Dar amor não cansa, decepcionar-se sim

Dar amor não cansa, decepcionar-se sim

A decepção é um sentimento que, se for prolongado no tempo, não apenas cansa, mas também termina por nos apagar por dentro e destruir nossos sonhos.

Ninguém pode se esgotar de oferecer um carinho sincero para quem, por sua vez, reconhece cada esforço e detalhe. Dar amor não cansa. O que obscurece nosso humor são as decepções e cada vazio sentido nas relações.

A clássica frase “dar amor sem olhar a quem” deveria estar presente em diversos detalhes, estes que nós experimentamos por nós mesmos ao oferecermos o máximo a quem nos rodeia, sem saber que existem limites.

Há quem dê como certo que receber atenção, adulação, favores e carinho é algo que não requer esforço, que somente por ter um parceiro é o esperado, sem lembrar que uma relação é um intercâmbio contínuo onde “você me dá e eu te ofereço”.

O amor incondicional é, sem dúvida, algo muito respeitável. É o que sente, por exemplo, uma mãe por seu filho, um pilar inquebrável que entendemos e valorizamos.

No entanto, a incondicionalidade por si mesma é um terreno perigoso para muitas pessoas. Porque nem em todos os casos pode-se justificar o seguir dando afeto e respeito quando já não os recebemos.

Quando somos desprezados ou traídos. É um aspecto comum em nossas relações afetivas que desejamos abordar neste artigo.

A decepção cansa e apaga pouco a pouco o amor
A decepção cansa e nos faz abrir os olhos. No entanto, até que chegue este momento, passamos por uma série de fases complexas e emocionalmente duras que nos fazem questionar muitas coisas.

Cabe dizer que uma decepção não é obrigatoriamente o primeiro passo rumo a um término. Há situações que nos permitem ver as coisas com maior realismo para fazermos mudanças mais maduras.

Vejamos em detalhe.

Quando o amor é cego e a decepção abre nossos olhos
Há algo que costuma ocorrer quando somos muito jovens: viver estas relações afetivas onde idealizamos o parceiro de tal modo que, longe de enxergarmos qualquer defeito, costumamos colocá-lo em um pedestal muito alto.

O dia a dia vai demonstrando que a perfeição não existe, e isso não deve ser bom nem ruim. Ver a realidade das coisas é uma forma adequada – e necessária – através da qual gerir melhor uma relação.

Nosso parceiro, assim como nós mesmos, não é perfeito, e muito menos infalível. Cometemos erros, e todos temos nossas manias e defeitos.

Estas primeiras decepções devem abrir os nossos olhos para nos darmos conta de que para que a relação prospere, ambos devem investir por igual.

As falhas podem ser corrigidas, os erros servem para aprender, e os defeitos se harmonizam com os nossos.

No entanto, também sabemos que “há decepções e decepções” e erros que nem sempre podemos perdoar.

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A decepção que cansa e que fere
Há fatos, detalhes, palavras e atos que nos abrem os olhos e que demonstram, com impacto, que uma pessoa não era como esperávamos.

O mais provável é que nunca tenha sido como nós pensávamos que fosse, já que como falamos anteriormente, o amor tende a idealizar a personalidade e o caráter das pessoas.
O amor nunca deveria ser oferecido com os olhos fechados. O mais complicado de tudo isso é que, na hora de falar de emoções, entramos em um âmbito onde é muito complicado controlar o que sentimos.
Podemos aceitar uma decepção, podemos perdoar um erro, e inclusive cinco. No entanto, no momento em que se reincide sem se importar em absoluto com a dor causada, nos vemos obrigados, sem dúvida, a tomar uma decisão.
A decepção contínua não apenas cansa, mas também fere e destrói nossa autoestima. É algo que devemos ter muito claro.

Cansei de tantas decepções
Não é preciso chegar a estes extremos. Quando o coração se cansa demais diante de tantas decepções sofridas, começa a se apagar ou a aceitar a situação, a se render.

Nunca devemos cair nestas situações em que toleramos as decepções até o ponto de pensarmos que são “normais”, que o melhor é aguentar e ficar calado.
Não importa se é um parceiro, amigo, ou até filhos. Se não há respeito e existe uma vontade clara de machucar, porque não conhece o que é o respeito e o carinho sincero, é o momento de reagir com firmeza.

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O recomendável é saber fazer isso já na primeira decepção. Uma vez que abrimos os olhos diante de uma realidade, é preciso enfrentá-la e deixar claro que nos machucou. Que não é assim que se constrói uma relação.

Se algo o incomoda, dê-lhe um nome e expresse-o. Se algo o decepciona, demonstre e oferece estratégias para que não ocorra novamente.

Se as decepções continuam, será o momento de dar uma resposta mais contundente. Do contrário, ficaremos feridos e fragmentados demais.

Não permita que isso aconteça.

Fonte: Melhor Com Saude

Crise dos refugiados e a nossa solidariedade seletiva

Crise dos refugiados e a nossa solidariedade seletiva

“Sou sírio.” Essa frase tem sido usada em Istambul, na Turquia, por pessoas que pedem algumas liras de esmola. Vim para a cidade para participar de um evento e acabei sendo abordado várias vezes por homens e mulheres, com filhos ou não, utilizando o mesmo argumento. Que diante da comoção internacional envolvendo a fuga de centenas de milhares de sírios em direção à Europa, deixando mortos no meio do caminho, possui um rosário de significados em si mesmo e não precisa de muito mais para chamar a atenção.

Fui informado que parte deles realmente diz a verdade. Outros, não – seriam imigrantes pobres de outras nacionalidades ou mesmo turcos que se aproveitam dessa comoção para com os sírios.

Isso pode gerar uma série de reflexões interessantes para o momento em que vivemos.

Você ficaria irritado se descobrisse que a pessoa em questão mentiu dizendo que era sírio para conseguir uns trocados? Se sim, por quê?

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Criança turca fechando os olhos de sua boneca para que ela não veja a desolação causada pela guerra .. .Essa imagem causou ao mesmo tempo polêmica e comoção, pois ela “caiu” na internet como sendo de uma criança síria. A questão foi, o desconforto de quem viu a foto foi devido a nomenclatura errada ou pelo fato da criança não ser síria?

Você se sente mais na obrigação de doar para um refugiado sírio do que para qualquer outra pessoa em situação de extrema necessidade ou mesmo outros refugiados? Só doaria porque aquela história é a mesma que você tem ouvido na TV e visto na internet nos últimos dias e provocou um sentimento forte em muita gente ao redor do mundo?

E se a pessoa lhe contou uma mentira para lhe arrancar umas moedas? Decerto, há muita gente que esmola sem precisar, quase como uma profissão. Mas como você não tem como saber, vai ter que confiar na palavra alheia. E se essa pessoa estiver passando dificuldade e percebeu que é mais fácil os cidadãos de seu país se compadecerem com determinada nacionalidade? Porque o governo turco, por exemplo, tem sido violento com os curdos, ajudando a aumentar outra grande tragédia e a espalhar mais gente e eles não contam, necessariamente, com simpatia por conta das questões separatistas. Enfim a pessoa em grande necessidade que mente e pede esmola deveria ser punida por entender as atuais regras desse jogo? A mentira não seria, neste caso, socialmente perdoável, tal qual o furto famélico?

Que mundo é esse em que alguém miserável se passa por outra pessoa em situação deplorável no intuito de garantir a sua sobrevivência?

Ou, por outra: o que são favelas e bolsões de miséria senão campos de refugiados econômicos, expulsos do quinhão de direitos que deveriam ser garantidos a todos desde que nasceram simplesmente por pertencerem à humanidade?

É claro que a atual crise dos refugiados é gravíssima, como já disse aqui antes. E refugiados de guerra contam com o agravante de que, se ficarem, em sua própria terra, podem morrer, portanto merecem o acolhimento e a inserção social e econômica urgentes por parte dos Estados. E leia-se por inserção econômica, empregos decentes e não superexploração de mão de obra, como é o costume.

Mas acho pedagógico a dúvida posta neste “dilema da esmola síria”: por que o sentimento de solidariedade muitas vezes é seletivo? Por que há brasileiros que sentem empatia por refugiados sírios e não por refugiados haitianos, que buscam sobreviver em São Paulo? Por que autoridades brasileiras têm aproveitado este momento para dar declarações de boas vindas a determinado grupo, quando deveriam dizer o mesmo para tantos outros que buscam ajuda?

Não estou defendendo aqui que doe ou não uma moeda. Você pode considerar que dar esmolas é uma ação pontual e não estrutural ou que não vai ao encontro do que acredita e se negar sempre. Mas o julgamento que fazemos dessa situação diz muito mais sobre nós mesmos do que sobre ela em si.

Por Leonardo Sakamoto
Fonte indicada: Blog do Sakamoto

O desejo de ser pássaro

O desejo de ser pássaro

Sempre invejei os pássaros com suas asas que cortam o céu e os levam a lugares distantes, altos ou baixos. Tocam o chão, mas não se demoram. Exploram as possibilidades da terra e do ar e fazem das árvores suas casas, onde fiam um lar para os filhotes e descansam em finos galhos. Sempre quis ser pássaro. Quando criança, cheguei a confeccionar asas de papel, que amarrava em meus braços e em seguida pulava de um pequeno muro que rodeava a casa da minha infância. Lá embaixo, um banco de areia me esperava com a certeza da minha queda. Repeti tanto esse ritual, que o papelão envelheceu e ficou frágil.

Um dia, vi um gato perseguindo um filhote de sabiá que caiu do ninho. A mãe, atônita, sobrevoava a cria e fazia barulho na tentativa de espantar o felino e assim salvar o filho. Mas o bichano fez valer sua condição e acabou por devorar o pequeno sabiá. Naquele momento, desejei que as asas fossem mãos para que a mãe pudesse agarrar o filho, mas lembrei que, caso isso acontecesse, ela seria tão gente quanto eu, desejando ser pássaro.

Imagem de capa: David Heger

Por que as mães carregam todas as dores do mundo?

Por que as mães carregam todas as dores do mundo?

Lembro-me de que no auge da minha independência infantil, por volta dos seis ou sete anos de idade, pedia para a minha mãe para ir até à casa das minhas amigas para brincar, mesmo que para isso bastasse apenas atravessar a rua ou caminhar por um pedaço de quarteirão, algo que para mim era simples; minha mãe dizia que era extremamente perigoso e falava sobre os aviões que poderiam despencar do céu a qualquer momento sob a minha cabeça, dos sequestros de crianças, do tráfico de órgãos e, ainda, dos desaparecimentos infantis inexplicáveis, e de todas as outras crueldades que poderiam acometer uma criança inocente e sua família. Qualquer coisa que eu fazia era monitorada para impedir que alguém me arrancasse um rim, uma córnea, um pulmão ou que eu desaparecesse sem deixar vestígios.

E, na minha independência infantil, achava desnecessário tanta preocupação por parte da minha mãe, pois, pensava tratar-se de situações que acontecessem somente no imaginário dela e de outras mães “malucas” e, por isso, discutíamos, pois, queria meu direito e ir e vir tranquilamente pelo mundo. Minha mãe, sabiamente dizia: “Quando for mãe entenderá o que eu quero dizer.” E nunca acreditei, pensava que jamais iria amedrontar qualquer filho meu sobre a fragilidade de existir. E, quando fui mãe, comecei a temer os aviões “descontrolados”, o rapto de crianças, o tráfico de pessoas e todas as outras mazelas da vida. É verdade que não amedronto o meu filho sobre nossa fragilidade existencial, mas, fico atenta e observo tudo o que nos rodeia e também os acontecimentos do mundo.

Um fato que disparou minhas lágrimas e tristeza foi o afogamento do menino Aylan no mar da Turquia. Foi fotografado morto de bruços na areia, com camiseta vermelha, calça azul e com as mãozinhas vazias. Na fotografia, parecia dormir em paz. Essa fotografia comoveu o mundo todo, todavia, posso afirmar que provavelmente tenha doído e sensibilizado mais as mães e pais. De forma alguma, menosprezo a sensibilidade das pessoas que não têm filhos, apenas digo que “sentir” as tragédias, principalmente sendo com crianças, é um pouco diferente.

Nos primeiros meses, a mãe, para conseguir satisfazer as necessidades do seu filho, como fome, dor, angústia, precisa se identificar com o seu bebê, ou seja, ela precisa se ver em seu filho até que ele aprenda a expressar seus anseios.

Dessa forma, a mãe se mistura com o filho para poder atendê-lo e também revive remotas lembranças de sua infância, e, por um tempo, mãe e filho ficam misturados e algumas feridas da infância da mãe, que ficaram abertas, ressurgem através dessa ligação.

E, se pensarmos na tragédia fotografada do menino Aylan, é como se esse menino, fossemos nós e fossem também os nossos filhos. Conseguimos sentir o desespero, nesse caso, do único sobrevivente, o pai que perdeu a esposa e seus dois filhos. E a dor que sentimos diante de qualquer desgraça que se abata sobre uma criança e seus familiares é tão lasciva que nos colocamos no lugar deles. Talvez seja por isso que identificamos facilmente as crianças ao nosso redor que estão precisando de alguma ajuda ou carinho, que somos prestativas com as mães que, por algum motivo, estão meio perdidas, que somos mais pacienciosas e solidárias.

Misturamo-nos com as crianças que estão em sofrimento por alguma questão da nossa própria infância. É como se o fato de recuperarmos ou aplacarmos o sofrimento do nosso filho ou do filho de outra mãe curasse “aquela” velha ferida infantil que há muito tempo tinha sido esquecida. Por isso, vamos tentando consertar o mundo perto de nós, ficamos excessivamente sensibilizadas diante do bebê que vai nascer e por algum motivo sua mãe não conseguiu fazer o enxoval, da criança que é negligenciada ou que passa fome, da criança que volta da escola e é atingida por uma bala perdida e diante da fotografia de um menino que morreu na praia sem saber ao certo qual é o sentido da vida.

Essa sensibilidade nos comove a ponto de ajudarmos as outras crianças que não são nossos filhos, fazermos serviços voluntários, doarmos roupas e alimentos às famílias que precisam, sermos mais atenciosas e caridosas com as pessoas ao nosso redor. Certamente, não consertaremos o mundo todo, mas, fecharemos nossas velhas feridas infantis e criaremos um lugar mais digno para nossos filhos crescerem seguros, solidários, e talvez futuramente eles possam consertar o mundo!

Desintoxicar o coração, desenvenenar a alma

Desintoxicar o coração, desenvenenar a alma

A vida campestre sempre soa mais saudável, calma e relaxante do que a vida numa grande e barulhenta cidade. A paisagem bucólica leva a gente para um mundo do cantar de pássaros, cheiro de café, bolo de laranja, cachorro preguiçoso dormindo na varanda, mas, não é bem assim, e também não é o estilo de vida da maioria de nós. Vivemos a nossa eterna batalha urbana, driblando os outros passantes, comendo e falando ao telefone, enviando e-mails dentro do supermercado, exaurindo-nos e reclamando, ameaçando a tudo e a todos com um sumiço total, férias de tudo e de todos. E seguimos sempre sonhando com dias no campo ou na praia, durante longas horas de engarrafamento diário, prometendo-nos caminhadas em que respiraremos ar puro, muita meditação, alimentação leve e saudável, aquele soninho depois do almoço…

Acorda! Não ouviu a buzina?

Bem, voltando ao trabalho, o sonho não passa. Viver uns dias fora da rotina vira ideia fixa, daquelas que se sentam ao nosso lado e ficam. Mas, cá entre nós, correr para o campo, correr nos campos, na praia, na grama, de bicicleta ou de pés descalços, não é e nunca será garantia de harmonia, de encontro com a paz, se o verdadeiro caos for de origem mais íntima. Muitas vezes, o barulho, a poluição e as sirenes até aliviam as batalhas internas, sufocam as angústias que gritam.

A solução é desintoxicar o coração. Expelir as mágoas. Remover os sentimentos de perda, ciúmes, ódios e ressentimentos. Construir caminhos para escoar as lembranças ruins, descascar as paredes encrustadas de indiferença e desamor. Desenvenenar a alma. Desejar de bom grado a felicidade alheia, até mesmo a que ainda cremos nos fazer qualquer tipo de mal ou prejuízo, fechar os olhos sempre que vier o ímpeto de lançar maus olhares, neutralizar os azedumes das críticas e comentários invejosos que nos escapam, esfregar e bater até que saia tudo o que corrói e envenena.

Uma vez vencida essa parte crucial do detox, o passeio no campo será perfeito, as buzinas serão mais amenas, a rotina terá outra perspectiva. Mas, melhor do que o café fresquinho, a goiaba tirada do pé, ou o cochilo na hora do almoço, teremos uma alma nova em folha para desfrutar e compartilhar momentos mágicos a qualquer hora e em qualquer lugar. Afinal, lugar tranquilo é aquele que recebe bem a nossa paz.

4 maneiras simples de estimular a generosidade entre crianças

4 maneiras simples de estimular a generosidade entre crianças

As pequenas doações do dia a dia contam, e muito, para ajudar o próximo e fazer deste planeta um lugar melhor. E é assim que você tem que lidar com a educação do seu filho. Não se cobre! Dê de pouquinho em pouquinho tudo o que ele precisa para ser uma pessoa generosa.

1. Todos temos algo para dar

Pode ser dinheiro ou bens materiais, que são as associações mais comuns quando pensamos em generosidade. Mas também pode ser conhecimento, coisas que nós sabemos e que podem ajudar os outros. Pode ser um abraço, uma palavra de conforto, um carinho. Afinal, a generosidade é, antes de mais nada, uma inclinação do espírito para fazer o bem. Converse com o seu filho e o incentive a dividir. Este é o primeiro passo.

2. Praticar é preciso

A generosidade é uma virtude mais celebrada que praticada. “Ela só brilha, na maioria das vezes, por sua ausência”, escreveu o filósofo francês Comte-Sponville. Se a generosidade se tornou artigo raro, um pouco da culpa é da sociedade atual, calcada em valores como egoísmo e individualismo. “Pensamos muito em nosso próprio umbigo e pouco no dos outros”, diz o também filósofo Mario Sergio Cortella.

Ou seja, é necessário manter o hábito. Reforce em casa a frequência de atitudes generosas. “Em uma sociedade que pede apenas que você receba, nunca doe, a generosidade é um treino”, diz a terapeuta existencial e professora da PUC-SP, Dulce Critelli.

3. Dê o exemplo

O modelo de conduta é essencial para as crianças criarem uma imagem do que é ser generoso. Elas tendem a imitar o que veem em casa. E se vocês se comportam de maneira diferente do que pregam, isso deixa a criança confusa. E, como consequência, há o medo e a insegurança.

4. Não reprima

Todas as crianças passam por fase egoísta – e isso é normal. Elas não querem dividir objetos, brinquedos, alimentos… Fazem birra e ainda se repelem socialmente. E a dica é não deixa-las com medo ou aflitos. É preciso conversar e explicar o que significa o compartilhar e por que isso é tão importante. Só assim elas pode fixar de vez essa ideia.

Texto Stephanie Bevilaqua
Fonte indicada: Educar para crescer

Tente outra vez

Tente outra vez

Seu Vitório, o jardineiro do meu condomínio, tem os olhos bondosos que denunciam uma alma nobre. É simples, de gestos contidos e fala humilde. Aparenta estar próximo dos setenta anos, e trabalha com uma resignação rara. Hoje pela manhã, diante da ventania que arrastava folhas secas por todo canto, mexi com ele: “o vento tá te dando trabalho, hein seu Vitório! Vai tirar as folhas hoje e amanhã estarão todas aí de novo?”, ao que ele respondeu: “Tenho que tirar. Ontem tinha deixado tudo limpinho, e olha como está hoje. A gente não pode parar…”

Ele continuou seu trabalho, eu segui meu caminho. Mas fui pensando no gesto de seu Vitório. Todos os dias, sob o sol forte ou chuva fina, ele trabalha cuidando de nossos jardins. Todos os dias, com ou sem ventania, remove as folhas secas do gramado e de nossas garagens. Sabe que terá que repetir _ o vento é uma criatura persistente _ mas não desanima enquanto refaz o serviço diariamente.

Talvez ele se ressinta de trabalhar em vão. Talvez _ e eu torço para isso _ ele perceba que seu gesto tem valor, mesmo que o vento estrague tudo outra vez.

Talvez nos ressintamos de viver todos os dias a mesma rotina, para começar tudo de novo no dia seguinte. Mas pode ser que aprendamos que tentar outra vez é um gesto corajoso, que nos impulsiona a viver, pé ante pé, as aventuras e desventuras da existência.

Ventos súbitos podem sujar nossos canteiros com folhas secas de vez em quando. Em vez de reclamar do sopro do vento e nos indignar com a sujeira deixada, o ideal seria pegar nossas vassouras e simplesmente varrer. Não ficar esperando parar de ventar em nossa vida, ou que um milagre venha tirar de nosso caminho o que não convém. A exemplo do jardineiro que se conforma com o mesmo trabalho todos os dias, podemos aprender a lidar com a imperfeição das horas com ânimo novo, nem que isso nos custe algum esforço ou sacrifício.

A vida não está nem aí para o que você considera certo. Assim como as estações mudam, nosso dia pode se modificar num segundo, enquanto nos apegamos ao que julgamos ser o melhor para nós. Aprender a encontrar conforto na possibilidade é um exercício que tem que ser praticado exaustivamente, até que encontremos sentido naquilo que fazemos ou somos impelidos a acatar.

O amor não deu certo? Tente de outro jeito, pode ser a oportunidade de você se conhecer melhor e descobrir outras formas de amar e ser amado. Aquela chance não vingou? Tente outra vez, insista, batalhe, pode ser que seu olhar mude, e passarão a te olhar com outros olhos também. Não foi desta vez? Experimente dar um tempo e com calma, arrisque novamente. Nem sempre a hora prometida é a hora concedida.

Tente outra vez. Tente achar sentido, tente encontrar aceitação. Tente mesmo que seu trabalho seja em vão. Tente se compreender, tente ser você mesmo. Tente buscar seu sonho mesmo quando folhas secas sujam o gramado que você acabou de limpar. Tente buscar uma saída, tente recomeçar. A vida nos oferece uma existência nova, em branco, todos os dias. Mesmo correndo o risco de ter suas folhas riscadas de um jeito indesejado, simplesmente acredite que pode e deve tentar outra vez.

Seu Vitório continua varrendo a frente das nossas casas. Sabe que não pode colar as folhas nas árvores nem impedir o trabalho do vento. Na sua humildade, encontrou sentido. Sabe de seu valor. Sabe que seu trabalho não tem fim, mas que se parar, será um caos. Então continua, dia após dia, simplesmente trabalhando e, acima de tudo, tentando outra vez…

Imagem de capa: NguyenQuocThang/shutterstock

Procrastinação: se você sempre adia as coisas importantes, é hora de ler este artigo. Ou vai deixar para amanhã?

Procrastinação: se você sempre adia as coisas importantes, é hora de ler este artigo. Ou vai deixar para amanhã?

Muitas pessoas não conseguem usar bem o seu tempo para fazer rapidamente o que tem de ser feito. Adiam, deixam para “amanhã” aquele relatório cujo prazo terminará em poucos dias. Em vez de priorizar as tarefas importantes vão ler os posts do Facebook, limpar o armário, lavar o carro ou organizar os e-mails, até que a tarefa se transforme em urgente, gerando estresse e ansiedade, além da correria para terminar. Conhece alguém assim?

Outros tomam resoluções fantásticas para o Ano Novo como iniciar a academia, o curso de inglês, mudar radicalmente a alimentação. Ou nem começam ou a nova atitude dura somente poucos dias ou semanas, mesmo sabendo o quão importante seria manter este novo comportamento, e isto gera culpa e arrependimento. Certamente conhecemos pessoas que agem deste modo, mas, por que o fazem?

Quando este comportamento é repetitivo é a chamada PROCRASTINAÇÃO, um grande mal que atinge um enorme número de indivíduos e pode prejudicar sua carreira, produtividade, relacionamentos afetivos e até mesmo a sua saúde.

Procrastinação é definida como um ‘atraso voluntário de uma ação apesar das visíveis e negativas consequências futuras’. É optar por prazeres imediatos ao invés de ter uma visão e ação de longo prazo.
Não é o caso das exceções que aparecem em nossas vidas eventualmente e nos fazem mudar os planos, como por exemplo uma visita inesperada que nos faz adiar voluntariamente por esta razão o término de um relatório, nos diz o Dr. Timothy Pychyl, psicólogo professor da Carleton University, em Ottawa, Canadá, grande pesquisador neste assunto.

O procrastinador SABE que deveria estar fazendo sua tarefa adiada, e se sente mal por isto, e às vezes faz “compensações morais” para diminuir sua culpa, como por exemplo ir à academia em vez de terminar sua tarefa, o que alivia temporariamente sua culpa.

Psicólogos descobriram que procrastinadores crônicos frequentemente tem concepções equivocadas do por que agem deste modo. Muitos acreditam que não podem começar porque querem fazer a tarefa perfeitamente e em condições ideais.

Mas os estudos mostram que a procrastinação não tem a ver com perfeccionismo e sim com impulsividade, tendência a agir imediatamente nas urgências e também tem a ver com estratégias emocionais inconscientes para fugir de situações estressantes. É o que nos conta o Dr. Piers Steel, professor de comportamento organizacional da Universidade de Calgary.

Pessoas impulsivas se bloqueiam ao sentir ansiedade ou lidar com fortes emoções.
Uma empresa de Hong Kong chamada Saent, com a supervisão do Dr. Steel está desenvolvendo um software que atrasa a abertura de sites como o Facebook por 15 segundos ou mais e também cria a necessidade de uma senha para navegar na web, pois muitas vezes, estes pequenos “dificultadores” são tudo o que é necessário para fazer os procrastinadores desistirem de procurar uma distração imediata.

Outras pessoas alegam deixar as coisas para o último minuto porque funcionam melhor sob estresse ou sob pressão, mas os verdadeiros procrastinadores se estressam pelo adiamento. Além disto é bastante questionável se a qualidade de um trabalho feito correndo na última hora é melhor do que aquele feito com prazo e mais planejamento.

Os efeitos psicológicos da procrastinação já são bem conhecidos: aumentam os índices de depressão e ansiedade e empobrecem o bem estar, ou seja, diminuem nossa saúde psíquica.

Quanto à nossa saúde física, a psicóloga Dra. Fuschia Sirois, professora da Universidade de Sheffield, na Inglaterra, estuda os efeitos da procrastinação no modo como lidamos com as doenças crônicas e as suas consequências.

Em recente artigo ela descobriu que os procrastinadores que sofrem de hipertensão arterial e doenças cardiovasculares eram menos propensos a se engajarem em estratégias para lidar com suas doenças crônicas, como por exemplo encontrar um sentido para agir, e fazer atividades físicas com amigos. Ao invés, tinham comportamentos mal adaptativos como evitar lidar com a doença ou culparem-se por ela e mesmo tentar esquecê-la (varrendo-a para baixo do tapete).

Também os procrastinadores parecem mais incapazes de ver claramente no futuro as consequências de suas ações e comportamentos do que os não procrastinadores, um fenômeno chamado de “Miopia Temporal”. Sua visão de futuro é mais abstrata e impessoal, ou seja, são menos conectados emocionalmente com sua imagem de futuro. Isto ocorre principalmente por altos níveis de estresse que desviam o foco para objetivos mais imediatos (prazeres) do que mais distantes (escolha saudáveis para cuidar e manter a saúde).
Uma interessante pesquisa mostrou que o modo ‘como’ pensamos em uma tarefa faz com que a adiemos ou não.

Pesquisadores da Universidade Konstanz na Alemanha liderados pelo Dr. Sean McCrea entregaram questionários a estudantes, que receberiam um valor em dinheiro para responder e entrega-los por e-mail no prazo de até três semanas.

As questões tinham a ver com tarefas cotidianas como por exemplo abrir uma conta bancária. O primeiro grupo de estudantes tinha de responder questões subjetivas (e assim pensar de modo abstrato) referentes à traços de personalidade, por exemplo qual tipo de pessoa abriria uma conta bancária enquanto o segundo grupo tinha de responder questões objetivas e práticas (e assim pensar de modo concreto) por exemplo quais atitudes devem ser realizadas para abrir uma conta bancária, como falar com um gerente, preencher formulários e trazer documentos, fazer um depósito inicial etc. e então os psicólogos esperaram pelas respostas.

Os resultados da pesquisa foram publicados no jornal científico Psychological Science, da Associação de Ciência Psicológica e mostraram claramente que, mesmo que todos os estudantes fossem pagos para responder, aqueles que tinham de pensar nas questões de modo abstrato tiveram uma tendência muito maior à procrastinação, (inclusive alguns nunca entregaram as respostas) enquanto os que pensaram de modo concreto no Como, Quando e Onde entregaram suas respostas muito mais cedo, ao invés de adiar sua tarefa.

Os autores concluíram que “simplesmente por pensar na tarefa em termos mais concretos e específicos fez com que (os estudantes) sentissem que deviam completar a tarefa logo, o que reduziu a procrastinação”. Também apontaram que estes resultados tem implicações importantes para professores e gerentes que querem que seus estudantes e colaboradores iniciem logo seus projetos.

Faça as pessoas pensarem em termos práticos e objetivos e isto aumentará muito a probabilidade que ajam e cumpram a tempo suas tarefas.

A Dra. Sirois e Dr. Pychyl ensinam que focar somente no gerenciamento de tempo ajuda parcialmente os procrastinadores. O componente de regulação emocional também deve ser observado. As pessoas devem reconhecer que tem problemas com emoções como a ansiedade no início de um projeto, mas não devem se autojulgar por isto, e sim iniciar passo a passo, com um foco preciso.

Já que devemos ser práticos, eis aqui algumas dicas de atitudes que contribuem para que mudemos nossos hábitos e consigamos exterminar a procrastinação e suas péssimas consequências:
1- Planeje-se no dia ou noite anterior e inicie suas atividades logo pela manhã, antes que novas atividades, compromissos ou mesmo desculpas apareçam para atrapalhar seus planos. E lembre-se como mostrou a pesquisa, de planejar objetivos práticos e concretos, como um passo a passo até a resolução.

2- Quanto mais frequentemente você realizar uma tarefa, como meditar, ir à academia, comer verduras ou escrever seu artigo, mais facilmente você “programa” este novo e benéfico hábito que fará parte de sua rotina diariamente.

3- Tenha uma companhia para compartilhar sua atividade, se for possível, como um amigo ou grupo para fazer atividades físicas, que te darão apoio, força nos momentos em que queira desistir, e também aumentarão a diversão do momento.

4- Esteja bem preparado para a tarefa que se propõe. Isto aumenta a confiança e motivação para atingir o objetivo.

5- Anote seus objetivos, e coloque as anotações onde frequentemente as veja. Mantém o foco no objetivo continuamente.

6- Primeiro as coisas mais importantes (first things first). Mesmo que pareça atraente, evitar iniciar o trabalho quando parecer difícil ou pouco motivador, trocando por outras tarefas, acaba atrasando aquilo que é importante e acabará se tornando urgente. Quando você não se incumbe do que é importante, terá muitos “incêndios” e coisas urgentes a resolver.

7- Visualize-se desfrutando dos benefícios e boas sensações que terá quando tiver terminado suas tarefas. A ciência prova que a’visualização’ tem o mesmo efeito em nosso cérebro do que a prática e acaba nos preparando melhor para atingir os objetivos. Os atletas de ponta utilizam-se muito deste treinamento. Ver-se mentalmente tendo terminado a tarefa e sentindo-se muito bem com isto prepara o caminho e direciona para um bom resultado.

8- Aprenda a lidar com suas emoções. Autoconhecimento, leituras, meditação, psicoterapia podem ser recursos muito úteis para fortalecer o equilíbrio emocional e ajudar a lidar com a ansiedade e o estresse que aumentam a procrastinação.

E para terminar, sempre que tomar uma decisão importante, aja imediatamente e tome atitudes concretas na hora, dando início imediato ao projeto de mudança (por exemplo, se decidir iniciar o curso de idioma que está adiando há tempos, pesquise escolas e ligue ou visite para ter mais informações e poder se matricular e começar).

Fonte indicada: A Tribuna

Oração de amor por uma semana de paz a todos.

Oração de amor por uma semana de paz a todos.

Vem, segunda-feira! Vem forte, clara, longa, cheia, bela, valente. Chega trazendo um caminhão de trabalho que acelere corajoso e se adiante por estradas novas e caminhos de sol generoso.

Tem a bondade de entrar e ficar à vontade, dona semana menina. Cá estamos, agradecidos pelo domingo, à espera dos outros dias de tua ordem. Que teus dias úteis nos sejam produtivos tanto quanto nos empenharmos em servir e ajudar.

Seremos gratos por cada instante de tensão e todo minuto de conversa leve no corre-corre. Que em tua sequência de acontecimentos não faltem um banho morno de poder curativo, uma notícia alegre, um sonho bom que nos massageie durante o sono de um dia para o outro todos os nossos músculos. Que tuas manhãs, tuas tardes e tuas noites nos tragam a calma, a esperança e a alegria no trabalho, desatando juntas cada um de nossos nós.

Vem, semana que nasce. Abre portas em tuas horas para que os amantes encontrem tempo de passear de mãos dadas. E que ao passarem defronte às construções, despertem a atenção dos serventes de pedreiro. Calmos, os operários os olharão com entusiasmo, não com inveja, mas com admiração respeitosa. E baterão palmas e assoviarão e farão festa de comentar em casa, à noite, com a esposa. “Você não sabe! Hoje eu vi um casal passeando de mãos dadas e lembrei do nosso começo de namoro.”

Entra, semana moça. Revela novos entusiasmos em nossas rotinas, como cacos de vidro desenterrados no quintal da infância. Abre novas esperanças entre um dia e outro, tal e qual capim nascendo nos vãos dos paralelepípedos da rua.

Sê gentil e leve quando possas. E que em tua sexta-feira, à noitinha, quando todos começarmos a tirar o pé devagar do acelerador, prontos para respirar fundo e abraçar o remanso, que por um breve instante sintamos aqui dentro uma singela nostalgia da semana que chega ao fim. Um sopro de saudade da segunda-feira passada, das vozes sobrepostas da terça, da reunião da quarta, do almoço da quinta, da correria, dos risos e choros, das angústias e esperanças e de tudo o que de bom nos ofereceste, semana abençoada, para que em teu sábado estejamos inteiros, sãos, agradecidos e em paz, prontos a começar tudo de novo na semana seguinte.

Amém!!

Zygmunt Bauman: ‘Há uma crise de atenção’

Zygmunt Bauman: ‘Há uma crise de atenção’

POR BRUNO ALFANO

Uma busca no Google com os termos “O que é modernidade líquida?” rende 187 mil resultados em 0,34 segundo. São, todos eles, “fragmentos de conhecimento”, na visão do sociólogo polonês Zygmunt Bauman, que discursou neste sábado para um auditório lotado na Escola Sesc de Ensino Médio durante o encontro internacional Educação 360, realizado pelos jornais O GLOBO e “Extra” em parceria com a prefeitura do Rio e o Sesc, com apoio da TV Globo e do Canal Futura. O filósofo defende que “não vamos nos livrar da realidade” e que “o problema é como utilizar”.

— A educação é vítima da modernidade líquida, que é um conceito meu. O pensamento está sendo influenciado pela tecnologia. Há uma crise de atenção, por exemplo. Concentrar-se e se dedicar por um longo tempo é uma questão muito importante. Somos cada vez menos capazes de fazer isso da forma correta — disse o pensador. — Isso se aplica aos jovens, em grande parte. Os professores reclamam porque eles não conseguem lidar com isso. Até mesmo um artigo que você peça para a próxima aula eles não conseguem ler. Buscam citações, passagens, pedaços.

Como o próprio Bauman mencionou, a modernidade líquida — definida nos resultados do Google como a época em que vivemos, caracterizada por “volatilidade” , “incerteza” e “insegurança” — norteou as obras do filósofo; ele escreveu cerca de 30 livros apenas em torno dessa maneira de enxergar a contemporaneidade.

— Não há como contestar que a internet nos trouxe grandes vantagens. A facilidade de acesso à informação, a facilidade com que podemos ignorar as distâncias… Lembro-me de que, quando era jovem, passava muito tempo na biblioteca tentando ler cem livros para encontrar um pedacinho de informação de que precisava. Agora, basta pedir para o Google. Em décimos de segundo ele dá milhares de respostas. Um problema foi eliminado: nós não precisamos passar horas na biblioteca. Mas há um novo problema. Como vou compreender essas milhares de respostas? — questionou Bauman, logo recorrendo à Grécia Antiga para para continuar. — Só agora, idoso, consegui entender Sócrates: “Só sei que nada sei”.Há ainda, na visão de Bauman, outras crises que chegam com a internet e precisam ser superadas. O filósofo defende que vivemos com cada vez menos paciência, pela quantidade de informação que recebemos ao mesmo tempo. E, quando não temos isso, o resultado é a irritação.

— Se demoramos mais de um minuto para acessar a internet quando ligamos o computador, ficamos furiosos. Um minuto só! Nosso limiar de paciência diminuiu. As informações mais bem-sucedidas, que têm mais probabilidade de serem consumidas, são apenas pedaços — diz o polonês. — Outra coisa é a persistência. Conseguir algo contém em si um número de fracassos que faz com que você perca tempo e tenha que recomeçar do zero. E isso é muito complicado. Não é fácil manter essa persistência nesse ambiente com tanto ruído e tantas informações que fluem ao mesmo tempo de todos os lados.

Todo esse novo cenário, explicou o pensador à plateia de educadores, desafia e transforma a posição secular do docente. Para Bauman, “não há como voltar à situação em que o professor é o único conhecedor, a única fonte, o único guia”. E dá caminhos:

— Não há como conceber a sociedade do futuro sem tecnologia. Então, se não pode vencê-la, una-se a ela. Tente contrabalancear o impacto negativo, como a crise da atenção, da persistência e de paciência. É preciso ter determinadas qualidades se você deseja construir conhecimento e não só agregá-lo: paciência, atenção e a habilidade de ocupar esse local estável, sólido, no mundo que está em constante movimento. É preciso trabalhar a capacidade de se manter focado.

Educação desigual
Hoje, de acordo com o filósofo, a educação reproduz privilégios em vez de aperfeiçoar a sociedade. Ele lembra que, nos EUA, 70% dos alunos na universidade vêm das classes mais altas, enquanto só 3% são das camadas de renda mais baixa. Segundo Bauman, essa é “uma forma de reafirmar a desigualdade social”, tema do livro “A riqueza de poucos favorece a todos nós?”, o mais recente lançamento (no mês passado) do escritor no Brasil.

— Uma das tarefas da educação é conferir a todas as pessoas que tenham talento a possibilidade de adquirir conhecimento para que isso acabe tendo um uso criativo para a sociedade. Mas esse objetivo não está sendo perseguido em muitos lugares. Na Grã-Bretanha, os preços, em vez de diminuírem para as pessoas com menos dinheiro, vão subindo. E cada vez menos pais têm a possibilidade de economizar a quantia necessária para seus filhos cursarem a universidade.

O problema, segundo Bauman, é que a educação está pressionada pela política e pelos interesses corporativos. E isso, explica ele, se reflete na mente do estudante. O polonês critica o fato de os alunos escolherem a área de estudos baseados “no fato de se vão conseguir emprego ou não”.

— Se você quer conhecimentos especializados, que são as condições para um bom emprego, precisa estudar quatro ou cinco anos, e isso requer muito esforço. Mas, se você está sendo guiado pelo atual estado de coisas, tudo vai mudar nesse tempo de estudo. E você vai perceber que não vai conseguir encontrar um uso rentável para o tipo de qualificação e habilidade que adquiriu nesses anos de trabalho árduo na faculdade — argumenta.

Mesmo após toda essa lista de desafios, a mensagem que o dono de uma das mais influentes mentes no mundo deixou para o auditório na noite de ontem foi de pura esperança:

— Educar, senhoras e senhores, é fazer um investimento nos próximos cem anos.

Fonte indicada: O Globo

“O Perfume”, um “abensonhado” conto de Mia Couto

“O Perfume”, um “abensonhado” conto de Mia Couto

O Perfume

– Hoje vamos ao baile!

Justino assim se anunciou, estendendo em suas mãos um embrulho cor de presente. Glória, sua esposa, nem soube receber. Foi ele quem desatou os nós e fez despontar do papel colorido o vestido não menos colorido A mulher, subvivente, somava tanta espera que já esquecera o que esperava. Justino guardava ferrovias, seu tempo se amalgava, fumo dos fumos, ponteiro encravado em seu coração. Entre marido e mulher o tempo metera a colher, rançoso roubador de espantos. Sobrara o pasto dos cansaços, desnamoros, ramerrames. O amor, afinal, que utilidade tem?

De onde o espanto de Glória, deixando esparramejar o vestido sobre seu colo. Que esperava ela, por que não se arranjava? O marido, parecia ter ensaiado brincadeira. Que lhe acontecera? O homem sempre dela se ciumara, quase ela nem podia assomar à janela, quanto mais. Glória se levantou, ela e o vestido se arrastaram mutuamente para o quarto. Incrédula e sonambulenta, arrastou o pente pelo cabelo. Em vão. O desleixo se antecipara fazendo definitivas tranças. Lembrou as palavras de sua mãe: mulher preta livre é a que sabe o que fazer com o seu próprio cabelo. Mas eu, mãe: primeiro, sou mulata. Segundo, nunca soube o que é isso de liberdade. E riu-se: livre: Era palavra que parecia de outra língua. Só de a soletrar sentia vergonha, o mesmo embaraço que experimentava em vestir a roupa que o marido lhe trouxera. Abriu a gaveta, venceu a emperrada madeira. E segurou o frasco de perfume, antigo, ainda embalado. Estava leve, o líquido havia evaporado. Justino lhe havia dado o frasco, em inauguração do namoro, ainda ela meninava. Em toda a vida, aquele fora o único presente. Só agora se somava o vestido. Espremeu o vidro do cheiro, a ordenhar as últimas gotas. Perfumei o quê com isso, se perguntou lançando o frasco no vazio da janela.

– Nem sei o gosto de um cheiro.

Escutou o velho vidro se estilhaçar no passeio. Voltou à sala, vestido se desencontrando com o corpo. As bainhas do pano namoriscavam os sapatos. Temia o comentário do marido sempre lhe apontando ousadias. Desta vez, porém, ele lhe olhou de modo estranho, sem parecer crer. Puxou-a para si e lhe ajeitou as formas, arrebitando o pano, avespando-lhe a cintura. Depois, perguntou:

– Então não passa um arranjo no rosto?
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– Um arranjo?

– Sim, uma cor, uma tinta.

Ela se assombrou. Virou as costas e entrou na casa de banho, embasbocada. Que doença súbita dera nele? Onde diabo parava esse baton, havia anos que poeirava naquela prateleira? Encontrou-o, minúsculo, gasto nas brincadeiras dos miúdos. Passou o lápis sobre os lábios. Leve, uma penumbra de cor. Carregue mais, faça valer os vermelhos. Era o marido, no espelho. Ela ergueu o rosto, desconhecida.

– Vamos ao baile, sim. Você não costumava dançar, antes?

– E os meninos?

– Já organizei com o vizinho, não se preocupa.

E foram. Justino ainda teve que tchovar* a carrinha. Ela, como sempre, desceu para ajudar. Mas o marido recusou. Desta vez, não. Ele sozinho empurrava, onde é que se vira?

Chegaram. Glória parecia não dar conta da realidade. Se deixou no assento da velha carrinha. Justino cavalheirou, mão pronta, gesto preso abrindo portas. O baile estava concorrido, cheio pelas costuras. A música transpirava pelo salão, em tonturas de casais. Os dois se sentaram numa mesa. Os olhos de Glória não exerciam. Apenas sombreavam pela mesa, pré-colegiais.

Então, se aproximou um homem, em boa postura, pedindo ao guarda-freio lhe desse licença de sua esposa para um passo respeitoso. Os olhos aterrados dela esperaram cair a tempestade. Mas não. Justino contemplou o moço e lhe fez amplo sinal de anuência. A esposa arguiu:

_ Mas eu preferia dançar primeiro com meu marido.

– Você sabe que eu nunca danço…

E como ela ainda hesitasse ele lhe ordenou quase em sigilo de ternura: Vá, Glorinha, se divirta!

E ela foi, vagarosa, espantalhada. Enquanto rodava ela fixava o seu homem sentado na mesa. Olhou fundo os seus olhos e viu neles um abandono sem nome, como esse vapor que restara de seu perfume. Então, entendeu: o marido estava a oferecê-la ao mundo. O baile, aquele convite, eram uma despedida. Seu peito confirmou a suspeita quando viu o marido se levantar e aprontar a saída. Ela interrompeu a dança e correu para Justino.

– Onde vai, marido?

– Um amigo me chamou, lá fora. Já volto.

– Vou consigo, Justino.

– Aquilo lá fora não é lugar das mulheres. Fique, dance com o moço. Eu já venho.

Glória não voltou à dança. Sentada na reservada mesa, levantou o copo domarido e nele deixou a marca de seu baton. E ficou a ver Justino se afastando entre a fumarada do salão, tudo se comportando longe. Vezes sem conta ela vira esse afastamento, o marido anonimado entre as neblinas dos comboios. Desta vez, porém, seu peito se agitou, em balanço de soluço. No limiar da porta, Justino ainda virou o rosto e demorou nela um último olhar. Com surpresa, ele viu a inédita lágrima, cintilando na face que ela ocultava. A lágrima é água e só a água lava tristeza. Justino sentiu o tropeço no peito, cinza virando brasa em seu coração. E fechou a noite, a porta decepando aquela breve desordem. Glória colheu a lágrima com dobra do próprio vestido. De quem, dentro dela mesma, ela se despedia?

Saiu do baile, foi de encontro às treva. Ainda procurou a velha carrinha. Ansiou que ela anda ali estivesse, necessitada de empurro. Mas de Justino não restava vestígio. Voltou a casa, sob o crepitar dos grilos. A meio do carreiro se descalçou e seus pés receberam a carícia da areia quente. Olhou o estrelejo nos céus. As estrelas são os olhos de quem morreu de amor. Ficam nos contemplando de cima, a mostrar que só o amor concede eternidades.

Chegou a casa, cansada a ponto de nem sentir cansaços. Por instantes, pensou encontrar sinais de Justino. Mas o marido, se passara por ali, levara seu rastro. A Glória não lhe apeteceu a casa, magoava-lhe o lar como retrato do falecido. Adormeceu nos degraus da escada.

Acordou nas primeiras horas da manhã, tonteando entre sono e sonho. Porque, dentro dela, em olfactos só da alma, ela sentiu o perfume. Seria o quê? Eflúvios do velho frasco? Não, só podia ser um novo presente, dádiva da paixão que regressava.

– Justino.

Em sobressalto, correu para dentro da casa. Foi quando pisou vidros, estilhaçados no sopé de sua janela. Ainda hoje restam, indeléveis pegadas de quando Glória estreou o sangue de sua felicidade.

Conto de Mia Couto no livro “Estórias Abensonhadas”
O livro foi publicado pela Editorial Caminho, em 1994.
No Brasil, é vendido pela Companhia das Letras.

Mar Me Quer, por Mia Couto

Mar Me Quer, por Mia Couto


Sou feliz só por preguiça. A infelicidade dá uma trabalheira pior que doença: é preciso entrar e sair dela, afastar os que nos querem consolar, aceitar pêsames por uma porção da alma que nem chegou a falecer. – Levanta, ó dono das preguiças. É o mando de minha vizinha, a mulata Dona Luarmina. Eu respondo: -Preguiçoso? Eu ando é a embranquecer as palmas das mãos. -Conversa de malandro… – Sabe uma coisa, Dona Luarmina? O trabalho é que escureceu o pobre do preto. E, afora isso, eu só presto é para viver… Ela ri com aquele modo apagado dela. A gorda Luarmina sorri só para dar rosto à tristeza. – Você, Zeca Perpétuo, até parece mulher… – Mulher, eu? – Sim, mulher é que senta em esteira. Você é o único homem que eu vi sentar na esteira. – Que quer vizinha? Cadeira não dá jeito para dormir. Ela se afasta, pesada como pelicano, abanando a cabeça. Minha vizinha reclama não haver homem com miolo tão miúdo como eu. Diz que nunca viu pescador deixar escapar tanta maré:

– Mas você, Zeca: é que nem faz ideia da vida. – A vida, Dona Luarmina? A vida é tão simples que ninguém a entende. É como dizia meu avô Celestiano sobre pensarmos Deus ou não Deus…

Além disso, pensar traz muita pedra e pouco caminho. Por isso eu, um reformado do mar o que me resta fazer? Dispensado de pescar, me dispenso de pensar. Aprendi nos muitos anos de pescaria: o tempo anda por ondas. A gente tem é que ficar levezinho e sempre apanha boleia numa dessas ondeações. – Não é verdade, Dona Luarmina? A senhora sabe essas línguas da nossa gente. Me diga, minha Dona: qual é a palavra para dizer futuro? Sim, como se diz futuro? Não se diz, na língua deste lugar de África. Sim, porque futuro é uma coisa que existindo nunca chega a haver. Então eu me suficiento do actual presente. E basta. – Só eu quero é ser um homem bom, Dona. – Você é mas é um aldrabom.

contioutra.com - Mar Me Quer, por Mia CoutoA gorda mulata não quer amolecer conversa. E tem razão, sendo minha vizinha desde há tanto. Ela chegou ao bairro depois da morte de meus pais, quando herdei a velha casa da família. Nessa altura, eu ainda pescava em longas viagens, semanas de ausência nos bancos de Sofala. Nem notava a existência de Luarmina. Também ela, logo que desembarcou, se internou na Missão, em estágio para freira. Ficou enclausurada nessas penumbras onde se murmura conversa com Deus. Só uns anos mais tarde ela saiu dessa reclusão. E se instalou na casa que os padres lhe destinaram, bem junto à minha morada. Luarmina costureirava, era seu sustento. Nos primeiros tempos, ela continuava sem se dar às vistas. Só as mulheres que entravam em seus domínios é que lhe davam conta. No resto, me chegavam apenas os perfumes de sua sombra. Um dia o padre Nunes me falou de Luarmina, seus brumosos passados. O pai era um grego, um desses pescadores que arrumou rede em costas de Moçambique, do lado de 1á da baía de S. Vicente. Já se antigamentara há muito. A mãe morreu pouco tempo depois. Dizem que de desgosto. Não devido da viuvez, mas por causa da beleza da filha. Ao que parece, Luarmina endoidava os homens graúdos que abutreavam em redor da casa. A senhora maldizia a perfeição de sua filha. Diz-se que, enlouquecida, certa noite intentou de golpear o rosto de Luarmina. Só para a esfeiar e, assim, afastar os candidatos.

Depois da morte da mãe, enviaram Luarmina para o lado de cá, para ela se amoldar na Missão, entregue a reza e crucifixo. Havia que arrumar a moça por fora, engomá-la por dentro. E foi assim que ela se dedicou a linhas, agulhas e dedais. Até se transferir para sua actual moradia, nos arredores de minha existência.

Só bem depois de me retirar das pescarias é que dei por mim a encostar desejos na vizinha. Comecei por cartas, mensagens à distância. À custa de minhas insistências namoradeiras Luarmina já aprendera as mil defesas. Ela sempre me desfazia os favores, negando-se. – Me deixa sossegada, Zeca. Não vê que eu já não desengomo lençol? – Que ideia, Dona vizinha? Quem lhe disse que eu tinha essa intenção? Todavia, ela tem razão. Minhas visitas são para lhe caçar um descuido na existência beliscar-lhe uma ternura. Só sonho sempre o mesmo: me embrulhar com ela, arrastado por essa grande onda que nos faz inexistir. Ela resiste, mas eu volto sempre ao lugar dela. – Dona Luarmina, o que é isso? Parece ficou mesmo freira. Um dia, quando o amor lhe chegar, você nem o vai reconhecer… – Deixe-me, Zeca. Eu sou velha, só preciso é um ombro.

Confirmando esse atestado de inutensílio, ela esfrega os joelhos como se fossem eles os culpados do seu cansaço. As pernas dela da maneira como incham, dificultam as vias do sangue. Lhe icebergam os pés, a gente toca e são blocos de gelo. E ela sempre se queixa. Um dia aproveitei para me oferecer: – Quer que lhe aqueça os pés? Arrepiando expectativa, ela até aceitou. Até eu fiquei assim, meio desfisgado, o coração atropelando o peito. – Me aquece, Zeca? – Sim, aqueço mas… pela parte de dentro.

Excerto do livro “Mar Me Quer“, de Mia Couto (Editorial Caminho)

O Transtorno de Jekyll & Hyde

O Transtorno de Jekyll & Hyde

Será que dá pra imaginar o que é abandonar o país em se nasceu e se viveu, ter que sair de lá em fuga, por causa de guerra, violência e destruição, talvez depois de ver uma grande parte da família morrer ao seu lado? Cruzar países e mares carregando seu filho e os únicos pertences que sobraram dentro de uma sacola plástica, sempre com o medo de ser capturado pelas polícias locais? Passar fome e privações durante toda a viagem, vendo seu filho depender da ajuda eventual de estranhos, incapaz de fazer qualquer coisa para melhorar a situação, além de continuar a viagem, tentando chegar a um futuro melhor? Cruzar uma fronteira para atravessar um país inteiro a pé, sabendo que os habitantes poderão te encarar como um criminoso ou terrorista? Ter que fugir de uma polícia que talvez tente te mandar para o lugar de onde saiu, zerando todo o sacrifício feito?

Acho que não dá pra ter a real noção do que seja realmente tudo isso, só dá mesmo pra tentar imaginar. Mas nem todos fazem esse esforço, se limitando a enxergar apenas uma ameaça em pessoas que passaram por tudo isso. É o caso da cinegrafista Petra Lazlo que derrubou um pai que corria com o filho nos braços, enquanto fazia a cobertura da entrada de imigrantes sírios na Hungria. Depois ainda deu chutes em uma menina que passou correndo por ela. Em sua defesa, ela disse que teve um momento de descontrole e que se sentiu ameaçada. Disse ainda que não viu quem agredia, por estar segurando uma câmera.

Se a gente olhar as imagens, fica difícil em acreditar na última parte. As agressões parecem conscientes e bem dirigidas. Daria para acreditar no momento de descontrole, mas de onde ele veio? Não da situação em si, ao que parece. Tanto Petra quanto os outros cinegrafistas não parecem ameaçados em momento algum. No momento em que ela derruba o Homem com o Filho nos Braços, ele está isolado da multidão, conduzido por um policial que parece apenas tentar fazê-lo correr para o lado certo, sem tentar capturá-lo. Petra o derruba assim que ele sai do alcance do policial e, depois que ele cai, aponta sua câmera para ele, filmando-o.

Difícil entender o que se passou na cabeça dela. A própria Petra também é mãe, tem uma família e deseja o melhor para ela. Mas ela também pertence a um partido de extrema-direita, que doutrina seus seguidores a encarar todo aquele que não tem a sua ideologia, religião, cor de pele ou nacionalidade como um inimigo que deve ser mantido longe das fronteiras. Naquele momento, no meio da correria entre policiais e refugiados, Petra tinha dois lados que poderiam se manifestar: um, que poderia fazer com que ela se identificasse com uma pessoa que tenta oferecer um futuro melhor para o filho; outro, onde um condicionamento ideológico a ensinou apenas a enxergar um potencial futuro criminoso. Falou mais alto o segundo, e com uma força tão grande que a levou a sair da posição profissional que exercia e interferir na situação, com violência.

Na carta que escreveu tentando explicar o acontecido, Petra diz: “Eu não sou uma cinegrafista racista, sem coração, que chuta crianças. Eu não mereço a caça às bruxas em que me atiraram, nem as ameaças de morte. Sou apenas uma mulher, que acabou de se tornar uma mãe desempregada.” Petra pode ser uma pessoa como tantas outras, gentil, carinhosa, amada pela família e admirada pelos amigos. Mas naquele campo, na fronteira da Sérvia com a Hungria, Hyde prevaleceu sobre Jekyll.

Um lugar onde o lado Hyde costuma aflorar com mais facilidade é exatamente aqui, na Internet. Parece que estar online funciona como uma espécie de poção, onde aquela pessoa pacata que a gente encontra todo dia no elevador, levando o cachorro para passear, se transforma em alguém capaz de chutar crianças em um campo húngaro. É só ver alguns comentários sobre o caso de Petra:

“Ótima ação, minha co-irmã. Essas pessoas estão ILEGALMENTE em Europa. São alienígenas. Possuem ZERO direito garantido pelas constituições. Tudo que elas querem é espalhar caos e terceiro-mundismo pela Europa. E que não permitiremos que alienígenas destruam tudo pel oqual nossos antepassados já derramaram muito suor e sangue… Deportemos TODOS eles: VIVOS OU MORTOS!”

“Esta é uma atitude de pura revolta pela a invasão de zumbis na Europa !!! Bela atitude da cinegrafista indignada com o fluxo de invasores em seu país …. Pois eu faria o mesmo!!! “

Apoiar a invasão no país alheio é fácil! Acho que deveriam repatriá los e se virem com seus problemas!”

“É isso que aconteceria se separarmos o sul e colocarmos uma barreira na fronteira, muitos nordestinos tentando invadir!”

“Os brasileiros hipócritas e esquerdistas merecem isso, eu espero ansiosamente para que encham o País (menos o Sul é claro) com estes refugiados para eles sintam na pele o erro que cometem ao condenar o Cristianismo e a civilização Ocidental!!”

Saiba mais:

contioutra.com - O Transtorno de Jekyll & HydeA personalidade de Jekyll e Hyde descreve alguém com uma personalidade dupla, cada um distinto e totalmente oposto. Um lado de uma dupla personalidade pode ser amigável e descontraído, enquanto o outro lado pode ser retirado ou até mesmo violenta. Pessoas com transtorno de personalidade borderline ou transtorno bipolar são freqüentemente descritos como sendo este tipo de pessoa.   Transtorno de Personalidade Múltipla em “O Médico e o Monstro”

São urgentes novas memórias

São urgentes novas memórias

Para os meus amigos

São urgentes novas memórias, daquelas que podem ser repetidas mil vezes e continuar a fazer sorrir. Daquelas que fazem doer a barriga de tanto rir e surgir lágrimas nos olhos de tanta alegria e saudade. É urgente, por isso, viver. Viver momentos que tantos de nós deixámos no passado, aqueles momentos de descontração e evasão que pareciam poder durar para sempre. Quando aquela música tocava e começávamos a cantar com a mesma espontaneidade com que trocávamos olhares cúmplices daqueles amigos que não precisam de mais nada para além de estarem juntos. Quando não era preciso assim tanto dinheiro para passar um bom bocado, quando tudo parecia mais fácil e simples: não era mas sentia como tal.

É urgente estarmos com os nossos amigos, não os adiarmos, não nos adiarmos, não adiar a vida. É urgente dizer-lhes o que de mais precioso temos guardado porque não é preciso um momento especial para dizer: “olha, amo-te!”. Pois eu amo-vos meus amigos. Era urgente dizer isto, urgência proporcional aos dias, meses e talvez anos que não o disse a alguns de vós.

Gosto de conhecer outras pessoas, fazer novas amizades mas não tanto como gostaria de vos ter a cada um de vocês de volta na minha vida. Bem sei que, como um grande amigo uma vez me disse, os conhecidos, amigos e melhores amigos acabam todos por ser igualmente importantes na nossa vida se acreditarmos que tudo acontece por uma razão e cada pessoa está e fica exatamente o tempo que tinha de ficar. Mas se pudesse trocava as voltas ao destino só para vos dar mais um abraço, um beijo e dizer o quanto gosto de vocês. Talvez tu meu amigo que já não falo há muito tempo leias este texto e, nesse momento, só quero que saibas que não te esqueci e podes contar comigo.

Acredito que não se deixa de ser amigo de quem se já foi verdadeiramente amigo… mas às vezes mesmo esses amigos deixam praticamente de se falar. Não tem de ser assim. Diz-lhe o quanto sentes saudades de quando passavam mais tempo juntos, de quando as conversas vos faziam esquecer o relógio e as gargalhadas eram tão altas que ficavam todos a olhar. Diz-lhe que não esqueces aquele abraço que te fazia esquecer os problemas nem que fosse por breves segundos. Diz-lhe isso, que não precisas de formalidades, não é preciso marcar um jantar, só queres mesmo estar com ele(a) seja onde for. Não é preciso um pretexto, basta o coração querer.

Já houve um tempo que dedicava muito tempo aos meus estudos e passava pouco tempo com os meus amigos. Presta atenção: no final do dia não são os livros que vão te dar um abraço e dizer tudo aquilo que precisas para ter forças para continuar. Muitas das aprendizagens que fazemos na vida nos soam a óbvias mas só são assim depois de feitas. Talvez dizer-te isto não te vai fazer dedicares-te menos tempo aos estudos, ao trabalho, o que for e passares mais tempo com os teus amigos. Oxalá fizesse! Oxalá te fizesse hoje mesmo olhar para um amigo nos olhos e dizer-lhe tudo o que te vai na alma. Oxalá te fizesse esquecer toda a mágoa que ainda mói a tua energia e não te tem permitido dar tudo o que de bom tens em ti. Mas vai, salta, corre, abraça, beija, ama, vive hoje! Não te adies.

INDICADOS