Viver requer um pouco de tudo, principalmente de você

Viver requer um pouco de tudo, principalmente de você

Não adianta reclamar, esperar e realizar preces para um amanhã mais ameno. A vida começa quando você, despido de pequenos trajes sentimentais, começa a dar passos de coragem e intensidade para o que te faz feliz. Ou, pelo menos, para as coisas e pessoas que imagina serem caminhos sinceros e partes integrantes disso.

Por vezes, o medo bate na porta. Na janela, a ansiedade acena. E o amor, quase sempre, acaba perdido em algum outro cômodo. Você não consegue mais sair, sorrir e reconhecer a vida. Sobram poucos espaços para sentimentos e quase nenhum resquício de vontade própria sobrevive. Ontem, chorou pelo amor perdido. Anteontem, teve raiva da oportunidade não concedida. Inúmeras situações e realidades que, aos poucos, fizeram do seu coração algo mais rochoso, espesso e inerte. Os planos deixados de lado, os sonhos interrompidos por pensamentos utópicos e, como se não bastasse, sem sobreaviso, adeus lhe foram dados. Fica difícil jogar com tanto azar. Você, que nem acreditava nessas sandices, agora percebe um mundo regido pela sorte ou pelos astros mapeados. Não que sejam estudos diminutos, mas bater o martelo nesses caminhos traçados é praticamente assumir uma inexistência da escolha.

Felicidade não é para qualquer amar. Às vezes, pouco é muito. Dar valor para os momentos de serenidades e recolhimentos, ajuda. Nenhum tropeço é tão ruim que não possa encontrar resiliência debaixo do travesseiro. Temos belezas das quais, por mais características em comum, raramente assemelham-se. Corações são distintos. Saber amar envolve você para depois repousar num outro alguém.

A vida é um salto de coragem. Não desistir daquilo que te move e faz o seu espírito sentir-se vivo, sempre será o melhor trajeto. Apreciar instantes transforma um pouco de tudo. E viver requer um pouco de tudo, principalmente de você. Então, mesmo que o amor tenha cambaleado, o medo forçada entrada e, a ansiedade debruçado-se nos ombros, resista. Pouco é muito, mas amor é de tudo um pouco.

É muito estranho quando alguém vai embora sem avisar

É muito estranho quando alguém vai embora sem avisar

É estranho quando alguém vai embora sem avisar. As coisas ficam tão quietas como se esperassem uma explicação. E a gente não tem o que falar porque ainda não entendeu nada. Não tem nem coragem de trancar a porta porque aquela pessoa tinha hora certa pra chegar. Depois de um tempo, a gente quer mudar a cama de lugar, colocar uma cortina rendada e alterar a cor da fachada, mas o dia é sempre cinza quando a gente anoitece por dentro. É muito estranha essa sensação de ficar sem lugar dentro da própria casa porque nosso aconchego era no peito de uma pessoa que não mora mais ali. E a gente se dá conta que está desabrigado, empunhando uma saudade que não passa, aguentando um silêncio que não se quebra com a cor da voz daquela pessoa. A ausência ocupa muito espaço. E a tristeza resvala nas coisas que a gente lembra, e a gente se sente tão ferido sem saber qual é a parte que dói mais. A gente tira as coisas do lugar pra ver se as coisas mudam, mas elas continuam gritando o nome daquela pessoa que foi embora. E a gente chora, quer ir embora também pra ver se encontra na rua àquela pessoa, que sempre esteve tão do lado de dentro e agora é como se a gente montasse guarda pra ver se acha algum vestígio, alguma partícula que tenha o cheiro e a voz, que aos poucos vai se dispersando na poeira dos dias. É muito estranho quando alguém vai embora sem avisar e a gente olha aquela roupa mais estimada e pensa que ali dentro vivia uma pessoa feliz. E a gente veste aquela roupa pra tentar se aproximar do cheiro daquela pele, mas é só uma camada de pano cheia de linhas soltas, é só o invólucro da ausência que a gente tenta abraçar pra ver se pega de novo aqueles traços, aquele jeito de olhar, aquelas manias que a gente reclamava e que agora sente saudade até mesmo da toalha molhada em cima da cama, mas, a gente não tem mais aquela toalha. É muito estranho quando alguém “joga a toalha” e vai embora sem avisar porque a gente sempre espera resolver tudo numa conversa antes de deitar e planeja fazer alguma surpresa para o jantar pra ver se fica tudo bem, mas, de repente, aparece essa argola de angústia rodeando o pescoço porque não se sabe se a pessoa perdeu mesmo o rumo de casa ou não quer mais voltar. Mas é estranho porque talvez ela tenha avisado num gesto qualquer, que a gente não tenha interpretado como um sinal de despedida, mas era a última vez, e aí, a gente rebobina as cenas, e chora de novo como se fizesse um “remake” de um filme que já acabou. É estranho… é muito estranho.

O amor não é um ônibus pra você esperar o próximo. Embarque logo, criatura!

O amor não é um ônibus pra você esperar o próximo. Embarque logo, criatura!

Lá vem ele. Vem reduzindo a marcha, sinalizando, aproximando-se, abrindo a porta, esperando você entrar. Mas você olha e pensa: será? Tá muito cheio, tá muito vazio, tá muito cedo. Então decide esperar o próximo e o vê partir sem você. Acontece. Como também acontece de o próximo não chegar tão cedo, de chegar mais cheio que o outro, de ser muito tarde. Aí você perde a hora e pensa: “puxa, vida! Eu devia ter embarcado no primeiro ônibus”.

Guardadas todas as proporções, a maior diferença entre os ônibus e o amor é: ainda que demore, o próximo ônibus sempre vem. O amor, ninguém sabe. Esse negócio de esperar “a hora certa” para sentir amor, sei não.

Tem tanta gente esperando no ponto! Debaixo de chuva ou ardendo no sol, tremendo no frio ou suando calor, de dia ou de noite, tem sempre uma multidão apinhada, à espera. É sempre hora do rush. O ônibus não tem lugar pra todo mundo. Já o amor, ahh… no amor cabe o mundo todo.

O ônibus segue um itinerário padrão, passa pelas mesmas ruas, dobra as mesmas esquinas. O amor toma seu próprio rumo.

Quem vai de ônibus depende da boa vontade do motorista. Quem embarca no sentimento amoroso dispensa até a companhia se assim quiser. A gente pode amar sozinho mesmo. Se vier alguém, que embarque conosco porque o espaço é amplo, o coração é generoso e o caminho é livre.

Amar é coisa que a gente se permite, sabe? A gente sente ou não sente. Embarca de uma vez, não fica aguardando no ponto. E se não der certo a gente desce, ué!

Se o amor, em seu rumo próprio, enveredar por caminhos estranhos e rotas indesejadas, se ele correr demais ou se arrastar feito lesma, se não soubermos mais para onde estamos indo, é só saltar. A gente salta, sozinha ou acompanhada, e segue para onde sentir o coração apontando.

Sentir amor reside em nós. Depende de ninguém mais. Por nós mesmos ou pelo outro, a gente embarca quando ele chega. Não espera o próximo, não. Porque pode ser que o próximo não venha. Ninguém sabe. Mas ninguém prova o contrário. Lá vem ele. Vai embarcar ou vai esperar?

Antes nós temíamos a solidão, hoje temos medo de companhias reais.

Antes nós temíamos a solidão, hoje temos medo de companhias reais.

Estamos cada vez mais solitários na multidão. Antes nós temíamos a solidão, hoje temos medo de companhias reais. É que é mais cômodo o trato à distância. Receber o desabafo de um amigo via Wi-Fi é mais prático, menos desgastante. Não precisamos olhar, opinar ou mesmo se posicionar. Basta uma curtida ou um emoji e está tudo resolvido.

Cada vez mais, a amizade se dilui em contingências e burocracias. Não se pode mais tocar a campainha sem antes ligar e não é permitido ligar após o horário comercial. Se você fizer isso, pode ser tratado como um mal educado inconveniente ou como um pária que atirou pedra na cruz.

Viramos instituições com hora para abrir e fechar e nos esquecemos que um dos grandes atrativos da amizade é justamente a possibilidade do improviso.

Culpar apenas a tecnologia por essas transformações é uma desculpa para encobrir certa preguiça existencial. Não estou falando de baladas, de porres e de farra. Eu falo de contato, de olhar, da capacidade de conceder abraço, palavra ou silêncio confortador – sim, até mesmo o silêncio de um amigo presente pode representar tanto conforto quanto uma palavra. É a presença que conta, não só a física, mas aquela que se faz notar em um telefonema para perguntar sobre a vida, sobre um projeto ou sobre como anda a paixonite aguda por alguém. Estes exercícios de atenção são essenciais para a manutenção de nossa própria humanidade. Não somos máquinas ou pelo menos não deveríamos ser.

Vivemos de solidão a dois, a três, a quatro… Permanecemos distantes, mesmo quando estamos a míseros dois metros de distância. Tão perto e tão longe. O pensamento dominante não é o de que é melhor estar só do que mal acompanhado, é o de que é melhor estar só, fingindo estar acompanhado.

Cuidar de um amigo é cuidar da memória. Através dele nos também nos desdobramos. Se você não for do tipo altruísta e prefere uma posição mais egoísta frente à vida que escolheu levar, ao menos essa justificativa deveria valer para você: a amizade nos leva à posterioridade.

No quadro atual, o terapeuta é uma extensão da amizade que não conseguimos cultivar ou que não demos água e luz suficientes para florescer. Pessoas perdem a mesa onde se sentavam para discutir o futebol e acabam tendo que recorrer ao divã. O psicólogo é hoje a personificação da amizade pós-moderna: com dia e horário marcados para visitas que devem ser rigidamente seguidos.

Felizes daqueles que ainda possuem amigos ao estilo antigo e ultrapassado, que não se deixaram levar pelas tendências de desapego que defendem a comodidade da comunicação à distância.

Felizes daqueles que são fora de moda e que ainda recebem pessoas em casa sem ligações ou mensagens prévias para uma cerveja ou uma conversa informal.

Feliz de quem não agenda o próprio afeto.

Livro infantil sobre medos ajuda crianças a lidarem com suas dificuldades

Livro infantil sobre medos ajuda crianças a lidarem com suas dificuldades

O medo faz parte da vida e existe para nos proteger de perigos que podem colocar nossa existência em risco. Quando ele chega, a criança fica assustada, chora, não dorme e tem muita dificuldade para compreender qualquer explicação racional.

Para ajudar pais e crianças a lidarem com os medos, a Psicopedagoga e Mestre em Disfunções de Leitura e Escrita pela Universidade de São Paulo, Ana Macarini escreveu o livro “O Medo de ter Medo”, pela editora PerSe.

“A criança precisa sentir que tem permissão para sentir-se assustada e amedrontada, diante do que não consegue compreender ou ainda não é capaz de racionalizar. Quando tem seus medos acolhidos pelos adultos, a criança consegue evoluir em suas interpretações do mundo e estabelece comportamento afetivo, baseado na confiança.” – comenta a autora.

Segue a Sinopse:

contioutra.com - Livro infantil sobre medos ajuda crianças a lidarem com suas dificuldades“Dizem por aí que todo mundo tem medo de alguma coisa. Dizem também que tem gente que vive fingindo coragem porque tem medo de admitir que tem medo. Sofia Catarina é uma menininha danada de esperta que foi surpreendida certa manhã por uma “voz do além” que vinha de dentro do armário de seu quarto. E foi por causa desse enorme susto que ela acabou descobrindo um jeito de enfrentar o seu pior medo: O MEDO DE TER MEDO! Isso sem contar o monstro que vivia debaixo da cama, o fantasma da cadeira de roupas e… Ahhhh, nem te conto! Ou será que conto?! Mas, e você? Tem medo de quê?”

 

Ana Macarini é Psicopedagoga e Mestre em Disfunções de Leitura e Escrita pela Universidade de São Paulo. Escreve crônicas e artigos de opinião para a revista eletrônica CONTI Outra. Apaixonada por crianças e histórias, acredita que as palavras têm vida própria e que, exatamente por isso, têm essa propriedade mágica de se dissolver no papel e renascer por meio dos olhos de quem as lê.

O livro pode ser encontrado no site da editora Perse e possui preços bastante acessíveis.

E se amor der na árvore, você floresta ou desmata?

E se amor der na árvore, você floresta ou desmata?

A gente, muito engajado, começa uma baita discussão socio-ambiental. Bla bla bla. Horas de argumentos, pontos de vista e refutações. Depois beijamos, abraçamos e raramente pensamos no quanto mudanças globais estão afetando nossas vidas íntimas. Nossa percepção nos engana e nos julgamos observadores distantes do mundo.

Pense em 1900. Não havia internet, celular. Quantas relações jamais existiriam hoje se não fossem essas formas de interação? Não é fácil perceber o quanto avanços tecnológicos transformam nossas vidas afetivas. Mas experimente passar dois anos sem falar com as pessoas por mensagem. Qualquer coisa assim simples já escancara o quanto estamos imersos no contato virtual.

Nada contra, nem a favor. É apenas um meio, cada um utiliza como achar melhor. Tem gente que gosta mais, outros menos e assim vai. Porém, há um porém. Muitas pessoas pensam que amor dá no aplicativo. Que ano que vem, todo ano que vem, vai sair uma atualização.

contioutra.com - E se amor der na árvore, você floresta ou desmata?

Queremos que o amor rode bem, sem travar, dê informações precisas e tenha um layout, uma aparência agradável e funcional. Mas as coisas da natureza são indomáveis. 

Mas esse danado não é prático como o Google, nem é um Uber que você chama e em alguns minutos chega.

Essa lógica de uma vida cada vez mais prática é muito boa quando não transferimos para relações humanas. Tem gente que não vai te amar e nem adianta ficar atualizando sua versão. Tem gente que te ama, mas nem todo dia está com sinal disponível. Tem gente que te ama muito, mas não deixou de ser um humano e possui limitações.

Por isso, o amor é mais como uma árvore, bem grande. Dá coisas que um aplicativo jamais dará; como uma manga grande suculenta de sujar a cara toda e uma sombra acolhedora.

Cabe a você desmatá-lo exigindo que ele se reduza a um aplicativo para servir a todos os seus caprichos, ou floreste sabendo que em troca ele lhe dará um ar mais puro.

E ainda bem que amor não dá no aplicativo, imagine, vai que algum juiz  tira do ar?

Taxi driver – a solidão como condição pós moderna

Taxi driver – a solidão como condição pós moderna

Bauman em um dos seus pensamentos diz: “Estamos todos em uma multidão e em uma solidão ao mesmo tempo”. Frase paradoxal, típica de tempos pós-modernos, em que não se tem certeza de muita coisa.

Contraditória é também a história de TravisBickle (Robert De Niro), um homem perturbado psicologicamente, imerso em sua solidão, paranoia e decadência, buscando algo sólido para apoiar a sua existência frágil.

Taxi Driver, talvez a maior obra-prima do gênio Martin Scorsese, nos apresenta Travis (em uma atuação espetacular de De Niro) um jovem que aparentemente serviu no Vietnã e não consegue se enquadrar na sociedade. Sofrendo de insônia, ele decide arrumar um emprego de motorista de táxi, a fim de que possa, ao menos, lidar de maneira menos desgastante com o seu problema.

No entanto, Travis é um indivíduo imerso em um inferno tão quente quanto o vietnamita. Movido por uma autoanálise perene, ele sente e percebe toda a degradação que existe nas ruas, ao seu redor, em cada pessoa e dentro de si. A degradação que existe na vida e que nos torna tão distantes uns dos outros e solitários, com vidas mergulhadas em depressões profundas, em que temos apenas o nosso próprio eu como companheiro.

O comportamento esquisito e a degradação psicológica sofridas pelo personagem se constroem de forma verossímil (o que é acentuado pela trilha sonora de Bernard Herrmann) já que Travis é um reflexo da própria degradação apresentada nas ruas e da própria solidão que apavora cada um. Não à toa, a obra é uma história urbana, uma vez que são nos grandes centros urbanos que a paradoxalidade apresentada por Bauman faz mais sentido.

Nas metrópoles, como Nova Iorque, embora exista uma maior concentração de pessoas, estas estão submetidas a rotinas desgastantes, vivendo sempre com pressa, resolvendo os seus problemas e lutando contra os seus demônios, obviamente (ou contraditoriamente?), sozinhas.

Isto é, saímos de casa, vamos, voltamos, tornamos a ir e não enxergamos nada, não nos enxergam, somos invisíveis atormentados pelo medo, asfixiados pelo nada que as nossas vidas seguem, esmagados pela sujeira nas ruas, que parece ser a única existência concreta no mundo, completando a nossa solidão.

“A solidão me perseguiu a vida toda. Em todo lugar. Em bares, carros, calçadas, lojas, em todo lugar. Não há escapatória. Sou um homem solitário de Deus.”

Diante do vazio que o permeia, das suas incertezas e do seu desencanto, Travis busca refúgio no seu diário, a fim de que possa afastar-se de toda aquela sujeira que ele tanto repugna, muita coisa, inclusive, fruto do seu preconceito e conservadorismo.

Entretanto, o seu sonho sempre esbarra em si mesmo, porque sabe que o ódio que nutre pela “escória” das ruas, é apenas um reflexo da sua própria exclusão e desenquadramento, da sua esquisitice inapropriada e inaceitável pelo lado “bonito” da cidade, de modo que não há como a chuva limpar as ruas, sem que ele também seja levado para os esgotos.

“À noite, saem animais de todos os tipos: prostitutas, cafetões, corruptos, drogados, traficantes e esquisitos de todo tipo. Um dia uma grande e verdadeira chuva vai limpar as ruas de toda essa escória.”

Mesmo sabendo de toda a sua decadência e do mundo, Travis nutre o desejo de fuga do inferno no qual está submetido. Esse desejo é almejado em Betsy, que representa o contraponto de toda a miséria pronunciada pelo protagonista. A rejeição, todavia, por parte de Betsy, de um romance sequer iniciado, acentua para Travis, a incapacidade de salvação, posto que o seu portal de salvação revelou-se somente mais uma passagem para o inferno.
“Agora eu percebo como ela é como os outros… fria e distante. Muitos são.”

Talvez o que Travis precisasse, antes de sucumbir à loucura total, fosse de alguém com que pudesse sair, conversar, fazer alguma coisa. Alguém que pudesse ajudá-lo a tirar umas coisas ruins da cabeça, algo que ele tenta expor, mas sem resultado, a um colega taxista. O que Travis precisava, era o que todos nós precisamos em algum momento da vida: alguém que nos ajude a respirar e sair do mar de lama que estamos mergulhados.

Ele não encontrou essa ajuda, nós, na maioria das vezes, também não encontramos e, assim, quando todas as portas se fecham, a loucura se anuncia como a única saída possível. Para o nosso herói foi dessa maneira.

Após o seu ato de loucura ser praticado materialmente, Travis é condecorado por uma sociedade que antes o excluía. Pior, pelos motivos errados. Nada que fizesse substancialmente diferença para ele, já que o final do filme, assim como o começo, demonstra o mesmo olhar refletido no retrovisor.

O olhar de um homem que sabe que não é herói, que não acredita em heróis, cheio de vazio e solidão, buscando apenas um sentido para a sua vida, embora saiba ao olhar pela porta do carro que: “Os dias passam monotonamente um após o outro, nenhum deles difere do anterior ou do próximo, são como elos de uma longa cadeia, até que de repente surge a mudança.” E, sobretudo, que ao olhar-se no espelho não enxerga nada além de si mesmo, ainda que as duas imagens representem a mesma coisa.

Deusa Iris

Deusa Iris

Deusa grega do arco Iris. Casada com o deus do vento Zéfiro, era considerada uma mensageira entre deuses e homens, principalmente de Hera e Zeus. Os gregos acreditavam que o arco – Iris era uma conexão entre o céu e a terra, por isso esse atributo à deusa.

Essa deusa foi diminuída de posto com o advento do patriarcado, passando a ser a mensageira da deusa Hera – esta uma deusa que perdeu o seu poder para o marido Zeus. O posto de mensageiro oficial foi para Hermes. Ela mencionada na Ilíada, mas nunca na Odisseia, onde Hermes toma seu lugar.

Possivelmente a raiz de Íris é o indo-europeu uei, “dobrar”, donde o latim uiriae, “bracelete”. Íris é a ponte, o traço-de-união entre o Céu e a Terra, entre os deuses e os homens. Comumente é representada com asas e coberta com um véu ligeiro que, ao contato com os raios do sol, toma as cores do arco-íris (Brandão).

É representada por uma bela donzela alada, que se move com muita leveza. Era junto com Hermes a única capaz de se mover entre o mundo humano, o Olimpo, o Hades e os oceanos. Carrega consigo um bastão de mensageiro e às vezes uma jarra de vinho. Também aparece servindo néctar aos deuses. Ela também era a copeira dos deuses.

Iris era bondosa, mesmo tendo ajudado Hera em suas vinganças, principalmente quando Hércules enlouqueceu e acabou com sua família.

Da mesma forma que o arco-íris, ela podia surgir quando menos se esperava e também podia desaparecer discretamente. A parte colorida do olho, a íris, recebeu esse nome por causa dela.

O arco – Iris é um símbolo universal da mediação e dos caminhos. Na Mitologia o Arco Iris é uma ponte para deuses e heróis se deslocarem entre os dois mundos.

Um arco-Iris se forma quando a luz do sol brilha em gotas d’água da chuva. Parte da luz é refratada para dentro da gota, refletida no seu interior e novamente refratada para fora da gota. Esse efeito se deve a gotas suspensas no ar. O espectro de cores que aparece nele são: violeta, anil, azul, verde, amarelo, laranja e vermelho.
O arco-íris não existe efetivamente em um local no céu, trata-se de uma ilusão de ótica cuja posição aparente depende da posição do observador.

Uma curiosidade é que a luz do sol refletida pela lua também é capaz de criar um arco-íris.

Na Escandinávia é a ponte Byfrost; no Japão, a ponte flutuante do Céu; a escada de sete cores por onde Buda torna a descer do céu. A mesma ideia se encontra do Irã à África, das Américas à China. No Tibete, o arco-íris não é propriamente a ponte, mas a alma dos soberanos que sobe ao céu. As fitas usadas por determinados Xamãs simbolizam a ascensão dos mesmos à outra vida.

Na China a união das “cinco cores” do arco-íris é a mesma união de yin e do yang, o sinal de harmonia do universo e o símbolo da fecundidade (Brandão, 1986).

As sete cores do arco-iris representam os sete dias da semana, que também estão associados aos planetas, representando os sete níveis de consciência.

No Tarot Mitológico essa deusa foi associada ao arcano A Temperança, símbolo do equilíbrio e da busca da harmonia entre as polaridades. A alquimia, a transformação, harmonia, circulação de energia.

Como mensageira de Zeus e Hera ela une a chuva (Hera) e o raio (Zeus), simbolizando a união das atividades celestes deles. A união de contrários.

As sete cores do arco-íris no esoterismo islâmico simbolizam a imagem das qualidades divinas refletidas no universo, já que o arco-íris é a imagem inversa do sol sobre um véu inconsistente de chuva (Brandão, 1986).

O arco – Iris é a reunião do alto e baixo, a terra e as águas. É uma resolução.

O arco-íris que surge sobre a Arca de Noé reúne as águas inferiores e superiores, metades do ovo do mundo, como sinal da restauração da ordem cósmica e da gestação de um novo ciclo. Estabelece-se uma aliança entre a Divindade e o homem.

Na cultura yorubá o representante do arco – Iris é o Orixá Oxumare, que representa a mobilidade, a circulação e a atividade. Uma de suas funções é a de dirigir as forças que promovem o movimento. Algumas vezes, é representado por uma serpente que morde a própria cauda.

Oxumarê é um orixá completamente masculino, porém algumas pessoas acreditam que ele seja macho e fêmea. Diz-se que é um servidor de Xangô, que seria encarregado de levar as águas da chuva de volta para as nuvens através do arco-íris.

Conforme Brandão (1986) a associação Chuva-Arco-Íris fez que em muitas culturas essa evocasse a imagem de uma serpente mítica, como Naga, na Ásia oriental. Este simbolismo se encontra também na África e, possivelmente, até mesmo na Grécia, porque o arco, que figura na couraça de Agamêmnon, está representado por três serpentes. Pois bem, tal simbolismo está em conexão com as correntes cósmicas que se desdobram entre o céu e a terra

No Tarot Mitológico, Iris como a Temperança está representada com um arco – iris em forma de circulo, como se fosse uma serpente que morde o próprio rabo,representando assim a Uroboros.

Iris então como arquétipo representa algo espiritual, intangível, um equilíbrio temporário representado pela Uroboros, mas que não é passível de sobrevivência. Ela é a totalidade que tanto almejamos, mas que foi diminuída.

É comum se dizer que há um pote de ouro ao final do arco – Iris.Mas esse final nunca encontramos, porque não é algo objetivo e tangível. É o ouro do nosso inconsciente, que Iris pode auxiliar, como mensageira, a encontramos.

Mas para isso, precisamos ter a humildade dela, para servirmos aos deuses, ou seja, para servirmos de bom grado a forças maiores que nós que se encontram em nossa inconsciente. Precisamos ter a humildade de parar para ouvir suas mensagens, mesmo que não sejam boas de ouvir, mas que servirá para nosso crescimento.

Meu caso de amor é comigo mesmo. Mas de quando em vez eu pulo a cerca.

Meu caso de amor é comigo mesmo. Mas de quando em vez eu pulo a cerca.

Ser alguém que caminha sozinho é bom. Pouca coisa na vida é melhor. Nada nos dá sensação de poder tão grande quanto aceitar nossa condição de seres sós, autônomos, emancipados, livres.

Que privilégio maravilhoso é o sentimento de não depender de ninguém para nada. Que alegria é me dar conta de que não preciso de aprovação nenhuma para fazer o que quero, inclusive fazer nada. Ser só é um presente e eu agradeço todos os dias por isso. Mas confesso: de quando em vez eu saio em busca de outros amores. Tenho comigo mesmo uma relação aberta.

É sempre assim. Por mais longe e mais alto que seja o meu voo em companhia alheia, eu sempre volto para mim mesmo. Eu me pertenço. Não tenho ciúme, não fico inseguro. Não faço cena. Permito-me tomar outros rumos, dormir noutras camas, sonhar outros sonhos, sofrer outras dores.

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Sou livre para trazer amores novos à minha casa, apresentá-los a mim mesmo, um de cada vez, em encontros alegres de corações felizes. Por serem livres como eu, partem quando queiram, sem culpa, sem mais. E se esquecerem uma saudade aqui e outra ali, serão bem-vindas nas lembranças que celebro comigo mesmo de tardinha, quando o sol já se escorrega e a lua se insinua encantadora, linda, sozinha como nós.

Ao meu lado, sou alguém com quem adoro fazer a feira, jogar na loteria, jantar o que há na geladeira. Alguém com quem esperar o atendimento na fila do pronto-socorro, fazer contas, viajar junto revezando a direção do carro.

Sou alguém que tem amor por si mesmo. E que não se importa de dividi-lo com quem vier numa conversinha embriagada, um filme bobo, uma pia cheia de louça, um passeio no sol do parque ou no ar-condicionado da livraria. Essas coisas todas que, normalmente, faço comigo. Mas que às vezes também é bom fazer na companhia de quem vive do lado de fora de mim.

Ternura e um pouco de sacanagem

Ternura e um pouco de sacanagem

Imagem de capa:  nd3000/shutterstock

E foi crescendo, a cada toque e sabor, uma tempestade. Os lençóis arremessados, as roupas caoticamente distribuídas pelo chão e, como se não bastasse, melodias distintas podiam ser identificadas além das paredes. Fora feito um templo dionisíaco, onde, no mais tardar das horas, eclodiria a síntese daquilo que chamamos de amor. Mas era tesão, também. Porque sem esse tremor do lado de fora, o que fica dentro não aquece.

Digam o que quiserem, mas entre quartos silenciosos e janelas acinzentadas, existe tanta vida para dois corpos do que numa multidão eufórica à luz do dia. Trata-se da intimidade no seu mais puro consentimento. Não é para qualquer um, certamente. Construir essa aproximação excitante demanda, não apenas tempo, mas uma entrega desgovernada. Começa com carinhos amenos. Mãos sobrepostas, respirações tranquilas e olhares serenos. Conforme os sentidos ganham intensidade, lábios são tocados, odores reconhecidos e, não muito depois, paladares expostos.

Relacionamentos regidos por doses desmedidas de desprendimentos. Não há tabus, receios e possíveis morais para o transcorrer do acontecimento. Apenas sinestesia que não desafina, impede ou amedronta. Descrevo sobre confiança. É a cumplicidade pedindo passagem e carregando a sinceridade no colo, com ternura e um pouco de sacanagem.

Após intensos goles de prazer, o êxtase natural. Ofegantes, exalaram satisfação pela metamorfose ocorrida. Saúdam ambos. Com as pernas trocadas, os braços confundidos e os dedos desenhando na superfície da pele, curvam-se aos céus – e nem precisariam. Afinal, a libido dançou a noite inteira vestida de amor.

10 filmes Para Refletir Sobre a Complexidade das Relações

10 filmes Para Refletir Sobre a Complexidade das Relações

Todos nós passamos por momentos delicados em nossas relações. Seja pela falta de diálogo, pela insegurança que nos assalta hora sim hora não ou pela dificuldade de decifrar o que realmente se passa dentro da gente. Às vezes não estamos usando as ferramentas certas, os óculos certos, o microscópio ou telescópio certos e não conseguimos enxergar bem o que o outro quer ou mesmo o que nós queremos.

Ainda bem que existe a arte para nos ajudar nisso, para transmitirmos e para recebermos aquilo que não conseguimos dizer nem explicar. Seja literatura, pintura, teatro e por aí vai, a arte nos fornece equipamentos de ponta para a interpretação daquilo que já de mais profundo.

O cinema faz parte desse conjunto e o que apresento aqui é uma lista de filmes que colocam em xeque tudo o que acreditarmos saber sobre o relacionamento afetivo e amor romântico. Confira:

Cenas de Um Casamento (1974)

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Lançado originalmente como uma minissérie para a TV sueca, o filme trabalha bem os aspectos da aparência social e externa do relacionamento – neste caso, do casamento entre Johan e Marianne. Ambos aparentam ser o exemplo de casal feliz, bem resolvido e bem sucedido, até que a visita de outro casal de amigos em crise expõe as rachaduras que Johan e Marianne fingiam não existir.

Este longa-metragem possui a densidade característica de Bergman e é um mergulho profundo nas águas do ressentimento e das intenções ocultas.

Amor Pleno (2012)

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O diretor americano Terrence Malick pode ser considerado descendente direto de Andrei Tarkovsky. Quase sem diálogos e filmado inteiramente com luz natural, o filme segue a proposta de construir narrativas por fluxo de consciência, iniciado em “O Novo Mundo” e aprimorado em “A Árvore da Vida”. Intercalando imagens da natureza, que funciona como espécie de dramaturgia paralela, “Amor Pleno” ensaia um olhar demorado na relação de um homem do interior dos Estados Unidos que leva a namorada francesa e a filha dela para morarem com ele. A partir daí, acompanhamos os lapsos de afeto, decepção, solidão e questionamento existencial que cerca cada um de nós.

A todo momento, somos impelidos a questionar intimamente os aspectos que caracterizam o amor romântico. Além disso, há também na história um padre que passa a questionar outro tipo de amor, convidando-nos a assistir sua discussão particular com o divino.

Latitudes (2014)

 

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Olívia e José são pessoas profissionalmente realizadas, viajando de uma parte para o outro do mundo, sempre a negócios. Depois de um primeiro encontro em Paris, eles passam a se encontrar sempre em um país diferente e aos poucos vamos conhecendo aspectos de suas vidas que voluntariamente omitem um do outro. O Filme foi lançado primeiro com uma websérie com oito capítulos, cada um com um destino diferente. Depois foi compilado e lançado em um único filme. Em cada um desses capítulos somos apresentados também à vida individual de cada um, decifrando melhor suas personalidades. O capítulo sete, de longe o melhor, é uma aula de roteiro que proporciona o momento mais significativo e catártico da trama.

Infiel (2000)

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Um filme arrebatador! Com grandes doses autobiográficas do explosivo e genial diretor sueco Igmar Bergman– que deixou o roteiro aos cuidados de sua discípula Liv Ullmann, responsável pela direção do mesmo depois da morte de Ingmar. O filme retrata o trágico caso entre Marianne, uma atriz bem sucedida e com um ótimo casamento, e David, o melhor amigo do também bem sucedido maestro Markus, marido de Marianne (sim, Markus e Marianne se amam e sim, eles são felizes no casamento).

Expondo de maneira dolorosa e angustiante afetos como desejo e culpa, o longa é uma verdadeira lição sobre a natureza trágica do amor romântico e também sobre a insuficiência da nossa condição humana.

Transylvania (2007)

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Este drama francês é sobre uma garota italiana que viaja com sua melhor amiga para a Transilvânia em busca daquele que ela acredita ser o amor da sua vida. Acompanhamos sua jornada e somos presenteados com imagens estonteantes de festas e lugares culturalmente ricos. Apesar de algumas surpresas ruins, a moça acaba por descobrir que pode estar no lugar certo e na hora certa. Afinal, o acaso também faz parte das relações.

Hiroshima, Meu Amor (1959)

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Atingindo o limite entre literatura e cinema, o filme precursor do movimento Nouvelle Vague conta a história de um caso amoroso entre uma atriz francesa e um arquiteto japonês em plena Hiroshima dos anos 50. Primeiro filme a usar cenas de flashbacks, a produção é também uma profunda reflexão sobre o tempo e sobre a memória.

Dois grandes riscos aos assistir o “Hiroshima, Meu amor”: amar Nevers incondicionalmente e, se você for escritor ou roteirista, ser contaminado por um longo tempo pelo conjunto de relações formais do filme dirigido por Alain Resnais e com roteiro da escritora Marguerite Duras,  que mais tarde viria a ser laureada com o Prêmio Goncourt.

Closer (2004)

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“Closer” mostra a instabilidade emocional de quatro personagens. É um tapa na cara em muitos momentos, pois evidencia muitas das neuras, inseguranças e questionamentos que nós temos e que não somos capazes de expor ou admitir em nossos próprios relacionamentos. Muitos dos nossos próprios medos e desejos são eviscerados fria e calculadamente neste ótimo drama.

Annie Hall (1977)

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Embora tenha sofrido com uma tradução quase dantesca de tão ruim (o título foi traduzido e lançado no Brasil como “Noivo Neurótico, Noiva Nervosa”), este talvez seja o retrato mais divertido e ainda assim sincero de uma relação amorosa de que se tem notícias. O curioso é que Woody Allen nunca quis fazer humor com o filme. Nele, acompanhamos o comediante neurótico Alvy, que começa a refletir sobre sua vida depois de terminar com Annie, ao mesmo tempo em que se envolve com uma garota muito mais jovem que ele.

Separações (2002)

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A comédia romântica de Domingos de Oliveira é outro exemplo de profundidade e bom humor. Cabral e Glorinha (nomes pra lá de rodrigueanos) resolvem dar um tempo do casamento, mas Cabral não cabe em si de revolta e ciúmes quando descobre que Glorinha se apaixonou por outra pessoa. Arrependido, ele faz de tudo para ter a esposa de volta e envolve em sua trama uma gama de outros personagens curiosos e interessantes. A questão aqui é: é realmente melhor se arrepender de ter feito algo do que de não ter feito?

Ela (2013)

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Sei que é lugar comum colocar este filme em listas deste tipo, mas creio ser necessário assim mesmo. É que não são todas as pessoas que conseguem captar a imensa solidão que permeia toda obra. Não é apenas sobre um homem que se apaixona e se relaciona por seu sistema operacional, é também sobre como estamos cada vez mais solitários no meio da multidão, sobre o desespero que silenciosamente toma conta de nós. Mesmo a tecnologia – com a qual nos relacionamos constantemente ou da qual fazemos uso para nos relacionarmos com outra pessoa que pode estar a quilômetros ou a metros de distância – pode agravar o isolamento antes de nos abandonar. Antes temíamos a solidão, hoje temos medo de companhias reais.

Cuide da sua vida que da minha cuido eu

Cuide da sua vida que da minha cuido eu

A maneira como lidamos com as críticas que recebemos diz muito sobre como somos. Não para quem nos observa através da crítica, mas para nós mesmos.

Se nos incomodamos profundamente com uma crítica, se sentimos raiva e desconforto é porque talvez, em nosso íntimo, concordemos com a crítica, mas não gostamos de admitir.

Quem está plenamente seguro de suas habilidades, potencialidades, personalidade, aparência e escolhas, ou seja, quem está com a consciência tranquila não costuma se abalar ao ouvir algo que não seja compatível com o que pensa de si mesmo e com o que faz. Simplesmente ignora o que ouviu, não sente necessidade nem de argumentar. Não sente necessidade de se explicar. E em alguns casos, até ri.

Ao passo que quem se incomoda com a crítica que recebe e tende a discutir, brigar, argumentar, chorar, pensar obsessivamente no que ouviu e/ou reproduzir a conversa para outros amigos – buscando apoio em sua causa! – demonstra temer que a crítica tenha algum fundamento.

Aprendemos com o senso comum que existem críticas construtivas e críticas negativas. Eu, particularmente, não acredito nisso. Acredito que toda crítica é construtiva quando feita por pessoas próximas, que nos amam e querem o nosso bem.

A diferença está na maneira de falar, no jeito de dizer, na abordagem e na capacidade de sentir empatia.

Se somos cuidadosos e elegantes com nossas palavras em todos os momentos de nossas vidas, se demonstramos (sentimos) empatia com o problema do outro, saberemos criticar com carinho. Mas se formos afeitos à violência, à deselegância, à total falta de empatia, o que teremos para oferecer será violência verbal.

Muitas pessoas confundem crítica com violência verbal. A violência verbal, sim, é negativa, pois visa denegrir, agredir, machucar, ferir. A crítica, não! Se usarmos a crítica a nosso favor – e ignorá-la, muitas vezes, é uma forma de usá-la a nosso favor, uma vez que reforça, ratifica o que pensamos sobre nós mesmos e nossas escolhas – poderemos extrair dela bastante aprendizado e crescimento.

No dicionário, uma das definições de crítica é “arte de criticar ou censurar”.

E quem é que gosta de ser censurado? A censura, de cara, sugere que estamos errados, não? Daí o desconforto! Errar não faz parte do nosso plano original (ser perfeito).

Ao sentirmos raiva de um amigo, irmão, namorado (a), tia, mãe, pai, papagaio ou chefe por uma crítica recebida, muitas vezes estamos sentindo raiva de nós mesmos, raiva por não termos sido suficientemente bons para ocultar o erro que eles teimam em esfregar em nossas fuças.

O mais proveitoso seria refletir, pensar nos motivos que despertaram o nosso incômodo, mas o que fazemos? Adotamos a filosofia do “mate o mensageiro”. Afinal, é muito mais fácil dizer (pensar) que o outro é injusto, grosseiro, perverso e invejoso, se afastar dele (ou travar uma batalha), reclamar do outro para os amigos, do que mergulhar no nosso medo de estar errado – quando mergulhamos nesse medo somos obrigados a repensar nossas escolhas, repensar nossa responsabilidade e, quem sabe, até, a mudar de atitude.

É preciso, sim, passar uma peneira em tudo o que ouvimos a nosso respeito, ao nosso estilo de vida, às nossas escolhas. Mas é preciso, também, saber ouvir o que (aparentemente) não nos convém – inclusive para ter a certeza se não nos convém mesmo ou não.

Quem se magoa, se decepciona, se frustra e se enraivece em demasia com uma crítica, não percebe que está reforçando para o outro e para si mesmo que existe fundamento na crítica. Matar o mensageiro não vai resolver o problema. Observar, avaliar, refletir, aceitar, enfrentar o medo e mudar, talvez.

Os cães ladram e a caravana passa, certo? Certíssimo! Mas para a caravana passar ela precisa estar com as carroças em dia, rodas fortes, e ter um bom condutor de cavalos segurando as rédeas: você.  Portanto, para não se abalar com possíveis latidos é bom mandar a carroça emocional para a revisão e ajustar as rodas da autoestima (autoimagem) antes de colocar o pé na estrada.

E para aqueles com quem não temos intimidade e não conhecem a nossa história de vida, nossas motivações, dores e alegrias, porém mesmo assim insistem em meter o bedelho onde não foram chamados, que tal sorrir e apenas dizer: “Você não está credenciado para falar sobre esse assunto”?…

Sou senhor do meu destino

Sou senhor do meu destino

“Todos nós morreremos um dia. Não podemos escolher como ou quando, mas podemos decidir como vamos viver. Então faça, decida, escolha. É esta a vida que você quer viver? É esta a pessoa que quer amar? É este o melhor que consegue ser? Você pode ser mais forte? Mais gentil? Mais compassivo? Decida. Inspire. Respire. E decida.” Meredith Grey

Nunca antes na história tivemos tanta opção e liberdade para escolher. Em um universo de inúmeras possibilidades e oportunidades escolher muitas vezes é complexo, e é comum que sejamos inundados e até paralisados pelas dúvidas. Acredito que isso acontece porque racionalizamos demais nossas escolhas. Talvez então a razão nem sempre seja a melhor ferramenta na hora de escolher.

O peso de nossas escolhas e nossa maneira de escolher muda muito conforme vamos amadurecendo. As crianças dominam a arte de escolher com o coração. Quando crescemos passamos a racionalizar toda e qualquer escolha, a pesar as consequências, a ter muitas dúvidas, a sentir culpa e remorso. Claro, não é uma boa ideia escolher sempre tão impulsivamente como uma criança, a maturidade é de fato um acervo valioso, mas é preciso sim aprender a equilibrar melhor essa balança.

A palavra coragem vem do latim “coraticum”, que literalmente significa “a ação do coração”. Muitas vezes coragem é aprender a escutar nossos desejos mais profundos, aquilo que nos faz bem mesmo que não tenha lógica alguma, ter coragem é aprender a escolher com o coração. Geralmente as escolhas mais autênticas são aquelas feitas pelo coração.

Todos os dias fazemos pequenas ou grandes escolhas que aos poucos vão escrevendo nossa história “a vida é ligar os pontos, mas só conseguimos ligá-los olhando para trás” disse Steve Jobs. Nesse processo, precisamos acreditar em nossos instintos, desenvolver segurança e confiança de que sabemos o que é bom para nós e escolher. Precisamos também conhecer nossas prioridades, segurança, amor, reconhecimento, dinheiro. Escolha a sua.

Para a psicologia, a chave para escolhas saudáveis está em ampliar nosso mapa mental. Temos que incluir nele um leque maior de possibilidades, para que exista mais flexibilidade na hora de decidir. Quanto mais “estreito” o mapa mental de uma pessoa, menos possibilidades caberão nas suas escolhas e mais limitadas elas serão.

Outro fato comum é acharmos que porque algo nos aconteceu no passado como consequência de uma escolha, todas as vezes que escolhermos parecido sofreremos as mesmas consequências. Tudo isso parece fácil de resolver na teoria, o problema é que temos “amarras” em nossos mapas mentais que nem sempre são conscientes. O esforço vem em desconstruir crenças engessadas e aumentar o campo de visão. Para fazer escolhas mais completas e saudáveis é preciso ampliar o mapa mental e aprender a analisar os fatos como eles se apresentam, com os recursos que existem no momento da escolha.

Conta a história que Thomas Edison falhou inúmeras vezes antes de inventar a lâmpada elétrica, quando questionado como se sentia por ter errado tantas vezes, ele respondeu “Eu não falhei, apenas encontrei 10 mil maneiras de como não se fazer uma lâmpada”. Por mais parecida que seja, nehuma escolha é exatamente a mesma, nenhum erro ou aprendizado são iguais. Cada situação, pessoa, cada escolha é única.

E na hora de escolher temos que levar em conta que não existem escolhas que tragam apenas boas consequências, tampouco existe uma escolha ideal ou perfeita. Aliás, o perfeccionismo pode ser muito prejudicial na hora de escolher. Escolher, na maioria das vezes nada mais é do que um ato de coragem, do que um grande jogo de sorte ou azar.

Escolher é abrir uma porta e fechar muitas outras, é ganhar oportunidades e perder tantas outras, é arriscar e apostar as fichas em algo que pode ser muito bom, ou não. Mas, de qualquer forma só existe uma maneira de saber. A sabedoria na hora de escolher vem ao lembrarmos que nada na vida é estático, permanente, e que podemos sim mudar de ideia, a qualquer momento; tomar novos caminhos, escolher diferente, melhor, pior. Arriscar. Errar. Acertar.

Liberdade para mim tem muito a ver com a proatividade ao escolher, pois se você não escolher, alguém fará suas escolhas por você. Quem não escolhe, é escolhido. Assim, caminhará pela vida passivamente, e me parece um desperdício de energia vital deixar que nosso destino seja traçado pelos outros. O poema “Invictus” termina com um trecho que levo como mantra e que me convida a fazer minhas próprias escolhas: “Eu sou o senhor do meu destino, eu sou o comandante da minha alma”.

Sejamos todos senhores e senhoras de nossos destinos e comandantes de nossas almas.

Decida. Inspire. Respire. Escolha.

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