Eu te odeio por te amar

Eu te odeio por te amar

Não me arrependo do tanto de mim que entreguei a ti, das declarações que te fiz, do amor que despejei em forma de textos, em forma de beijos, em forma de lágrimas.

Não me arrependo dos planos que criei sozinha aqui na minha mente. Me imaginava com você nos mais diversos lugares. Companhia, companheiro. Mas aos poucos fui vendo que existia apenas um lugar na sua vida que me cabia. E isso doeu em mim, lá na alma. Perfurou, dilacerou. Eu sangrei. Ninguém viu.

Não me arrependo de ter lutado por você quando você me pediu para eu desistir. Não me arrependo de ter lhe confiado a minha alma. Eu sempre senti que você valia a pena. Logo eu, que sempre fugia e desistia quando começava a me envolver. Com você eu fiquei. Eu fui além. Me atirei sem temer o precipício. Eu errei. Me quebrei.

Eu costurei meu coração só para poder continuar a te amar. Você não viu mas eu sei que sentiu que o meu sentimento era maior e além do gostar. No fundo, você não queria aceitar que eu te achava magnânimo demais, elevado demais, grandioso demais, diferente dos outros. Eu queria tanto que você se enxergasse da forma como eu te enxergava. Esse foi o meu maior fracasso. Você não queria aceitar o fato de que merecia ser amado. E talvez por isso você tenha quebrado o nosso acordo e me machucado. Assim você me daria motivos para eu sentir por você o que você sente por si mesmo: descrença. E agora é só isso o que sinto. Por você.
Pelo mundo. Pelo tudo. Que hoje é nada.

Você também não viu, quando adormecia ao meu lado, que eu te olhava pedindo muito a Deus para que você não me machucasse um dia. Você não viu. Deus não me ouviu. O mundo não parou quando você jogou por terra tudo que nós éramos ou que eu imaginava que éramos. Somente eu perdi o chão. Me enchi dos sentimentos mais corrosivos que alguém poderia sentir, na tentativa de me desvencilhar. Acho que tudo teria sido mais fácil se você nunca tivesse existido. Mas eu não sei se sua inexistência seria de fato o melhor pra mim.

Eu te expulsei de todas as formas possíveis na esperança de te apagar, mas no fundo, bem lá no fundo, tive esperança de você voltar. Mas você não volta, mas você não volta, mas não volta e eu já nem sei mais como eu consigo me manter aqui de pé, fingindo não ter mais sentimento enquanto na verdade existe um sentimento a me dominar: eu te odeio, eu te odeio por te amar.

Por um amor contagioso, mas nunca infeccioso!

Por um amor contagioso, mas nunca infeccioso!

Se é para ter cuidado, se imunizar, contribuir com o destino, incrementar a sorte, que seja por um amor contagioso, vibrante, avassalador, febril. Aquele tipo de amor que revira o estômago, faz o coração perder o compasso e alma sonhar em cores e perfumes.

Um amor contagioso arrebata a vida, acolhe os amigos, é adotado pelas famílias, se integra e espalha, deixando sementes, criando raízes.

Fortalece as relações ao invés de ameaçá-las.

Adiciona seu toque individual e é reconhecido por isto.

Divide interesses, busca os pontos de contato. E se não forem muitos, cria novos, em nome do amor.

O contágio é saudável, a conquista é em doses crescentes, sem exageros nem intervalos demasiado grandes.

Um amor que contagia pela verdade, desde a incubação.
Esse é o amor que a gente espera inocular, inalar, absorver. E esse é o amor que a gente precisa oferecer, se estiver com a imunidade em dia.

O amor infeccioso é um tipo perigoso, que já chega destruindo defesas, separando elementos que antes conviviam bem, enfraquece e abate.

Esse tipo não é raro e geralmente se instala como uma gripe, derrubando todas as defesas.

O amor que infecciona é aquele que maltrata, que não se compadece com a dor, com o sofrimento, com as feridas expostas. Ele fica porque encontrou ambiente confortável, a despeito do mal estar do seu hospedeiro.

E vai minando as forças, se alimentando do que não lhe pertence, comprometendo a integridade e a sanidade de quem caiu de amores e permitiu o contágio.

Se for impossível evitar o amor doente, o contágio e a infecção, que a busca pelo combate à doença e reconquista da imunidade seja uma prioridade, uma real questão de sobrevivência e cura.

Uma vez restabelecidos, estaremos em plena forma para os bons e contagiantes amores que pairam no ar!

“Olho por olho e acabaremos todos cegos”

“Olho por olho e acabaremos todos cegos”

Rubem Alves dizia que todos nós queremos falar, mas ninguém quer ouvir. Percebo que essa incapacidade de escutar tem piorado com o passar do tempo. Temos vivido de forma completamente individualista, de maneira que pouco importa o que o outro acha ou pensa sobre o que quer que seja, pois só conseguimos ouvir a nossa própria voz. Tornamo-nos, assim, autofalantes, pois na medida em que nos preocupamos em tão somente falar, deixamos de escutar uns aos outros e, portanto, nos transformamos em falantes e “ouvintes” de um único som, o qual ecoa de dentro do nosso vazio.

Sendo assim, o individualismo tem retirado toda a nossa capacidade de olhar as situações em perspectiva, uma vez que não vivemos sozinhos, mas antes, em comunidade, de tal maneira que passamos a coordenar o mundo a partir das nossas vontades, nossos desejos, nossas análises, nossas compreensões. Ou seja, tudo passa a girar em torno de nós mesmos, posto que acreditamos ser a última bolacha do pacote e que, portanto, nada que venha do olhar do outro deve ser considerado.

Essa cosmovisão individualista e egocêntrica apenas faz com que nos afastemos mais ainda, formando verdadeiras ilhas afetivas, isoladas em seus mundos. Essa cegueira cria uma resistência perante tudo aquilo que é diferente, por todas as coisas que não se coadunam com o que pensamos, como se fôssemos incapazes de dialogar, de imergir no mundo de idiossincrasias que forma o outro.

Por isso estamos tão tristes e solitários, presos em nossos muros de indiferença, mergulhados em depressões e afogados pela ansiedade. Estamos doentes porque preferimos cegar e nos isolar dentro da nossa zona de conforto a enxergar que existem outras vidas além das nossas, que as pessoas possuem sonhos diferentes, preferências políticas distintas, sexualidades diferentes, mas todos somos, acima de qualquer coisa, humanos e, portanto, devíamos buscar o que há de gente em nós, o que há de ser nesse “animalzinho” que somos.

No entanto, preferimos ser rotuladores, preferimos ficar com os nossos conceitos fechados, axiomas indiscutíveis, a tentar buscar novas perspectivas, novas visões, novos caminhos, uma ressignificação de nós mesmos, do outro e do universo. Preferimos nos fechar, ficar doentes e morrer desnutridos de amor, a abrir mão de um egoísmo mesquinho que nos transforma em escravos da nossa própria condição miserável.

Será que acreditamos que estamos no caminho certo? Um caminho de mudez no olhar, secura na alma e lágrimas na boca? Um caminho em que é preciso defender o óbvio, lembrando Bertolt Brecht. Talvez, porque apesar de tudo, é difícil ser a mudança que desejamos no mundo. É difícil, sobretudo, nos despimos do véu de ignorância, preconceito, intolerância, individualismo e em seu lugar sermos capazes de perceber o óbvio: que não estamos sozinhos, nem precisamos estar, porque na estrada da vida, para quem procura, há sempre lugares em que podemos nos encontrar, silêncios para que possamos ouvir e doçura para perceber a poesia presente nas singularidades de cada um.

Podemos ser a cura do outro, o outro pode ser a nossa cura, para isso é preciso sair da ilha, a fim de que enxerguemos que nessa luta que nos encontramos, estamos todos afundando em um mar de individualismo doentio, triste e silencioso, pois na medida em que deixamos de escutar o outro, as nossas vozes já não significam nada, além da demonstração da nossa cegueira, pois como disse Gandhi: “Olho por olho e acabaremos todos cegos”.

Eu o amei até que minha dignidade disse: “não vale a pena”

Eu o amei até que minha dignidade disse: “não vale a pena”

A dignidade é a fronteira pessoal e emocional que serve como um protetor psicológico.

Dependendo de onde tivermos esse limite, nossas relações pessoais e sociais gozarão de uma melhor saúde, de um melhor equilíbrio.

Nossa dignidade nas relações afetivas não deve aceitar que nos rebaixemos nem façamos concessões. No momento em que começamos a ceder e a fazer uma renúncia atrás da outra, esse tecido excepcional e valioso se romperá.

Se pensarmos bem, iremos nos dar conta de que são poucas as vezes em que paramos para analisar essa dimensão tão íntima e tão importante.

Não o fazemos, em primeiro lugar, porque nos educaram com a ideia de que, se amamos alguém, devemos dar tudo em troca de nada por essa pessoa.

Às vezes é muito complicado pode ver onde começa a verdadeira reciprocidade e onde termina a fronteira na qual se abre essa chantagem oculta, discreta, mas voraz, em que nossas emoções são manipuladas.

É importante levar isso em conta e proteger nossa integridade pessoal. A seguir, vamos propor que você reflita sobre as seguintes dimensões.

A dignidade é o respeito que você sente por si mesmo

“Te amei até que minha dignidade disse: não é para tanto”. Se essa frase faz sentido para você, alguma vez se lembrará do processo interior no qual nos damos conta de que o amor, às vezes, tem um limite, que se chama precisamente “dignidade”.

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Dignidade e autoestima

Os seres humanos constroem a própria autoestima ao longo de sua vida. O modelo por meio do qual somos educados tem, sem dúvida, uma grande importância, mas acreditemos ou não, não é determinante.

E isso ocorre por muitas razões. Todos passamos por experiências que, de um dia para o outro, podem romper muitas dessas fortalezas interiores que nos protegiam.

– Um trabalho em que nossos direitos são violados.
– Uma relação pessoal complicada.
– Um acidente, uma perda traumática, uma decepção…

São muitas as causas que podem fragmentar o equilíbrio de nossa autoestima. Com isso, queremos dizer acima de tudo que, às vezes, acreditamos que somos invulneráveis.

Pensamos que nada pode quebrar nossa força, que podemos tudo. No entanto, acreditamos nisso porque estamos em nossa zona de conforto.

No momento em que fatores externos nos fazem perder essa sensação de autocontrole, perdemos tudo.

Relações nas quais nos “jogamos” com os olhos fechados

Sabemos que há amores aos quais nos entregamos com os olhos vendados e com o coração batendo forte. São saltos para o vazio que fazemos livremente porque assim o queremos, porque assim o sentimos.

Tudo isso seria justificável, desde que não puséssemos em jogo nossa dignidade. Há relações afetivas em que, às vezes, não vemos os limites. Damos tudo sem esperar nada. Qualquer esforço é pouco para fazer o outro feliz.

– Até que, um belo dia, nos damos conta do profundo vazio que sentimos em nosso interior. Não é que algo nos falte, é que tudo vai mal; nada está em sintonia e toda a energia é direcionada a apenas uma pessoa.

Enquanto isso, a outra se alimenta apenas de migalhas, e essa pessoa é você.

Há momentos de nossas vidas em que vale a pena sermos corajosos e arriscar. No entanto, leve em conta: é preciso arriscar tendo várias coisas bem seguras: sua autoestima, sua dignidade e seu direito de ser feliz.

No momento em que alguma dessas coisas falta, devemos tomar uma decisão.

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Seus pensamentos lhe dão poder

Quando você se encontrar numa situação emocionalmente complexa e desejar fortalecer sua dignidade, verbalize as frases seguintes.

Se você refletir sobre estas linhas, interiorizará uma série de pensamentos capazes de despertar uma emoção em você: a da coragem, da valentia.

Anote:

– Ninguém pode nem deve me dizer como devo ser feliz.
– Quem ama de verdade não submete, nem obriga.
– Um bom parceiro fortalece nossa autoestima, nunca a destrói.
– Quem gosta de você se preocupa a cada dia com seu bem-estar.
– Conviver exige saber formar uma equipe. Quem se dedica apenas a pensar em si mesmo não sabe conviver.
– Tenho o direito de expressar meus pensamentos, de dizer o que quero e o que não quero.
– Dizer “NÃO” a algo não é ser egoísta: é defender a própria dignidade.
– Mereço ser amado.
– O verdadeiro amor começa por amar a si mesmo. Se nesses momentos tudo o que me cerca me faz acreditar que não valho nada, é porque algo vai muito mal. Devo reagir.
– Posso e devo controlar minha realidade. Não tenho por que me submeter ao que os outros queiram ou desejem.
– Não sou obrigado a agradar e a gostar de todo mundo.
– Sou uma pessoa bela, corajosa, e tão digna de ser feliz como qualquer outra. Ninguém deve cercear minha vida ou meus desejos.
– Defenderei as pessoas que amo acima de tudo. No entanto, também exijo que elas me respeitem, me defendam e me valorizem como mereço.

Para concluir, a dignidade pessoal é um assunto pendente ao qual deveríamos prestar mais atenção. Ela nos confere a felicidade de que todos deveríamos desfrutar a cada dia.

Fonte indicada: Melhor com Saúde

O amor na vida real é bem melhor do que os contos de fada.

O amor na vida real é bem melhor do que os contos de fada.

Já vi muitas pessoas suspirando de amores quando acabam de ver um filme de romance e dizerem: “Isso só acontece na ficção, na vida real não é bem assim” – em tom de desapontamento.

Realmente, a realidade é bem diferente dos filmes romanceados que vemos por aí. E, na maioria das vezes, esse é o nosso problema, porque idealizamos demais algo que foge do certo e errado, algo que não se enquadra em padrões e, como conseqüência, estamos sempre nos decepcionando quando o assunto é esse tal do amor. Idealizamos um amor que está longe de ser e de acontecer, porque ele não segue essa lógica idealizada. Na vida real, o amor enfrenta o medo, encontrando, como bloqueio, as diferenças e a insegurança.

Nem sempre o cara vai levá-la para um jantar à luz de velas e o primeiro encontro será perfeito, daqueles que você chega em casa suspirando e corre contar às amigas. Nem sempre ele vai ligar incansavelmente, até você atender, logo depois do primeiro encontro. Talvez, na realidade, as coisas sejam um pouco diferentes. Talvez vocês se conheçam comendo um “dogão”, lambuzando-se de sorvete e rindo de coisas bobas em uma noite qualquer. Talvez ele vá de bicicleta vê-la e não meça esforços para arrancar um riso seu.

Pode ser que o cara não seja o mais desejado pelas mulheres, não tenha tantas curtidas nas fotos, deteste academia e não abra mão de assistir a um jogo de futebol no domingo à tarde. Talvez ele seja aquele que a beija na testa enquanto esperam o elevador, que a leva ao cinema para ver aquele filme que você tanto quer e a deixa escolher o sorvete do Mc Donald’s.

Talvez ele seja aquele cara simples, com o coração gigante, que a encanta a cada dia, que a abraça quando você está triste e que sussurra em seu ouvido: “eu estou aqui com você”.

Pode ser que ele seja o homem que a olha como quem admira e, depois, diz o quanto você está linda, como quem espera o seu sorriso tímido disfarçado de amor. Aquele cara que olha nos olhos sem medo do silêncio, sem medo do que possa vir depois, e que encare as tempestades com você.

Talvez ele seja o cara que ame a sua paixão por comida e sabe que a levar para comer um lanche com muita batata palha é o certo para fazê-la feliz. Talvez ele não seja um príncipe, como nos contos de fadas, e tudo não aconteça tão rápido quanto nos romances, mas é que, na realidade, as coisas são diferentes.

Talvez ele seja o grande amor da sua vida, um amor que não se enquadra nos seus padrões. Pode ser que ele seja o cara que realmente a deixa à vontade para ser quem você é, aquele que dá a liberdade para soltar a sua risada escandalosa, e a deixa à vontade para contar aquela piada sem graça de que ninguém ri.

Pode ser que você esteja idealizando demais, vivendo de menos, esperando muito e se decepcionando em dobro, deixando de ser feliz com quem realmente faz você feliz. Saia dos padrões, liberte-se dos status e permita-se, afinal, o novo é bonito e não assustador como parece.

O amor, na vida real, é mais bonito do que o de conto de fadas; não nos garante finais felizes e nem um príncipe encantado, mas nos garante um coração disposto a amar, faz-nos amadurecer e melhorar tanta coisa em nós, que é bonito ver a evolução de nós mesmos com o tempo e com o outro.

O amor, na vida real, permite-nos pisar em terra firme e, ao mesmo tempo, alçar vôo, como quem deseja viajar no mundo do outro. O amor dos contos de fadas, dos filmes romanceados, tem a sua trilha sonora, mas como é bonito se reinventar e poder escolher a nossa própria melodia.

Quer saber? Ela vale a pena

Quer saber? Ela vale a pena

Pode ser que ela chegue numa sexta-feira ensolarada ou mesmo em um sábado de chuva. Pode ser que ela apareça daqui a alguns minutos, esbarrando com você naquela esquina da qual sempre passa. Ou pode ser que ela leve uma vida inteira para entrar na sua vida. De qualquer forma, não importa. Se ela sorrir com jeito, for sincera nos gestos e trouxer desejos puros no coração, não a perca de vista. Ela vale a pena. Ela é amor da cabeça aos pés, acredite.

Quando conhecê-la, dispa-se dos medos passados. Ela não precisa disso, pois já sofreu o suficiente nos desencontros de outrora. Seja honesto da primeira até a última conversa de cada dia. Ela quer saber que o seu coração almeja sentimentos sólidos e não euforias líquidas. Ela não liga para o seu signo e ascendente porque, nos verdadeiros cruzamentos da vida, quem traça os caminhos dos relacionamentos são as escolhas que fazemos. Ela quer reciprocidade em tempos de amores econômicos. Claro, ela também sente medo. Ela também ainda aprende a lidar, diariamente, com todas as decepções que nenhum emocional merecia suportar. Mas ela é forte. Logo, ela precisa que você também seja. É atitude não só nos encantos distribuídos, mas nos planos propostos. Ela quer carinhos e a excitação de noites inesquecíveis. Aprender novas artes, comer pratos diferentes e viajar para paisagens incomuns a maioria.

Ela gosta das canções que você escuta. Ela acolhe histórias que você já leu e também aquelas que nunca ouviu falar. Ela admira essa sintonia naturalmente concebida entre vocês. Não se trata de um encanto passageiro, mas de instantes inteiros e dispostos à luz do mundo. Percorrer essa vivacidade é o que faz dela alguém especial. Nada de comparações e suposições sobre amores desgastantes. Ela não quer isso.

Pode ser que ela já tenha chego. Pode ser que, algum dia desses, ela tenha surgido diante do seu coração e acenado gentilmente. Pode ser até que ela tenha dito tudo o que você precisava saber para reconhecê-la. Ou pode ser que ela estivesse, durante uma vida inteira, procurando justamente você. De qualquer forma, não importa. Se ela te viu sorrir, ser sincero nos gestos e tendo trago desejos puros no coração, acredite, ela não o perderá de vista. Porque, para ela, você vale a pena. Você é amor da cabeça aos pés, ela acredita.

Você já parou para pensar se é mais luz ou escuridão?

Você já parou para pensar se é mais luz ou escuridão?

Há pessoas para as quais olhamos e desconfiamos que, em seu íntimo, estão circundadas por “trevas”. Há outras que, ao contrário, olhamos e vemos luz. Estas são uma inspiração à nossa evolução. O equilíbrio, pois, é sempre possuirmos em nosso interior a maior quantia possível de luminosidade, e isso pode ser conquistado se nos abrirmos verdadeiramente ao Amor.

Há pessoas para as quais olhamos e desconfiamos que, em seu íntimo, estão circundadas por “trevas”. Seu modo de agir nos dá pistas de que, diferentemente do que pode aparentar, dentro do seu coração rolam soltos o pessimismo, a desesperança, os conflitos. Muitas vezes, apenas confusão. Confusão por não se compreender. Confusão por não se ajustar. Confusão por não se encontrar.

Por não saber nem por aonde começar. É uma guerra interna. A pessoa, com ela mesma. E é uma briga perdida, pois não há como uma parte dela sair vencedora e a outra perdedora. Enquanto houver conflitos internos, sempre haverá perdas. Perdas que, em sua maior parte, são pessoais e intransferíveis.

Há outras pessoas que, ao contrário, olhamos e vemos luz. Elas iluminam onde passam. Sensibilizam corações, amolecem calosidades da vida, tornam nosso dia melhor, nossos problemas menores, o ambiente mais leve… São um convite ao autoconhecimento, ao auto=resgate e à iluminação, às vezes, sequer sem nada fazer diretamente. Pode ser um colega, um terapeuta, ou até mesmo um desconhecido.

Há pessoas que, assim que as vemos pela primeira vez, já constatamos que são pura iluminação. Muitas vezes, basta apenas a sua presença para nos levantar. Conviver periodicamente com elas, trocar ideias, ouvir suas lições, então, pode significar a mudança do rumo das nossas vidas. São sempre bem-vindas, a qualquer pessoa, a qualquer lugar.

Todavia, a maioria dos seres humanos não é nem tanto escuridão, nem tanto luz. Oscilam entre um e outro. Ora uma porcentagem maior deste, ora daquele. E o equilíbrio, diversamente do que possa parecer, não é a divisão perfeita entre ambos. Uma vida equilibrada virá quando formos mais luz. Nem que seja mais luz apenas para nós mesmos, o que já é uma conquista e tanto!

Como, então, deixar que a luminosidade prevaleça? Ele, como sempre: O AMOR. Simples e solenemente o Amor. Mas que tipo de amor, amor por quem? O Amor mais genuíno e puro possível, sem gênero, sem destinatário, sem medida, sem descrição. Aquele que vem da fonte divina e inesgotável, que está sempre à disposição de tudo e de todos. Aquele que é possível acessar sozinho, a qualquer hora, em qualquer lugar.

Aquele que basta fechar os olhos, colocar as mãos no peito e sentir. Aquele com o qual basta silenciar um pouco a mente (quase sempre tagarela demais) e se conectar. Conexão com aquilo que se acredita ser superior a tudo e a todos (o nome não importa). A força motriz. A energia vital universal. O grande espírito. A divindade.

É aquele sentimento que gera, de repente, uma alegria genuína simplesmente por se existir. Que ocasiona um desejo simples e profundo de bem querer a todos, indistintamente. O sentimento que não julga, não questiona, não busca comprovação científica e nem reconhecimento alheio. Ele apenas existe para ser sentido. Para conectar. Para iluminar…

Se pararmos para pensar, veremos que, no fundo, tudo se resolve com ele – o Amor -, sem maiores procuras e divagações: conflitos internos, externos, vazios existenciais, perdimentos, ansiedades, tristezas, angústias, desilusões…
Ele preenche espaços vagos, cura feridas, apaga a dor, acalenta o coração sofrido, une as pessoas, acaba com os conflitos, traz paz ao planeta.

Vale a pena darmos uma chance a ele na nossa vida. Simples assim: parar, silenciar, conectar, sentir. Sem estudos ou técnicas complicadas. Só nós e a nossa disposição, a nossa vontade e a nossa predisposição à iluminação, que nos é inerente, não tenhamos dúvida! A escuridão, pois, vai ficando, pouco a pouco, para trás…

Abrir-se ao Amor, permitir-se, entregar-se: isso pode mudar o mundo! Começando com o nosso mundinho particular. Expandindo, depois, mesmo sem querer, para o entorno. Porque, sim: chega uma hora em que ele transborda. Não cabe mais apenas no nosso peito. E é automática a sua ligação com os todos os amores expandidos das outras pessoas. E assim surge a luz! Aquela que cada um nós e o planeta tanto precisam…

Você age sem pensar ou pensa demais e não age?

Você age sem pensar ou pensa demais e não age?

Por mais estranho que pareça, o que mais tem é gente nesses extremos. Ou faz e só depois pensa. E, em geral, se arrepende. Ou pensa tanto, que não faz. Não sai do lugar. Não tenta. Não arrisca.
Qual é o certo? É o seu certo! Isso mesmo! O que é correto para você?

Arrisco dizer que o que mais abre espaço para resultados satisfatórios é aprender a ouvir o coração. E, para ouvi-lo, é preciso silêncio por algum tempo. Talvez alguns minutos, horas ou dias. Porém, não muitos dias senão a história pode desandar…

Entrar em sintonia com a sua intuição, ou sabedoria interior, é o que te faz agir sentindo ao invés agir pensando, pois agir permite estar por inteiro na experiência. Presente no acontecimento. Acordado para o aqui e agora.

Porque quando você age sem pensar, pode até estar sentindo, mas muito provavelmente é um sentimento precipitado, agitado, distorcido, embaçado. Pode até acertar, mas será muito mais por estatística do que por consciência.

E quando você pensa tanto que não faz, desperdiça vida. Você se atola no seu medo e passa seus dias derrapando. Injeta uma energia absurda, mas não sai do lugar. E cansa. E se frustra. E desanima. E, muitas vezes, desiste da felicidade que estava muito mais perto do que você acreditou.

Não é a toa que os grandes mestres de todos os tempos recomendam, sobretudo, respirar. Menos a toa ainda é o dito popular que sempre nos lembra: Tá nervoso? Respira fundo e conta até 10! Esse conselho é de uma sabedoria tão simples e tão eficiente, tão óbvia e tão cientificamente comprovável, que muita gente ignora.

Porque o simples parece que descomplica. Mas o mundo está abarrotado de gente que só complica as coisas e não percebe isso! Afinal, o complicado parece mais dramático. Cabe mais o lugar de vítima ou de herói. Só que gente-vítima é chata demais. E gente-herói é fake demais.

Nesses extremos, falta autenticidade. Falta espontaneidade. Falta essência e coração!

Então, chega de gastar energia por nada! Seja desperdiçando energia agindo desgovernadamente ou pensando excessivamente. Isso não conecta você ao que você pode viver de melhor, de mais transformador, de mais verdadeiro.

Portanto, seja lá o que for que precise decidir agora ou depois, apenas pare e respire profundamente. Em seguida, aprenda a se fazer algumas perguntas e ficar em silêncio para ouvir a sua resposta, aquela que vem de dentro, da sua sabedoria:

“Qual é a melhor atitude a tomar? Qual é a escolha mais digna? Qual é a ação mais íntegra que posso ter? O que exatamente eu faria?”
Relaxa, porque as resposta virão! E se estiver demorando muito, pode apostar que é você quem não está ouvindo por causa da zoeira interna que tem feito! Fale ainda mais baixo. Sussurre. Silencie. Medite.

E o mais importante: ouça seu coração!

Eu só precisava de alguém que me fizesse acreditar de novo no amor.

Eu só precisava de alguém que me fizesse acreditar de novo no amor.

Eu achava que não precisava de ninguém. Depois de tantos tombos e feridas, fechei-me para esse tal do amor. Na verdade, eu não sabia que eu precisava, após tantas histórias e fracassos, de alguém que tivesse paciência comigo, que entendesse as minhas feridas e a parede que criara em meu coração. Alguém que visse os meus bloqueios como algo que pudesse ser destruído, que não entendesse as minhas grosserias e falta de romantismo como falta de sentimento, mas como medo. Medo de me machucar, de novo.
Eu só precisava de alguém que olhasse para mim por alguns segundos e que sussurrasse ao meu ouvido o quanto eu estava linda, que gostasse do meu pijama velho, do meu cabelo desarrumado, que adorasse a decoração nova que fiz no meu quarto.
Eu só precisava de alguém que se preocupasse com os meus problemas, não a ponto de resolvê-los, mas que se importasse com a minha dor. Que, ao olhar para o meu passado e minha história, entendesse o porquê de tantas barreiras.

Eu só precisava de alguém que se lembrasse do meu chocolate favorito quando fosse ao supermercado, que achasse graça no meu sono exagerado e nessa minha paixão por comida.
Eu só precisava de alguém que me abraçasse bem forte, como quem diz: “Eu te protejo”. Alguém que fizesse os meus domingos tediosos mais alegres e que tornasse um filme dublado engraçado e divertido. Alguém que me mandasse um verso bonito que leu num livro qualquer.
Alguém que entendesse que não sou esse coração de pedra que dizem e que, ao me conhecer, enxergasse o melhor de mim, sentindo saudade quando eu tivesse que partir.
A verdade é que eu almejava por alguém que entendesse o meu medo de me apaixonar novamente, mas que fizesse com que eu me apaixonasse num piscar de olhos, daqueles sentimentos que, quando a gente vê, já foi. Uma companhia boa daquelas que faz o tempo voar. Alguém que adorasse o fato de ficar deitado comigo, olhando paro céu, para as estrelas ou para a parede velha do meu quarto, planejando um futuro, mesmo que distante. Eu só precisava de alguém para compartilhar os meus segredos, contar como foi o meu dia e que não achasse os meus sonhos uma bobagem.

Como eu queria alguém que se orgulhasse de mim, que vibrasse com as minhas vitórias e que adorasse brincar com o meu cachorro. Eu só precisava, de alguma forma, saber que alguém não iria desistir de mim na primeira dificuldade e que, mesmo com todos os bloqueios que criei, não iria desistir de mim na primeira briga ou me abandonar no primeiro problema. Eu só precisava de alguém que tropeçasse nesse tal de amor, que esbarrasse em mim e me abraçasse, como quem diz: “esse foi o melhor tropeço da minha vida”.
Eu queria ter o meu tempo respeitado; na verdade, eu só precisava de alguém que me fizesse me arriscar e que me desse coragem para tentar o novo. Na realidade, eu só precisava de alguém que me fizesse entender o porquê de nunca ter dado certo com ninguém antes. Logo eu, que achava não precisar de ninguém, depois de tantas dores e de quase desacreditar do amor, hoje me vejo tão bem ao lado de um alguém que, ao invés de espinhos, trouxe flores.

As caixas de brinquedos das nossas vidas

As caixas de brinquedos das nossas vidas

Rubem Alves, após mastigar, ruminar e digerir Santo Agostinho, disse que possuímos duas caixas: a de ferramentas e a de brinquedos. Nossa caixa de ferramentas, segundo ele, seria aquela que abriga as coisas úteis, os instrumentos, tudo aquilo que é necessário para a sobrevivência; enquanto na caixa de brinquedos encontraríamos o empinar de uma pipa e o rodar de um peão, a leitura de um conto e uma dança de salão: inutilidades, coisas que pertencem à ordem do amor.

Ao me deparar com esta feliz metáfora, me pego refletindo sobre como temos administrado nossas caixas. Consigo pensar em várias pessoas do meu convívio que, por excesso de obrigações – que a sobrevivência impõe ou que elas mesmas criam -, devem estar com suas caixas de brinquedo empoeiradas pelo abandono.

Focados na concretização de objetivos diários, sejam eles maiores, como passar em uma prova, ou menores, como a garantia da limpeza corporal, recorremos, constantemente, a leituras técnicas e sabonetes, e negligenciamos – ou brincamos com eles acompanhados de culpa – os brinquedos que nos presenteiam com o prazer singular que reside nas coisas que não são meios, mas amadas por si só.

Tempos atrás, indiquei a um amigo um seriado do qual gostava muito e ele confessou que preferia não começar a assistir pois poderia se interessar e aquilo seria perda de tempo, não o levaria a lugar nenhum. Já eu, vez ou outra, faço questão de não ir a lugar nenhum: sento no chão e esparramo os brinquedos da minha caixa, afinal, como disse Rubem Alves, “quem está brincando já chegou”.

Ainda que a felicidade também more na caixa de ferramentas e, com um punhado de sorte e escolhas bem feitas, a inutilidade daquilo que fazemos apenas por prazer possa se transformar em instrumento, acredito que, em um mundo que gira em torno do “útil’, que supervaloriza agendas lotadas de afazeres, é importante que possamos preservar aquilo que não nos dá nada além de descanso

Não confunda meu bom humor com imaturidade

Não confunda meu bom humor com imaturidade

As pessoas confundem muita coisa, rotulando as pessoas de acordo com conceitos estanques, que não condizem com a realidade. Embora existam certos ambientes que requerem tranquilidade e seriedade, para que se possa fazer o que é preciso, silêncio demorado e cara fechada o tempo todo adoecem qualquer ser humano. Não dá para passar horas seguidas apenas com foco e concentração extrema, sem que a alma se inquiete. O sorriso precisa de ar.

Muitos acham que todo ambiente de trabalho deve ser um túmulo silencioso, que adultos não ficam achando graça nas coisas, que Facebook só é lugar de postagem séria, que Whatsapp tem que ser usado apenas para assuntos importantes, que adulto não faz palhaçada, como se a maturidade correspondesse à capacidade de não demonstrar felicidade. Isso mesmo, como se silêncio correspondesse a responsabilidade, como se incapacidade de rir fosse sinal de maturidade. E ainda se sentem no direito de querer impor aos outros o que pensam ser o mais adequado.

Inadequado é achar que risada é infantilidade, que adulto é sempre sério, que trabalho não combina com nenhum tipo de diversão, que silêncio e cara fechada são sinônimos de responsabilidade. Inadequado é a pessoa achar tudo isso e ainda querer que todo mundo aja dessa forma, para que não caia nas garras de seus julgamentos e de suas acusações. Responsabilidade e maturidade podem muito bem condizer com alto astral e alegria de viver, com risadas, com bom humor.

Da mesma forma que ficar rindo o tempo todo, com tudo, pode denotar algum tipo de insegurança, não se permitir, de forma alguma, um momento de descontração, seja no trabalho, seja na vida, pode significar qualquer coisa que não seja maturidade digna de um adulto. Nada em excesso faz bem, avida pede equilíbrio, inconstância, alternância. E mais, quem se sente bem como é não tem que impor a quem quer que seja o seu modo de vida como o mais correto, como exemplo a ser seguido. Isso é tirania.

Felizmente, quem possui bom humor e alegria de vida, quem é feliz e bem resolvido, não cuida da vida de ninguém, pois se importa mesmo é com os momentos que valem a pena, junto a pessoas alegres e bem amadas. Por isso mesmo, enquanto os infelizes perdem tempo fazendo cara feia e maldizendo quem é feliz, os bem humorados ganham tempo sendo felizes e amados por gente sincera. Vida que segue.

Paparazzi de nós mesmos

Paparazzi de nós mesmos

Tem gente que cisma em fazer biquinho ou franzir a testa para todas as fotos que tira.

Tem gente que pisca um olho, abre a boca para sorrir; tem gente que não sorri nunca, que sorri sempre, que está sempre de óculos escuros ou de perfil. Mas nem sempre foi assim!

Dia desses revisitei alguns álbuns antigos de fotografias impressas, da época da minha adolescência, quando não havia ainda rede social e as máquinas não eram digitais.

Bateu uma saudade daquele tempo em que eu chegava de uma viagem e ficava louca para ver as fotos! Buscar as fotos na Kodak e sentar num café para organizar o álbum era quase como que viajar de novo.

Adorava selecionar as mais bonitas para serem as primeiras do álbum e depois marcar encontrinhos com as amigas para partilhar os cliques das férias. Todas nós levávamos nossos álbuns nesses encontrinhos e de fato só via nossas fotos quem a gente convidava.

Não sou nostálgica de carteirinha, não! Não tenho como mantra de vida a frase “antigamente as coisas eram melhores”. Pelo contrário, adoro as novas tecnologias e as redes sociais apesar dos seus defeitos colaterais.

Ocorre que, olhando as fotos dos álbuns antiguinhos, por exemplo, percebi que ninguém, absolutamente ninguém, estava preocupado em estar bonito na foto – nem eu, ó céus!

As pessoas se abraçavam de verdade, se jogavam na situação. Se estavam bêbadas pareciam bêbadas, se estavam dançando pareciam que estavam dançando, se estavam rolando no chão de rir estavam rolando no chão de rir. O nome disso seria espontaneidade? Não sei…

Garrafas de coca-cola, restos de comida em pratos, copos feiosos, guardanapos amassados, toalhas manchadas de molho: ninguém se ocupava em preparar o cenário mais bonito depois de um almoço entre amigos antes de disparar o flash.

Ok, hoje estamos mais bonitos nas fotos e nossos cenários mais caprichados, porém fico pensando: será que as fotos não deixaram de cumprir sua função: registrar, eternizar momentos? Afinal, todo mundo se sente (e se comporta como!) meio diretor de arte, fotógrafo, modelo ou artista e altera “o momento” para que ele fique melhor e “mais apresentável”.

A ironia disso tudo é que acabamos nos tornando paparazzi de nós mesmos e de certa forma nos obrigamos a estar bonitos, finos, criativos, descolados, elegantes (com a pele e o cabelo OK!) até quando vamos à padaria! – vai que lá tem um doce diferente, maravilhoso e colorido, e a gente invente de fazer uma foto dando uma mordida para o Instagram!!?? Nham…

Certa vez a poeta portuguesa Sofia de Mello Breyner, do alto dos seus 80 anos, ao olhar uma foto de sua juventude, comentou: “como o tempo nos muda”.

Se fosse da minha geração, talvez ela dissesse: “como as novas tecnologias nos mudam”.

Sobre nossa necessidade de postar tudo o que vivemos, falei no texto Posto, logo existo.

Tenho medo de quem fala mal dos outros e pavor de quem elogia demais a si mesmo.

Tenho medo de quem fala mal dos outros e pavor de quem elogia demais a si mesmo.

Deus nos livre de gente autorreferente. Eu, hein! Não gosto, não. Assumo. Desconfio de quem começa uma frase com a máxima “eu costumo dizer que…”, como quem tenta atribuir um valor enciclopédico a ideias repetidas, banais, verdades prontas e cansativas tungadas de todo canto. Não dá! Tal como os alérgicos a camarão e lactose, eu tenho alergia a pessoas afeitas a falar bem de si mesmas.

Gente que não perde uma oportunidade de anunciar o quanto se preocupa com o outro, o quanto paga seus impostos corretamente, o quanto defende a liberdade, a igualdade e a fraternidade me dá coceira e me dá medo. Quem faz o que acha certo não precisa dizer o que faz. É só fazer e pronto! Quem diz maravilhas demais sobre si próprio me dá mais pavor do que quem fala horrores sobre os outros. Fujo de um tanto quanto do outro.

Não, eu não estou defendendo a autoesculhambação sem medida. Não acho que todos os seres capazes de falar mal de si mesmos sejam poços de virtudes. Eu só tenho a impressão de que o autoelogio é um péssimo hábito. Puro e simples cabotinismo, jeito rasteiro de chamar a atenção: puxando o próprio saco. Quem se presta a elogiar os próprios feitos tenta provar a seus interlocutores que eles estão diante de um dos melhores exemplares da espécie humana. E isso, cá entre nós, é masturbação com plateia. Patético!

Não é por nada, não. A liberdade de expressão garante a qualquer um o direito de exaltar suas próprias maravilhas. Mas eu acho que gente boa de verdade prefere investir o seu tempo em coisas boas de verdade. Não em tagarelar por aí o quanto é especial. Amor próprio é bonito. Autopropaganda é exagero.

Ninguém devia falar bem de si mesmo para provar isso ou aquilo. Se o sujeito é pessoa boa, basta ser o que é, uma pessoa boa, e deixar os outros concluírem o que quiserem. O que há de difícil nisso?

E como cansa essa ladainha do “ó, eu acredito num mundo melhor… ó, eu choro quando vejo uma injustiça… ó, eu divido tudo o que tenho… ó, eu distribuo cestas básicas…”. Tudo isso para nada presta se não vier acompanhado de gestos práticos, atitudes e ações que dispensam o discurso.

Quem é bom mesmo não precisa dizer, repetir, alardear. A gente sabe. O mundo se dá conta e agradece de seu jeito. Mesmo que ninguém vá lhe oferecer a chave da cidade, um título de cidadão honorário e outros gestos tão úteis quanto distribuir capas de chuva na seca nordestina. Quem faz uma coisa boa não o faz porque espera que alguém reconheça e lhe dedique uma estátua em praça pública. Faz porque acha que deve fazer. Ou não?

Do mesmo jeito que ninguém precisa falar mal dos outros para dizer bem de si mesmo, ninguém carece mergulhar no autoelogio para provar o seu valor. Isso é chato, enfadonho, serve apenas para fazer a vida passar mais rápido.

Você não me leve a mal. Mas eu acho que quem precisa tanto falar bem de si mesmo tem das duas uma: ou uma imensa ignorância ou uma tremenda culpa no cartório. Deus nos livre de um e de outro.

Tornou-se pedra, a menina que um dia foi flor

Tornou-se pedra, a menina que um dia foi flor

Os dias mais marcantes são aqueles em que a gente sai deles um pouco modificados. São os dias que nos lembraremos para sempre, não importa quanto tempo passe. São os dias em que, sem anestesia alguma, somos confrontados com as verdades que nos fazem crescer, e de alguma maneira, enrijecer.

É preciso cuidado para não se blindar demais. Cuidado para não tornar pedra o que um dia foi flor. Cuidado para não deixar de acreditar na poesia, na delicadeza, no amor.

Todos nós passamos por sustos. Por momentos em que a vida nos dá uma rasteira e não sabemos mais em que solo pisamos. A gente se fere, se fecha, se ressente. Mas é preciso força para ser novamente semente. Para transformar pequenas gotas de orvalho em banho de chuva corrente. Para chorar mágoa e renascer flor. Para enxugar o pranto e cicatrizar a dor.

Não é de uma hora para outra que a gente endurece. A dor é cumulativa, e de tanto sentir o chão ruir, vamos nos fechando também.

Aos poucos fui tecida concreto, cimento e rocha. Aos poucos tornou-se pedra a menina que um dia foi flor.

Porém… Ninguém é feliz por inteiro quando perde a fé. Quando perde a esperança por dias risonhos e noites dançarinas. Quando não há transpiração nem emoção. Quando falta amor e sobra rancor.

Por isso e para isso existe o tempo. O tempo que sopra as feridas e afofa o solo árido de nossas crenças e emoções. O tempo que restaura a dor e seca o pranto. O tempo que possibilita que volte a ser flor o que um dia foi pedra.

Contrariando o que se esperava dela, a flor rasgou o chão. A flor rompeu a muralha de cimento e buscou a luz. A flor encontrou uma sutura mal feita na rocha e brotou inteira, forte e verdadeira, sob os raios de sol. A flor desafiou as intempéries da jornada e resistiu como alicerce de delicadeza e fortaleza.

Que haja mais motivos para ser flor do que pedra. Que minha alma não endureça a ponto de murchar diante do primeiro obstáculo, nem de perder o viço diante da aridez do terreno. Que não falte brisas de esperança, chuvas torrenciais de harmonia e luz abundante de calmaria.

Os dias mais marcantes são aqueles em que a vida contraria o óbvio. Em que os começos difíceis são massacrados pela força de um final feliz. Em que a brisa suave do pensamento leva embora um furacão de sentimentos. Dias em que a urgência de ser feliz aprende a ser calmaria do encantamento. E tempo em que toda a poesia grita em detrimento de todo barulho que há em mim…

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