Quando foi a última vez que você fez algo pela primeira vez?

Quando foi a última vez que você fez algo pela primeira vez?

Eis a frase que foi pichada num muro e que viralizou na Internet nas últimas semanas.

Imagino que, assim como eu, você tenha buscado em sua mente um grande feito realizado pela primeira vez, como uma viagem, um desafio profissional, um salto de paraquedas, uma mudança radical de visual, etc.

E imagino também que, assim como eu, talvez você tenha ficado com um baita frio na barriga, se sentindo menor que uma formiga, ao constatar que há tempos você não faz nada novo e significativo. Que tédio!

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Mas a palavra “significativo” não está pichada no muro! Não faz parte da brincadeira-provocação! Então por que a enxergamos? Por que a botamos lá?

Porque temos mania de grandeza. Porque nos cobramos demais. Porque somos competitivos. Porque exigimos demais de nós mesmos. Porque queremos ser perfeitos. Porque queremos ser os melhores em tudo. Porque queremos estar bem na foto, na fita, no meme. Porque temos medo errar. Porque não suportamos a ideia de falhar.

Se anularmos a palavra fantasma do muro da nossa memória – acaso sejamos pessoas curiosas, dispostas e em busca de crescimento e evolução pessoal – veremos que estamos constantemente fazendo coisas pela primeira vez.

Escrever uma carta-bomba e pela primeira vez na vida não enviar. Ouvir uma pessoa querida se lamentar de coisas que ela pode resolver, mas procrastina, e não opinar nem mandá-la à merda. Finalmente experimentar a alcaparra que todo mundo ama, mas você sempre deixou de lado no prato. Passar de bicicleta por aquela ciclovia que você morria de medo. Ler o livro de um autor que se tornou best-seller – e que você pegou birra só porque virou moda – mas depois acabar gostando.

Vencer vícios, padrões de comportamento, medos e preconceitos; mudar hábitos, sair do piloto automático, aprender a controlar a impulsividade, praticar a empatia é muito mais difícil – e significativo – do que pular de paraquedas ou visitar o Louvre pela primeira vez.

Porque somos o que fazemos, o que acreditamos e o que construímos. Ninguém pode fazer o nosso trabalho por nós. Ninguém pode crescer, melhorar, se aprimorar ou evoluir por nós.

Há pessoas que visitam quase um país diferente por mês, degustam especiarias em mercados populares da China numa semana e, na outra, vinhos ancestrais na França, mas que são incapazes de aceitar (pela primeira vez!) alguém que pense diferente delas, ou de pedir desculpas (pela primeira vez!) por um erro.

Mais do que fazer algo pela primeira vez, é preciso manter acesa a chama dos olhos de primeira vez. Olhar para o mundo e para tudo o que nos cerca como se estivéssemos diante de um milagre. Para isso basta ter um bocado de entusiasmo, fé e coragem. Basta se lembrar que a vida é o que acontece quando estamos distraídos.







Mônica Montone é formada em Psicologia pela PUC-RJ e escritora. Autora dos livros Mulher de minutos, Sexo, champanhe e tchau e A louca do castelo.