“Todas as Vidas”, conheça o poema e o filme onde “as vidas” de Cora Coralina serão reveladas

“Todas as Vidas”, conheça o poema e o filme onde “as vidas” de Cora Coralina serão reveladas

Todas as vidas

Vive dentro de mim
uma cabocla velha
de mau-olhado,
acocorada ao pé do borralho,
olhando pra o fogo.
Benze quebranto.
Bota feitiço…
Ogum. Orixá.
Macumba, terreiro.
Ogã, pai-de-santo…

Vive dentro de mim
a lavadeira do Rio Vermelho.
Seu cheiro gostoso
d’água e sabão.
Rodilha de pano.
Trouxa de roupa,
pedra de anil.
Sua coroa verde de são-caetano.

Vive dentro de mim
a mulher cozinheira.
Pimenta e cebola.
Quitute bem-feito.
Panela de barro.
Taipa de lenha.
Cozinha antiga
toda pretinha.
Bem cacheada de picumã.
Pedra pontuda.
Cumbuco de coco.
Pisando alho-sal.

Vive dentro de mim
a mulher do povo.
Bem proletária.
Bem linguaruda,
desabusada, sem preconceitos,
de casca-grossa,
de chinelinha,
e filharada.

Vive dentro de mim
a mulher roceira.
– Enxerto da terra,
meio casmurra.
Trabalhadeira.
Madrugadeira.
Analfabeta.
De pé no chão.
Bem parideira.
Bem chiadeira.
Seus doze filhos,
Seus vinte netos.

Vive dentro de mim
a mulher da vida.
Minha irmãzinha…
tão desprezada,
tão murmurada…
Fingindo alegre seu triste fado.

Todas as vidas dentro de mim:
Na minha vida –
a vida mera das obscuras.

Ana Lins dos Guimarães Peixoto Bretas ou Cora Coralina, (Cidade de Goiás, 20 de agosto de 1889 — Goiânia, 10 de abril de 1985) foi poeta e contista brasileira. Produziu uma obra poética rica em motivos do cotidiano do interior brasileiro, em particular dos becos e ruas históricas de Goiás. Começou a escrever poemas aos 14 anos, porém, Publicou seu primeiro livro em 1965, aos 76 anos.

A poetisa será homenageada no filme “Cora Coralina – Todas as Vidas”, que estreará nos cinemas ainda este ano. O filme investiga, de forma poética, aspectos pouco conhecidos dessa que foi uma das maiores escritoras brasileiras de todos os tempos.

Direção: Renato Barbieri.
Produção: Marcio Curi e Elizabeth Curi e Carmen Flora.
Trilha Sonora: Luiz Olivieri e Eduardo Canavezes.
Direção de Fotografia: Waldir de Pina.
Gênero: Ficção / Documentário.

Elenco: Walderez de Barros, Tereza Seiblitz, Beth Goulart, Zezé Motta, Maju Souza e Camila Márdila.

Trailer – Cora Coralina – Todas as Vidas [Legendado Ingles] from ASACINE Produções on Vimeo.

Quer saber mais sobre o filme? Leia: Primeiro longa sobre Cora Coralina será exibido em festival neste sábado

6 artigos que podem melhorar e até salvar seu relacionamento

6 artigos que podem melhorar e até salvar seu relacionamento

Às vezes o que parece simples e corriqueiro é o mais claro sinal de que precisamos parar e enxergar algumas realidades.

Abaixo, selecionamos algumas matérias que podem falar algo que nos faça pensar e, se possível, até mudar e viver melhor.

Os links contidos nos tópicos levarão o leitor para a página de origem de cada publicação.

1) Sete formas de manter o seu relacionamento interessante

Por acaso o amor tem prazo de validade?

É claro que não. A verdade é que os relacionamentos têm altos e baixos – e muitos realmente acabam. Mas enquanto alguns profissionais e estudos científicos pretendem mostrar a duração média de uma paixão, outros buscam entender o que pode ser feito para prolongar o romance. Veja a seguir sete maneiras de manter a chama acesa com o(a) parceiro(a), segundo Anita Chlipala, mestre em terapia familiar pela Universidade de San Diego, Califórnia.

O artigo é de Danilo Barba e pode ser encontrado pelo link Sete formas de manter o seu relacionamento interessante

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2) Frequência sexual e felicidade não são a mesma coisa.

É claro que precisamos do sexo. Ele acalma, une, faz bem para a saúde e nos deixa com uma deliciosa sensação de euforia. Só que o resto também é muito importante. Mas que resto é esse?

Leia o artigo de Carol Patrocinio pelo link O sexo não vai salvar o seu relacionamento.

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3) Nove maneiras de saber se o seu relacionamento tem futuro, segundo terapeutas

De repente, o barulho que ele ou ela faz para mastigar começa a incomodar…

Ele nunca faz a cama. Ela não está nem aí para a louça. O que era doce parece repentinamente ficar amargo. “Estes problemas são completamente normais ente casais, e não necessariamente indicam que o romance vai sobreviver ou não”

Leia o artigo de Danilo Barba pelo link Nove maneiras de saber se o seu relacionamento tem futuro, segundo terapeutas

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4) As pessoas não estão prontas para relações descomplicadas. Por que escolhem relações complicadas?

Leia o artigo de Carol Patrocinio pelo link Por que escolhemos relacionamentos complicados?

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5) Seis maneiras de evitar brigas no relacionamento

É completamente normal ter uma briguinha ou outra dentro de um relacionamento. Mas quando o casal está sempre brigando, discordando e provocando um ao outro, isso na verdade tende mais a separar do que manter a harmonia e felicidade entre o casal.

O artigo é de Danilo Barba e pode ser lido pelo link Seis maneiras de evitar brigas no relacionamento

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6- Três equívocos que podem arruinar sua vida amorosa

Existem alguns erros que, de tão sutis, estão devastando suas esperanças amorosas sem que você perceba. Depois de um tempo apostando no jogo do amor, seja com o sexo oposto ou não, você percebe que no fim das contas nenhuma relação virou um relacionamento.

Leia o artigo de Danilo Barba pelo link Três equívocos que podem arruinar sua vida amorosa

Essa é a nossa seleção. Esperamos que algumas digas possam ser valiosas em sua vida! 😉

O amor só é lindo, quando encontramos alguém que nos transforme no melhor que podemos ser

O amor só é lindo, quando encontramos alguém que nos transforme no melhor que podemos ser

Amar. Verbo difícil de ser conjugado. Difícil de aprender, mais difícil, ainda, de ensinar. Mas precisamos dele e, assim, não temos como deixá-lo de lado. Apesar de ser difícil entender tudo que ele faz conosco. Noites perdidas, choros, soluços e uma porção de coisas que não conseguimos nem definir. Tudo parece tão bonito quando se ama e, se é assim, por que não amar?

Eu digo. Porque amar traz dor de cabeça. Amar dá trabalho. E quem está disposto a se esforçar? Queremos um amor do tipo mala com rodas, daqueles que não nos demandam força. Talvez seja por isso que nos encontramos em relacionamentos tão vazios e sem vida.
Queremos alguém que se encaixe perfeitamente em nossas vidas. É como se estivéssemos em uma entrevista analisando o melhor currículo. Se o candidato aparenta algum problema, logo tratamos de dispensá-lo. Afinal, não queremos ficar com alguém que nos traga problemas. Queremos, como diz o povo, “uma árvore com sombra”.

Mas, e aí? O que isso garante? Um relacionamento estável? Uma troca de conveniências? Provavelmente, mas nada substitui o amor. Amor de verdade, não desse tipo. Daqueles que tiram o sono, que nos fazem renegar a vida sem o ser amado, que provocam choros e soluços. Pois o outro é cheio de defeitos e erros. E ainda assim o amamos.

Amamos, como diria Nietzsche, porque estamos habituados a amar. Mais que isso. Porque reconhecemos no outro as nossas fraquezas. Quem ama é humilde para reconhecer que possui inúmeros defeitos e, ao contrário do que pensam, para enxergar os pormenores dos defeitos do outro.

Enxerga e não se conforma com a situação. Pelo contrário, busca melhorar e se livrar dos vícios que o afastam do ser amado. Reconhece que tem defeitos e que o outro também os tem, mas não se dobra a eles. Tenta fazer deles seus escravos. Uma vez que a beleza do amor está em tornar-se alguém melhor para o ser amado. Isto é, extinguir todas as barreiras que o afastam do outro.

Não é prepotente para dizer me aceite como eu sou. Tem coragem para amar e estar ao lado do outro, como o melhor que pode ser. Portanto, esforça-se. Sem medo, mergulha em águas profundas, à procura da beleza que só o fundo do oceano pode ter.

Não tem medo de ligar de madrugada, se for para dizer eu te amo. Sabe que a cada dia pode melhorar e melhora. Não porque existe uma obrigação, mas porque a vida nos dá oportunidades e não é pela preguiça e pelo conformismo que devemos deixá-las passar. Deixar passar a oportunidade de ser importante para alguém de verdade e em cada suspiro ter o seu eu junto.

Amar é superar os obstáculos unidos. É saber caminhar de mãos dadas e, quando necessário, carregar o outro no colo. Amar não é ter alguém pronto ou perfeito. Amar é estar disposto a se tornar perfeito para o outro. É não ter orgulho para pedir desculpas e chorar, se for necessário. Amor é muito mais do que um contrato ou uma seleção.

Amor é para quem não tem medo de sustentar sua existência além de si mesmo. É para aqueles que gostam de mochilas sem rodas. É para que tem, no abraço do outro, um refúgio que livra de todos os medos. É para quem não tem medo de se envolver, de estar junto e lutar dia a dia, lado a lado. É para quem entende que o amor tem beleza própria, a qual nos faz belos.

Amar é um desafio, pelo qual nem todos conseguem passar. E, por isso, procuram opções mais fáceis, mais rápidas. Mas o amor é para quem tem paciência. É para quem tem coragem de ser a razão do sorriso do outro. É para quem se esforça para ganhar mais sorrisos, pois os sorrisos de um amor são como poemas na alma. É para operários que não têm medo de se sujar, pois

“O amor só é lindo, quando encontramos alguém que nos transforme no melhor que podemos ser.”

6 sinais de que seu casamento irá durar a vida inteira

6 sinais de que seu casamento irá durar a vida inteira

Por João Pedro Martins

Mignon McLaughlin, jornalista, uma vez afirmou que “um casamento de sucesso requer se apaixonar muitas vezes sempre pela mesma pessoa”, mas, como é que isso é possível? O que é que um casal pode fazer para manter inextinguível a chama do amor? Há seis pequenas palavras que são um sinal de que o seu casamento irá durar para toda a vida.

1. Companheirismo

Charles e Elizabeth Schmitz, psicoterapeutas e autores do livro “Building a Love that lasts” (Construindo um amor que dura), afirmam que “nos bons casais existe a tendência de ver o seu parceiro como o melhor amigo”.

A pessoa que amamos deve ser a primeira pessoa em quem pensamos quando desejamos partilhar algo, seja bom ou mau. Existe uma partilha que vai desde as questões mais íntimas até ao que aconteceu durante o dia de trabalho, mesmo os pequenos detalhes.

2. Interajuda

Na vida de um casal deve existir a interajuda. Apesar de a divisão de tarefas não ter de ser exatamente a meio, todos devem ajudar na lida da casa (ajudar nos deveres da escola dos filhos, lavar a louça, limpar, arrumar, lavar o carro, etc.). Charles Orlando, autor do livro “The problem with women… is men” (O problema da mulher… é o homem), afirmou que “manter uma relação em que ambos falam honestamente caso se sintam sobrecarregados e não apenas reclamar caso algo não seja feito, leva a um fortalecimento da vida do casal”.

Quando cada um faz a sua parte e ajuda o outro quando é necessário o companheirismo irá aumentar e, como bônus, ninguém irá estar demasiado cansado ou com falta de tempo para fazer algo que faz sempre falta a um casal – namorar.

3. Espontaneidade

Quem não gosta de ser surpreendido? Não há nada mais frustrante do que uma vida presa à mesma rotina, onde não existem surpresas. Shauna Springer, doutorada e autora do livro “Marriage, for equals” (Casamento, para parceiros), afirmou que “o excesso de familiaridade é o inimigo do romance e, por isso, é essencial continuar a apostar em alguma mudança e crescimento pessoal”, ou seja, depois de se casar devemos continuar a tentar surpreender quem amamos; por exemplo, o marido pode inscrever-se em aulas de dança para, um dia, surpreender a sua esposa com uma dança durante um jantar romântico.

Surpreender o parceiro também pode ser feito usando de pequenas coisas como bilhetinhos românticos deixados em locais especiais para a pessoa que amamos os ler, ou oferecer um buquê de flores sem ser numa ocasião especial.

4. Comunicação

De acordo com um pesquisa, casais que discutem os problemas, em vez de ignorá-los, apresentam um relacionamento mais forte do que casais que evitam discutir. Uma discussão não tem necessariamente de ser acesa e aos gritos, mas os problemas não devem ser ignorados.

Podemos comparar a uma panela de pressão que, para não explodir, é necessário manter uma válvula sempre aberta; com a vida de um casal é exatamente a mesma coisa – os problemas devem ser falados para se poder resolver e, mais importante, para a pessoa que amamos saber o que nos vai na alma e o que nos incomoda.

5. Paciência

Todos os casais passam por momentos bons e por momentos maus. Normalmente deixamos que sejam os momentos maus a definir o nosso futuro, mas, segundo uma pesquisa realizada em 2011, quando o casal acredita que a sua relação irá durar para sempre, independentemente do que possa acontecer, tem uma maior hipótese de sobreviver aos maus momentos do que um casal que não acredita que a sua relação pode durar para sempre.

Quando ambas as partes estão comprometidas a 100% pela felicidade da relação e, principalmente, focadas na felicidade da pessoa que amam, então encontrarão mais facilmente as forças para ultrapassar as dificuldades.

6. Inovação

Um estudo concluiu que casais que fazem coisas novas, e diferentes, juntos são mais felizes do que casais que se deixam cair na rotina. É normal ver jovens casais saindo, indo a um jantar a dois, passeando e até surpreendendo a pessoa que amam, mas, o que infelizmente acontece na generalidade dos casos, é que ao longo dos anos a rotina começa a ter mais força. O namoro deve continuar mesmo depois de décadas de casamento.

Ter uma noite por semana apenas para o casal, para que possam sair e se divertir, pode ser um primeiro passo para quebrar uma rotina. A inovação também pode passar por pequenas surpresas, como se falou no ponto 3. O que não se deve permitir é que a rotina se torne demasiado confortável.

Os sinais de que estão vivendo uma vida feliz a dois estão, então, resumidos nestas seis simples palavras: companheirismo, interajuda, espontaneidade, comunicação, paciência e na inovação. O segredo está em nós mesmos e também nas pequenas mudanças no dia a dia que, apesar de pequenas, elas podem fazer maravilhas no seu casamento.

João Martins é um biofísico com uma paixão pelo ensino e busca de conhecimento.

Website: http://minhaalmatempo.blogspot.pt/

Fonte indicada: Família

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Três equívocos que podem arruinar sua vida amorosa

Quando você se vendeu pela última vez?

Quando você se vendeu pela última vez?

E aqui é o momento em que você diz: “Eu nunca me vendi!”. Mas olha, eu nem me refiro às grandes liquidações, onde dá pra sair vendendo honra, consciência ou princípios, tudo isso de baciada. Afinal, essas grandes vendas com grandes impactos, sempre estiveram disponíveis só para uns poucos, aqueles que são colocados em uma posição em que podem comprovar que o poder corrompe. Ok, não são tão poucos assim, ainda mais se a gente traçar uma trajetória que vai desde Judas até o pessoal que ainda vai ser condenado na Lava-Jato (e também aqueles que não serão condenados no cartel do metrô em São Paulo). E vendas maiores que essas, aí só mesmo com grandes empresas, como a Volkswagen, que acabou de reconhecer que adulterou 11 milhões de carros em todo o mundo, vendendo a sua credibilidade por um corte nos custos.

Mas o que interessa aqui são as vendas pequenas no varejo, onde a gente passa a consciência para frente, só por uns trocados, como quando você vê alguém jogar lixo na rua, fica incomodado (só vale se incomodar mesmo, ok?) e não faz nada. Você está se vendendo pela sua segurança, pela sua tranquilidade ou mesmo pelo tempo que você não pode perder ali, naquele momento.

A gente também aprende logo cedo que não dá para lutar toda batalha no momento em que ela se apresenta. Às vezes, dá pra tentar adiar, para quando houver a certeza de que ela possa ser vencida. É uma forma de nos vendermos pela conveniência.

Ou podemos nos vender pela comodidade. Como, por exemplo, quando aquela vaga de cadeirante está ali, tão sozinha e tão desacompanhada, com toda cara de que não vai ser usada nos próximos cinco minutos, que é todo o tempo que você precisa, só cinco minutinhos, que mal pode fazer? Vai ser muito azar se chegar um cadeirante bem nessa hora, não vai? Bom, você estaciona seu carro e está de volta depois de cinco minutos (ou dez, quinze, talvez até vinte) e como realmente não apareceu nenhum cadeirante ou seu carro não foi guinchado, você diz pra si mesmo que agiu certo e até questiona a real utilidade dessas vagas, já que você nunca viu nenhuma sendo propriamente usada. E a vida segue, até a próxima vez em que for preciso estacionar, e o ciclo recomeça.

Quando estamos nesse processo de venda, tentamos nos enganar de todas as maneiras, para que não possamos assumir – em um nível consciente – que o negócio já foi fechado e estamos devidamente vendidos e bem ou mal pagos. É a hora de usar o melhor da criatividade e inventar desculpas & justificativas que sirvam pelo menos pra tentar convencer a nós próprios. O nosso nível de tolerância para essas desculpas & justificativas costuma ser bem alto nessas horas.

Para manter as engrenagens da vida social funcionando, é preciso se vender até pelo bem dos outros. Sabe quando você está naqueles almoços de família, pode ser Natal ou Páscoa, e toda a família começa a defender um ponto de vista completamente oposto ao seu ou um cunhado começa a fazer comentários não muito bacanas e você prefere ficar quieto, pra não criar um climão ali na hora? É uma venda que pode custar um pouco (ou muito) da sua paz de espírito, mas que é feita pela harmonia daquele momento, ainda que bem superficial, para que o peru ou o bacalhau possam ser digeridos sem muitos contratempos.

É a mesma coisa quando você está em uma roda de amigos e alguém diz alguma mentira, comete uma injustiça ou externa um preconceito que te incomoda profundamente, mas que você prefere relevar e não rebater, pra não criar caso. São aqueles momentos em que temos que optar entre defender cegamente o que acreditamos ou nos apegarmos a tal harmonia superficial, para seguir em frente com a vida em sociedade.

A gente se vende e isso faz parte da vida, só o nível da venda é que varia. Nem sempre é uma coisa ruim, às vezes é até uma necessidade. E claro que dá pra usar um conceito que não tenha um tom tão depreciativo, como “vender”. Podemos trocar por “ceder”, por exemplo. Mas ainda que se mude a palavra, não muda a realidade de que se trata de um procedimento que envolve uma troca e, mesmo que o lucro não seja trinta moedas ou uma propina milionária, alguma vantagem Maria leva.

Já que estamos vivendo um momento em que a indignação com a corrupção está espalhada pelas redes sociais, essa poderia ser a hora de levar para a vida esse sentimento e abandonar a indignação seletiva, que só vale para um lado da moeda, aquele com o qual não concordamos. Se essa indignação se ampliasse para todos os tipos de corrupção, incluindo aí as nossas, por menores que fossem, seria um ponto de mudança na História.

É uma ideia bem utópica, claro, ainda mais porque crescemos no país do jeitinho e da Lei de Gérson, mal dá pra dimensionar o quanto isso tudo está entranhado em nós. Mas encarar a situação de frente ajuda a entender um dos principais mecanismos da vida em sociedade. E se der para abrir mão do pacote de desculpas & justificativas, melhor ainda.

A Felicidade não é para poucos, é para qualquer um

A Felicidade não é para poucos, é para qualquer um

Ela é abordada em quase todas as conversas. É assunto de jornais, revistas, filmes, documentários, palestras, debates, conversas de botequim, novelas, livros, sites e outros meios de comunicação que se multiplicam de uma pessoa para a outra. É de Felicidade que todos querem falar e saber.  Mas o que falta para que todos possam senti-la?

Ela passa por uma antecipação do nosso ser, uma projeção no agora, e ao mesmo tempo por uma busca fragmentada, porque é como se quiséssemos criar e pegar o futuro com as mãos, mas estamos atolados e esvaziados no presente, procurando, buscando e em voltas – com o quê, nem sabemos.

A sensação de utilidade e praticidade invade qualquer mortal e tantas vezes nos rotulamos como pós-modernos para entendermos alguma coisa. É lá mesmo que pode estar nossa Felicidade, no pós-tudo, no que sempre esperamos a partir de agora? Não, pode ter certeza que está nesse presente do exato momento que vivemos. Talvez nos falte o senso desse agora que nos toma por completo.

E o que é a Felicidade? Teremos muitas respostas. Mas, por ora, é algo profundo e verdadeiro; é a graça que se sente além do corpo material. É mais que uma mansão luxuosa, roupas de grife, carro do ano, joias finas e outros bens materiais que trabalhamos tanto para conseguir. Algumas vezes, é como se essa Felicidade caísse aos nossos pés, como se estivesse à nossa procura, como nosso objeto maior de desejo e possessão. Mas isso tudo não é medida para a Felicidade.

Algumas mudanças, por mínimas que sejam em nossa rotina, ajudam muito nessa busca pela Felicidade, ainda que seja para sair do caos rotineiro com o mesmo cheiro de sempre, mas experimentar o diferente. Experimentar o outro, a convivência com a natureza, o estar no mundo e o sentir com toda capacidade – seria como experimentar um tempero novo que explode em nossa boca.

É chocante como atos e comportamentos aparentemente simples ainda exigem grandes doses de desprendimento e fuga de uma prisão inventada para fugir de muitas coisas, inclusive da nossa mania de colocar eternidade em qualquer acontecimento. Parece até que não temos noção da finitude. É, às vezes não temos, realmente.

E nossa fuga pode ser para qualquer lugar, mas o melhor deles está dentro de nós, é lá que podemos nos acalmar e nos conhecer melhor, como um vizinho que ainda é estranho e aos poucos vai adentrando e participando da vida do outro, como se aquele fosse um paraíso para ser conhecido, mas que exige grandes responsabilidades, porque cativar existe sempre uma entrega nem sempre pacífica.

A Felicidade não é para poucos, é para qualquer um. Está na capacidade de cada indivíduo desenvolver habilidades que não podem ser medidas com uma moeda de troca, mas vividas com toda intensidade do mundo. E aqui eu deixaria algumas dessas habilidades que costumo observar nas pessoas: amor, humildade, generosidade, ternura e tantos outros sentimentos altruístas. Não precisamos de uma lista muito extensa, basta praticarmos qualquer uma, aleatoriamente, para notarmos grandes diferenças em nossos dias. Ela também pode estar num sorriso aberto, num abraço apertado, num olhar profundo que diz mais que palavras organizadas.

O desenrolar disso tudo é bem visível – não ousaria dizer previsível -, mas é a sensação do que podemos ver não só com os olhos. Está além de olhares, conversas, toques. É preciso muito mais agir, abraçar o mundo como se fosse o último ato.

Sobre almas em extinção

Sobre almas em extinção

Se alcancei alguma glória nessa vida é a de sempre encontrar encantos, motivos que me despertam e instigam, acho que nunca soube o que é sentir tédio ou monotonia. Não me falta vontade, paixão, coragem. Com pesar, sinto que o que me falta é tempo. Por isso filtro sentimentos, gerencio importâncias, presto atenção nas levezas e esqueço os pesos. Por isso desenho a vida do meu jeito, do jeito que acho significativo. Por isso me demoro mais nos sorrisos e me entrego aos abraços apertados. Sei escolher com quem vou passar a tarde toda ao lado.  Por isso, falo mais de poesia do que de política, tenho sempre ouvidos para amigos, sede para um bom vinho, coração para um amor bonito. Tenho sempre imaginação para me perder nos livros e lágrimas para me derramar nos filmes. Sempre tenho espaço para um bom papo, e um caminho longo de aprendizado e a noção de que o tempo é tão curto, porque das coisas que me interessam nesse mundo eu estou apenas engatinhando e talvez eu morra antes de começar a dar os primeiros passos.

Mas sigo tendo sempre um olhar que se perde nas esquinas esquecidas do mundo. E muita curiosidade e vontade de empatia pelas pessoas que não têm voz e vez. E uma alma que aprendeu a se inspirar como respirar.

Que a vida em essência é mais importante que todos os medos, que a vontade de vive-la genuinamente é mais forte que as preocupações com o futuro, que o respeito com as pessoas e com o nosso resistente planeja é maior do que a vontade de comprar, ganhar, consumir. Sinto que as almas que sabem viver e amar com sutileza estão em extinção, que pessoas de verdade não se encontram em qualquer bar, escritório, ponto de ônibus ou rede social. E que as forças sutis que movem meu coração se escondem (ou se revelam) num poema, numa flor, num olhar, num violão. E enquanto a força bruta, as diferenças, o consumismo, a ganância estiverem gritando nos meios de comunicação, as sutilezas continuarão a ocupar os lugares que só as almas atentas notam. Sutilezas não batem à nossa porta,  insistentemente, querendo entrar, elas pousam e voam.

Mas as sutilezas enchem a vida de encantos e estão em cada canto. As sutilezas são tantas e me protegem do tédio. Tornam a vida uma maravilha.

E pelos dias, eu ando tentando não esquecer que da vida o mais importante é viver, do sonho o mais importante é sonhar, do amor o mais importante é amar. E por perseguir sutilezas e ignorar importâncias talvez eu envelheça pobre e esquecida, mas sei que nunca morrei de solidão ou monotonia. Pois meus olhos sofrem de excesso de graça e a vida é muito rara e vasta para perder o sentido.

O valioso silêncio

O valioso silêncio

Nunca saberemos em que momento, exatamente, nós passamos a acreditar que tudo o que precisamos está contido em coisas que precisamos adquirir; conquistar; comprar. Jamais teremos a dimensão exata do subjugo a que nos submetemos durante anos e anos, em busca de recompensas que justifiquem tamanho sacrifício. Talvez, passemos toda uma vida sem nos darmos conta de que é lá dentro de nós que acontecem as vitórias. E elas não têm relação alguma com nenhum objeto que por ventura viermos a conquistar; seja ele um bem grandioso ou uma pequena extravagância.

De todas as coisas que perdemos na vida, enquanto andamos por aí feito andróides programados para acumular bens, a mais valiosa é a nossa capacidade de perceber o limiar entre o que é maravilhoso e o que é só uma ilusão. Andamos a procura de fogos de artifício que têm sua beleza atrelada a pouquíssimos minutos reservados ao seu espetáculo no céu. Vivemos o tempo todo reagindo, sem refletir, aos estímulos que recebemos. Somos ratinhos brancos correndo dentro de uma rodinha que nunca para.

A perda da capacidade de perceber que somos manipulados por nossos próprios desejos nos transforma em reféns de nós mesmos. Vivemos acorrentados às verdades pelas quais pagamos muito caro. Vivemos amordaçados, impedidos de ouvir de nossa própria boca o que, afinal de contas, temos realmente para dizer.

Enquanto permanecemos reagindo aos estímulos, vamos perdendo de vista a pessoa inteira que mora dentro de nós. Em algum lugar escondido há um ser que anseia por respirar, tirar a cabeça para fora desse mergulho em águas estrangeiras. Vivemos muito mais as vidas que esperam de nós do que a vida que desejamos viver.

Curiosa contradição é o que somos. Exatamente por nos preocuparmos tanto com o que irão pensar de nós, nos esquecemos de considerar o impacto de nossas ações em nossa vida, na vida do nosso próximo e na vida dos nossos distantes. E, quantos dos nossos próximos acabaram se transformando em pessoas distantes? Gente querida que amamos tanto um dia e agora nem reconhecemos mais; perdemos o contato, o vínculo, a proximidade.

É bem verdade que muitas vezes somos apenas um capítulo no livro da vida de alguém, assim como o contrário. No entanto, se formos congelando cada capítulo escrito, ao final do caminho teremos um livro superficial, raso, desconexo. Deveríamos honrar cada capítulo com a mesma reverência. Não importa que tenhamos acolhido com amor alguém que nos trouxe sofrimento depois. O sofrimento é aprendizado também. O sofrimento é parte do processo; é inevitável e altamente educativo. Quem dera um dia fôssemos capazes de não apenas doer; mas incluir na dor algo que nos humanize mais, algo que nos faça enxergar além do óbvio.

Somos tão afoitos, ansiosos e vorazes que estamos nos tornando personagens isolados em torres altamente seguras e seletivas. Quando conversamos, não conseguimos silenciar a boca e a mente para tentar entender o que, de fato, o outro tem a nos dizer; o que ele deixou de nos dizer, por cautela ou malícia; o que está dito nas entrelinhas, ilustrado no piscar dos olhos, na expressão do rosto, na movimentação do corpo. Nossas mentes barulhentas e inquietas nos aprisionam num mundo paralelo, onde todas as pessoas vivem automaticamente. Quem sabe, agora que nós estamos parados aqui, eu desse lado, você aí do outro, não posamos nos ajudar a encontrar o real significado disso tudo. Quem sabe não acabemos por entender que todas as pequenas e valiosas pessoas e momentos que deixamos para trás, merecem, enfim, um minuto de silêncio.

Ana Macarini

Há esperança para a Humanidade. A bondade é “contagiosa”

Há esperança para a Humanidade. A bondade é “contagiosa”

A bondade já tem um “sítio” – foi localizada no cérebro, assim como o sentimento que lhe é associado quando essa área regista atividade: “elevação moral”. Além disso, percebeu-se que esta é “contagiosa” – ou seja, ao assistirmos a atos de bondade, somos impelidos a fazer o mesmo –e ajudar.

Publicado na revista “Biological Psychiatry”, um estudo levado a cabo pela psicóloga Sarina Saturn, da universidade de State Oregon (EUA), mediu a atividade cerebral e o ritmo cardíaco de estudantes universitários enquanto assistiam a vídeos com imagens de atos heróicos ou humorísticos.

Quando viam as imagens heróicas, os sistemas nervosos simpático e parassimpático dos estudantes atingia um pico, o que constitui “um padrão muito invulgar” segundo a psicóloga. “Os dois sistemas são recrutados para uma só emoção” – e isso é incomum, porque combinam uma reação de luta, e outra, posterior, de acalmia.

Isto pode explicar-se assim: assistir a um ato de compaixão implica testemunhar o sofrimento de outra pessoa – o que desencadeia uma resposta de stresse, e ativa o sistema nervoso simpático. Depois, ao vermos esse sofrimento aliviado acalmamos, e o sistema parassimpático é ativado. Na zona média do córtex pré-frontal (a área relacionada com a empatia), também foi registada atividade. E é nessa área precisamente que o neurocirurgião João Lobo Antunes julga poder residir o cerne da questão.

“É possível que a capacidade de responder positivamente aos bons exemplos, como a generosidade ou altruísmo, conduzindo ao que alguns chamam ‘elevação moral’, dependa também da porção mais ‘social’ do cérebro humano, particularmente o córtex pré-frontal (como tem sido proposto por vários neurocientistas, entre os quais António Damásio)”, defende. O professor recorda que, em termos muito simples, “as experiências emocionais são apreciadas por áreas anteriores do lobo frontal, particularmente no córtex pré-frontal (o sítio que Egas Moniz elegeu como alvo no tratamento de certas doenças mentais); mas também na amígdala, que permite reconhecer os vários tipos de expressão facial, amigável ou não”, e acaba por ser muito importante no relacionamento social entre pessoas.

“Muito mais complexa é a questão do juízo moral, que é estudado através dos modelos experimentais, como o célebre ‘caso das linhas de comboio e do homem gordo'”. Lobo Antunes explica “estes dois dilemas”. No primeiro, um comboio percorre um trajeto que depois se bifurca – num sentido irá atropelar uma pessoa, no outro três pessoas. Nós temos a capacidade de mudar o trajeto por meio de uma alavanca (“agulha”). Conseguiríamos causar a morte de uma, para salvar três?

No segundo dilema, a vida de três pessoas seria salva se empurrássemos para a linha um homem gordo que se encontra na ponte sob a qual passa o comboio. Seríamos capazes de o fazer? De facto, a maior parte de nós não teria hesitação em manejar a “agulha”, mas já não seria capaz de empurrar o homem gordo, e as áreas cerebrais envolvidas nesta decisão não são idênticas”.

“Curiosamente, as áreas envolvidas em juízos morais são também áreas integradoras das emoções”, continua Lobo Antunes. “Esta teoria tem sido particularmente defendida por Haidt, que considera que o juízo moral é primariamente intuitivo ou emocional. Ele distingue dois sistemas, um antigo, rápido, automático, que instintivamente nos faz julgar se um ato é “bom” ou “mau” – e neste caso, inspira-nos “repugnância”. A este sistema antigo, com mais de 5 a 7 milhões de anos, junta-se outro mais recente (100.000 anos), mais lento e que implica um juízo mais deliberado”. O médico conclui que “sim, a bondade é contagiosa – o problema é haver tanta gente vacinada contra ela…”

Por KATYA DELIMBEUF

Fonte indicada: Expresso

Escolas transformadoras

Escolas transformadoras

Sou jornalista. Não sou educadora. Mas tenho 3 filhos para educar. E tenho 3 filhos no sistema de educação. Um sistema que está fora do que chamamos de ensino tradicional. Porque baseia-se na pedagogia Waldorf. E, sempre que me perguntam “E aí, você não tem medo do vestibular?”, digo que não. Não tenho medo. Primeiro porque a escola forma bons alunos. Alunos que constroem conhecimento e que apreendem conhecimento. Segundo, e mais importante, porque a escola forma seres humanos. Isso pra mim é o maior ganho que eles podem ter na – e para – vida. Aprenderem o que, de fato, tem valor. Porque, além de todo conteúdo teórico, aprendem com o corpo e com o coração. Fazem uso da emoção e da alma pra trabalhar essências do ser humano. Isso, pra mim, é o cerne da educação moderna. Porque está baseada na formação de seres humanos íntegros, sensíveis e capazes de atuar por um mundo melhor. E isso só é possível se a escola, ou o sistema de educação, se perguntar: que alunos queremos formar para o mundo? Que futuro queremos?

Estão aí as duas grandes perguntas que deveriam nortear toda discussão que permeia o sistema educacional, não só o brasileiro, como o mundial. Que futuro queremos dar a nossos filhos? Que crianças queremos formar? Em que pilares a educação deveria se basear, se sustentar, para formar esse aluno que é um cidadão? As escolas premiam os que tiram as melhores notas, quando deveriam premiar a gentileza, a empatia, o companheirismo, a tentativa, o trabalho em equipe. É o olhar para o potencial da criança na escola, e na sociedade, além do curriculum tradicional. Porque no futuro terá espaço para os que vivem em sociedade, e não para os que vivem centrados no próprio umbigo. Ou nos próprios louros. O mundo já está cheio de louros, e olhe bem como estamos. Alguma evolução? Algum ganho que realmente preencha a alma? Não. O sistema educacional hoje forma alunos em série. Que saem preparados para o vestibular, mas não preparados para a vida. Precisamos colher frutos e não louros.

Em visita recente ao Brasil, o educador português José Pacheco, criador da Escola da Ponte, contou por que é contra o método tradicional de ensino e nos lembrou que a escola foi, formalmente, sistematizada na época da Revolução Industrial. Quando se produzia em série e era preciso formar trabalhadores em série. Daí os anos se chamarem 1a série, as cadeiras enfileiradas, e assim por diante. Mas que bom que existem escolas e educadores remando contra a maré e buscando não só novas formas de educar, como conteúdos relevantes e questionando o sistema que, nada mais, nada menos, reproduz o que era importante séculos atrás. E quanto mais remamos contra a maré, mais nos aproximamos da fonte. Ou seja, daquilo que é essência, e vamos recuperando os valores da vida, do ser humano.

E, para reforçar e dar anda mais coro a tudo isso, semana passada foi lançado no Brasil o projeto Escolas Transformadoras. Uma parceria entre o Instituto Alana e Ashoka, que buscam dar luz a escolas que se preocupam com todas essas questões que eu levantei no texto. Já são 200 escolas por 26 países, sendo 10 delas brasileiras. Escolas que valorizam competências, fortalecendo uma visão comum de que todos nós podemos ser transformadores do mundo. Onde a criança tem um papel de coautora na escola, tem escuta. Ela também é protagonista. Porque a criança, ou o adolescente, cria para ser, e fazer, a diferença, junto à escola. Num sistema que preenche o sentimento de pertencimento. Quase numa proposta de derrubar os muros para impactar e transformar a comunidade.

São escolas que criam para transformar versus escolas que reproduzem o sistema, ou o método. Escolas que contribuem para a construção de conhecimento. Escolas que se preocupam em formar seres humanos versus bons alunos que tiram boas notas. Escolas que se preocupam em responder questões do mundo e da sociedade versus “o profissional que eu quero ser quando crescer”. Escolas que vão além do português e da matemática, porque a vida é mais do que conteúdo na lousa. Escolas que acreditam que empoderam a força transformadora de cada um. Porque acreditam que a mudança começa internamente, em cada indivíduo. E somos todos uma unidade comum, somos comunidade, porque somos seres humanos e vivemos em sociedade.

Para saber mais sobre o Escolas Transformadoras, acesse o site do projeto acessando aqui 

Por Carolina Delboni

Fonte indicada: Estadão

Sobre escolhas que não queremos e caminhos que não sonhamos

Sobre escolhas que não queremos e caminhos que não sonhamos

Ser adulto é muito complicado. Temos que trabalhar, estudar. Temos responsabilidades. Temos que ser “alguém”. E, quando estamos nessa fase, é quase geral aquela crise de identidade; passamos a nos relacionar com o tempo de maneira totalmente diferente, uma vez que sabemos que estamos, pouco a pouco, deixando de existir e que inexoravelmente morreremos.

O desespero, muitas vezes, começa a fazer parte do cotidiano. Questionamos a vida e nos perguntamos se chegamos onde sonhávamos, se somos felizes com nossas escolhas. Questionamos a nós mesmos, se o que fazemos reflete o que somos ou se nos deixamos levar pela maré, pelo efeito manada. Ainda que seja difícil prever as consequências das nossas escolhas, é necessário que tenhamos coragem para tomá-las e não seguir à risca o que a sociedade determina que devemos fazer.

Qualquer escolha que fizermos nos trará dificuldades. Sempre haverá o imprevisível, o incontrolável, estes são amálgamas indissolúveis da vida. Então, não adianta querer ser advogado ou médico pela vontade dos pais, ou simplesmente porque há segurança sendo um “doutor”. Como também viver sem medo de arriscar não renderá necessariamente uma vida feliz.

Em cada oportunidade que temos, é preciso deixar a nossa marca, ser o que somos, pois a vida é breve e não comporta reprises. As opções mais “seguras” lhe levarão a caminhos que nada têm a ver com você. Caminhos em que não consegue enxergar os seus passos. Caminhos vazios e tristes; depressões distantes das montanhas. E aí, eu pergunto: as opções “seguras” deixaram de trazer dificuldades?

Qualquer escolha que se faz traz dificuldades, como já disse, mas, quando essa escolha é feita por nós, quando nos enxergamos naquilo que fazemos, sentimo-nos vivos e mais fortes para superar as dificuldades que são inerentes a qualquer escolha que fazemos.

Entretanto, tenho percebido que temos nos acovardado diante dos outros e cada vez mais estamos seguindo o rebanho. Concomitante a isso, sonhos são deixados para trás e indivíduos apenas sobrevivem, sem ânimo no que fazem. Ser feliz é mais do que passar os dias fazendo planilhas no Excel, mesmo que isso “renda” bem. Viver uma vida clichê, com adoçante e café descafeinado, não é a receita do sucesso, simplesmente porque esta não existe. Cada pessoa carrega uma história dentro de si, sonhos, vontades e, sim, tem o direito de realizá-los.

Adequar-se a uma sociedade doente não é o melhor caminho, pois, além de ser apenas mais um entre tantos iguais, preocupados com formação técnica e uma vidinha burocrática que lhe “renda” um belo salário, serão indivíduos vazios, sem memórias que permitam lhes definir, cheios de hiatos existenciais, como um forasteiro que não sabe de onde veio ou quem é.

Enquanto fizermos escolhas por pressão social ou por medo de nos arriscarmos, nunca conseguiremos nos permitir abrilhantar o mundo com o nosso melhor; seremos estrelas sem brilho que não iluminam o céu. Isto é, estaremos lá, mas não seremos percebidos. Seremos marionetes de um espetáculo caminhando por caminhos ocultos ao nosso coração.

Presos numa relação nebulosa com o tempo, talvez não consigamos nos encontrar. E, talvez, nem precisemos, pois seremos apenas pele morta de sentimentos que um dia pulsaram por águas diferentes. Tão diferentes, que lhe disseram para remar em sentido contrário. E você foi. Não é um vitorioso nem um derrotado. É viajante de um lugar desconhecido a que outrora disseram para ir. Sente-se triste e tem vontade de voltar, mas não se lembra dos antigos caminhos que queria seguir. Então, continua. Sem ânimo, alma ou vontade. Não é um vitorioso nem um derrotado. Uma vez que,

“Aquilo que não é consequência de uma escolha não pode ser considerado nem mérito nem fracasso.”

Tão humana quanto nós: Monja Coen e sua surpreendente história de vida.

Tão humana quanto nós: Monja Coen e sua surpreendente história de vida.

Nesse vídeo exclusivo para o  Yahoo, A Monja Coen conta sua tragetória de vida. Prima dos Mutantes, foi casada com um rocheiro e já usou drogas.

Teve filhos e netos. Morou em outros paises e hoje nos conta, tão humana quanto nós, sobre como trilhou seus caminhps e amadureceu até encontrar o Zen e mudar completamente suas prioridades e sentido de vida.

“Uma das coisas mais bonitas que conheci no budismo foi a adequação….Não queira ser especial, você é especial!” Monja Coen

Vídeo incorporado na página com link disponível em Persona- Monja Coen. Visite essa área do Yahoo e conheça outros depoimentos com esse.

Livro bom é aquele que você gosta de ler

Livro bom é aquele que você gosta de ler

Por João Marcelino

Recentemente em uma ida à biblioteca aluguei a obra Palomino, da americana Danielle Steel (foto). O livro, em inglês era conservado, mas bem antigo. Como fã de obras de romance, e por ter gostado de outros livros da escritora que possui uma lista enorme de obras publicadas, estava ansioso para iniciar a leitura. Mas, ao abrí-lo, um fato cômico: Caiu, do livro, uma nota datada de 22 de dezembro de 1995, com a seguinte escrita: “Truly one of her most boring books” (verdadeiramente um de seus livros mais entediantes).

Achei a nota hilária porque muitos leitores não gostam das obras de Danielle, considerada pioneira das histórias de romance “melodramáticas”. A nota, um tanto crítica acabou suscitando para mim um tema que particularmente considero importante: Por que as pessoas se acham aptas a julgar alguém pelo seu tipo favorito de leitura?

Gosto de ficção e romance. Li Crepúsculo e não o odiei, diferente da grande parte opinativa da internet (aliás, poucos desses realmente tiraram seu tempo para ler). As pessoas se preocupam demais com a leitura alheia em um país que simplesmente já não gosta de praticar o hábito.

A hipocrisia é imensa, e os números são assustadores. Provavelmente a metade das pessoas que dizem para você que leem assiduamente, não tocam nas páginas por dias. Uma pesquisa realizada em 2009 apontou que 77 milhões de brasileiros não leem livros regularmente. 77 milhões de pessoas preferem assistir sua novelinha, possuir hobbies bem menos úteis e/ou interessantes ou simplesmente encontram uma justificativa para si mesmas sobre a ausência de leituras regulares.

“Não tenho tempo” é a mais comum delas, e a minha favorita. Porque todo mundo que quer, tem tempo. Há dias em que leio poucas páginas, ou um capítulo. Se a necessidade exigir, até menos. Mas sempre tiro um tempo para ler um pouco. Sempre há tempo.

Ao mencionar a nota encontrada em Palomino, não pretendi necessariamente criticar o indivíduo que a escreveu simplesmente pois discordo do gosto literário dele. Pelo contrário. Encontrei-a numa página bem perto do final do mesmo, então posso acreditar que ele ao menos se deu ao trabalho de ler antes de xingar. E é essa a questão. Poder falar com argumentos. A gente não vê isso na grande maioria, infelizmente.

Mas agora: Num país que visivelmente tem preguiça de exercer um dos hábitos mais importantes para o desenvolvimento social e intelectual, por que tanta gente se mete na leitura alheia? Não vejo outra forma de colocar a pergunta.

Xingar sem necessidade um livro, ou o autor, por pior que o mesmo seja, é estupidez. O tempo que se gasta pra fazer piadinhas com a americana Stephenie Meyer (criadora da série Crepúsculo) e suas obras, por exemplo, ia ser muito melhor aproveitado se usado pra incentivar alguém a ler.

Não criei este texto para defender assiduamente obras mais impopulares entre leitores (ou pseudo-leitores), e sim defender aqueles que, assim como eu, as apreciam. Foi graças a séries como esta que muita gente se iniciou na leitura, e leitura sempre vai ser cultura, não importa se é uma revista, um jornal, ou um romance adolescente.

Enquanto terminava este texto, lia Palomino, o livro onde encontrei a nota. Para a minha surpresa, era bom. Como disse anteriormente, o cidadão que escreveu a nota não gostou, mas provavelmente o leu.

Antes de criticar certos livros, todos poderiam fazer o mesmo.

Fonte indicada: Brasil Post

Leia também: E aí, sumida? Por que você jamais deve usar essa frase

Refúgios

Refúgios

Foto Sebastião Salgado

As baleias francas sempre migram para Santa Catarina no inverno, em busca das temperaturas mais adequadas para dar à luz seus filhotes, amamentá-los e nadar lindamente na costa, encantando a todos. Biólogos de outros países, repórteres, estudiosos e turistas se reúnem para ver, ao menos, um pedacinho de suas caudas fluindo pelas águas. Mas nem sempre foi assim. Houve um tempo em que, ao chegar por aqui, eram capturadas e mortas pelos pescadores. Seus imensos ossos serviam até mesmo para construir casas e móveis. O óleo de baleia era comercializado, e a matança era uma prática comum. Hoje, quem visita a paradisíaca Praia do Matadeiro, no Sul da Ilha, pode perguntar a um nativo e saberá sobre isso.

Os movimentos migratórios sempre existiram. De certa forma, somos todos frutos desses tortuosos caminhos. Pude ouvir histórias de meus ancestrais alemães que vieram para o Rio Grande do Sul. Os tempos eram outros, ainda puderam fugir da guerra em grandes navios, carregando baús com seus pertences e até mesmo materiais de construção para as novas casas. Trouxeram suas relíquias e sua cultura, mas sempre com medo. Aqui chegados, nem podiam falar em alemão, porque eram perseguidos. Mas construíram uma rica história e aqui estamos nós, brasileiros, com as raças europeias fluindo no sangue.

Sempre lembro-me do fantástico fotógrafo Sebastião Salgado, quando ouço notícias sobre movimentos migratórios. Na década de 90, ele registrou o fenômeno global de desalojamento em massa de pessoas, no trabalho que chamou de “Êxodos” e “Retratos de Crianças do Êxodo”, publicados em 2000 e aclamados internacionalmente. Com sua sensibilidade e rara dedicação, criou as imagens que mostraram o significado mais amplo do que ocorre nas migrações. “Pessoas fogem das guerras para escapar da morte, migram para melhorar sua sorte, constroem novas vidas em terras estrangeiras, adaptam-se a situações extremas…”, declarava o fotógrafo. “Mais do que nunca, sinto que a raça humana é somente uma. Há diferenças de cores, línguas, culturas e oportunidades, mas os sentimentos e reações das pessoas são semelhantes”, escreveu, na introdução à obra.

Diante das notícias das migrações na atualidade, especialmente do povo sírio buscando melhor sorte na Europa, permito-me voltar a sonhar com meu mundo ideal. Algo que amenize a dor de ver estes seres à deriva, sem dignidade, vítimas de tamanha crueldade e injustiças. Nos meus sonhos, a Terra não tem fronteiras, os lugares não têm donos e todos compartilham o que têm, há um equilíbrio social, baseado unicamente na condição humana. Somos uma mesma raça, a humana, na mesma casa, o planeta. Temos os mesmos sonhos, necessidades, desejos e sentimentos. Um dia, nos meus sonhos, todos encontrarão seu lugar, sem precisar desses tortuosos e mortais caminhos para, então, florescer.

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