Não, eu não vou me conformar

A gente se submete a tanta coisa na vida, se sujeita a determinadas situações e pessoas, mas aí a gente pensa que a vida, às vezes, é assim mesmo e tudo bem. Mas vamos combinar? A gente não precisa disso. Não mesmo.

Nós encaramos todos os dias situações que nos fazem nos adequar, a guardar a nossa opinião para nós mesmos, a sermos mais flexíveis, maleáveis mesmo. Afinal, as coisas não podem ser do nosso jeito o tempo todo e não podemos falar sempre o que pensamos.

Aprendemos a ter mais jogo de cintura, a sermos mais tolerantes com as pessoas e isso é uma coisa positiva e necessária no dia-a-dia. Outra coisa bem diferente é nos sujeitarmos, nos submetermos a coisas que achamos que precisamos passar. Achamos.

Não precisamos conviver ou estar com alguém que nos cause um grande desconforto, que nos alfinete sempre que tem uma chance, que seja maldoso só pra se sentir melhor nos diminuindo ou minando a nossa autoestima. Não precisamos de qualquer pessoa, de qualquer companhia só pra não ficarmos sozinhos. E por medo de não termos amigos, a gente não deve se contentar com o que tem como somos forçados a acreditar.

Nós podemos sim é compreender que essas pessoas nocivas não podem fazer mais parte da nossa rotina, apesar de fazerem parte do nosso passado, da nossa história. Isso é uma realidade estática que não podemos mudar, mas podemos sim (e devemos) buscar algo que esteja mais alinhado com a gente, devemos recomeçar, para criarmos um futuro diferente e seja em novas amizades que já não servem mais ou um novo relacionamento que não nos dá aquilo que precisamos.

Não precisamos nos conformar, nos contentar com aquilo que nos deixa infelizes, que agride aquilo que somos, para o outro nos amar, gostar da gente, querer sempre a nossa companhia. Tudo isso pra não sermos descartados, trocados por outro e de repente nos vermos sozinhos, nos sentindo solitários.

A verdade é que podemos ir até certo ponto, até nos comprometermos definitivamente com nós mesmos e o que acreditamos. Se cruzarmos essa linha, a gente se perde de si mesmo e nos desconectamos com aquilo que realmente importa pra gente.

A gente se engana um pouco pra poder viver e achamos que não fazemos tantas concessões assim. Não é? Fazemos isso com aquele trabalho que detestamos e mesmo assim continuamos nele. Fazemos quando escolhemos uma faculdade baseada em grana e não no que a gente ama e quer fazer. Fazemos isso quando queremos agradar aos outros e acabamos desagradando a nós mesmos.

Quando não ouvimos nossa intuição e seguimos a opinião de outra pessoa sobre o que é melhor pra gente. Quando ficamos em um relacionamento ruim por conveniência ou porque morremos de medo de nos vermos sós. Quando fazemos algo pela família ou por nossos pais só pra nos sentirmos queridos e validados.
Quando nos culpamos por termos opinado, por termos nos posicionado, por termos sido honestos e falado o que realmente pensávamos. Pode ser sobre uma pessoa ou situação e criamos inimizades ou rompimentos com isso.

Mas sabe o que eu aprendi? Nada que achamos que perdemos era nosso mesmo. Aquele amigo que virou as costas sem ao menos procurar saber se foi ou não um mal entendido, aquela familiar que não liga e não procura, aquele chefe que não tolerou ouvir uma opinião ou ponto de vista que fosse diferente que o dele e nos dispensou.

Tudo isso não era pra ser, não era pra continuar. A vida, às vezes, livra a gente do que precisa ir, retira pedras e obstáculos do nosso caminho. Mas por mais que pareça a primeira vista algo ruim e que nos prejudique, tudo o que acontece é para o nosso benefício, estamos sendo livrados do mal que tanto rezamos toda noite, lembram?

Não se engane, nos submetemos o tempo todo, mesmo quando não nos damos conta disso. Começa sempre com bobagens, coisas pequenas e sem importância, afinal não queremos nos indispor ou causar uma situação. Até que, gradualmente como o sapo da fábula que não se dá conta que a temperatura da água vai aumentando, continuamos ali inertes achando que está tudo bem, só não estamos sendo difíceis.

Mas estamos sim nos perdendo pelo caminho, pedacinho por pedacinho até percebermos que comprometemos nossa consciência e nossa essência nesse processo. Um dia, nos olhamos no espelho e simplesmente não reconhecemos a pessoa que nos tornamos e como chegamos até lá. E quer saber, nunca é tarde pra fazer esse caminho de volta e nos reencontrarmos. Só cabe a cada um de nós dar o primeiro passo em direção ao que realmente importa, nós mesmos.







Vivo entre a ponta da caneta e o papel, entre o clique no teclado e a história que desabrocha na tela. Sempre em busca da palavra perfeita, do texto perfeito e do livro perfeito. Acredito no poder curativo da música e de um bom livro. Cinéfila, apaixonada por séries, Los Hermanos e filmes do Woody Allen.