Depois a gente se fala

Depois a gente se fala

Se eu soubesse que não nos falaríamos mais teria me despedido com mais presença. Sairia por completo daquele velho automatismo. Enxergar-te-ia por inteiro. Daria aquele abraço curativo, bem no estilo da guru Amma. Agora só restam lembranças.

Se eu soubesse que você já tinha se decidido pela partida antes de nos conhecermos, teria feito tudo a meu alcance para dissuadi-lo. Teria buscado ajuda. Mesmo sem seu consentimento. Eu não sabia o quanto você estava sofrendo. Na última vez que nos vimos você estava cheio de planos para o futuro. Eu vi esperança em seus olhos. Será que eu me enganei?

A chegada da primavera fez desabrochar mais do que flores em nossa paisagem. Ressurgiu aquele sentimento suprimido há anos, desde que você se foi. Como transmutar a dor de uma perda brutal? Quem pode pressentir o inimaginável?

O suicídio em nossa sociedade ainda é um mistério. Durante o mês de setembro, campanhas públicas e privadas ressaltam a importância de se falar sobre o tema. Alguns informativos versam sobre a importância de identificar os sinais de uma possível tendência suicida em alguém próximo. Outros tratam de listar grupos de ajuda para os familiares e amigos, uma vez que eles são as principais vítimas dessa crescente epidemia social.

Pensemos, por um momento, no suicídio como uma espécie de explosão atômica. Quanto mais próximos do suicida, mais atingidos seremos pelos seus efeitos nefastos. É uma experiência que não passa sem deixar feridas profundas naqueles que ficam.

O que pode ser dito que contribua para que todas as vítimas (inclusive o autor) sejam vistas por nossa sociedade com mais compaixão? Quem passou pela experiência de perder alguém próximo que cometeu suicídio, sabe que o pacto de silêncio será seu novo companheiro. Sempre que a história for mencionada, será por meio de sussurros. Num canto da sala. Por que não podemos falar abertamente sobre aquele parente, amigo, companheiro ou até mesmo colega de trabalho, que tirou a própria vida?

Que fique claro que não se trata de exposição indevida da intimidade das vítimas. A compaixão permite que o suicídio seja entendido como parte de todos nós. Não se trataria mais de um problema do outro. Implicaria em abrir mão de nosso ideal de sociedade com pessoas bem ajustadas e saudáveis. Émile Durkheim, no campo da sociologia, relacionou o suicídio a fatores produzidos pela própria sociedade, em cada época. Ora se os gatilhos são criados por nós mesmos, por que não conseguimos desarmá-los? Qual a razão para se cometer esse ato tão difícil de ser digerido?

O importante não é somente descobrir os motivos que levam alguém a tomar essa decisão final e sim como gerar uma cultura que trate aos seus semelhantes com mais amorosidade. De como uma escuta atenciosa ou nossa simples presença pode contribuir para mudar uma vida.

Osho, em seu livro chamado “Why is love so painful“, descreve um tipo de suicídio que se processa aos poucos no indivíduo. O suicídio lento. É pesaroso imaginar que a pessoa já estava morrendo antes de cometer o suicídio. Osho entende que a coragem de cada um para embarcar na aventura chamada amor seria a solução. Amor em seu sentido amplo.

Que não precisemos nos falar depois. Que possamos falar agora o que está guardado em nossos corações. Que não causemos mais feridas a nós e aos outros com nosso silêncio. Que todos os seres possam ser tratados com compaixão e assim se verem livres do sofrimento.

***

Qual a sua o pinião sobre o suicídio? veja o que as pessoas disseram no Yahoo respostas.

Brasil prorroga regra que facilita concessão de visto a refugiados sírios

Brasil prorroga regra que facilita concessão de visto a refugiados sírios

Diante do agravamento da crise humanitária na Síria, o governo brasileiro decidiu prorrogar a medida que flexibiliza o ingresso de refugiados daquele país no Brasil, segundo apurou a BBC Brasil.

A regra facilita a concessão de visto. Uma vez em território nacional, eles podem dar entrada no pedido de refúgio.

A prorrogação da medida, por mais dois anos (até 2017), foi decidida após reunião do colegiado do Conare (Comitê Nacional para os Refugiados), órgão ligado ao Ministério da Justiça, ocorrida nesta segunda-feira (21) em Brasília.

Em vigor há aproximadamente dois anos, a regra expiraria no próximo dia 24 de setembro.

“Diante do agravamento do conflito, o governo federal optou pela prorrogação e continuidade de uma importante medida humanitária que vinha adotando nos últimos anos”, afirmou à BBC Brasil o secretário nacional de Justiça, Beto Vasconcelos.

“Trata-se de um passo importante para o reconhecimento dos refugiados sírios que chegam a nosso país”, acrescentou ele.

‘Razões humanitárias’
Em 2013, dois anos após o início do conflito na Síria, o Conare autorizou a concessão de visto a essa população por “razões humanitárias”.

Até então, eles deveriam atender os mesmos pré-requisitos exigidos dos demais estrangeiros, como comprovação de emprego fixo e condições financeiras para permanecer no Brasil.

Desde que a medida entrou em vigor, foram concedidos cerca de 7.000 vistos a refugiados sírios, segundo o Ministério das Relações Exteriores.

Desses, segundo dados do Conare, 2.077 receberam refúgio do governo brasileiro de 2011 até agosto deste ano, ou cerca de um quarto do total de refugiados no país (8.400). Trata-se da nacionalidade com mais refugiados reconhecidos, à frente da angolana e da congolesa.

O número é superior ao dos Estados Unidos (1.243) e ao de países do sul da Europa que recebem grandes levas de refugiados –não apenas sírios, mas também de todo o Oriente Médio e da África– que atravessam o Mar Mediterrâneo em busca de asilo, como Grécia (1.275), Espanha (1.335), Itália (1.005) e Portugal (15). Os dados da Eurostat, a agência de estatísticas da União Europeia, referem-se ao total de sírios que receberam refúgio, e não aos que o solicitaram.

A emissão do documento está concentrada principalmente nas embaixadas brasileiras em Beirute (Líbano), Amã (Jordânia) e Istambul (Turquia). A representação diplomática em Damasco (Síria) foi fechada em 2012 por motivos de segurança.

“A medida é importante pois facilita a concessão de vistos a quem mais precisa. Muitas pessoas chegam aqui só com a roupa do corpo, pois abandonaram suas casas às pressas”, afirmou à BBC Brasil um diplomata brasileiro que atua no Oriente Médio e pediu para não ser identificado.

Segundo ele, apenas na embaixada onde trabalha, o número de vistos concedidos por mês a cidadãos sírios é hoje quatro vezes maior do que antes da crise, em 2011.

Naquele ano, grupos rebeldes iniciaram protestos contra o governo do presidente Bashar al-Assad, e os confrontos com suas tropas (e agora também com o grupo autodenominado “Estado Islâmico”) se arrastam até hoje.

A regra que facilita a concessão de vistos para refugiados sírios fez com que o Brasil se tornasse uma opção à tradicional rota de fuga dessa população, que, em sua maioria, ruma à Europa.

Parceria
Com a prorrogação da regra, o Brasil espera poder conceder refúgio a mais sírios, afirmou Vasconcelos. Ele, no entanto, não soube precisar quantos refugiados o país deve receber.

“Por ora, nosso objetivo é manter o mesmo patamar que mantivemos até agora. Estamos implementando novas iniciativas. E à medida que elas se consolidem, vamos implementar alterações no volume de emissão”, disse ele.

Entre elas está uma parceria inédita com o Acnur, o braço da ONU para refugiados. Segundo Vasconcelos, a agência vai atuar em conjunto com as representações diplomáticas do Brasil nos países vizinhos à Síria para ajudar na identificação e documentação de mais refugiados, especialmente de “casos mais sensíveis”, além de agilizar a emissão de vistos.

“A partir dessa parceria, esperamos garantir uma maior eficiência dessa política humanitária. Aproveitaremos a expertise incomparável do Acnur nessa área para que mais pessoas possam ser beneficiadas”, afirmou.

Segundo Vasconcelos, o governo brasileiro já iniciou conversas com a sede da agência em Genebra, na Suíça, para concretizar a colaboração.

Além disso, acrescentou ele, o Conare fará, nos próximos dias, reuniões com Estados e municípios e entidades da sociedade civil para avaliar “outros mecanismos de melhoria nas políticas de acolhimento e assistência” a refugiados sírios.

“Esperamos que ao melhor identificar, processar e preparar o ambiente de recepção, possamos avaliar iniciativas distintas das que já tomamos até agora”, afirmou.

Por Luis Barrucho

Fonte indicada: Uol Notícias

Só tem valor aquilo que pesa

Só tem valor aquilo que pesa

“Quanto mais pesado o fardo, mais próxima da terra está a nossa vida, e mais ela é real e verdadeira. Por outro lado, a ausência total de fardo faz com que o ser humano se torne mais leve do que o ar, com que ele voe, se distancie da terra, do ser terrestre, faz com que ele se torne semi-real, que seus movimentos sejam tão livres quanto insignificantes. Então, o que escolher? O peso ou a leveza?”

Ontem assisti o novo filme do Woody Allen, em minha opinião não é um de seus melhores trabalhos, mas não dá para fazer pouco caso de um gênio como Woody Allen. Para não estragar a experiência de ninguém, não contarei sobre o filme, mas uma passagem que me marcou é a comparação que o personagem faz dos contrastes entre analises filosóficas e vida real. A verdade é que podemos filosofar e analisar e racionalizar sobre todo e qualquer tema, acredite sou boa nisso, mas de maneira bem simplificada, o fato é que na prática a teoria é outra e as analises não passam de uma grande verborragia. Inclusive essa aqui. Em uma passagem o personagem principal cita grandes filósofos como Schopenhauer e Nietzsche, trazendo um certo pessimismo em suas análises e abordagens sobre o sentido da vida.

A complexidade do viver e dos conceitos morais não é assunto novo nem pouco abordado, os próprios Schopenhauer e Nietzsche passaram longos períodos analisando esses temas e se destacaram como pensadores também por isso. Assim como Woody Allen, outro gênio, Milan Kundera também inicia um de seus maiores romances citando Nietzsche. “A insustentável leveza do ser” é um romance complexo e denso, ao mesmo tempo que leve, abordando com genialidade a existência humana e a impossibilidade de plenitude a partir dos valores que a regem.

O livro nos apresenta quatro personagens, todos perdidos diante da contradição entre valores que alguns consideram anacrônicos, de cujos pesos, querem ver-se livres, e os valores que criam para si mesmos a fim de darem sustentação aos seus seres. Pois uma vida que se pretende mais leve pode ser tão opressora à existência quanto uma em que são incontáveis os fardos. Kundera era gênio e sábio, ele sabia que grandes experiências, de fato, tornam a vida pesada.

A verdade é que a vida real é bagunçada, complicada, densa. Sim, life is messy. Existe de um lado tudo que é considerado moral e que nossa mente tenta racionalmente entender e processar; e do outro lado existem os sentimentos, as incontroláveis emoções que fazem a gente perder o ar e a vida valer a pena, ao mesmo tempo que complicam tudo aquilo que nossa mente racional tenta (em vão) manter organizado, limpo, descomplicado, leve.

Na vida, principalmente na vida adulta, a vida real é bem diferente daquilo que planejamos, que sonhamos, que desejamos, porque nós somos complicados. Então, com o passar dos anos, os problemas vão ficando mais densos, as raízes mais profundas. O fundo do poço torna-se cada mais mais fundo. E o buraco é sempre mais embaixo. E por mais que tentemos viver a vida com leveza, tem certas coisas que merecem seu devido peso e importância

Tenho pensado muito nisso, porque em dezembro do ano passado fiz uma lista de tudo que precisava fazer para deixar minha vida mais leve e desde então, nove meses depois, ainda estou tentando aliviar a carga e fechar ciclos e não posso dizer que fui bem sucedida nesse quesito. Nem eu mesma fazia ideia do quanto estava enterrada, afundada, afogada em situações complicadas. Life is messy.

E se eu fosse a única pessoa a vivenciar isso já estaria de bom tamanho, mas para todos os lugares que olho, vejo pessoas que iguais a mim, também estão afogadas, emaranhadas, tentando sair da areia movediça enquanto nela se afundam ainda mais.

Eu tenho essa terrível mania de racionalizar sobre tudo e ter a (falsa) impressão que tenho comando total da minha vida e de minhas escolhas. Com certeza sou responsável por minhas escolhas, mas aprendi tarde que a vida não é (e não deve ser) tão “preto no branco” como eu teimo em acreditar. Porque o “preto no branco” é muito leve, não dá espaço para o peso do colorido.

contioutra.com - Só tem valor aquilo que pesa

Meu pai dizia que eu tinha uma ingenuidade que ele não compreendia, uma maneira de enxergar o mundo melhor do que é, de encontrar poesia nas amarguras; um ar sonhador que me fazia sempre equivocar-me ao medir a altura do tombo, ou simplesmente esquecer de medi-la. Uma inocência imatura que não parece ter acompanhando os meus anos de vida. Eu sei que ele temia por mim, que ele no fundo sabia que isso ainda me partiria muitas vezes o coração até que eu aprendendesse a criar uma casquinha que me protegesse dos “tapas na cara” que a vida me daria. Mas o que ele não sabia é que eu não queria criar essa casquinha e que tem tombos que quero levar, tem pesos que quero carregar.

Life is heavy. Viver  é pesado. A vida não é um mar de rosas para ninguém, a vida é complicada, bagunçada, complexa nas mais inconcebiveis proporções. As pessoas têm processos diferentes e muitas vezes esqueço disso, elas não vêm prontas porque somos todos seres inacabados, imperfeitos. E carregamos bagagens grandes, com cargas pesadas. Pois, assim como escreveu Kundera, não existe leveza, onde há profundidade de alma, de sentimentos, de experiências. Somos todos complicados, complicando tudo, travando nossas próprias batalhas, sonhando com oportunidades melhores enquanto o peso de nossas escolhas nos afunda ainda mais na areia movediça.

O que nos resta é saber o que podemos absorver de tudo isso e o que vai ficar de fora. Podemos aprender a traçar linhas, criar barreiras, delimitar fronteiras. Mas, é preciso ter em mente que se queremos experiências significativas, às vezes ,precisamos cruzar essas linhas, derrubar barreiras, construir pontes no lugar de muros. Resta saber qual é o limite do emaranhado, para quem jogamos a bóia, quem a jogará por nós. Qual areia queremos nos atolar e quando é hora de seguir em frente. Qual é a força de cada nó, quando devemos desatá-lo e quando devemos apertá-lo. E mais importante, quando devemos criar laços no lugar de nós. Nós. Encontros são feitos de nós. E encontros são pontos de chegada ou são pontos de partida. Resta agora tentar saber quando essa partida é o início da caminhada ou quando a partida é, de fato, partir.

“Tudo na vida tem a ver com as linhas que delimitamos. Não é aconselhável criar muita intimidade com os outros. Fazer amigos, fazer amantes. Precisamos de fronteiras, entre nós e o resto do mundo, porque os outros são muito complicados. E tudo tem a ver com as linhas. Limites. Fronteiras. Barreiras. Podemos passar a vida desenhando essas linhas e torcendo para que ninguém as cruze ou, em alguns momentos, podemos escolher cruzá-las. É preciso decidir. Mas, saiba que muitas vezes as fronteiras não deixam os outros para fora, elas nos engaiolam dentro. A vida é complicada. Nós somos complicados. É assim que somos feitos. Cheios de desejos, sentimentos e emoções. Então podemos escolher passar toda uma vida delimitando fronteiras, desenhando linhas, ou, podemos escolher viver a vida cruzando essas fronteiras, apagando linhas. Mesmo sabendo que algumas dessas fronteiras são muito perigosas para serem cruzadas. Mas isso é o que eu sei: se vez ou outra você optar por jogar no vento toda essa cautela e dar uma chance ao complicado, a vista do outro lado pode ser espetacular.”

Adaptado de Grey’s Anatomy S. 01 E. 02 – The first cut is the deepest

Seu filho pode ser autista

Seu filho pode ser autista

Ouvir de uma pedagoga experiente a frase “seu filho pode ser autista” é uma experiência muito difícil de assimilar e mais ainda de escrever.

Já tentei começar este artigo várias vezes, mas confesso que ainda não consegui encontrar as palavras corretas para expressar como me senti naquele momento…

Na realidade, acho que foi uma mistura de sentimentos. Como se alguém tivesse colocado dentro de um liquidificador o medo, a ansiedade, o desconhecido e a negação e eu estivesse tentando digerir isso tudo.

Dentro da minha ignorância sobre o assunto, a imagem mental que eu fazia de uma criança com autismo era a de uma pessoa totalmente apática, isolada dos demais, num eterno balançar para frente e para trás. E, definitivamente, meu filho não era nada disso!

Eu já tinha observado como ele era diferente dos irmãos (muito mais quietinho), e estava realmente preocupada por ele ainda não falar (apesar de já estar com 2 anos e meio). Mas autismo era, naquele momento, para mim uma palavra muito forte.

Passado o choque inicial, eu precisava de ajuda. Marquei uma consulta com uma neuropediatra e, como consegui horário somente para depois de 30 dias, passei a pesquisar muito sobre o assunto.

Quando o dia da consulta finalmente chegou, eu esperava sair do consultório com apenas uma resposta: é ou não é autista. Mas descobri que essa avaliação é muito mais complexa do que eu supunha e envolve o trabalho de vários profissionais, como fonoaudiólogos, psicólogos e terapeutas ocupacionais. Nossa jornada estava apenas começando…

Apesar do transtorno do espectro autista apresentar uma variedade muito grande de manifestações, que vão do nível mais grave até o mais leve, existe um conjunto de características que podem ser observadas em todos os casos.

A primeira é a dificuldade de socialização, a segunda é a dificuldade de comunicação (verbal e não verbal) e a terceira pode ser caracterizada como uma série de comportamentos inadequados.

Veja a seguir uma lista de alguns comportamentos comuns relacionados a essas 3 características:

Dificuldades de socialização

Fazem pouco ou nenhum contato visual.
Não apontam objetos de seu interesse.
Não trazem um objeto de seu interesse para mostrar para os pais ou cuidadores.
Não fazem questão de participar de brincadeiras em grupo.
Se interessam mais por objetos e animais do que por pessoas.
Podem dar risadas e até mesmo gargalhadas sem motivo aparente ou totalmente fora de contexto na tentativa de interagir com os demais.
Podem usar as outras pessoas como “ferramentas” para atingir um determinado objetivo. Por exemplo, usar a mão da mãe para pegar um brinquedo.

Dificuldades de comunicação

Atraso na fala ou início da fala muito anterior ao esperado e com uso de linguagem rebuscada e imprópria para a idade.
Decoram trechos de programas de TV ou livros e repetem esses trechos em situações totalmente fora de contexto, ou repetem coisas que acabaram de ouvir (isso é chamado de ecolalia).
Não conseguem brincar de faz de conta (de casinha, escolinha) porque têm dificuldade de imaginar o papel a ser representado.
Dificuldade de compreender figuras de linguagem ou ironias. Levam tudo ao “pé da letra”.
Crianças e adultos com autismo não têm muita capacidade de mentir, fingir ou dizer coisas que não representem a verdade. Em geral, são extremamente sinceras em qualquer situação.
Algumas usam música para se comunicar.
Gritam frequentemente.
Comportamentos inapropriados

Têm interesses muito restritos.
São apegados à rotina.
Apresentam movimentos estereotipados, como agitar os braços, andar em círculos, bater palmas ou balançar para frente e para trás.
Geralmente não gostam de contato físico, em alguns casos até a roupa incomoda (hipersensibilidade).
Andar na ponta dos pés quando estão eufóricas ou ansiosas.
Medo de mudanças.
Autoagressão como morder-se ou bater a própria cabeça na parede, sem reclamar de dor.
Gostam de brincadeiras de movimento repetitivo como balançar ou girar.
Em geral, gostam muito de brincar com água.
Aversão a barulhos e gritos.
Têm insônia, sono agitado ou trocam o dia pela noite.
Apresentam uma atração especial pela música.
Podem tolerar dor, fome ou frio sem reclamar.
Período de atenção bem curto. Mas podem ficar horas em uma determinada atividade de seu interesse.
Leia: Sinais de autismo que você deve estar ciente
É importante saber que para que uma criança seja diagnosticada dentro do espectro autista não é necessário que apresente todos os comportamentos citados.

O diagnóstico e a intervenção precoce com terapias indicadas por um profissional qualificado permitem que essas crianças tenham muito mais condições de se desenvolver para uma vida autônoma. O ideal é que o diagnóstico seja feito antes dos 3 anos de idade.

Se você identificou traços de autismo em seu filho, não perca tempo!

Procure se informar bastante e anote todas as suas dúvidas para conversar com os profissionais que forem trabalhar com o seu filho.

Se você desejar se aprofundar mais no assunto, recomendo fortemente a leitura do livro “Mundo Singular”, da psicóloga Ana Beatriz Barbosa Silva, e o documentário francês “O Cérebro de Hugo”. Ambos contêm informações valiosas e diversos casos práticos que serão muito úteis em sua jornada.

Por Marilia de Andrade Conde Aguilar
Fonte indicada: Família.com

Conheça o grupo Autistas no Brasil

Como a internet das coisas vai atropelar o capitalismo

Como a internet das coisas vai atropelar o capitalismo

Nos últimos 300 anos, o mundo passou por duas revoluções industriais: a primeira liderada pela Inglaterra no fim do século XVIII, e a segunda, pelos Estados Unidos, algumas décadas depois. O pioneirismo transformou esses paí­ses em potências mundiais.

De acordo com o pensamento do economista norte-americano Jeremy Rifkin, foi dada a largada para uma nova corrida industrial entre as nações, e desta vez a Alemanha saiu na frente. Guru de executivos e chefes de estado, como a alemã Angela Merkel, Rifkin explica em seu último livro, The Zero Marginal Cost Society: The Internet of Things, the Collaborative Commons, and the Eclipse of Capitalism (A sociedade do custo marginal zero: a internet das coisas, os bens comuns colaborativos e o eclipse do capitalismo), como a internet das coisas está dando origem à economia do compartilhamento, que deverá superar o capitalismo até a metade do século.

P: O senhor diz que o capitalismo vai ser colocado em segundo plano pela economia colaborativa. Muita gente se assusta com a ideia de um mundo onde o capitalismo não é o único caminho?
Sim, mas talvez o mesmo tanto de pessoas ache essa possibilidade intrigante e mesmo esperançosa. O capitalismo está dando à luz uma espécie de filho, que é a economia do compartilhamento e dos bens comuns colaborativos. Ela é o primeiro sistema econômico a emergir do capitalismo desde o socialismo no século XX. Nós viveremos em um sistema econômico híbrido, composto pela economia de troca no mercado capitalista, e pela economia do compartilhamento.

P: O senhor considera o capitalismo obsoleto para as necessidades atuais?
De tempos em tempos, novas revoluções tecnológicas emergem para gerenciar mais eficientemente a atividade econômica. Creio que agora estejamos em um longo e perigoso “fim de jogo”, um pôr do sol da segunda revolução industrial. Em 1905, 3% da energia era utilizada na cadeia de produção e 97% era perdida. Em 1980 tivemos um pico de 18% de eficiência, e parou nisso. Estamos empacados. O que está acontecendo agora é que estamos no curso de uma terceira revolução industrial. A internet das coisas vai conectar campos de agricultura, linhas de produção de fábricas, lojas de varejo e armazéns, veículos autônomos e casas inteligentes. É uma transição épica, que pode conectar a raça humana inteira em tempo real e nos mover para uma produtividade extrema, com custo marginal baixo ou mesmo zero em todos os setores da economia.

P: O senhor acha que os Estados Unidos continuarão sendo a maior potência nesse novo sistema?
Os líderes agora são a Alemanha e a China. Os chineses entenderam que os britânicos lideraram a primeira revolução, e os norte-americanos, a segunda, e que essa era a chance deles.

P: O senhor sugere que essa transição de paradigma do capitalismo para os bens comuns colaborativos vai ocorrer de maneira suave, e não como as grandes revoluções políticas que já acompanhamos. Não existem pessoas e instituições interessadas em estancar esse processo de mudança?
Há interesses poderosos, governos e indústrias querem ter voz, mas o que realmente me preocupa são as companhias de internet. Eu adoro o Google, uso todos os dias, mas ele já assume a forma de um monopólio global. O mesmo acontece com o Facebook. A pergunta é: o que fazer? No século XX, mantivemos no mercado privado companhias de eletricidade, telefônicas, gasodutos, coisas de que todos precisavam – mas regulamos suas atividades por meio do governo. Seria ingênuo acreditar que essas empresas privadas tão grandes e importantes, que estabeleceram bens de que gostamos e que queremos, não serão reguladas por alguma forma de autoridade global.

P: No livro, o senhor concebe essa nova sociedade como uma “civilização empática global”. Por quê?
O que está acontecendo é uma mudança fundamental na forma como as gerações mais novas pensam. Não se trata apenas de os jovens estarem produzindo e compartilhando seu próprio entretenimento, notícias e informações, eles também estão começando a compartilhar todo o resto – carros, roupas, apartamentos. A internet permite que eles eliminem os agentes intermediários e criem uma cultura do compartilhamento. As gerações mais novas não querem ter um carro, isso é coisa do vovô. Os millenials das gerações mais novas querem acesso, e não posse. Eles estão realmente começando a ver a si próprios como parte de uma grande família humana, e as outras criaturas em certa medida também como parte dessa mesma família.

DICIONÁRIO RIFKIN
Entenda alguns dos conceitos mais usados pelo economista:
TERCEIRA REVOLUÇÃO INDUSTRIAL: processo desencadea­do pela internet das coisas, liderado pela Alemanha e pela China. Deve promover níveis de produtividade e eficiência energética sem precedentes, reduzindo os custos de bens e serviços e consolidando a economia do compartilhamento e dos bens comuns colaborativos.

CUSTO MARGINAL: conceito econômico que se refere à variação no custo total de produção quando se aumenta a quantidade produzida de bens. O custo marginal zero representa uma situa­ção ideal de produtividade, na qual se pode fabricar mais objetos sem pagar mais por isso, reduzindo drasticamente o valor final do produto, que pode até ser compartilhado gratuitamente.

CIVILIZAÇÃO EMPÁTICA: termo criado para se referir à nova civilização que Rifkin acredita que deverá surgir a partir do processo de transição pelo qual estamos passando. Trata-se de uma mentalidade não mais adaptada ao capitalismo, mas à economia do compartilhamento. É uma visão que concebe a humanidade como uma única família e o planeta ou a biosfera como a comunidade que se compartilha.

Por ANDRÉ JORGE DE OLIVEIRA

Fonte indicada: Revista Galileu

11 livros que vão mudar seu ponto de vista sobre doenças mentais

11 livros que vão mudar seu ponto de vista sobre doenças mentais

Por Caio Delcolli

Pat Peoples está sozinho e quer voltar para sua esposa. Pat Peoples pratica exercícios físicos todo dia. Pat Peoples ama sua família e quer ser bom para ela.

Você se identificou com ele?

Pat Peoples acaba de sair de um hospital psiquiátrico, está obcecado por exercícios físicos e não se lembra de como ou por que foi parar no hospital. Tudo o que o jovem professor tem em mente são flashes dos eventos que antecederam sua internação e foco em sua recuperação, a fim de reatar o casamento.

Ele é o protagonista do livro O Lado Bom da Vida, de Matthew Quick (Intrínseca, 2013). A tocante e cômica história de Pat poderia ser a sua, mas é semelhante a de muita gente que tem doenças e transtornos mentais.

Tratamentos, melhorias e pioras, dificuldades diárias e superação do passado são alguns dos temas do romance. É o dia a dia de pessoas que têm objetivos, questões, relacionamentos e obstáculos como qualquer um.

Outros livros, de ficção e não ficção – alguns são verdadeiros clássicos –, desempenham um bom papel para combater o preconceito com doenças e transtornos mentais, além de serem leituras informativas, envolventes ou até mesmo divertidas.

Você pode conhecer alguns destes títulos abaixo:

1- ‘O Demônio do Meio-dia: uma Anatomia da Depressão’, de Andrew Solomon

Considerado um dos mais importantes livros sobre depressão, O Demônio do Meio-dia, do jornalista Andrew Solomon, traz relatos da experiência do próprio autor com a doença e uma profunda pesquisa sobre o tema. Mitos, tratamentos e depoimentos de diversas pessoas que têm depressão são abrangidas por esta grande e cultuada obra, ganhadora do National Book Award e finalista do Pulitzer. Você pode ter uma amostra do trabalho de Solomon e sua experiência com a doença pela elucidativa (e famosa) palestra dele no Ted.

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2- ‘O Lado Bom da Vida‘, de Matthew Quick

O divertido romance de Matthew Quick, que deu origem ao filme homônimo de 2012, conta a história de Pat, um jovem professor que acaba de deixar um hospital psiquiátrico. Ele não se lembra o motivo pelo qual foi parar lá, só sabe que precisa reatar o casamento com sua esposa e reorganizar a vida e a mente. Determinado, seu caminho cruza com o de Tiffany, deprimida e instável após a morte do marido. Ambos decidem se ajudar e ela convence o teimoso Pat a participar de um concurso de dança de salão para ter disciplina. O Lado Bom da Vida consegue transmitir com bom humor e momentos tocantes o dia a dia repleto de dificuldades de quem quer seguir em frente em meio a depressão, ansiedade, obsessões e bruscas oscilações de humor.

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3-Sua Voz Dentro de Mim‘, de Emma Forrest

Neste livro de memórias, a jornalista inglesa Emma Forrest relata com crueza sua experiência com depressão, transtornos alimentares, comportamentos autodestrutivos e até uma tentativa de suicídio. O término de um intenso namoro e a inesperada morte de seu psiquiatra pressionam Emma a ter forças para enfrentar sozinha seus problemas. Sua Voz Dentro de Mim propõe ao leitor uma reflexão sobre o relacionamento que ele tem consigo próprio.

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4- ”Meus Tempos de Ansiedade‘, de Scott Stossel’, de Scott Stossel

Neste livro, parte memória e parte reportagem, o jornalista norte-americano Scott Stossel se abre com coragem para contar seus episódios mais agudos de ansiedade e oferecer uma pesquisa profunda e consistente sobre o tema. “Enfrentar e compreender a ansiedade é enfrentar e compreender a condição humana”, disse o autor.

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5- ‘A Redoma de Vidro‘, de Sylvia Plath

Este clássico da literatura norte-americana, lançado originalmente em 1963, é considerado um dos principais livros sobre depressão já escritos. Sob o pseudônimo “Victoria Lucas”, Sylvia Plath, mais conhecida pela poesia, escreveu seu primeiro e único romance. Autobiográfico, ele narra a trajetória de Esther Greenwood, jovem escritora que entra em depressão ao não conseguir se adaptar à nova vida como jornalista em Nova York. Plath cometeu suicídio aos 30 anos, um mês após a publicação do livro no Reino Unido. A Redoma de Vidro se tornou um ícone pop e de estudos feministas e literários.

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6- ‘Afluentes do Rio Silencioso‘, de John Wray

Aos 16 anos, William Heller decide fugir do hospital psiquiátrico em que está internado e se aventurar pelos labirintos subterrâneos do metrô de Nova York. A mãe do adolescente esquizofrênico, superprotetora, contrata um policial para encontrar William. Estar no subsolo da metrópole serve como metáfora (elogiada pela crítica) para o retrato da mente não medicada do protagonista. Afluentes é narrado do ponto de vista de William. John Wray é considerado um dos jovens talentos promissores da literatura norte-americana contemporânea.

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7- ‘O Homem que Confundiu Sua Mulher com um Chapéu’, de Oliver Sacks

Em um de seus livros mais famosos, o neurologista britânico Oliver Sacks narra com texto acessível para leigos casos de pacientes que têm deficiências cerebrais, como P., professor de música que confunde sua própria esposa com um chapéu.

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8- ‘Mrs. Dalloway‘, de Virginia Woolf

Inglaterra, década de 1920. A dona de casa da alta sociedade londrina Clarissa Dalloway está ansiosa. Escolhas que ela fez décadas atrás estão sob avaliação e amigos de uma vida inteira aparecerão naquela noite para uma festa que ela prepara. Paralelamente, Septimus, um veterano da I Guerra Mundial, sofre de stress pós-traumático e tem alucinações. Com sensibilidade, a escritora inglesa Virginia Woolf narra um dia na vida da Sra. Dalloway e dos coadjuvantes. Todos em crises repletas de nuances psicológicas, eles vivem momentos decisivos em suas vidas. O personagem Septimus carrega uma crítica aos métodos médicos para tratamentos de doenças mentais daquela época. Mrs. Dalloway é considerada uma das principais obras da escritora. Woolf cometeu suicídio afogando-se num rio aos 59 anos. Questionadora de padrões sociais, ela entrou para a história como ícone literário, feminista e LGBT, além de ela própria ter sofrido intensamente com bipolaridade e episódios de profunda depressão.

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9- ‘O Apanhador no Campo de Centeio‘, de J.D. Salinger

A angústia, rebeldia e melancolia do adolescente Holden Caulfield estão evidentes em seu ponto de vista, adotado pelo autor J.D. Salinger para o protagonista narrar alguns dias de sua vida. Indignado com a hipocrisia em comportamentos humanos e com os efeitos destrutivos da II Guerra Mundial, o sensível Holden dá diversos sinais de que está deprimido e se sente deslocado. Suicídio, saudades e frustrações passam pelos devaneios do protagonista, que dá indícios de se internar em uma clínica psiquiátrica no fim do livro. Clássico imortal da literatura norte-americana, O Apanhador no Campo de Centeio, lançado em 1951, retrata como a sociedade caótica e problemática afeta mentes sensíveis, seja causando depressão e ansiedade, ou apenas contribuindo para a construção de uma visão de mundo.

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10- ‘As Horas’, de Michael Cunningham

Em 1923, a aclamada escritora inglesa Virginia Woolf escreve Mrs. Dalloway, um de seus principais romances. Em 1949, a dona de casa Sra. Brown, deprimida e infeliz, lê o livro de Woolf e se sente motivada a fazer mudanças em sua vida. Em 2001, Clarissa planeja uma festa para um ex-namorado, que está morrendo de complicações causadas pelo vírus da aids. Ela vive, basicamente, o imortal romance escrito por Woolf na década de 1920. Desafiando tempos narrativos, misturando ficção e não ficção, o autor Michael Cunningham escreveu um livro que expõe com humanidade a relação de seus personagens com transtornos como depressão e ansiedade, além da presença do suicídio em suas vidas – tudo condensado em apenas um (porém, decisivo) dia na vida das três protagonistas. As Horas ganhou o Pulitzer e uma igualmente cultuada adaptação para cinema em 2002.

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11- ‘O Homem que Não Conseguia Parar‘, de David Adam

O jornalista David Adam, editor da revista Nature, aborda o transtorno obsessivo-compulsivo (TOC) pelo questionamento: preconceitos são desconstruídos, e o entendimento da doença é o que ele busca. O autor já teve o transtorno e demorou para ir em busca de tratamento. O Homem que Não Conseguia Parar traz histórias emocionantes e engraçadas de pessoas que têm TOC, além de ter um texto acessível para leigos.

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Fonte indicada: Brasil Post

Você já deu ouvidos à “voz do preconceito”?

Você já deu ouvidos à “voz do preconceito”?

Muitos nem percebem, mas recorrentemente julgam os outros levando em conta as suas características físicas, as sua sexualidade, a sua origem… Mal sabemos o quanto pequenas atitudes preconceituosas podem causar graves prejuízos de toda ordem a terceiros, especialmente prejuízos morais.

Nos dias em que vivemos, em virtude da crise migratória, pessoas são obrigadas a saírem de seus países e a tentarem a sobrevivência em outras terras. Assim, faz-se ainda mais notório o preconceito contra estrangeiros.

O preconceito, seja ele expresso ou mascarado, mostra o quanto a humanidade ainda carece percorrer os caminhos do autoconhecimento e da auto-iluminação.

A enfermeira candidata a miss que realmente sabe o que é o Alzheimer

A enfermeira candidata a miss que realmente sabe o que é o Alzheimer

Um concurso de miss envolve diversas etapas. Uma delas é o concurso de talentos. Nele, maioria das candidatas apresenta canto, dança ou se veste com roupas típicas de sua região. Contudo, a Miss Colorado, Kelley, ao concorrer ao “Miss America”, quebrou o protocolo. Vestiu-se de enfermeira e emocionou a todos ao falar sobre a sua profissão:

“Toda enfermeira tem um paciente que a faz lembrar o motivo de ter-se tornado enfermeira. O meu é Joe.”

Veja o vídeo e saiba o porquê. Afinal, antes de qualquer doença, existe um ser humano.

No amor, é melhor um fim horroroso que um horror sem fim.

No amor, é melhor um fim horroroso que um horror sem fim.

De todas as máximas sobre o amor, a que mais me fala e mais me cala é esta. “Melhor um fim horroroso que um horror sem fim”. Tudo bem, compreendo se você prefere aquele outro chavão: “amor de verdade não acaba, se acabou é porque não era amor”. Respeito, mas sigo achando que lá pelas tantas, vira e mexe, o amor pode acabar, sim. Fazer o quê?

Certo é que ninguém em pleno gozo de suas faculdades amorosas embarca numa história de amor já pensando em pular fora no primeiro solavanco. A gente tenta, mas de quando em vez acontece de a locomotiva enguiçar, do barco furar, do avião cair. De vez em quando acaba mesmo. E quando acaba, é melhor que acabe logo, de uma vez, no susto. No pulo, da noite pro dia, num piscar de olhos, na volta da feira, como a sacola que rasga no fundo e espalha tomates e laranjas, limões e mexericas na descida. Sem volta.

Porque há pouca coisa mais triste na vida, minha gente, há pouca coisa mais miserável e aborrecida que amor definhando. Amor que morre aos poucos, agoniza moribundo, sofre exaurido, semimorto, matando sua sede a conta-gotas onde ontem mesmo jorravam emoção, interesse, entusiasmo, fascínio. Coisa horrível de tão triste o amor que adoece e vai partindo aos pouquinhos, diminuindo, rareando, minguando, se despedindo.

Amor é para ser inteiro, repleto. Mesmo na calma e na doçura tranquila que sucedem uma paixão louca, o amor carece de inteireza. No sossego de uma tarde sem programa, sem projeto, no arroz e feijão requentado de dois dias atrás, na falta de assunto que uma hora acomete toda gente, no silêncio bom da convivência mansa, quem ama precisa saber e sentir que o faz de verdade. Não que apenas cumpre tabela ou quer tão somente agradar o outro enquanto tenta se convencer de que está feliz.

É triste, mas vontade de sentir amor não é amor. É só vontade de sentir amor. É só uma velha e boa intenção. E de boas intenções também andam cheios os corações devolutos.

Não basta. Tentar resgatar o que se foi, a alegria do começo, o frio na barriga inicial, a paixão louca, tudo isso é não se dar conta de que o caminho acabou. Vem o desgosto, se instala horroroso e a gente nem percebe. É preciso encontrar uma outra via. Juntos ou separados, amantes na agonia do fim devem seguir, encontrar outras veredas. Mas não. Quase sempre, em vez de fazer isso rápido, prolongam seu sofrimento inútil como quem procura castigar o espírito e purgar a culpa de ir embora.

Quando nos achamos no controle do amor é que somos ridiculamente controlados. Porque o amor não se controla. A gente cuida bem dele, rega sua sede, ouve suas queixas, alimenta suas fomes, leva ao passeio, ajeita sua coberta que cai da cama durante a noite. Mas a despeito de tudo isso o amor também se acabrunha sem mais. E quando adoece nem sempre resiste.

O amor também sucumbe.

É injusto, doloroso e insuportável assistir a um amor que foi tudo se tornar nada. Dói na alma ver a ternura enfraquecer até inexistir, como um doente velho e fraco que se acaba na cama de um hospital, pendurado no fim da linha pela misericórdia fria das máquinas, a vida escorregando de seus olhos, a morte distorcendo sua face. A gente evita, e quanto mais a gente nega, mais sente dor.

Para os seres amorosos, não corresponder a um amor é tão dolorido quanto não ter o seu amor correspondido. Amor quando acaba, ou quando não é, dói mesmo. Dói nos amantes e em quem estiver perto. É dor para todo lado. Então é melhor que doa muito mas que doa logo. E que acabe depressa com isso. No amor, é melhor um fim horroroso que um horror sem fim.

Depois, sempre ajuda ter por perto aquele outro clichê. Só o tempo. Só o tempo cura. Só o tempo há de fazer a dor passar. Só o tempo. Só o tempo.

Mania de ver o outro

Mania de ver o outro

Tudo manifesta essa mania de ver o outro. Sabemos, no fundo, que temos esse lado observador, perscrutador da presa fácil que se mostra sem saber a quem. Acontece em qualquer lugar, é só alguém estar lá – isso é fato! Mesmo que não percebam, os observados, muitas vezes nos deixam extasiados diante de qualquer coisa que eles fazem, às vezes nos tiram do chão por um simples olhar que lançam ao acaso, são infinitas as ocasiões.

Já manifestei esse meu lado através da escrita. Minha mania é de longa data, nem saberia dizer ao certo, mas faz tempo que brinco com o que acontece dentro de mim – esse bendito mal da observação do outro. O outro que me cerca e prende, onde eu estiver. É que desse outro, como falo, não me canso nunca. E peco demasiado por ele, pois penso também por ele, mas não dá para viver a vida de ninguém, ainda que seja no mais sublime romance.

De uns tempos para cá – também não saberia dizer quando começou essa angústia – não desejo mais escrever uma linha de um poema sequer, algo me esgotou nesse caleidoscópio de dores – sempre a dor do outro misturada à minha delicada atração do olhar. Vou partir para outras formas de expor o que vejo. Não deixarei de escrever jamais, mas meus poemas, só poucos saberão deles. Eles existem e ficarão guardados, pois não tenho mais necessidade de revê-los, pelo menos, não agora, talvez lá no futuro.

Mas a loucura de enxergar alguém ultrapassa qualquer experiência, sabe? Ver alguém, um desconhecido praticamente nu, mostrando tudo o que sua vida lhe dá. Às vezes eu não entendo, mas me esforço e desejo sobretudo continuar suas histórias. É sobre isso que falo e gostaria que muitos entendessem: nossa forma de conquistar o mundo, como um personagem trilhando os caminhos do roteiro que alguém lhe passou, sem saber o desfecho, muito menos o final.

Por tudo isso escrevemos, para dar formas ao que existe e até ao que criamos, às nossas fantasias e histórias inventadas.

Pude ver, mesmo antes dessa conversa toda, que escrevo somente pela minha curiosidade que tantas vezes ultrapassa a vida do outro para ganhar uma vida própria, diferente de tudo o que existe. Se posso dar formas a muitas vidas e brinco com esse poder que me estilhaça toda, também posso esconder um pouco desse mistério da minha criação, pois acredito que nem sempre é bom mostrar tudo o que se tem, pode ser trágico demais. Prefiro esse atrevimento do olhar às escondidas, que revela sem perceber.

***

Nota: A imagem de capa é uma homenagem ao filme “As horas”

Você está criando um filho materialista?

Você está criando um filho materialista?

Toda vez que o seu filho se sai bem em alguma tarefa você oferece um presentinho como recompensa? E quando ele se comporta mal? O castigo é sempre ficar sem algumbrinquedo ou eletrônico? Pois saiba que esse tipo de estratégia pode estimular o materialismo e fazer com que ele passe a relacionar o sucesso na vida com a qualidade e a quantidade de seus bens materiais. A conclusão é de um estudo feito nas universidades de Missouri e de Illinois, nos Estados Unidos. Na ocasião, os pesquisadores perguntaram a 700 adultos que tipo de recompensa e punição eles receberam durante a infância.

Com base nas respostas, foi possível apontar três comportamentos dos pais que contribuem para formar um adulto materialista:

– Dar presentes quando a criança conquista algo, como ganhar um jogo de futebol ou ir bem na escola;

– Usar presentes como prova de afeto;

– Tirar um bem material como forma de castigo.

“Essa questão vem sendo apontada há algum tempo na história da pedagogia. Já na década de 40, a educadora Maria Montessori dizia que a maior recompensa que a criança tem é o próprio êxito”, diz Edimara de Lima, diretora pedagógica da Prima-Escola Montessori de São Paulo, destacando que essas crianças acabam sendo também mais imediatistas e ansiosas.

Para a especialista, não há problema em presentear a criança no caso de comemorações importantes, mas é preciso haver uma medida, até para não usar o presente como chantagem disfarçada. O mesmo vale para a punição, que precisa ser coerente e proporcional para funcionar de maneira adequada. “Não pode ser algo aleatório, tem que haver uma relação lógica e direta com o que aconteceu”, afirma Edimara.

O mais importante é não usar bens materiais como moeda de troca na hora de educar e se relacionar com os filhos. Você pode ensiná-lo a valorizar o que já tem e a consumir de maneira adequada. “O bom comportamento pode e deve ser premiado com afeto no lugar de produtos. Vale um abraço dos pais ou uma palavra carinhosa. A criança precisa perceber que contribuiu de alguma forma”, explica Gabriela Yamaguchi, especialista do Instituto Akatu, ONG que trabalha pelo consumo consciente.

A presença ainda é o melhor presente. Deixe bilhetes e recados, verbalize seu orgulho e alegria com as conquistas dele e separe um tempo para desenvolver atividades em família. Pode ser uma brincadeira que ele goste, um momento de contação de histórias ou até um banquete em casa, organizado por vocês com a comida favorita dele. Quando for época de aniversário ou Natal, converse sobre o excesso de pertences e organize uma limpeza no armário para abrir espaço para as novas aquisições. Separem juntos o que vai para a doação e para a reciclagem. A ideia é aproveitar esses momentos para reforçar os valores da família. “Sem perceber, os pais muitas vezes acabam construindo um vocabulário voltado para o valor exacerbado do consumo “, diz Gabriela. Pense nisso!

Por Fernanda Carpegiani, via Revista Crescer.

A música do silêncio

A música do silêncio

Por Carlos Cardoso Aveline

Os sábios pitagóricos diziam que o universo é musical. De fato, cada som e cada silêncio parecem ter um efeito especial sobre o ser humano. Seu significado específico pode ser libertador ou não, trazendo alívio, paz, serenidade, ou talvez inquietação. Por isso o excesso de ruídos – a moderna poluição sonora – está longe de ser um problema sem importância.
Sabe-se, por exemplo, que o lixo é apenas uma matéria-prima potencialmente útil, colocada em lugar errado. Do mesmo modo, o barulho é um som, em si mesmo inofensivo, que evoca fragmentação e desarmonia porque foi emitido no momento, no tom e no volume errados.
Os sons da natureza são, geralmente, musicais. É certo que às vezes – como durante uma tempestade – podem parecer terríveis para quem não os entende. Um cachorro doméstico, por exemplo, sempre irá para debaixo da cama, assustado, ao ouvir trovões. Mas, no conjunto, do ponto de vista sonoro, a natureza é silenciosa e harmônica. Essa percepção se reforça quando a comparamos a uma cidade moderna. Basta imaginar, por um momento, o ruído das ondas do mar batendo numa praia deserta, o canto dos pássaros no alto das árvores, o barulho do vento provocando o farfalhar das folhas, e de outro lado o buzinar dos veículos, o ronco dos motores e o ruído das sirenes. Mesmo nossas paisagens rurais são cortadas atualmente pelo ronco de tratores e moto-serras.
O ruído ameaça não só o silêncio e a musicalidade presentes na natureza, mas também a saúde do ser humano. A surdez física não é o único resultado do excesso de barulho. Submetido à poluição sonora, o cidadão apresenta uma variedade de sintomas. O sistema nervoso periférico sofre, e provoca vasoconstrição; os vasos sanguíneos se comprimem. O batimento cardíaco fica alterado. As pupilas se dilatam. Quando o problema é constante, a perda de audição aparece como uma defesa do organismo. O organismo surdo se fecha para o meio ambiente: ele declara uma paz interior unilateral, cujo preço é a incomunicação definitiva. Quem hoje ouve “rock” a todo volume, em alguns anos poderá não ouvir, nem mesmo querendo, os acordes mais suaves da música clássica.
O ruído excessivo é uma espécie de exteriorização forçada da consciência, e pode ser buscado como meio para evitar o confronto com a ansiedade. É o caso de certo tipo de música. O barulho também pode ser imposto ao homem desde fora, transformando-o em vítima de um processo de contaminação ambiental.
Todo ser humano precisa do silêncio para viver bem, e é na ausência de barulho que ocorrem e são compreendidas as coisas mais importantes. “O silêncio não deve ser buscado como uma maneira de evitar a vida”, escreve Nicolas Caballero, das Filipinas. “Não pode ser apenas um refúgio da agitação, ou do que nós chamamos de estar cansado da vida. O silêncio é o contexto em que nós reconstruímos a interioridade e a exterioridade.” Para Caballero, devemos aprender a produzir silêncio em nossas    vidas. [1]
O barulho e a desarmonia, de um lado, e o silêncio e o equilíbrio, de outro, podem   ocorrer simultaneamente em três níveis de consciência: físico, emocional e mental. Estas três instâncias formam uma tela vital única, cuja qualidade devemos aumentar de modo gradativo e constante.
“O ruído é uma desinteriorização que me separa das coisas ou das pessoas”, alerta Caballero. Ele faz com que se distorça a percepção da realidade. Investigando a fonte do ruído na mente e na vida humana, o autor filipino chega ao que se chama de “falsa espiritualidade”: o problema da pessoa não-religiosa é, essencialmente, um problema de barulho. A pessoa barulhenta é egocêntrica, mesmo que aparentemente religiosa. O importante, neste caso, não é o mundo divino, mas suas ideias sobre ele, porque o egocêntrico só consegue enxergar a si mesmo. Esse egoísmo é a fonte do barulho, isto é, daquela aparente ausência de uma musicalidade natural que deve expressar-se livremente em cada processo vivo.
O ser egocêntrico é incapaz de ouvir, mas quer ser escutado; e para isso ele faz barulho, físico e emocional.
Alguém escreveu que a capacidade de suportar ruídos está na razão inversa da inteligência das pessoas. A afirmativa é verdadeira,   mas não deve ser superestimada. Os idosos, por exemplo, não gostam de barulho, independentemente do seu grau maior ou menor de inteligência. No entanto, é verdade que um idoso quase sempre tem uma certa sabedoria interior.
Através do cultivo do silêncio, a pessoa desenvolve o desapego em relação ao que parece agradável ou desagradável. Inversamente, o desapego torna possível ter paz e silêncio interiores. O tema é vasto e complexo: a produção de silêncio e paz no mundo psicológico é um processo que precisa ser estudado, diz Caballero.
O silêncio pode mostrar-se como um vazio, ou como uma plenitude. Nos dois casos, está ligado à observação do que é real, a partir de uma consciência que não se abala com os altos e baixos da vida cotidiana.
O significado da existência e o caminho do autoaperfeiçoamento acelerado são compreendidos em silêncio, com o corpo físico, a percepção mental e o centro emocional serenos, se não imóveis.
A luta entre o silêncio – onde se expressam os significados interiores – e o barulho (que provoca confusão mental) se desdobra em todos os níveis e momentos do cotidiano. Inclusive sociologicamente.
Os veículos automotores, a construção civil, os aeroportos, os bares noturnas e as grandes indústrias são algumas das principais fontes de poluição sonora em nossas cidades. O processo de conscientização em relação ao problema é complexo e não começou há pouco.
“A juventude paga para se ensurdecer nas discotecas”,  já disse décadas atrás um técnico encarregado de combater o ruído. [2]
Já em 9 de maio de 1939 era publicado no Rio de Janeiro um decreto-lei autorizando o prefeito da então capital brasileira “a adotar medidas necessárias para coibir o excesso de ruídos urbanos”.[3]    As infrações seriam punidas com multas mínimas de 100 mil réis, dobradas na reincidência. As aeronaves também foram proibidas de passar pela cidade a menos de 200 metros de altitude, exceto quando em manobra de pouso ou decolagem.
De certo modo, a Constituição Federal de 1988 contempla o problema da poluição sonora ao estabelecer em seu artigo 5º, parágrafo 10, que é “inviolável a intimidade (…) das pessoas, assegurando o direito de indenização pelo dano material ou moral decorrente de sua violação.” Já o artigo 225 da Constituição brasileira afirma que “todos têm direito ao ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum ao povo e essencial à sadia qualidade de vida”.   O parágrafo 5º do mesmo artigo estabelece o poder e o dever do Poder Público de evitar toda ameaça “à vida, à qualidade de vida e ao meio ambiente”.
No início dos anos 90, o Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA) aprovou diversas resoluções específicas de combate à poluição sonora. Uma delas estabeleceu limites para ruídos de origem industrial, comercial ou de atividades sociais e recreativas, inclusive as de propaganda política.[4] O objetivo expresso da resolução é defender a saúde pública e o sossego da pessoa humana.
As cidades dos países mais ricos controlam com rigor crescente as fontes de poluição sonora. Seus carros e máquinas silenciosos são um exemplo disso. No Brasil, o trânsito se torna gradualmente mais silencioso.
Para alguns, o ruído é sinônimo de intensidade vital. Certas motos, por exemplo, são intencionalmente adaptadas para causar mais barulho.   Há uma explicação para isso: uma característica da mente barulhenta é a sua necessidade de chamar a atenção dos outros, ainda que perturbando o sossego público. Tais exageros são relativamente raros. Mesmo assim, a poluição sonora causa níveis cada vez maiores de preocupação pública. Os decibelímetros – medidores de ruído – vão deixando de ser raridades, e tornam-se instrumentos úteis na luta de moradores incomodados por fábricas barulhentas, ou de promotores públicos que defendem o sossego de um bairro.
Uma atitude mais vigilante tende a espalhar-se – e é indispensável que isso ocorra; mas ela não será suficiente. É recomendável atacar também a causa interna da poluição sonora. Esta causa está na mente humana, e escapa à mera análise ecológica, econômica ou legal da questão. Por falta de autoconhecimento, o ser humano sente necessidade de fugir do seu próprio ruído interior e psicológico. Para isso, provoca barulhos externos que distraiam sua atenção para o mundo externo.   É o caso da dependência psicológica da televisão. Para não ver suas próprias angústias e incertezas, rodeia-se de sons (ou imagens) que o prendem momentaneamente a este ou aquele aspecto do mundo exterior. A verdadeira solução não é esta.
O primeiro passo é aprender a calar por completo e então ouvir a voz da consciência. Quando a voz do silêncio pode ser ouvida, a paz ilumina os diferentes aspectos do mundo. A fonte da felicidade está, de um lado em obedecer à alma presente em nosso interior, e, de outro lado, em perceber a alma do universo. A música das esferas, de que falavam os pitagóricos, é escutada quando a nossa vida física, emocional e mental está em consonância com o grande processo vital do planeta e do cosmo. “Ora, direis, ouvir estrelas” – escreveu Olavo Bilac, antecipando o desprezo dos céticos. E, no entanto, sabemos que é possível ouvir as estrelas, e que elas não necessitam de palavras para falar. Basta que haja silêncio mental da parte de quem escuta.
No caminho do autoconhecimento, a ausência de ruídos constitui, pois, uma  condição essencial. Alfred de Vigny afirmou:
“Só o silêncio é grande: todo o resto é fraqueza”.
Helena P. Blavatsky pensa de modo semelhante. Ao abordar o estudo e a percepção da sabedoria divina, ela escreveu:
“Em suas horas de meditação silenciosa, o estudante descobrirá que há um espaço de silêncio dentro de si, em que ele pode se refugiar dos pensamentos e desejos, do turbilhão dos sentidos, e das ilusões da mente. Mergulhando sua consciência profundamente em seu coração, ele pode alcançar este lugar – a princípio, somente quando ele está sozinho em silêncio e na escuridão. Mas quando a necessidade de silêncio cresce, ele o procurará mesmo no meio da batalha com o eu, e o encontrará. Ele apenas não deve abandonar seu eu exterior nem seu corpo. Deve aprender a retirar-se em sua cidadela quando a batalha se torna árdua; mas precisa fazê-lo sem perder de vista a batalha; sem se permitir fantasiar que assim ele vencerá. Essa vitória só se conquista quando tudo é silêncio fora e dentro da cidadela interior.” [5]
NOTAS:
[1] “Silence and the Liberation of Consciousness”, por Nicolas Caballero, “Theosophical Digest”, Philippines, quarto trimestre de 1991, pp. 95 a 123.
[2] “Revista Dirigente Municipal”, agosto 1992, pp. 42 a 44.
[3] Decreto-Lei 1259, de 09/05/1939, na “Coletânea da Legislação Federal do Meio Ambiente”, IBAMA, Brasília, 1992, p. 342.
[4] “Resoluções Conama – 1984 a 1991”, IBAMA, Conama, 1992, pp. 195 a 199. Veja a Resolução nº 001, de 8 de março de 1990.
[5] “O Grande Paradoxo”, H. P. Blavatsky. O artigo está disponível em www.FilosofiaEsoterica.com e seus websites associados.
Fonte indicada: Filosofia Esotérica

A incrível história das pessoas que se doam demais

A incrível história das pessoas que se doam demais

Não sei vocês, mas nasci e cresci rodeado de adultos. Fui aquela criança que sempre teve amigos mais velhos, que viveu toda uma infância ouvindo ser maduro demais para a pouca idade. No fundo, isso era motivo de orgulho: mesmo novo, já entendia o valor e o poder de um bom elogio – e lutava contra mim mesmo para que nenhuma glória fosse vangloriada.

Claro que na escola os amigos tinham os mesmos sete anos que eu. E talvez minha insistência em liderar tudo e todos fosse algo bom e, por que não, horrível ao mesmo tempo. Bom enquanto durou. Horrível por ter me tornado um cigarro para quem não fuma: intragável.

Não demorou muito para que eu me sentisse sozinho e enxergasse que meu ego engoliu até quem verdadeiramente sentia-se bem ao meu lado. Ao perceber que o mundo era feito de mim, pra mim e por minha causa, usei da maturidade adquirida de um jeito tão imaturo para, finalmente, perceber que só haveria um jeito de me rodear de gente do bem. Sendo um deles também.

Autodefesa minha ou não, acho pertinente perguntar: será que é tão difícil ser legal e se doar sem dor às pessoas? Responda você, enquanto vou um pouco mais longe e me lembro de que talvez sua vida não seja como a minha, talvez você seja legal por natureza, se doe sem ver a quem e, claro, ache que o melhor da vida é ver o próximo amparado e feliz – por você, mas nem sempre com você e ao seu lado. Sim, afinal existe uma história quase obscura, que os chatos e os legais preferem não contar, sobre as incríveis pessoas que se doam demais.

Eu precisei mudar de escola, de faculdade, de emprego e de cidade para entender que gente do bem só atrai coisa boa – e que se doar a essas pessoas é sempre uma boa ideia. Por isso, hoje acredito piamente ser um bom amigo, daqueles que todo mundo pode contar a hora que for – mesmo de madrugada, de ressaca e sem grana. E tanta preocupação não se resume só aos amigos de longa data: se você me conheceu hoje e o santo bateu, nem esquente, você logo será convidado pra almoços aqui em casa, regados de muito vinho e conversas sem fim. E logo será amparado se o namoro acabar, se o emprego chegar ao fim ou se precisar de um acompanhante depois de uma endoscopia qualquer. É coisa minha. Eu gosto de ter gente por perto tanto quanto curto meus momentos a só. Mas aí vive um problema: ser legal com tanta gente faz com que toda essa gente seja necessariamente legal com você?

Foram tantas as frustrações que só depois de muita análise deu pra alcançar um denominador comum. É difícil não se apegar à lei da reciprocidade. Ela serve pra relacionamentos amorosos, pra amigos de anos e pra colegas de trabalho. Serve pra família, pro chefe, pro porteiro e até pra dona do restaurante que, todo dia, você cumprimenta sorrindo antes de pagar com seu ticket alimentação. No entanto, mesmo quando não se vê uma via de mão dupla a cada abraço apertado, encontro marcado e check in realizado, há diversos momentos em que o certo é não deixar de ser quem se é. E insistir em ser assim.

Eu demorei pra descobrir que possuo amigos dos mais diferentes tipos. Há os que não me procuram de forma alguma, mas, a cada vez que mando um alô, a conversa rende horas e se estende a drinks deliciosos. Outros são do tipo que precisam de tempo: não adianta chamar pro happy hour de toda quinta, o melhor encontro é aquele trimestral, quando sem querer a gente se esbarra no shopping e emenda um jantar. Ainda há os que moram pertinho, mas a gente só vê quando os caminhos se cruzam pelas esquinas da vida, e não se pode esquecer dos amigos de todo dia, dos que moram longe e dos que, mesmo depois de anos sem se ver, você morre de saudade e só deseja o que é bom.

No fundo, amigo é quem a gente pode ver todo dia ou de vez em nunca, mas que cada despedida pareça ter sido poucas horas atrás e que cada sorriso, desconcertado, de canto ou desenfreado, seja com absoluta sinceridade. Talvez se doar a estas pessoas nunca seja demais, porque o bem que elas nos proporcionam independe de reciprocidade, de horário ou data marcada.

Foi preciso passar por cima de tudo que eu achava certo pra perceber o quão relativa pode ser uma certeza. Por isso, desvendar o segredo dessas pessoas que se doam demais talvez não seja tão difícil. Difícil é ser como elas, felizes por natureza e por entenderem, de um jeito tão singular, que reciprocidade não é intensidade, que amizade não é cobrança e que carinho é bom sem medidas. E que cada pessoa que estaciona em nossa vida é uma oportunidade de deixar uma marca só nossa, às vezes indelével, noutras invisível, de alguém que, sem querer, nunca se cansou de se doar demais.

Por Milton Schubert, via Brasil Post

Instantes

Instantes

Existem lugares em que você só pode ir uma única vez na vida. Porque, quando sai de lá, já não é mais a mesma pessoa. Aquela paisagem inesquecível. Aquela vista que os seus olhos quase se recusaram a acreditar. Aquela emoção que você mal consegue explicar. Frio na barriga, arrepio na pele, adrenalina na veia, lágrimas nos olhos. Aquela felicidade que transborda a alma. Lugares em que você vai e não volta nunca mais. Lugares estes que sugam todo o seu “eu”, e devolvem uma outra pessoa. Quase sempre, uma pessoa melhor. Mais pronta. Menos egoísta. Mais madura. Menos frágil. Você volta para o seu mundo e tudo parece menor. E a saudade é cada vez maior. Já passou por algo assim? Aquela experiência que você viveu, e que viverá eternamente dentro de você. A vida é feita de instantes. Uma viagem, uma paisagem, um abraço, um por do sol, um beijo, um sorriso, um segundo, e a vida nunca mais será a mesma. É um momento que se aproxima da imortalidade. E, se alguém tiver vivido aquilo junto de você, também se tornará imortal. Trata-se de um ponto do passado em que sua mente nunca se cansará de visitar. Porque, mesmo que o tempo passe, quando você fechar os olhos, ainda conseguirá sentir aquele cheiro, aquelas luzes clareando o seu rosto, aquele vento, aquela sensação de que, só por ter passado por aquilo, a vida já terá feito todo o sentido. E viver é exatamente isso. Olha, se você tiver muita sorte e conseguir atingir os 80 anos de idade, um dia o seu netinho vai sentar no seu colo e te perguntar sobre a vida. Nesse instante, você vai sorrir e tentar viajar em suas memórias. E sabe o que vai encontrar ao mergulhar nestes 80 anos de história? Somente alguns instantes. Aqueles que foram responsáveis por você ter conseguido chegar até ali. Aqueles que terão feito todo o resto valer a pena.

Por Rafael Magalhães

Fonte indicada: Precisava Escrever

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