Que dívida é essa que a gente insiste em cobrar da vida?

Que dívida é essa que a gente insiste em cobrar da vida?

Gratidão é palavra do momento, especialmente quando as coisas dão certo e estão perfeitas aos nossos olhos, julgamentos e anseios. Então divulgamos a dádiva a plenos pulmões, compartilhamos o êxito e vibramos com o merecimento.

O que era para ser um um gesto natural, obrigatório para as consciências conectadas com o fluxo da vida, anda um tanto exacerbado. De todas as formas, melhor a gratidão ruidosa do que a sua gêmea má que nada agradece.

Mas, como nem tudo são flores e gratidões, nem vitórias, nem conquistas, difícil mesmo é ser grato às frustrações pelas oportunidades de enxergar um outro caminho, uma nova perspectiva.

Nessa hora a gente pega a fatura vencida e apresenta para a vida, como o filho mimado que corre chorando para dentro de casa com o brinquedo quebrado, exigindo a compra de outro, como se não fosse sua escolha levá-lo para brincar na rua.

A maioria de nós ainda age assim. Cobra da vida uma dívida que ela não tem conosco. Ataca a sorte, responsabiliza as circunstâncias, amaldiçoa o acaso, exige garantia infinita contra perdas, danos, terceiros e eventualmente, si próprio.

A gratidão se recolhe no meio da fatura tão grande e impagável emitida contra a vida dos que julgam possuir o passe exclusivo, a chave da sala vip onde nenhuma contrariedade é permitida.

Mas, assim como o tempo, a vida não dá bola para nossas tolas lamentações, e, frustrados e mimados que somos, como não conseguimos atingir a verdadeira culpada, vamos para outras direções, e então distribuímos sem economia o nosso mal humor, pessimismo, irritação, impaciência, raiva e todos os derivados e agregados que engrossam o time das frustrações.

Quando a gente aprende que a vida não nos deve nada e as escolhas são passíveis de fracasso, as contas são perdoadas, as dívidas caducam, as culpas se eximem e se transformam em gratidão consciente e libertadora.

Não há nada mais erótico do que uma boa conversa

Não há nada mais erótico do que uma boa conversa

“Não há nada mais erótico do que uma boa conversa.” E isso pode soar estranho, porque estamos saturados de conversas rasas, com pessoas rasas, falando sempre as mesmas coisas, sem o menor interesse e chegando a lugar nenhum.

Mas, uma boa conversa, uma diálogo de verdade, é o que há de mais erótico em uma relação, porque são as palavras que mostram os poros do rosto da vida e isso é muito mais belo e excitante do que enxergar o tempo inteiro maquiagens em rostos que transpiram falsidade.

Uma boa conversa é aquela em que não temos medo de dizer nada. Tudo pode ser dito, colocado na mesa, debatido, rebatido, formulado, reformulado. As palavras são lançadas como o fluxo do nosso pensamento, mostrando o que realmente pensamos sobre as coisas, sem hipocrisia ou fingimento; a nossa bagunça interior representada por palavras que sempre querem dizer alguma coisa, mas nem sempre encontram a organização semântica necessária; mostrando a alma despida e escancarada, pronta para ser tocada.

E porque a alma está escancarada, fala-se sobre tudo, desde os assuntos mais triviais aos mais existencialistas. Conversa-se sobre a preguiça que sentimos ao acordar cedo, a quantidade de açúcar que gostamos no café, sobre música, cinema e política, sobre o pé na bunda mais engraçado que já levamos, o momento de maior constrangimento, o primeiro amor, discute-se a existência de deus, a felicidade, o amor, para que lugar se vai após a morte, sobre o que queremos da vida e o que já estamos de saco cheio.

As frustrações, os medos, as angústias, as imperfeições, os pecados silenciosos, deixados em oculto. Ou seja, uma boa conversa é aquela em que as almas encostam-se e beijam-se, procurando não separar-se e encontrar pontos que as tornem mais conectadas e apaixonadas.

Por estarmos imersos em relacionamentos tão superficiais, talvez seja difícil acreditar que existam relacionamentos humanos em que a conversa exerce o enlace erótico entre as pessoas, de modo a torná-las insistentemente desejosas por mais do outro. Entretanto, é justamente pela falta de comunicação que estamos carentes de pessoas interessantes, capazes de nos “prender” por horas, como se fossem minutos, tão somente pela troca de palavras que imergem em todos os cantos do nosso ser.

Na maior parte dos relacionamentos, sejam entre amantes, amigos, familiares, etc., o que vai afastando as pessoas e, consequentemente, permitindo desabar a ponte que as une e no seu lugar fazendo emergir barreiras, reside na maneira como lidamos com o mundo que forma o outro. Ou seja, é preciso viajar no mundo deste, comprar a sua loucura, a sua dor, os seus sonhos, para que deixemos de pensar apenas em nós mesmos, para que possamos sair do nosso mundo e interagir com o mundo do outro, e, assim, compreendê-lo.

Sendo assim, a comunicação é imprescindível para que duas almas se mantenham juntas e apaixonadas, já que, quando deixamos de ter interesse no universo que compreende uma alma distinta da nossa, tornamo-la pequena e, então, o outro se fecha para nós, bem como, a paixão se esvai, porque já não existe eroticidade nas palavras, as quais, não raras vezes, deixam, inclusive, de ser ditas.

Se há algo de divino no mundo, sem dúvida alguma se manifesta no espaço colocado entre duas almas que anseiam para se tocar e isso só é possível quando permitimos que estas dialoguem com verdade e beleza, pois somente, dessa forma, tem-se a eroticidade necessária para transformar duas almas distintas vagando pelo nada em duas almas conectadas, compartilhando a vida em suas grandiosas imperfeições e nos seus pequenos milagres, já que mesmo depois do gozo do corpo, as palavras sempre permitem a continuidade do gozo na alma.

O amor é abrigo em uma feroz tempestade. O amor é paz no meio de uma guerra

O amor é abrigo em uma feroz tempestade. O amor é paz no meio de uma guerra

Hoje é aquele dia típico em que eu gostaria de olhar em teus olhos e dizer que vai ficar tudo bem. Segurar em tuas mãos e dizer que a tempestade vai passar e que eu estarei aqui com você. Hoje seria o dia em que eu desejaria te surpreender com uma passagem para um lugar qualquer desse mundão, como quem arranca um sorriso teu com a calmaria de um lugar tranquilo.

Hoje é o dia em que eu desejaria o teu abraço forte como quem sufoca e quebra todos os meus medos. Aquele calor de duas almas que se encontram num abraço de saudade.

Hoje eu queria poder te dizer que as coisas vão dar certo e, por mais complicado que seja, tudo se ajeita aos poucos e volta ao seu devido lugar. E cá estou eu, no melhor lugar que eu poderia estar depois de tantas voltas. Estacionei ao seu lado como quem quer avançar nessa caminhada com você.

Hoje eu queria encostar no teu peito e sentir a melodia das batidas do teu coração sem precisar de palavra alguma para preencher esse momento. Hoje eu queria poder te contar uma notícia boa, alegrar o teu coração com a minha alegria. Mas hoje, eu decido acalentar as tuas dores, acolher o teu choro e deixar o riso para depois.

Hoje eu quero ser teu abrigo, te abraçar e fazer você sentir todo o meu amor. Por hoje eu dispenso as palavras e fico com o carinho, eu dispenso um jantar a dois e fico com a gente aqui, sentados no sofá, tentando escolher a qual filme assistir.

No final eu sei que vamos pegar no sono e deixar o filme para depois, porque hoje, tudo o que você precisava era de uma companhia leve, forte o suficiente para não dar as costas para as suas angústias. Por hoje prometo não ligar para o seu humor, eu prometo não implicar com coisas bobas.

Eu sei que hoje você não irá rir das minhas piadas mesmo eu tentando fazer graça às vezes, mas eu sei que o seu coração sorri quando te abraço e aquele teu suspiro fundo como quem não aguenta mais as pancadas da vida mostram a mulher forte que você é.

Hoje eu queria poder resolver todos os seus problemas, te surpreender com algo material e sei lá me virar do avesso para te ver bem. Mas eu sei que hoje isso não é possível, e então te ofereço o meu riso leve, o meu carinho e um café quentinho. Hoje eu te faço um bolo de cenoura com chocolate e deixo você raspar a panela.

Hoje eu deixo você escolher o filme e prometo não dizer que ele é chato. Hoje eu te ofereço companhia sem tentar entender os teus porquês e prometo não tentar te convencer que cebola na comida é muito bom.

Hoje a massagem nos pés é por minha conta e o cafuné a gente negocia, pode ser? Hoje eu vou aí não como quem espera que as coisas mudem de repente, mas como quem deseja ser companhia quando o tempo fecha e o sol decide não aparecer.

Como quem ama demais para ser orgulhoso, como quem ama demais para ser egoísta e se fechar no seu mundo e aparecer apenas quando o outro estiver com todos os seus problemas resolvidos. Eu quero estar com você nos vendavais, eu quero estar com você quando a música parar de tocar e eu quero continuar dançando, criando a nossa própria melodia e nos reinventando.

Eu quero estar com você mesmo quando o riso estiver camuflado pela dor, mesmo quando o colorido da vida passa a ser preto e branco e a gente não vê saída para os nossos problemas. Eu quero ser companhia, quero ser calmaria. Eu quero ser o teu amor leve, aquele amor que faça o teu coração sorrir sem medo.

Hoje eu quero ouvir a tua voz, mesmo ela estando em tom de choro, hoje eu preciso te encontrar mesmo você estando com o seu pijama velho, aliás, você fica linda com ele. Como eu amo a tua simplicidade. Hoje eu preciso te desejar boa noite como quem pensou em você o dia inteiro, como quem sente saudade do teu cheiro e que sorri ao lembrar-se do teu sorriso.

Precisamos cuidar do nosso amor

Precisamos cuidar do nosso amor

Desde já, e para sempre
Antes que seja tarde
Enquanto ainda vale a pena
Enquanto ele ainda está aqui.

Precisamos voltar a nos olhar como sempre nos olhamos
Com ternura, com admiração, com sentimento
Como no tempo em que, mesmo que achássemos, não tínhamos grandes preocupações
O tempo em que não éramos responsáveis pelo nosso sustento, nossa estabilidade, por “dar certo na vida”
Em que não nos era exigida uma postura de “gente grande”…

Precisamos voltar a nos tratar como namorados em êxtase
Como naquela época em que éramos dois descobridores, explorando um ao outro
Desvendando anseios, modos de ser, trejeitos, manias, defeitos
Como quando buscávamos nos agradar o tempo inteiro
Com as mais singelas ou as mais elaboradas atitudes.

Precisamos voltar a sentir a necessidade de investir na relação
Como naquele tempo em que ainda não nos considerávamos conquistados,
Em que precisávamos mostrar o melhor de nós
Conter nossas imperfeições, nossos desgostos com a vida
E separar os problemas que possuíamos, para não “misturar as coisas”.

Precisamos parar de deixar para amanhã nos dedicarmos com mais afinco à nossa relação
Deixar de adiar a atenção que o relacionamento sempre merece
De fazer de conta que o amor supera tudo, e sempre se mantém intacto
E que alguns momentos de “lua de mel”, uma ou duas vezes por ano, tudo resolve
Pois sabemos, no fundo, que não é bem assim…

Precisamos, e antes que o sentimento atrofie, antes que fique em segundo plano
Antes que a rotina definitivamente camufle o que é realmente importante
E o cansaço termine de consumir a pouca energia que nos resta

Precisamos não deixar o nosso amor, de fato, adoecer…
E necessitamos de atitudes concretas, não apenas do reconhecimento do problema

Precisamos ser diligentes um com o outro, prestar atenção, agir
Como no tempo em que o aniversário das coisas mais simples (como o do primeiro beijo) era comemorado como um grande acontecimento
Como no tempo em que nos surpreendíamos com declarações sem motivo específico
E em que fazíamos questão de demonstrar o amor que sentíamos das mais diversas formas.

Precisamos voltar a apoiar as maluquices um do outro
A encorajar os sonhos e os desejos mais impossíveis ou improváveis
A incentivar nosso crescimento e nossa realização
A não levar a vida tão a sério
Precisamos, acima de tudo, resgatar a leveza, sempre tão essencial.
Precisamos

Para que não aconteça o que já vimos acontecer com tantos casais bacanas que possuíam um relacionamento promissor
Para vermos que os nossos sonhos adolescentes não estavam errados
Para congratular todos os momentos lindos que já vivemos
E todos ainda mais maravilhosos que, se assim quisermos, virão.

Depressão é a dor de apenas existir, é quando perdemos de vista o sentido de viver.

Depressão é a dor de apenas existir, é quando perdemos de vista o sentido de viver.

É a dor de acordar e não ter forças para enfrentar o dia, de sentir o peso das horas que parecem não passar nunca, de sentir que toda a sua disposição e energia ficaram na cama e que, de alguma forma, você terá que arrumar meios para enfrentar o dia.

É a dor de querer que a semana passe rápido e de tentar passar as horas do final de semana dormindo, de querer um remédio que te faça dormir e acordar só quando tudo estiver bem.

Vemos tudo à nossa volta de uma forma bonita e parece que o preto e branco pertence apenas a nós, que a luz só brilha lá fora e que a escuridão insiste em residir dentro da gente.

A dor de não ver graça nas coisas simples e fantásticas da vida. Aquela tarde chuvosa que te leva a assistir um bom filme, enrolada no cobertor comendo o seu brigadeiro de panela foi substituída por ficar deitada olhando para o nada, pensando em tudo e chorando. Uma tristeza tão grande que chega a nos sufocar. O peito aperta, as lágrimas caem e você se questiona de onde vem tanta dor e quando essa tempestade irá cessar aqui dentro.

Você prefere dar um sorriso forçado e dizer que está tudo bem, porque cansa de ser bombardeado com frases do tipo: ”Você tem de tudo, olhe para fulano, coitado, esse sim tem motivos para estar triste, passou por tanta coisa e está ai vivendo e sorrindo.” “Isso é frescura, é preguiça.” Ou,” Hum, você está querendo chamar a atenção.”.

Como alguém pode pensar que o outro escolhe sofrer para chamar a atenção? Como o outro pode pensar que é preguiça, que é frescur,a sendo que o meu maior desejo é justamente sair disso? É uma luta todos os dias comigo mesma para não ficar na cama e me esconder do mundo, de não tirar o meu pijama e de não ter que encarar a vida lá fora. É uma luta de tentar não desmoronar, mesmo quando o seu mundo interior está um caos. De se manter inteiro para os outros, mesmo estando em pedaços.

As pessoas falam isso como se a gente gostasse de se sentir assim, como se fosse imediata a melhora. Como se fosse uma gripe que melhora com aquelas receitas da vovó. Quem me dera fosse tão rápido assim.

Talvez o alívio momentâneo encontrado, em meio a tanta dor, é naquele tempo que alguém oferece para nos ouvir, sem tecer nenhum julgamento; naquele abraço quando você está em prantos e naquela mensagem inesperada que te arranca um sorriso leve. Por mais que as coisas tenham perdido a graça, os afetos continuam sendo a nossa graça, o nosso remédio, o nosso alívio imediato.

No mar da depressão, o meu barco – a vida – quase quis naufragar, perdi muitas coisas nessa tempestade toda, a autoestima afundou e com ela o meu riso fácil. Mas, depois da tempestade, vem a calmaria e, aos poucos, a gente se recompõe e vai tentando reconquistar tudo novamente. E eu sei, a gente consegue. Leva tempo, mas consegue.

Depressão é a dor de apenas existir e não viver. Quando eu digo viver, é porque tudo perde o sentido e a gente não vê graça nas coisas incríveis da vida. Não é fácil não ver graça em coisas que antes te deixavam feliz.

Não é fácil não ter mais perspectivas quanto ao futuro, não alimentar sonhos e não querer planejar. Não é fácil olhar à sua volta e ver felicidade tão perto e ao mesmo tempo tão longe. É doloroso perceber tudo isso.

Quando eu escutei a frase: “Tem gente sofrendo, desejando viver, e você aí reclamando e sofrendo por qualquer coisa”, eu me senti pior do que já estava, como se eu estivesse sendo ingrata com a vida, como se eu estivesse sendo egoísta, como se sofrimento precisasse de justificativas. Esses julgamentos nos matam e nos empurram ainda mais para o buraco. As palavras têm poder para nos ajudar, é uma pena que elas sempre chegam de forma agressiva até nós.

Hoje, estou certa de que posso escolher ver as coisas de um jeito diferente, é uma escolha que reafirmo todos os dias. Tem dias em que os ventos sopram forte demais e eu temo cair, temo não ter forças para enfrentar.

Eu luto todos os dias pela alegria, entendi que ela não reside nas coisas, entendi que a felicidade não está nas pessoas, ela está em nós. Aprendi que nem todo mundo consegue ser abrigo quando a tempestade vem e que, sim, nós iremos nos decepcionar. Iremos nos magoar e isso vai doer muito. Vamos levar rasteiras de pessoas que amávamos e em quem confiávamos, mas também vamos receber aquele abraço caloroso de quem menos esperávamos.

Isso se chama vida, isso é viver. E, então, eu luto todos os dias para não sentir mais essa dor de apenas existir. Mas eu sei que haverá dias em que tudo irá parecer desmoronar, sei que terá dias que o choro será presente e a angústia irá insistir em apertar o peito. Mas isso, nem de longe, significa que estou recaindo e que, sei lá, eu sou fraca demais para as coisas.

Talvez seja só mais um dia ruim mesmo, uma semana conturbada e a gente, de alguma forma, chateia-se com algumas coisas, é normal. Mas, depois de um tempo, a gente consegue enxergar para além do que está posto à nossa frente, a gente consegue ver as inúmeras possibilidades que temos de nos reinventar e recomeçar. E então eu prefiro escolher estar perto de quem me incentiva a ser melhor a cada dia, em quem não julga as minhas dores.

Eu acordo e posso até sentir vontade de ficar na cama, mas logo penso que o dia lá fora está lindo e que eu posso florescer as coisas aqui dentro. Jogo fora os espinhos que ganhei da vida e sei que as dores e os machucados não definem quem eu sou. Eu sou metamorfose, não sou rótulos, nem feridas, nem dores. Eu sou forte e, mesmo tendo que matar um leão por dia, aqui dentro eu continuo prosseguindo.

Notas: há muitos anos, sofri com esse mal da depressão e, como todos, eu também sofri julgamentos e as coisas perderam a graça. A psicoterapia é fundamental nesse processo; caso você não possa arcar com os custos de uma terapia, procure os atendimentos públicos de estudantes e até profissionais de saúde que atendam pelo SUS. A terapia é fundamental para nos auxiliar nesse processo doloroso de perda de sentido da vida e da nossa essência.

Permite-nos o reencontro e nos ajuda a ver o mundo de outra forma. É um processo, requer tempo, mas é um benefício e tanto para a nossa vida. E, se você conhece alguém depressivo, deixe de lado os seus julgamentos e o oriente a recorrer a uma ajuda profissional. Troque as palavras que ferem por um abraço e, ao invés de jogar o outro ainda mais no buraco, estenda a mão e o ajude a sair de lá.

Ele falava da boca pra fora, ela entendia do coração pra dentro

Ele falava da boca pra fora, ela entendia do coração pra dentro

Talvez nunca consigamos nos conter nos momentos de raiva, calando-nos para não magoar com ofensas agressivas que machucam no fundo da alma. Por mais que tentemos, jamais conseguiremos verbalizar racionalmente o que sentimos nos momentos em que temos tudo dentro de nós, menos alguma coisa boa. Porque raiva verbalizada muitas vezes fere mais do que a violência física.

Talvez porque engulamos demais e por muito tempo o que sentimos, porque não temos coragem de expor nossos pensamentos na hora adequada, ou porque temos dificuldade de dizer não, por medo de desagradar, acabamos acumulando um monte de contrariedade aqui dentro. Então, quando somos dominados pela raiva, isso tudo acaba saindo de forma distorcida, visto que carregada de rancor demorado.

Muitos dizem que é nessas horas que conseguimos ser verdadeiros e dizer o que temos e o que somos realmente. No entanto, mesmo que exista alguma sinceridade nas ofensas, é de se duvidar que possamos ser tão frios a ponto de magoar quem quer que seja, de forma agressiva, só para desabafar. Todo mundo tem o direito de falar o que pensa, mas o respeito não poderá se afastar disso tudo, ou se quebram laços afetivos, muitas vezes de forma imperdoável.

Geralmente, quem esbraveja e vocifera violência verbal nos momentos de destempero acaba até nem se lembrando direito do que disse, embaralhado que estava sob o calor do momento. Porém, quem ouve, quem é atingido, quem é agredido jamais se esquecerá do que veio ao seu encontro, machucando fundo seus sentimentos. Sempre ficará no ar aquela dúvida quanto à veracidade das palavras ouvidas.

É preciso exercitar a fuga aos momentos de raiva, tentando ficar sozinho, calado e distante nesses momentos, para não ferir ou ferir-se. Caso já se tenha falado mais do que deveria, de forma violenta e dolorida, nunca será demais o pedido de desculpas, se sincero, verdadeiro. Vale muito, também, tentarmos nos colocar no lugar do outro, entendendo o que ele sentiu ouvindo o que dissemos.

Sim, a sinceridade é uma característica positiva, que pode nos salvar e nos libertar, desde que não tenhamos que ferir ninguém com ela, desde que ela seja parte integrante de nossa vida e não uma válvula de escape que é acionada somente quando estamos de saco cheio. Porque ninguém permanece igual após o confronto com o pior de si e do outro – e todos podemos perder, e muito, por isso.

Gostar de gente nunca esteve tão fora de moda

Gostar de gente nunca esteve tão fora de moda

Não é de hoje que o passado interessa mais do que o presente. Faz tempo que recordar é um jeito útil e eficiente de tocar a vida. Por algum motivo, a gente ignora o aqui e agora pra olhar de frente um canto lá atrás, um instante bonito, um velho sucesso, uma saudade boa. E vai seguindo assim, avançando de costas para o amanhã e o depois.

Claro que a gente não faz por mal. É que na falta de uma paixão novinha no presente, um motivo incomum, uma razão original que nos mantenha de pé, a gente procura e encontra no passado aquilo de que precisa para já. Está tudo lá. Todos ali, olhando em nossos olhos, à espera.

Na música, no cinema, no teatro, na moda, na TV, na poesia e em tudo quanto há, retomamos o que foi bom um dia e o fazemos funcionar de novo como velhos rádios, brinquedos antigos, fotografias em preto e branco reconstruídas em cores. No passado, reencontramos o presente perdido e seguimos adiante.

Mas em meio a tantos velhos modos revisitados, alguém bem podia inventar de novo aquele negócio antigo de uma pessoa gostar da outra. Já pensou? Do nada alguém se pega pensando: “puxa, vida… como o fulano é legal! Vou ligar pra ele!”. Num outro canto uma moça triste abre o e-mail, encontra mensagem de pessoa querida e responde animada. Ela está alegre de novo. Pais, filhos, amigos, irmãos, vizinhos, amantes ou completos desconhecidos, toda gente inventa de se tratar com ternura.

Aqui e ali, querer bem a alguém ganha ares de novidade boa. Em questão de horas, uma febre se espalha feito moda pelo planeta e de repente estamos todos, em todas as línguas, declarando amor e amizade uns aos outros.

Em vez de insultos, injúrias, maus modos e caras feias de hoje, elogios honestos, palavras de afeto e gestos gentis de ontem, reencontrados em algum lugar lá atrás e trazidos de volta para o nosso agora, retomados como modernos, clássicos obrigatórios, motivos para seguir em frente melhores, revigorados, atuais.

Aos poucos, essa coisa antiga de uma pessoa gostar da outra fará de nós uma gente nova em um mundo novo, habitado pela compreensão e a tolerância. Um mundo de gente que se ajuda, se respeita e se quer bem, avançando de frente para o amanhã e o depois.

10 filmes franceses atuais que você precisa assistir

10 filmes franceses atuais que você precisa assistir

Saiba quais são as produções recentes do país que você não pode perder!

Fora do circuito hollywoodiano, o cinema francês é o que mais se destaca, seja pela oferta de produções ou pelo alcance de público. E não é para menos – a cada ano, novidades do país invadem as telas mundo afora.

E para quem já é fã, ou àqueles que pouco conhecem, o Guia da Semana selecionou 10 filmes franceses atuais que você precisa assistir. Confira!

Agnus Dei (2016)

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Nem todos os dramas de guerra precisam falar de soldados e “Agnus Dei” mostra uma perspectiva totalmente inusitada sobre a Segunda Guerra Mundial. Uma médica francesa da Cruz Vermelha atende ao chamado de uma freira para resolver uma situação espinhosa: num convento polonês, a maioria das freiras está grávida ou já morreu dando à luz, após sucessivas invasões de soldados de ambos os lados do conflito.

Marguerite (2015)

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A comédia dramática de Xavier Gianolli foi lançada no mesmo período que a versão americana “Florence – Quem É Esta Mulher?” e ambos se inspiram na mesma história real: a de uma mulher muito rica que amava cantar, mas não tinha talento nenhum. Na versão francesa, Catherine Frot interpreta a protagonista.

Chocolate (2015)

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O Pequeno Príncipe ‬ (2015)

Baseado numa história real, o filme mostra a trajetória do primeiro artista circense negro a conseguir construir uma carreira na França. Omar Sy interpreta Chocolate, que começa a trabalhar no circo como uma “besta africana”, mas encontra a oportunidade de mudar quando um palhaço (James Thierrée) o convida para ser seu parceiro no palco.

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O livro de Saint-Exupéry, um dos mais famosos na literatura infantil, ganha uma adaptação expressiva por Mark Osborne. A animação conta a história de uma menininha que se prepara para entrar numa escola muito rígida, quando conhece seu excêntrico vizinho: um aviador que diz ter conhecido um garoto de outro mundo.

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Gemma Bovery – A Vida Imita a Arte (2014)

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Para amantes de literatura, “Gemma Bovery” é um presente. Fabrice Luchini interpreta um homem fascinado por Gustave Flaubert que fica obcecado por seus novos vizinhos quando descobre que o nome da moça é Gemma Bovery (Gemma Arterton) e que sua história tem semelhanças com a da personagem literária.

A Família Bélier ‬ (2014)

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Paula Bélier é uma adolescente que divide seu tempo entre ajudar os pais na fazenda e ter uma vida social na escola. Como toda a família é surda, exceto ela, sua presença é ainda mais essencial. Quando Paula é descoberta por um professor de canto e é convidada a participar de um concurso para estudar música em Paris, sua relação com os pais entra em choque.

Saint Laurent (2014)

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A vida de Yves Saint Laurent entre os anos de 1967 e 1976, quando o estilista estava no auge da carreira, retratando ainda algumas paixões da sua vida, como Jacques de Bascher, que mais tarde tornou-se parceiro de Karl Lagerfeld.

A Datilógrafa (2012)

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Para quem gosta de romances adocicados, “A Datilógrafa” é a pedida perfeita. Ambientado nos anos 50 em tons pastéis, o filme conta a história de uma secretária que se candidata a um trabalho numa grande empresa. Seu chefe percebe que ela não é uma boa funcionária, mas tem um talento inato para datilografia e decide inscrevê-la num concurso nacional.

Dentro da Casa‬ (2012)

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Voyeurismo é o tema central da comédia dramática (com um toque de suspense) de François Ozon. Germain (Fabrice Luchini) é um professor de francês entediado com a falta de talento de seus alunos, até que conhece Claude. Habilidoso com as palavras, Claude começa a escrever uma mistura de ficção e realidade sobre a família de um amigo, mas, para continuar produzindo, ele precisa se infiltrar cada vez mais na vida da família.

Fonte: Guia Da Semana

Despedida de um amor

Despedida de um amor

Vou-me embora da sua vida. Vou hoje, sem demora. Uma decisão calculada, conclusiva, bem pensada. Vou-me embora da sua vida, aliviar o peso que você carrega, liberara sombra que te roubo, devolver o espaço que ocupo.

Vou-me embora para me preservar, para te poupar, para nos afastar, para poder pensar, sentir saudades ou alívio, solidão ou euforia, liberdade ou arrependimento. Vou para ouvir o meu silêncio, entender meus desejos, separá-los da confortável rotina, deixar que sintam frio e medo, que digam o que realmente querem de mim e para mim.

Se você não puder esperar, prossiga. Eu vou porque por perto não entendo o que preciso. Vou para saber de que lado sofro e de que lado me aconchego.

Vou-me embora da sua vida para viver um pouco só. Vou testar as inseguranças e desproteções que tanto se teme. Ou descobrir minha fortaleza e independência, que viviam trancafiadas nas crenças da fragilidade.

Posso me arrepender, e se isso acontecer, não terei medo de lhe dizer. O maior medo que passo é hoje, a decisão de romper com o que já conheço e acabei por me acostumar.

Mas não quero somente me acostumar. Nem que se acostume comigo. Quero outra dimensão de vida, de surpresas, emoções e descobertas. Quero isso para mim e também para você.

Não sei se é pedir demais. Na verdade, o único pedido que tenho é que você não me queira por perto enquanto eu precisar ficar longe.

Vou-me embora da sua vida porque a confundi com a minha própria e isso não é jeito de se viver. Não te culpo, não me culpo. Só estou indo porque não saberia como ficar sem me entender.

União pirata

União pirata

Nós. Todos os outros. Todos

Cada um em seu barquinho
Um oceano infinito cheio de troços
Nos vemos de longe
Não vemos direito

Cada um em seu barquinho
Não escutamos com efeito
Remamos

Cada um em seu barquinho
Temos cordas e âncoras
Guardamos rancor

Cada um em seu barquinho
Enviamos cumprimentos longínquos
O oceano é infinito
Quando se cansam do remo
Descem corda. Ancoram
Antes

Cada um em seu barquinho
Sonhavam com o fim do oceano infinito
Quando no oceano infinito encontrariam outro

E cada um não sabia bem o que queria
Só o desejo do remador
De tanto trombar nos troços
Fazer destroços em vão

Do remo cansado
Os braços partidos
Resta a corda
Resta a ancora
Param. Restos.

O rancor guardado na caixinha dos primeiros socorros
No balé das tormentas se enlaçam as cordas
Atrito
Parte fraca
Afunda

O oceano ganha um barquinho
Um barquinho ganha mais um
“Um barquinho pequeno demais pra nós dois”
Parte fraca

Se acomoda em carona
Cada um em seu mundinho
Cada bússola um rumo à parte

Que fere pedaços no arranque
Guardada no cantinho do fundo
Protegida com encantos vencidos
Com o tempo

Do caminho distante
Deixando-se ir na direção do vizinho
Deixando-se à parte dos horizontes
Morrem aos poucos os sorrisos

Artifícios explodem à força
Fogo demais sujando o céu
Pólvora morta afoga no fundo
No fundo
No fundo
Do mar

O vizinho continua a remar
Como fosse só em seu barquinho
Olhando só de relance quem se deixa levar
Até que a enfermidade liberte rancores

Da caixinha dos primeiros socorros
Os primeiros remorsos
Tarde demais?
E quem foi que aprendeu a nadar?

Enquanto cada um em seu barquinho
Quem poderia imaginar?
Um dia saltar em outro
Permanecer por lá
Esquecer-se de si

Quando as bússolas gritam
“Abandonar o barco!”
Quem será o primeiro a saltar?
Sem remo, sem âncora, sem barco no mar

Seria preciso coragem feita de loucura
Dessas impermeáveis de se encharcar
Voam boiam nadam
Dessas que nascem nuas
E seguem sem vento

Bússolas de instinto
Bússolas de razão
“Você já conheceu a ilha?”
“Mas, o oceano é infinito…”
Param de remar.

Se afundam em dois
Naufrago ao quadrado
Quando já não há mais atrito
Há pesar

Pudera antes encontrar
Quem quisesse seguir lado a lado
E não frente a frente
Frente a frente
Não chegaram a nenhum lugar

 

George Orwell: a linguagem como construção de poder

George Orwell: a linguagem como construção de poder

O que são verdades? Nietzsche dizia que as verdades são construídas por meio da linguagem e do esquecimento. Sendo assim, a linguagem e, por conseguinte, as informações proferidas pela linguagem, configuram enorme importância no erigimento das bases que estruturam o convívio social.

Essa problemática é trabalhada com perfeição por George Orwell nas suas obras “A Revolução dos Bichos” e “1984”.

Em “A Revolução dos Bichos”, os animais de uma determinada fazenda – “Granja Solar” – através de uma revolução conseguem se livrar do domínio humano, personalizado na figura do Senhor Jones. Após o processo revolucionário e a tomada do poder, os porcos passam a liderar o movimento, uma vez que se consideram os animais mais inteligentes e, portanto, mais capazes de liderar a revolução e o controle da fazenda, ainda que eles coloquem, perante o resto dos animais, a liderança como uma atividade muito dispendiosa, a qual, eles humildemente estão dispostos a executar, em uma espécie de sacrifício para com os demais animais.

Ou seja, desde logo, o uso da linguagem e da informação são utilizadas como um forte instrumento político-social, já que é sabido que os porcos preocupavam-se tão somente em possuir o poder e tirar proveito deste para a sua “classe”. Desse modo, o controle da linguagem e da informação por um determinado grupo, faz com que este distorça estas de acordo com o seu interesse.

Ao longo da história isso é perceptível claramente na manipulação dos mandamentos, que mudam sistematicamente conforme os desígnios dos porcos se modificam e estes vão se “humanizando”.

“Porém, alguns dias mais tarde, Maricota, lendo os Sete Mandamentos, notou que havia outro mandamento mal recordado pelos animais. Todos pensavam que o Quinto Mandamento era “Nenhum animal beberá álcool”, mas haviam esquecido duas palavras. Na realidade, o Mandamento dizia: ‘Nenhum animal beberá álcool em excesso’.”.

Outro elemento utilizado na construção das bases que mantêm a ordem estabelecida é o uso das estatísticas. Por mais que a situação aparente estar tão dura ou pior que na época do Senhor Jones, os porcos sempre tratam de apresentar estatísticas que “comprovam” que as condições são melhores, haja vista o “aumento” constante na ração e a “diminuição” das horas de trabalho.

Esse elemento, o qual também é utilizado em “1984”, tem o seu sucesso estruturado em função da ideia de Nietzsche, posto que submetidos a uma realidade imposta e manipulada, perde-se até mesmo a noção de tempo, em que o esquecimento age como determinante na construção das novas verdades. Não à toa, um dos lemas do Partido em “1984” é:

“Quem controla o passado, controla o futuro. Quem controla o presente, controla o passado.”

No entanto, os absurdos produzidos pelos detentores do poder podem algumas vezes tornar-se alvos de questionamento pelos dominados. Quando isso acontece, faz-se necessário alterar a percepção interna para a externa, criando-se a figura do inimigo que quer destruir a ordem posta. Em “A Revolução dos Bichos” esse inimigo é inicialmente colocado na figura do Senhor Jones, o humano, de modo que a cada questionamento acerca do sistema, liga-se o alarme do medo dos tempos sombrios da submissão aos homens.

“Sabeis o que sucederia se os porcos falhassem em sua missão? Jones Voltaria! […] não há dentre vós quem queira a volta de Jones. Ora, se algo havia sobre o que todos os animais estavam de acordo, era o fato de nenhuma desejar a volta de Jones. […] Foi, portanto, resolvido sem mais discussões que o leite e as maçãs caídas (bem como toda colheita de maçãs, quando amadurecessem) seriam reservadas para os porcos.”

Posteriormente, o inimigo externo tornou-se um animal, antes integrante da revolução, “Bola de Neve”, o qual deveria ser combatido por todos de forma ininterrupta. Em “1984” esse inimigo aparece na figura de “Goldstein”, antigo membro do Partido, e agora líder das guerrilhas que pretendem destruí-lo e, consequentemente, o povo da Oceania. A fim de sempre reavivar a persona do inimigo, instauram-se os “Dois minutos de ódio” destinados ao ataque de todos à imagem de Goldstein que aparecia nas tele-telas.

Dessa maneira, a construção do inimigo externo e, conseguintemente, do ódio destinado a este, exerce fator determinante na manutenção do establishment, uma vez que se quebra a possibilidade de subversão e a classe dominada é mantida sob forte alienação e ignorância.

A despeito disso, o fator primordial que possibilita a execução das vontades dos Porcos e do Partido consiste na ignorância a que os indivíduos/bichos são mantidos. Nos dois mundos, poucos possuem um nível intelectual mais avançado, sendo que a maioria, no caso de “A Revolução dos Bichos”, sequer sabe ler, o que, diga-se de passagem, é determinante na manipulação que é exercida nas informações.

“Nenhum dos outros animais da granja chegou além da letra A. Notou-se também que os mais estúpidos, tais como as ovelhas, as galinhas e os patos, eram incapazes de aprender de cor os Sete Mandamentos. Depois de muito pensar, Bola de Neve declarou que, na verdade, os Sete Mandamentos podiam ser condensador numa uma única máxima, que era: ‘Quatro pernas bom, duas pernas ruim’.”.

Sendo assim, a ignorância, o ódio, o medo e a alienação, tornam-se faces de uma mesma moeda, de modo que os detentores de maiores recursos, não só financeiros, mas intelectuais e técnicos, conseguem facilmente manipular a linguagem, as informações, a história e o próprio povo. Tudo é ressignificado constantemente para que a “Ordem e o Progresso” sejam mantidos, e, assim, Mandamentos sejam reescritos, a novilíngua seja instaurada e o pensamento mantenha-se confuso e restrito. Isto é, para que a massa por meio da linguagem, instrumento indispensável à liberdade, tenha a sua própria linguagem e, consequentemente, liberdade, controladas.

Em um mundo em que as realidades apresentadas estão cada vez mais presentes, torna-se indispensável fazer do instrumento de cerceamento, a chave da libertação, sendo um verdadeiro inimigo do Partido e dos Porcos (pleonasmo?), sendo um verdadeiro libertário, sendo corajoso para quebrar as regras da polícia do pensamento ou para lutar contra os cães de Napoleão e, acima de tudo, sendo “louco” o bastante para ser um “criminoso” de ideias, porque se há algo que pode quebrar a estrutura, esse algo está dentro de nós.

Quem cala como sente?

Quem cala como sente?

Há um famoso ditado que diz: “a palavra é prata, o silêncio é ouro.” E isso é uma grande verdade! O grande problema está na sabedoria de uso das palavras e na forma como nos silenciamos.

Acredito que a coerência com as palavras deveria ser nato do ser humano, mas, infelizmente, não é assim. Aprendemos o valor do silêncio e o uso adequado das palavras depois de muitos erros e conseqüências.

Em tempos de redes sociais e opiniões expostas, há palavras que jamais deveriam ser ditas e silêncios que jamais deveriam ser feitos. Porém, há uma grande diferença entre silenciar diante da própria dor e silenciar diante da dor do próximo. O silêncio diante de uma injustiça não é silêncio, é conivência. É compactuar com o opressor e acreditar que a sua segurança vale mais do que a justiça.

Em um episódio do seriado Dr.House (que em minha opinião não deveria ter chegado ao fim), o super sincero protagonista afirmou que “as pessoas são hipócritas, dizem que querem a verdade, mas vivem constantemente na mentira por terem medo de mostrar as suas reais vontades”.

E convenhamos, ele tinha toda a razão. Pessoas que ficam em cima do muro não merecem nenhum respeito. São egoístas e pensam em si como prioridade de vida. Pessoas verdadeiras são claras, confiáveis e justas. Falam o que pensam e aguentam firme as consequências,porque conhecem o motivo da sua posição e a justiça das suas palavras. Compartilho do mesmo pensamento de Rachel de Queiroz: “Gosto de palavras na cara. De frases que doem. De verdade ditas (benditas!). Sou prática em determinadas questões: ou você quer ou não.”

As palavras tem um poder imensurável. O silencio também. As palavras devem ser ditas com sabedoria e não por impulso. Não foram poucas as vezes que você disse “está tudo bem” enquanto sangrava por dentro, certo? E o motivo é comum a todos: não são todos os ouvidos que estão prontos para escutar nossa dor. Silenciar, às vezes, é necessário. Torna-se proteção, escudo, cura.

Mário Quintana acreditava tanto no poder das palavras que defendia o direito à verdade como poucos: “nunca diga te amo se não te interessa. Nunca fale sobre sentimentos se estes não existem. Nunca toque numa vida se não pretende romper um coração. Nunca olhe nos olhos de alguém se não quiser vê-lo se derramar em lágrimas por causa de ti. A coisa mais cruel que alguém pode fazer é permitir que alguém se apaixone por você quando você não pretende fazer o mesmo.”

Suas palavras devem refletir seus atos. Escolher as palavras certas, mostra equilíbrio entre o dizer e o fazer. Há momentos na vida que a palavra certa é um palavrão. Há momentos em que o português não está adequado à norma culta. E daí? Como diz Fernando Anitelli, “acredito que errado é aquele que fala correto e não vive o que diz…”

No fundo, no fundo, ela é uma boa pessoa! Será?!

No fundo, no fundo, ela é uma boa pessoa! Será?!

Gente casca grossa, muitas vezes têm em mãos uma espécie de aval para continuar a praticar suas performances “sem noção”. O aval, pasme, vem dos próprios atingidos pelo comportamento invasivo e destemperado do “casca grossa”, que, por alguma misteriosa razão, não reagem a tanta falta de bom-senso.

Mas… por quê? Por que será que a gente permite a certas pessoas usarem e abusarem de suas posturas abusivas? E por que será que essas certas pessoas se sentem tão à vontade para se desfazerem dos outros, desmerecendo esforços e tentativas para ajudá-los a serem pessoas menos insuportáveis.

O fato, é que tem gente que curte humilhar os outros. Tem gente que se acha acima do bem e do mal. Tem gente que acredita ser superior e intocável. Tem gente, inclusive, que acredita que todo o resto do mundo nasceu para admirá-lo, entendê-lo e – por que não? – serví-lo?

Essa gente possui uma comorbidade advinda de seu caráter arrogante e narcisista que se chama “síndrome do bom senso murcho”. Os sintomas da citada perturbação são variados, vão desde olhares de desprezo a ataques de autopromoção – com a direito a milhares de selfies nas redes sociais – passando por “pitis” e chiliques gerados por uma alguma crítica ou singela negação às suas necessidades de estrela.

A dura verdade é que, gente que “no fundo, no fundo é uma boa pessoa”, não é uma boa pessoa – ponto final. Gente assim, só encena ser alguém que vale alguma coisa, quando há interesses em jogo. Não se iluda em relação aos “casca grossa” – além da casca impenetrável, o interior é seco, árido e viscoso ao mesmo tempo. E caso você seja seduzido por esse joguinho de “morde e assopra”, vai acabar prisioneiro de uma relação nada saudável.

A boa notícia é que, além de ninguém merecer conviver com essa “mala sem alça”, ninguém é obrigado a sequer fingir que gosta dela, ainda que seja à distância. Essa gente sem noção tem cura, acredite. E a cura é um bom choque de realidade. Ofereça ao portador de “bom senso murcho” o seu melhor silêncio, saia de fininho, desapareça, delete. E fique tranquilo, gente assim não se sente sozinho, gente assim vive cercada de sua própria imagem e de seus egos inflados que crescem infinitamente para todos os lados.

Se quiser realmente conhecer uma pessoa, pare de julgá-la

Se quiser realmente conhecer uma pessoa, pare de julgá-la

Parece que, atualmente, a onda do politicamente correto vem tornando o julgamento sobre a vida alheia mais rígida e acirrada. Uma vez que expomos nossas ideias a um público mais vasto, dado o alcance das redes sociais, acabamos sendo alvo das mais variadas formas de julgamento, tanto por quem gosta de nós, como por quem não gosta, ou até mesmo por quem nem nos conhece.

Uma das coisas mais difíceis de se encontrarem hoje em dia é alguém com quem consigamos discutir qualquer assunto que seja de maneira tranquila, quando os pontos de vista não coincidem. Muitas pessoas confundem gritos e ofensas com opinião, misturando coerção com argumentação. Pouco se abrem, portanto, ao novo, ao diferente, cristalizando ideias que não conseguem sair do lugar.

Dessa forma, acabamos muitas vezes perdendo oportunidades de encontros com pessoas que nos somariam conhecimento, amizade e companheirismo. Julgamos os outros a partir do que menos lhes caracteriza, rotulando-os de acordo com o que nós mesmos possuímos, sem nos permitir enxergar além do que as aparências transmitem, que é, afinal, o que realmente importa.

E a gente cansa. Cansa de ser mal interpretado, de ter o que disse desvirtuado e jogado de encontro com nossa dignidade, de forma descontextualizada. Porque enjoa ter que ver os comentários violentos e ofensivos abaixo das nossas postagens, enjoa ter que deixar claro, a todo momento, que nossas opiniões não são regras e normas absolutas. É desagradável ficar medindo as palavras, por conta do temor de que gente raivosa nos ataque com destempero.

É tão simples. Não me pergunte se sou evangélico, católico ou espírita; observe minha fé. Não me questione sobre o que eu penso a respeito da diversidade de gênero, mas veja como eu trato meus semelhantes. Não critique minha opção política antes de saber como respeito a cidadania. Passe um dia comigo e então talvez esteja pronto para tirar conclusões minimamente coerentes. Somente ver não significa enxergar. Não julgue. Conviva, aproxime-se e observe. Não gostou, afaste-se, mas sem gritaria, porque ninguém merece…

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