Quando vier a primavera – Alberto Caeiro – Fernando Pessoa.

Quando vier a primavera – Alberto Caeiro – Fernando Pessoa.

Quando vier a primavera

Quando vier a Primavera,
Se eu já estiver morto,
As flores florirão da mesma maneira
E as árvores não serão menos verdes que na Primavera passada.
A realidade não precisa de mim.
Sinto uma alegria enorme
Ao pensar que a minha morte não tem importância nenhuma
Se soubesse que amanhã morria
E a Primavera era depois de amanhã,
Morreria contente, porque ela era depois de amanhã.
Se esse é o seu tempo, quando havia ela de vir senão no seu tempo?
Gosto que tudo seja real e que tudo esteja certo;
E gosto porque assim seria, mesmo que eu não gostasse.
Por isso, se morrer agora, morro contente,
Porque tudo é real e tudo está certo.
Podem rezar latim sobre o meu caixão, se quiserem.
Se quiserem, podem dançar e cantar à roda dele.
Não tenho preferências para quando já não puder ter preferências.
O que for, quando for, é que será o que é.

Alberto Caeiro, in “Poemas Inconjuntos”
Heterónimo de Fernando

Interpretação: Pedro Lamares

Disk Denúncia “Ontem ele me beijou e me deixou marcas, mas não eram de batom.”

Disk Denúncia “Ontem ele me beijou e me deixou marcas, mas não eram de batom.”

4 dados sobre violência contra a mulher.

1. 48% das mulheres agredidas declaram que a violência aconteceu em sua própria residência; no caso dos homens.

2. 3 em cada 5 mulheres jovens já sofreram violência em relacionamentos.

3. 56% dos homens admitem que já cometeram alguma dessas formas de agressão:xingou, empurrou, agrediu com palavras, deu tapa, deu soco, impediu de sair de casa, obrigou a fazer sexo.

4. 77% das mulheres que relatam viver em situação de violência sofrem agressões semanal ou diariamente.

São dados retirados do site Compromisso e Atitude

São por essas e tantas outras razões que Nina Oliveira e Gabi da Pele Preta interpretam Disk Denúncia, uma forte canção sobre a cultura de violência contra a mulher que ainda insiste em nossa sociedade.

Regra número 1 da boa convivência: para subir o nível, desça do salto.

Regra número 1 da boa convivência: para subir o nível, desça do salto.

Não importa quanto dinheiro você tenha. Não interessa o quanto você estudou mais que os outros. Valem nada seu sobrenome famoso, seu cargo importante, sua cidadania estrangeira, seus parentes no governo ou seu foro privilegiado. No fim, somando tudo isso o resultado será nada. Está faltando é compaixão entre nós.

Sabe aquela história de inverter os papéis e se colocar no lugar do outro? Essa coisa que a gente chama de empatia, compreensão? Então. De nada adianta se, depois desse exercício de transferência, a gente não se compadece da situação alheia.

Sem compaixão, seguiremos sobrevoando a miséria que julgamos não ser nossa, fingindo seriedade, sem nada fazer a respeito. Tratar o outro como você gostaria de ser tratado se estivesse no lugar dele não é só uma questão de bom senso. É uma prova de decência.

Não é preciso doar toda a sua fortuna para a caridade, não. Mas seria bom um gestozinho nobre aqui, uma mãozinha na consciência ali. Coisa simples, sabe? Já viu como em todo canto há pessoas se achando melhores do que as outras? Sempre tão certas de ter herdado a sabedoria divina, saem por aí maltratando funcionários, prestadores de serviço e outras figuras em “condição inferior” com a única tarefa de desvalorizá-las, enquanto pontificam sua supremacia em clichês como “as oportunidades são iguais para todos”, “sou rico porque trabalhei mais” ou “só vagabundo pede esmola”, esticando até o limite o elástico da generalização.

Será assim mesmo? Eu tenho dúvidas. Grandes e dolorosas dúvidas latejando feito calo. Por exemplo: você já reparou como se comportam certos motoristas no trânsito em relação às pessoas que panfletam folhetos publicitários no semáforo? Se ainda não, eu conto como é: certos motoristas fecham a cara, o vidro e o tempo quando alguém do lado de fora lhes estende um panfleto comercial no semáforo. Isso é chato, feio e desumano. Não custa nada aceitar esse material de bom grado. Não para fazer valer o investimento que alguém fez nesse tipo de propaganda. É pela pessoa que está ali trabalhando.

Antes de argumentar que esses motoristas fecham o vidro por “questão de segurança”, pense. Você sabe muito bem o que significa “contexto”. Em geral, quem distribui folhetos promocionais nos semáforos o faz em horário comercial, à luz do dia. E você também sabe diferenciar uma pessoa “suspeita” de um trabalhador com um maço de papéis na mão distribuindo de carro em carro.

E tudo bem se você não vai comprar apartamento com dois dormitórios e varanda gourmet em ótima localização. Não importa se o que se está divulgando ali não lhe interessa. É só pegar o folheto! E se puder dizer “bom dia”, “boa tarde” e “obrigado” a quem lhe entregar esse material, tanto melhor. Repito. A pessoa está ali trabalhando!

Depois, em casa, você tira os folhetos do carro, joga no lixo reciclável e pronto! É tão simples! Claro que você não tem a obrigação de fazê-lo. Ninguém tem. Mas eu insisto: é tão simples!

Já ouvi dizerem por aí, assim, na maior, que a diferença entre quem está dentro dos carros e quem está fora, panfletando, é o grau de esforço anterior de cada um. Segundo essa generalização esdrúxula, quem está ali fora, sujeitando-se à humilhação imposta por alguns dos que estão dentro, é porque não estudou nem se esforçou o bastante. Típico raciocínio preconceituoso, simplista, superficial e boboca que, aos poucos, vai nos transformando em uma sociedade cínica e incapaz de pensar seus problemas.

As coisas nem sempre são tão simples assim, sabe? Nem sempre se trata do que muitos de nós se acostumaram a chamar de “vitimismo”, enfiando num mesmo balaio todos os cidadãos que, por algum motivo, “não deram certo na vida”.

Agora, e daí se o sujeito que entrega panfletos no semáforo estudou menos que a pessoa de dentro do carro? Isso os torna mesmo diferentes a ponto de um se achar melhor que o outro?

Só para constar, eu já fiz esse tipo de serviço. Distribuí folhetos no semáforo para divulgar um evento em 1994. E não estou me vitimizando, não. Eu estava na faculdade e o dinheiro que ganhei com aquilo na época foi providencial. Levei comigo para a lida o meu irmão caçula, que naquele tempo tinha 15 anos, e ele fez uma graninha também. O que ganhamos panfletando ajudou em nossa casa. Foi um trabalho honesto e que nos ensinou muito sobre a vida e sua gente. Acredite. Eu sei do que estou falando!

Tem gente dentro do carro que olha o panfleteiro como se tivesse acabado de tirá-lo do próprio nariz!

Tem gente que torna o mundo pior assim, aos pouquinhos, fingindo não perceber.

Tem gente que vai achar este texto um mimimi monumental, tão certa de que há coisa mais importante para discutir, tão convencida de que a nossa incapacidade para a empatia e a compaixão nada tem a ver com a intolerância que se espalha por todo canto, tão confortável em cima de seu salto alto.

Mas também tem gente que vai pensar um pouquinho no assunto. Eu agradeço por isso. GRAÇAS A DEUS, tem gente que ainda pensa. Pensemos juntos. Desçamos do salto. Subamos o nível. Está faltando compaixão aqui embaixo.

Os 6 melhores diálogos de Alice no País das Maravilhas, de Lewis Carroll

Os 6 melhores diálogos de Alice no País das Maravilhas, de Lewis Carroll

Por Luisa Bertrami D’Angelo

Continuou sentada, de olhos fechados, e meio que acreditou estar no País das Maravilhas, embora soubesse que bastava abrir os olhos para que tudo se transformasse na realidade monótona… (p. 170-171)

“Meu Deus, meu Deus! Como tudo é esquisito hoje! E ontem tudo era exatamente como de costume. Será que fui eu que mudei à noite? Deixe-me pensar: eu era a mesma quando me levantei hoje de manhã? Estou quase achando que posso me lembrar de me sentir um pouco diferente. Mas se eu não sou a mesma, a próxima pergunta é: ‘Quem é que eu sou?’. Ah, essa é a grande charada!” (p. 26)

“Era muito mais agradável em casa”, pensou a pobre Alice, “quando não vivia crescendo e diminuindo desse jeito, nem recebendo ordens de camundongos e coelhos. Quase gostaria de não ter caído aquela toca de coelho… porém… porém… é bem curioso, sabe, esse tipo de vida! Queria saber o que foi que aconteceu comigo! Quando lia contos de fada, imaginava que essas coisas nunca aconteciam, e agora estou no meio de um deles! E quando crescer, vou escrever um livro… mas já estou crescida agora”, acrescentou num tom triste. “Pelo menos não há mais espaço para crescer neste lugar”.
“Mas neste caso”, pensou Alice, ” nunca vou ficar mais velha do que sou? Por um lado, será um alívio… jamais serei velha… mas, por outro lado… sempre ter lições para aprender! Oh, eu não gostaria disso!” (p. 50)

“Quem é você?”, disse a Lagarta.
Não era um começo de conversa muito estimulante. Alice respondeu um pouco tímida: “Eu… eu… no momento não sei, minha senhora… pelo menos sei quem eu era quando me levantei hoje de manhã, mas acho que devo ter mudado várias vezes desde então”.
“O que você quer dizer?”, disse a Lagarta ríspida. “Explique-se!”
“Acho que infelizmente não posso me explicar, minha senhora”, disse Alice, “porque já não sou eu, entende?”
“Não entendo”, disse a Lagarta.
“Receio não poder me expressar mais claramente”, respondeu Alice muito polida, “pois, para começo de conversa, não entendo a mim mesma. Ter muitos tamanhos num mesmo dia é muito confuso.” (p. 61)

“Gatinho de Cheshire” começou um pouco tímida, pois não sabia se ele gostaria do nome, mas ele abriu ainda mais o sorriso. “Vamos, parece ter gostado até agora”, pensou Alice, e continuou: “Poderia me dizer, por favor, que caminho devo tomar para sair daqui?”
“Isso depende bastante de onde você quer chegar”, disse o Gato.
“O lugar não importa muito…”, disse Alice.
“Então não importa o caminho que você vai tomar”, disse o Gato. (p. 84)

“Nesta direção”, disse o Gato, girando a pata direita, “mora um Chapeleiro. E nesta direção”, apontando com a pata esquerda, “mora uma Lebre de Março. Visite quem você quiser, ambos são loucos.”
“Mas eu não ando com loucos”, observou Alice.
“Oh, você não tem como evitar”, disse o Gato, “somos todos loucos por aqui. Eu sou louco. Você é louca.”
“Como é que sabe que eu sou louca?”, disse Alice.
“Você deve ser”, disse o Gato, “senão não teria vindo pra cá.” (p. 84-85)

Alice suspirou cansada. “Acho que você poderia aproveitar melhor o seu tempo”, disse, “em vez de desperdiçá-lo propondo charadas que não têm resposta.”
“Se você conhecesse o Tempo como eu conheço”, disse o Chapeleiro, “não falaria em desperdiçá-lo, como se fosse uma coisa. É um senhor.”
“Não entendo o que você quer dizer”, disse Alice.
“Claro que não entende!”, disse o Chapeleiro, atirando a cabeça desdenhosamente para trás. “Acho que você nunca sequer falou com o Tempo!”
“Talvez não”, respondeu Alice cautelosamente, “mas sei que tenho de bater o tempo, quando estudo música.”
“Ah! Isso explica tudo”, disse o Chapeleiro. “Ele não suporta ser batido. Agora, se você mantivesse boas relações com o Tempo, ele faria quase tudo o que você quisesse com o relógio. Por exemplo, vamos supor que fossem nove da manhã, bem na hora de começar as aulas. Você só teria de sussurrar uma dica para o Tempo, e o ponteiro giraria num piscar de olhos! Uma e meia, hora do almoço!” (p. 94-95)

Edição: L&PM Pocket, 2007

Quem sofre de ansiedade percebe o mundo de maneira diferente

Quem sofre de ansiedade percebe o mundo de maneira diferente
Por Lindsay Holmes

Não dá para discutir com a ciência: as pessoas não podem ser responsabilizadas por ter doenças mentais.

Quem ainda acredita na ideia antiquada de que doenças mentais são coisas “que só existem na cabeça das pessoas” tem mais um motivo para parar de acreditar nesse mito.

Segundo um novo estudo da revista Current Biology, quem sofre de ansiedade percebe o mundo de um jeito diferente – e isso se explica por variações no cérebro.

Tudo tem a ver com a plasticidade do cérebro, ou a capacidade do órgão de se reorganizar e formar novas conexões. Essas mudanças ditam como a pessoa responde a estímulos, e pesquisadores do Instituto Weizmann de Ciências, de Israel, descobriram que pessoas diagnosticadas com ansiedade têm menos propensão a distinguir entre estímulos “seguros” ou neutros e estímulos ameaçadores.

Os cientistas descobriram que as pessoas que sofrem de ansiedade têm uma plasticidade mais duradoura depois de uma experiência emocional (ou “estímulo”). Isso significa que o cérebro era incapaz de distinguir situações novas e irrelevantes de algo que é familiar e não-ameaçador, resultando em ansiedade. Em outras palavras, as pessoas ansiosas tendem a generalizar demais as experiências emocionais, sejam elas ameaçadoras ou não.

Mais importante, observam os pesquisadores, essa reação não é algo que esteja no controle dos indivíduos ansiosos, porque se trata de uma diferença fundamental do cérebro.

No estudo, os pesquisadores treinaram os indivíduos a associar três sons específicos com um de três resultados possíveis: perder dinheiro, ganhar dinheiro ou ficar na mesma. Na fase seguinte, os participantes ouviram cerca de 15 tons e identificaram se já tinham ouvido os sons antes ou não.

A melhor maneira de “ganhar” o jogo era não confundir ou generalizar os novos sons em relação aos que eles já tinham escutado antes. Os autores descobriram que as pessoas com ansiedade tinham maior propensão a achar que um som novo era uma repetição.

A explicação não está em problemas de aprendizado ou de audição – na realidade, algumas pessoas associaram os sons da primeira fase do estudo a uma experiência emocional (ganhar ou perder dinheiro) de maneira diferente de outros participantes do estudo.

Os pesquisadores também descobriram que, durante o exercício, as pessoas com ansiedade exibiram diferenças na amídala, a região do cérebro associada ao medo. O resultado pode explicar por que algumas pessoas desenvolvem transtorno de ansiedade e outras, não.

“Os traços da ansiedade podem ser completamente normais e até benéficos do ponto de vista da evolução. Mas um evento emocional, mesmo que de pouca importância,pode induzir mudanças no cérebro que podem levar a um transtorno de ansiedade”, disse o pesquisador Rony Paz em um comunicado.

A nova pesquisa é um lembrete de que as pessoas não podem ser responsabilizadas por ter doenças mentais; as evidências indicam que a saúde mental tem raízes genéticas e fisiológicas. Um estudo de 2015 descobriu que a ansiedade pode ser hereditária, enquanto outras pesquisas sugerem que a depressão pode ser uma doença inflamatória.

Entretanto, apesar de um crescente conjunto de pesquisa, ainda as doenças mentais são cercadas por estigma. Segundo os Centros de Prevenção e Controle de Doenças, órgão do governo americano, apenas 25% das pessoas que sofrem de doença mental acreditam que os outros compreendem suas experiências.

A que ponto chegamos?

A que ponto chegamos?

Quando começamos a “nos acostumar” com as movimentações de ódio por todo o país, uma cena apresenta-se ainda mais chocante: a total indiferença com relação ao humano.

Na última quinta-feira (21), após o desabamento da ciclovia da avenida Niemeyer, em São Conrado- Rio de Janeiro, uma imagem postada pelo fotógrafo Felipe Dana emudeceu as pessoas que acompanhavam a tragédia pela internet. Nela, pessoas mantinham sua rotina de atividades e lazer com total indiferença aos corpos estendidos na praia. Tudo parecia seguir tranquilamente como se nada tivesse acontecido, como se ignorar a morte e a dor de nosso semelhante fosse uma opção viável em dia de sol e praia.

contioutra.com - A que ponto chegamos?
Fotografia- Felipe Dana

A violência e a descredilidade pelas quais todos estamos passando e sendo obrigados a conviver, certamente está deixando marcas mais profundas do que as manifestações de ódio com as quais estamos todos tendo que lidar diariamente. Até porque, quando o ódio aparece, algum sentimento está sendo demonstrado. Entretanto, quando as pessoas se colocam totalmente alheias e não apresentam nem mesmo a curiosidade mórbida pelos corpos, a alma da humanidade também sangra e morre.

No ano passado tivemos uma comoção nacional pela morte do cantor sertanejo Cristiano Araújo e essa comoção já foi tratada com desprezo por muitos que diziam que a comoção pública era manipulada e fruto da ignorância do povo. Se não havia justificativa pelo talento ou real conhecimento do cantor, pouco importava, mas havia um sentimento associado, um luto possível onde as pessoas choravam pela perda de alguém, onde se identificavam de alguma forma com uma pessoa humilde que teve sucesso e que teve a vida abreviada. Não foi diferente quando a barragem de Marina se rompeu. Também houve uma cobertura exagerada da mídia. Mas, nessa situação, as pessoas também se sensibilizaram porque viam a dor do outro que perdeu a vida, a casa. Sensibilizam-se porque viram que, frente a algo daquela proporção, ninguém é imune e, assim, enquanto choravam pelo outro, também choravam por suas próprias perdas e medos.

Mas, e quando a indiferença se instala e mais nada aparece?

É impossível não evocar a imagem de um vulcão aparentemente adormecido, mas que na verdade está cheio de lava a pulsar. Quando entrará em erupção? Será que haverá tempo para fuga? Terão as pessoas consciência do tamanho da destrutividade ou serão todas mortas pela ignorância do desconhecido, como aconteceu na cidade italiana de Pompéia, em 79 d.C?

No filme alemão “A Onda”, de 2009, um professor torna-se um líder ditador quando aparece como única forma de organização de um grupo de jovens sem objetivos.

Quando o afeto não é direcionado para vínculos e laços humanos saudáveis, quando as pessoas perdem seus sonhos e não enxergam mais objetivos, sobressaem-se as necessidades básicas pelo prazer imediato ou por algo ou alguém que lhes diga o que fazer, a quem obedecer ou até mesmo a quem odiar. O senso crítico é falho se desconsiderar o humano.

Que a fotografia da morte de dois semelhantes não deixe de ser um retrato educativo do que estamos vivendo, que nossas vidas não sejam em vão a ponto de não nos importarmos mais com aqueles que caem ao nosso lado durante a jornada.

Que possamos perceber que aquele que morre também é parte de nós.

A lava pulsa, espero que seja vista a tempo.

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Outros sites que falaram sobre a foto: O GloboDiário Online, Extra.Globo

Nota: Para quem questionou a veracidade da imagem, no texto há o link do fotógrafo que assina e explica a fotografia. A cena também foi televisionada (na altura dos 20 min é possível ver as pessoas brincando- certamente um dos momentos em que o fotógrafo captou). Entretanto, esse fato ter acontecido não quer dizer que todos foram indiferentes. Sabemos que muitos, provavelmente a maioria, foram solidários. Mas todos sabemos também que as pessoas que convivem com mortes perto de si começam a “se acostumar” a desviar dos corpos e seguir com a vida. É dessa perda de sensibilidade que falo e a reflexão é sobre isso: sobre como a sociedade tem nos empurrado cada vez mais para a falta de humanidade, mesmo que seja como um mecanismo de defesa. Mas há consequências por causa dessa repressão da sensibilidade e da dor e não podemos deixar de refletir sobre isso.

Nota 2:O site e-farsas também já analisou e comprovou a veracidade da imagem.

Mudar exige entrega

Mudar exige entrega

Todo recomeço é como acordar de um sonho, seja ele bom ou ruim. Para cada virada de página há um preço a ser pago, seja com sorrisos ou com lágrimas; com nostalgia ou urgência: qualquer mudança exige entrega.

Às vezes tudo o que temos é um fio, um frágil fio de esperança ao qual temos que nos agarrar para continuar acreditando que o novo virá.

E ele sempre vem.

Quem nunca pensou ter chegado ao fim quando, na verdade, estava apenas começando? Um novo amor, uma nova vida, um novo caminho a ser construído pedra por pedra, tropeço por tropeço. Acreditar na transitoriedade das coisas, taí algo que me conforta quando sinto que estou quase atingindo aquilo que penso ser o fundo do poço.

“Fundo do poço pra quem, cara pálida?”, ouço uma pequena voz dentro de mim reclamar sempre que isso acontece.

Foi essa mesma voz que impulsionou grandes revoluções, levando adiante ideias e planos que para muitos não passavam de tolices, de coisa de gente que viaja demais. Galileu, Einstein, Joyce e tantos outros, todos tinham em comum essa predileção por dar ouvidos ao que essa voz, às vezes tímida e às vezes autoritária, dizia.

É que sonhar não ocupa espaço, pelo contrário; sonhar abre espaço para que mais e mais conquistas sejam possíveis, e não estou falando de troféus pendurados na parede – de nada adianta ter medalhas para polir quando a mente está empoeirada. Portanto, sonhe o impossível até que ele seja possível de olhos abertos.

Não importa o quanto tentemos dizer que não, o novo, esse cavaleiro de armadura reluzente, sempre aparece para nos salvar dos dragões que ameaçam por fim à nossa jornada, à nossa travessia por essa vida que nem sempre é bonita como cantava Gonzaguinha, é verdade, mas que é a única que temos.

A coragem, a que empurra para frente quando o mundo te obriga a ir para trás, é um item raro, quase de colecionador. Não vale a pena esvair-se em desistências por conta do medo do que está por vir, das páginas em branco a serem preenchidas. Não troque o prazer de reinventar-se pela angústia da monotonia. Lembre-se: dexistir (assim mesmo, com x) é opcional.

Somos exploradores por natureza, descendemos de caçadores e coletores que se aventuraram a ir cada vez mais longe, abrindo caminho da escuridão das eras distantes até os dias atuais. Agora mesmo estamos tentando cobrir vastas distâncias da nossa galáxia em busca de respostas e, quem sabe, encontrar algum vizinho espacial dando sopa por aí. “A vida procura por vida”, dizia Carl Sagan.

Então, da próxima vez que pensar em desistir, faça um favor a si mesmo e talvez ao mundo inteiro: pare, respire fundo e ouça atentamente o que essa voz destemida e ancestral tem a lhe dizer.

Poeta descreve a depressão como um colega de quarto

Poeta descreve a depressão como um colega de quarto

Dan Roman é poeta e soube usar metáforas para explicar a depressão por um outro ângulo. Você já tinha visto algo parecido?

É impressionante como algumas pessoas conseguem transformar angústias da própria intimidade em arte. Dan fez isso muito bem: traduziu um sentimento profundo e abstrato em frases simples de entender.

Como ele fala rápido e o vídeo tem legendas, talvez mereça ser visto duas vezes. Entretanto, o resultado é muito bom.

Das vezes que aprendi com um não

Das vezes que aprendi com um não

– Não, você não pode sair com essa roupa, porque não te cai bem, ou está provocativa, ou te engorda, ou me aborrece.

Aprendi a sair como bem entendo, sem pedir opinião ou aprovação.

– Não, você não deve tocar neste assunto, porque vai provocar polêmica, ou porque não é de bom tom, ou incomoda, ou simplesmente não interessa a ninguém.

Aprendi a selecionar com quem trocar ideias e questionamentos.

– Não, você não se enquadra neste cargo, apesar de ter experiência, conhecimento e o perfil adequado, mas estamos procurando alguém mais provocador, impetuoso, ambicioso e tudo mais.

Aprendi que com o tempo, provavelmente eu também estaria procurando algo menos agressivo.

– Não, você não é a pessoa ideal para mim.

Aprendi que correspondência de sentimentos é algo que não se manipula nem se obriga. Que os nãos são a forma mais honesta e delicada que pode haver, sempre preferíveis às mentiras e desculpas covardes.

Mas não, eu não desanimo com esse monte de nãos, e todos os dias constato que eles puseram em outro patamar de raciocínio e pensamento sobre a vida e até onde as pessoas são totalmente isentas de fazer as minhas vontades.

A minha vontade vai esbarrar milhares de vezes com um sonoro não, mas agora ela já consegue fazer a curva, contornar o obstáculo e seguir em frente.

Os nãos que antes soavam como pedras, agora posso reconhecer como boias que não me deixaram afundar em vontades mimadas e incapacidade de lidar com uma contrariedade.

E eles se apresentam todos os dias, delicada ou grosseiramente. Mas aprendi a sorrir para eles e dar passagem para que liberem o caminho que pretendo seguir, cuidadosa mas não rancorosa.

Sobre a Estrutura Borderline, ou Estado-limite

Sobre a Estrutura Borderline, ou Estado-limite

O border não tem uma estrutura organizada pela culpa-castração, não é um neurótico; o border tem uma estrutura organizada pela angústia de perda de objeto. A depressão e o suicídio no border reclamam as lógicas do masoquismo primário, não as lógicas do masoquismo secundário. A este nível do masoquismo primário o border não se situa como uma estrutura conflitual, mas sim como uma estrutura aconflitual, marcada por mecanismos de fuga-evitamento (ao conflito). O border orienta-se no exclusivo sentido da ausência de tensões, portanto, pelas lógicas do masoquismo primário, que estão ao serviço direto de uma pulsão de morte, nunca neutralizada pela gratificação libidinal.

Ao nível da relação o border não pode estar com o objeto (é intolerante à conflitualidade inerente), nem sem o objeto (é intolerante à ausência, pois a perda é uma ferida sempre aberta). O objeto é ausência insuportável e intruzividade intolerável. Este é o dilema border. O objeto de dependência, no lugar de ser aquilo que torna tolerável a pulsão, é aquilo que a torna ainda mais intolerável. O border não pode estar com o objeto, nem sem o objeto. O dramático é pois que, para além de tudo, o border é efetivamente a estrutura mais dependente, aquela que mais necessita do objeto, para que o objeto lhe organize a expêriencia emocional, dada a percaridade das suas capacidades de elaboração-mentalização. O border é extremamente dependente porque necessita do objeto como “segunda pele”. O border procura pensar dentro do outro, porque não pode pensar dentro de si próprio. Vem dai a dependência e o excesso de identificação projetiva, que marcam o seu funcionamento.

Mas, uma vez que o objeto está destinado a conter a marca dos seus próprios interesses pulsionais e, portanto, a marca da dissidência inevitável, está invariavelmente destinado a despertar no sujeito (através da identificação projetiva excessiva), a reactualização projetiva da perda (perda de objeto), sempre revivida como uma rutura brusca e destrutiva, de acordo com o modelo de uma verdadeira revivescência traumática atual.

Esta organização dependente atua num registo de relação dual, com exclusão do terceiro e com um recurso muito ativo a mecanismos de evitamento do conflito (lógica aconflitual). Não há aqui conflitualidade Edipiana. Esta estrutura é analisável, mas não através do modelo da neurose.

Última nota: O border não é neurótico mas é maioritariamente um cidadão comum. Na maioria dos casos estes sujeitos casam, têm filhos, emprego, são professores, engenheiros, pedreiros, empregados de mesa, psicólogos, psiquiatras, pescadores, músicos, etc. Não deliram nem alucinam. A psicose aqui é um mito. Mas a instabilidade afetiva, os ataques de pânico, as fobias, a ansiedade, as adições, as somatizações, os agires, etc., são por seu turno muito comuns.

Não carregue o peso do mundo nos seus ombros

Não carregue o peso do mundo nos seus ombros

O mundo carece de pessoas que se disponham a se colocar no lugar do outro, para que a empatia minimize o egoísmo e a intolerância que lotam as sociedades, afastando-nos uns dos outros. É preciso ter consciência de que cada um age conforme aquilo que possui dentro de si, para podermos acolher o outro em nossas vidas com sinceridade. Porém, não poderemos trazer para dentro de nós o peso de cargas que não nos dizem respeito, ou nos distanciaremos mais e mais do que a vida nos reserva.

É inevitável nos envolvermos de perto com as vidas daqueles que amamos, dividindo com eles alegrias e tristezas, para que os passos de todos encontrem uma tranquilidade que não paralise nem diminua o ritmo de nosso caminhar, sempre em frente, como deve ser. Infelizmente, acabamos por nos tornar ligados ao outro de uma forma tão intensa, que nossa felicidade em muito depende de que nossos queridos também estejam felizes.

Os pais desejam que os filhos estejam bem, assim como os irmãos são cúmplices na manutenção da felicidade. Os sentimentos dos amantes dependem da felicidade do parceiro para que a própria se complete. Verdadeiros amigos, da mesma forma, incomodam-se com os problemas uns dos outros, assim como ocorre com todas as pessoas que se relacionam tendo o amor sincero como sustentáculo.

Para que não nos distanciemos demais do contentamento e dos sorrisos a que temos direito, necessitaremos sempre ter a consciência de que a cada um estão reservadas as consequências de sua forma de agir. Muito do que entrava o caminho das pessoas é resultado do que elas mesmas vêm semeando ao longo da vida. Devemos, sim, estender ajuda, apoiar e clarear os passos de quem caminha conosco, mas jamais tomando como nossa toda carga negativa que o outro atraiu para junto de si.

Caso não consigamos ser solidários sem carregar em nossos ombros os pesos que não são nossos de fato, não conseguiremos ajudar a ninguém, tampouco a nós mesmos. Para que possamos encontrar saídas possíveis aos problemas que afetam os nossos queridos, teremos que primar pela lucidez e pelo equilíbrio de nossos sentidos, ou seremos um peso morto que só atrapalhará ainda mais a vida do outro. Ao menos nós estejamos fortes em meio às tempestades alheias.

Não podemos ser insensíveis, passando por cima de tudo o que à nossa volta parece ruir, tampouco seremos felizes por completo, caso quem amamos esteja passando por problemas. Entretanto, só estaremos aptos a ajudar, quando conseguirmos nos aproximar do próximo e estender as mãos com leveza, para que o tragamos junto à nossa luz, à nossa serenidade tranquilizadora.

Caso contrário, seremos nós sugados pela escuridão alheia, tornando, assim, o alívio e as soluções cada vez mais distantes. Enfim, saber o que é da nossa conta nos tornará mais resistentes e felizes e só assim seremos capazes de ser e de fazer gente mais feliz e confiante.

Às vezes é preciso mandar à merda mesmo- Sílvia Marques

Às vezes é preciso mandar à merda mesmo- Sílvia Marques

Por Sílvia Marques

Infelizmente, algumas pessoas param de encher o saco apenas quando são tratadas com firmeza e um pouco de ironia. Caso contrário continuam se achando as maravilhosas do pedaço.

Como defendi em muitos artigos e defendo vigorosamente em minha vida cotidiana e banal, a generosidade e a gentileza devem ser palavras de ordem. Dizer bom dia, boa tarde, boa noite, sorrir, acenar, falar obrigado e por favor, pronunciar um elogio sincero fazem bem para os outros e para nós mesmos.

Por outro lado, paciência tem limites e bondade não é sinônimo de burrice. Às vezes é preciso mandar ir à merda mesmo, alto e em bom som caso a pessoa em questão não escute direito ou tenha problemas para abstrair.

Ninguém é obrigado a pensar como ninguém, mas ninguém precisa destilar suas verdades como o mais vil veneno. Ninguém é obrigado a simpatizar com ninguém, mas ninguém tem o direito de jogar tal antipatia na cara dos outros. Mas se por acaso alguém desrespeita a opinião alheia, dá um show de antipatia ou esculhamba por falta de coisa melhor para fazer ou simplesmente para se sentir menos péssimo consigo mesmo, deve preparar-se para ir à merda.

Muita gente acha que é falta de educação dar respostas malcriadas para gente sem noção, que se sente dona da verdade, que quer convencer os outros com argumentos baixos, que finge não entender para criar polêmica. Acho que a pessoa perde o direito de ser tratada com educação quando ela é propositadamente idiota.

Infelizmente, algumas pessoas param de encher o saco apenas quando são tratadas com firmeza e um pouco de ironia. Caso contrário continuam se achando as maravilhosas do pedaço. Acham-se poderosas e assertivas por dizerem palavras ofensivas. Para mim estas pessoas inconvenientes, pretensiosas, que vomitam suas lindas verdades sem filtros têm preguiça mental porque discordar com classe e educação exige um trabalho intelectual muito mais elaborado e cuidadoso do que simplesmente exibir o seu acervo de grosserias.

Mandar ir à merda não significa necessariamente usar estas palavras. Às vezes mandamos à merda com um olhar de desprezo, com uma resposta irônica ou apenas com um constrangedor silêncio. Um e-mail não respondido, um convite não aceito podem ser formas bem eloquentes de mandar ir à merda. Não quero dizer que toda vez que não respondem a um e-mail nosso, estão nos mandando ir à merda. Às vezes a pessoa em questão não respondeu porque está num mau momento. O mesmo se refere a convites. Mas quando alguém começa a nos evitar de forma sistemática, ela provavelmente está nos mandando ir à merda. Às vezes com motivo, às vezes sem motivo. Não entrarei nesta questão.

O que desejo ressaltar é que não precisamos engolir tudo. Não precisamos levar na cara e achar normal. Ninguém é saco de pancada de ninguém. E se alguém se sente no direito de transformar os outros em sua válvula de escape para o estresse do dia a dia , mande à merda sem a menor cerimônia.

Digo mais: quando o idiota em questão for você mesmo, mande a sua insegurança e os seus traumas e manias irem à merda também. Seu lado medroso está te privando de um prazer delicioso? Mande-se à merda! As suas manias estão roubando o seu tempo livre e o seu bom humor? Mande-se à merda! O seu passado triste está atrapalhando o seu presente? Mande-se à merda juntamente com quem te ajudou a ferrar o seu passado! Pode ser bem divertido!

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Vídeo mostra como crianças com autismo vivenciam sobrecarga sensorial

Vídeo mostra como crianças com autismo vivenciam sobrecarga sensorial

Entenda:
Muitas crianças com autismo podem apresentar uma condição co-existente com autismo conhecida como Disfunção de Integração Sensorial e às vezes podem sofrer uma sobrecarga sensorial aguda. Esse problema acontece quando recebem muita estimulação sensorial, como se fossem um computador tentando processar muitos dados e, por consequência, superaquecendo.

O vídeo:
Para ajudar as pessoas a compreenderem como o autista “sente” o mundo, a The National Autistic Society, instituição de caridade voltada para o autismo que atua no Reino Unido, criou um novo projeto em vídeo que mostra como algumas pessoa com autismo reagem em situações em que há excesso de estímulos, como em um shopping…

O vídeo ganhou o nome de “Você pode fazer isso até o fim?” (“Can you make it to the end?” ), *tradução livre) e mostra como é desafiador um simples Passeio ao shopping.

O vídeo da uma sensação de compreensão maior de como é a visão do próprio autista ao ambiente, permitindo que o espectador uma clareza melhor de cada estimulo recebido, e logo no fim do vídeo o desabafo do menino que emociona: “Eu não sou desobediente, eu sou autista”.

Legenda: Entenda o autismo, a pessoa e o que fazer. Eu não sou impertinente. Eu sou autista. Para as pessoas autistas como eu, o mundo pode ser um lugar assustador. Às vezes soa e sinto que minha cabeça está explodindo. A Roupa sinto que minha pele está queimando. E quando uma coisa pequenas mudanças, parece que meu mundo está acabando. Às vezes recebo muita informação. E se você só vê um garoto travesso, você não aprendeu o suficiente.

#AutismTMI Aviso: este filme contém luzes que piscam, cores brilhantes e alto, ruídos repentinos

O que faz um casamento feliz não é a sorte. É o amor dos noivos.

O que faz um casamento feliz não é a sorte. É o amor dos noivos.

Então alguém decide se casar. De repente, no meio de tanta gente bagunçando a vida, uns se odiando aqui, outros tentando agradar todo mundo ali, alguém é capaz de um gesto simples, verdadeiro e bom: olhando nos olhos do ser amado, pede-lhe a mão em casamento, ouve um “sim” emocionado e pronto. O mundo ficou mais bonito.

Porque você sabe: o que deixa o mundo mais bonito não são as grandes resoluções políticas inalcançáveis, os programas sociais do governo, as decisões restritas a poucas mãos, a boa vontade dos líderes mundiais ou a vaidade dos gatos pingados nadando em dinheiro que, de quando em vez, decidem distribuir cestas básicas para aplacar sua consciência. Isso até ajuda, mas não basta. O que deixa tudo melhor mesmo é o amor.

Quem faz das suas por um mundo justo, inclusivo, tolerante e livre nem sempre são super-heróis, empresários bilionários, filantropos poderosos. São pessoas que amam a vida e sua gente. Assim, de amar o que fazem e o que são, elas vão fazendo a coisa entrar nos eixos.

E me perdoem os céticos, mas eu ainda acho que casar é uma boa forma de praticar amor. Quando alguém se casa, desafiando todos os motivos contrários, os conselhos pessimistas, as piadas que transformaram o matrimônio em tortura, alguma coisa pequenininha acende aqui dentro de mim. É uma emoção sem nome, mistura de alegria e de coragem, de respeito e de esperança. Alguém vai se casar porque sente amor!

Confesso. Eu sou dessa gente que chora em casamento. Não é o tipo da coisa que se diga numa entrevista de emprego. Uma entrevistadora muito séria e competente vai anotar na sua ficha: “desequilibrado emocional”. Mas como aqui ninguém está avaliando o currículo de ninguém, eu repito. Choro de olhar os noivos vivendo seu sonho, os sogros e as sogras se dando conta de que suas crianças cresceram e agora vão ganhar o mundo, as madrinhas borrando a maquiagem, as daminhas bagunçando a igreja, correndo pelo salão, enchendo a cerimônia de festa infantil, como o futuro que se anuncia leve, divertido e feliz. O futuro falando com voz de criança.

Nessa hora eu choro mesmo. Eu, que conheci a felicidade conjugal por duas vezes mas até agora não tive uma cerimônia de casamento, choro de ver gente casando. É choro de alegria. Aquela alegria segura de saber que dali em diante, enquanto tudo acontecer lá fora, os noivos estarão juntos. No frio e no calor, na chuva e no sol. Na música, no silêncio. Na dor, no prazer. No trabalho ou na falta dele, na luta de cada dia, na presença e na saudade, na chegada e na partida, quem se casa escolhe viver em paz nesse tempo tão afeito ao conflito. Não é pouco, não.

A todas as pessoas que decidem ficar juntas, se amando, se ajudando, trabalhando e cooperando por seu amor, vai aqui minha gratidão. Obrigado por deixarem o mundo mais bonito. Que a vida se transforme numa festa sem fim e a felicidade lhes seja franca, farta, generosa e lírica como as cantoras de ópera.

E a nós, que de olhar pessoas queridas se casando enchemos os olhos d’água e o coração de alegria, que os intervalos entre uma festa e outra sejam sempre e cada vez menores. Esse mundo anda mesmo carecido de amor e beleza.

(para os noivos Bruno e Daniela, doravante Senhor e Senhora Marte)

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