“Síndrome do Sofrimento Posterior”

“Síndrome do Sofrimento Posterior”

Por Ester Chaves

Sofro da “Síndrome do Sofrimento Posterior”. Lido bem com as situações de crise, desde que eu tenha liberdade suficiente para chorar depois. Na hora do acontecimento, mantenho a calma, raciocínio devagar, controlo a respiração, faço o que for preciso sem afobação.

Ajudo o doente, ligo para o hospital com a maior destreza do mundo. Aviso a família com a cautela que previne o susto. Passo o café. Escondo o tremor da voz. Atendo todas as ligações e conto a mesma história quinhentas e setenta e sete vezes com paciência de monge. Distribuo água, digo as palavras certas, acalmo os desesperados, consolo os tristes e fico atenta a cada movimento do doente até o socorro chegar. Cumpro todas as etapas com louvor. Os braços se multiplicam para alcançar os que choram ao meu lado. Dissolvo as lágrimas de tanto apertá-las contra as paredes da retina. Não posso me desmanchar antes de receber a notícia de que tudo não passou de um susto, e que agora já é possível desembrulhar os cobertores e dormir em paz.

O paciente recebe alta, se liberta das gazes, das parafernálias que o prendem ao soro e eu sento e choro desesperadamente. Choro o susto atrasado, sofro com as lágrimas que amarrotaram as faces dos amigos, com os olhares apreensivos na sala de espera.
Sofro o déjà-vu da notícia, o flasback do sinistro, mesmo sem querer. Sem programar. Sem procurar por isso. A repetição é automática. Por mais que eu me previna tentando não ceder, dou de cara com a reconstituição da quase tragédia. O susto de antes vira o fantasma de agora, e não consigo dar corda na noite. Sonhar é impossível. Cochilo e lá vem o “making of” do filme ruim, a lágrima desce espessa e o soluço acompanha o cortejo do sofrimento posterior. Vejo todos os rostos envolvidos voltando para casa depois do dia difícil. As vozes se despedindo calmas, os abraços cercando os corpos e as carícias adornando os adeuses. O meu quarto vira ala de hospital; ouço o barulho das macas no corredor, as conversas das enfermeiras que cochicham sobre a medicação do paciente do quarto x…. tudo se agiganta dentro da minha mente insone.

Ouço todos os sons com uma nitidez absurda. A dor do paciente que precisa de remédio para adormecer afugenta meu sonho. Consigo ouvir o soro pingando. Sofro por ele, aquele senhor que ficou sozinho. Penso naquela moça que ia fazer o exame decisivo. Será que alguém da família apareceu para acompanhá-la? E se ela não tiver ninguém? Recupero todas as fisionomias, os prontuários de todos os pacientes.

Fico impaciente por só poder rebobinar os eventos e não ter acesso à edição. Quero eliminar as dores, botar uma alegria bonita no rosto daquela gente que só conheci de passagem, mas que deixou em mim dores de uma vida inteira.
Sei que o sofrimento transitório me faz pensar nos que o tem diariamente, como um membro do qual não podem se livrar. O dia amanhece lento, manchado com a agonia da noite anterior. Aos poucos, os uniformes brancos vão se dispersando no clarão que invade a janela, as lágrimas secam no varal do meu rosto cansado. Os dias sacodem as memórias hospitalares. Começo a “Campanha de Prevenção contra novos Sustos”, e tento, na medida do possível, aguardar com serenidade que nada mais aconteça.

SSP – “Síndrome do Sofrimento Posterior” – Ester Chaves

O estatuto estrutural e psicopatológico dos estados-limite (os borders)

O estatuto estrutural e psicopatológico dos estados-limite (os borders)

Por motivos que compreenderão, este texto poderá assumir particular importância para os psicólogos dinâmicos (ou psicanalíticos) mais jovens e menos experientes, não deixando de levantar pontos de reflexão que poderão também interessar aos mais experientes.

A argumentação apresentada fundamenta a posição pessoal do autor sobre esta matéria, sendo nessa medida que deve ser recebida. Contudo, tratando-se talvez do mais vasto e atual tema psicanalítico, será aqui apenas parcialmente abordado. Muito mais há para dizer sobre ele.

Os estados-limite (os border) são predominantemente definidos de uma forma simplista e algo enganosa, como sujeitos cujo funcionamento mental e relacional oscila entre a neurose e a psicose. É esta esta mal-interpretação, ou esta interpretação notoriamente insuficiente e naive, muitas vezes academicamente difundida, dos contributos dos autores consagrados que investigaram aprofundadamente estes casos — tais como, por exemplo, Otto Kernberg, Jean Bergeret ou André Green –, que faz com que muitos psicólogos fiquem à espera do dia em que lhes entre pela porta do consultório um aparatoso estado-limite (um borderline), apresentando um funcionamento em registo neurótico, pautado por insidiosos acessos delirantes, na forma de verdadeiras descompensações psicóticas. É claro que, regra geral, digamos assim, ainda hoje lá estão, à espera.

Entretanto, enquanto esperam, é provável que tenham um bom número de estados-limite sentados no sofá em frente a si, os quais são tomados por neuróticos, quer porque a sua história de vida se encontra destituída da exuberância patológica esperada (os episódios psicóticos), quer também porque frequentemente confundem os funcionamentos organizados através de mecanismos de defesa de natureza pré-edipiana, baseados no evitamento do conflito (estados-limite), com os funcionamentos organizados através de mecanismos de defesa verdadeiramente conflituais e, como tal, edipianos (neuróticos). Neste estado de coisas, a frequente ausência de deslize técnico, da neurose para o estado limite, faz com que ainda hoje a questão das “reações terapêuticas negativas”, que outrora tanto intrigaram Freud, represente um tema em aberto e atual.

Mas é, efetivamente, a procura de sintomas psicóticos no estado-limite, a principal fonte de confusão diagnóstica, entre estes e os neuróticos. Não apresentando sintomas psicóticos evidentes, os estados-limite são frequentemente tomados por neuróticos. Na verdade a questão da sintomatologia psicótica nos estados-limite é baseada em casos raros, cujo diagnóstico é sempre questionável. Não obstante a exceção possa fazer aqui a regra, contudo, confundir a exceção com a regra, que é o que acontece, é obviamente problemático.

André Green, por exemplo, no âmbito dos processos que designa a titulo do “trabalho do negativo”, considera que o recalcamento, que é a defesa prototípica do funcionamento mental dito normal-neurótico, pode sofrer variações distintas, sendo a sua ação substituída pela de outros mecanismos mais primitivos. Assim, nas neuroses o mecanismo de defesa central, ao qual os restantes se subjugam, é o recalcamento; nas psicoses é a exclusão que ocupa este lugar central; e nos estados-limite é a recusa (recusa da realidade psíquica, interna, sempre associada às defesas pela realidade externa e à clivagem entre o interno e o externo). O que este autor considera é então que existem três grandes estruturas de funcionamento mental: as neuroses, as psicoses e os estados-limite. Cada estrutura de funcionamento mental é uma organização estável e definitiva, estruturada através de mecanismos que lhe são próprios, claramente distintos dos mecanismos das outras estruturas.

Deste modo, considerar que existe um funcionamento neurótico (organizado pelo recalcamento) e um funcionamento psicótico (organizado pela exclusão), a operar à vez, dentro de um funcionamento estado-limite (organizado pela recusa), é aparatosamente confuso, para não dizer totalmente disparatado e absolutamente incoerente, já que o recalcamento, a negação e a recusa não podem operar simultaneamente no mesmo sujeito, nem à vez. Para assistirmos à ação destes três mecanismos de defesa centrais, necessitamos, obviamente, de pelo menos três sujeitos, e não de um. Ou não?

Mesmo Otto Kernberg, que por ventura é, como saberão, um dos principais responsáveis pela disseminação do gênero de ideias em debate (a sintomatologia psicótica nos estados-limite), deve ser aqui adequadamente interpretado. Este autor refere pois que os estados-limite se caracterizam pelo recurso a mecanismos de defesa primitivos, mas não diz que estes mecanismos são exclusivamente psicóticos e exuberantes, considerado sim que geralmente eles operam subtilmente, a par da manutenção da prova da realidade, pois os estados-limite, contrariamente aos psicóticos, não perdem a realidade.

Mas é precisamente neste ponto, a manutenção da prova da realidade, que os estados-limite se assemelham aos neuróticos, com os quais são frequentemente confundidos, não só devido a esta semelhança, mas também porque os mecanismos de defesa primitivos a que recorrem, regra geral e a bem da verdade, não apresentam aquela esperada exuberância psicótica.

Jean Bergeret, para dar outro gênero de exemplo, considera que a instância do aparelho psíquico que domina no funcionamento mental dos estados-limite não é o super-ego, como no caso das neuroses — pois nos estados-limite, para além da declarada fragilidade do ego, o super-ego não chega a constituir-se –, mas sim o ideal de ego, que é um herdeiro direto do narcisismo, declarando-se então uma lógica em que o objeto é apreendido na esfera da relação dual (especular e dependente), devendo antes demais servir funções de salvaguarda do narcisismo do sujeito. Neste âmbito o objeto é então convocado para desempenhar as funções de ego e super-ego auxiliares. Esta relação dual (especular) situa-se naturalmente aquém da constelação triangular edipiana. Efetivamente, o funcionamento mental dos estados-limite, diferentemente do funcionamento mental dos neuróticos, não é organizado pela culpa-castração (agenciadas por um super-ego dominante), mas sim pela angústia de perda de objeto.

Regressando a André Green, a folie privée (loucura privada) do estado-limite, sendo algo que efetivamente traduz a proximidade de um núcleo psicótico, revela-se apenas na intimidade da relação transferencial, o que não significa que aí se exiba de modo exuberante e imediatamente identificável e muito menos delirante. Lá fora, contudo, maioritariamente estes sujeitos são, digamos assim, quase como os outros, capazes de assumir as suas funções e responsabilidades em sociedade, sem apresentarem qualquer tipo de exuberância patológica evidente.

Em todo o caso, a folie privée traduz-se numa encenação transferencial em que o que se revela é o desespero associado a uma trama sado-masoquista, que visa organizar a relação com um objeto de intensa dependência, para não o perder (angústia de perda de objeto). Nesta trama sado-masoquista o objeto é paradoxalmente apreendido, quer como ausência insuportável (dada a perda ser uma ferida sempre aberta), quer como introsividade intolerável (dada a intolerância aos interesses pulsionais divergentes, próprios do objeto). Eis então o dilema border, polarizado na relação de dependência com um objeto que é procurado como uma “segunda pele”, onde o sujeito possa organizar a sua experiência emocional, estando este intuito obviamente destinado ao fracasso.

Esta folie essentielle du moi (loucura essencial do eu), assume pois uma trama bem distinta da trama efetivamente psicótica, na qual o objeto não é procurado e nem sequer se encontra em causa, já que o psicótico, digamos assim, através do delírio e da alucinação, renasce de si mesmo e reconstitui-se radicalmente como um sistema fechado, declaradamente auto-suficiente, do ponto de vista do funcionamento mental.

Efetivamente, para além do que já foi dito, os estados-limite apresentam uma polissemia sintomática estonteante, que não versa propriamente sobre delírios e alucinações. Não os querendo excluir (os delírios e as alucinações), repito-me, eles configuram efetivamente casos raros, cujo diagnóstico é sempre questionável. Por outro lado, em caso efetivo, sendo sintomas raros, devemos ter em conta que se a exceção faz a regra, a primeira (a exceção) não pode nunca ser confundida com a segunda (a regra).

Por fim, a polissemia sintomática do estado-limite abarca efetivamente uma diversidade vasta e multifacetada, de natureza não psicótica, nem neurótica, mas sim dotada de características definitórias de um estatuto estrutural próprio: a instabilidade afetiva acentuada, as fobias (enquanto condições associadas ao desamparo-dependência), os ataques de pânico, a hipocondria, as adições, as condições psicossomáticas, as depressões, os agires (o acting-out, mormente sexual e/ou agressivo, auto ou hetero-dirigido), etc.

Sendo certo que os sujeitos sobre os quais nos debruçamos aqui, representam uma percentagem altamente significativa da população clínica (facto que aparenta passar frequentemente desapercebido); tendo em conta a argumentação apresentada e a sintomatologia finalmente descrita, resta agora olhar atentamente para aqueles que, dentro dos nossos consultórios, se sentam no sofá em frente a nós.

Dica de Livro: A Soma de Todos os Afetos

Dica de Livro: A Soma de Todos os Afetos

Por Josie Conti

“Há um texto atribuído à Malba Taham que apresenta a origem da palavra “sincera”:
“Os romanos fabricavam certos vasos de uma cera especial. Essa cera era, às vezes tão pura e perfeita que os vasos se tornavam transparentes. Em alguns casos, chegava-se a se distinguir um objeto um colar, uma pulseira ou um dado, que estivesse colocado no interior do vaso. Para o vaso, assim fino e límpido, dizia o romano vaidoso:
– Como é lindo… Parece até que não tem cera!

“Sine-cera ” queria dizer “sem cera”, uma qualidade de vaso perfeito, finíssimo, delicado, que deixava ver através de suas paredes. E da antiga cerâmica romana, o vocábulo passou a ter um significado muito mais elevado.

Sincero, é aquele que é franco, leal, verdadeiro, que não oculta, que não usa disfarces, malícias ou dissimulações.

O sincero, à semelhança do vaso, deixa ver através de suas palavras, os nobres sentimentos de seu coração.”

“Sine-cera”, então, tornou-se para mim a definição perfeita quando pensei em falar do livro “A Soma de Todos os Afetos”, da escritora Fabíola Simões, que, em mais de 100 crônicas, apresenta uma coletânea de sentimentos e percepções da vida tão delicadamente desenhados que poderia ser indicado não só para as pessoas que carregam interesse lá pelo mundo de dentro, mas também àqueles que precisam entender e conhecer particularidades do processo de crescimento e maturação emocional do ser humano.

Tradutora de emoções, a prosa poética apresentada pela autora é um espelho de prata para pessoas sensíveis. É um toque de vida aos que procuram explicações que deem sentidos aos sentir. É mãe que assopra a ferida do filho que caiu da bicicleta.

O reencontro consigo e o amor pelos seus é tão intenso nas palavras da autora que transforma letras em risos, frases em lágrimas, textos completos em suspiros. Seus parágrafos têm cor e cheiro. O livro todo é um grande e terno abraço de reconciliação com a maturidade que a vida proporciona.

Como não querer ler crônicas que têm como título “O tempo da delicadeza”,  “O que a memória ama fica eterno” ou “A gente tem que continuar”? Os textos apresentados trazem a poética do que é essencial, do cotidiano dos afetos e do que dá sentido a continuidade da jornada.

É muito gratificante poder dizer que Fabíola Simões é certamente uma das melhores cronistas dessa geração, pois tem a capacidade de conciliar conteúdo de extrema qualidade à beleza estética de sua escrita. Afinal, a perfeição não mora longe da simplicidade.
Definitivamente um livro para ler, reler e presentear a quem amamos.”

 

Para adquirir o livro “A Soma de Todos os Afetos”, de Fabíola Simões, clique aqui: “Livro A Soma de todos os Afetos”

Paciência com os apaixonados, eles não sabem o que fazem

Paciência com os apaixonados, eles não sabem o que fazem

Paixão deveria ser classificada como doença de tão forte que é. Doença com dois subtipos: correspondida e não correspondida. Causa: desconhecida. Pode acometer pessoas solteiras e comprometidas, não importa idade, sexo ou classe social. Vem sem avisar e nunca se sabe seu gatilho.

Os doentes de paixão, ou apaixonados, tem como primeiro sintoma a perda de si mesmos nos mais profundos devaneios. Esquecem-se da vida e não conseguem distinguir o real do irreal. Não controlam os próprios impulsos. Sofrem de insônia, alteração de apetite, taquicardia e tremedeira. Sentem borboletas no estômago, nó na garganta e, nos casos mais graves, até na cabeça. A ansiedade chega a assustar.

E não venha me dizer que isso é coisa de gente sentimental. Queria eu que fosse, mas essa doença atinge até os mais lógicos e esses, coitados, sofrem ainda mais ao perceberem que perderam o controle do próprio cérebro. Algo mais forte tomou as rédeas. Não importa o grau de maestria anterior que o sujeito tinha no equilíbrio emoção versus razão, apaixonados de verdade, todos perdem a noção.

E essa tal paixão tem sempre um alvo. Uma pessoa qualquer. Às vezes, uma pessoa tão qualquer que não entendemos o motivo de tanto deslumbre. E nem precisa ser aquela pessoa ideal. Não! Isso porque a paixão tem um sério sintoma: a negação. Negação dos defeitos do outro, negação da realidade, negação da situação. Você chega a negar que está apaixonado. E você se nega a assumir que só ouve a mesma música mil vezes para despertar na sua mente a lembrança do gatilho. E quando a música não faz mais efeito, é necessário achar outra. É necessário manter o outro na lembrança e reviver coisas que aconteceram (ou que você mesmo criou), só pra sentir todos os sintomas novamente.

Sim, a paixão talvez seja uma das poucas doenças que te viciam. Ao mesmo tempo em que você quer estar curado, você quer sentir tudo aquilo de novo. Afinal, mesmo sofrendo (no caso da não correspondida), a vida parece ter mais graça, mais cor, mais intensidade. Normalmente, a vida é tão parada. A paixão sacode tudo e ela te convence que é mais legal viver assim. O problema é que a paixão não tem sentido. Só pode ser algo químico. Uma química daquelas bem carnais.

Tenho a impressão de que os maiores artistas eram aqueles que mais se apaixonavam. A paixão desperta a criatividade, deixa tudo a flor da pele, pois existe certa urgência em espalhar amor e ardor por ai. Nesse sentido, a não correspondida chega até a ser útil: já que a atenção não pode ir para o bendito gatilho, que vá para o universo. Mas é preciso ir para algum lugar. Paixão não consegue ficar guardada, ela explode. Paixão precisa virar música, poesia, texto, pintura, suor, abraço, riso e choro (muito choro). Paixão transborda, faz passar vergonha, faz querer viver e morrer ao mesmo tempo. Viver de paixão e morrer apaixonado, dois extremos, uma montanha-russa de emoção.

Depois de tanta paixão, fica aquela pergunta: “Mas e a cura?”. Olha… Se eu soubesse! Infelizmente (ou não), não há. Há quem diga que uma boa dose de amor-próprio ajude a amenizar a tendência a atitudes vergonhosas. Que um bom par de ouvidos amigo alivie toda urgência em se expor (recomendam-se até mesmo vários deles, pois não há quem aguente tanto nonsense).

É preciso deixar fluir de alguma forma, de preferência com algo construtivo. É preciso aceitar a dor e reconhecer-se como alguém realmente em tratamento. Não há fuga. É dentro. É fundo. É preciso ser sincero consigo mesmo. É necessário ter compaixão própria, abraçar-se e dizer “Sei que você andou descontrolado, mas tudo bem! Quem nunca?”. No fim, só mesmo o tempo. O tempo tudo cura. Parece clichê, mas só um clichê para combater outro que existe desde que o mundo é mundo.

Quando o amor vira só uma ideia mal feita

Quando o amor vira só uma ideia mal feita

Eu sei que dói mais do que eu possivelmente conseguiria imaginar. Você diria: “você não entende”. E ninguém entende. Ninguém vai entender o que é gostar de alguém por tanto tempo, esperar alguém por tanto tempo nesse misto de esperança e desespero. Eu não sei pelo que vocês passaram, mas ouvi dizer que ele conseguia quase ler seus pensamentos. Devolvia toda afirmação com uma pergunta e era sempre sagaz demais para você provar o quanto você também é inteligente. No fundo, ele sabe o quanto você é foda também, mas, mesmo assim, ele não a quis. Ele podia escolhê-la entre todas elas, mas não escolheu.

Não foi por falta de aviso. Por mais que ninguém tenha falado nada, ele sabia que você estava lá. Você acha que não foi clara, mas foi. Ele sabe de tudo. Mas o amor é uma semente que você planta esperando que nasça um pé de feijão no algodão e, de repente, ele vira uma árvore, com raízes fortes, que lhe fazem abrir as janelas e arrancar o telhado, para ele se fixar no seu peito. E, depois que ele vira árvore, fica difícil mesmo tirá-lo de lá. Ele não é amor mais, é uma erva daninha, que vai se fixando nas entranhas e fazendo você ficar fraco, fraco, fraco.

Mas a culpa não é do amor. A culpa é sua, que não foi forte o suficiente para conseguir arrancar as raízes quando elas ainda eram fracas, mas você nem se lembra em que momento elas foram fracas, né? Você acha que ele sempre foi esse tsunami gigante que a afogava toda vez que os olhos se cruzavam.

E talvez nem tenha mais nada para ser dito. Já foi tudo dito aquele dia, mas você insiste em continuar parafraseando a história de vocês, como se ninguém soubesse de nada. Você não sabe disfarçar muito bem. Desculpa falar isso assim, na lata, mas você precisa saber. Não vou dizer que ele não é tudo isso, porque não estou aqui para convencê-la de que você é melhor do que ninguém. Mas, talvez, essa sua angústia já tenha se transformado quase numa obsessão, não acha, não? Já passou tanto tempo. A pessoa de que você gostava nem existe mais. Ele mudou muito. Com você, talvez ele ainda seja o mesmo e você acha que conhece o interior dele melhor do que ninguém, porque passaram umas tardes juntos e vararam a noite conversando sobre como as pessoas são vazias. Mas isso não quer dizer nada. Ele já está em outra e você aí. Eu sei, parece que ele a provoca, às vezes. Fica de olhando de rabo de olho, manda umas mensagens no meio do nada.

Sabe, ele também é inseguro. E ele gosta de saber que você gosta dele. Mas isso não quer dizer que ele goste de você. Ele gosta de se sentir gostado. Quem não? Mas acontece que nem você sabe mais o que sente por ele. Um misto de ódio, de amor, de paixão, de saudade. De ter alguém que a entenda tão bem. Você nunca encontrou alguém assim. E nem vai, porque a gente condiciona nossa própria realidade. Uma ideia é um ser vivo que você coloca na cabeça e ele vai crescendo e dominando todos os seus pensamentos, todo o seu coração e fica quase impossível tirar aquilo de lá. Mas a verdade é que esse amor é só uma ideia que se instaurou por todos os poros e agora você não consegue ver nada e nem ninguém além.

Eu posso estar viajando, mas eu a conheço bem para saber que você tem muito medo de se machucar. Talvez você esteja assim, porque tem medo de descobrir que realmente existe alguém melhor do que ele. Você tem medo de destruir essa fantasia que, de tanto incomodar, já a deixa confortável.

Em todos os relacionamentos, você sempre queria se sentir no controle de tudo, como se a gente fosse capaz de controlar as pessoas. A gente não controla as pessoas, a gente não tem poder nenhum sobre elas, mas dá para controlar nossas escolhas. Eu sei que o que vocês viveram foi incrível e tal, mas não precisa ficar inventando fantasias pra o que poderia ter sido ou que poderia ser. O amor é bom quando ele é fácil, encaixa-se, embola-se, não precisa de prova e nem de história. E, se existir alguma possibilidade de vocês ainda viverem algo juntos, você vai estar tão imersa nessa sua confusão, que vai deixar essa chance passar.

Tem que fazer um exercício diário de esquecer o outro, não tem outro jeito. É igual aprender uma atividade nova. Dá trabalho esquecer, porque você precisa estar no controle do que você sente. Mas a verdade é que ele não é amor. Nem sentimento ele é mais e é por isso que é tão mais difícil arrancá-lo de lá. Ele virou só uma ideia. E, se uma ideia pode destruir civilizações, imagina sua cabeça? O amor morreu, por mais que você queira acreditar que esse é o sentimento mais puro e honesto que você já sentiu, hoje ele é só uma invenção. Uma projeção daquilo que um dia você achou que era ele. O tempo passou e você ficou presa nessa história que já acabou. Vire essa página, dá um reset na mente e olha quantas oportunidades você pode deixar passar por escolher fechar os olhos. O mundo é cheio de camadas. Não escolha ficar na sua superfície.

Imagem de capa: Pintura por Casey Weldon

Não, eu não vou me conformar

Não, eu não vou me conformar

A gente se submete a tanta coisa na vida, se sujeita a determinadas situações e pessoas, mas aí a gente pensa que a vida, às vezes, é assim mesmo e tudo bem. Mas vamos combinar? A gente não precisa disso. Não mesmo.

Nós encaramos todos os dias situações que nos fazem nos adequar, a guardar a nossa opinião para nós mesmos, a sermos mais flexíveis, maleáveis mesmo. Afinal, as coisas não podem ser do nosso jeito o tempo todo e não podemos falar sempre o que pensamos.

Aprendemos a ter mais jogo de cintura, a sermos mais tolerantes com as pessoas e isso é uma coisa positiva e necessária no dia-a-dia. Outra coisa bem diferente é nos sujeitarmos, nos submetermos a coisas que achamos que precisamos passar. Achamos.

Não precisamos conviver ou estar com alguém que nos cause um grande desconforto, que nos alfinete sempre que tem uma chance, que seja maldoso só pra se sentir melhor nos diminuindo ou minando a nossa autoestima. Não precisamos de qualquer pessoa, de qualquer companhia só pra não ficarmos sozinhos. E por medo de não termos amigos, a gente não deve se contentar com o que tem como somos forçados a acreditar.

Nós podemos sim é compreender que essas pessoas nocivas não podem fazer mais parte da nossa rotina, apesar de fazerem parte do nosso passado, da nossa história. Isso é uma realidade estática que não podemos mudar, mas podemos sim (e devemos) buscar algo que esteja mais alinhado com a gente, devemos recomeçar, para criarmos um futuro diferente e seja em novas amizades que já não servem mais ou um novo relacionamento que não nos dá aquilo que precisamos.

Não precisamos nos conformar, nos contentar com aquilo que nos deixa infelizes, que agride aquilo que somos, para o outro nos amar, gostar da gente, querer sempre a nossa companhia. Tudo isso pra não sermos descartados, trocados por outro e de repente nos vermos sozinhos, nos sentindo solitários.

A verdade é que podemos ir até certo ponto, até nos comprometermos definitivamente com nós mesmos e o que acreditamos. Se cruzarmos essa linha, a gente se perde de si mesmo e nos desconectamos com aquilo que realmente importa pra gente.

A gente se engana um pouco pra poder viver e achamos que não fazemos tantas concessões assim. Não é? Fazemos isso com aquele trabalho que detestamos e mesmo assim continuamos nele. Fazemos quando escolhemos uma faculdade baseada em grana e não no que a gente ama e quer fazer. Fazemos isso quando queremos agradar aos outros e acabamos desagradando a nós mesmos.

Quando não ouvimos nossa intuição e seguimos a opinião de outra pessoa sobre o que é melhor pra gente. Quando ficamos em um relacionamento ruim por conveniência ou porque morremos de medo de nos vermos sós. Quando fazemos algo pela família ou por nossos pais só pra nos sentirmos queridos e validados.
Quando nos culpamos por termos opinado, por termos nos posicionado, por termos sido honestos e falado o que realmente pensávamos. Pode ser sobre uma pessoa ou situação e criamos inimizades ou rompimentos com isso.

Mas sabe o que eu aprendi? Nada que achamos que perdemos era nosso mesmo. Aquele amigo que virou as costas sem ao menos procurar saber se foi ou não um mal entendido, aquela familiar que não liga e não procura, aquele chefe que não tolerou ouvir uma opinião ou ponto de vista que fosse diferente que o dele e nos dispensou.

Tudo isso não era pra ser, não era pra continuar. A vida, às vezes, livra a gente do que precisa ir, retira pedras e obstáculos do nosso caminho. Mas por mais que pareça a primeira vista algo ruim e que nos prejudique, tudo o que acontece é para o nosso benefício, estamos sendo livrados do mal que tanto rezamos toda noite, lembram?

Não se engane, nos submetemos o tempo todo, mesmo quando não nos damos conta disso. Começa sempre com bobagens, coisas pequenas e sem importância, afinal não queremos nos indispor ou causar uma situação. Até que, gradualmente como o sapo da fábula que não se dá conta que a temperatura da água vai aumentando, continuamos ali inertes achando que está tudo bem, só não estamos sendo difíceis.

Mas estamos sim nos perdendo pelo caminho, pedacinho por pedacinho até percebermos que comprometemos nossa consciência e nossa essência nesse processo. Um dia, nos olhamos no espelho e simplesmente não reconhecemos a pessoa que nos tornamos e como chegamos até lá. E quer saber, nunca é tarde pra fazer esse caminho de volta e nos reencontrarmos. Só cabe a cada um de nós dar o primeiro passo em direção ao que realmente importa, nós mesmos.

As 12 vulnerabilidades humanas

As 12 vulnerabilidades humanas

Vulnerabilidades são as dificuldades internas, mentais, vivenciadas ao longo da vida. Algumas vulnerabilidades existem desde o nascimento, outras, a maioria, são dificuldades emocionais que aparecem durante a vida e se desenvolvem conforme você vai aprendendo crenças irracionais, ou vai tendo exemplos ruins e desilusões.

Independente de serem genéticas ou adquiridas, sempre é possível aliviar essas vulnerabilidades emocionais, diminuir as diferenças internas e criar uma boa resistência para esse stress emocional.

Nossas 12 vulnerabilidades

1ª Frustração – Frustração o que você sente quando diz: “Não suporto quando as coisas não saem do jeito certo, do jeito que eu quero”. A pessoa se frustra quando tem na cabeça tudo determinado. No budismo se diz que o caminho para a iluminação é eliminar o desejo. Eu não sou budista, mas creio que é isto a que se refere. Quanto mais desejos, mais inflexível você for mais você vai se frustrar. Quanto mais você dizer “Se não for desse jeito, eu não quero nada” mais vai desenvolver sofrimento emocional.

2ª Pressa – Você percebe que é um apressado quando vive dizendo “Não me faça perder tempo”. Sabe aquela pessoa que vive dando pulinho no lugar? Se não tiver nada para fazer ela não aproveita o tempo, não curte seu dia, o sol gostoso ou a lua bonita, ela inventa mais alguma coisa para fazer porque tem pressa e não pode “perder tempo”.

3ª Solidão – A solidão um sofrimento para muitas pessoas. Se você sente angustia em ficar sozinho, você sofre de solidão . Solidão não tem uma definição fechada, estar só é o que sua cabeça determina que seja, se você determinar que pode ser uma boa companhia para você mesmo, parabéns! Você superou a solidão. Mas, se você sofre por ficar sozinho então temos dois caminhos para você, ou treinamos habilidades sociais, e a psicologia comportamental faz isso muito bem, ou você aprende a não se avaliar tão negativamente assim por estar sozinho. Pergunte para você mesmo: “O que significa estar só?” Se você responder que significa ser rejeitado, temos que fazer um trabalho cognitivo, ou seja, mudar essa percepção. Aí a terapia cognitiva faz um trabalho muito legal.

4ª O tédio – “Coisas monótonas repetitivas me deixam chateado”, “Todo relacionamento fica chato depois de um tempo”. Se você é o dono dessas frases então você sofre com o tédio . E aí, o que a gente faz com pessoas assim? Manda ela se meter em esportes radicais, cada vez mais arriscados, cada vez mais caros? Ou vamos aprender que adrenalina também é vicio! Adrenalina é uma droga endógena, ou seja, seu próprio corpo produz, mas mesmo assim é uma droga que vicia. E como tudo o que é demais faz mal, temos é que pensar no equilíbrio da pessoa como um todo. É muito melhor viver sem ter que pular de uma ponte por dia para sentir alguma emoção, assim é a realidade nossa do dia a dia.

5ª Sobrecarga de Trabalho – Trabalhar demais, assumir mais tarefas do que seria possível, pode ter várias origens. Pode ser baixa assertividade , pode ser que você não consegue falar o famoso “não” na hora certa, pode ser expectativas irreais, você pode achar que a única forma de ser reconhecido é trabalhando feito uma “mula de carga”, isso até você ver outro se dar bem melhor que você e trabalhando só metade. Ou você confundiu as coisas e acha que qualidade de vida é conseguir comprar um monte de coisas que você não vai ter tempo para desfrutar.
Porque você está sobrecarregado de tanto trabalho? E não me venha dizer que é impossível mudar. Acredite em mim, sua vida é o que você faz dela, se a forma como sua vida está não está legal é porque você precisa perceber que depende de você, e só de você mudar isso. Se não conseguir sozinho.

6ª Ansiedade – Num primeiro momento parece que não é nada, mas só de transtornos de ansiedade o código internacional de doenças tem uma lista enorme. Desde o transtorno do stress pós traumático , ansiedade generalizad a, síndrome do pânico e lá vai lista. Em resumo, ansiedade é toda vez que você sente angustia quando antecipa que vai acontecer alguma coisa importante, mesmo que saiba o que fazer. Exemplo: Você sente angustia antes de fazer uma prova, mesmo tendo estudado? Você é ansioso . Sente angustia em receber pessoas na sua casa, mesmo tendo tudo preparado para isso, é ansiedade. Sente angustia quando vai falar com alguém que você considera importante, mesmo que você saiba como se comportar nesse tipo de situação, isso é ansiedade. Ansiedade não tratada faz com que sua vida renda menos. Você fica paralisado pela ansiedade.

7ª Depressão – Você pode desconfiar de depressão quando fica desanimado só de pensar em enfrentar certas coisas. Quando você sente que não tem energia. Você pode desconfiar que esteja deprimido quando acha que não vale a pena se esforçar pois nada tem graça. Depressão é um dos mais graves sintomas clínicos em psicologia. Depressão mata. Se não com suicídio, mas tirando da vida produtiva de muita gente que poderia estar desfrutando a vida. Mas este é quadro que menos aparece nas clínicas. Porque os depressivos não se tratam. Eles não têm esperança. Eles acham que não vale à pena.
O trabalho com o paciente depressivo deve incluir a família. Alguém em casa tem que ser o apoio. É difícil porque a família o vê como um “chato”. Infelizmente essa impressão faz com que a família vire as costas e diga “se vire”. Mas a gente sabe que ninguém “se vira” sozinho, sem tratamento.

8ª Raiva – Este é outro tema que merece um livro só para ele. Quem tem dificuldade em lidar com a raiva fica a mercê dos outros. Isso mesmo, você fica sob o controle dos outros, os outros te irritam e você perde o controle. Quando percebem que você é assim, parece que você deu um “controle remoto” da sua mente para o outro. O outro te controla, ele sabe te tirar do sério, lembra do que eu falei que faz parte do equilíbrio humano sentir que você tem o controle sobre você mesmo. Pois é, quem é vulnerável à raiva não tem esse controle, e além disso, é o tipo de pessoa que foge de gente, contato com pessoas irritam, a pessoa se isola, e ganha a depressão de brinde.
Não ter raiva nenhuma, por incrível que pareça, também é ruim. Você tem que ter reação quando te ofendem. Para ter auto defesa, até auto-estima, que é saudável, você tem que ter um limite mínimo de raiva, é ela que te faz reagir, mas você precisa da dose certa de raiva.

9ª Preconceitos – Qualquer conclusão que você tira em cima de um aspecto que não está claramente relacionado é preconceito . Ex: Tirar a conclusão de que quem nasceu neste ou naquele lugar é menos inteligente. Isso é preconceito. Porque não há relação lógica de inteligência com local do nascimento, ou chegar a conclusão que “todo mundo quer tirar vantagem de você” também é preconceito . Porque você não conhece todo mundo intimamente, e você conclui isso antes de saber como a pessoa é de verdade.
“Quem teve uma infância ruim nunca será feliz” – é preconceito porque sabemos da influência do ambiente, mas também sabemos que é possível fazer uma reestruturação cognitiva e ser feliz, mesmo tendo tido muitos problemas na infância. A psicoterapia te ensina a fazer essa reestruturação cognitiva. Preconceito está intimamente ligada às crenças irracionais que se coleciona ao longo da vida.

10ª Perfeccionismo – Muita gente sente orgulho em ser perfeccionista . Não sei por que, pois o perfeccionista sofre, e muito por ser assim. Revisa tudo o que faz, não se perdoa se sair um errinho. Nem viu o trabalho do outro, mas diz que não está bom. É aquele que acha que só ele sabe fazer as coisas direito. É aquele que não tira férias porque não confia em ninguém para deixar no trabalho. Você acha que isso é bom?

11ª Aprovação – Quanto sofrimento a gente não vê por ai por conta das pessoas que buscam aprovação : “Tenho que fazer tudo certinho, senão o que vão pensar de mim”. Quanto sapo engolido por medo de abrir a boca e falar coisas que os outros possam não gostar, quanto sofrimento você passou porque aprendeu que “menina bonita não faz assim” “menino bonito não reclama”.

12ª Negativismo – É o tal de: “não vai dar certo”. “Pra que sair para procurar emprego se não vou conseguir mesmo”. “Pra que ir para festa se não vou conversar com ninguém interessante mesmo”.

Essas são as vulnerabilidades que produzem stress emocional. Se permitir que alguma dessas vulnerabilidades invada sua vida estará abrindo as portas para o sofrimento psicológico.
***

6 filmes que inspiram, pois mostram o real poder de nossas escolhas

6 filmes que inspiram, pois mostram o real poder de nossas escolhas

Por Josie Conti

É claro que, na teoria, ninguém escolhe estar presente em uma catástrofe, ficar doente ou ser muito pobre a ponto de não ter o mínimo. Não é dessa falta de escolhas que falo. Mas, mesmo nas catástrofes, na miséria e nas doenças, a vida exige de nós que nos posicionemos de alguma forma.

Podemos lutar ou nos entregar, podemos enfrentar a realidade ou ignorá-la. Podemos ajudar, sermos ajudados ou tentar continuar sozinhos.

É sobre essas escolhas que tomamos frente à realidade já apresentada que falo, sobre as escolhas possíveis, sobre as escolhas que cada um, de sua própria forma, consegue fazer e, mais além, sobre o tempo necessário para que elas sejam feitas.

Optei por 6 títulos que podem ser encontrados na Netflix e que, nas últimas semanas, invadiram minha sala e meus pensamentos. São todos filmes de conteúdo emocional intenso e que realmente levam quem os assiste a refletir.

Não estão em ordem de relevância ou preferência. As opiniões e seleção são pessoais e não tecnicas.

1- O Aluno

Título Original: The First Grader
Nacionalidade: EUA, Grã-Bretanha, Irlanda do Norte
Ano: 2010
Direção: Justin Chadwick
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Sinopse:
Maruge lutou pela liberdade de seu país, foi preso e torturado. Aos 83 anos, se fazendo valer de um discurso do Presidente do Quênia que garante educação para todos, Maruge decide se matricular numa escola primária. Como a escola possui mais crianças do que sua estrutura precária suporta, sua matrícula é negada e ele precisa insistir muito até ser aceito. Porém, ao começar a estudar, a atitude de Maruge gera revolta e indignação na comunidade, colocando sua segurança em risco.

Opinião:

Um dos primeiros fatores a nos emocionar no filme é sabê-lo inspirado em fatos reais. O desejo de Maruge pela educação é algo que se sobrepõe a qualquer obstáculo que possa se apresentar e quem assite sua história fica tocado por sua perseverança. Além dos obstáculos políticos, vemos um vilarejo que questiona culturalmente sua presença na escola. A história nos deixa apreensivos a cada instante, mas nos inspira pela força e pela vida que apresenta. Marube brilha assim como brilham os olhos que veem o filme.

2- Trem noturno para Lisboa

Título original: Night Train to Lisbon
Nacionalidade: Eua, Suiça, Alemanha
Ano: 2013
Direção: Bille August

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Sinopse: Raimund Gregorius, um professor suíço, que abandona suas palestras e sua vida conservadora para embarcar em uma emocionante aventura que o levará em uma jornada ao seu próprio coração.

Opinião: A sinopse oficial do filme está longe de descrever o grau de complexidade existential que é apresentada. O filme é bastante fiel às memórias que guardo do livro que li há alguns anos. Após salvar uma jovem portuguesa de um suicídio, o professor encontra um livro deixado por ela dentro de um sobretudo. Fascinado pelo livro, ele decide ir à Lisboa e começa a percorrer os caminhos e conhecer os personagens descritos na história. Das reflexões e desses conhecimentos, surge um novo olhar do mundo.

3- Viver sem endereço

Título original: Shelter
Nacionalidade: EUA
Ano: 2015
Direção: Paul Bettany

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Sinopse: Dois moradores de rua, Tahir (Anthony Mackie) e Hannah (Jennifer Connelly) de Nova York vivem rodeados por desespero, perigos e incertezas. Eles acabam se conhecendo e se apaixonando. Tahir e Hannah encontram consolo e força e, aos poucos, contam um ao outro como foram parar nesta situação de dificuldade, e percebem que juntos podem tentar construir uma vida melhor.

Opinião: O filme traz uma reflexão sobre o quanto uma pessoa pode suportar sem perder o contato com a realidade e com o convívio social. A dor indescritível de suas histórias é a mesma que, gradativamente, os une nas ruas. Desse amor e na luta pela sobrevicência, surgem novos sonhos e esperanças.

Nota: Na busca do Netflix eu só o consegui localizar quando digitei seu  título em inglês “Shelter”.

 

4- Blue Jasmine

Título original: Blue Jasmine
Nacionalidade: EUA
Ano: 2013
Direção: Woody Allen

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Sinopse: Uma milionária mulher (Cate Blanchett) perde todo seu dinheiro e é obrigada a morar em São Francisco com sua irmã (Sally Hawkins) e os sobrinhos em uma casa bem modesta. Ela acaba encontrando um refinado homem (Peter Sarsgaard) que pode resolver seus problemas financeiros, mas antes precisa descobrir quem é e aceitar sua nova condição de vida.

Opinião: É impossível não sentir empatia pela situação da protagonista do filme que se mantém alheia a todas as realidades que a desagradam até que seu mundo desaba e ela é obrigada a enfrentar a vida, fato que a leva a um colapso nervoso. Woody Allen, como sempre, conduz com maestria a complexidade psicológica da personagem e o peso de suas escolhas e omissões. Será que Jasmine conseguirá superar a realidade? Essa é a pergunta que deixo para quem ainda não assistiu.

5- Um conto chinês

Título original: Un cuento chino
Nacionalidade: Espanha, Argentina
Ano: 2011
Direção: Sebastián Borensztein

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Sinopse: Roberto (Ricardo Darín) é um argentino recluso e mau humorado. Ele leva a vida cuidando de uma pequena loja e tem o hobbie de colecionar notícias incomuns. A comodidade de sua vida é interrompida quando ele encontra um chinês (Ignacio Huang) que não fala uma palavra de espanhol. O imigrante acabara de ser assaltado e não tem lugar para ficar em Buenos Aires. Inicialmente relutante, Roberto acaba deixando o asiático viver com ele e aos poucos vai descobrindo fatos sobre o chinês.

Opinião: O filme fala da ilusão de controle que as pessoas, como o protagonista, desenvolvem por medo de perder o rumo de suas vidas. Lidar com o total desconhecido inicia um processo de abertura de perspectivas de vida e de possíveis mudanças.

6- Bem-vindo ao mundo

Título original: Twice Born
Nacionalidade: Itália
Ano: 2012
Direção: Sergio Castellitto

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Sinopse: Uma mulher retorna com seu filho dezesseis anos depois de deixar a Bósnia, mas sua visita traz à tona lembranças que a fazem lidar com verdades dolorosas.

Opinião: Uma história de amor que segue um enredo de lembranças da protagonista (Penélope Cruz) e que surpreende por seu desfecho. Após terminado, o filme continua ecoando e as cenas se justapondo como se nós, tando quando a protagonista, estivessemos assimilando a realidade.

17 frases e versos inesquecíveis de Vinicius de Moraes

17 frases e versos inesquecíveis de Vinicius de Moraes

Poeta essencialmente lírico, o que lhe renderia a alcunha “poetinha”, que lhe teria atribuído Tom Jobim, notabilizou-se pelos seus sonetos. Conhecido como um boêmio inveterado, fumante e apreciador do uísque, era também conhecido por ser um grande conquistador.O poetinha casou-se por nove vezes ao longo de sua vida e suas esposas foram, respectivamente: Beatriz Azevedo de Melo (mais conhecida como Tati de Moraes), Regina Pederneiras, Lila Bôscoli, Maria Lúcia Proença, Nelita de Abreu, Cristina Gurjão, Gesse Gessy, Marta Rodrigues Santamaria (a Martita) e Gilda de Queirós Mattoso.

Sua obra é vasta, passando pela literatura, teatro, cinema e música. Ainda assim, sempre considerou que a poesia foi sua primeira e maior vocação, e que toda sua atividade artística deriva do fato de ser poeta[8] . No campo musical, o poetinha teve como principais parceiros Tom Jobim, Toquinho, Baden Powell, João Gilberto, Chico Buarque e Carlos Lyra.

Abaixo algumas de suas frases mais célebres.

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As imagens foram publicadas originalmente em Último Segundo. Informações Wikipédia.

A gente já se exige demais todos os dias. É necessário sentir orgulho também.

A gente já se exige demais todos os dias. É necessário sentir orgulho também.

Encontrei-me com um amigo, dia desses, e passamos a noite conversando sobre nossas questões e dúvidas sobre profissão e carreira. Levantei a bandeira de que estava me sentindo meio perdida, achando que as coisas não estavam dando certo, andando muito devagar. Aquela história de se sentir à deriva e esperar o vento soprar para algum lado, em vez de remar com toda a força para algum lugar que não se sabe exatamente aonde vai dar. Sempre aparece uma época em que eu começo a questionar sobre tudo e, principalmente, sobre minhas escolhas.

Daí ele falou para eu olhar para trás e perceber quanta coisa eu já tinha feito, onde eu já tinha chegado. Parei para pensar que, realmente, já percorri um grande caminho e não tenho por que me sentir assim, já que as coisas estão de fato acontecendo. Mas eu não consigo perceber, porque estou cega pensando apenas na linha de chegada.

É claro que, quando você tem um objetivo, mas não sabe ao certo como alcançá-lo, você fica atirando para todos os lados e, muitas vezes, não acerta nenhum alvo. Ou pior, quando você não sabe nem qual é o objetivo, fica quase impossível avançar. Sempre me falaram da importância de traçar metas para se chegar ao objetivo. Mas e quando essas metas que você achava que seriam suficientes não são suficientes? Surpresa! Elas nunca são.

O sucesso nunca é uma linha reta. Ele exige mais esforço do que se imaginava e tanta coisa surge no caminho, que parece que nunca vai dar certo. E você olha para o lado e parece que todo mundo está conseguindo êxito, menos você. E aí começa o processo inútil e devastador de se comparar com os outros. Essa é a pior forma de se frustrar. Você só pode se comparar a quem você era ontem.  A gente sabe de tudo isso, mas o ego, ah, o ego, esse monstrinho que nos faz chorar de olhos fechados numa terça-feira de manhã. E aí pensamos um monte de coisas horríveis sobre nós mesmos, mas demonstramos o inverso socialmente. O ego nos faz parecer uma placa de ferro que amassa qualquer coisa no caminho, inclusive nossas verdadeiras vontades. Por isso o gosto de metal que fica na boca.

Entre todas essas peças que a nossa mente prega, é preciso parar um pouco de olhar para a frente e começar a olhar para trás, para o que já foi feito e conquistado. Se a gente fica muito focada no destino, perde-se toda a graça do caminho e também aquelas pequenas glórias diárias que a gente deixa de lado por “não ser o suficiente”. Se a gente entrar nessa, nada vai ser o suficiente e a vida vai ser uma eterna frustração. Isso tudo pode ser um grande clichê, mas esse meu amigo, durante a conversa, contou-me uma história pessoal que pode parecer boba, mas faz todo sentido.

Ele me contou que há um tempo queria ficar com o corpo ideal para ele e essa meta seria atingida quando ele chegasse aos 100 quilos, mas com músculos e não com gordura, o que é bem difícil. Mais difícil, inclusive, do que emagrecer. Quem malha sabe como é preciso se regrar para “crescer”. Então, ele começou a se dedicar muito. Fazia alimentação certinha, malhava todos os dias e saiu dos 86kg para 97kg, com muito esforço, mas não conseguiu chegar aos 100kg.

Daí, ele encontrou uma amiga que ele não via há muito tempo e ela falou “nossa, você conseguiu! Parabéns, você conseguiu o que queria”. E ele, em vez de aproveitar o elogio e se sentir feliz pelo que tinha conquistado, simplesmente esnobou e pensou “Não cheguei onde eu queria, ainda falta para chegar lá e eu estou frustrado porque não consegui”.

Às vezes, a gente fica tão obcecado pelo resultado, que se esquece de se satisfazer com o que já foi alcançado. No final das contas, a vida nem tem linha de chegada, o que vale é o caminho mesmo e o caminho é feito no dia a dia, na monotonia inevitável, nos passos pequenos e nos largos também. Se a gente comemorar cada pequeno passo como uma conquista, o objetivo fica mais próximo e a vida, com certeza, fica mais divertida. A gente já se exige demais todos os dias. É necessário sentir orgulho também.

Eu acho que mereço dar uma relaxada.

Desânimos exaltados

Desânimos exaltados

Vez por outra chega de mansinho aquela fase viscosa, nebulosa, preguiçosa, que se instala devagar, e devagar se demora a retirar.

São as notícias do mundo, é aquele projeto que ainda não decolou, os papos andam repetitivos, a política mostrando um cenário desolador, as notícias infelizes a trágicas golpeando de vez o pouco otimismo que ainda teimavam em resistir.

E, como acontece na moda, subitamente um monte de gente amanhece vestindo o mesmo estilo, as mesmas cores, o mesmo corte, o mesmo desânimo. É um fenômeno coletivo, inevitável, temporal.

A moda ao menos sinaliza uma outra proposta, mas esse desânimo, essa desesperança, esse enorme e profundo cansaço, se possuem alguma utilidade ou propósito, estão soterrados na massa de bordões e lamentos que segue em repetição.

É a temporada dos desânimos exaltados. E então não há boa notícia que quebre facilmente esse ciclo; não há otimismo rebelde que esquente cadeira num cenário de ânimos gelados e endurecidos.

Triste é pensar que o tempo nada se importa com essas férias forçadas do bom senso, e continua seu caminho, passando e levando as horas, os dias, anos, vidas.

O desânimo congela, paralisa, imobiliza. Nada se ganha com as intermináveis ladainhas, nada se lucra com a desesperança.

A vida não é fácil, mas ainda não é morte.
A política nos assombra, mas ainda cabe luta.
Brutalidades são cometidas, mas ainda sabemos discernir.
Decepções acontecem, mas a vida é assim. E ainda não é morte.

Os desânimos exaltados só possuem serventia para quem o que nos preferem fracos, sem reação, sem noção.

Se o momento não é favorável, que sejamos parte da engrenagem que o fará passar mais rápido. Se as notícias são tristes, que busquemos e propaguemos as boas, porque elas existem e ainda não capazes de encher os olhos mais vazios, com muita emoção. Caso contrário, é só deixar o tempo passar, e nos levar.

Mãe, tô na Califórnia morando numa van vintage chamada Lolita

Mãe, tô na Califórnia morando numa van vintage chamada Lolita

Oi mãe tô na Califórnia morando numa van vintage chamada Lolita. Ela não é uma Kombi, como sempre sonhava, mas é muito charmosa, uma moça recatada e de família, rs.

Os dias aqui são quentes, não há nuvens no céu e as praias são lindas.

As pessoas aqui param pra te dão bom dia, cada loja tem potinhos com comida e água para os cachorrinhos e tem até uma praia só para cachorros, sabia?

Eu sei, mãe, eu não estou na faculdade e não tenho um trabalho na área onde me formei, mas hoje eu sou o que melhor sei ser de mim mesma. Hoje a minha casa é onde meus pés estão e minhas coisas cabem tudo na minha mochila, a Monstra, minha velha amiga de estrada.

Hoje eu não vivo preocupada se vou chegar em casa viva e com meus pertences, se amanhã vou vou demitida ou não por causa da crise.

Hoje eu trabalho para conseguir viajar amanhã. É bar, babá, faxineira, até designer de sobrancelhas e etc…, mas quem importa? Quem sabe se todo mundo experimentasse vários níveis e tipos de trabalho menosprezariam menos os outros…

Hoje eu tenho 20 anos, em 10 meses viajando sinto que vivi uns 10 anos da minha vida, de tanta história que tenho, até cabelo branco já nasceu sabia? Rsrs.

Ah, e as histórias. Tenho tanta história pra contar… Nem todas são bonitas, mãe, nem todas são de sucesso e flores, mas todas me tornaram essa Elisa que sou hoje.

Como queria hoje sentar para tomar um cafézinho da tarde daqueles que tu fazia, comer um pãozinho com manteiga, com direito a suco natural de laranja feitinho na hora pelas tuas mãos e ouvindo tu dizer: “O meu pai fazia suco assim para nós também”.

Não sou o padrão de filha, não tenho graduação em universidade federal e muito menos um emprego fixo com salário bom, mas hoje espalho todo esse amor pela vida que transborda no meu peito. Espalho sorrisos e semente de amor no coração das pessoas. O melhor presente que recebo é ouvir dos outros que eu, de alguma forma, contribui positivamente no dia, na semana ou na vida delas.

Hoje tu pode dizer que é mãe de uma mulher de 20 anos que viaja sozinha pelo mundo.

Durante todo esse tempo viajando sozinha, busquei inspiração em outras mulheres fortes e uma delas foi tu.

Muitas vezes, sozinha, me vejo em situações que me faz ter vontade de desistir de tudo e correr para o teu colo e só chorar, mas eu engulo o choro e repito pra mim mesma muitas vezes: “Eu consigo passar por isso.”, “Eu consigo isso, se alguém consegue eu consigo também”, “Eu posso ser tudo aquilo que eu quiser”.

Como eu queria, de alguma forma, ajudar outras mulheres, como eu queria compartilhar tudo isso com uma quantidade grande de pessoas e mostrar o quão a vida pode ser linda e que podemos sim viver sozinhas.

Ser mulher na estrada foi a dificuldade que mais enfrentei desde que viajo. Foi quando eu realmente comecei a odiar o machismo com todas as minhas forças. O que me faz ser mais forte ainda e não cale a boca para muitas coisas que eu vejo. Porque a mulher não pode se calar! A mulher pode ser livre e ir atrás dos seus sonhos, mesmo que esse pareça quase impossível e se libertar de homens que massacram a vida de suas esposas até elas gritarem por dentro pedindo socorro. Até elas estarem despedaçadas com pressão psicológica. Até a depressão ser a sua companheira diária.

Hoje a única coisa que me faz sofrer é a saudade. Saudade dos que já foram, saudades das pessoas que conheci e que provavelmente nunca mais vou voltar a ver.

Hoje a única coisa que me faz sofrer é a saudade. Principalmente de ti, mãe.

E é por isso que o livro que estou escrevendo da minha viagem é dedicado a ti, mãe, porque tu é uma das mulheres mais fortes que já conheci em toda a minha vida!

Te amo.

Do amor

Do amor

Há muitos anos, muitos mesmo, quando era praticamente uma adolescente, li, “Do amor, Ensaio de Enigma”, sensível livro do saudoso Artur da Távola. Há algumas semanas, após a crônica “Quem Nunca Sentiu Saudade?” que escrevi para a página Acidez crônica, recebi uma mensagem delicada que citava o trecho “Da perda” do livro, Do Amor’.

Fui, então, reler alguns trechos do exemplar do livro já amarelado pelo tempo, sublinhado pelas descobertas de uma adolescente. Hoje, revisitado por estas retinas vividas, achei engraçado alguns trechos sublinhados, quase premonitórios e, enfim, pude concluir: o amor é realmente um enigma.

Pus-me a pensar no amor, esquecendo-me completamente do purismo da língua, das observações analíticas: pensei no amor do dia a dia, o amor desabafado e desabado nos ombros amigos; pensei nos amores de bar e nos amores média, pão e manteiga com olhares perdidos e esperanças matinais.

Ponderei sobre amores que nem sempre são amores, mas que pelo tempo que estiverem trajados de amor serão intermináveis. Pensei nos amores absolutamente apaixonados que visitam camas e muros; nos amores complicados tal qual nó de aselha, cegos em sua existência. E por fim, pensei naquele amor que de tanto ser amor torna-se enigma, aquele amor fecundo em todos os tempos, que será sempre amor mesmo depois de findo.

Este amor é silencioso, sobrevive à própria morte, posto que renasce nas lembranças e em frases de carinho. É amor de travesseiro, não importa o novo amor, muito menos com quem você se deite, haverá de haver um “boa noite” ainda que distante.
Quando eu era jovem discordava da afirmativa de Nelson Rodrigues: “Todo amor é eterno. E se acaba, não era amor”. Entendia que o amor necessitava de presença, toque, sexo, beijos. Hoje minhas retinas refletidas e vividas, permitem-me compreender: Há o amor de querer bem, não importa o fim, segue-se, sim, amando.

A liberdade de escolha: Qual dos caminhos seguir?

A liberdade de escolha: Qual dos caminhos seguir?

Imagem de capa: soft_light, Shutterstock

Que caminho seguir? Com qual das duas pessoas eu me relaciono? O que faço agora? Qual curso escolher? Qual produto eu compro?

Quando você escolhe um caminho e deixa de escolher o outro, o que você perde é o conhecimento sobre o não escolhido. Isso pode ser muito perturbador quando pensamos que a nossa escolha talvez não tenha sido a melhor. Muitas vezes, também ficamos parados, problematizando nossas escolhas e não avançamos em uma decisão.

Mas escolher é liberdade, não?

Se você ama sorvete de chocolate e eu lhe ofereço duas opções de sorvete: limão ou chocolate, qual você escolheria? Chocolate? Se eu estou condicionado ao sabor de chocolate, eu consigo afirmar que, em algum momento, escolhi livremente um tipo de sorvete? A minha escolha era realmente livre?

Passando isso para outras escolhas do nosso cotidiano: faculdade, trabalhos, passeios, viagens, namoros, amigos, comidas, produtos etc. O que realmente escolhemos e o que seguimos de acordo com o nosso passado/condicionamento? O que seguimos de acordo com padrões sociais?

Será que, muitas vezes, não fazemos escolhas apressadas, sem realmente conhecermos as possibilidades. Nesse ponto, nossa escolha não é livre, no sentido mais real da palavra, pois agimos condicionados a algumas crenças. Perdemos, nesse caso, uma oportunidade de nos conhecermos melhor e de seguir novos caminhos.

Se você só prova o sorvete de limão, então ele vai ser sempre a sua escolha e será para você o melhor entre todos os sabores. Permita-se conhecer a si mesmo e também a vida à sua frente com os seus sabores.

Um exemplo: Você tem que escolher entre duas pessoas: uma com quem já estava há mais tempo e uma nova. Você escolhe quem você já conhece porque você já conhece (risos). Sabe as qualidades, os defeitos, sabe o que não gosta e o que gosta nessa pessoa, conhece sua família, conhece suas crises, conhece suas brigas e seus sonhos. Chega um tempo e você se pergunta: será que a minha escolha foi a melhor?”

Fique tranqüilo; no fundo, você não escolheu, apenas seguiu fazendo algo que sempre fez. Você não deu opção para a segunda pessoa, você não a conheceu. Nesse momento, você já indicou a primeira. Você ainda está preso àquela vida que você planejou, onde encontra certa segurança – não que isso seja ruim. O resultado você já sabe: algumas situações podem se repetir em sua vida.

Se você não pôde conhecer bem e tomar consciência das duas opções, então essa não foi uma escolha livre.

A real liberdade não é você ter duas opções, mas sim infinitas. É você poder ir aonde quiser, sem ter que escolher apenas entre dois lugares. A liberdade acontece em situações em que se deve escolher entre um caminho e outro que sejam menos triviais. No sentido de que você está tão aberto para qualquer possibilidade e sabe tanto quem você realmente é, que a vida não necessita perguntar, ela apenas flui - como um rio o levando aonde você precisa chegar. Quando chegarem duas ou mais opções, você as conhece e se conhece tão bem, que a escolha não será um estresse.

Quando nos perguntamos se saímos pela porta ou pela janela, isso não é liberdade. Isso é cativeiro disfarçado na sua mente. Geralmente, quando você sai de uma escolha dessas, você se pega envolvido numa outra, depois numa outra e depois em mais outra.

Nós imaginamos que, fazendo uma escolha, seremos livres, mas, logo à frente, ficamos pensando na escolha que fizemos e encontramos mais opções para fazer. Às vezes, queremos dar marcha à ré para voltar, mas, se tem uma coisa que passa e não volta atrás, é o tempo.

Convido a sermos realmente livres, a sair dos nossos condicionamentos, a escapar daquele mapa que traçamos para tudo e para todos, a parar de pegar o passado e replicar no presente.

Se você não quer colher sempre a mesma fruta, então plante outra diferente.

Até aquele amor que você sente pelo outro pode estar condicionado. Pela sua necessidade, você o ama pelo passado que vocês já tiveram, você o ama pelo seu medo, você o ama… Mas agora, no presente, você o ama? Encontre uma nova forma de amá-lo, antes que você descubra que talvez você nunca o tenha amado ou que isso tenha ficado no passado.

O que é o amor em relacionamentos além de poder estar na presença de qualquer um para se relacionar e ter a liberdade de escolher estar com um só? Amor e liberdade caminham juntos.

Permita-se conhecer os caminhos, permita-se conhecer a si mesmo. Se você não fizer isso, não terá opção. Irá fazer o que sempre fez e ter os mesmos resultados.

O que escrevo aqui não é uma fórmula pronta e nem algo mensurável. Não é necessário sair medindo ou aplicando a sua liberdade, apenas tome consciência do que é realmente ser livre.

“A prática propositada da meditação afeta profundamente nossa personalidade. Somos escravos do que não conhecemos; do que sabemos somos mestres. De qualquer vício ou fraqueza em nós mesmos descobrimos e entendemos suas causas e seus funcionamentos, nós os superamos pelo próprio saber; o inconsciente se dissolve quando o trazemos à consciência. A dissolução do inconsciente libera energia; a mente se sente adequada e se torna quieta.” — Sri Nisargadatta Maharaj

Você é livre para tomar aquela decisão?

Pense nisso. Medite, observe e converse.

Shanti (esteja em paz).

INDICADOS