Sei que não sou filho de rei, não sou grandioso ou muito adequado. Sou somente um mero agricultor que planta poesias e observa com mansidão e serenidade o florescer de amores. Tratarei, então, de plantar com carinho todo verso que ecoa na minha veste interior, para que o meu amor por ti se renove a cada estação.
Não tenho medo de fincar raízes. Quero-as fincadas no meu quintal, para que eu possa contemplá-las todos os dias, pela manhã, ao abrir a janela do quarto, na companhia do sol. Quero saborear todas as suas birras e suas loucuras. Quero tê-la por inteiro, tocando profundamente os recantos mais longínquos da sua alma.
Posso não ter dinheiro, mas não me faltam amor e vontade de descobrir cada mistério que te cerca. Quando estiver brava, pode me jogar na parede e descarregar sua torrente de emoções; eu te abraçarei forte e farei de tudo para o teu mar de angústias se acalmar. Se isso não for suficiente, não se esqueça de que sussurrarei no teu ouvido bobagens para que possa sorrir e sentir-se amada.
Não preciso de muita coisa, só eu, você e guardar a infinitude do tempo em uma garrafa vazia, para que eu possa beber da felicidade outra vez. Felicidade que estará sempre em uma flor, com um pouquinho de água em cima da mesa.
Você tem pernas tortas que me levam aos caminhos sinuosos do seu coração. Caminhos de loucura que anseio, como uma porta entreaberta, à espera de uma batida que alegre o morador que repousa na mansidão da ternura.
Com você sinto uma paz que jamais senti. Você tem esse dom de acalmar a minha alma. Mas também, adoro as suas estranhezas que fazem com que eu me sinta vivo. Você sempre diz que eu tenho os olhos bonitos; deve ser porque, mesmo no silêncio, eles continuam dizendo que te amo.
Não tenho medo da intimidade e de ficar vulnerável, porque a esse amor já estou entregue e não tenho medo de me ferir; tenho apenas de não o viver. Pode abrir a porta, já estou aqui. Vem balançando os teus cabelos negros feitos de linho e forma comigo um amálgama das nossas belezas e estranhezas. Abraça-me e fecha os olhos, para que possa sentir os compassos harmônicos dos nossos corações. Guarda esse som e lembra-te que essa é a melodia do nosso amor.
Antes de mais nada, é conveniente lembrar que todos nós somos mentirosos; uns mais, outros menos.
O escritor americano Mark Twain uma vez disse:
“A verdade é poderosa e prevalecerá. Não há nada de errado com isso, exceto que ela não é assim.”
Diariamente, as pessoas usam a mentira como um artifício para conseguir o que querem. Elas mentem para passar uma melhor impressão, para tentar provar algo e se fazer acreditar, para exercer poder sobre os outros, e também para proteger alguém (ou a si mesmas) quando a verdade é ardilosa demais. Existem, ainda, outros motivos pelos quais nós mentimos com maior frequência do que queremos assumir.
A mentira surge cedo, nos primeiros meses de vida. Bebês choram falsamente com o intuito de conseguir atenção ou alimento e, até o responsável atendê-los, dificilmente irão parar de chorar. Mentem por motivos estratégicos.
Por mais desagradável que seja, faz parte da nossa natureza mentir, embora não seja um argumento aceitável para muitas pessoas, que continuam mentindo.
Existe hoje uma certa “epidemia de mentiras” que vem ganhando terreno numa sociedade em que as pessoas evitam, cada vez mais, a interação presencial. A mentira é como um lubrificante que alivia o atrito e o conflito nas relações sociais e, muitas vezes, nos impede de sofrer em um mundo de muitas verdades absolutas.
Liespotting
Quem fala com propriedade sobre o tema “mentiras” é Pamela Meyer, autora americana famosa por ter escrito o livro Liespotting: Proven Techniques To Detect Deception, no qual ela mostra algumas técnicas de como detectar mentiras e identificar mentirosos.
Meyer começou a se interessar por mentiras durante uma palestra que ela participou na Harvard Business School, há muitos anos atrás. Durante o evento, ela e mais 350 pessoas assistiram a um professor falando sobre como as pessoas se comportam enquanto estão mentindo. Meyer notou as pessoas que estavam ao seu redor e, incrivelmente, nenhuma delas mexia em seus celulares nem se mostrava distraída. Pelo contrário, todas prestavam absoluta atenção, o que é raro hoje em dia. Quando testemunhou aquele silêncio completo, ela soube que algo transformacional acontecia, e foi então que ela obteve o insight para estudar e escrever um livro sobre a natureza das mentiras.
Em entrevista para o site ACFE, ela afirmou:
“Enquanto eu decidi estudar sobre mentiras, me juntei a uma equipe de pesquisa. Nós examinamos a maioria dos estudos científicos, e descartamos as descobertas que não puderam ser comprovadas. Tornou-se evidente para mim que a mentira e o autoengano têm sido essenciais para a literatura, psicologia, psiquiatria e psicanálise desde tempos imemoriais. Há um vasto depósito de conhecimento sobre a mentira, mas não havia sido compilado de uma forma fácil de entender. Então, eu me encarreguei de fazê-lo e, eventualmente, escrevi o livro Liespotting.”
Para escrever seu livro, Meyer realizou uma série de pesquisas na área de ciência cognitiva, analisou microexpressões faciais e gestos corporais, e assistiu entrevistas jornalísticas e interrogatórios criminais. Ela encontrou alguns dados interessantes em seus estudos. Por exemplo:
– Uma pessoa mente de 10 a 200 vezes por dia;
– Pessoas inteligentes costumam mentir mais;
– Extrovertidos mentem mais que introvertidos;
– Homens mentem oito vezes mais sobre si próprios do que sobre outras pessoas, enquanto mulheres mentem mais para proteger alguém;
– Pessoas estranhas umas às outras mentem cerca de três vezes a cada 10 minutos de conversa;
– Se uma pessoa é vista como mau caráter, alguém irá mentir para ela mais facilmente;
– Pessoas ricas e mais poderosas mentem melhor;
– Mulheres lidam pior com a mentira do que os homens;
– O tipo mais comum de mentira é a omissão;
– Adultos conseguem distinguir a verdade da mentira em apenas 54% das vezes.
Segundo Meyer, qualquer pessoa pode treinar para se tornar especialista em detectar mentiras. A autora diz:
“Na vida, é bom ter um ceticismo saudável para fomentar seu otimismo. Detectores de mentiras treinados costumam ser positivos em relação à natureza humana, e emergem de confiança para proteger a si mesmo e os outros de mentiras e fraudes. A nível pessoal, isso oferece vários benefícios. As pessoas treinadas em detecção de mentiras podem viver mais feliz e plenamente, e se tornar mais capazes de se relacionar com familiares e amigos. Você fica mais seguro, e confia mais em seus instintos e julgamentos.”
Em Liespotting, Meyer afirma que a primeira forma de mentira é o autoengano, e esclarece a diferença entre mentir para si mesmo e para os outros:
“Mentir é um ato cooperativo. Ninguém pode mentir para você sem o seu consentimento. Uma mentira não tem poder pelo seu conteúdo; seu poder reside em alguém concordando em acreditar nela. Já o autoengano é relacionado ao ideal de perfeição. Todos nós desejamos ser melhores pessoas, mais bonitos, mais ricos, mais espertos, mais bem-sucedidos, mais altos, mais jovens, etc. Mentir para nós mesmos é uma tentativa de preencher essa lacuna, para conectar desejos e fantasias sobre quem gostaríamos de ser com quem realmente somos.”
Como detectar mentiras (e mentirosos)
Para detectar um mentiroso, Meyer orienta, deve-se observar os padrões de comportamento de uma pessoa durante certo período de tempo, para, depois, perceber quando houver desvios de conduta.
“Observe a postura da pessoa, sua risada, como ela lida normalmente com o estresse, o que ela faz para se acalmar, etc. Em seguida, fique atento aos sinais característicos de um mentiroso comum.”
Meyer classifica esses sinais em três categorias:
1. Mentiras verbais
Segundo ela:
“As pessoas excessivamente determinadas em mentir usarão uma linguagem enrustida, não descontraída. Elas usarão frases de reforço e distanciamento como ‘eu não fiz isso’ ou ‘aquele homem cometeu um crime’. Os mentirosos apimentam sua história com detalhes inadequados e desnecessários para tentar provar que estão dizendo a verdade. Eles vão olhar nos seus olhos constantemente a fim de parecer honestos, quando, na realidade, a maioria das pessoas dizendo a verdade olha nos seus olhos durante 60% do tempo.”
2. Mentiras não-verbais
De acordo com Meyer:
“Mentirosos não ensaiam seus gestos, apenas suas palavras. A carga cognitiva já é enorme, por isso, quando contam a sua história, os mentirosos congelam a parte superior do corpo, olham para baixo, diminuem o tom da voz, reduzem a respiração. E eles vão exibir um momento reconhecível de alívio quando a conversa acabar.”
3. Histórias contadas em ordem cronológica perfeita
Meyer orienta:
“Peça a eles para contar sua história de trás para frente. Os mentirosos não podem fazer isso. Pessoas honestas lembram de histórias em ordem de importância emocional. Mentirosos tendem a inventar histórias que podem ser contadas em um determinado período de tempo, e eles vão vacilar quando solicitados a contá-las de forma diferente.”
Assista a palestra de Pamela Meyer para o TED, de julho de 2011. Nela, a autora fala mais sobre a natureza de uma mentira e discute as particularidades de um mentiroso:
Em um dia de primavera de 1959, a BBC encaminhou um repórter para entrevistar o psicanalista suíço Carl Gustav Jung em sua casa, nas proximidades de Zurique. A entrevista foi ao ar com o nome “Face To Face” e deveria ser profunda, mas de maneira que pudesse ser entendida por pessoas que não tivessem conhecimentos específicos da área de psicologia.
A entrevista foi um grande sucesso na época. Muitas pessoas a assistiram inclusive Wolfgang Foges, diretor da Aldus Books, que como bom admirador da psicologia moderna lamentava, na época, que apenas Freud tivesse as linhas gerais do seu trabalho conhecidas por um grande número de leitores. Na época Jung não era conhecido pelo público comum e sua leitura era considerada extremamente difícil.
Foges então tentou persuadir Jung a colocar suas ideias básicas em um livro, de forma que fossem acessíveis a todos os leitores. Jung, no entanto, à princípio, disse que não escreveria o livro. Disse um não bastante gentil e explicou que no passado nunca tentara popularizar sua obra e que não tinha certeza se o poderia fazê-lo de forma satisfatória aos 84 anos de vida.
Com o sucesso do “Face to Face”, Jung passou a receber uma infinidade de cartas de pessoas comuns, sem qualquer experiência médica, que ficaram encantadas com sua presença marcante, humor e encanto despretensioso durante a entrevista; pessoas que perceberam em sua visão de vida algo que lhes podia ser útil. E Jung ficou muito feliz com tudo isso, não só pelo grande número de cartas, mas também por terem sido remetidas por pessoas com as quais ele não teria tido oportunidade de interagir durante a vida.
Foi então que Jung teve um sonho de grande importância para ele. Sonhou que ao invés de estar sentado em seu escritório conversando com médicos e psiquiatras, estava de pé em um local público dirigindo-se a uma multidão de pessoas que o ouviam extasiadas e que compreendiam perfeitamente tudo o que ele dizia.
Dessa forma, quando o convite para o livro se repetiu, Jung o aceitou. Pedindo apenas que ele não fosse uma obra individual, mas coletiva, realizada com a cooperação de um grupo de seus mais íntimos seguidores. Nasceu assim o último livro escrito por Jung, “O Homem e Seus Símbolos”, livro cujas linhas escritas por ele foram terminadas apenas dez dias antes de sua morte, em junho de 1961.
A entrevista “Face To Face” pode ser assistida de forma sintética no vídeo a seguir e logo depois transcrevi seu conteúdo parcial.
Espero que assim como eu, vocês apreciem essa deliciosa oportunidade de assistir a um dos maiores psicanalistas de todos os tempos falando de forma tão animada sobre um pouco do que ele considerava verdadeiro e valioso, em sua teoria e vida.
“Face To Face” – John Freeman entrevista Carl Gustav Jung de 1959 para a BBC.(Legenda e tradução do vídeo: Erick Ungarelli)
Transcrição Resumida da Entrevista “Face to Face”
Freeman: Posso levá-lo de volta a sua infância? O Sr. se lembra da ocasião em que pela primeira vez teve consciência do seu self individual?
Jung: Foi aos onze anos. De repente a caminho da escola eu saí de uma névoa. Foi exatamente como se eu sempre houvesse estado em uma névoa, andando em uma névoa, e eu saísse dela sabendo: “Eu sou o que sou”. E depois eu pensei: “Mas o que eu era antes?” E então eu soube que eu havia estado em uma névoa sem saber me diferenciar das outras coisas até então. Antes eu era apenas uma coisa entre outras coisas.
Freeman: Que lembranças o Sr. tem de seus pais? Eles o educaram de forma rigorosa e antiquada?
Jung: Bem, eles pertenciam à época posterior à Idade Média. Meu pai era um pastor protestante do campo e você pode imaginar como eram as pessoas naquela época, em 1870. Elas tinham as mesmas convicções que regiam a vida das pessoas há mil e oitocentos anos.
Freeman: Com quem o Sr. se dava mais intimamente, com o seu pai ou com sua mãe?
Jung: É difícil dizer, é claro que as pessoas são comumente mais próximas das mães, mas quando se tratava de um sentimento pessoal, eu me relacionava melhor com meu pai, que era mais previsível do que com minha mãe que era para mim algo um tanto problemático.
Freeman: O Sr. era feliz na escola?
Jung: No começo eu fiquei feliz por ter companheiros, porque eu era muito solitário. Nós morávamos no campo e na época eu não tinha irmãos. Minha irmã nasceu muito tempo depois. Mas logo, para uma escola rural, eu estava muito adiantado. Então comecei a me chatear.
Freeman: O Sr. acreditava em Deus naquela época? E agora, o Sr. acredita?
Jung: Sim, na época eu acreditava. Agora? É difícil responder porque… eu o sei/o conheço. Eu não preciso acreditar porque agora eu o sei/o conheço.
Freeman: O que o fez querer tornar-se médico?
Jung: Foi uma escolha oportunista, pois à princípio eu queria ser arqueólogo, egiptólogo, mas não tinha dinheiro. Então meu segundo amor era a natureza, a zoologia. Pensei na faculdade de ciências naturais. Então percebi que seria professor e essa não era minha aspiração. Então soube que estudando medicina eu teria uma chance de ser médico e atuar na prática. Fazer algo útil aos seres humanos brilhou para mim.
Freeman: O Sr. ao decidir ser médico teve dificuldade em alguns exames?
Jung: Particularmente tive dificuldade com alguns professores. Alguns não acreditavam que eu fosse capaz de escrever uma dissertação. Um professor me disse uma vez que meu trabalho teria sido de longe o melhor da sala se eu não o tivesse copiado. Fiquei furioso e disse que aquela tinha sido a dissertação na qual eu tinha trabalhado mais, pois o tema para mim era muito interessante.
Freeman: Quando o Sr. se decidiu pela medicina, o que o fez se especializar-se em psiquiatria?
Jung: Quando eu estava estudando para o exame final deparei-me com um manual de psiquiatria. Até então eu não havia dedicado atenção ao assunto e me lembro de ter apenas lido a introdução que falava da psicose como um desajuste da personalidade e isso foi o suficiente. Meu coração bateu selvagemente e eu sabia que seria psiquiatra. Ninguém compreendeu porque naquela época a psiquiatria não era absolutamente nada.
Freeman: Quanto tempo depois dessa decisão o Sr. entrou em contato com Freud?
Jung: Isso foi no final dos meus estudos. Demorou um pouco até que isso acontecesse. Em 1900 eu já tinha lido a interpretação dos sonhos e os estudos de Breuer e Freud sobre a histeria. Só em 1907 conheci Freud pessoalmente.
Freeman: O Sr. concluiu qual o seu próprio tipo psicológico?
Jung: Naturalmente dediquei muito tempo a essa dolorosa questão. Bem, o tipo não é nada estático, muda durante a vida, mas eu certamente me caracterizei pelo pensamento. E sempre tive também muita intuição. Eu tinha dificuldade com sentimentos e minha relação com a realidade não era brilhante. Eu sempre estava em discordância com a realidade das coisas. Aí estão todos os dados para um diagnóstico!
Freeman: Olhando para o mundo de hoje o Sr. acha que uma terceira guerra mundial é possível?
Jung: Uma coisa é certa, uma grande mudança de nossa atitude psicológica é iminente. Isso é certo.
Freeman: Por quê?
Jung: Porque precisamos de mais. Precisamos de mais psicologia. Precisamos de mais entendimento sobre a natureza humana, pois o único perigo real existente é o próprio homem. Ele é o grande perigo e lamentavelmente não temos consciência disso. Sabemos muito pouco sobre o homem. Sua psique deveria ser estudada, pois somos a origem de todo o mal vindouro.
Freeman: O Sr. escreveu coisas sobre a morte que me surpreenderam um pouco. Lembro-me que o Sr. disse que a morte é psicologicamente tão importante quanto o nascimento, que é parte integrante da vida. Mas ela não pode ser como o nascimento se é o fim. Ou pode?
Jung: Certo, se ela for um fim, mas não estamos muito certos desse fim. Porque existem as faculdades especiais da psique que não é inteiramente limitada pelo espaço e tempo. Você pode ter sonhos, ou ver doses do futuro. Pode ver mais longe do que as esquinas. Isso mostra que ao menos algumas partes da psique não dependem de limites. E daí se a psique não é obrigada a viver dentro do tempo e espaço? Isso indica uma continuação prática da vida. Uma espécie de existência psíquica além do tempo e espaço.
Freeman: O Sr. acredita que a morte é um fim?
Jung: Bem, não posso dizer. A palavra acreditar é algo difícil para mim. Eu não acredito. Eu preciso de uma razão para uma dada hipótese. Eu sei uma determinada coisa e então eu a sei. Não preciso acreditar nela. Não me permito acreditar por acreditar. Eu não posso acreditar, mas com suficientes razões para uma hipótese eu a aceitarei naturalmente.
Freeman: Que conselho o Sr. dá às pessoas idosas que creem que a morte é o fim de tudo?
Jung: Eu tratei de muitas pessoas idosas e é interessante perceber que o inconsciente ao notar que está aparentemente ameaçado pelo fim total, passa a menosprezar tal fato. A vida se comporta como se fosse prosseguir, dessa forma acho melhor que uma pessoa de idade viva na expectativa do dia seguinte como se fosse viver séculos, assim ela viverá adequadamente. Se ela tiver medo e não tiver perspectiva, ela olhará para trás e ficara petrificada e morrerá antes do tempo. Mas se ela estiver viva e aguardar ansiosa a grande aventura ela viverá.
Freeman: O que o Sr. acha da ideia de imergir a natureza individual do homem em um todo coletivo e padronizado?
Jung: Em suma (…) o homem não pode suportar uma vida sem significado.
Aguente firme, isso pode doer mais do que qualquer outra coisa já tenha doído, mas vai passar, eu juro que vai. Nós somos jovens, com toda uma vida pela frente, tantos deslizes ainda a cometer e tantas promessas ainda por cumprir.
Não foram poucas as lágrimas, é verdade, mas também não foram poucos os sorrisos e sorvetes, as cócegas e as noites passadas em claro com conversas animadas sobre os planos futuros. Planos traçados com a pressa de quem quer engolir a vida em um só trago. Planos que não cabem na gaveta de um só viver e que por isso dividimos entre nós.
Não precisa pegar de volta todas as suas coisas. Por que não finge esquecer por aqui aquele par de sapatos que você tanto gosta, ou uma dúzia de versos escritos em guardanapos? Assim você poderá voltar sempre, abrir as portas do meu armário e do meu guarda-roupa e, assim, sem querer, esquecer mais um xale ou um colar, dando início a um círculo vicioso de desculpas para nossas saudades se encontrarem.
Vamos prometer levar conosco o costume de caminhar de mãos dadas sob o olhar entusiasta dos casais de idosos no parque aos domingos, mesmo que não seja mais a sua mão sobre a minha, nem os seus passos ao lado dos meus. Prometer que nossos telefones ainda irão tocar na calada da noite e que ainda trocaremos segredos de nossas vidas íntimas. Prometer que iremos continuar a nos tratar carinhosamente, talvez até com os mesmos apelidos de sempre, como mozão ou xuxuzinho.
Mesmo que nada disso seja verdade, vamos prometer. O coração pesa menos quando contamos mentiras sinceras.
Não posso te devolver os anos que passou comigo, já que eles são parte do que eu sou agora, do que eu me tornei, como um braço ou uma perna e não tenho nenhum interesse em ficar manco. Gostaria que ficasse também com aqueles que eu dediquei à você, porque posso dizer sem medo de errar que foram os anos mais bem investidos até o momento.
Cuide com carinho das piadas ruins que eu contei para quebrar o gelo no nosso primeiro encontro, nunca se sabe quando elas poderão ser úteis. Das feridas não quero notícias, das cicatrizes tampouco. Ao invés disso, me conte do seu novo rapaz e de como ele toca bem no violão aquela música que eu nunca aprendi.
Não quero me tornar apenas mais um livro na sua estante, sem mais nenhuma página a ser lida. Prefiro ser como uma estrela no céu, para a qual você sempre poderá olhar da janela do seu quarto, uma pra você dar nome e reconhecer no meio da multidão celeste.
Guarde bem entre as fotografias que quase tiramos e tudo aquilo que eu quase disse – talvez seja mais importante do que tudo o que eu já falei até agora.
Acima de tudo, guarde com você o que eu fiz, não o que eu apenas pensei em fazer.
Refletir os impactos das novas tecnologias sobre o jornalismo é tarefa que se torna a cada dia mais premente. O fazer jornalístico passa por uma metamorfose radical devido ao emprego de novas técnicas que trouxeram mudanças significativas na maneira de confeccionar os jornais impressos.
Este artigo surge num contexto em que ainda são poucos os estudos a respeito da forma como a Internet atua sobre e a partir das notícias divulgadas em tempo real pelas agências noticiosas. Isso acarreta para esta pesquisa dificuldades suplementares, que, contudo, são características desse novo, mas fascinante, campo de estudo das novas tecnologias digitais.
Antes de qualquer outra coisa, é necessário compreender como o serviço noticioso desse novo meio é constituído e como pauta os outros veículos. Para isso, o presente artigo se apoia em uma pesquisa sobre a veiculação de algumas notícias nos principais meios de comunicação, objetivando mostrar que a informação vai, muitas vezes, se distanciando da primeira forma, divulgada em tempo real, para adquirir outras e variadas estruturas, em virtude de uma apuração mais consistente ou, até mesmo, pelo encaminhamento que o veículo que a divulga quer dar. Assim, o receptor recebe várias informações que se afastam, em diferentes graus, do ideal jornalístico de fidelidade aos fatos.
Na instantaneidade da notícia também não é tão nova como prenunciaram os amantes do noticiário online, e sua busca virtual pode remontar as origens das notícias na sua forma falada e televisada. No mundo virtual, no entanto, esse caráter instantâneo foi remodelado. Dos objetivos em relação à notícia nos jornais, e na Internet, Pierre Lévy, um dos intelectuais da cibercultura afirma:
O jornal ou revista, refugos da impressão bem como a biblioteca moderna, são particularmente bem adaptados a uma atitude de atenção flutuante, ou de interesse potencial em relação à informação. Não se trata de caçar ou de perseguir uma informação particular, mas de recolher aqui e ali, sem ter uma ideia preconcebida. (Lévy, 2001: 35)
A velocidade não se relaciona só ao mundo virtual. As metamorfoses da notícia estão presentes já no modo como esta é produzida e recebida pelo público. Essa atenção flutuante, porém, é potencializada ao extremo no universo online. A chamada “atenção flutuante” para com a informação realmente radicalizou-se com o impacto das tecnologias digitais.
Várias dúvidas e questões sobre o caminho da informação na mídia digital, bem como o impacto das novas tecnologias sobre o jornalismo, têm sido levantadas em congressos, mas ao pensar no título que esse trabalho apresenta pode-se imaginar que essas mudanças não cessarão tão cedo. Sendo assim, um recorte que aproxime de uma reflexão teórica o fazer jornalístico e muitas de suas nuances nos dias de hoje, pode ser a saída para a compreensão de uma série de temas que definem o objeto dessa análise.
A fragmentação das informações, denunciada por muitos teóricos como característica da cultura midiática contemporânea, relaciona-se com o problema do imediatismo. O advento das mídias eletrônicas precipitou essa mutação temporal em um cenário onde, até então, o jornalismo impresso reinava absoluto. Se o século XIX foi livresco e guiado pela palavra escrita, o mundo contemporâneo passeia pelas mídias da velocidade máxima, redimensionando a produção de notícias, os reflexos no imaginário e atestando algumas ideias de Marshall McLuhan sobre os meios de comunicação como extensões do homem. McLuhan preconizava no seu livro O meio é a mensagem, em termos de linguagem e consciência, a extensão digital do homem.
Nossa nova tecnologia elétrica que projeta sentidos e nervos num amplexo global tem grandes implicações em relação ao futuro da linguagem. A tecnologia elétrica necessita tão pouco de palavras como o computador digital necessita de números. A eletricidade indica o caminho para a extensão do próprio processo de consciência (…) Em suma, o computador, pela tecnologia, anuncia o advento de uma condição pentecostal de compreensão e unidade universais. ( McLuhan, 1971: 98)
A rede mundial de computadores pode ser tida como expoente máximo dessa metamorfose. E como já foi aqui ressaltado, essa mudança incide tanto na emissão quanto na recepção. Talvez nesse momento a ideia de consciência estendida proposta por McLuhan possa ser pensada. A noção de que não se pode mais falar em um receptor passivo pode ter na Internet sua confirmação, devendo-se notar que o caráter condicional de sentença anterior evidencia ainda muitas dúvidas a respeito dessa capacidade ativa virtual.
É inegável que termos como interatividade e rede soam de forma positiva, mas, mesmo nesse caso é preciso lembrar que o veículo jornalístico, seja ele qual for, pressupõe ou mesmo, como creem alguns teóricos mais apocalípticos, um processo de monitoramento da recepção da notícia. Para a metamorfose da notícia o olhar de quem observa o fato é determinante; diante do fato, a tentativa de monitorar é, sem dúvida, uma boa imagem de como se processam as notícias em tempo real.
É na reflexão sobre o silêncio que a metamorfose na notícia encontra uma de suas principais questões. Se o excesso de velocidade pode conduzir ao vazio, à perda da informação ou ao “silêncio” de Eco, fica claro que um problema fundamental para nós será a análise desse imperativo “dromocrático” (para usar o termo de Virilio) e suas consequências na estrutura do jornalismo online. Para Virilio, (1996) a dromocracia, do grego dromos = corrida, marcha, é a necessidade de uma existência marcada pela velocidade e mutação constante, é uma característica da cultura contemporânea. O jornalismo que pode ser calado devido aos excessos provenientes da própria atividade passa por uma metamorfose devido à nova técnica que o dirige.
No mundo da velocidade/virtualidade as informações de rápida e fácil assimilação não atingem somente o discurso, mas a própria tentativa de informar com isenção aqueles que possuem ou não, acesso à rede mundial de computadores. Se mencionamos os “excluídos digitais” é porque, inclusive, aqueles que não estão conectados ao ciberespaço e não compartilham a cibercultura, são, de algum modo, afetados por esse novo sistema informacional. Tal fato colabora para alguns exageros dos defensores da virtualidade como mecanismo de combate a algumas mazelas sociais (como, por exemplo, Pierre Lévy).
Não se deve, no entanto, reduzir a questão, somente nos mesmos termos que a cultura de massa foi pensada por Umberto Eco em sua obra Apocalípticos e Integrados, apesar de nos utilizarmos de diversos dos seus conceitos. Os meios de comunicação dirigem-se a um público incônscio de si mesmo como grupo social. Contudo, há no pensamento estruturalista de Eco, uma abordagem essencial da visão dos mass media submetidos à lei da oferta e da procura, dando ao público o que segue as leis de uma economia baseada no consumo e sustentada pela ação persuasiva da publicidade, ao sugerir ao público o que ele deve desejar. ( Eco, 1970: 40)
Segundo Eco, o público não pode manifestar exigências nos confrontos com a cultura de massa, tem que conviver com as propostas vindas da mídia, uma vez que os mass media tendem a secundar o gosto existente sem promover renovações de sensibilidade. Os mass media tendem a provocar emoções vivas e não mediatas. Eles não simbolizam a ação, apenas provocam-na. Típico neste sentido, é o papel da imaginação em relação ao conceito.
As notícias são mescladas, sem nenhum nivelamento e também, encorajam uma visão passiva e acrítica do mundo. Os mass media encorajam uma imensa informação sobre o presente, reduzindo aos limites de uma crônica atual sobre o presente até as eventuais exumações do passado, entorpecendo a consciência.
Por outro lado, os mass media tendem a impor símbolos e mitos pela fácil universalidade, criando tipos prontamente reconhecíveis e reduzindo ao mínimo a individualidade e o caráter concreto não só de nossas experiências como de nossas imagens, através das quais devemos realizar experiências.
Todos os jornais e outros mass media desenvolvem sempre uma ação conservadora. A metamorfose da notícia favorece projeções e modelos oficiais, uma vez que se adapta ao discurso oficial, ainda que este não seja verdadeiro, ou melhor responda a um discurso supostamente verdadeiro.
Como controle de massas, a notícia desenvolve uma função ideológica Mascaram, contudo, esta função ideológica ao manifestarem-se sob o aspecto positivo da cultura de uma sociedade do bem-estar onde todos hipoteticamente têm as mesmas ocasiões da cultura, em condições de igualdade, o que constitui uma falácia. Os mass media propõem vários elementos de informação, nos quais não se distingue o dado válido discriminação, mas daquele de pura curiosidade.
Enfim, os mass media, e, entre estes, o jornal, oferecem um acervo de informação e dados sobre o universo sem sugerir critérios de sempre procurando emocionar e sensibilizar, como em um espetáculo, o homem contemporâneo.
Às vezes, a vida vem em flashes na cabeça. Retalhos. Sonhos que se realizaram. Ou não. Objetivos que alcançamos. Ou não. Amores correspondidos. Pessoas que amamos em silêncio. Gente que nos fez levantar depois de uma queda. Gente que nos fez cair. Frutos que deixamos. Sementes que plantamos. Palavras que nunca deveríamos ter dito. Outras que calamos por pensarmos demais. Aventuras. Riscos. Medos. Coragens. Viagens. Amigos. Tropeços. Erros. Acertos.
Um mundo de pequenos cacos de espelhos que refletem quem somos. Um dia, tudo isso passará. Deixaremos a Terra para voltar à casa verdadeira, como creem uns; ou para evaporar para sempre, como creem outros. Todos nós partiremos daqui um dia! Uns mais cedo, outros mais tarde.
Então, já que estamos aqui de passagem, mas, não por acaso, façamos a nossa estadia valer a pena. Vamos tentar ser luz nesse mundo onde ainda existe tanta escuridão. Assim, quando partirmos daqui, algo de nós permanecerá vibrando e brilhando dentro da alma e do coração daqueles que conseguirmos tocar com a nossa melhor parte.
Cada uma de nossas menores ações encerram em si mesmas, escolhas, motivações e consequências. Ainda que não sejamos muito dados a grandes reflexões, nossas escolhas afetam diretamente aqueles que cruzam o nosso caminho. Nunca saberemos de verdade o tamanho da batalha que está sendo travada pelo outro no exato momento em que nossas vidas se esbarram. E, a julgar pela maneira como temos evoluído para uma raça que evita contatos e compromissos, é quase certo que deixaremos como herança uma cultura excessivamente desenvolvida no plano individual e perigosamente pobre na esfera coletiva.
Uma coisa é certa, nenhum de nós escapa de falhar. O erro é prerrogativa de outras conquistas de estirpe mais nobre, como a maturidade, o sucesso e a estabilidade. No entanto, enquanto não tivermos alguma afinidade com os tombos inevitáveis e os equívocos de percurso, jamais estaremos maduros para compreender o quanto é efêmero o sucesso e o quanto é ilusória a estabilidade.
Viver em busca de uma vida estável, protegida das intempéries do acaso é quase tão emocionante quanto abrir um pacote de figurinhas repetidas. A vida cujo maior objetivo é a estabilidade é exatamente isso: abrir um pacote de figurinhas repetidas, dia após dia. Nenhuma surpresa. Nenhuma perda. Nenhum ganho. Nada.
E não importa o tempo que durar, 20, 50 ou 100 anos, se todo o nosso propósito for encher gavetas de planos de felicidade para quando tivermos tempo, as gavetas ficarão abarrotadas e nossas vidas serão vazias. Por isso, sejamos um pouco menos previsíveis ou um muito mais atrevidos diante das escolhas que realmente valem a pena.
O fato é que quando já tivermos colecionado alguns anos de vida, o que nos dará prazer verdadeiro serão os momentos que nos desestabilizaram; o inesperado de um beijo roubado, uma nota baixa para nos livrar do comodismo, um desafeto que virou amigo, um estado ridículo de paixão explícita, a reviravolta num jogo supostamente ganho, a coragem renascida por vencer um desafio aparentemente intransponível.
O que tem de mais bonito nessa viagem maravilhosa que é a vida é que o bilhete não tem destino certo. Vamos colecionando olhares, registrando paisagens, experimentando sabores estranhos até que entendemos, por fim, que uma grande jornada se faz com pequenas e profundas incursões para dentro de nós. Então, que a sabedoria nos alcance antes de nos tornarmos excessivamente sérios, a ponto de não sermos capazes de compreender que quase nada está sob controle. Ainda bem… Ainda bem!
Cada vez mais, vivemos em grandes cidades, cheias de pessoas, de carros, de casas, de lixo etc. A formação das metrópoles é um fenômeno global, sobretudo com a “globalização”, que, ao diminuir os espaços, propiciou o acúmulo de diferentes culturas, povos e classes em um mesmo espaço urbano.
Sendo assim, os centros urbanos contemporâneos são extremamente polifônicos, ao mesmo tempo em que cultivam problemas típicos da sua estrutura. Ao analisar esse fenômeno, Zygmunt Bauman nos oferece algumas considerações interessantes e imprescindíveis para um entendimento maior da problemática.
Os espaços urbanos grandes, superlotados e complexos, criam problemas típicos de grandes cidades, como, por exemplo, a violência e, consequentemente, o medo. Este é acentuado, inclusive, pelo comportamento individualista e egoísta que temos, de modo que achamos que o outro é sempre uma ameaça, já que não há motivo para que o outro também não seja uma pessoa que só pensa em si mesma. Sendo assim, temos o primeiro grande problema das cidades, para Bauman, qual seja, o de que “[…] as cidades são espaços em que estranhos ficam e se movimentam em estreita proximidade uns dos outros”.
Ou seja, contrariamente ao que se espera, não há conectividade entre as pessoas, de tal modo que cada uma é uma ilha afetiva isolada da outra, que permanece inexplorável e, por conseguinte, estranha. Dividir os espaços com esses “estranhos”, como acentua o sociólogo, é algo indesejado e incômodo, do qual se busca escapar ou, na impossibilidade da fuga total, no mínimo criar “[…] um formato que torne palatável o convívio com eles e tolerável a sua companhia”.
Dessa maneira, os indivíduos buscam aproximar-se de quem parece ser menos estranho e, portanto, adequado ao convívio. A formação dos grupos propícios e adequados ao convívio, no entanto, acontece de forma bem distinta, segundo Bauman. De um lado, temos os moradores da camada superior que formam seus guetos de modo voluntário e estruturado. De outro, observamos os moradores da camada inferior formando os seus guetos de forma involuntária e desestruturada.
Os guetos voluntários formados pela camada superior são encontrados nos condomínios fechados construídos em áreas nobres da cidade ou, como é a tendência, organizados em áreas distantes do caos encontrado dentro da cidade. Por outra via, os guetos involuntários formados pela camada inferior não são planejados, estruturados, muito menos afastados do caos urbano.
São “construídos” dentro do próprio caos urbano, leia-se, são os centros de todos os problemas ou pelo menos são considerados assim pela camada superior, de tal modo que se torna imprescindível para a segurança e a qualidade de vida da camada superior ter os seus guetos protegidos do caos produzido pela camada inferior. Em outras palavras, viver em um condomínio planejado significa estar fisicamente dentro da cidade, mas espiritualmente fora dela.
“O traço mais proeminente do condomínio é seu isolamento e distância da cidade. Isolamento significa a separação daqueles considerados socialmente inferiores e, como insistem os construtores e agentes imobiliários, o fator-chave para garantir isso é a segurança. Isso quer dizer cercas e muros ao redor do condomínio, guardas de serviço 24 horas por dia controlando as entradas e um conjunto de instalações e serviços para manter os outros do lado de fora.”
“Os outros” são os moradores da camada inferior, os quais também são chamados de favelados, produtores dos problemas urbanos e desmerecedores, assim, de inclusão e de integração social. Diante das cercas e muros que separam o lado A do lado B, observamos a formação de um verdadeiro apartheid social, em que os problemas urbanos produzidos por todos que ocupam a cidade são atribuídos a apenas um grupo, o qual, além de culpado, deve, obviamente, cumprir sua pena, vivendo em ruas miseráveis e esquálidas de que a camada superior tenta, sem economizar esforços, escapar.
“A cerca separa o ‘gueto voluntário’ dos ricos e poderosos dos muitos guetos forçados dos pobres e excluídos. Para os integrantes do gueto voluntário, os outros guetos são espaços aos quais ‘nós não vamos’. Para integrantes dos guetos involuntários, a área na qual estão confinados (por serem excluídos de outras) é o espaço ‘do qual não temos permissão de sair’.”
Assim sendo, há uma definição do papel social que cada um deve ocupar, bem como o jugo que a camada inferior deve carregar, uma vez que é a causadora dos problemas urbanos. Alheia a isso, já que não contribuiu com nenhum dos problemas presentes na cidade, a camada superior vive “[…] fora da vida da cidade, desconcertante, confusa, vagamente ameaçadora, tumultuada e difícil, e ‘dentro’ de um oásis de calma e proteção”, do qual nenhum “estranho” pode adentrar.
Esse fenômeno de segregação culmina no que o polonês chama de “mixofobia urbana”, isto é, o medo de se misturar a indivíduos estranhos ao seu lugar comum, levando à formação dos supracitados guetos voluntários, ou melhor, “[…] ilhas de similaridade e semelhança em meio a um oceano de variedade e diferença”. O apartheid do arame farpado parece, no mínimo, contraditório, em um mundo que se diz globalizado, a não ser que a globalização exista apenas como fábula, para lembrar Milton Santos.
O que esse fenômeno demonstra é a insistente incapacidade que o ser humano parece querer ter em não conseguir perceber-se como parte dos problemas produzidos socialmente, no melhor estilo “o inferno são os outros”. Do mesmo modo, fica claro o preconceito e a intolerância diante do “estranho”, do “bárbaro”, do “selvagem”, que é visto como sendo incapaz de ser incluído socialmente. Além, é claro, de uma estratificação excludente, que, por meio do dinheiro, privatiza soluções, ao mesmo tempo em que uma massa sofre com os problemas que os privilegiados também ajudaram a construir.
Em um mundo que se diz conectado, globalizado, interligado, observar fenômenos de segregação e isolamento é paradoxal, o que é comum em um mundo confusamente percebido, lembrando Milton mais uma vez. Obviamente, a culpa dos problemas urbanos não está tão somente no fato de o indivíduo optar em morar em um condomínio fechado, mas encarar isso como a solução plena e definitiva, assim como enxergar no “estranho” da camada inferior a raiz para tais problemas, é sim fonte de outros problemas, como o ódio, a intolerância, o preconceito e o descaso com pessoas menos afortunadas.
Como diz Bauman, os guetos voluntários promovem algum conforto espiritual, de maneira a tornar a convivência mais fácil com aqueles com os quais se pode ter uma vida social superficial, sem a demanda do esforço necessário para compreender, negociar e se comprometer com outras pessoas diferentes, criando, assim, hiatos discursivos separados por grades, muros e arame farpado.
“Uma vez que esqueceram ou não se preocuparam em adquirir as habilidades necessárias para uma vida satisfatória em meio à diferença, não é de estranhar que os indivíduos que buscam e praticam a terapia da fuga encarem com horror cada vez maior a perspectiva de se confrontarem cara a cara com estranhos. Estes tendem a parecer mais e mais assustadores à medida que se tornam cada vez mais exóticos, desconhecidos e incompreensíveis, e conforme o diálogo e a interação que poderiam acabar assimilando sua ‘alteridade’ ao mundo de alguém se desvanecem, ou sequer conseguem ter início.”
Essas lindas fotos de crianças interagindo com animais foram publicadas em um famoso concurso de fotografia chamado Child Photo Competitions. Trata-se de uma comunidade internacional dedicada à descoberta e promoção dos mais talentosos fotógrafos de crianças do mundo inteiro.
O concurso é realizado mensalmente. Na edição de novembro de 2015, o tema foi “Crianças e Animais”. Cerca de 1.000 fotógrafos de 44 países participaram do evento.
Nas fotos, há uma forte sincronia emocional entre as crianças pequenas e os animais; ambos dividem as mesmas experiências com muito afeto.
Muitos fotógrafos do concurso fizeram as fotos com crianças de suas famílias e animais de estimação. Outros entraram em contato com amigos e conhecidos para agendar um encontro e maquinar o projeto.
Os cenários foram escolhidos de acordo com a disponibilidade e proximidade da casa de cada fotógrafo. Por falar nisso, todos os ambientes são de muito bom gosto e apropriados para esse tipo de ensaio.
Nesta sessão de imagens do Child Photo Competitions, animais e crianças participam juntos de atividades simples e corriqueiras, mas significativas. Tomam banho na banheira, caminham por florestas e campos verdejantes, observam a chuva cair, trocam gestos, comem, dormem e fazem carinho. Simplesmente apreciam a companhia um do outro.
Confira a seleção de fotos vencedoras, com o nome dos fotógrafos e seu país de origem:
Justyna Garczyk, Polônia
Amy Pisco, EUA
Sarah Jane Van Heerden, África do Sul
Jennifer Kapala, Canadá
Jessica Pugliese, EUA
Eva Stawarczyková, República Tcheca
Katarzyna Staniewicz, Polônia
Jen Maunder, Austrália
Holger McCormick, Alemanha
Rhiannon Logsdon, EUA
Alicja Yusupova, Polônia
Dana Disalvo, EUA
Dana Marshall, EUA
Marta Everest, Espanha
Oksana Suprun, Rússia
Jody D’Angelo, Canadá
Lidia Madura, Polônia
Sara Hadenfeldt, EUA
*Veja aqui toda a sessão de fotos do concurso Child Photo Competitions.
Dia desses eu te vi com olhos de sal. Aperto no peito, foi tudo o que senti, clichê sentimento, tudo o que resta? Não sei, mas percebi que não consigo te perdoar ainda, embora compadeça das suas rugas, desse sal que tomou suas águas, depois de tudo, não foi bem erro, seu ou meu, de quem? É só a vida que caminha entre amores e mágoas. É só a vida… cheia de perdões por tecer com o tempo. A vida cheia de reviravoltas que enjoam os que tem consciência e não beneficia ninguém. A vida cheia de voltas que nos fazem encontrar quem deixamos rindo enlouquecidamente perdida curtida em águas salgadas.
Você delirava, falava de lagos azuis que lhe convidavam, de olhos de água, de futuros ornados, de mares de rosas e espinhos emborrachados. Falava da vida como se ela fosse as ficções que lia e assistia. Não se enxergou na realidade sombria em que se afogava. Por pouco não foi Bovary. Pensava ser Julieta. Querida, eu tentava avisar, no mundo não havia impedimentos de qualquer natureza, o que não se realizava era só porque não era recíproco. Você estava se envenenando sozinha contra um mundo que, se te afastava do amor era por ampla cultura hostil e não por figuras específicas.
Sua paranoia desenvolvida diante de cada pequena frustração te afastou da minha influência. Desconfiada de todos, desconfiada mesmo de mim que nunca lhe faltei assistência mesmo quando sua inocência me lançava em rasteiras, acabou por isolar-se e destruir uma por uma de suas pequenas construções, recomeçadas há tão pouco. Pareciam tão certas, tanto trabalho, tanto esforço. Eu realmente não consegui entender. Um desespero egoísta tomou suas mãos construtoras. Me pergunto ainda se em algum momento você se pegou refletindo sobre quantos sonhos alheios, sobre quantas apostas distintas você carregou com a sua decisão. Perdeu a crença.
Desmantelou a crença que te depositaram. Acusou quem acusava. Pode ser que em algum ponto você estivesse certa, entre tantas vírgulas que a vida fecunda. Você poderia ser sem ponto, mas poesia moderna em linhas renascentistas… – faltou malícia, faltou encontro, faltou assumir-se em vez de se entregar ao abismo. Foi se afundando no vazio a cada esperança rompida. Eu tentei te proteger, algum equilíbrio, poderia ser com o tempo ou nunca, mas você insistia que fosse logo e que fosse de qualquer forma. Havia alguma verdade que você enxergava que poderia até ser, mas, querida, que verdade nesse mundo? Dizer isso às alturas, denunciar as belezas escondidas no alheio, querer impor aceitação a quem se esconde? Perdeu os limites entre a sabedoria e a loucura. De todos os segredos que lhe revelei e você tentou gritar aos quatro ventos, achando que tudo se resolveria, encontrou apenas humilhação. E quantos carregou consigo? Eu, certamente. Perdão, eu consigo?
Assumo que sempre tive certa condescendência com os seus excessos egoístas. Tivemos momentos de paz como nunca nos últimos tempos, pensei até que tivesse amadurecido, penso mesmo, nesta altura, que amadureceu às duras. Agora te vejo em ressaca de águas salgadas, o sal na pele, o sal nos olhos, o sal nas feridas, o sal que não lhe permite mais pensar em lagos de água doce que te convidam. Seu nome está fora das listas. Talvez nas listas de espera… Eu poderia, fosse outra que não eu, confundir minha empatia com perdão, confundir-me pela compreensão e correr logo ao seu encontro. Mas, houve tanto. Eu te observo de longe e tento anteceder seus passos. Tenho receio, mas é inevitável que viremos a nos encontrar, na verdade, nunca deixamos de nos cruzar por aí. Eu tenho te evitado a esmo, mas a vida sem você é vazia. Essa maluquinha que dá cor e poesia às “pequenices” cotidianas.
Eu gostaria que o perdão em mim fosse mais eloquente que metódico, que pudesse simplesmente esquecer e te abraçar. Mas não sou feita dessa matéria, e você mesma a mim é meio arredia. Assim, aguardo pacientemente o momento de nossa reconciliação e espero, por bem, que do zero no qual novamente nos encontramos e por todas as batalhas que juntas enfrentamos, possamos unidas nos reerguer e seguir por novos caminhos. Pois sei inequivocamente, com a minha crueza de natureza, que é difícil caminhar quando não sentimos os pés com o coração. Eu não consigo continuar sozinha – ser Razão sem Emoção.
Sou muito mais do que me reduzo. Não sei com que olhos me vejo, apenas sei que estão desajustados. Olho-me pequena. Pequena para cair e levantar, pequena para saltar, correr e tropeçar, pequena para voar para fora da gaiola dos meus medos. Mas não sou pequena e tenho de saber disso. Tenho de saber que já caí muitas vezes e estou aqui… tenho de me recordar que já escalei sem saber muito bem onde colocar os pés e onde poderia me agarrar…mas estou aqui.
Somos tão mais do que achamos. Somos únicos, caramba! E perdemos tempo a comparar o que não tem comparação possível. Devíamos orgulhar-nos da nossa individualidade, da nossa imperfeição, falhas, acertos e de tudo aquilo que faz de nós seres absoluta e inequivocamente especiais.
Hoje escrevia sobre o facto de ter um percurso incoerente, confuso e até mesmo irresponsável, “castigando-me” por isso. Para quê? Foi esse mesmo percurso que me permitiu ficar a olhar as estrelas em Chã das Caldeiras (Cabo Verde) um dia antes de subir o vulcão do Fogo… foi esse percurso que me permitiu fazer uma viagem extraordinária a Marrocos e estar de noite no deserto do Sahara com amigas maravilhosas!
Estive em muitos lugares, conheci pessoas para as quais meras palavras não bastam para descrever e por isso rotular o meu percurso de forma negativa seria diminuir tudo o que sou e tudo o que essas pessoas representaram na minha vida.
Sou mais do que privilegiada. E, por tantos motivos que disse e outros tantos que ficarão por dizer, tenho de reajustar a minha visão: não posso ver-me pequena. Mereço mais.
Vou pular a discussão de quem é o melhor: livro de papel ou eletrônico? É claro que essa questão é interessante. Até inteligente. Mas prefiro falar da leitura independentemente do seu suporte. Então narro algumas graças que a leitura me deu por toda a vida. Também já escrevi em postagens anteriores, e não me furto a escrever novamente, que o prazer de ler nada tem a ver com se preparar para o vestibular, ou prestar concurso para emprego. Ler literatura não garante ascensão para ninguém. Fosse verdade que a leitura ajudasse, escritores, redatores, jornalistas, revisores, editores, professores estariam magnificamente valorizados no mercado de trabalho.
Nunca li literatura acreditando que ela seria um caminho para o dinheiro. Li por desfrute. Li para conhecer novas paisagens, culturas diferentes, modos de vida do passado, fantasias de futuro. Também para sonhar e me emocionar. Leio porque aprendo com a amizade entre um esquimó e seu cachorro cego. Aprendo com uma personagem da remota Moscou do século XIX, do mesmo jeito que aprendo com a trama de um romance ambientado na Los Angeles de 2014. A leitura literária ensina com profundidade e – muito importante – de forma lúdica. Quer abrir a cabeça? Procure pela literatura.
A memória da leitura me socorreu em momentos duríssimos da vida. Logo que perdi meu pai, passei dias mastigando algumas linhas do Carlos Drummond: Do lado esquerdo carrego meus mortos. / Por isso caminho um pouco de banda. Em outra ocasião quando senti ter sido injustiçada em uma situação de trabalho, foi Mario Quintana quem veio correndo: Todos estes que aí estão / Atravancando o meu caminho, / Eles passarão. / Eu passarinho! A literatura também consola. E como!
Mas o melhor da leitura literária é nos sensibilizar para o outro. Personagens de papel ou de e-book capturam nossa atenção para suas particularidades e diferenças. Você entra na pele de um prisioneiro em Alcatraz, no destino de uma heroína, no coração de um perdedor.
É fato que sempre haverá quem diga: “Ler me dá sono. Só faço obrigado”. É um direito! Mas que pena! Para mim, e talvez para você, a leitura é companheira perfeita. Ela nunca se nega a afagar nossos sentidos. Faz mais ainda: desperta o sexto sentido. Aquele que não cabe na lógica dura, nos cálculos pragmáticos. Ler é a cadeira de balanço da alma.
Paraíso, segundo longa-metragem da diretora mexicana, Mariana Chenillo, produzido por Gael Garcia Bernal, aborda a questão da obesidade para falar de relacionamentos, da cruel exigência de belezas padronizas e da perda de nossos códigos de felicidade. Um filme delicado. Na tela o que se pode observar é a angústia dos nossos dias.
O filme conta a história do casal Alfredo (Andrés Almeida) e Carmen (Daniela Rincón), um casal feliz que saboreia a relação: beijam-se, transam, comem sem culpa; são felizes. Após o surgimento de uma proposta de trabalho para Alfredo, o casal se muda para o barulhento Distrito Federal, na Cidade do México. Em uma festa da empresa do marido, Carmen, sente-se humilhada por causa de seu sobrepeso e decide começar uma severa dieta. Fica obcecada por seu peso e mergulha na ansiedade e na culpa. O filme é delicioso e leve, mas o mais importante: aborda a questão da padronização estética.
Outro dia assisti em um seriado de TV uma personagem perguntar para outra: Você vai para praia? Com este corpo? E os apelidos tidos como engraçados deram sequência a piadas desnecessárias.
Em uma época onde adolescentes desaproveitam dos prazeres da juventude em nome de corpos perfeitos, o que dizer aos que simplesmente jamais serão galgazes? O que significa estar fora dos padrões de beleza idealizados? Para muitos significa sentir-se deslocado, castrado, limitado. Muitos jovens têm vergonha do corpo, deixam de ir a praia, deixam de ser livres. E assim é, porque fiscais da beleza apontam por todos os cantos.
O cuidado com a saúde é bem diferente da padronização estética e da função de agradar olhares críticos e, por vezes, cruéis.
Há pessoas de músculos perfeitos e fígado nem tanto; outras de músculos e fígado perfeitos; outras que nem sabem mais o que é sentar-se a mesa com prazer. Em nome dessa padronização e de um peso dito ideal, arrogante e muitas vezes inalcançável, muitos praticam um exercício cruel de autoflagelação.
Não suporto mais ouvir e ler sobre glúten, lactose, como perder a barriga em três dias ou como trazer o músculo amado e perfeito em três dias. Tenho pavor de piadas sobre gordos e seus respectivos apelidos; pavor dos egoístas padrões de beleza da sociedade moderna que nem tão moderna é, contrário fosse já teria aprendido a respeitar todas as formas de amor, de corpos e de prazer.
O filme Nise- O Coração da Loucura dirigido por Roberto Berliner e interpretado com beleza por Gloria Pires nos remete à história da psiquiatra alagoana, Nise da Silveira que depois de sair da prisão por motivos políticos, assume a direção da Seção de Terapêutica Ocupacional e Reabilitação em meados de 1946, no Centro Psiquiátrico Nacional.
Nise da Silveira é a pioneira do estudo da psicologia analítica no Brasil. Desde o período de formação na Faculdade de Medicina da Bahia, a psiquiatra alagoana procurou a psicanálise freudiana e finalmente a psicologia analítica de Carl Gustav Jung sua base teórica. Ela começa seu trabalho à frente da Seção de Terapêutica Ocupacional no Hospital de Engenho de Dentro em 1946. As noções de catarse e sublimação vieram ajudar a compreender e curar os internos esquizofrênicos dando um basta aos choques elétricos anteriores. Em poucos meses de trabalho, os doentes se expressaram através da pintura para construírem uma ponte para dentro, uma vez que estavam afásicos, sem nenhuma conexão com sua realidade psíquica. A esquizofrenia faz com que o indivíduo se desligue do mundo exterior e viva sem mais um elo de comunicação, o que o torna demente e alienado de si próprio..
As pinturas começaram a ser expostas e se destacaram tanto pela qualidade artística quanto pelos problemas científicos levantados nos trabalhos. Havia um material muito rico a ser pesquisado e analisado pela doutora Nise. Críticos de arte e terapeutas passaram a debater acerca da importância do trabalho de Nise pois as imagens rompiam com dogmas estabelecidos tanto no campo da arte quanto nos cânones psiquiátricos.
Na exposição 9 Artistas de Engenho de Dentro, Nise fala sobre três noções psicanalíticas: o sonho como meio de realização de um desejo, sublimação e estranheza inquietante. As explicações são dadas com embasamento na teoria de Carl G Jung principalmente no que concerne as mandalas em forma circular, como símbolos que mostram uma tentativa de reordenação psíquica. As mandalas com suas estruturas concêntricas remetem às imagens primordiais da totalidade psíquica e Nise viu neste método uma psicoterapia não verbal em pacientes esquizofrênicos, como se estivessem estabelecendo uma ponte para o inconsciente coletivo tão explorado por Jung.
Nise da Silveira em seu experimento, conseguiu explicar que as imagens plasmadas tinham um efeito catártico e a sublimação dos desejos inconscientes que anteriormente apareciam deformados como sintomas. Nise da Silveira entrou em contato com Jung através de cartas e lhe enviou mandalas dos pacientes. Na resposta, Jung aprova e admira o trabalho de cura da psiquiatra brasileira e a psicologia junguiana foi um instrumento produtivo para seu trabalho terapêutico.
Nise da Silveira consolidou uma das mais fecundas obras no campo de saúde mental e as concepções de Jung foram divulgadas pelas mãos firmes de uma das maiores pesquisadoras do Brasil, criadora de uma obra viva que ainda dará muito frutos.
“Amar não é aceitar tudo. Aliás: onde tudo é aceito, desconfio que há falta de amor.” VladmirMaiakóvski
Amor a dois não é para corações pessimistas. Amor a dois é para dispostos a construir um elo que fica. Amor a dois não fica em cima do muro. Amor a dois desconstrói qualquer possibilidade de impedimento do encontro. Amor a dois é confiança. Amor a dois não sente medo. Amor a dois não vai embora. Amor a dois fica.
Que vá para bem longe no caso do amor ser só um, porque não existe situação mais desleal que permitir alguém que não quer ficar, entrar assim, espalhando afeto entre tantos beijos e depois partindo como quem não se preocupa em cuidar por estar cicatrizando de feridas anteriores. Não é responsabilidade de quem chega fazer o peito arder para o novo. Tivesse escolhido recomeçar, agora nenhum sorriso viraria lágrima.
Mas engraçada essa coisa de amor a dois. Você nunca sabe quando ele surgirá até que acontece. E aí, sem tomar conhecimento da sua influência, você quer amar como se não houvesse amanhã. Esquece que para o amor a dois acontecer, ele realmente precisa ser a dois. Quando o outro coração segue numa velocidade diferente, o amor rompe, machuca e deixa outra pegada difícil de diferenciar entre tantas outras já marcadas pelo caminho. A nós, figura o desejo de prosseguir quando atingidos por essas tristezas do tempo passado. Basta coragem em olhar o presente e reconhecer que o futuro acolhe os ativos.
Amor a dois é para corações otimistas. Amor a dois é causa. Amor a dois não acontece em consequência. Amor a dois é para os indivíduos que se negam a acreditar na passividade do outro. Amor a dois é para quem, de fato, quer amor. Amor a dois não é desculpa. Amor a dois vive. Sem lamentos.