5 sinais de que você está tomando a decisão errada

5 sinais de que você está tomando a decisão errada

Por Júlia Warken

Por mais racional que a gente tente ser, a tomada de decisões importantes é algo que mexe com as emoções, né? Nem sempre dá para ver as coisas com clareza e nessas horas é mega importante refletir antes de tomar qualquer atitude. E o primeiro passo é conseguir identificar os sinais vermelhos que indicam que talvez você esteja entrando numa roubada. Por isso, reunimos aqui algumas pequenas dicas – que são bem simples, na verdade – que ajudam a perceber esses sinais. Inspira, expira e não pira, amiga!

1. Você está indo rápido demais.

Pode parecer piegas, mas fazer uma boa e velha lista de prós e contras é superválido. Colocar tudo no papel realmente pode fazer a diferença! Verifique sua listinha tantas vezes quanto necessário e dê uma atenção especial aos itens mais espinhosos. Não atropele etapas na tomada de decisão. Em certas situações somos pressionadas a decidir algo “pra ontem”, mas você precisa ser sincera consigo mesma acima de tudo!

2. Você está mais ansiosa e emotiva do que o normal.

Tem momentos em que a gente acaba tomando decisões drásticas num rompante e isso não é bom. Aquele ditado de que “é melhor fazer de uma vez, como quem tira um band-aid” não se aplica a tudo na vida. A ansiedade nunca é amiga da tomada de decisões. Mesmo que seja cansativo, refletir e arejar as ideais é sempre a melhor coisa a se fazer. E lembre-se: racional e emocional devem estar alinhados antes que você bata o martelo.

3. Você está se sentindo exausta.

Sinal vermelho importante! A correria do dia a dia é inimiga da tomada de decisões. Seu chefe está colocando pressão? Explique que você precisa refletir a respeito durante o final de semana. Uma mente exausta não consegue computar os riscos com clareza e um banho relaxante ou uma boa noite de sono podem fazer toda a diferença frente a uma grande decisão!

4. Você está indo contra os seus instintos.

Vencer o medo é superimportante para fazer as coisas darem certo, mas isso não significa que a gente deve se jogar de cara. É importante saber reconhecer o que é medo e o que é o seu instinto acendendo o farol vermelho. Mais uma vez: é preciso estar com a cabeça serena para ver as coisas com clareza e organizar as ideais.

5. Você não fala com ninguém sobre o assunto.

Você consegue conversar abertamente sobre a indecisão que está tirando seu sono? Se a resposta for “não” esse é um sinal vermelho a ser considerado! A decisão final deve ser sua, mas pedir conselhos a quem você confia é sempre uma boa pedida nessas horas. Converse com alguém, nem que seja para desabafar. Explicar a situação a outra pessoa também é uma boa forma de organizar suas próprias ideias com mais clareza.

E hoje vamos de…

E hoje vamos de…

Vaidade! É uma época estranha essa, de tentativas exacerbadas de tornar públicas as nossas importâncias e ignorar completamente as importâncias alheias. Mais do que isso, a materialização do ato de falar sozinhos, ou, em outro ângulo, falar para todo o mundo.

E hoje vamos de …sucesso, exclusividade, prioridade, sensacionalismo. Vamos para onde? Vamos com quem? Quem queremos que receba a informação da nossa ilustre e cobiçada rotina?

Será que nunca vamos de TPM, enxaqueca, roupa amassada, programa furado, conta virada? Vamos, claro que vamos, mas isso não dá audiência.

Vamos também de fofoca, de achismo, de provocação. Vamos indolentes, sem maiores preocupações.

Vamos sem tempo nenhum para olhar para os lados, valorizar uma virtude de fora, tentar minimamente o esforço de uma autocrítica, uma desaceleração na corrida pelo topo.

Vamos indiferentes, sem levar em conta que o outro é o nosso verdadeiro espelho. Vamos no atropelo, gastando o fôlego da vida com coisas miúdas, perdendo momentos mágicos para um registro frio e marcador de território. Fincamos bandeiras onde deveríamos construir um espaço comum.

E hoje vamos de… solidão desmascarada pela verborragia, status encomendado, popularidade passageira.

Não vamos. Estamos. Estamos fazendo uma força hercúlea não deixar cair o nível da vida perfeita que precisamos apresentar. Estamos abrindo as portas de uma intimidade projetada, já sem qualquer sinal de espontaneidade.

Para onde vamos? Alguns de nós, mais longe ainda, na tentativa incansável de virar mitos e musas. Outros de nós, seremos vencidos pelo cansaço e faremos a cansativa e suada viagem de volta a nós mesmos, a quem negligenciamos, aos lugares, coisas e pessoas, que, embora nem sempre tão lindos nas fotos, são os que confortam e alimentam nossos corações.

E enfim hoje vamos de…o que somos quando ninguém está nos observando.

Não posso ficar com quem não queira mergulhar

Não posso ficar com quem não queira mergulhar

Hoje eu venho aqui pra te dizer porque eu sai andando e te deixei falando com o vento, te deixei a ver navios, é que enquanto você estava ali tentando entender o preço da viagem eu te dava tchau da proa.

É que eu não posso ficar com quem não queira ver o mar, com quem tem mais problemas pra somar do que sábados para se perder. Com quem queira entender e listar os riscos e detalhes da vida antes de se arriscar a viver.

Eu não posso ser a receita de bolo ideal pra você, porque quanto mais eu ando mais eu desando todas as medidas e conceitos e eu às vezes invento de colocar frutas do quintal nesse seu pão de ló quadrado e perfeito.

Porque eu não posso ficar com quem não queira parar de reclamar e de olhar a vida como um enfadonho fardo, com quem aceita o gosto amargo do destino arruinado na língua. E com quem joga todas as esperanças num bilhete de loteria para ver se o mundo gira e esquece de sentir a brisa do existir agora.

Porque eu não posso ficar perto de quem mede as possibilidades, a profundidade dos mergulhos, colore os dias com um realismo cinza, gasta tempo fazendo quinhentas planilhas, não perdoa sete erros na mesma pessoa e seleciona os sonhos que mais se enquadram na probabilidade restrita de vingarem.

Porque eu não posso te fazer olhar pela janela e pintar a vida com aquarela e te dar um beijo em silêncio, num vazio de pensamentos e com os olhos fechados de dois adolescentes que se entregam e sabem esquecer do mundo.

Então, hoje eu venho aqui te dizer porque eu parti: é porque eu vi que alegrias e encantamentos eu já tenho no olhar e eu prefiro e preciso compartilhar os meus momentos com quem está a fim de cair sem paraquedas aqui dentro. Eu prefiro ficar perto de quem queria ver o mar e se molhar hoje e esqueça de todas as contas a pagar amanhã.

Às vezes, dar uma segunda chance só serve para mostrar que certas pessoas não mudam nunca

Às vezes, dar uma segunda chance só serve para mostrar que certas pessoas não mudam nunca

Vale a pena acreditarmos nas pessoas, até que nos provem o contrário, afinal, caso elas vacilem, terão que lidar com o que fizeram, e bem longe de nós. Os erros que não são nossos poderão até nos ferir, mas jamais ficarão na gente e sim em quem os provocou.

Logicamente, não podemos desacreditar de todos, achando que nunca as pessoas serão capazes de mudar, de melhorar, pois são o que são e ponto. Se assim o fossem, estaríamos fadados ao descrédito frente à capacidade do amor, do ensino, das experiências, de tudo o que vem para trazer conhecimento e lições de vida. As pessoas mudam, sim, para melhor, para pior, ou para lugar nenhum.

A todo momento, a vida nos coloca de frente com as consequências de nossas escolhas, para que possamos ter a chance de refletir e de mudar. É assim que a gente amadurece e para de errar tanto, evitando repetir atitudes que nos atrasam e nos afastam das pessoas e do caminho da serenidade. Porém, há quem não aprenda, quem não assume sua responsabilidade sobre nada, seja na vida, na família, no trabalho, seja na escola.

Para que consigamos seguir acreditando, sempre em frente, é preciso manter acesa a esperança e a fé nas pessoas, nos acontecimentos, na vida. Acreditar na mudança positiva de todos e de tudo o que nos cerca é imprescindível ao nosso equilíbrio, ao nosso respirar com folga. Ninguém sobrevive sem acreditar em alguma coisa que sustente seu caminhar. Não tem como.

O problema maior reside, sobretudo, em fugirmos ao enfrentamento de nós próprios, daquilo que nos acontece exatamente de acordo com a forma como agimos com as pessoas, com a forma como usamos o que se encontra disponível em nossas vidas. A colheita pode ser amarga, mas nunca será em vão, a não ser que nos neguemos a analisar as causas das dores que muitas vezes devastam a nossa jornada.

Caso não sejamos capazes de enxergar o que em nós e o que fora de nós vêm contribuindo ao nosso esgotamento emocional, não mudaremos, ainda que doa, mesmo que fiquemos paralisados, não importando quantas chances nos sejam concedidas, para que possamos melhorar. Infelizmente, existem pessoas assim, que, tombo após tombo, permanecem iguais, insistindo nos erros, pois atribuem a culpa de tudo aos outros.

Sempre ficaremos em dúvida quanto à validade de proporcionarmos uma segunda chance a alguém, em todos os setores de nossas vidas, pois o que machuca deixa marcas difíceis de se apagarem. Certo é que vale a pena acreditarmos nas pessoas, até que nos provem o contrário, afinal, caso elas vacilem, terão que lidar com o que fizeram, e bem longe de nós.

Os erros que não são nossos poderão até nos ferir, mas jamais ficarão na gente e sim em quem os provocou. E isso fará toda a diferença em nosso caminhar tranquilo, com amor e fé, com consciência tranquila e vontade de acertar.

Velho Chico, a ideia de que “todo mundo sabe” e a empatia

Velho Chico, a ideia de que “todo mundo sabe” e a empatia

Existem muitos textos falando de gentileza hoje em dia. Quase todos parecem dizer que a gentileza é a chave para que se abram as portas do coração. Eu concordo, ser gentil é sublime em um mundo de palavras gritadas ou automáticas. No entanto, quero falar aqui sobre a empatia, aquela qualidade linda que nos coloca no lugar do outro.

Independente desse outro ser conhecido ou não, o que sabemos pode mudar sua vida. E não é preciso que ministremos uma aula para isso, muitas vezes uma palavra pode orientar de forma a tornar a vida de alguém mais segura e melhor.

É comum ouvirmos a frase “todo mundo sabia” quando alguma fatalidade acontece, (como a ocorrida com o ator Domingos Montagner) no entanto é claro que a vítima não sabia do perigo que corria. Todos sabiam, menos ela. O pensamento recorrente nesses momentos, aquele que indica “que todo mundo sabia” parece caber muito bem em alguma desculpa, mas não é verdadeiro.

Eu não tenho condições de saber todas as imprevisibilidades que se anunciam em meu caminho. Nenhum de nós tem. Com cautela tentamos prever e fazer o nosso melhor. Mas mesmo assim podemos não saber que quando o mar se afasta da costa por quilômetros é provável que um tsunami esteja a caminho. Também podemos não saber que um material verde e luminescente, descartado a esmo, pode ser radioativo. Também podemos não prever em quais partes de um rio ou mar não podemos entrar se não existirem placas por perto. Mas, podemos ter a felicidade de encontrar em nosso caminho alguém que saiba aquilo que não sabemos.

No Brasil, em grande parte das ruas o carro tem preferencial, tendo o pedestre a orientação de atravessar na faixa, fazendo bom uso do farol, quando disponível. No entanto, na Europa é comum que os carros parem quando alguém deseja atravessar a rua. Muitos estrangeiros já foram atropelados em terras brasileiras por não saberem que aqui não é como lá e tantos outros se salvaram porque alguém felizmente os orientou antes que saltassem na frente de algum veículo. Essa parece ser uma informação corriqueira, de senso comum, mas não é.

Quando pudermos orientar alguém acerca de algo que pareça de domínio público, se a situação nos permitir, é importante que o façamos de forma empática. A vida precisa de respeito e carinho e se tivermos alguma chance de demonstrarmos carinho por ela, nem que para isso pareçamos loucos, devemos fazê-lo.

É preferível gritar “cuidado com o carro”, “essa área é imprópria para o mergulho”, “esse procedimento é perigoso”, “esse caminho não é o melhor” que lamentar a palavra silenciada.

As vidas salvas por um gesto empático não aparecem nos jornais, as perdidas sim. Façamos a diferença, orientemos quando possível, antes que o improvável se torne inevitável.

Ninguém tem obrigação de saber, mas o nosso dever como seres dotados de bons sentimentos é o de ensinar e orientar.

Diante da empatia, a vida sempre agradece.

Acompanhe a autora no Facebook pela sua comunidade Vanelli Doratioto – Alcova Moderna.

 

Se não for possível amar o próximo, pelo menos não ferre com a vida dele

Se não for possível amar o próximo, pelo menos não ferre com a vida dele

Vivemos em uma sociedade erigida sob os pilares do egoísmo e da individualidade. Desse modo, torna-se difícil seguir o mandamento cristão de – “Ama o teu próximo como a ti mesmo”. Essa caridade, como pregava Rousseau, parece impossível diante das circunstâncias dadas. Assim, se é quase impossível amar o próximo como a si mesmo, qual a possibilidade mais plausível para a modernidade líquida?

Para Conte-Sponville, a possibilidade de solução encontra-se na doçura. A doçura não visa atingir a máxima sublime rousseauniana de – “Faz ao outro o que queres que ele te faça” – mas sim, de na impossibilidade de fazer o bem, pelo menos não fazer o mal. Falando assim, parece pouco, entretanto, quantas lástimas seriam impedidas se houvesse doçura? Isto é, se o ser humano ao agir respeitasse os limites do outro, a maior parte das discórdias e cóleras seriam evitadas.

No entanto, ao expandir-se o homem, não só é despiedoso, como desconsidera qualquer possibilidade que possa fazer mal ao outro. Ao buscar o seu prazer, o indivíduo desconsidera o mal que faz ao outro. Parece, inclusive, regozijar-se com o mal produzido e com a sua opressão. Goethe chega a dizer: “Infeliz daquele que usa do seu poder sobre um coração para abafar as ingênuas alegrias que nele nascem espontaneamente”. Ou seja, se não fazes o bem, não ouse fazer o mal de abafar a alegria de alguém.

A doçura, dessa forma, é a virtude que impede que sejamos os infelizes relatados por Goethe. É a benignidade de Montaigne, que visa uma vida que se recusa a fazer sofrer, destruir e devastar. É a ação contemplativa, respeitosa para o que nos cerca, de modo que não concorremos para o fim daquilo que não necessariamente seja fruto da nossa felicidade.

Nem todas as pessoas, por exemplo, gostam de animais, assim, não é imprescindível que todos tratem os animais de forma carinhosa, bem como, não autoriza que alguém os maltrate. Dito de outro modo, agir com doçura não significa agir do modo mais belo e sim da forma que faça menos mal.

Obviamente, a doçura é muito mais simples que a caridade e, portanto, mais fácil de ser executada, assim como, mais necessária, pois, há a possibilidade de viver sem caridade, todavia, sem doçura é impossível. Embora seja mais fácil, o que percebemos é que a doçura é quase tão difícil de ser exercida quanto à caridade.

Como dito, os homens parecem sentir prazer com o mal que produzem no outro. A tranquilidade ou a felicidade de outrem sem a nossa participação parece ser intragável, é o que atenta também Goethe – “Quando vemos algumas pessoas felizes, sem que para isso tenhamos concorrido, a felicidade nos é insuportável”.

Sendo assim, um modo de vida virtuoso passa pela doçura, em que ao agirmos levamos em consideração a existência do outro. Não concorrer para o mal já é de grande valia, pois não adianta viver a hipocrisia de ajuda ao próximo, de caridade, se na maior parte do tempo só pensamos em nosso próprio umbigo.

Antes de ajudar, é preciso não atrapalhar. Antes de fazer o bem, é preciso não fazer mal. E para não fazer mal a alguém e conseguir alegrar-se com a felicidade do outro é necessário ser doce, pois só estes entendem a importância de fazer o próprio bem com o menor mal possível aos outros.

“Não aguento ir ao colégio”: Diego, de 11 anos, suicida-se por bullying na escola

“Não aguento ir ao colégio”: Diego, de 11 anos, suicida-se por bullying na escola

Hoje queremos compartilhar uma história triste com a qual todos nós podemos refletir muito: Diego, um menino de apenas 11 anos, decidiu tirar a sua própria vida no dia 14 de outubro de 2015. A razão? O bullying que ele sofria na escola.

Todos nós sabemos o que é o bullying e o que este assédio psicológico e físico é capaz de fazer na vida das pessoas mais jovens. Mas fica a reflexão… como um menino tão pequeno foi capaz de tomar esta decisão? Nestas situações, não apenas nos chama a atenção a perda de uma vida tão jovem, mas também nos perguntamos se instituições, como a própria escola ou os serviços sociais, não desconfiaram nada a respeito da situação pela qual Diego estava passando.

A OMS, Organização Mundial da Saúde, publicou um informativo há pouco tempo no qual revelou que todos os anos cerca de 600 mil jovens se suicidam em todo o mundo com idades compreendidas entre os 14 e os 28 anos. Dentro desta cifra, o bullying é a causa de pelo menos metade dos casos.

Trata-se de um drama social que todos nós devemos compreender para combater com as estratégias mais adequadas.

Hoje, devemos conhecer o caso de Diego, este menino de Madri, Espanha, que encontrou na morte a única solução para os seus problemas da vida.

O bullying na escola e o adeus a uma criança especial

O menino vivia em Leganés, um bairro de Madri onde passou os 11 anos de sua vida. Diego não quis mais seguir adiante, não quis mais crescer, só desejava ser livre de sofrimentos, de ataques e de pressões que sofria no colégio.

E por isso ele decidiu se jogar da sacada do apartamento onde morava, no quinto andar. Há quem pense que o suicídio é um ato de covardia por não saber enfrentar as dificuldades da vida. Entretanto, a verdade é que ninguém pode criticar a opção que acaba sendo escolhida pela pessoa em um momento como esse.

Neste caso estamos diante de uma criança e a realidade adquire um tom muito grave. Tanto é assim que os pais de Diego decidiram publicar a carta de despedida que seu filho lhes deixou e denunciar o caso à presidente da Comunidade de Madri e ao conselheiro de educação.

O caso de Diego, um bom aluno que não queria ir à escola

Diego tirava boas notas, era um bom aluno e seus pais estavam orgulhosos dele. A sua mãe contou que em algumas ocasiões, quando ela o buscava na escola, ele pedia que ela fosse embora rapidamente, correndo para fugir de algo ou alguém.

Ele só parecia verdadeiramente feliz quando chegavam o verão e as férias,quando ele ficava livre das aulas ou do seu colégio em Leganés. Os pais lembram também que durante quatro meses ele esteve afônico. Uma afonia nervosa que, de acordo com o médico, era certamente causada por algum impacto.

A família nunca soube ao certo que o motivo realmente era o que eles temiam e qual era a realidade que Diego vivia na escola.

Por outro lado, o próprio centro, quando deu início às investigações, explicou que a criança não apresentava nenhum problema e que não havia denunciado nenhuma incidência.

Fica claro que, em algumas ocasiões, os recursos de um centro não são suficientes para detectar o abuso, mas é possível intuir a tristeza de um menino. Os professores a veem, e os próprios colegas de classe que observam os acontecimentos simplesmente se calam.

Atualmente não há nenhum responsável que possa ser julgado ou investigado por causa da morte deste menino, e por isso os pais de Diego buscam, antes de tudo, colocar em evidência a gravidade do bullying, deste abuso escolar que levou a vida de seu filho tão pequeno.

A carta de despedida de Diego

Diego decidiu escrever uma carta de despedida para seus pais. Ele deixou uma nota que dizia “Vejam em Lucho” na janela da qual ele pulou rumo ao vazio.

Lucho era seu bicho de pelúcia favorito, aquele que em seu quarto guardava em silêncio as últimas palavras da vida de um menino de 11 anos infeliz, que dizia adeus aos seus pais de um modo maduro, admirável e emotivo. Porque Diego era, sem dúvida, um menino especial.

As frases que ele deixou foram as seguintes:

Papai, mamãe, estes 11 anos em que estive com vocês foram muito bons e eu nunca me esquecerei deles assim como nunca esquecerei de vocês. Papai, você me ensinou a ser uma boa pessoa e a cumprir as promessas, e além disso, brincou muito comigo. Mamãe, você cuidou muito de mim e me levou a muitos lugares. Vocês dois são incríveis, mas juntos são os melhores pais do mundo.

Tata, você aguentou muitas coisas por mim e pelo papai, e eu agradeço muito e te amo muito. Vovô, você sempre foi muito generoso comigo e sempre se preocupou. Te amo muito. Lolo, você me ajudou muito com as minhas lições de casa e me tratou muito bem.

Desejo sorte a você para que possa ver Eli. Digo isso porque eu não aguento mais ir ao colégio e não há outra maneira para não ir. Por favor espero que algum dia vocês possam me odiar um pouquinho menos. Peço que vocês não se separem, mamãe e papai, pois somente vendo-os juntos e felizes eu também serei feliz. Eu sentirei saudades e espero que um dia possamos voltar a nos ver no céu. Bom, me despeço para sempre.

Assinado Diego. Ah, uma coisa, espero que você encontre um emprego bem rápido Tata.”

Diego González.

TEXTO ORIGINAL DE MELHOR COM SAÚDE

Amigos e travesseiros

Amigos e travesseiros

Fofinho, magrinho, alto, baixo, de penas, de espuma… Há uma variedade imensa. Mas existe aquele feito sob medida para cada um de nós. O mesmo que nos acolhe à noite é, também, o que nos convida para ficar mais cinco minutos de manhã. Ele nos quer. Sua textura e seu cheiro são convidativos. Um bom travesseiro é mesmo irresistível. Eu diria até que ele é poderoso.

O travesseiro tem o poder de nos oferecer aconchego e conforto suficientes para nos levar às mais profundas reflexões. Ele nos auxilia na tomada das mais importantes decisões. Nosso travesseiro tem o privilégio de nos ter inteiramente. Não há interferências externas quando nos unimos a ele em busca do sono. Ele ameniza dores, enxuga lágrimas, consola. Não pode dar conselhos, mas nos oferece condições de pensar confortavelmente. E isso faz toda a diferença.

O travesseiro nos acomoda, nos abraça, nos recebe. Quando ninguém mais nos parece disponível, ele está bem ali à nossa espera. Tal qual velho amigo, o travesseiro guarda consigo nossas memórias e recordações. Cabe a nós fazer com que sejam boas. Que possamos oferecer aos nossos travesseiros boas lembranças do dia que passou. Que cada dia mereça ser relembrado antes do sono. E que isso se reflita madrugada adentro em nosso descanso. Que o sono possa ser reconfortante a ponto de nos fazer desejar mais cinco minutos de manhã, mas, ao mesmo tempo, oferecer-nos a energia necessária para mais um bom dia.

E que possamos, acima de tudo, ter na vida alguns amigos (em carne e osso) do jeitinho de nosso travesseiro. Amigos que nos acomodem com aconchego e que sejam sábios o suficiente para nos levar a pensar antes de dar qualquer conselho. Amigos que enxuguem nosso pranto, que nos consolem e que estejam logo ali quando mais precisarmos.

Amigos, esses, que tenham o privilégio de passar um tempo conosco sem interferências externas, que nos enxerguem alma adentro. Amigos com os quais possamos recordar (e viver) bons momentos a cada dia. Enfim, que nossos amigos possam compartilhar aquilo que os travesseiros já compartilham: nossas memórias, nossos sonhos mais íntimos, nosso ser.

Ausente-se e volte somente aos lugares onde sentiram sua falta

Ausente-se e volte somente aos lugares onde sentiram sua falta

Todos conhecemos alguém que está sempre presente e pronto para tudo, principalmente quando é necessário resolver algum problema ou quando algo de ruim acontece. É aquela pessoa para quem telefonamos quando estamos apurados, quando estamos num dilema, quando não dará tempo de fazer algo e precisamos de uma mão. É a primeira opção de nossa agenda de contatos, sempre que alguma coisa sai do prumo, pois sabemos que poderemos contar com sua ajuda, com seu discernimento, com sua presença que seja.

Da mesma forma, existem pessoas que tomam essa dianteira também em seus relacionamentos amorosos, pegando para si toda a carga de responsabilidade que deveria ser dividida. E então serão sempre elas que decidirão o que e onde comer, quando e para onde viajar no feriado, qual shopping visitar, qual loja entrar, qual conta pagar. Desde a escolha da cortina até a reforma do banheiro ou a compra de um novo carro, tudo, nesses casos, é decidido sempre por um dos parceiros.

Pessoas decididas e resolutas, que possuem a capacidade de buscar soluções, de ajudar sem titubear, de estar presente assim que for preciso, são muito queridas e imprescindíveis nos momentos de tempestade principalmente, porque sabemos que elas estarão ali nos ajudando, amparando nossas quedas e tomando as decisões que não estaremos aptos a tomar. No entanto, da mesma forma que nos lembramos delas quando tudo vai mal, é preciso que não as esqueçamos quando tudo vai bem.

Estarmos sempre prontos e presentes para ajudar é gratificante, faz bem e nos torna cada vez mais pessoas melhores, maduras e de bem com a vida, pois acabamos não nos desequilibrando diante dos nossos próprios problemas, seguros que estaremos para lidar com os reveses, encarando as derrotas com sobriedade. Não precisaremos de reconhecimento explícito, uma vez que fará parte de nossa natureza a iniciativa de enfrentar a vida a cada tombo, toda vez que ela disser não.

Porém, lidar com a ingratidão será uma de nossas necessidades, nesse percurso, porque nem sempre nos retornarão agradecimentos e sorrisos suficientes, nem sempre haverá quem reconhecerá o que fizemos, quem ao menos dirá “obrigado”, quem se lembre de nós quando chegar a hora da diversão, da calmaria. Por menos que precisemos de reconhecimento, a insistência em se doar sem receber nada de volta cansa e esgota as energias, pois afetividade que vai sem volta não se sustenta, não dura muito. Nada faz morada onde não haja encontro, onde o eco vazio é a única resposta obtida.

Ajudar a quem precisa é uma atitude prazerosa e gratificante por si só, porém, dói perceber-se como alguém que só é interessante quando o outro precisa, por mais altruístas que possamos ser. Precisamos estabelecer limites, sem machucar nosso amor-próprio, para que não nos percamos de nós mesmos, para que não priorizemos somente o outro, em detrimento de nossas vidas. Precisamos ser alguém que sente e não algo que é útil. Precisamos de carinho, de calor humano, de telefonemas bobos e de conversas sobre nada.

Podermos ajudar, trazer conforto e buscar soluções é maravilhoso, mas estarmos presentes e sermos queridos tanto na chuva, quanto nos dias de sol quente, é o que nos tornará mais seguros e felizes. Porque um dia a gente morre, mas em todos os outros a gente vive – e viver junto é bom demais.

Texto originalmente publicado em Prof Marcel Camargo

O pior cego é o que diz “não vi e não gostei”.

O pior cego é o que diz “não vi e não gostei”.

Não se engane. Julgar um livro pela capa, uma pessoa pela aparência ou um texto pelo título é burrice e ponto. Ultrapassa o limite do preconceito. Rompe a barreira da nossa resistência natural a um assunto ou outro, vai além do direito de cada um a uma primeira impressão aqui e outra ali, uma opinião precipitada de vez em quando, uma implicância à toa e esses escorregões a que todos estamos sujeitos. Quem bate no peito com orgulho e diz “não vi e não gostei” é uma besta monumental.

Em algum momento, em qualquer nível, todos somos preconceituosos. Acontece. Preconceito é uma ideia provisória a respeito de algo. Ficamos com ela até chegarmos a novas conclusões menos superficiais que confirmem ou corrijam o que pensamos de antemão. Agora, calcificar uma ideia preconcebida e fazer dela uma verdade em que não se pode mexer é uma imensa estupidez.

Pior do que ser uma mula preconceituosa e empacada é vestir de convicção intocável o que não passa de um pré-julgamento. Disfarçar de verdade absoluta um mero palpite inicial. Encerrar o assunto sem sequer tê-lo olhado pelo buraco da fechadura. Quando isso acontece, a ignorância proposital despreza e pisoteia uma das poucas verdades simples da vida: nós não sabemos tudo. Nunca vamos saber!

Quem não tem a humildade de reconhecer que desconhece tem desprezo por toda chance de aprender. Em geral, exibe excesso de empáfia, arrogância, mania de superioridade. Sentimentos daninhos e estrábicos que no meio do caminho facilmente se transformam em ódio, incompreensão, intolerância e essas coisas que tornam o mundo pior todos os dias.

Com a infinita quantidade de informações oferecidas pela Internet, nunca a máxima “não vi e não gostei” fez tanto sentido. Não somos apenas “uma geração” que não vê e não gosta. Somos um mundo inteiro de pessoas tomando conclusões impensadas, julgando, apontando o dedo, acomodando-se em juízos superficiais por preguiça de pensar. Pecando pela mais imbecil e lamentável má vontade.

É claro que todos temos o direito de não gostar de seja lá o que for. Mas o mínimo que se espera de uma pessoa provida de inteligência é que ela saiba realmente do que não está gostando. Que se aprofunde como puder a respeito do que rejeita e o faça com propriedade. Que não se contente em boiar à deriva, superficial, enquanto grita “vejam, vejam como eu sou idiota, vejam como eu sei fazer birra, vejam como eu insisto em não mexer nas minhas certezas e verdades prontas, vejam, eu sou uma besta completa e tenho orgulho disso!”

Não ver e não gostar de uma entrevista de um político sabidamente machista, homofóbico e racista, por exemplo, é diferente. Você já tem elementos suficientes para saber que se trata de um político machista, homofóbico e racista. Então não é exatamente “não ver e não gostar”. Você já viu e não gostou. É outra coisa. Em casos assim, ainda vá lá. Em todos os outros, nada justifica falar mal sem conhecer, julgar sem compreender, condenar sem refletir.

Faz uma forcinha, vai. Olhe além. Não diga “não li e não gostei”. É feio. Se quiser mesmo fazê-lo, a vida é sua, o problema é seu. Mas não saia alardeando isso por aí, não. É patético.

Pense um pouquinho antes. Nem que seja por respeito à sua própria capacidade de formar uma opinião. Fale horrores do que viu, leu, ouviu. Mas fale com a propriedade de quem conheceu e refletiu ou não fale nada. Não caia na armadilha da superficialização sem mais. Fuja do vergonhoso “não vi, não gostei”.

Preconceito nesse nível é um veneno que nos mata aos poucos. Isolados em nossas impressões pessoais, entrincheirados em nossos juízos de valor, sufocamos novas possibilidades. E tornamos o mundo pior enquanto fingimos, cínicos e desavisados, não saber o que estamos fazendo. Triste. Muito triste.

Amores que não se importam com os anos, rugas ou o tempo

Amores que não se importam com os anos, rugas ou o tempo

O segredo dos amores atemporais está na compreensão, na capacidade de comprometer-se e no respeito. São casais que se encarregam de crescer juntos e trazer felicidade à relação.

Há amores que duram um verão, um ano ou uma vida inteira. Na realidade, pouco importa a duração, mas sim se a experiência valeu a pena, se nos trouxe felicidade e uma recordação para guardar como quem conserva um belo tesouro.

Mas os mais enriquecedores, os amores que nutrem, que nos fazem crescer e que criam raízes por dentro e por fora são aqueles que nos acompanham até essas idades em que nos pesam os ossos e os anos, mas nunca o tempo compartilhado.

Há pessoas que não acreditam que os amores eternos, os que duram toda a vida, possam existir de verdade. Mas existem, e estes seriam seus segredos. Convidamos você a descobri-los conosco.

Os pilares que constroem os amores de toda uma vida
Começaremos especificando um aspecto importante. Há casais que têm uma relação de dois, cinco ou dez anos e a desfrutam com a mesma felicidade que aqueles que a conservam durante toda uma vida.

Por sua vez, há quem encontre seu bem-estar e equilíbrio de maneira solitária. Com isso, queremos dizer que, na realidade, a felicidade tem muitos caminhos e muitas faces, e que não temos que idealizar os “amores eternos”.

O amor dura o tempo que tem que durar e, por sua vez, durará se ambas as partes investem tempo, carinho e esforços nele.

Vejamos quais são esses pilares que definem as relações mais estáveis, essas que seguem buscando-se com o olhar, apesar das rugas.

Não se trata de “suportar”, mas de construir

contioutra.com - Amores que não se importam com os anos, rugas ou o tempo

  • Certamente, ao longo de sua vida, você ouviu que no amor o mais importante é saber suportar, ceder, ter paciência e perdoar.
  •  É preciso ser prudente com esses conselhos da sabedoria popular que, às vezes, oferecem resultados tão ruins.
  •  É preciso ter paciência, sem dúvida; é necessário saber perdoar, certamente, mas tudo isso com equilíbrio e cuidando sempre de nossa autoestima.
  • Os amores que duram toda uma vida não se limitam a “suportarem um ao outro”, a calar e dissimular, a esconder o que não gosta e a se lamentar escondido. Isso não é saudável nem adequado para nosso bem-estar emocional.
  • Os relacionamentos positivos e duradouros sabem construir, criam pontes, chegam a acordos, descobrem coisas juntos e cuidam para que, a cada dia, se chegue à cama não com um desgosto, mas com vontade de que chegue um novo dia para continuar esse projeto em comum.

contioutra.com - Amores que não se importam com os anos, rugas ou o tempo

A preocupação sincera de um pelo outro
Um casal passa por várias etapas, que não estão livres de crises. Problemas no trabalho, na família, épocas em que caímos na rotina e na monotonia…

  • Os amores sinceros, que duram toda uma vida, enfrentam os buracos pessoais, porque há uma cumplicidade autêntica e preocupação mútua.
  • Não se busca o bem-estar próprio a cada momento, o egoísmo se desativa, não em benefício exclusivo do outro, mas também pelo bem comum.
    Eu entendo que, se você está feliz realizando-se em seu trabalho, desfrutando de seus interesses e amizades, todo esse bem-estar se reverte também em nossa felicidade e na do casal.
  • Se não há preocupação, se não há interesse pela outra pessoa nem se demonstra com sinceridade e autenticidade, o vínculo vai se perdendo. “Morre de fome, de afetos, de respeito”.

A magia de fazer coisas juntos
Os casais felizes são, antes de tudo, uma grande equipe. Pouco a pouco vão aparando as diferenças, e não porque um cede e outro aguenta, mas porque existe um claro respeito mútuo.

  • Um aspecto que nos une dia após dia com mais intensidade é o prazer de fazer coisas juntos. Levantarmos juntos, nos deitarmos juntos, nos divertirmos juntos…
  • Se há cumplicidade e um claro desejo por seguir compartilhando coisas, espaços e projetos, esses casais chegarão à terceira idade com o mesmo carinho.
  • Outro aspecto que devemos levar em conta é o “crescimento”. Fazer coisas juntos também significa seguir experimentando e iniciando novos projetos. Assim, seguimos descobrindo aspectos um do outro que reforçam ainda mais o vínculo.
  • Viajar juntos, sair com novos amigos, permitir que tanto um como o outro tenham seus próprios passatempos e projetos também fará com que cresçamos individualmente e como casal.

Para concluir, estamos certos de que, ao seu redor, você conta com essa companhia antiga que te enche de admiração por esse amor que ainda mora em seu olhar, apesar dos anos e do tempo.

Certamente vocês passaram por muitas dificuldades e momentos de crise; no entanto, lutaram um pelo outro e pelo relacionamento. Sabem que o amor é construir, é investir e, acima de tudo, cuidar um do outro.

Fonte: Melhor Com Saude

Corações inóspitos

Corações inóspitos

Não são propriamente indiferentes, não são obviamente insensíveis, não estão em condição de superioridade ou imunidade. Também se abalam, sofrem, murcham, vivem a perseguição implacável do vazio de amor.

Corações inóspitos são os que, embora queiram e precisem do companheirismo das relações do mundo, são totalmente inábeis, não possuem a capacidade de manter um ambiente amistoso, recuam e acuam sem a menor explicação nem cerimônia.

Ai de quem se encanta por um coração inóspito. Se de primeira pode parecer apenas uma reserva ou timidez, quando a coisa fica visível, a aspereza já fez seu estrago.

E nessa hora não se sabe pelo que mais se lamenta. Se pela decepção de um julgamento inocente ou se pelo pobre e miserável coração, que não economiza defesas para manter longe quem o quer bem.

E sem ilusões de que esses corações não amam. Amam e sofrem de amor. Todo mundo ama, até mesmo os brutos, os rudes, os inóspitos!

Mas, para tristeza deles e desilusão de quem os deseja, não conseguem manter por perto os seus afetos. Sofrem e fazem sofrer.
Não confiam, não relaxam, não compartilham momentos, experiências, medos, dúvidas. São desconfiados porque conhecem suas naturezas traiçoeiras.

Corações inóspitos são casas inabitáveis. São fachadas tantas vezes lindas, modernas, atraentes, mas que guardam um interior sombrio, gelado, insalubre.

Corações inóspitos podem parecer simpáticos, divertidos, interessados e interessantes. Mas, passada a primeira e ilusória impressão, se apresentam formalmente e se revelam então, nada hospitaleiros.

De verdade, é uma dureza e uma rudeza conviver com eles, mas sempre pinga um na família, no grupo de amigos ou nos ambientes de trabalho. Bom para quem se blinda logo na partida e não exige o que não conseguem dar.

Inóspitos como pântanos, lhes resta a consciência do que são e como afetam outros corações, e, quem sabe – e não devemos jamais fazer condenações eternas – a vontade de mudar e deixar brotar vida onde nada havia.

A fábula do caminho do meio

A fábula do caminho do meio

Sempre que tento andar pelo caminho do meio acabo me perdendo no meio do caminho.

Me perco porque acho que estou no caminho errado e saio em busca de atalhos, sem saber que certas fomes, certos dramas, certos enredos, certas tramas não têm saída: é matar ou morrer e depois, renascer.

Não, não sou extremista. A vida, às vezes, é que me parece pedir atitudes extremas. Não há escolhas sem perdas, nem caminhos sem pedras.

Querer andar no caminho do meio sem ser hindu, chinesa ou japonesa é o mesmo que vestir um quimono sem ser gueixa: a seda pode até se acomodar sobre a pele, mas a sede no olhar denuncia faltas ancestrais.

Se não tenho olhos de águia para contemplar o outro lado da montanha, por que deveria forçar meus olhos de menina na amplidão? Se não tenho olhos de coruja por que deveria forjar uma sabedoria que ainda não alcancei?

Simplesmente por que é mais bonito? Mais sensato? Mais equilibrado? Mais sábio? Mais maduro? Simplesmente por que é o que esperam de nós?

Não saber andar no caminho do meio me gera uma vergonha insana. Uma vergonha que me chicoteia e me tira a paz tanto quanto meus dramas de menina-moça.

E se eu quiser achar que o caminho do meio é o caminho da mediocridade? Da mornice? Da mesmice? Do tédio? Da acomodação?
Por que a virtude está no meio? Quem inventou essa fábula?

Não seria essa fábula um mero sistema de controle? Onde se pretende amordaçar, aquietar e amansar almas que não se contentam com a superficialidade do conforto?

Picasso, Van Gogh, Baudelaire, Drummond, Beethoven, Lispector, Pessoa, Bukowski, Dylan, Maiakóvski teriam feito suas grandes obras se estivessem no caminho do meio? Ou as fizeram exatamente por que estavam em busca dele?

Não sei. Sei que me aflige essa história de que devo andar no caminho do meio e que me queima essa sensação de inadequação quando percebo que meus passos são largos demais para caberem nesse pliê.

Bem na verdade me preocupam e causam mais comoção as pontes e a paisagem do que o caminho em si.

Assim vou sendo… E estando no mundo…

Do livro A louca do Castelo 

Pare de se cobrar excessivamente, viver não consta no curriculum

Pare de se cobrar excessivamente, viver não consta no curriculum

Eu tenho um recado pra você, que tem se cobrado constantemente e deixado de viver para si, a fim de viver para os estudos. Pra você, que está deixando morrer sua vida social e que já nem sabe o que é sair e dar umas boas risadas com seus amigos. Pra você, que está rodeada de livros e obrigações, em vez de estar rodeada de pessoas.

Esse recado é pra você, que caiu nas redes do ”Você precisa ser o melhor, ou dar o seu melhor”, fazendo-a ultrapassar todos os limites do seu corpo. Aquela concepção errada em que nos enquadram, de que precisamos abdicar de tudo para chegarmos aonde queremos, quando, na maioria das vezes, com 18, 20, 22 anos, ainda não sabemos se queremos mestrado ou se queremos, sei lá, viajar depois da faculdade. Muitas vezes, aos 18 anos nem sabemos que curso queremos e isso já é motivo para entrar em desespero, pois os pais cobram que façamos alguma graduação e sentimo-nos angustiados ao ver nossos amigos que, desde a infância, já sabiam que queriam medicina, enquanto gostávamos de brincar de bola na rua.

A sua apreciação pela arte, pela música, de nada valem e você precisa gostar de matemática ou ser muito boa em biologia. Desde cedo, essa cobrança com o que devemos ser dentro de um prazo é o que leva muita gente a adentrar na faculdade e não saber lidar com as frustações do meio acadêmico.

Esse recado é pra você que, como eu, acordou e não conseguiu fazer aquele trabalho da faculdade, que trocou um feriado de estudos por um feriado com seriados, e que depois ficou se culpando como quem deveria ter feito algo e não fez. O mundo acadêmico exige responsabilidades e não estudar no feriado não faz de você um preguiçoso, não ter vontade de estudar no domingo não faz de você um irresponsável. Você não é uma máquina, é um ser humano e, embora isso nem sempre nos pareça óbvio e real, temos nossas limitações e o cansaço sempre aparece, sempre vem.

As cobranças sociais não nos preparam para isso, elas apenas nos jogam lá como quem precisa produzir. Você precisa tirar notas excelentes, precisa fazer seu TCC, precisa estudar para o mestrado ou já ir se preparando para um concurso, você precisa ter tantos artigos publicados e seu Curriculum Lattes precisa estar bom o suficiente para alguém olhar e dizer: “Uau”; e tudo isso em um prazo mínimo, em um tempo curto que não nos permite o melhor da vida: viver.

Se você quer seguir carreira acadêmica e pensa tanto na pós-graduação, ótimo, sei que não medirá esforços para atingir seu objetivo, mas não se cobre tanto. É importante ousar, ter sonhos, querer sempre avançar e o ambiente acadêmico nos permite progredir e alçar voo. É um mundo de possibilidades e temos a escolha de não nos tornar prisioneiros. Temos a liberdade de saber dosar as obrigações e de assumir nossos fracassos, não como quem desiste, mas como quem não estava bem no dia em que fez a prova, ou não conseguiu assimilar o conteúdo. Como quem estava com problemas e teve sua atenção dispersa durante a prova. Como quem não entendeu as explicações do professor e tudo bem em tirar um 6.0.

Então, pare de se culpar por não ter tirado um 10 naquela prova para que você tanto estudou, não se culpe por não ter conseguido fazer todos os trabalhos que você tinha programado durante a semana e de pensar sobre por que, um dia ou outro, deixou de estudar para ir tomar um café com um amigo e falar das besteiras da vida.

Pare de olhar em volta e achar que todo mundo está conseguindo render ao máximo, que todos estudam loucamente e que você é quem está ficando para trás, só porque, entre tantos domingos, você não conseguiu estudar em algum deles. Só porque você dormiu enquanto estudava para uma prova, mesmo tendo tomado tanto café para se manter acordado.

O que quero dizer é que viver não faz parte do Lattes. Boas risadas, momentos agradáveis, ver aquele filme que estreou no cinema e deixar de lado as preocupações não nos torna irresponsáveis, mas sim humanos.

Não tem problema acordar no domingo e querer comer pastel na feira logo cedo, em vez de querer terminar sua pesquisa. Não tem problema se você não conseguiu produzir como gostaria no feriado e acabou apenas fazendo um trabalho entre tantos, porque acabou caindo no sono. Não tem problema se não conseguiu escrever nada do seu TCC hoje. É que somos humanos e não temos disposição todo dia, não temos energia o tempo todo e, embora a sociedade e a vida acadêmica exijam constantemente que devemos ler tantos mil textos por semana, que devemos produzir, produzir e produzir, nós nem sempre conseguimos acompanhar esse ritmo; então, aceite pausas. Faça paradas. E isso não tem nada a ver com desistir ou andar para trás. Isso tem a ver com permitir. Permitir-se tomar um sorvete em um domingo à tarde e sair com os amigos no sábado à noite sem culpa. Isso inclui permitir viver longe de se achar problema ou dotado de dificuldades porque não conseguiu varar uma noite estudando ou porque, por algum motivo – provavelmente o cansaço -, você não conseguiu terminar o seu TCC.

Não é normal se culpar por não conseguir estudar depois de um dia inteiro na faculdade, não é normal se culpar por não ter conseguido estudar no feriado ou por não ter aguentado ler durante toda a madrugada. Que essas cobranças não nos aprisionem e que nós possamos conhecer as teorias e dominá-las sem deixar de conhecer a nós mesmos e aos outros, sem perder o controle da nossa vida, deixando que as cobranças tomem a direção.

Você pode saber como se fazem referências nas normas da ABNT e da APA sem precisar consultá-las, pode saber perfeitamente como elaborar um projeto de pesquisa, mas você também precisa saber viver. Precisa saber respeitar quando o seu corpo diz não e quando você está cansada emocionalmente depois de uma semana de provas. Relembrando, viver não consta no Lattes e, ao contrário das teorias e coisas que nos ensinam todo o tempo, viver não segue um manual. Aprenda a sobreviver às cobranças, não mergulhe nelas, a vida é muito mais do que isso.

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