para o pai.

Prepare-se para muita emoção, afinal, quem nunca sonhou em dar uma casa para seus pais?

Coisas que nenhum mineiro te contou

Coisas que nenhum mineiro te contou

Ser mineiro é comer quieto o fim das palavras. Mineiro que é mineiro tem fome de sílaba e deve ser por isso que guarda dentro do peito poemas inteiros. Entre tantas letras embaralhadas, o vagão das ideias se perde e a coisa vira trem, ou o trem vira coisa.

É, o trem tá feio.

Ser mineiro é escutar no silêncio uma prosa bonita e musicar em sotaque frases curtas. O mineiro não fala, ele canta com um sorriso tímido no canto da boca.

Nem todo mineiro é tímido, mas todo mineiro carrega o charme da timidez. Das bochechas coradas, do sorriso amarelo que ganha novas cores num piscar de olhos abertos, bem abertos.

Mineiro parece não gostar de elogio, mas gosta, pode apostar. Sempre retruca, mas cá dentro tá todo feliz.

São seus olhos. Ele diz.

Mineiro se esconde em suas montanhas, mas desmorona em abraço apertado. Chora água doce e se derrama em cachoeira.

Ser mineiro é fazer da cozinha a melhor parte da casa. Receber os amigos com mesa farta. Mineiro tem mesmo fome seja de letra ou de amor.

O mineiro não se apaixona “pelas” pessoas e, sim, “com” as pessoas. Ser mineiro é sentir as coisas sem dar nome. É se confundir entre dois ou três beijinhos quando conhece alguém.

São três pra casar.

Ser mineiro é passar a noite inteira em um ônibus e ainda não sair de Minas. As montanhas parecem continentes, mas fazem tudo parecer pertim.

É logo ali.

Nunca confie em um “ali” de mineiro.

De resto, pode confiar. Seja nas reticências que ele não diz ou nos versos dos seus poemas inteiros.

Ser mineiro é saber que as melhores coisas da vida não são coisas.

Texto de Luana Simonini
Fonte indicada: Medium

Uma declaração de amor que só os amantes do café entenderão.

Uma declaração de amor que só os amantes do café entenderão.

Na casa da minha avó, sob o fogão de lenha já desativado, ficava um suporte de arame que fornecia o apoio necessário a um filtro de café daqueles mais antigos, dos de pano. Meu avô fervia a água e, após filtrado pelo tecido já encardido, ficava no fundo aquela borra marrom que teria dois destinos prováveis, ora seria usada para adubar as flores do jardim, ora seria jogada no tanque. Minha avó, que perdera a visão há muitos anos por conta de um glaucoma, pedia para que eu fosse ao quintal executar a tarefa que a mim caberia no dia. Na cozinha, por alguns minutos, o afeto tinha cheiro e a garrafa bem fechadinha no centro da mesa não deixava fugir o calor.

Para alguns pequenos prazeres, não há explicação lógica que atenda à dimensão do sentir. Os amantes do café costumam ter histórias que já trazem lá da infância e seja em padarias, cafeterias ou qualquer lugar que forneça um cantinho aconchegante, lá estão eles, sentados com sua xícara na mão. Em seus rostos, pensamentos ocultos, planejamentos ou sonhos distantes passeiam sem pedir licença.

Há na degustação do café um intervalo da rotina que eleva e deixa em suspenso o ritmo acelerado dos dias.

contioutra.com - Uma declaração de amor que só os amantes do café entenderão.Não importa se a pessoa é entendedora dos tipos de grão, se usa açúcar, chantilly ou toma o café puro. Conhecimentos técnicos não diminuem a sensação do encontro do líquido quente com os lábios no momento que precede a explosão do sabor.  O café aguça os sentidos do mais simplório trabalhador da roça ao dono do mais sofisticado e apurado paladar. Quando o perfume do pó em contato com a água aquecida visita nossas narinas não há argumento, o jeito é tomar um cafezinho.

Venha direto do coador de pano, moído na hora para o expresso, feito em cafeteira italiana, com leite, mocha ou cappuccino, pingado ou macchiato, o homem encontrou formas de apreciar esse grão e junto com elas construiu histórias.

O café sempre foi companheiro nos momentos de solidão ou parceiro em mesa de amigos. Penso que ele é como macarronada de domingo, só que é melhor, porque não tem preconceito com dia.

Se na infância o café vinha do coador de pano que depois a avó pedia para lavar no tanque, com o correr dos anos e na passagem por cidades e países diferentes tornou-se fonte de um olhar atento às cafeterias que apareciam pelo caminho, às padarias que trariam alguns minutos de conforto e a sensação de estar em casa em qualquer lugar do mundo, onde um bom gole de café se fizesse presente.

Algumas vezes, confesso, o paladar sofria com as diferenças do sabor. Em outras, a tristeza era fruto da pouca quantidade, apenas um dedinho no fundo da xícara que poderia causar um ataque de pânico a qualquer amante de café que se preze.

Numa esquina francesa ou num barzinho perto do trabalho. Brasileiro ou colombiano. Peruano, paraguaio ou venezuelano. Rapidamente junto ao balcão ou dentro de uma livraria…. onde há parada o café se faz presente e, realmente como um presente, desperta as memórias de um paladar amigo, do tempo em que, sob o cuidado amoroso dos avós, a mais complexa decisão seria saber se a borra seria jogada no tanque ou formaria um pequeno castelo junto às flores do jardim.

***

Abaixo você encontra a interpretação que o ator Duilio de Pol fez para a crônica. Vale conferior, pois é belíssima!

Encerrando Ciclos, por Gloria Hurtado

Encerrando Ciclos, por Gloria Hurtado

Sempre é preciso saber quando uma etapa chega ao final. Se insistirmos em permanecer nela mais do que o tempo necessário, perdemos a alegria e o sentido das outras etapas que precisamos viver. Encerrando ciclos, fechando portas, terminando capítulos – não importa o nome que damos, o que importa é deixar no passado os momentos da vida que já se acabaram.

Foi despedido do trabalho? Terminou uma relação?
Deixou a casa dos pais? Partiu para viver em outro país?
A amizade tão longamente cultivada desapareceu sem explicações?

Você pode passar muito tempo se perguntando por que isso aconteceu. Pode dizer para si mesmo que não dará mais um passo enquanto não entender as razões que levaram certas coisas, que eram tão importantes e sólidas em sua vida, serem subitamente transformadas em pó. Mas tal atitude será um desgaste imenso para todos: seus pais, seu marido ou sua esposa, seus amigos, seus filhos, sua irmã, todos estarão encerrando capítulos, virando a folha, seguindo adiante, e todos sofrerão ao ver que você está parado.

Ninguém pode estar ao mesmo tempo no presente e no passado, nem mesmo quando tentamos entender as coisas que acontecem conosco. O que passou não voltará: não podemos ser eternamente meninos, adolescentes tardios, filhos que se sentem culpados ou rancorosos com os pais, amantes que revivem noite e dia uma ligação com quem já foi embora e não tem a menor intenção de voltar.

As coisas passam, e o melhor que fazemos é deixar que elas realmente possam ir embora. Por isso é tão importante (por mais doloroso que seja!) destruir recordações, mudar de casa, dar muitas coisas para orfanatos, vender ou doar os livros que tem. Tudo neste mundo visível é uma manifestação do mundo invisível, do que está acontecendo em nosso coração – e o desfazer-se de certas lembranças significa também abrir espaço para que outras tomem o seu lugar.

Deixar ir embora. Soltar. Desprender-se.
Ninguém está jogando nesta vida com cartas marcadas, portanto às vezes ganhamos, e às vezes perdemos. Não espere que devolvam algo, não espere que reconheçam seu esforço, que descubram seu gênio, que entendam seu amor. Pare de ligar sua televisão emocional e assistir sempre ao mesmo programa, que mostra como você sofreu com determinada perda: isso o estará apenas envenenando, e nada mais.

Não há nada mais perigoso que rompimentos amorosos que não são aceitos, promessas de emprego que não têm data marcada para começar, decisões que sempre são adiadas em nome do “momento ideal”. Antes de começar um capítulo novo, é preciso terminar o antigo: diga a si mesmo que o que passou, jamais voltará.

Lembre-se de que houve uma época em que podia viver sem aquilo, sem aquela pessoa – nada é insubstituível, um hábito não é uma necessidade. Pode parecer óbvio, pode mesmo ser difícil, mas é muito importante. Encerrando ciclos. Não por causa do orgulho, por incapacidade, ou por soberba, mas porque simplesmente aquilo já não se encaixa mais na sua vida. Feche a porta, mude o disco, limpe a casa, sacuda a poeira. Deixe de ser quem era, e se transforme em quem é.

Gloria Hurtado
psicóloga e colunista colombiana

Vamos todos ficar nus!

Vamos todos ficar nus!

Percebe-se com o tempo que certas ideias e concepções de mundo são como tendências da moda. Elas vêm, pregam como carrapato, infestam todas as partes como uma peste, invadem a línguas e falas dos seguidores das tendências dos tempos. Pessoas se vestem com ideias como roupas da moda, e quando a moda passa, trocam de ideia com a mesma facilidade, deixando aquela peça superficialmente utilizada, antes esquecida no corpo, agora esquecida no guarda-roupa da vida. Tendências vem, tendências vão, se misturam, se invadem, se reconfiguram, ficam tempos a mais, ficam por alguns dias e minguam, se desgastam, se renovam, são idolatradas e depois esquecidas.

Não é que a mudança de ideia seja um problema, mas há algo de preocupante em tratá-las de uma forma tão rasa. É que as roupas nos vestem e tal, precisamos trocar o figurino para representar os nossos papéis cotidianos. Seguir correntes para se vestir não é exatamente algo que tenha um grande impacto no mundo, embora seja uma pena não usufruir da possibilidade de se expressar e de criar a partir do vestuário, combinando apenas propostas peças prontas preestabelecidas. Mas assim tratar as ideias e as concepções de mundo tem efeito pernicioso. Ideias não foram feitas para serem vestidas sem crítica ou aprofundamento na questão, não foram feitas para serem aceitas, impregnadas e viralizadas para depois se perderem no tempo.

Na verdade, ideias sequer foram feitas para serem vestidas, ideias não são como roupas. Elas exigem, para se realizarem, uma ação direta na nudez – esse estado puro e bruto que mostra o corpo como ele realmente é, como todas as suas belezas e imperfeições, com todas as suas formas únicas moldadas pela natureza dos encontros geradores de vida, com todas as linhas e marcas desenhadas pelo tempo e pela experiência, com todas as cores e detalhes que fazem de cada corpo único. Corpo completo do cabelo às unhas, sem remendos ou dissimulações, completo em sua própria natureza, a obra final de um trabalho contínuo do organismo em interação com o mundo.

Desse corpo nunca se livra: ele sempre estará lá, ele é o que é, e é ele que molda tudo o que a ele se destina. Ele é o que nenhum outro poderá ser. Só o tempo se mete com o corpo, e do exercício no tempo ele se modifica, das rebeldias estéticas que a ele se impõem ele escolhe o que lhe cairá bem, ou castiga a vontade que contra ele se impõe rebelando-se também. O corpo é o que revela a experiência das vivências as quais ele foi submetido. Assim, também a mente nu: a verdade da alma que erra pela vida. Essa tão íntima e escondida natureza do ser, sempre velada por um simulacro, por uma fantasia, por uma burca, uma túnica, por sedas, linhos ou panos de saco. Mas é a nudez que aprende, é a nudez que sente, é a nudez que vive e segue até os limites da vida. Só a nudez permite encontros com as ideias, encontros que marcam, encontros que transformam as formas, as cores, as texturas, os estigmas, a natureza do que é, e não uma vestimenta externa que já vem pronta e se coloca por um tempo ou para sempre até que estejamos adornados por trapos.

Dessa divagação fica o desafio, e do desafio fica o convite: experimente! Deixe os retalhos e as tendências lidarem com os guarda-roupas, mas no que diz respeito à mente: vamos todos ficar nus!

contioutra.com - Vamos todos ficar nus!
Almoço na Relva , 1863, Manet. Óleo sobre tela, 214 X 270 cm. Museu do Louvre, Paris, França.

 

Sobre a Educação e a Pobreza no Mundo

Sobre a Educação e a Pobreza no Mundo
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É comum não pensarmos a respeito de conceitos que usamos no nosso dia a dia. “Sabemos” do que tratam certos vocábulos até o momento em que passamos a refletir sobre eles. Educação. Quase não se fala sobre isso, mas a Educação Pública e Obrigatória foi inventada em um determinado momento da nossa história. Na Antiguidade, havia espaços para a conversação e a reflexão. A instrução obrigatória por muito tempo era coisa somente para escravos. No mundo ocidental, a “Educação” esteve nas mãos, por um bom período, da Igreja católica e não possuía ainda as características que a definem atualmente. Somente no final do século 18 que se criou o conceito de Educação pública, gratuita e obrigatória. A Escola, tal como a conhecemos hoje, começou na Prússia com o objetivo de evitar as revoluções que se sucediam na França. As escolas prussianas se baseavam na forte divisão de classes e, tal como o regime espartano, pregava a obediência e o autoritarismo. Os monarcas até incluíram alguns princípios do Iluminismo certamente para satisfazer o povo, mas mantinham o regime absolutista. E o que buscavam os déspotas esclarecidos? Um povo dócil, disciplinado e que se pudesse preparar para as guerras que aconteciam na época entre várias nações que estavam nascendo.

O mundo gira, a Lusitana roda e, em poucos anos, a América e outras nações da Europa visitaram a Prússia para se capacitarem. “Educação para Todos” já era uma frase que se usava assim como a bandeira da igualdade quando justamente a essência do sistema educacional provinha do despotismo buscando perpetuar os modelos elitistas e a divisão de classes. Napoleão importou essa “educação” para também formar seu corpo docente e poder dirigir a opinião dos franceses.

A escola nasce em um mundo que começa a ser regido por uma economia industrial, portanto, busca obter os maiores resultados observáveis com o menor esforço e investimento possível aplicando, em muitos casos, fórmulas científicas e leis gerais. Nessa esteira, a escola era a solução e a resposta ideal à necessidade para se preparar  trabalhadores. Não foi sem motivo que foram os grandes empresários do século 19 que financiaram a escola obrigatória e não é difícil perceber que o modelo de formação industrial como uma linha de montagem era perfeito para ser usado nas escolas. A educação foi comparada à manufatura de produtos e por isso a importância e necessidade de uma série de passos determinados.

E hoje? Se olharmos de cima, bem do alto, percebemos que atualmente a educação também funciona como a melhor ferramenta para formar trabalhadores úteis a um determinado tipo de sistema e também para fazer a cultura permanecer a mesma – o que significa conservar a estrutura da sociedade.

contioutra.com - Sobre a Educação e a Pobreza no Mundo

Qual o papel do professor? Ele era (como hoje continua sendo) o encarregado de ensinar uma série de conteúdos determinada por alguns administradores. Percebam o que eu acabei de dizer: a Educação não foi preparada por educadores e sim por administradores. Na “linha de produção” uma pessoa estaria a cargo de uma pequena parte do processo que é propositadamente insuficiente tanto para conhecer o mecanismo em sua totalidade e as pessoas em profundidade. Nós, como professores, temos várias turmas com uma média de 40 alunos por ano o que torna o nosso trabalho, de fato, puramente mecânico de uma forma geral. As exigências e as pressões terminam por desumanizar a todos seja professor, seja aluno, seja diretor, seja inspetor.  Somos um mero funcionário que obedece a uma autoridade que dita o que temos que ensinar e de que forma devemos fazer isso.

Outra pergunta interessante a se fazer é: por que todos têm que saber o mesmo? Quem disse e escreveu isso? Se somos tão diferentes, se cada um de nós constitui senão um universo uma galáxia talvez, por que todos temos que aprender do mesmo jeito e ao mesmo tempo? As nossas escolas não tem capacidade e muito menos se propõe a responder às necessidades de cada um. Por quê? Porque ela não foi feita para educar  e sim para instruir.

Nosso sistema “educativo” é um sistema de exclusão social que seleciona o tipo de pessoa que vai para a faculdade para fazer parte de uma elite. A nossa “Educação” nas escolas não tem como função olhar e trabalhar cada um, ou seja, até hoje seguimos o mesmo modelo das escolas prussianas dos idos dos novecentos: ensino padronizado, aulas obrigatórias, divisão de séries por idade, currículos desvinculados da realidade, pressões por parte dos professores que por sua vez são pressionados por coordenadores e diretores, prêmios e castigos, horários rígidos e uma estrutura vertical.

 

Vou propor a você um experimento de pensamento. Esqueça, por um momento, tudo o que disseram que deveríamos aprender na vida. Se pudéssemos escolher como deveríamos ser educados, a forma que temos hoje está lhe parecendo uma boa maneira de fazê-lo? Quem formamos nesse sistema de ensino? Respondo me colocando como fruto desse sistema tanto como aluna que já fui como professora que sou há duas décadas: formamos pessoas que sabem logarítmos e diferenciar briófitas de pteridófitas, mas não sabem como se relacionar com outras pessoas e com o meio ambiente.

Informação é definitivamente diferente de compreensão. A última é uma ferramenta em constante crescimento com características únicas que variam para cada indivíduo. Compreensão implica estabelecer relações entre conceitos e critérios e resolver problemas e construir novos conhecimentos. A primeira é o que é passado na maioria das escolas. Nossos alunos viram depósitos de informações e são bem recompensados por isso quando tem sucesso nessa empreitada. A informação que a escola deve passar para seus alunos é o que constitui o currículo. Mais uma vez cabe a pergunta: Quem fez o currículo aplicado nas escolas e com qual objetivo?

O discurso na maioria das casas é algo parecido com isso: educamos para que nossos filhos saibam se adaptar à sociedade que eles vão viver e que sabemos que vai ser dura. Proponho pensar em encarar a educação, tanto em casa como na escola, como algo que sirva para o educando como um meio de ele perceber criticamente o que gosta ou não, como uma ferramenta para ele pensar como pode melhorar a sociedade e viver em paz consigo, com o seu entorno e o meio ambiente.

É muito difícil, concordo, pensar em tudo isso porque implica mudança. E toda mudança gera um medo danado na gente porque significa questionar o que acreditamos. Não podemos mudar mantendo as crenças e abandoná-las. Em certa medida, mudar é morrer. Entretanto, “morrer em vida” pode ser sinônimo também de renascer. Por outro lado, a “morte em vida” pode ser sinônimo de se manter sempre na zona de conforto. Tudo é uma questão de coragem e precisamos tê-la se queremos ser educadores, pois, a aprendizagem não deixa de ser uma transformação. Se não aprendemos e se não enfrentamos a nossa própria mudança, como pretendemos mudar alguém? Estamos todos como mortos porque não mudamos. Cada vez que negamos escutar nossos jovens é como uma pá de cal sendo colocada a mais na nossa sepultura. Cada vez que escolhemos a meta no lugar do trajeto nos mumificamos. Cada vez que deixamos de criar algo novo, uma parte de nosso corpo apodrece.

Vamos olhar para outras formas de educação no mundo diferente da nossa tradicional. Se fizermos um breve estudo, veremos que as primeiras sempre promoveram sustentabilidade. Não quero dizer que sejam formas perfeitas de educar, mas sim ressalvar que outros tipos de educação promovem um conhecimento maior do solo, do clima, da água… e fazem os educando seres responsáveis pela própria vida e pelo outro geração pós geração. Voltemos ao nosso sistema educacional. Não aprendemos nada sobre sustentabilidade, não aprendemos sequer primeiros-socorros, não sabemos nos comunicar com pessoas com deficiência auditiva, praticamos bullying com o diferente, não temos ideia de como é produzido o nosso alimento, nos livros de ciências das escolas fundamentais os animais são apresentados pelas suas utilidades para nós, aprendemos a confiar cegamente nos médicos e nada sabemos sobre a história da indústria de fármacos e como a ciência hoje é financiada e desenvolvida. Mas sabemos logarítmos e a utilizar a equação de Torricelli em problemas que jamais serão nossos na realidade e não temos ideia de como lidar com problemas ambientais e qual é a nossa parcela de responsabilidade na degradação do meio ambiente.

Vejamos agora o projeto “Educação para Todos” sancionado por inúmeros países do mundo. Trata-se de um programa apoiado pelo Banco Mundial e pela ONU que tem financiamento de grandes corporações. O plano é colocar todas as crianças na escola. A alegação é que indo à escola as comunidades serão capazes de se desenvolver e de fazer parte de uma sociedade maior que, para mim está claro, significa tornar-se parte de uma economia global. Não é raro presidentes, ministros e até educadores confirmarem essa informação ao dizer que temos que educar para crescer como sociedade. O que eles querem dizer com isso? A missão anunciada é “combater a pobreza global” pela educação. “É uma condição absolutamente necessária para a redução da pobreza”, afirmou Julian Schweitzer, diretor de desenvolvimento humano do Banco Mundial. Quais são os interesses aos quais o banco serve? Ele mesmo, o próprio Schweitzer responde: “A demanda da educação está vindo de homens de negócios que estão descobrindo que eles não conseguem desenvolver suas fábricas porque há uma escassez de trabalhadores qualificados”. A questão que me faço lendo tudo isso é: quem se beneficia quando todas as crianças são educadas de uma mesma forma? Pergunto-me ao me deparar com isso. O que esses administradores de educação pensam sobre o “progresso”? Pesquisem vocês e vejam quantidade de crianças e adolescentes no mundo que sofrem de algum transtorno psicológico como a depressão, por exemplo. Vejam quantas tomam remédios psiquiátricos e quantos tentam o suicídio em nosso planeta.

Definitivamente, vivemos sob uma grande crença de que é através dessa educação que conhecemos que vamos tirar as pessoas da pobreza. Se prestarmos atenção, veremos que foi com o advento do colonialismo juntamente com o dito “desenvolvimento” e a ideia de “ajuda” que a pobreza foi criada no mundo. Nos outros sistemas de economia pré-modernas ou pré-desenvolvimento não encontramos o tipo de pobreza que se tem nas favelas. Futuro bom, para nós, é sinônimo de consumirmos muito e, vejam vocês, há pessoas estão se endividando para dar essa “boa educação” para seus filhos sob a grande esperança de que eles sejam futuros engenheiros ou médicos e “alguém na vida”. Quantos conseguem ter esse almejado “sucesso”? A grande maioria? Não. Pasmem. Menos de 10%.

Quando viajamos e visitamos culturas que não têm o nosso sistema educacional, deparamo-nos com uma economia sustentável, achamos pessoas extremamente desestressadas e vivendo em harmonia com o meio ambiente. Encontramos seres que interagem bem entre si e que se respeitam mutuamente. E ainda há quem acha que devemos melhorar a vida dessas pessoas com escolarização? Tirar as crianças do contato com a natureza e colocá-las imersas em prisões de concreto, sem verde algum e e darmos a elas livros que falam sobre a natureza da forma como falam? Para que faríamos isso? Com que propósito fazemos isso?

Todos os nossos índices de desenvolvimento não dizem nada sobre qualidade de vida. Ouvimos que “a renda per capita dobrou”. O que isso quer dizer? Devemos mesmo comemorar? Isso pode significar que algum agricultor saiu de uma economia agrária não-monetária para entrar em uma fábrica que explora seus empregados, não? A nossa qualidade de vida melhora, de fato, quando a nossa renda melhora?

Não quero, porém, desprezar tudo o que temos e sim propôr um olhar mais crítico, pois quando analisamos a maneira que estamos ganhando o nosso dinheiro percebemos que ela é baseada em um paradigma econômico que segundo qualquer definição científica está mudando a bioquímica do planeta. O “sucesso” que a educação tradicional e a mídia nos fazem sonhar deteriora a olhos vistos o nosso meio ambiente e a nós mesmos como indivíduos. E pior, nosso “sucesso” implica o “fracasso” de outros. A riqueza material não existe sem seu oposto: a pobreza.

Pensemos com carinho sobre o assunto.

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Geni Guimarães: a poesia a serviço da igualdade

Geni Guimarães: a poesia a serviço da igualdade

Mãe, mulher, negra, poetisa, defensora da mulher e dos direitos de igualdade a todos os gêneros e raças, Geni representou o Brasil indo a diversos países falando sobre a questão do negro e o preconceito. Conheça a poesia e a vida e a luta de Geni Guimarães.

Quando me vem oferecer uísque
aproveita o dedo que segura a taça
e me indica a porta, disfarçadamente.
Eu consciente
do direito a festas,
(inclusive a comemorada no mês de maio)
bebo. E não saio.

Geni Guimarães, em Balé das emoções

Não sou racista.
Sou doída, é verdade,
tenho choros, confesso.
Não vos alerto por represália
nem vos cobro meus direitos por vingança.
Só quero,
banir de nossos peitos
esta gosma hereditária e triste
que muito me magoa
e tanto te envergonha.

Geni Guimarães, em Balé das emoções

Lista de afazeres para uma vida mais leve

Lista de afazeres para uma vida mais leve

Lembrar-se de:

– Apagar as contas.

– Ir ao banco e sentar.

– Colocar o lixo lá fora.

– Corrigir prova e a postura.

– Alimentar o gato e as borboletas.

– Regar as plantas e a auto-estima.

– Arrumar o armário e bagunçar o coreto.

– Comprar presente e se livrar do passado.

– Trocar a lâmpada do banheiro e do pensamento.

– Rasgar os rascunhos e as lembranças que imobilizam.

– Botar para consertar e botar para quebrar.

– Livrar-se das roupas velhas e da culpa.

– Pagar a conta de luz e não apagá-la.

– Lavar o carro e secar as lágrimas.

– Estender a roupa e passar bem.

– Cortar o cabelo e pintar o sete.

– Correr e parar o relógio.

– Esquecer e aquecer-se.

– Amar-se.

13 coisas que você não pode deixar de experimentar

13 coisas que você não pode deixar de experimentar

Então eu, com a mania das minhas incontáveis listas, resolvi agora listar 13 coisas que você não pode deixar de experimentar antes de se mandar daqui, desse mundo louco. Geralmente as listas contém 10 coisas, mas como estou do contra hoje , resolvi postar 13. E, olha que hoje nem é sexta-feira 13, nem sexta é. Bem lá vai…

  • Uma paixão daquelas de tirar o fôlego, que faz a gente tremer por dentro quando encontra a pessoa, que faz o pensamento virar monotemático e que faz a gente querer tudo pra ontem, porque na paixão, o futuro é muito distante. Então, vive-se o hoje, intensamente;
  • Uma amizade sincera e duradoura, daquelas que basta um olhar para que os dois amigos se entendam; onde os defeitos de um e de outro são motivo de piada e as qualidades, os motivos pra quererem estar juntos; daquelas com mil histórias pra contar e muitas risadas, frutos de piadinhas internas que só os dois compreendem; daquelas que você sabe que é para sempre e que pode contar enquanto essa vida louca durar;
  • O amor incondicional de um animalzinho de estimação, não importa se é gato, cachorro ou qualquer outro bicho, o que vale aqui é receber um carinho despretensioso; é ter certeza de que ele estará ao seu lado, independente do seu bom ou mau humor e que vai te ensinar que o amor é, sim, capaz de tudo suportar; que vai ouvir as suas lamúrias e aturar suas esquisitices, simplesmente, porque é assim que você é e eles adotaram você assim mesmo (sempre achei que os animais escolhem os donos e não o inverso) por isso não há expectativas e cobranças, somente o amor na sua mais pura e sincera expressão;
  • O medo de perder alguém querido. Seja por morte, doença ou simplesmente porque ele pode não estar mais lá. Isso nos dá a perfeita perspectiva das coisas, da impermanência da vida, de como temos que valorizar quem amamos enquanto é tempo. E, também , por que não? Afinal, quem disse que eu só listara coisas boas?
  • A doce e reconfortante sensação do perdão. Isso mesmo. Perdoar alguém é algo mesmo divino. Quando somos capazes do perdão genuíno, aquele que apaga as mágoas e deixa o coração mais leve, experimentamos algo capaz de nos devolver a paz roubada pelo ressentimento e vivenciar uma leveza de que poucos são capazes. Vale a pena tentar;
  • O amor por um filho. Não importa aqui de onde ou como ele veio. Importa é você senti-lo como seu e ser tomado por um querer bem que ultrapassa todo entendimento. Este pode ser o sentimento mais poderoso que irá experimentar. Um amor inexplicável e capaz de tudo, tudo mesmo;
  • A sensação de ultrapassar um grande obstáculo. Seja a conquista do tão almejado emprego, ver seu nome na lista dos aprovados para o vestibular (na minha época isso ainda era um grande obstáculo), superar uma limitação ou vencer uma doença grave. Com certeza você terá inúmeros outros para acrescentar a esta lista. Não importa o que seja, mas que você possa se sentir um vencedor em algum momento e que isso sirva de combustível para seguir em frente e, melhor, acreditando ainda mais em você;
  • Vivenciar alguma séria dificuldade. Pode ser de qualquer tipo, desde que seja algo realmente importante. Isso te dará um olhar mais amadurecido sobre as coisas da vida e lhe ajudará a não fazer tanta tempestade em copo d’água. Sinceramente acredito que a falta de problemas sérios abre espaço para pitis desnecessários e para o famoso “procurar pêlo em ovo”, ou seja, criar problemas onde não se tem, o que, pra alguns , corre o risco de se tornar um vício e diga-se de passagem, além de ser perda de tempo, é muito chato;
  • Ajudar alguém que precisa. De fato ajudar ao outro pode ser uma das melhores sensações da vida. O que, num primeiro momento, pode até parecer piegas, e é. Mas é isso mesmo. Ajudar ao outro nos faz sentir necessários ou, ao menos, importantes naquele momento. Além disso, te fará grato pelo que tem e tornará possível se colocar no lugar do outro, exercício que, a meu ver,  deve ser praticado sempre, não só para ampliar a nossa capacidade de compreensão, mas também para que possamos aprender com as diferenças;
  • Viajar, viajar muito. Não somente pra conhecer lugares, pessoas e culturas diferentes, mas pra conhecer melhor a nós mesmos, pois quando estamos longe de casa, na nossa zona de conforto e enfrentando algumas dificuldades temos a oportunidade de ampliar a nossa percepção e melhorar enquanto pessoas.
  • Enfrentar um medo. Medos, todos nós temos e alguns nos acompanham para sempre, mas quem teve a sorte de poder superar um medo, sabe do que eu estou falando. O medo paralisa e nos faz desistir de coisas que jamais saberemos se dariam certo ou não. Ele trava o riso, enrijece o corpo, nos coloca na defensiva. Tudo bem que o medo pode ser providencial e nos livrar mesmo de algum perigo, mas há medos e medos, alguns são pra proteger e outros pra nos impedir de crescer. Estes, sim, devem ser superados, sempre que possível. Vale a pena tentar;
  • Se dedicar a uma causa. Pode ser qualquer uma, pelos animais, pelas crianças, pela paz mundial ou até pela substituição do síndico do seu prédio. Envolver-se em um projeto e dedicar-se a uma causa ajuda, não só ao objeto do seu intento (no caso do síndico, atrapalha né?), mas te dá uma sensação de empoderamento, de se sentir necessário e fazendo algo que tenha valor, além de encontrar, no caminho, alguns adeptos à sua causa e chegar a realizar, nem que seja aos poucos, devagar  e sem pressa, coisas grandiosas;
  • A fé em Deus. Isso, mesmo, a fé em Deus. Independente de como você o conceba, mas que você possa crer que há algo maior do que tudo e que você não está e nunca estará sozinho. Que você possa descobrir isso o quanto antes, mas que se assim não o for, que você tenha ao menos um contato genuíno com Deus, nem que seja na hora de partir, nem que seja só para compreender o porquê de você ter tido a oportunidade de experimentar tudo isso, nem que seja pra agradecer e dizer que valeu a pena.

O corpo em terapia: a abordagem corporal na psicoterapia junguiana

O corpo em terapia: a abordagem corporal na psicoterapia junguiana

Muitas das pessoas que nos procuram para um tratamento psicoterápico trazem, além das questões emocionais e comportamentais, relatos de sintomas de ordem física, como: dores diversas (cefaléias, dores musculares, etc.), problemas gastrointestinais, cansaço, tensāo, desânimo, alterações do sono, do apetite, da memória, da concentração, da imagem corporal, entre muitos outros.

Também é notável que problemas como estresse, ansiedade, depressão e doenças em geral sempre apresentam sintomatologia física e psíquica associadas.

Assim, este artigo pretende, de maneira simples e acessível ao entendimento do público geral, trazer alguns esclarecimentos sobre o uso de psicoterapias que utilizam a abordagem corporal como recurso terapêutico.

Em uma abordagem integrativa não podemos conceber a psique e o corpo como entidades separadas e isoladas. É preciso perceber o ser humano em todas as suas facetas e compreendê-lo como uma unidade integrada.

Nossos sistemas psíquico, neurológico, endócrino e imunológico estão totalmente interligados. E por isso, corpo e psique estão em constante inter-relação. O que acontece em um aspecto repercute no outro concomitantemente.

Assim, quando ficamos ansiosos, percebemos imediatamente uma alteração dos nossos padrões corporais. Eleva-se o ritmo cardíaco e respiratório, apresentamos sudorese e vários outros sintomas relacionados. Quando conseguimos, por meio de exercícios de respiração e relaxamento, equalizar o ritmo respiratório e cardíaco conseguimos amenizar também os sintomas ansiosos. Esse é um exemplo simples dessa inter-relação corpo-psique.

Além disso, também podemos levar em conta que o corpo é um arquivo de memórias. Nele estão gravadas e “impressas” todas as nossas experiências de vida, conscientes ou inconscientes e todas elas carregadas de afeto. Por meio do corpo revivemos e reexperimentamos sensações, emoções e sentimentos de experiências confortáveis ou traumáticas. Nossas memórias formam o tom básico pelo qual percebemos a nós mesmos e o mundo.

Muitos pacientes que sofreram traumas e abusos, por exemplo, relatam sensações corporais relacionadas a esses eventos mesmo após haver decorrido muito tempo. O corpo manteve o registro do acontecimento que, muitas vezes, é insuportável para a consciência reviver.

Por conta de toda essa complexidade, uma psicoterapia capaz de atentar também para as questões corporais pode ser um diferencial no tratamento. Nesse modelo é possível considerar a totalidade do ser humano e corpo-psique como uma unidade indissociável.

Através de técnicas específicas (como os toques sutis, a calatonia, técnicas de relaxamento, percepção corporal, movimentos expressivos, entre outras) o corpo, uma vez tocado e mobilizado, pode produzir efeitos fisio-psíquicos, como sensação de relaxamento e conforto, além de experiências sensitivas diversas como: memórias, imagens, emoções e sentimentos que podem ser verbalizados e elaborados trazendo clareza e possibilitando maior integração.

De acordo com Sandor Petho,

“o relaxamento… pela comutação dos processos fisiológicos, de suas autoregulações, ritmos, ‘memórias’, reagibilidades e coordenações, retroage sobre a afetividade, alterando de modo intenso, também as reações da personalidade. O resultado será, além do ‘descanso’, o ‘desatar’ interno, a introspecção e a reprodução construtiva de antigas vivências, atingindo-se assim, novas coordenações e estruturação psicobiológicas” (1982, p.6).

Por permitir um rebaixamento do nível de consciência e facilitar o acesso as camadas mais profundas da psique, as técnicas de relaxamento como a calatonia e os toques sutis, permitem que o material inconsciente venha à tona, podendo ser expresso e conscientizado pelo indivíduo. O contato com o próprio corpo e com a psique de uma maneira mais abrangente e profunda permite o descondicionamento de padrões egóicos que o indivíduo está acostumado. Surgem então, novos caminhos e recondicionamentos que auxiliam a pessoa reequilibrar suas potencialidades.

Através de uma relação de confiança, ética e respeitosa é possível fornecer uma nova mensagem ao corpo ferido e traumatizado. É possível criar memórias de conforto que possam se sobrepor as anteriores e com isso, alcançar uma nova forma de perceber e ser no mundo.

Esse diálogo entre corpo e consciência pode auxiliar de maneira ímpar na dissolução de sintomas, reorganizando a psique. Assim, é possível trazer um novo equilíbrio para o indivíduo e promover saúde física e emocional.

Bibliografia:

CORTESE, F. N. Calatonia e integração fisiopsíquica, São Paulo: Escuta, 2008.

FARAH, R, M. Integração psicofísica: O trabalho corporal e a psicologia de C.G. Jung. São Paulo: Companhia Ilimitada, 2008.

RAMOS, D. G. A psique do corpo: A dimensão simbólica da doença. São Paulo: Summus, 2006.

SANDOR, P. Técnicas de relaxamento. São Paulo: Vetor, 1982.

SPACCALQUERCHE, M.E. (org) Corpo em Jung: Estudos em calatonia e práticas integrativas. São Paulo: Vetor, 2012, p. 19-38.

ZIMMERMANN, E. Corpo e individuação. Petrópolis: Vozes, 2009.

Autoria

contioutra.com - O corpo em terapia: a abordagem corporal na psicoterapia junguianaLilian Marin Zuchelli – Psicóloga Clínica e Psicoterapeuta Junguiana pela PUC-SP. Especialista em Psicoterapia de Abordagem Junguiana associada à Técnicas de Trabalho Corporal pelo Institiuto Sedes Sapientiae. CRP: 06/23768

 

 

contioutra.com - O corpo em terapia: a abordagem corporal na psicoterapia junguianaMarcela Alice Bianco – Psicóloga Clínica e Psicoterapeuta Junguiana formada pela UFSCar. Especialista em Psicoterapia de Abordagem Junguiana associada à Técnicas de Trabalho Corporal pelo Sedes Sapientiae. CRP: 06/77338

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