Entendendo o processo de compulsão alimentar

Entendendo o processo de compulsão alimentar

Por que será que a nossa mente teima em nos levar para a comida quando as coisas não vão bem?

Não é novidade para ninguém que a compulsão alimentar é filha da ansiedade. Mas por que será que quando ela bate, nunca queremos um prato de salada?

Porque, em geral, a compulsão alimentar é casada com o “pensamento gordo”.

Leia os tópicos abaixo e registre, sinceramente, quantos deles representam sua maneira de pensar.

1. Se você compartilha memes e textos que enaltecem o prazer de comer besteiras e a falta de vontade de fazer atividade física

2. Se toda vez que acontece algo positivo, você pensa em comemorar comendo alguma coisa gostosa (e nada saudável) para “se presentear”

3. Se toda vez que acontece algo negativo, você pensa em comer um docinho ou algo gorduroso para “se mimar”

4. Se acredita que todas as pessoas que se alimentam de forma saudável são neuróticas e vez ou outra faz piada sobre o assunto

5. Se você malha somente para poder comer mais

6. Se você decide fechar a boca, mas continua ingerindo bebida alcoólica, sabotando, assim, sua dieta

7. Se você come os restos (de batata frita, por exemplo) que seus amigos, namorados (as) ou filhos deixam no prato

8. Se você faz dieta, mas no dia liberado (o famoso dia do lixo) se entope de todas as porcarias que não comeu durante a semana de uma só vez

9. Se a privação de algum alimento (como massas refinadas e doces) representa tortura e punição

10. Se você culpa alguém ou alguma situação (que não seja alguma disfunção fisiológica) pelo fato de ter engordado

Se você assinalou mais de três das alternativas acima, isso quer dizer que sua compulsão alimentar pode estar casada com o pensamento gordo. Aliás, você pode ser magérrimo e alimentar pensamentos gordos, sabia? A boa notícia é que é possível mudar esse padrão de condicionamento.

Tendemos a “pensar gordo”, quando aprendemos que a comida é uma recompensa, um cobertor quentinho para onde podemos correr quando as coisas não vão bem.

Quando aprendemos que a única fonte de satisfação imediata possível – portanto, anuladora de frustração – é a comida.

Se nós criamos a nossa realidade a partir dos nossos pensamentos, antes de mudarmos nossos corpos precisamos mudar nossos pensamentos, pois ao mudarmos nossos pensamentos conseguimos mudar nossas atitudes. Não se trata de magia, tampouco de lei da atração, trata-se de um processo mental de condicionamento, largamente estudado pela Psicologia Comportamental.

Antes de fazer dieta ou se matricular numa academia, é preciso repensar a relação que estabelecemos com os alimentos.

Se a comida (ou a bebida alcoólica) for a única fonte de conforto emocional que conhecemos – ou seja, que a nossa mente aprendeu -, dificilmente vamos deixar de ser vítimas do efeito sanfona, por exemplo.

Será preciso testar, com paciência e perseverança, novas fontes de conforto emocional para que a nossa mente aprenda novos caminhos para onde correr quando a frustração e/ou a ansiedade baterem.

Ao compartilhar memes e textos que enaltecem o prazer de comer mal, por exemplo, estamos enviando, sem perceber, um reforço positivo para a nossa mente, dizendo “continue assim, tamu junto”. Ao comprar um bolo de chocolate para comemorar uma nova conquista, estamos reforçando o padrão de recompensa em nossa mente. Ao comer uma pizza inteira somente porque estamos tristes e precisando de colo, idem.

Existem situações (ou pessoas) que nos desestabilizam, nos fragilizam, mas a escolha de usar a comida como conforto, como antidepressivo, como recompensa, é nossa. Ninguém colocou o pote de sorvete em nossas mãos. Culpar o outro não vai resolver o nosso problema, até porque ele não poderá emagrecer por nós.

Treinar a mente é mais importante do que correr numa esteira quando se quer perder peso e/ou vencer a compulsão alimentar.

Uma dica bacana é tentar observar o que estamos sentindo, o que estávamos fazendo e pensando quando tivemos o impulso de abrir a geladeira ou sair para comprar um milkshake.

Esse exercício simples nos fará observar quais emoções nos levam à comida.

Medo? Raiva? Rejeição? Frustração? Culpa? E conhecendo nossas emoções, podemos fazer contato com elas e enfrentá-las, além, claro, de descobrirmos novas formas de lidar com elas.

O próximo passo seria perceber o gatilho e questionar: “Estou com fome ou com medo”? “Estou com fome ou com raiva”? “Há quanto tempo fiz minha última refeição”? Se a resposta for “medo” ou “raiva”, optar por não comer.

Quanto mais nos conhecemos e estamos conscientes das nossas emoções, necessidades e motivações, mais temos a chance de mudar nossos comportamentos, atingindo, assim, nossos objetivos – isso vale para tudo, não apenas para a perda de peso ou compulsão alimentar.

Desconfio, logo, sofro

Desconfio, logo, sofro

Já foi a época que a criatura desconfiada corria para abrir cartas alheias na boca da chaleira, para aplacar seus medos ou confirmar suas desconfianças.

Hoje o martírio de um desconfiado está em outro nível, uma verdadeira caça de tirar o fôlego e a razão. As opções que um desconfiado precisa identificar, formam um jogo perigoso que pode consumir tanto mais tempo quanto maior for a presença do seu alvo nas redes e aplicativos sociais.

Desconfiar de alguém e viver uma constante caça, é sofrer com conclusões de uma lógica única, particular, tendenciosa e pessoal.

Mapear os movimentos de alguém, utilizar o tempo disponível com esse propósito, é dar um tiro no próprio pé, é ferir-se espontaneamente, é se desrespeitarem alto e nocivo grau.

O ouvido na porta, o olho na fresta, a armadilha jogada, a senha roubada, tudo isso revela um alto grau de sofrimento, de detrimento, de enfraquecimento.

Desconfiança não é curiosidade. Desconfiança é muito pior. É buscar desesperadamente estar dentro da vida privada do outro, ser a mosquinha que tudo assiste, ter a fofoca em primeira mão, às vezes o alívio, outras, a decepção.

Desconfiar é meter a mão no formigueiro e culpar o outro pelas feridas da própria decisão.

Se eu desconfio, não confio. Se não confio, não faço revelações, não contabilizo promessas, não faço planos nem sonhos.

Se eu desconfio e não confio e ainda assim eu fico, sofro. Sofro porque preciso provar que estou errada, que minha desconfiança é loucura, que meus instintos me traem, que minha razão falha.

Se provo, depois me culpo.
Se não provo, me decepciono.
E sofro pelas duas razões.

Que eu possa ser livre o suficiente para deixar, livre, dar corda, confiar e ser de confiança!

A grosseria é uma droga pesada e estamos todos viciados.

A grosseria é uma droga pesada e estamos todos viciados.

No consultório médico, um paciente se aproxima da recepcionista e dá início ao seguinte diálogo.

– Bom dia! – diz o paciente.
– Pois não. – ela responde secamente.
– Tenho uma consulta às oito horas.
– Empresta a carteirinha.

Faltam dez minutos para o horário da consulta. O homem lhe entrega a carteirinha do convênio médico e a moça encerra a conversa:

– Só aguardar.

Resistente, o homem tenta mais uma vez:

– Obrigado, moça.

Mas ela não responde. Quarenta minutos depois, às oito horas e trinta minutos – com meia hora de atraso – o homem tem seu nome chamado e é atendido pelo médico.

A recepcionista não foi capaz de um único “bom dia”, nem um só “por favor”, “obrigado”, “de nada” e coisas assim. Por sua vez, ao atender seu paciente com meia hora de atraso, o doutor foi incapaz de uma frase simples: “o senhor me desculpe o atraso, eu tive um contratempo”.

Sem notar, todos eles – a recepcionista, o médico e o paciente – afundaram-se mais um pouquinho no vício da grosseria, essa droga pesada e maldita que nos destrói aos poucos.

Cada um dos três se comporta como quem já não vive sem a tal substância. A recepcionista, inapta para o mínimo gesto de gentileza, é antipática e insensível a ponto de parecer sequer compreender o que está fazendo. É um zumbi, um robô, uma alma fria e indiferente.

Já o paciente ainda tenta um “bom dia” e um “obrigado”, mas acaba vencido e se torna permissivo, deixa-se subjugar sem resistência, aceita não ouvir a resposta a seu “bom dia” e não reclama de ser atendido com meia hora de atraso.

O médico, aquele que deveria dar o exemplo à funcionária da recepção, perde a chance, confirma o descaso, atesta a incompetência de sua estrutura: ao não se desculpar pelo atraso, perpetua um erro grosseiro. Piora ainda mais um quadro já tão sério.

Como todas as drogas pesadas do mundo, a grosseria arranca de nós uma série de qualidades. Observe. Estamos perdendo a capacidade para a gentileza, os bons modos, o cuidado com o outro. Nossos valores estão se debilitando e adoecendo como o organismo de um viciado em crack. Nossa sensibilidade se curva, nossa inteligência se achaca, nosso discernimento se prostra. Feroz e implacável, o vício na grosseria nos transforma em monstros desumanos e entorpecidos sem sequer percebermos. O mundo, por sua vez, vai se perdendo e destruindo tal qual as famílias abatidas pelo vício de um ou mais de seus membros.

contioutra.com - A grosseria é uma droga pesada e estamos todos viciados.

A febre se alastra por todos os cantos. Nas escolas, nas empresas, nas casas, nos programas de televisão, nas redes sociais, nas ruas, nos supermercados há cada vez menos gente pedindo licença e agradecendo, cedendo passagem e oferecendo ajuda. “Bom dia”, “boa tarde” e “boa noite” são expressões raras que logo só vão existir nas aulas de história, enquanto restarem professores de história. Em breve, a delicadeza será vista apenas como mesura inútil, falsidade ou “coisa de quem quer alguma coisa em troca”. Porque estamos todos, em algum grau, de alguma forma, tocados pela droga da estupidez.

Crianças de quatro anos dão ordens a garçons em restaurantes: “traz uma coca-cola!”, sem sequer um tímido “por favor”. E os pais os olham divertidos, como quem diz “olha que graça… já sabe pedir!”. Casais, pais e filhos, amigos e colegas se tratam sem economias de “cala a boca”, “sai da frente”, “faz o que eu mando” e outras patadas quase sempre expressas aos gritos. Toda relação que devia ser permeada de afeto e cuidado sofre pisoteada por grossuras, descuidos e crueldades.

Dia desses, um amigo querido me pediu um favor sem usar a expressão “por favor”. Ele simplesmente me mandou uma mensagem dizendo: “faz pra mim um texto assim?”. Eu fiz sem perguntar nada, como fazem os amigos. Enviei e ele não me respondeu. Uma semana mais tarde, mandei a ele outra mensagem para saber do trabalho. Ele me respondeu qualquer coisa, mas não me agradeceu pela ajuda. Nem um único “Valeu!”. Então eu provoquei e agradeci a gentileza da resposta, mas meu amigo não percebeu a ironia. E tudo ficou por isso mesmo. Por quê? Porque tanto ele quanto eu somos dependentes de grosseria e sequer pensamos no assunto.

Não nos enganemos. Quem aceita uma indelicadeza de qualquer tipo é tão viciado quanto quem a pratica. A grosseria é uma droga pesada e nós estamos todos viciados. E o pior, a exemplo do que acontece com os adictos a outras drogas, somos incapazes de assumir que estamos doentes e buscar ajuda.

Não vai ser fácil deixar o vício. A abstinência é dura, o tratamento é longo e os remédios são amargos. Para viciados em coices, apatias e descasos, um simples “por favor” arde na boca e desce rasgando a alma. Um mero “obrigado” provoca rejeição violenta, vômitos, desmaios e outros efeitos. Mas uma hora, com a força do doente e o apoio da família, a crise passa e o tratamento vai se tornando mais brando e eficaz.

Então nosso maior trabalho será como o de qualquer dependente em recuperação: evitar a primeira dose, desviar ao menor sinal de indelicadeza, fugir de qualquer grossura, recusar todo convite à rispidez. Só assim, quem sabe, viveremos com mais afeto, mais apreço e mais amor por toda gente tanto quanto por nós mesmos, um dia depois do outro, livres, leves e gentis.

Seja uma boa pessoa, mas não perca tempo tentando provar isso

Seja uma boa pessoa, mas não perca tempo tentando provar isso

Desde pequenos, recebemos ensinamentos dos familiares, na escola, na religião, através das histórias que nos contam, dos livros que nos leem, no sentido de que possamos aprender que devemos ser gente do bem. Crescemos em meio a punições dos mais velhos e a castigos ditos divinos, para que possamos agir em favor de nosso bem estar, sem machucar ninguém.

E, apesar dos imensos esforços de nossos pais, professores, das doutrinas religiosas, das vertentes filosóficas, da mídia, de toda variedade de produtos voltados à autoajuda, o mundo se torna a cada dia mais violento e perigoso. O egocentrismo impera e a busca pelo sucesso e pela riqueza material cegam-nos quanto aos necessários cuidados para com a nossa essência humana.

Parece que, quanto mais se dissemina a necessidade de amor, compaixão, solidariedade e tolerância, mais acirra a convivência desarmônica entre as pessoas, que vêm se tornando a cada dia menos propensas a enxergar o outro, a enxergar-se a partir do olhar do outro. E assim vamos atropelando a tudo e a todos em busca de posição social, de cargo elevado, de bens, de grife, de dinheiro, enchendo os bolsos e esvaziando a nossa afetividade.

Com isso, somos muitas vezes tentados a pensar, de uma maneira pessimista, que de nada adiantará tentarmos fazer algo para melhorar as coisas, pois somos grãos de areia diante de um mar de gente maldosa. No entanto, o raio de nossas ações é infinito, pois o bem se espalha, contagia, ilumina, cura e salva. Podemos, assim, ajudar a tantas pessoas que nem podemos imaginar, além de nos sentirmos melhores e nos tornarmos de fato pessoas melhores.

Bom mesmo é praticarmos o bem de maneira natural, mantendo pensamentos positivos, sorrindo ao próximo, cumprimentando a todos, falando uma palavra amiga a quem precisar, silenciando, se necessário, buscando a felicidade, sem pisar ninguém pelo caminho. A gente pode – e deve – exercitar o comportamento positivo, diariamente, até que se torne parte de nós, para que possamos ajudar o próximo e manter nossa paz de espírito.

E, nesse percurso, será necessário nos desprendermos de certas vaidades inúteis, como a necessidade de reconhecimento. Besteira preocupar-se com a opinião alheia. Quem age com princípios éticos e pensa além do próprio umbigo sente-se tão bem, que nada lhe importará além de sua paz consigo mesmo, na certeza de que alimenta o amor, de que todos somos feitos, com bondade e transparência. E essa verdade ninguém nos tira, ninguém contesta, ninguém derruba.

Desculpe, mas um pouco de tristeza é fundamental

Desculpe, mas um pouco de tristeza é fundamental

Todos nós já passamos por alguma imersão melancólica. Daquelas onde falta ar, direção e propósito. Uma perda emocional engatilhada por um motivo qualquer, não importa. Não há uma resposta simples para se estar triste. Algumas vezes, o amanhecer não é aconchegante. Quem disse que precisamos esbanjar felicidade o tempo inteiro? Podem ser sortudos os que enxergam belezas nas perdas cotidianas, mas não são azarados aqueles que, diante um tombo, escolhem recolherem-se.

Você pode chamar de resiliência, caso queira. E talvez esse seja o sentimento a ser empossado. É quando nos deparamos com adversidades que temos os descaminhos para ir mais além. De sermos próprios, ávidos e pensantes. Imagine atravessar uma vida inteira sem provar de um gosto amargo? Não fraquejar? Por quê? Desculpe, mas um pouco de tristeza é fundamental. Longe de mim querer deixá-los tristes, ainda assim, olhar para esse texto e reconhecer apenas palavras poucas, lamento.

No mês passado perdi um amigo. Ano passado perdi amores. Até mesmo trabalhos entraram nessa ciranda imprevisível da vida. Anteontem, acredite, até assaltado fui. Poderia alimentar inúmeras raivas por instantes tão densos e injustos, mas resolveria? Fico espantado com a facilidade de algumas pessoas em propagarem raivas e ódios. Uma opinião diferente, raiva. Um desfecho contrário, ódio. Como podemos seguir?

Engraçado é que outros tantos diriam apenas para sorrir ou para não pensar dessa forma. Concordo serem janelas tentadores e positivas, mas, tenho que insistir, uns dias tristonho, há uma certa tranquilidade nisso. Sei que para você, esse não é o melhor texto para adentrar no meu coração. Mas é honesto e, por que não, legítimo? Afinal, combinei comigo desde início que escreveria sempre para transbordar e não para reter. A poesia começa aqui, mas não possui endereço certo.

Desculpe, mas um pouco de tristeza é fundamental. Escrevo com uma certa ponta de felicidade no canto do rosto e, também, acometido por umas poucas lágrimas. Estou bem. Estamos bem. Posso ter perdido muito ultimamente, mas nenhuma doença, desavença e desamor irão me tirar – mesmo que à mão armada, isso que nós temos. Isso que tenho.

A tristeza recolhe e também propicia novos impulsos. Na minha situação, sentir o que deixo transparecer nessas linhas é o melhor remédio. E precisei estar triste para abraçar o quanto já ganhei numa vida inteira. De repente, a sorte nada mais é do que uma perspectiva.

Quem mata o tempo não é um assassino. É um suicida.

Quem mata o tempo não é um assassino. É um suicida.

A frase de Millor Fernandes é famosa. O hábito que o ser humano tem em perder tempo com coisas inúteis também.

A perda de um amigo, a saudade dos pais e os gestos de carinho adiados são um dos muitos exemplos que o tempo leva e não traz de volta.

O tempo possui a mais poderosa influência em nossos pensamentos, sentimentos e ações, entretanto nós, geralmente, atribuímos a ele responsabilidades que não possui. Não cabe ao tempo o alívio da saudade ou a remissão dos erros. Cabe a você (e ao seu autocontrole) a cura para seus males.

É necessário entender que o tempo traz sabedoria, através de experiências pessoais, e somente isso. Acreditar que o tempo trará a cura para os males do século é inocência. Como dizia Mario Quintana, “o tempo é um ponto de vista”.

Seu hoje é o reflexo dos conhecimentos empíricos adquiridos com os anos. Então, aproveite e pare de achar que o futuro será melhor ou que o seu presente é conseqüência de seu passado. Sua chance é renovada todas as manhãs e viver o hoje é a única alternativa que você tem.

Shakespeare dizia que se leva muito tempo para se tornar a pessoa que quer ser, e que o tempo é curto. E, convenhamos, ele tinha razão. Não há tempo para lamentos intermináveis, frescuras de gente imatura e rancor de quem não sabe amar. Nosso pouco e precioso tempo exige postura diante da vida.

Em “O homem duplicado”, de 2002, Saramago faz uma referência ao tempo de forma emocionante: “todos sabemos que cada dia que nasce é o primeiro para uns e será o último para outros e que, para a maioria, é só um dia mais.” E ele tem toda a razão.

O seu ponto de vista sobre a vida trará a paz que tanto sonha. Assim como uma roupa feita sob medida, cada pessoa tem seu tempo e em cada tempo sua aprendizagem de vida. Se para um atleta um segundo vale um lugar no pódio, para outros o mesmo tempo corresponde a um piscar de olhos.

Aprender com o tempo é aproveitar o que você tem e saber que, muitas vezes, a dor será maior que os sorrisos. Mas e daí? Você não vai aprender a levantar se não cair. Aprenda a esperar pelo certo, mas não a perder tempo com o errado. Aprenda que os dias passam na velocidade da luz e que você não poderá trazê-los de volta.

Como dizia Saramago: “é preciso esperar, dar tempo ao tempo, o tempo é que manda, o tempo é o parceiro que está a jogar do outro lado da mesa e tem na mão todas as cartas do baralho, a nós compete-nos inventar os encartes com a vida.”

Nos resta pouco tempo e muitos sonhos, então, esqueça os milindres pessoais, as dores do passado e foque no presente, afinal, “ o tempo é pouco para o Muito que Espero…” (Machado de Assis).

Imagem de capa: lassedesignen/shutterstock

Liberdade é poder escolher um mundo de opostos…e não sentir culpa por isso.

Liberdade é poder escolher um mundo de opostos…e não sentir culpa por isso.

Ah, o apego…Apegamo-nos a ideias, escolhas, status e projetos de vida que fizemos há décadas sem perceber que aquele que um dia fez essa escolha já não é a mesma pessoa.

Um mundo de opostos nos circunda e aguarda ansiosamente para ser visto e descoberto. Liberdade é poder escolher… e não sentir culpa por isso (ou lidar com ela, que seja!). Afinal, antes de provarmos ou conferirmos que há vida além desse nosso mundo, é nessa terrinha mesmo que ficaremos fadados a viver e construir nossos caminhos.

Exemplos não faltam de como mudanças, mesmo que radicais, podem ser necessárias e benéficas. Trocarmos de cidade é uma experiência ímpar na formação de qualquer pessoa, mudar de emprego ou terminar um relacionamento ruim são só alguns exemplos.

Tudo muda se permitirmos e trabalharmos para que a mudança aconteça.

Morei em algumas cidades: Itatiba, Campinas, Campo Mourão e Curitiba. Hoje estou de volta a Socorro, onde está minha família, mas amanhã poderei estar em outro lugar vivendo como nômade digital. O que me impediria, afinal, se preciso apenas da internet para trabalhar?

Fiz faculdade, pós-graduações e tudo o que se possa imaginar na área de Psicologia e Saúde do Trabalhador. Amava o que fazia e até acho que era boa naquilo. Um dos dias mais felizes da minha vida foi quando ingressei no serviço público (que clichê, né!). Pois acontece que exatos 6 anos depois, um dos outros dias mais felizes da minha listinha de grandes momentos foi quando pedi exoneração depois de conhecer a realidade da burocracia, interesses, jogos políticos, falta de reconhecimento e baixos salários.

Mudei de profissão, abri empresa, quebrei o paradigma de uma vida inteira. Antes, quando eu dizia que era psicóloga, havia um certo status e respeito em relação à minha escolha profissional – o que eu achava um pouco engraçado, confesso. Hoje, entretanto, quando digo que sou blogueira e trabalho com sites e outras mídias sociais, percebo caras curiosas que avaliam, por uma fração de segundo, se eu estou bem na vida ou se sou apenas “ferrada e mal paga”…. Quer saber? E daí? Estou muito mais feliz, ganho mais, viajo mais, dou emprego, trabalho segundo minhas regras e organização pessoal. De que importa se alguém acha que eu estou falida?

Mais um exemplo…

O dia em que tirei meu CRP foi um momento de orgulho, afinal, eu era alguma coisa, do ponto de vista do papel social, político e econômico; ser psicóloga me emprestava uma identidade (que a pouca idade não permitia ser completa). Depois de mais de 10 anos de profissão, cancelei o meu CRP e me enchi de orgulho da minha coragem. Não digo isso porque desvalorizo a profissão que acho nobre e transformadora, mas porque poder optar por não usar mais uma identidade, trabalhar em uma determinada área e seguir um novo caminho, para mim, foi mais uma grande e linda vitória. Eu não trabalhava mais diretamente com psicologia. Por que eu precisaria do título ou do registro? Cancelei sorrindo! Anos depois acabei reativando, mas essa liberdade de ir e vir é inestimável.

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Por nuvolanevicata/shutterstock

Existe uma maldição atrelada a nossas escolhas, aos lugares onde investimos dinheiro, tempo e afeto. É como se mudar fosse uma ofensa, um fracasso, um desserviço social.

O mesmo acontece quando a pessoa se separa, termina um relacionamento que trazia sofrimento, e tem queda na renda. Pensem, quanto mais feliz uma pessoa pode ser se abrir mão de alguns benefícios, mas tiver a sua estima e liberdade de volta? O contrário dessa escolha é apego. Permanecer com o que faz mal é validar uma dependência que vai muito além das desculpas usadas (dinheiro, filhos, 20 anos de relação). É um apego com a desgraça, com o sofrimento, com o que está velho e deteriorado em sua essência. Afinal, a pessoa pode ter vivido uma bela relação por muitos anos, mas, se hoje a beleza acabou, por que ficar? O resumo da história é só um, depois que conseguimos nos libertar da relação ruim (mesmo que seja na base da negação inicial, revolta e muito choro), vemos o quanto foi melhor.

Ruim é quando a pessoa não escolhe nada e quer tudo. Quer a esposa e a amante, quer ser psicanalista e jogar tarô, tem 50 anos e faz 50 plásticas porque quer rosto e corpinho de 25.

A mudança liberta, o sofrimento ensina, mas as nossas escolhas nos engrandecem.

E no final do dia, após toda a rotina que tivemos, deitamos nossas cabeças no travesseiro e somos nós mesmos. A questão é o que poderemos responder acerca de algumas questões como: Somos aquilo que queremos ser? Estamos trabalhando para sê-lo? Ou somos apenas o trapo, as migalhas do que deixamos que os outros fizessem de nossos sonhos, por não termos coragem de viver algo diferente?

Fique com quem vê beleza nos remendos do seu coração

Fique com quem vê beleza nos remendos do seu coração

O meu coração tem marcas e ranhuras profundas, nas quais bem poucos conseguem enxergar beleza. Mas eu não troco meu coração remendado por qualquer outro. Tão pouco me lamento pelos trincados profundos ou pelas fendas que um dia me doeram fundo na alma.

Coração remendado é artigo único. É artigo precioso em um tempo no qual se atribui um extraordinário valor ao novo.

Cada fenda do meu sentir conta uma história minha, conta um tempo, uma pessoa, uma lição e uma experiência particular. Fendas são cicatrizes que contam de uma vida experimentada, ousada, tentada e vivida.

No Japão, quando objetos de porcelana se quebram, eles são remendados com laca e pó de ouro. Os japoneses acreditam que quando um objeto sofre algum dano, certamente guarda uma bonita história e, por isso, merece ser reparado.

Quando alguns vasos se quebram, eles não perdem seu valor. Pelo contrário, ao serem reparados, eles se tornam únicos e especiais e passam a ter um valor inestimável.

O meu, e o seu coração, tem um valor inestimável. E o ouro que nos remenda, indica que adquirimos um punhado de sabedoria na vida, que desenvolvemos qualidades e superamos falhas. Que estamos, mais uma vez, prontos para recomeçar.

Cuide de seguir em frente com serenidade, dando a si mesmo a chance de encontrar nas trilhas da vida pessoas que se remendaram, se refizeram e se amaram.

Refaça-se quantas vezes for preciso (assim é a vida) e permita-se ver que apenas quem entende a beleza de um coração remendado pode amar e aceitar o outro… bonito como é.

Acompanhe a autora no Facebook pela sua comunidade Vanelli Doratioto – Alcova Moderna.

Cabe a cada um de nós

Cabe a cada um de nós

Uma coisa que sempre me intrigou, é como as pessoas reagem, como as pessoas funcionam quando não estão sendo olhadas, quando estão sozinhas. Nós, seres humanos, somos criaturas complicadas, complexas e por isso mesmo, nem sempre somos tão coerentes, mesmo sem nos darmos conta disso.

Explico melhor. Quero dizer que muitas das vezes, pensamos de uma forma, temos uma opinião bem fundamentada no campo das ideias, mas quando chega o momento de colocá-las em ação, colocá-las de fato em prática, deixamos a desejar.

Não se engane, isso acontece com os melhores de nós em algum momento das nossas vidas. Mas, uma vez que nos damos conta disso, é importante tentar coordenar de forma mais saudável aquilo que pensamos com aquilo que fazemos, buscar aquela famosa coerência que sempre perseguimos, o abismo que é desejar ser uma pessoa melhor e de fato sê-la. Mas é um caminho que cada um de nós deve trilhar, um caminho que é feito sozinho, afinal ninguém poderá fazê-lo pela gente.

Eu sei que isso não é tarefa fácil, apesar de ser simples. É simples, porque é possível colocar em prática, se nós quisermos e estivermos comprometidos, sempre é possível mudar. Mas esse processo é difícil, porque qualquer processo de mudança requer esforço e fazer uma mudança de hábitos, substituir um hábito negativo por um positivo, leva tempo, é uma maratona e não uma corrida.

Infelizmente, nem todas as pessoas estão interessadas ou querem de fato efetuar uma mudança substancial em suas vidas. Tem gente que pensa que está bem como está e não vê necessidade disso. Outras acham que os outros que devem se adequar a ela, ao seu temperamento e entender que elas são assim mesmo.

Sinceramente, qualquer coisa que funcione pra você. Porque esse tipo de decisão e responsabilidade de assumir o preço das suas próprias escolhas, sejam boas ou ruins, faz parte do processo de amadurecimento.

Crescer, não é só ficar grande, trabalhar, dirigir, morar sozinho e acordar a hora que quiser. Acredito que começamos a nos tornar realmente adultos quando começamos a assumir a responsabilidade dos nossos atos, do que a gente faz ou deixa de fazer e aceita os resultados com tranquilidade das nossas escolhas.

Ser adulto é assumir compromissos consigo mesmo e com os outros, é controlar as rédeas da própria vida e compreender que se há algo errado, cabe apenas a nós mudarmos. É parar de inventar desculpas pra si mesmo e para os outros, é parar de se colocar sempre como vítima da situação, o pobre coitado e aceitar a sua parcela de responsabilidade no processo.

Afinal, a colheita sempre vai ser proporcional e coerente ao plantio, ao que você dissemina por aí. E ela é sim o termômetro importante, porque se achamos que estamos fazendo tudo certo, mas as coisas continuam a dar errado uma atrás da outra, sem dúvida estamos fazendo algo errado também.

A vida não erra e traz de volta pra gente o que colocamos no mundo, a mesma energia, o que a gente faz e o que desejamos para o outro. Eu sei que tem gente que não pensa sim e tudo bem também.

Mas acho no mínimo ingênuo centralizar as coisas em si mesmo e achar que se algo está errado, o problema é do mundo, é do outro, do vizinho, do amigo, do namorado, mas menos seu. Tá todo mundo errado e só a gente que tá certo? Tá rolando um complô da humanidade contra gente, uma perseguição cármica?

Não acho que a vida funciona assim, dessa forma injusta, punitiva, parcial. Não mesmo. Eu sempre acho que as coisas que acontecem são para o meu benefício, meu aprendizado, mesmo que eu não goste ou, sejam difíceis.

Às vezes, até demais da conta do suportável. Já fui testada mais vezes do que gostaria de contar, já passei por situações que pensei que não conseguiria sobrepô-las, que não conseguiria seguir em frente.

Mas por mais doessem e algumas doeram demais, mantive esse pensamento em mente, que tudo acontece para o meu bem, que não há nenhuma conspiração cósmica contra mim e ninguém querendo me derrubar.

Às vezes, a vida é mais difícil mesmo e temos que criar mecanismos de defesa, ferramentas para conseguir administrar essas situações de uma forma melhor quando se apresentam.

Senão, ficamos presos no lugar de vítimas, correndo atrás do próprio rabo e não achamos culpados nessa busca improdutiva.

Devemos sim, procurar um espelho, porque quando tomamos as rédeas da situação, vemos que cabe apenas a cada um de nós mudarmos o que dá pra ser mudado, aceitar o que não podemos controlar e sabermos interpretar a diferença entre um e outro.

No mais, só nos resta seguir.

19 gírias antigas que precisam voltar pra boca do povo urgentemente

19 gírias antigas que precisam voltar pra boca do povo urgentemente

Hoje nós vamos tomar uns birinaits do balacobaco. Putz grila!!!

Perguntamos no Facebook de quais gírias antigas as pessoas mais gostam. Separamos as melhores no intuito de botar todas elas de volta em circulação.

1. Pra uma coisa muito boa, as pessoas diziam.

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2. Pensa numa imagem extremamente muito antiga.

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Se uma arca já é algo muito velho, imagine só o quanto é velho o arco de uma velha!!!

3. Quando queriam dizer que um cara era bonitão, as pessoas falavam…

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4. Antes do “porra” ou do “caralho” existiu o bom e velho…

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5. E antes do “foda, isso aí”, a gente falava:

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6. Pra falar de coisas muito, mas muito legais, a galerinha usava:

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7. Sabe quando você tinha que improvisar algo ou fazer uma gambiarra?

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A expressão ficou muito popular com o personagem Sambarilove, da “Escolinha do Professor Raimundo”.

8. Quando você tinha esperança de um dia entender uma coisa, pensava…

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9. Pra dar 100% de certeza que uma coisa é muito óbvia as pessoas diziam:

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10. Sabe uma ideia completamente errada que alguém te deu?

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11. Tomar uma bebidinha no fim do dia também podia ser chamada de:

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12. Em vez de mandar alguém à merda, as pessoas gritavam o seguinte:

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13. Sabe aquela pessoa que não fica um minuto sem conversar? Ela era a pessoa que…

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14. Quando uma coisa não custa nada é assim.

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Isso porque entre 1918 e 1935 a moeda de 100 réis valia um tostão no Brasil. E um tostão furado nunca valeu é nada.

15. Um dia um sujeito muito, mas muito burocrático, também foi chamado assim.

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16. Um negócio muito, mas muito sem graça era…

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17. A boa e velha pinga também podia ser chamada assim:

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18. Quem entrava no meio da conversa e queria entender tudo, dar opinião ou polemizar era o tipico.

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19. Você podia pedir para a pessoa repetir alguma coisa usando a seguinte expressão.

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Fonte: Buzzfeed

A raiva pode ser o disfarce de uma tristeza que não conseguimos suportar

A raiva pode ser o disfarce de uma tristeza que não conseguimos suportar

Há limites e limites. Quantas vezes não chegamos à nossa capacidade máxima de suportar um mau trato, uma indiferença, uma agressão velada? Quantas vezes já chegamos à situação de não ter mais absolutamente nada para dar e, mesmo assim, nos deparamos com o outro a esperar de nós mais uma prova, outra necessidade a ser suprida, outra urgência que não pode esperar?

Ahhhh… sim, e a culpa é inteiramente nossa, caso não tenhamos a capacidade de colocar pontos finais onde já não cabem mais “pingos nos is”. A questão é que chega uma hora em que, ainda que não sejamos capazes de encerrar os ciclos, as nossas fontes de energia vão acabar se esgotando. E, ainda que sejamos teimosos o suficiente para continuar funcionando no “stand by”, uma hora ou outra a gente vai ficar tão seco, tão vazio que não haverá mais jeito de deixar pra lá.

Tristezas não reconhecidas vão deixando a gente com pequenas sequelas afetivas que acabam por aflorar no corpo, a fim de que não tenhamos mais como ignorá-las. Os músculos ficam tensos, a respiração perde o compasso, os batimentos cardíacos ficam alterados. E essas reações físicas atingem os nossos pensamentos em cheio, fazendo-nos ficar em estado de alerta. A nossa incapacidade de estabelecer linhas de limitação aos abusos vai criando por debaixo das inúmeras camadas de insatisfação, abandono e tristeza um sentimento de raiva.

A raiva é aquela coceira insuportável num ponto das costas que a gente não alcança. A raiva é aquele amargor no peito que precisa vazar para fora de alguma forma, antes de nos envenenar. A raiva deixa a gente fora do eixo; tudo irrita além do normal; nada parece satisfazer. A raiva mina a alegria, rouba o prazer das pequenas, médias e grandes coisas. A raiva azeda a vida.

Quando estamos encharcados de raiva, sentimos alguns poderes momentâneos; somos acometidos por inesperados rompantes de coragem e alguns pensamentos perpassam por nossas mentes, fazendo-nos crer que realmente não dá mais, que já deu, que não é possível adiar uma atitude. Só que a raiva é fogo de palha. No fim, a gente acaba rosnando, mas não arranja força para largar aquele osso que até já se esfarelou entre os nossos dentes cerrados de rancor.

Inúmeras vezes ficamos “raivosos” por não sermos hábeis o suficiente para interpretar uma tristeza. Outras vezes, esse comportamento irritadiço e impaciente pode estar servindo de máscara para uma tremenda insegurança em nossa própria força para mudar o que não nos serve mais. Ainda, em outras circunstâncias, é a culpa que nos faz eriçar os pelos e cobrir as feridas com espinhos de proteção.

A agressividade, em incontáveis casos, é apenas o disfarce para um esgotamento emocional. A gente precisa arranjar um jeito de aprender a reconhecer que fragilidade e fraqueza não são a mesma coisa. A gente precisa descobrir uma forma de se perdoar por não ter mais o que ofertar. A gente precisa respirar num ritmo possível e parar de arrancar a casquinha de um ferimento que vem lutando há muito tempo para cicatrizar.

Que hoje seja esse dia! O dia em que nos foi destinada a libertação de tudo o quanto nos faça ser alguém que não conseguimos mais reconhecer. Que hoje, ao deitarmos nossas cansadas cabecinhas no travesseiro sejamos capazes de tomar a corajosa decisão de cortar fora o que nos fere, sem mágoa, sem rancor, sem medo de ficar a sós com a nossa misteriosa e própria pessoa. Que hoje a nossa tristeza seja permitida para que possa, enfim, ter a chance de ser compreendida, apaziguada e começar a ser curada.

A “pessoa certa” não vem com uma plaquinha escrita: Ei, sou eu!

A “pessoa certa” não vem com uma plaquinha escrita: Ei, sou eu!

Esse lance da tal pessoa certa é complicado, muita gente confunde certo com perfeito, muita gente confunde certo com ideal e, como consequência, acaba se frustrando, porque não encontra “ninguém”.

Primeiro você precisa parar de se cegar com as suas idealizações, e isso não tem nada a ver com aceitar qualquer coisa. Isso tem a ver com apreciar o novo.

Isso está mais para “permita-se afinal”: o novo é bonito e não assustador como parece. Acredite, alguns acham que o amor é uma poltrona confortável na qual você senta e assiste tudo acontecer de camarote, como quem não precisa dar um passo à frente. Outros acham que o amor é um campo de batalhas no qual quem ganha é sempre quem demonstra menos. A tal da lei do desapego.

Repare bem em quem elogia o teu sorriso mais sincero, em quem aplaude as tuas conquistas. Repare em quem te quer bem, em quem se alegra com a tua companhia e faz questão da sua presença. Veja bem quem quer estar ao seu lado e faz questão de sempre estar por perto. Não deixe de notar quem se importa com os seus sentimentos e com os seus problemas.

Repare em quem arruma um tempo pra te dizer “oi” em quem te liga pra saber se você está bem. Repare em quem confia em você e se oferece como apoio quando tudo parece não ir bem. Repare em quem acha bonito o teu jeito desorganizado, repara em quem está disposto a te segurar, caso você tropece. Em quem te olha como quem quer despir tua alma, em quem quer te conquistar com as pequenas coisas.

Repare em quem demonstra amor nos pequenos detalhes. Repare em quem gosta do teu cabelo e do teu jeito bagunçado de ser. Repare em quem ri das tuas graças sem graças, em quem te procura não porque postou uma foto bonita, mas porque sentiu saudade. Então, o “certo” pode estar aí, naquilo que vem desconcertado, naquilo que vem desajeitado procurando uma oportunidade de se ajeitar. Naquilo que você não consegue ver por estar com os olhos tapados, por olhar demais para trás e não conseguir olhar para o que está bem a sua frente.

Veja bem quem se interessa por você, quem arruma tempo pra um papo qualquer mesmo que o assunto pareça não andar. Veja quem arruma um jeito e não desculpas, quem traz flores e não espinhos. Repare em quem gosta de você do jeito que você é. Em quem se amarra no seu desarrumado.

Repare bem em quem te incentiva a ser melhor, em quem te apoia e te ajuda, repara bem porque o amor pode estar aí disfarçado de amizade, tentando se esconder de um “não”, tentando não parecer um bobo apaixonado. Repare bem porque a pessoa certa não vem com uma plaquinha escrita: “Ei, sou eu!”. Ela vem com um coração disposto a te amar. Disposto a transbordar.

10 Filmes para conhecer o cinema iraniano

10 Filmes para conhecer o cinema iraniano

Fuja do óbvio e conheça alguns filmes que vão mudar a forma como você vê o mundo

O cinema iraniano guarda algumas das maiores pérolas do cinema internacional. Marcada por temas aparentemente intimistas, como a infância, a família ou a arte, a filmografia de diretores como Jafar Panahi, Asghar Farhadi e Abbas Kiarostami carrega um peso político muito forte e tem conseguido vencer barreiras e expandir seu discurso para muito além das fronteiras do Irã.

Conheça melhor esse cinema a partir de 10 títulos e apaixone-se:

O Balão Branco (1995)

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Um dos cineastas iranianos mais respeitados (e polêmicos) da atualidade é Jafar Panahi, autor também de “Isto Não É Um Filme” e “O Círculo”. “O Balão Branco”, seu primeiro longa, foi escrito ao lado de Abbas Kiarostami e conta a história de uma menina que deseja um peixinho dourado de Ano Novo, mas perde o dinheiro no caminho para a loja.

Filhos do Paraíso (1997)

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Indicado ao Oscar de Melhor Filme Estrangeiro, “Filhos do Paraíso” também aposta na inocência infantil para mostrar a situação econômica e política do país. No filme, um menino perde os sapatos de sua irmã mais nova e, para resolver a situação, decide dividir com ela seu único par.

Gosto de Cereja (1997)

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Abbas Kiarostami foi um dos principais responsáveis por popularizar o cinema iraniano no mercado internacional. “Gosto de Cereja”, seu nono longa-metragem de ficção, venceu a Palma de Ouro com a história de um homem que dirige seu caminhão em busca de alguém que o enterre sob uma cerejeira depois que ele cometer suicídio.

O caminho de Kandahar (2001)

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Uma jornalista afegã que mora no Canadá desde criança decide voltar ao país ao descobrir que sua irmã está querendo se suicidar. Lá, ela se junta a um grupo de refugiados e cruza o deserto, tomando consciência da devastação causada pelo Talibã enquanto procura pela irmã.

À Procura de Elly (2009)

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Outro nome recorrente quando se pensa no cinema iraniano é Asghar Farhadi, diretor de “A Separação” e “O Passado”. Em “À Procura de Elly”, um grupo de amigos decide passar um fim de semana à beira da praia e Sepideh (Golshifteh Farahani) convida Elly (Taraneh Alidoosti), professora de sua filha, para acompanhá-los. Depois de algum tempo, Elly desaparece sem deixar vestígios.

No One Knows About Persian Cats (2009)

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Dois compositores iranianos decidem montar uma banda underground no Irã, mas logo o projeto se torna um pesadelo. Diante das barreiras impostas pelas autoridades, os jovens decidem mudar de foco e investir num show em Londres – e nos passaportes que os permitirão deixar o país.

Cópia Fiel (2010)

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Juliette Binoche é a estrela deste drama cheio de sarcasmo escrito e dirigido por Kiarostami. Ela interpreta uma francesa que visita a palestra de um inglês, na Itália. Ela e o palestrante passam um dia inteiro juntos discutindo os conceitos de original e cópia, enquanto encenam suas próprias vidas

A Separação (2011)

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Único vencedor do Oscar de Melhor Filme Estrangeiro pelo Irã, até agora, “A Separação” é ao mesmo tempo uma aula e um desafio de ética e moral. Um casal enfrenta a iminência da separação porque precisam seguir caminhos diferentes: ela quer sair do país para garantir uma educação melhor para a filha, enquanto ele quer ficar para cuidar do pai doente. Para complicar ainda mais, o marido é o único capaz de realizar a separação, e ele não está disposto a ceder.

Circumstance (2011)

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Apesar de haver muitas protagonistas mulheres no cinema iraniano, poucas são as diretoras nascidas ali. Uma delas é Maryam Keshavarz, que ganhou destaque com o drama “Circumstance” em 2011. O filme conta a história de dois irmãos – uma menina e um menino, que seguem caminhos opostos na adolescência. Enquanto ela explora a juventude com sexo, drogas e festas ao lado de sua melhor amiga, ele retorna da reabilitação com uma obsessão destrutiva.

Táxi Teerã (2015)

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Depois de ser preso e proibido pelo governo iraniano de fazer filmes (por apoiar um candidato oposicionista), Jafar Panahi decidiu burlar as regras e filmar secretamente. Disfarçado de taxista, o diretor recebeu moradores comuns de Teerã em seu carro e filmou discussões sobre o cotidiano e a política do país. O filme ganhou o Urso de Ouro em Berlim.

Aos desastrados, com carinho!

Aos desastrados, com carinho!

O desastrado, geralmente é um distraído, esquece dos perigos, vai andando quase sem destino, entra no universo paralelo do imaginar e só cai em si quando de repente tropeça numa pedra no caminho, tropeço que parece ter sido uma intencional rasteira de deus, querendo avisar ‘não voe tão longe, meu amigo! Você ainda tem coisas para fazer neste mundo!’

Nas mãos do desastrado tanta coisa vai saindo tortamente acertada, inesperadamente cômica, assustadoramente criativa e boa.

O glorioso deslize de derrubar café na camiseta branca daquele cara mal humoradamente mala, quem mais teria coragem?

A magia de quebrar o gelo e sacar gargalhadas enrustidas naquelas pessoas perfeitas como a rainha da Inglaterra, preocupadas como os despertadores, sérias como os guarda-roupas de mogno maciço, o desastrado instintivamente sabe.

Ele chega com a calça clara e senta numa mureta suja, esquece de tirar a etiqueta do suéter novo, fala aquela frase sem noção no meio de uma convenção, ele troca os nomes, envia mensagem errada pra pessoa mais errada ainda, tenta consertar e quanto mais mexe mais fede. Ele perde o senso do belo, do coerente, do ajustado, do permitido.

O desastrado derruba a taça de vinho, estilhaça a xícara de porcelana, coloca sal no suco, ele é craque em sair por aí tentando arrumar os seus pequenos delitos, limpando os cantos, recolhendo os cacos, deve ser por isso que apesar de tanto descompasso, ele sabe como ninguém como remendar corações despedaçados.

Deve ser porque o coração dele sempre se estilhaça ao criar desencanto nos olhares que procuram perfeição. O desastrado já sabe bem se recolher, secar as próprias lágrimas, tirar as manchas de mágoa, descartar o que não tem mais conserto, remendar o que ainda dá jeito.

O desastrado segue, numa nova versão de si mesmo, ou numa antiga reformulada, com um tênis velho furado, um batom meio desacertado, um silêncio desajeitado… e o peito inflado de sonhos.

O desastrado transforma as catástrofes da vida numa cena de circo. E às vezes, como ele se pune, coitado! Fica sempre tentando tomar mais cuidado, mas quando menos espera se distrai de novo e troca as bolas, derruba as verdades, quebra as ilusões.

O desastrado é apenas uma alma grande, expansiva, volumosa, arredia dentro de um corpo restrito e limitado. A alma não cabe, por isso se esparrama, se derrama e inunda tudo e todos que estiverem ao lado.

Belo é o desastrado.

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