Das vezes que aprendi com um não

– Não, você não pode sair com essa roupa, porque não te cai bem, ou está provocativa, ou te engorda, ou me aborrece.

Aprendi a sair como bem entendo, sem pedir opinião ou aprovação.

– Não, você não deve tocar neste assunto, porque vai provocar polêmica, ou porque não é de bom tom, ou incomoda, ou simplesmente não interessa a ninguém.

Aprendi a selecionar com quem trocar ideias e questionamentos.

– Não, você não se enquadra neste cargo, apesar de ter experiência, conhecimento e o perfil adequado, mas estamos procurando alguém mais provocador, impetuoso, ambicioso e tudo mais.

Aprendi que com o tempo, provavelmente eu também estaria procurando algo menos agressivo.

– Não, você não é a pessoa ideal para mim.

Aprendi que correspondência de sentimentos é algo que não se manipula nem se obriga. Que os nãos são a forma mais honesta e delicada que pode haver, sempre preferíveis às mentiras e desculpas covardes.

Mas não, eu não desanimo com esse monte de nãos, e todos os dias constato que eles puseram em outro patamar de raciocínio e pensamento sobre a vida e até onde as pessoas são totalmente isentas de fazer as minhas vontades.

A minha vontade vai esbarrar milhares de vezes com um sonoro não, mas agora ela já consegue fazer a curva, contornar o obstáculo e seguir em frente.

Os nãos que antes soavam como pedras, agora posso reconhecer como boias que não me deixaram afundar em vontades mimadas e incapacidade de lidar com uma contrariedade.

E eles se apresentam todos os dias, delicada ou grosseiramente. Mas aprendi a sorrir para eles e dar passagem para que liberem o caminho que pretendo seguir, cuidadosa mas não rancorosa.







Administradora, dona de casa e da própria vida, gateira, escreve com muito prazer e pretende somente se (des)cobrir com palavras. As ditas, as escritas, as cantadas e até as caladas.