Escritor brasileiro percorre África em busca de histórias infantis

Escritor brasileiro percorre África em busca de histórias infantis

O escritor brasileiro Rogério Andrade Barbosa percorre, há mais de 25 anos, o continente africano para recolher histórias infantis e preservar a tradição oral, e tem vários livros dedicados aos países de expressão portuguesa.

Com mais de 90 livros publicados e vários prêmios literários, incluindo o prêmio da Academia Brasileira de Letras na categoria de literatura infanto-juvenil, atribuído em 2005, o escritor publicou já vários contos infantis da Guiné-Bissau, Angola, Cabo Verde e Moçambique, e lançou em Julho um livro sobre São Tomé e Príncipe, o último país de expressão portuguesa que visitou.

“Dos países de língua portuguesa, só falta Timor, mas eu chego lá”, disse o escritor à Agência Lusa.

Nas histórias recolhidas por Rogério Andrade Barbosa, cruzam-se lendas e narrativas da cultura oral africana, povoadas por animais e seres mitológicos como o lubu, a hiena guineense, Kianda, a sereia dos rios e dos mares em Angola, ou “Sun Tataluga”, a tartaruga que é a heroína da maioria das histórias infantis de São Tomé e Príncipe.

Para recolher os contos, o escritor, que vive no Rio de Janeiro, viaja com frequência para vários países africanos, onde visita escolas, pedindo às crianças que lhe contem as histórias ouvidas aos pais e avós.

“A partir daí faço uma seleção e reescrevo as histórias com uma forma literária”, explicou o escritor, que foi professor e é especialista em literatura afro-brasileira.

Os contos, escritos em português, incluem quase sempre frases e expressões dos dialetos locais, como o “changana” de Moçambique, o “forro” de São Tomé, o quimbundo de Angola ou os vários crioulos falados nos países africanos de expressão portuguesa, que o escritor aprendeu quando foi voluntário da ONU na Guiné-Bissau, em 1979.

“Eu falo crioulo da Guiné-Bissau, e isso ajudou-me muito. Em Angola e Moçambique, que não têm crioulo, todos falavam português na escola, ao contrário da Guiné, de Cabo Verde e São Tomé. Muitas crianças começam a contar a história em português e continuam em crioulo”, disse à Lusa o escritor.

Foi na Guiné-Bissau, país onde foi professor de português de 1979 a 1980, que começou a paixão de Rogério Andrade Barbosa pelas narrativas africanas.

Quando regressou ao Brasil, após dois anos no país, tinha “dois grossos diários” com histórias e lendas guineenses, e decidiu passar a escrito os contos que recolheu.

“Nessa altura não havia nada para crianças e jovens sobre os contos tradicionais africanos. Eu tinha visto tanta coisa que resolvi criar um avô africano que contava histórias aos netos, e mandei para várias editoras”, recordou.

Bichos da África“, publicado pela editora Melhoramentos em 1988, foi finalista do Prémio Jabuti, o mais importante prémio literário do Brasil, e venceu o prémio para melhor ilustração, tendo sido traduzido para inglês, alemão e espanhol.

“Isso abriu-me as portas. Fui pesquisando mais e voltei a África outras vezes para recolher histórias”, contou Rogério Andrade Barbosa, que desde então publicou cerca de uma centena de livros, a maioria dedicados às histórias do continente africano.

O mais recente livro do escritor, sobre São Tomé e Príncipe, foi publicado em Julho.
Para o escritor, a televisão e a internet ameaçam a tradição de contar histórias em África, o que torna mais urgente a recolha dos contos tradicionais e a preservação da cultura oral africana, defende.

No Príncipe, onde esteve pela primeira vez em 2013, ainda encontrou “muitas crianças que mantêm o hábito de contar histórias”, fruto do isolamento e da falta de recursos, numa ilha onde até a eletricidade é racionada.

“Como no Príncipe a luz se apaga à meia-noite, encontrei muitas crianças a contar histórias, porque as pessoas mantêm esse hábito”, explicou.

Foi aliás em São Tomé que o escritor ouviu uma nova variação de uma história tradicional com a tartaruga, um conto comum noutros países do continente africano, incluindo no Quénia ou na Tanzânia.

“Muitas vezes, a mesma história é contada noutros lugares, mas com variações. Em São Tomé e Príncipe, um menino de oito anos contou-me uma versão da história da tartaruga que eu nunca tinha escutado”, disse à Lusa.

O livro, intitulado “Histórias de Sun Tataluga que as crianças me contaram em São Tomé”, já está à venda no Brasil.

Paula Telo Alves / Lusa

Foto de Capa:Foto: Chris Karaba / CONTACTO

Fonte indicada: Contacto

Encontre os livros do autor AQUI.

Dica de Livro: A estrela de prata

Dica de Livro: A estrela de prata

De Jeannette Walls, a mesma autora do livro “O Castelo de vidro“.

Duas irmãs abandonadas pela mãe declaram uma guerra particular contra inimigos sem rosto: a crueldade, o preconceito e a hipocrisia que vivem à espreita no chamado mundo adulto.
Liz e Bean são duas irmãs inseparáveis, filhas de uma artística mãe solteira, Charlotte, aspirante a cantora e atriz na efervescente Califórnia dos anos 1970. De súbito, as meninas se veem forçadas a enfrentar um evento decisivo: em busca da realização de seu ideal artístico, Charlote abandona as filhas, deixando-lhes dinheiro suficiente apenas para que sobrevivam por pouco mais de um mês.

Aqueles leitores que já travaram contato com as memórias da premiada best-seller Jeanette Walls em O Castelo de Vidro, reconhecerão em A Estrela de Prata alguns temas muito caros à autora. Temos o olhar agudo sobre a infância, vivida em famílias pouco convencionais, às margens da sociedade, enfrentando a dureza da luta diária pela sobrevivência.
Em A Estrela de Prata, acompanhamos a aventura de Liz e Bean em busca de amor, solidariedade, e, no limite, do pão diário. Tornadas órfãs, embora a mãe esteja viva, a situação-limite exige um esforço inaudito de superação.

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Sem vontade de viver? Espere o próximo amanhecer.

Sem vontade de viver? Espere o próximo amanhecer.

É chegado o momento em que parece não existir outra saída! Tenho a sensação de que meu corpo está sem pele e todas as coisas me atingem, ferindo diretamente a minha carne! As coisas não fazem mais sentido! Sinto-me em pedaços, sem pertencimento a este mundo hostil que tanto me feriu. Se eu fechar meus olhos para sempre, toda a dor terá fim e não mais haverá desespero diante dessa insuportabilidade de existir!

Muitos de nós poderemos ter em algum momento da jornada um desejo imenso de desistir de nossas próprias vidas por sentirmo-nos impotentes diante de um sofrimento incomensurável ou de situações aparentemente sem saída. Mas afinal, “o que quer a alma ao imaginar, ou ao realizar em ato irreversível, diante do mundo, essa possibilidade simultânea de matar e de morrer?” (James Hillman)

A morte, ao contrário do que podemos pensar, não somente é o fim da vida, mas algo que nos acompanha desde o nascimento. Quando deixamos de ser crianças e nos tornamos adolescentes, por exemplo, muitas coisas morrem e outras nascem nessa transição. Assim, também acontece quando iniciamos e terminamos etapas e relacionamentos ou quando decidimos mudar coisas em nós. Do ponto de vista psicológico a morte é tida como um caminho necessário à transformação; a vida nova brota da morte e a partir dela é que nos desenvolvemos como ser humano.

Mas é claro que, todos nós, durante nossa trajetória, vivemos algumas coisas e outras deixamos de viver. Primeiro porque certamente somos incapazes de viver todas as experiências possíveis e, segundo, porque muitas das coisas que teríamos que viver nos serão negadas por situações diversas e que estão fora do nosso controle: pais negligentes ou cuidadosos demais, fome, excessos, pobreza, riqueza, doenças, abusos, traumas, perdas, exigências sociais e etc. Enfim, dentre tudo aquilo que somos, existe uma série de coisas que nunca deveríamos ter sido ou nunca seremos.

Nem sempre as condições que vivemos serão capazes de desenvolver em nós a flexibilidade necessária para lidarmos com as questões relegadas e que cobrarão seu espaço de modo avassalador em algum momento da vida em que não estaremos prontos para suportar.

O desejo suicida, quando não for fruto de uma desordem realmente química do corpo, virá frente à impotência para lidar com questões da vida, à falta de alternativas para lidar com o que o mundo externo causa em nosso mundo interno, às mortes simbólicas que precisaríamos realizar, mas que, por algum motivo, não demos conta.

Quando a morte é ignorada na realidade psíquica, em seu simbolismo, ela se projeta de modo concreto sobre a pessoa, podendo de fato ser consumada para aliviar o desespero e a dor. A pessoa não quer morrer realmente e sim, parar de sofrer.

No dia a dia, as fantasias suicidas que atormentam nossa consciência são pistas que nos levam a um “assassino interno” que se torna cada vez mais ameaçador quanto mais não é “ouvido”. Ele nos convoca a uma transformação que nos fará, na experiência da sombra, alcançar a luz. Desse modo, podemos pensar que a morte simbólica, diferente do suicídio, resgata-nos para a vida e sua continuidade.

“Hoje acordei e o sol estava lindo! Sentei para almoçar e à mesa recordamos com carinho e saudade do meu primo que perdeu a vida aos dezenove anos por um câncer. Minha avó chorou e pude dar-lhe um abraço apertado. Depois fomos ao teatro. Depois ri de uma piada engraçada que postaram no meu perfil. Fui ao mercado. Tomei banho. Fui à Igreja. Fiz amor. Briguei com meu irmão. Fui ao casamento da minha irmã.

 Me formei na faculdade…

Poderia não ter vivido nada disso se não tivesse entendido ontem que aquele desejo de morte só queria me dizer que, apesar de toda dor, a vida seguiria e encontraria outros caminhos! Ah se eu não tivesse esperado o próximo amanhecer!”

Maternidade real: mãe compartilha foto do pós-parto e viraliza na internet

Maternidade real: mãe compartilha foto do pós-parto e viraliza na internet

Danielle Haines deu à luz um menino em novembro de 2014. Três dias após o nascimento, estava exausta: não dormia, tinha os olhos inchados, os mamilos sangravam e ela se sentia sozinha sem o marido, que havia voltado a trabalhar naquele dia. Quase um ano depois, ela compartilhou o retrato em seu perfil no Facebook e inspirou várias mulheres a fazerem o mesmo.

Com um depoimento sincero e emocionante, ela relata o amor pelo bebê, a falta do pai da criança, uma mistura de emoções em relação à própria mãe e à sua história pessoal, além dos desconfortos físicos. “Eu estava a ponto de perder a razão”, escreveu.

A foto foi tirada por sua irmã, que a escutou, lhe deu suporte e enxergou ali uma beleza real. O post já teve mais de 20 mil compartilhamentos e abriu o diálogo sobre a realidade do pós-parto. Confira, abaixo, o depoimento na íntegra:

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Danielle Haines: honestidade pós-parto (Foto: Reprodução/ Facebook)

“Esta é uma foto minha três dias depois do parto. Eu estava tão crua e tão aberta, eu estava uma bagunça. Eu amava o meu bebê, eu sentia falta do pai dele (ele voltou a trabalhar naquele dia), eu estava brava com a miha mãe, meu coração doía pelo meu irmão porque minha mãe nos deixou e agora eu tinha um menininho que parecia com ele, meus mamilos estavam rachados e sangrando, meu leite estava quase descendo, meu bebê estava ficando realmente com fome, eu estava me sentindo triste porque as pessoas matam bebês, tipo, de propósito, eu não dormia desde o momento em que entrei em trabalho de parto, eu não sabia como tirar meus seios, minha vagina doia porque eu ficava sentada muito tempo enquanto amamentava, eu estava quase enlouquecendo. Katie veio para a minha casa e me alimentou na manhã em que esta foto foi tirada. Ela deveria ter parado ali para me dar almoço. Então uma de minhas sete irmãs veio naquela noite para trazer jantar para a família, Sarah. Sarah tirou esta foto de mim. Ela entrou com a comida e disse: ‘Oi! Como você está?’ Eu disse: ‘Estou uma bagunça’. Conversamos, ela escutou, ela disse, ‘Eu estive bem aí onde você está’. Me ajudou saber que ela ficou louca um dia também!!! Então ela disse: ‘Eu sei que isso pode parecer meio maluco, mas, você tem uma câmera? Você está tão crua e tão bonita’. Estou feliz que ela tenha tirado essa foto. Ela estava apenas planejando deixar a comida. Ela acabou ficando por muito mais tempo. Eu precisava dela. Ela sabia disso. Eu liguei para Rachel, eu precisei dela. Eu precisava dela para amamentar meu bebê, eu precisei de mais ajuda com a alimentação. Eu liguei para Shell. Eu precisava que ele me dissesse que meu bebê estava bem. Este é o pós-parto real, mamães. Aquelas de vocês que passaram por isso antes… poderiam compartilhar o que sentiram imediatamente depois do parto? Eu tive um pós-parto mágico. Não foi fácil, mas tive tanto apoio e fui alimentada e lembrada de que outras mães passaram por essa parte da maternidade antes de mim e de que eu sairia disso bem também”.

Fonte indicada: Revista Crescer

Artista transforma sucata de metal em fantásticas esculturas em miniatura

Artista transforma sucata de metal em fantásticas esculturas em miniatura

Susan Beatrice é uma artista que recicla peças de relógio antigo que para alguns podem ser consideradas “sucata”. O que ela faz com elas? Ela as transforma em fantásticas esculturas em miniaturas que lá fora são conhecidas como steampunk. Beatrice descreve que suas esculturas recicladas são “Obras de arte ‘amigas do meio ambiente’, sensíveis aos limites de nossos recursos naturais.”

Nós reunimos a seguir algumas de suas obras, mas existem muitas outras em sua página no Facebook. Se você curtir, certifique-se de verificar a página dela também! Veja as imagens a seguir:

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Fonte indicada: Rock’n Tech

Médico enumera sete pecados capitais cometidos contra a infância

Médico enumera sete pecados capitais cometidos contra a infância

Por Bruna Ramos – Portal EBC

Fonte:TEDx Talks

“O verdadeiro caráter de uma sociedade é revelado pela forma com que ela trata suas crianças.” A frase, de Nelson Mandela, foi escolhida pelo médico pediatra Daniel Becker para introduzir uma lista onde ele aponta os sete pecados capitais cometidos contra a infância.

Daniel falou sobre o assunto no evento TEDx Laçador, realizado em Porto Alegre, em junho. Segundo o palestrante, as crianças brasileiras vêm sendo muito maltratadas pela sociedade. “Além de o país não oferecer boas condições de saúde, moradia, educação e segurança, os pais e cuidadores das crianças têm cometido pecados ao longo de sua criação”, afirma.

O médico enumera:

1 – Privação do nascimento natural e do aleitamento materno

“A cultura da cesárea faz com que as mulheres acreditem que o parto normal deve ser a cesárea. Que o parto normal é nocivo, doloroso, perigoso. Isso gera diversos malefícios para as crianças.” “Da mesma forma acontece com o leite materno. A mulher quer amamentar sua filha, mas (muitas vezes) em dois meses esta criança está desmamada. Isso vem, em grande parte, por causa da indústria, que faz propaganda pelo nome que dá às suas fórmulas: “premium”, “supreme”, e a propaganda que ela faz com o médico.”

2 – Terceirização da infância

Por causa da falta de tempo dos pais, que têm que trabalhar para sustentar a família, as crianças estão sendo deixadas em creches ou com babás. “Perdemos o que é mais precioso na infância: o convívio com os filhos. Convívio é aquilo que nos dá a intimidade, a capacidade de estar junto, o amor, a sensação de estar cuidando de alguém, a sensação de conhecer profundamente alguém”.

3  – Intoxicação da infância

Também pela falta de tempo, é mais acessível trocar a comida tradicional brasileira por uma alimentação rica em gordura, sal e açúcar, que vem da comida congelada e industrializada. “Obesidade e diabetes estão explodindo na infância”.

4 – Confinamento e distração permanente

As crianças passam até oito horas por dia conectadas em aparelhos eletrônicos. Esse confinamento impede que elas tenham um momento de consciência, de vazio, de tédio. “O tédio é fundamental na infância. Porque o tédio e o vazio são berço daquilo que é mais importante para nós, a criatividade e imaginação. Nós estamos amputando isso dos nossos filhos.”

5 – Mercantilização da Infância e Consumismo Infantil

Assistindo muita televisão durante o dia, as crianças são massacradas pela publicidade, por valores de consumismo. “E essa publicidade é covarde, explora a incapacidade da criança de distinguir fantasia de realidade, explora o amor dela por personagens e instiga nela valores como consumismo obscessivo, hipervalorização da aparência, a futilidade e coisas piores”.

6 – Adultização e erotização precoce

“Existe uma erotização que usa a criança de 7, 8 anos para vender produtos de moda, uma erotização baseada no machismo, na objetificação das meninas e das mulheres, na valorização excessiva da aparência.”

7 – Entronização e superproteção da infância

Para compensar a ausência, muitos pais tornam-se permissivos e acabam perdendo a autoridade sobre seus filhos. Mas a criança precisa de gente que conduza a vida dela. “A gente sabe que a importância dos limites do não são formas fundamentais de amor. A gente precisa dar para os nossos filhos, mas a gente tá perdendo a capacidade. Em vez disso, a gente se interpõe entre as experiências dos filhos e do mundo fazendo justamente que eles não tenham experiência da vida e portanto não desenvolvam mecanismos de lidar com a frustração, com a dor e com a dificuldade. E certamente o mundo vai entregar para eles mais tarde.”

 

Como forma de enfrentar estes pecados, Daniel propõe uma solução que passa por mudanças em apenas dois fatores: tempo e espaço. No caso do tempo, o médico sugere que os pais estejam presentes na vida do filho em pelo menos 10% do tempo em que estão acordados. Em uma conta geral, isso representa 1h40 por dia de dedicação aos filhos. Em relação ao espaço, a orientação é estar perto da natureza. “O convívio com o espaço aberto vai afastar a gente das telas, vai reduzir o consumismo e o materialismo excessivos, vai promover o livre brincar (que, por sua vez, vai gerar inteligência, humor e criatividade), vai gerar convívio entre as famílias, vai promover o contato com o ar, o sol e o verde e vai reduzir todos os problemas da infância.”

Assista à palestra na íntegra:

UBER X TAXI: chamando a responsabilidade

UBER X TAXI: chamando a responsabilidade

 

“Nos sonhos começa a responsabilidade”. – W.B. Yeats

Nos últimos meses, a disputa entre o serviço de transporte alternativo Uber e o serviço de táxi tradicional vem criando polêmica e gerando uma discussão infinita que envolve questões legais, morais e éticas. De um lado, os taxistas reivindicando a exclusividade de direito sobre o transporte de passageiros e apontando a ilegalidade e deslealdade da concorrência; do outro, a empresa americana alegando que o serviço prestado não é público, de taxi, e sim particular, e que por isso não age ilegalmente.

Se fica claro o cinismo de seu argumento, que se beneficia de uma brecha na lei para se sustentar, é notável também o fato da Uber ter surgido no mercado trazendo não apenas uma alternativa de transporte mas uma ideologia de cultura sustentável e compartilhada que, ainda que com fins capitalistas, tem potencial, de fato, para gerar benefícios coletivos. Sendo assim, se falta moral em sua postura, talvez, sua visão, preserve a ética. Talvez…

A reflexão proposta aqui, contudo, sai dessa macroesfera da lei e da responsabilidade social e se volta para a questão da responsabilidade individual do sujeito que se vê implicado, prejudicado e vítima dessa situação.

Há alguns dias, assistindo pela TV uma das últimas grandes manifestações realizadas pela classe taxista contra a Uber, fiquei me perguntando se, entre aquelas milhares de pessoas, os roncos das buzinas, os gritos de protesto e o caos no trânsito, ninguém parou por um segundo para se perguntar “Afinal, por que viemos parar aqui?”. Provavelmente, não.

Digo “provavelmente, não” porque nosso movimento natural diante das adversidades da vida – o problema no trabalho, no casamento, o investimento que não deu certo – é culpar o outro (o chefe, o parceiro), a sorte, o destino. Como se houvesse algo no mundo, algo exterior a nós, que pudesse definir de maneira absoluta nossa trajetória sem que não tivéssemos a mínima interferência sobre isso. Evitamos nos perguntar sobre a nossa responsabilidade porque é mais confortável nos mantermos no registro da queixa e da reclamação esperando que a mudança de atitude alheia, a mudança dos astros ou da vontade divina, traga a solução dos nossos problemas. Nossa dificuldade é assumir que somos responsáveis por tudo aquilo que nos acontece, até mesmo frente ao acaso e à surpresa.

Pode parecer quase absurda para alguns essa afirmação mas o fato incontestável é que, no momento em que nos perguntamos “O que eu tenho a ver com isso?”, afrouxamos as amarras do “Grande Outro”, e começamos a tomar as rédeas de nossa vida, porque, se há algo de nós em tudo em que nos acontece, não importa o quão adversa, difícil seja a situação, existe algo que podemos fazer para mudar o curso das coisas. Nesse sentido, a responsabilidade liberta. Mas pesa, não é? Pesa…

Voltando à polêmica, é fácil perceber que os que se vêem prejudicados nessa disputa não se questionam sobre os motivos que os levaram a esse lugar, e investem toda sua energia tentando desqualificar e aniquilar (até literalmente!) a concorrência. Aqui, não se trata de tirar a legitimidade de seu protesto, apenas, pensar além disso.

Não é novidade que o serviço de taxi nas capitais deixa a desejar há muito tempo. O taxista passou a ser tão mal visto a ponto de ter sua figura cristalizada em um estereótipo negativo e zombeteiro. E, ainda que o cliente nem sempre tenha razão, não dá para negar que isso aponta para um sintoma grave na base da classe.

Assim, vimos a insatisfação virar demanda, e a Uber se aproveitar dessa brecha e todas as outras para se estabelecer em um mercado antes monopolizado. Porém, a questão ainda vai além.

Os taxistas reivindicam o direito de exclusividade pelo serviço de transporte, mas o fato é que, aquela pessoa que contrata a Uber não quer apenas ir de um ponto a outro da cidade, ela quer isto agregado a uma experiência de qualidade. O serviço Uber tem no modelo executivo o seu padrão. Além de carros novos, considerados de luxo, todos os motoristas são orientados a oferecer bebidas e outras conveniências em seus veículos. São orientados também quanto a sua apresentação pessoal e o tratamento com o passageiro. Ou seja, a Uber traz para o mercado um serviço de transporte agregando a ele um valor, um valor que as pessoas estão desejando e até pagando mais para ter. E contra o desejo é difícil lutar.

A impressão que dá é que a classe taxista, na tentativa de resolver seu drama, está recorrendo a Lei como a criança recorre ao pai, pedindo que ele expulse da casa o amiguinho, mais velho (disputa desleal!), que está vencendo a partida do jogo.

Acredito que além de apontar a falta no outro (de legalidade, de lealdade), a classe precisa também assumir um pouco a responsabilidade pela condição atual adversa que se encontra; deixar de se vitimizar e tentar fazer algo para mudar, se renovar, para resgatar a perda que sente ter sofrido. Caso contrário, ficará paralisada na culpabilidade, esperando a resposta daquele outro que a livrará do problema. E, nesse caso, a resposta do “pai” pode ser não…

No mundo de oceanos vermelhos e azuis dos negócios, dizem seus mestres, “Não concorra com os rivais — torne-os irrelevantes”. Identifique as ameaças e oportunidades que lhe cercam e, acima de tudo, conheça suas forças e fraquezas. Até os administradores concordam que na batalha por um lugar ao sol é preciso olhar para dentro…

Aos homens que não aprenderam a nadar

Aos homens que não aprenderam a nadar

O mar está cheio

Há cardumes de peixe e gente

Há barcos com peso demais

Há mulheres, crianças, jovens e velhos,

Que não conseguem chegar à margem.

 

E os homens que não aprenderam a nadar

Esperam em terra

Com escudos e cassetetes

 

O mar está triste

Seu sal são lágrimas da agonia

De mães e pais que nadaram

Para longe  do caís,

Afogando-se juntos aos seus em alto mar.

 

E os homens que não aprenderam a nadar

Esperam em terra

Com escudos e cassetetes

 

Homens, para que essa proteção?

Do mar, poucos sairão inteiros.

Tantos olhos foram se fechando

Enquanto eram observados pelos peixes entristecidos

Que não lhes podiam doar as nadadeiras.

 

E os homens que não aprenderam a nadar

São comandados

Por quem finaliza acordos e conchavos

Com aqueles que só se interessam

Em ganhar com o fogo do Mundo.

Se o Facebook fosse um Jogo de Tabuleiro

Se o Facebook fosse um Jogo de Tabuleiro

 

Abra sua conta.

Escolha sua foto.

Adicione amigos. Vale tanto os imediatamente próximos como aqueles que você não via desde a época do maternal.

Pronto.

Já pode começar a jogar.

Primeira jogada: Você compartilha uma matéria bacana, argumentativa, com o intuito de fazer seus amigos refletirem sobre um determinado assunto. Começou bem, ande cinco casas.

Você posta uma foto do prato do restaurante em que almoçou.     Fique uma rodada sem jogar.

Você curte o seu próprio post. Aproveite enquanto os outros jogam e dá uma pensadinha no porquê de entrar nesse jogo e se você quer mesmo continuar.

Escreve uma mensagem lacônica, querendo chamar atenção, no estilo “Estou triste” ou “Estou com azia”. Volte uma casa (e se você mesmo curtir isso, volte oito).

Posta uma sugestão de música ou filme pouco conhecido, mas que você gosta muito e que acha que pode interessar seus amigos. Avance duas casas.

Resolve postar uma foto antiga, constrangendo um amigo que aparece nela com um corte de cabelo horroroso ou com uma roupa que já esteve na moda um dia, mas que hoje virou motivo de piada. Passe a vez para o amigo.

De boa-fé, compartilha uma matéria alarmista, do tipo “Miojo preparado com sal na água causa envenenamento!!!!!!”, sem checar a fonte ou investigar a veracidade. Volte duas casas.

Sentindo-se disposto a inspirar seus amigos, você posta a seguinte frase:

“Se a vida lhe der um limão, faça uma caipirinha”.

                                                                           Clarice Lispector

Volte duas casas.

Começa um debate sobre algum assunto, colocando uma ideia, abordando a questão por todos os lados e mantém a conversa com argumentos fundamentados e em nenhum momento ataca uma ideia contrária. Avance sete casas.

Posta uma foto do seu umbigo. Volte umas casas. Você mesmo decide quantas, ok?

Disposto a atrair atenção para uma causa que acha justa, você posta uma foto chocante, que pode impressionar pessoas mais sensíveis. (Hum… O pessoal que faz as regras vai analisar caso a caso, enquanto isso, pode continuar jogando.)

Como você odeia alguma coisa, seja partido político, gênero musical ou programa de televisão, você tem um momento hater e faz uma sequência de postagens atacando o alvo escolhido. Volte cinco casas.

Você posta uma notícia antiga, que foi dada por um grande jornal ou revista, mas que já foi desmentida. Volte três casas se você não sabia do desmentido ou volte onze se você sabia.

É época de eleição e, mesmo sabendo que não é verdade, você compartilha uma notícia falsa, do tipo “Lulinha é Dono da Friboi” ou “Aécio é condenado pelo desvio de 4,3 bilhões”, enquanto aproveita para fazer comentários xenofóbicos ou preconceituosos. Volte… Não, pensando bem, deixa pra lá…

Game Over.

Sinto saudades do que a gente não viveu

Sinto saudades do que a gente não viveu

Olho para você e vejo uma beleza. Uma história linda que não foi contada. Às vezes penso em você e sinto saudades do que a gente não viveu. As manhãs de sábado em que acordávamos famintos e íamos descabelados até o café da esquina comer um english breakfast e um suco de maça com gengibre. Ficávamos mergulhados em nossos silêncios vendo o movimento crescendo nas ruas, em mais um dia quente. E eu nem precisava te olhar para saber que você estava ali, imerso também em uma certa doçura. E a house music que tocava no café, nunca foi muito o meu estilo, mas compunha perfeitamente essa história de um verão com ventos do pacífico.

Esses silêncios que nunca existiram, essas manhãs que nunca se deram. Afogadas na pressa de entrar num ônibus antes mesmo do sol nascer.

Sinto falta da nossa caminhada na orla, em que parávamos para ver o surf ou conversar com um amigo em comum que nunca tivemos. E deitávamos na areia só para tomar um sol no rosto e respirar o cheiro um do outro um pouco mais. E de quando éramos surpreendidos com um cachorrinho nos jogando areia e pulando a nossa volta, nos convidando para brincadeiras e nos desvendando as gargalhadas que já estavam prontas e só procurando um pretexto para irromperem. Envoltos numa dose certa de serotonina e adrenalina. Entorpecidos e vibrantes. Virávamos crianças. As crianças que nunca fomos.

Às vezes penso em você e sinto saudades do que a gente não foi. Nosso amor teve o peso dos adultos, já nasceu grande demais, nasceu perigoso, estressado, cansado. Uma bonita vontade no campo dos medos e das obrigações, uma bonita energia no campo dos orgulhos. Nasceu em meio a uma guerra, lindo mas cancerígeno. Nosso amor escondido nas madrugadas, nas garrafas de cerveja, na tristeza de saber que nunca conhecerá essas manhãs encantadoras de sábados.

Pepe Mujica, em vídeo viral, afirma: “ou se é feliz com pouco, ou não se consegue nada”

Pepe Mujica, em vídeo viral, afirma: “ou se é feliz com pouco, ou não se consegue nada”

Pepe Mujica, ex Presidente uruguaio, é dono de um discurso simples, direto, persuasivo e contundente. Sua inteligência, aliada ao seu modo de vida desprovido de pompas e regalias, dão crédito ao seu discurso.

Afinal, ele vive o que apregoa. Seu discurso encontra eco em sua vida cotidiana.

O vídeo abaixo é viral e você entenderá logo o porquê.

Um belo documentário que deveria ser visto por todos!=========================HUMAN”Cineasta Yann Arthus-Bertrand passou 3 anos coletando histórias da vida real de 2.000 mulheres e homens em 60 países. Trabalhando com uma equipe de tradutores, jornalistas e câmeras, Yann captura profundamente relatos pessoais e emocionais de tópicos que unem a todos nós; lutas contra a pobreza, a guerra, a homofobia o futuro de nosso planeta, combinados com momentos de amor e alegria. Assista aos 3 volumes do filme e vivencie #WhatMakesUsHUMAN ” ==========================Site:https://humanthemovie.withgoogle.com/intl/pt-br/Video: https://youtu.be/TnGEclg2hjgFacebook: https://www.facebook.com/humanthemovieTwitter: https://twitter.com/humanthemovie==========================

Posted by Marcelo Passos C on Sábado, 12 de setembro de 2015

Veja também:  Mujica diz que corrupção é doença no Brasil e pede ‘quem gosta de dinheiro’ longe da política

Como o Brasil virou a terra de reizinhos corruptos através dos séculos

Como o Brasil virou a terra de reizinhos corruptos através dos séculos

“O ladrão que furta para comer, não vai, nem leva ao inferno; os que não só vão, mas levam, de que eu trato, são outros ladrões, de maior calibre e de mais alta esfera. (…) os ladrões que mais própria e dignamente merecem este título são aqueles a quem os reis encomendam os exércitos e legiões, ou o governo das províncias, ou a administração das cidades, os quais já com manha, já com força, roubam e despojam os povos. Os outros ladrões roubam um homem: estes roubam cidades e reinos; os outros furtam debaixo do seu risco: estes sem temor, nem perigo; os outros, se furtam, são enforcados: estes furtam e enforcam.”

“Sermão do Bom Ladrão”,
Padre Antônio Vieira

Por Elder Dias

O Brasil parece mais corrupto do que nunca. E o fato de o escândalo na Petrobrás ser considerado por muitos o maior rombo aos cofres públicos da história da humanidade pode, de certo modo e a partir de certo ponto de vista, dar argumento a que isso se imponha como verdade. Mas, mais do que disputar a mensuração quantitativa do que está ou esteve sendo roubado da Nação, parece importante entender a corrupção em sentido histórico. Afinal, se até para o Big Bang suspeitam de uma Origem, o mensalão, o trensalão e o petrolão não são frutos do nada ou filhos do vácuo. O comportamento “sui generis” em relação ao fenômeno — seja como autor, espectador ou alguém entre essas duas pontas — também merece uma análise: por que se ataca tanto e de tantas formas os cofres públicos? Do lado de lá, por que criminosos ou acusados de crimes contra o País infestam as casas legislativas e os palácios, em vez de gente comprometida com a política stricto sensu, aquela do radical grego “polis”? Do lado de cá, por que temos tanta complacência com o “rouba mas faz”?

Voltemos 515 anos no tempo. Pero Vaz de Caminha, autor da carta que anunciou o descobrimento do Brasil, aproveitou o momento glorioso de que participava para fazer um pedido conveniente ao rei Manuel I. Não era um emprego a um familiar, como se costuma erradamente repetir, mas, sim, o perdão de seu genro, condenado ao degredo na África por assalto a mão armada: “E pois que, Senhor, é certo que tanto neste cargo que levo como em outra qualquer coisa que de Vosso serviço for, Vossa Alteza há de ser de mim muito bem servida, a Ela peço que, por me fazer singular mercê, mande vir da ilha de São Tomé [que, com a Ilha do Príncipe, forma São Tomé e Príncipe, país africano ex-colônia portuguesa] a Jorge de Osório, meu genro – o que d’Ela receberei em muita mercê. Beijo as mãos de Vossa Alteza.
Deste Porto Seguro, da vossa Ilha da Vera Cruz, hoje, sexta-feira, 1º dia de maio de 1500.”

Foi com certeza o primeiro caso de tráfico de influência registrado em terras brasileiras, ainda que amparado legalmente já que o rei tinha poder para conceder indultos. Mas Pero Vaz, que morreria em combate em dezembro daquele ano na Índia, não praticou nepotismo nem pediu emprego. O fatalismo com que se remete a esse episódio parece querer um certificado simbólico de que a corrupção está no DNA do País.

Por isso, é preciso ir além. Professora da Universidade Estadual Paulista (Unesp) no campus de Franca, Denise Moura é também doutora em História Econômica, com ênfase no Brasil colonial e imperial. Ela explica que as “mercês”, como eram chamados os favores, eram um costume nas relações de poder de Portugal. “Para aquela época, não há nada de errado, ou moralmente incorreto, no que então fez Pero Vaz”, afirma a professora.

Na verdade, a corrupção no País, como se vê, não nasceu com o missivista. Mas suas sementes foram lançadas logo em solo nacional, não com dolo, mas certamente com culpa, pela própria Coroa portuguesa. A partir do início da colonização, dadas as condições em que ocorreu, a tal erva daninha germinou. Como escreveu Pero Vaz, nesta terra “querendo-a aproveitar, dar-se-á nela tudo”. A corrupção vingou facilmente.

Povoar o Brasil, um sacrifício
Para ocupar a nova possessão, evitando deixá-la vulnerável a outros povos exploradores, como espanhóis e holandeses, Portugal partiu para uma política de incentivos à colonização. O pequeno reinado europeu era potência marítima, mas não conseguia arregimentar voluntários para migrar ao Brasil, algo visto como um sacrifício ou até um castigo. Aliás, mais do que isso: como em colônias lusitanas na África, também para cá vieram condenados ao degredo.

Para manter a tutela do território à direita da linha do Tratado de Tordesilhas, o jeito foi oferecer benesses em altíssima escala para quem se dispusesse a ocupá-lo. Surgiam as capitanias hereditárias, cujos donatários usufruíam de superpoderes em seus limites. O rei de Portugal lhes concedeu privilégios jurídicos e fiscais e, entre outras atribuições, podiam fundar cidades, autorizar construções, cobrar impostos locais e decretar pena de morte para certas pessoas (geralmente escravos ou de classe baixa).

“O Brasil que os reis portugueses não queriam perder — mas no qual também não queriam viver —, tornou-se uma grande oportunidade para ser fidalgo e rico, mas com a obrigação de organizá-lo”, resume Denise. Todavia, mesmo com todas as regalias, algumas capitanias acabaram abandonadas. Ao fim, apenas a de Pernambuco e a de São Vicente prosperaram.

Mais: a negligência portuguesa em relação ao que se passava fez com que cada um dos donatários agisse como se fosse o próprio rei. Este é o ponto: de empreendedor de uma missão designada pela Coroa portuguesa, o donatário passava, na prática, a ser o dono de um Estado. Dessa forma, passa a soar menos hiperbólica a comparação do Maranhão a um feudo da família Sarney ou de Alagoas a um curral dos Calheiros. Os coronéis políticos têm relação com os capitães de outros séculos. “Muitos dos atuais mandatários têm em seu sobrenome alguns dos primeiros poderosos”, lembra a historiadora.

Esse efeito colateral da forma de povoamento do País levou a algo mais sério: a efetivação do patrimonialismo, que nada mais é do que tomar como particular aquilo que é do erário. O donatário da capitania nomeava pessoas, que também detinham muito poder; essas também colocavam prepostos em mais posições. “Dessa forma, cria-se um efeito cascata de poder. E cria-se a ideia de que ter acesso a cargos públicos era deter poder. Assim, as instituições públicas foram se formando no Brasil Colônia dentro do mecanismo de doação do cargo público.”

E as pessoas da base? Afinal, havia povão — e como havia — naqueles idos tempos: escravos, índios, pequenos comerciantes, autônomos, militares de baixa patente. O cidadão comum, desde os princípios da colonização, não teve como não confundir “poder” com “aquele que está no poder”. Em uma trágica metonímia, tomou a parte pelo todo. A junção desses fatos poderia, então, explicar a tolerância até da própria legislação com ocorrências de apropriação indébita, peculato, evasão de divisas e outras que estão sempre presentes nos indiciamentos dos chamados “crimes do colarinho branco”. Na visão popular, era assim que as coisas aconteciam. E assim seriam.

Sem fiscalização

Ainda há outra lacuna importante que faz com que o Brasil colonial fosse, por muito tempo, uma terra aberta para a corrupção: não havia instituição fiscalizadora. “O primeiro órgão nesse sentido é o Conselho Ultramarino, criado em 1642”, diz a doutora da Unesp. Importante notar que já havia então mais de um século de colonização. “O conselho era um organismo para coordenar a política externa de Portugal e centralizar as denúncias. O interessante é notar, nos documentos históricos, que o cidadão comum já fazia denúncias de irregularidades. Moradores de determinado lugar podiam escrever — e escreviam — representações ao rei, para denunciar atitudes arbitrárias.”

Mais do que isso, manifestações e protestos já ocorriam desde o período colonial contra os excessos de alguma autoridade local. “Por esse lado, o brasileiro também sempre teve uma postura denunciadora, fiscalizadora, das instituições públicas”, afirma a professora. No Brasil independente do período imperial também não eram poucas as denúncias. Isso ocorria também porque o país vivia então um regime de grande liberdade de imprensa, notadamente após a ascensão de Dom Pedro II.

Sob o manto negligente dos portugueses, o Brasil caminhou quase por si só por muito tempo, com nomeações e mais nomeações. Para conquistar uma “posição” era preciso ter conhecimentos — histórias bem dissecadas na obra de Machado de Assis, por exemplo.

Eleição havia para vereador e juiz ordinário, mas poucos votavam. “E os eleitos procuravam o cargo não porque teriam bons salários, mas pelos benefícios, como andar armado, não poder ser preso, ter regalias”, diz Denise.

Mordomias, tráfico de influência, busca de posições, luta por território. Tudo muito parecido com o que há hoje, nos três poderes. Mas é possível dizer que a corrupção tenha piorado com o tempo? Denise Moura não vê essa “maior corrupção”. “A corrupção hoje é obviamente mais visível, com todo o aparato moderno. É assim também com as guerras. Mas ninguém vai pensar que a crueldade e a violência no Oriente Médio começaram com o Estado Islâmico e seus vídeos.”

E não nasceu também hoje, ou mesmo da era contemporânea, outro sintoma sempre atrelado aos casos de corrupção: a revolta, a indignação. Em 1655, 123 anos depois da fundação da vila de São Vicente, a primeira do Brasil, o padre Antônio Vieira, a maior referência do período barroco da literatura brasileira, proferiu o “Sermão do Bom Ladrão”, que abre este texto. Mais que gritar contra a corrupção, é preciso conhecê-la pelas raízes para, então, combatê-la.

Fonte indicada: Jornal Opção

Separação afetiva, uma sábia ponderação da Monja Coen

Separação afetiva, uma sábia ponderação da Monja Coen

É possível separar-se de alguém com respeito e com ternura.

É possível um divórcio verdadeiramente amigável.

Mas para isso é preciso que as duas pessoas envolvidas no processo de desfazer um laço de intimidade tenham amadurecido o suficiente para conhecer a si mesmas.

Caminhamos lado a lado com algumas pessoas em alguns momentos da vida.

Minha professora de hatha ioga, Walkiria Leitão, comentou em uma de nossas aulas:

“A vida é como atravessar uma ponte. Nem sempre as pessoas com quem iniciamos a travessia são as mesmas que nos cercam agora ou com quem chegaremos do outro lado. Mas sempre há alguém por perto. Nunca estamos sós.”

O medo da solidão, muitas vezes, faz com que as pessoas suportem o insuportável. Ou se lamentem após uma separação, apegadas até mesmo ao conflito conhecido.

Ainda há mulheres que sofrem violências morais e até mesmo físicas de seus companheiros ou companheiras.

Ainda há homens que sofrem violências morais e até mesmo físicas de suas companheiras ou companheiros.

Como dar limites? Como conhecer esses limites?

Quando os limites são desrespeitados, as dificuldades começam. Dificuldades que podem levar à separação e ao divórcio. Dificuldades que podem levar ao sofrimento filhos e filhas, animais de estimação, amigos, familiares.

Caminhamos lado a lado.

Ou não.

Quando nos afastamos e nos distanciamos, nunca é repentino.

Um processo que, se desenvolvermos a clara percepção da realidade assim como é, poderemos prever, antecipar e até mesmo alterar o desenvolvimento do processo.

Entretanto, se não conseguirmos antever o que já acontece, se colocarmos lentes fantasiosas sobre a realidade, poderemos nos desiludir e nos sentirmos traídos na confiança mais íntima do ser.

Professor Hermógenes, um dos pioneiros do yoga no Brasil, fala sobre a criação de uma nova religião chamada “desilusionismo”:

“Cada vez que temos uma desilusão estamos mais perto da verdade, por isso agradecemos.”

Se você teve uma desilusão é porque não estava em plena atenção. Mas não fique com raiva nem de você nem da outra pessoa.

Nada é fixo. Nada é permanente.

Saber abrir mão, desapegar-se – até da maneira como tem vivido – é abrir novas possibilidades para todos.

Por que sofrer? Por que manter relações estagnadas ou de conflito permanente? Ou como transformar essas relações e dar vida nova ao relacionamento?

Apreciar e compreender a vida em cada instante é uma arte a ser praticada.

Separar-se dói, confunde, mexe com sonhos e estruturas básicas de relacionamentos.

Separação pode ser também uma bênção, uma libertação de uma fantasia, de uma ilusão.

Observe em profundidade.

Monja Coen é a Primaz Fundadora da Comunidade Zen-Budista, com sede em São Paulo.

Fonte indicada: Budismo Petrópolis

Os sofrimentos do nosso eu (romântico)

Os sofrimentos do nosso eu (romântico)

“O que verdadeiramente somos é aquilo que o impossível cria em nós.”

– Clarice Lispector

Lançado na Europa em 1774, “Os Sofrimentos do Jovem Werther” conta a história de um aristocrata alemão de temperamento sensível e artístico que, frente a impossibilidade de uma realização amorosa, decide dar fim a própria vida. Após sua primeira publicação, o livro inspirou uma leva de leitores, que se identificaram com o personagem, e atribuiu-se a ele uma onda de suicídios na época. A obra de Goethe inaugurou o romantismo, apresentando um dos conceitos-chave do pensamento romântico – o desejo pelo impossível. O herói romântico sofre com a dor de amar alguém inalcançável; sofre “la douleur exquise”, como dizem os franceses. Seu universo é marcado pela impossibilidade; pela idealização do mundo, do objeto de amor, e depressão por esse ideal não se materializar.

Não à toa, a Psicanálise recorreu as sementes plantadas pelos românticos para pensar o desejo e contradições humanas. Partindo da ideia de sujeito como um ser marcado por uma falta originária, a teoria psicanalítica mostra como, inevitavelmente, vivemos sempre em busca de um objeto ideal, em um profundo e permanente anseio por algo que possa nos levar a uma experiência de satisfação completa, e como esse objeto, impossível em sua essência, por ser perdido desde sempre, nos faz deparar continuamente com a frustração e o mal-estar próprio do desejo humano.

Assim como o herói romântico, padecemos na impossibilidade do encontro com aquilo que, para nós, se apresentaria como fonte de felicidade e plenitude. O “príncipe encantado”, a casa, o carro, o emprego dos sonhos… A mágica existe apenas na promessa… Pois tão logo a realidade nos presenteia com aquilo que desejamos, a falta se faz presente e um sentimento nos fala “Agora, quero outra coisa”. Mesmo o encontro amoroso que, por um lado, proporciona “um certo apaziguamento ao alimentar a ilusão da completude perdida, por outro lado, implica sempre um efeito de logro, pois basta amar para que o sujeito se reencontre com essa hiância estrutural, como diz Lacan, na medida em que o que falta ao sujeito (amante), o objeto (amado) também não tem.”

Nesse sentido, podemos pensar no herói romântico como um arquétipo do homem moderno na sua relação com o desejo. Um sujeito cujo tormento é desejar o impossível, e que encontra a tragédia não no real do suicídio, mas na morte diária de seus ideais – de eu, de amor, de vida. Um sujeito cuja tragédia é ver seus objetos ideais esvanecerem na luz da possibilidade. Um sujeito cuja tragédia é estar fadado à insatisfação.

Não é surpreendente que a obra de Goethe tenha mobilizado tantos jovens de sua geração, a ponto de gerar com ela uma identificação mórbida. Em alguma medida, os sofrimentos de Werther são os nossos próprios, e “la douleur exquise”, a dor de amar o inalcançável, talvez seja, em suma, a própria do dor do viver.

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